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X Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – X ENPEC Águas de Lindóia, SP – 24 a 27 de Novembro de 2015 Diversidade, multiculturalismo e Educação em Ciências 1 Considerações sobre o Ensino de Ciências a alunos Surdos Considerations on Science Teaching to Deaf students Camila Gasparin Universidade Federal de Santa Catarina myluxa@gmail.com Janine Soares de Oliveira Universidade Federal de Santa Catarina janinemat@gmail.com Resumo Atualmente a legislação garante o atendimento especializado a todos os alunos com deficiências sensoriais, sendo aos Surdos resguardados vários direitos como ao acompanhamento por um tradutor-intérprete de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Foi pela oportunidade de uma das autoras deste texto, de cursar a disciplina “Língua Brasileira de Sinais” durante a graduação em Física que surgiu o interesse na Educação de Surdos. A partir dessa experiência identificou-se a necessidade de compartilhar o conhecimento adquirido na área e os materiais encontrados com os demais colegas licenciados em Física. Para tal, buscaram-se trabalhos relacionados ao assunto e aqui serão apresentados os aspectos considerados relevantes sobre o tema, assim como, materiais adequados ao ensino destes alunos. Palavras chave: Surdos, LIBRAS, Ensino de Física. Abstract The current legislation guarantees the specialized treatment to all students with sensorial deficiencies, being the Deaf sheltered by many rights as the accompaniment of a Brazilian Sign Language interpreter. It was by the opportunity of one of the authors having cursed the discipline “Brazilian Sign Language” during the Physics graduation that the Deaf Education emerged. From this experience surged the need to share the knowledge acquired on the subject and the materials found with the fellow graduates in Physics. For that, where searched works related to the subject and here will be presented the aspects considered relevant on the theme as so adequate materials to teaching these students. Key words: Deaf, Brazilian Sign Language, Physics teaching. Introdução Pelos dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 5% da população no Brasil apresentam diferentes graus de surdez, e no mundo o percentual chega a 2,5%. Tal percentual, ainda que configure minoria educacional nas escolas, torna ainda mais relevante a elaboração X Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – X ENPEC Águas de Lindóia, SP – 24 a 27 de Novembro de 2015 Diversidade, multiculturalismo e Educação em Ciências 2 de materiais didáticos que propiciem um aprendizado efetivo dos conceitos físicos por alunos Surdos. Apesar de este ser apenas um dos aspectos envolvidos no processo, um material efetivo que traga uma maior independência dos alunos para com sua aprendizagem pode diminuir os efeitos dos problemas por eles enfrentados em sala de aula. Assim, considerando, além dos dados estatísticos, também as determinações da legislação, principalmente entre os anos de 1988 e 2005 e a consequente inclusão do Surdo em sala de aula, torna-se relevante discutir no âmbito do Ensino de Física todos os aspectos que envolvem a aprendizagem e ensino a estes alunos. Por se tratar de uma política educacional (Política Nacional de Inclusão) relativamente recente, ainda há professores exercendo a prática docente que não tiveram contato com a formação mínima em LIBRAS hoje exigida. Assim, afora possíveis vivências, não há como estes professores terem conhecimento das especificidades que o uso da Libras acarreta, tais como, a cultura, e as necessidades de comunicação destes alunos que envolve os tradutores-intérpretes educacionais , bem como o papel destes últimos em sala de aula. Através do Decreto nº 5626/05, que dispõe sobre a LIBRAS e regulamenta a Lei nº 10.436/2002 (Lei de LIBRAS) 1 , os professores em formação passaram a ter contato com a língua materna de seus futuros alunos Surdos. Ainda que uma disciplina não seja suficiente para garantir a fluência na língua, possibilita que os educadores em formação construam