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INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE/SOEBRAS ELÁSTICOS INTERMAXILARES NO TRATAMENTO DA MÁ OCLUSÃO DE CLASSE II SEM EXTRAÇÃO Renata Araujo Preuss Cuiabá-MT 2013 ELÁSTICOS INTERMAXILARES NO TRATAMENTO DA MÁ OCLUSÃO DE CLASSE II SEM EXTRAÇÃO Renata Araujo Preuss Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Ortodontia no Curso de Pós-Graduação do ICS – FUNORTE /SOEBRAS. Orientadora: Fabiane Louly Cuiabá-MT 2013 Dedico este trabalho aos meus pais, pela dedicação com que me educaram, pelo apoio incondicional e pelos exemplos de vida que sempre me guiaram. AGRADECIMENTOS Aos meus pais, por estarem sempre ao meu lado e pelo apoio em todo tempo de estudo. À toda equipe de professores do Curso de Ortodontia, pelo conhecimento e dedicação. Aos meus colegas pelo companheirismo. A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. RESUMO O uso de elásticos ortodônticos em ortodontia é um procedimento de rotina e vêm sendo largamente utilizados em tratamentos ortodônticos, uma vez que apresentam baixo custo, facilidade de uso e a possibilidade do uso de cores, reforçando a expressão individual e têm sido um precioso adjunto no tratamento, permitindo a correção de discrepâncias antero-posterior e vertical. Sendo muito utilizado para a correção de erros sagitais suaves, como, por exemplo, uma discrepância sagital de até ½ classe II. Conhecendo as características dos elásticos, bem como os efeitos necessários para a correção das diferentes más oclusões, o profissional pode usar da sua criatividade no uso dos elásticos, sempre respeitando suas limitações, vantagens e desvantagens. Palavras-chave: Elásticos Intermaxilares; Ortodontia; Classe II. ABSTRACT The use of orthodontic elastics in orthodontics is a routine procedure and have been widely used in orthodontic treatment, since it has low cost, ease of use and the possibility of using colors, enhancing individual expression and have been a valuable adjunct in the treatment, allowing the correction of anteroposterior and vertical discrepancies. Being widely used for the correction of sagittal soft errors, such as, a sagittal discrepancy of half the class II. Knowing the characteristics of the elastic, and necessary for the correction of malocclusion different effects, the professional can use their creativity in the use of elastic, always respecting their limitations, advantages and disadvantages. Keywords: Elastics, Orthodontics, Class II. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Exemplos de elásticos intermaxilares. 12 Figura 2 - Exemplos de elásticos intermaxilares. 12 Figura 3 - Exemplo da aplicação clinica dos elásticos intermaxilares na má oclusão de classe II, sofrendo um estiramento. 13 Figura 4 - Má Oclusão de Classe II 14 Figura 5 - Utilização clínica do elástico de Classe II Figura 6 - Exemplo da utilização clínica do elástico triangular de Classe II Figura 7 - Giro mesial do molar inferior direito devido à utilização clínica do elástico de Classe II 15 17 18 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 9 PROPOSIÇÃO 10 REVISÃO DE LITERATURA 11 MÁ – OCLUSÃO DE CLASSE II 14 ELÁTICO SAGITAL DE CLASSE II 15 TEORIA DE FORÇA DAS DEZ HORAS 19 DISCUSSÃO 22 CONCLUSÃO 24 REFERÊNCIAS 25 9 Introdução O objetivo do tratamento ortodôntico é devolver as características de normalidade à oclusão. É importante definir a estratégia de tratamento, os dispositivos mecânicos e acessórios que poderão ser empregados para se obter o sucesso. A correção ortodôntica é feita através de aparelhos fixos e móveis que, mecanicamente, movimentam os elementos dentais e deslocam as estruturas adjacentes para posições desejadas. Esses deslocamentos são realizados através de forças intermitentes e ou contínuas, com o auxílio de elásticos ortodônticos, fios ortodônticos e outros acessórios. O tratamento ortodôntico é baseado na ação prolongada da tração aplicada a um dente, ocorrendo reabsorção óssea em um lado e formação óssea no outro