conhecimentos que futuramente, em sua atuação, favorecerá o reconhecimento das especificidades dos alunos Surdos.. No processo ensino-aprendizagem com alunos Surdos há, além dos desafios – já enfrentados e amplamente discutidos – existentes no processo com alunos ouvintes, dificuldades adicionais pela própria surdez e pela falta de preparação específica dos professores para trabalho com os mesmos. Alguns motivos seriam a falta de fluência dos alunos em português e até mesmo em LIBRAS 2 , a falta de preparação conjunta das aulas pelo professor e tradutor- intérprete, os materiais didáticos tradicionais que não contemplam as necessidades específicas destes alunos, bem como, as concepções alternativas apresentadas pelos intérpretes em conceitos físicos. Houve vários avanços nos direitos dos cidadãos Surdos nas últimas décadas. A LIBRAS passou a ser reconhecida em lei como primeira língua da população surda, a disciplina de LIBRAS passando a ser obrigatória nos currículos dos cursos de Licenciatura, e o direito dos alunos Surdos ao acompanhamento individual de um intérprete em sala de aula durante todas as aulas. Ainda assim, alguns problemas nestas leis e na aplicação destas podem ser citados. Apesar de a LIBRAS ser, por lei, a primeira língua do Surdo nas escolas as avaliações, aulas, atividades, não respeitam este aspecto, sendo realizadas em português. É um grande avanço que haja a obrigatoriedade do contato dos graduandos em licenciatura com a LIBRAS, porém um semestre de estudo da mesma não é, nem de perto, suficiente. Pode-se entender o porquê se compararmos o único semestre de contato com esta língua com o tempo de estudo necessário para uma mínima compreensão de outras línguas. As bibliografias existentes mostram que, apesar do direito conquistado de intérprete em sala de aula para acompanhar estes alunos, as dificuldades no ensino permanecem por diversos motivos. A exemplo do artigo de Nascimento (2012) existem outras bibliografias que citam as dificuldades do uso de materiais didáticos tradicionais para trabalho com alunos Surdos ou deficientes auditivos. Neste artigo a análise mostrou que o tópico de acústica na literatura de ensino do Ensino Médio leva em consideração apenas situações vivenciadas por pessoas 1 A Lei 10.436/2002 é conhecida como Lei de LIBRAS, por reconhecer esta como língua dos Surdos brasileiros. 2 Como toda a língua, para que a LIBRAS seja adquirida é preciso haver estímulo. Existem diversos casos de crianças Surdas que não tiveram contato com a língua de sinais, portanto não efetivaram a aquisição dessa língua. X Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – X ENPEC Águas de Lindóia, SP – 24 a 27 de Novembro de 2015 Diversidade, multiculturalismo e Educação em Ciências 3 ouvintes, ou seja, experiências cotidianas inacessíveis para estudantes cuja audição não esteja nos níveis considerados normais. O perfil geral do estudante Surdo Breve histórico da Educação de Surdos e legislação brasileira relacionada O ensino de Surdos passou por diversas mudanças desde o surgimento da Educação Especial no século XX, quando pesquisas começam a trazer reflexões sobre o atendimento especializado a pessoas com deficiências. Desde o Congresso de Milão, 1880, o oralismo era visão dominante quanto à educação do sujeito Surdo como forma de inseri-lo na sociedade ouvinte através da diminuição das diferenças com a negação de sua diferença e foco na “reabilitação” e “normalidade”. No século XX, então, a Educação Especial começa a ser realizada fora das escolas regulares como formade proporcionar atendimento especializado a estes alunos com todos os recursos necessários ao seu desenvolvimento. No Brasil especificamente, foi a Constituição de 1988 um passo importante para inclusão das pessoas com deficiência pela educação passar a ser dever do Estado e, em seu artigo 207, inciso III, ser este responsável pela garantia de atendimento especializado. Em 1994, a Política Nacional de Educação Especial garantiu o direito de estes alunos frequentarem o Ensino Regular uma vez que tivessem condições e capacidade