lado, gerando, assim, a movimentação dentária. O conhecimento dos fatores que influenciam os resultados do tratamento ortodôntico permite o controle biomecânico para melhor aproveitamento dos seus efeitos (MOYERS, 1988). Inicialmente, o elástico foi introduzido na Ortodontia para o auxílio na intercuspidação dental, além da utilização na melhoria do relacionamento entre as bases ósseas. O protocolo de tratamento utilizando elásticos intermaxilares de classe II, não requer extração dentária. Consiste na movimentação dentária, para promover um efeito ortodôntico ou compensação dentária para mascarar a discrepância basal sagital de Classe II. A evolução e a melhoria das propriedades dos materiais elásticos, assim como suas características de versatilidade e criatividade de aplicação aumentaram sua utilização nos tratamentos ortodônticos. São comercializados em diversas cores, tamanhos e forças. O Ortodontista deve selecionar os elásticos com base nos princípios físicos e mecânicos para obter uma força de movimentação dentária mais eficiente. Precisa ter conhecimento das indicações, efeitos, vantagens e desvantagens, para que possa realizar um adequado planejamento. 10 PROPOSIÇÃO A proposta desta monografia foi realizar uma revisão de literatura sobre a utilização dos elásticos intermaxilares no tratamento ortodôntico da má oclusão de classe II, sem extrações. Foram abordadas as propriedades dos elásticos usados na ortodontia, suas indicações, aplicações clinicas, vantagens, desvantagens, limitações e efeitos. 11 REVISÃO DE LITERATURA As técnicas ortodônticas vêm recebendo melhorias e se aperfeiçoando com a introdução de dispositivos que possibilitem uma melhor condução do tratamento e obtenção de um resultado cada vez mais satisfatório. Os elásticos intermaxilares foram introduzidos em 1893, por Baker e desde então têm sido indispensável para o tratamento ortodôntico devido a sua versatilidade e criatividade na aplicação, obrigando o profissional a conhecer suas características, seus efeitos, vantagens e desvantagenspara então, efetuar um adequado planejamento (Cabrera, 2003). O uso dos elásticos intermaxilares apresenta a vantagem de promover pequenos movimentos dentários e que auxilia na mecânica ortodôntica. A borracha, que da origem aos elásticos e elastômeros usados na Ortodontia, foi inicialmente descoberta e utilizada há séculos pelas antigas civilizações Incas e Maias, e já sofreu inúmeras modificações para melhorar suas propriedades dando mais elasticidade e estabilidade térmica (Alexandre, 2008). Ele tinha um uso limitado devido ao seu desfavorável comportamento na temperatura e pela suas propriedades de absorção de água. Com o advento da vulcanização introduzida por Charles Goodyear em 1839, o uso da borracha natural foi gradualmente aumentando. A elasticidade é a principal característica dos elásticos, propriedade que é definida pela capacidade de retornar às dimensões originais, após sofrerem uma deformação. É determinada pelo padrão geométrico e pelo tipo de atração molecular existente nos mesmos (ALEXANDRE et al., 2008). Encontram-se disponíveis no mercado dois tipos de elásticos, os de borracha e os sintéticos. Atualmente, os elásticos de borracha ou látex são mais utilizados em conjunto com aparelhos extrabucais ou com a máscara facial ou então como elásticos intermaxilares nas fases de intercuspidação, na correção dentária da Classe II e da Classe III e na correção da linha média, por exemplo (Henriques, 2003). Levando em conta o alto índice de alergia ao látex, Russell et al., em 2001, compararam a degradação de força dos elásticos sem látex e os elásticos com látex de duas marcas comerciais (GAC e Masel). Concluiu-se que a escolha clínica dos elásticos deve ser baseada na história médica do paciente e nas propriedades do tipo de material a ser utilizado. 