de seguir o ritmo dos alunos ouvintes 3 4 . Finalmente, em 1996, o capítulo VI da LDBN 5 define a educação especial como de responsabilidade do governo com atendimento destes alunos preferencialmente na rede pública regular de ensino, tanto no nível fundamental como no médio do ensino básico, sendo função deste incluir estes alunos nas escolas regulares. Aliados a isto, a Lei 10.098/00 em seu capítulo VII, artigo 18, prevê ser dever do Poder Público, a implementação da formação de intérpretes para pessoas com deficiências sensoriais, inclusive os Surdos, e o Decreto nº 5.626/05, determinou a inclusão da LIBRAS como disciplina curricular na formação e certificação de professores, instrutores e tradutores/intérpretes da mesma para garantir a educação bilíngue nestes níveis de ensino e a Língua Portuguesa como segunda língua do aluno Surdo. Esta mesma lei, reconhece a LIBRAS como forma de expressão e comunicação, língua visual-motora com estrutura gramatical própria, sistema de transmissão de ideias e fatos, das comunidades de pessoas surdas do Brasil, e determina que os cursos de Fonoaudiologia e formação de professores deveriam incluir a LIBRAS nos currículos dos cursos, em 100%, em até 10 anos 6 . Mais recentemente o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei 13.005/2014, estabelece como uma de suas metas (meta 4) a universalização do acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado preferencialmente na rede regular de ensino para a população com deficiência. Apresentando entre as estratégias registradas para cumprir essa meta a garantia de oferta de educação bilíngue, em Língua Brasileira de Sinais como primeira língua e a Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua. A história da Educação de Surdos no Brasil e no mundo tem diferentes fases 7 , as estratégias 3 BRASIL, 1988, p. 4; apud SANTOS VARGAS, 2011, p. 16. 4 BRASIL, 1994, p. 3; apud SANTOS VARGAS, 2011, p. 16. 5 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 6 BRASIL, 2007, p. 4; apud SANTOS VARGAS, 2011, p. 12. 7 Recomenda-se para aprofundamento a leitura de Rocha (2008) e Strobel (2009), por exemplo. X Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – X ENPEC Águas de Lindóia, SP – 24 a 27 de Novembro de 2015 Diversidade, multiculturalismo e Educação em Ciências 4 apresentadas no PNE corroboram com a visão atual – pela qual a comunidade Surda luta – dos pesquisadores de considerar os Surdos como minoria linguística, deslocando as discussões referentes à educação destes para o âmbito das políticas linguísticas ao invés de restringi-los aos atendimentos clínicos reabilitacionais. Aspectos culturais, linguísticos e necessidades educacionais dos alunos Surdos Em seu livro, Machado 8 discute a integração/inclusão pelas políticas educacionais através do olhar de quatro sujeitos Surdos trazendo, entre outros aspectos, considerações na perspectiva da pedagogia para Surdos. Contrário ao modo que muitos definem a surdez – isto é, como um impedimento auditivo – pessoas surdas definem-se em termos culturais e linguísticos. (MACHADO, 2008, p. 75) Considerando a teoria sociointeracionista de Vygotsky na qual a interação social e a comunicação são determinantes para o desenvolvimento cognitivo da pessoa e superando a visão terapêutica de reabilitação da audição, do tratamento para “normalizar” e fazer do Surdo um falante como “quase-ouvinte”, podemos entender o papel da escola e do professor em proporcionar um ambiente que propicie esta interação social para o estudante Surdo. Mas a grande questão quando tratamos de estudantes Surdos é: Isso é possível na escola regular? Não seria a escola de educação especial um ambiente mais adequado? A escola regular é capaz de lidar com as diferenças? Como a educação regular tem produzido suas práticas educativas em relação às diferenças linguísticas, políticas e culturais? 9 Para todas estas perguntas não há respostas definitivas, ainda assim fica claro que as escolas regulares deverão expandir as oportunidades a todos os indivíduos incluindo as pessoas consideradas deficientes, pois perante o fracasso de grande número dos alunos considerados normais não podemos afirmar que as oportunidades educacionais sejam adequadas. Quanto ao aluno Surdo, além de todos os aspectos relevantes ao ensino dos estudantes ouvintes, há outros aspectos a serem considerados decorrentes principalmente das diferentes linguísticas dos primeiros. Aspectos visuais Por não dispor completamente, ou de forma alguma, da audição 10 , o principal sentido a ser explorado em sala de aula para o acesso do Surdo ao conhecimento formal é a visão. Assim, o primeiro aspecto cuja relevância pode-se destacar é o posicionamento do aluno em sala de aula, que deve ser pensado de forma a permitir total visualização do quadro negro e das explicações do professor. Em seguida, considerando o acompanhamento obrigatório do tradutor-intérprete de LIBRAS com o aluno, que, vale destacar, não é professor deste apesar de desenvolver tal papel por diversas vezes frente à falta de preparação dos professores, também ele precisa de espaço adequado para desenvolver suas atribuições com qualidade, de espaço, tempo, preparação conjunta com o professor propiciando materiais adequados – como filmes e animações legendados em LIBRAS ou português. Derivados destas colocações podem-se citar também os experimentos, todas as dinâmicas que possam ser vistas e tocadas pelos alunos para a apropriação e entendimento dos conceitos trabalhados, pois, se os experimentos já são importantes na dinâmica de sala de aula desconsiderando alunos Surdos, 8 2008. 9 MACHADO, 2008, p. 34. 10 Existem diferentes graus de perda auditiva. X Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – X ENPEC Águas de Lindóia, SP – 24 a 27 de Novembro de 2015 Diversidade, multiculturalismo e Educação em Ciências 5 o são ainda mais para estes. Estas considerações e estratégias poderiam ser consideradas partes de uma “visodidática” ou “pedagogia visual” (conforme proposto por Campello, 2008). Língua É importante um mínimo conhecimento da língua, não apenas para a comunicação com o aluno, mas para compreensão das diferenças gramaticais, por exemplo, entre LIBRAS e português. Assim, o professor pode entender a expressão escrita do aluno com menos dificuldade caso este não apresente fluência no português escrito. Vale lembrar que o português é segunda língua do aluno Surdo 11 que tem como primeira língua a LIBRAS, uma língua viso-gestual, cuja gramática se dá no espaço. Os sinais em LIBRAS se diferenciam pelas posições das mãos, movimento, posição frente ao corpo na qual se realiza e é complementado pela expressão corporal e facial. Tradutor-Intérprete O tradutor-intérprete educacional 12 é um parceiro do professor regente de turma tanto no sentido de garantir a comunicação entre professor ouvinte e estudante Surdo, quanto no sentido de viabilizar a aproximação destes. O interesse do professorem se aproximar do estudante Surdo e tentar estabelecer comunicação tem sido positivo no processo de ensino- aprendizagem. À medida que o professor reconhece e se interessa pela língua do estudante ele se sente mais incluído em sala de aula. Ressalta-se ainda que os tradutores-intérpretes não têm em sua formação disciplinas voltadas para conhecimento específicos em cada área do conhecimento como, em Física ou Ciências, por exemplo, portanto não deve ser delegado a esse profissional a responsabilidade de ensino dos conteúdos. Problemas são frequentes na práxis destes como mostram Botan 13 e Cambuhy Silva 14 , não apenas pela falta de vocabulário técnico específico 15 mas também e principalmente pelas características diferentes de cada língua, sendo uma oral e a outra viso-manual. Assim, o português tem sua estrutura gramatical e vocabulário específicos e a LIBRAS os tem de outra forma, com vocabulário sinalizado e gramática no espaço, uma gramática “posicional”. Trabalhos acadêmicos na área de Ensino de Física A partir desse quadro buscaram-se materiais relacionados ao ensino de Física que atendessem às especificidades dos estudantes Surdos. Com intuito de entender melhor os aspectos importantes para o aprendizado da Física pelo aluno Surdo, levantamos diversos trabalhos e focamos nossa análise em duas dissertações. Os trabalhos selecionados foram todos específicos sobre ensino de Física para alunos Surdos e apresentados em eventos realizados entre 2007 e 2013 – ENPEC, EPEF, SNEF – tanto comunicações orais quanto pôsteres16. Para ter materiais mais elaborados e frutos de pesquisas mais longas e com aplicação, buscamos nos currículos Lattes dos autores e encontramos duas dissertações que foram escolhidas para 11 Sobre bilinguismo dos Surdos recomenda-se a leitura de Quadros (2005), por exemplo. 12 Recomenda-se a leitura de Quadros (2002) e Lacerda (2009). 13 2012. 14 2013b. 15 Sobre terminologia em Libras recomenda-se a leitura de Stumpf, Oliveira e Miranda (2014), Sousa e Silveira (2010) e Marinho (2007). 16 Ver mais em Gasparin (2014, 2015). X Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – X ENPEC Águas de Lindóia, SP – 24 a 27 de Novembro de 2015 Diversidade, multiculturalismo e Educação em Ciências 6 levantamento de aspectos importantes para o ensino e aprendizagem destes alunos. Os dois trabalhos continham observações realizadas em escolas públicas inclusivas e um deles trouxe três realidades escolares. Cambuhy Silva (2013) teve seu trabalho escolhido por terem sido feitas observações em escola não-inclusiva, na qual havia aluno Surdo sem acompanhamento de intérprete na sala de aula, em escola inclusiva e por ter lecionado aulas em escola particular exclusiva para Surdos, trazendo riqueza de comparação entre estas três realidades. Botan (2012) teve seu trabalho escolhido por ter aplicado material de ensino de Física específico para dinâmicas com alunos Surdos desenvolvido na UFMT no projeto “Sinalizando a Física”. No contra-turno das aulas de três alunos Surdos, um do primeiro e duas do terceiro ano do Ensino Médio, foram realizadas as dinâmicas com o uso do material didático com auxílio de intérprete. Vale acrescentar que apesar de ser um material tradicional no aspecto físico, uma vez que é estruturado para ser trabalhado impresso, o andamento do capítulo traz figuras demonstrativas dos conceitos trabalhados, textos seguidos de questionamentos com espaço para preenchimento do aluno tanto em português como através de desenhos, e questionamentos a serem respondidos após experimentação, textos com enfoque histórico para contextualização, exercícios e sequências de fotos da interpretação de sinais que representam conceitos físicos chaves. (figura 1). Figura 1: Capa e páginas 10, 13 e 16 do livro do aluno “Incluindo a Física – Mecânica – Parte I” aplicado por Botan com o grupo de três alunos Surdos. Esses materiais consistem em uma iniciativa relevante na busca pela inclusão efetiva dos estudantes Surdos nas aulas de Física. Sendo instrumentos valiosos para amparar o professor de Física que tiver estudantes Surdos em suas salas de aula. É um ponto de partida que, infelizmente, nem todos os componentes curriculares da Educação Básica possuem atualmente. Dificuldades a serem superadas Conforme colocado por Marchesi 17 há muitos empecilhos para a inclusão de alunos Surdos na escola regular, sendo estes, em parte, a resistência em incluir Surdos na escola regular. A inclusão traz todo o aspecto de igualdade de oportunidade com atendimento especializado aos alunos Surdos conforme a legislação garante e, de forma simplificada, os problemas a serem superados para a efetiva inclusão dos alunos Surdos em salas de aula regulares são a escassez de recursos técnicos e a existência de turmas numerosas nas escolas comuns, o que determina 17 1995, apud Machado, 2008, p. 72. X Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – X ENPEC Águas de Lindóia, SP – 24 a 27 de Novembro de 2015 Diversidade, multiculturalismo e Educação em Ciências 7 pouca atenção dos educadores aos alunos Surdos, implicando a redução da qualidade educacional; A falta de preparo dos professores das escolas regulares para o trabalho com crianças surdas; e a marginalização da língua de sinais em função da preferência à língua oral. Analisando estas dificuldades frente às observações de Botan e Cambuhy Silva podemos afirmar que o primeiro problema se observa e não há perspectiva imediata de solução frente a baixa produção de recursos técnicos acessíveis e aumento constante do número dos alunos em salas de aula pela falta de estrutura física e financeira para o aumento do número de salas de aula e professores com consequente diminuição do número de alunos por turma. Ainda que o Brasil tenha iniciada a obrigatoriedade da disciplina de LIBRAS nos currículos da licenciatura, os primeiros professores estão sendo formados agora após esta modificação curricular, fazendo com que a grande maioria dos professores atuando no ensino básico não disponha de conhecimento quanto ao ensino para estes alunos. Mesmo a disciplina de LIBRAS cursada por licenciandos não é, nem de longe, suficiente para entendimento dos problemas e aprendizado do vocabulário para solucionarmos o segundo problema. Por último, a marginalização da língua de sinais, apesar de esta não ser restringida oficialmente nas escolas, por parte ela o é, pois o Surdo, por vezes único na escola, tem apenas seu intérprete de LIBRAS para socializar, geralmente nenhum ou poucos colegas e professores conhecem qualquer sinal para a comunicação, ou seja, há sim a marginalização da LIBRAS em detrimento do português oral. Conclusão O objetivo deste trabalho era trazer à baila diferentes aspectos do ensino de Física, mas cujas características deste podem ser extrapoladas às ciências para os objetivos deste trabalho. Apesar das conquistas da comunidade surda e dos direitos garantidos por lei, os Surdos ainda não tem acesso a diversos aspectos necessários para sua educação, como o tradutor-intérprete de LIBRAS. Ainda distante dos alunos, a formação de licenciados e de intérpretes de LIBRAS também exige modificações mais profundas e discussões mais consistentes quanto à cultura, língua, necessidades devido à comunicação baseada nos aspectos visuais, entre outras características supracitadas. Estão os professores, mesmo formados após a inclusão de LIBRAS obrigatória nos currículos das licenciaturas, preparados para trabalhar com estes alunos e intérpretes? Não.Estão os intérpretes preparados para trabalhar os diversos assuntos independentemente do professor? Não, e nem seria este seu papel. Fica claro que o aspecto mais importante desta discussão, além de ter fim em si mesma, é a conscientização de que os alunos têm necessidades específicas que não podem ser ignoradas, nem esquecidas mas que podem ser trabalhadas e adequadas na interação com o intérprete do aluno. Referências BOTAN, E. Ensino de física para Surdos: três estudos de casos da implementação de uma ferramenta didática para ensino de cinemática. Dissertação de Mestrado, UFMT, 2012. ______.; et al. Elaboração e implementação de um material didático para o ensino de dinâmica para Surdos. Comunicação Oral. In: XX Simpósio Nacional de Ensino de Física, 2013. ______.; et al. Incluindo a física: Mecânica: Parte 1. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais, UFMT, 2011. ______; CARDOSO, F. F. Ensino de física, Língua Brasileira de Sinais e o Projeto X Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – X ENPEC Águas de Lindóia, SP – 24 a 27 de Novembro de 2015 Diversidade, multiculturalismo e Educação em Ciências 8 “Sinalizando a Física”: um movimento a favor da inclusão científica. Pôster. In: XVIII Simpósio Nacional de Ensino de Física, 2009. BRASIL. Decreto número 5.626 de 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em 13 abr. 2015. CAMBUHY SILVA, J. F.; et al. Os desafios do ensino de física para um aluno Surdo em uma classe comum. Comunicações Orais. In: XIX Simpósio Nacional de Ensino de Física, 2011. ______. O ensino de física com as mãos: libras, bilinguismo e inclusão. Dissertação de Mestrado, USP, 2013b. ______.; KAWAMURA, M. R. D. Práticas de ensino de física para alunos Surdos em escola com proposta bilíngue. Comunicação Oral. In: XX Simpósio Nacional de Ensino de Física, 2013a. CAMPELLO, A R. 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