12 Para os pacientes que apresentam reação alérgica ao látex, encontram- se disponíveis elásticos de borracha fabricados com um material hipoalergênico. Os elásticos sintéticos, por sua vez, são obtidos por meio de transformações químicas do carvão, do petróleo e de determinados álcoois vegetais, sendo conhecidos comercialmente como elastômeros ou, simplesmente, plásticos (Loriato, 2006). Segundo CABRERA et al., 2003 os elásticos podem ser utilizados intra e extrabucalmente, sendo os elásticos intrabucais, classificados de acordo com o maxilar envolvido: Elástico intermaxilar - quando localizado em arcos antagônicos, ou seja, a ação e reação se encontram em arcos diferentes; Elástico intramaxilar - quando localizado no mesmo arco dentário, ou seja, a ação e reação no mesmo arco dentário. Os elásticos são encontrados no mercado em vários tamanhos e apresentam variações na sua espessura, que lhes conferem a designação de leve (L), médio (M) e pesado (P), de acordo com a magnitude da força liberada. Figuras 1 e 2: Exemplos de elásticos intermaxilares. Fonte: ORTOCENTERR (2006) Ao serem estirados, liberam forças que oscilam entre 50g e 500g, na dependência do tamanho e espessura do elástico, bem como da distância entre os pontos de inserção. A magnitude da força deve ser conferida por intermédio de um dinamômetro de precisão ou tensiômetro (Almeida et al.,1991; CABRERA et al., 2003; ALEXANDRE et al., 2008). Os principais efeitos dos elásticos são: movimentos horizontal, vertical e transversal; distalização e mesialização da mandíbula; extrusão dentária; fechamento de espaço; correção de linha média e relação intercaninos, abertura da mordida (BRATU; FLESER; GLAVAN, 2004). A deformação de um material pode ser elástica ou plástica. Denomina- se deformação elástica quando, ao se aplicar uma força, o material tem sua forma alterada, mas retorna à original quando o estímulo é removido. Quando a 13 força aplicada ultrapassa o limite elástico do material, este passa a apresentar uma deformação plástica, ou seja, não retorna à sua forma original, apresentando uma alteração permanente (Loriato, 2006). Wong relatou que o módulo de elasticidade dos materiais elásticos foi menor após imersão em água, onde a maior queda da força ocorreu durante as primeiras três horas. Da mesma forma, Andreasen e Bishara observaram a absorção de pigmentos da saliva e a redução da força desses materiais devida à umidade do meio bucal. Para Ferreira Neto & Caetano (2004) os elásticos, nas suas primeiras horas, perdem a força rapidamente. A esse respeito, Andreasen & Bishara (1970) entenderam que os elásticos sintéticos não devem ser trocados diariamente, embora percam grande parte de sua força inicial, pois a força remanescente é aproximadamente constante e deve ser aproveitada. Valle- Corotti & Valle (2008) também afirmaram que devido às perdas de força serem menores após as primeiras 24 horas de distensão do elástico, assim indicaram a substituição dos elásticos de látex por um novo a cada três dias, em média. Chaconas, Caputo e Belting (1978) concordam que a quantidade de degradação de forças em 24 horas não justifica a troca de elásticos diária. Contudo, Alexandre et al. (2008) sugeriram a troca diária dos elásticos intermaxilares, para uma melhor eficiência mecânica. Os elásticos, quando utilizados em funções intermaxilares, sofrem na cavidade bucal variações nos seus alongamentos, devido à fala, bocejos, mastigação, enfim, movimentos que deslocam a mandíbula da posição de repouso e, dessa forma, aumentam as distâncias entre os ganchos dos dentes da maxila e mandíbula (MORIS et al., 2009). Figura 3: Exemplo da aplicação clinica dos elásticos intermaxilares na má oclusão de classe II, sofrendo um estiramento. Fonte: Philippe (1995) O conhecimento sobre as alterações nas propriedades mecânicas das ligaduras elásticas quando estiradas é de grande interesse para o emprego desses materiais, uma vez que poderão permanecer por um tempo relativamente longo na boca dos pacientes, sendo extremamente desejável 14 que, durante esse intervalo, continuem exercendo uma força adequada clinicamente. A partir da inserção dos elásticos na cavidade oral, suas propriedades elásticas tendem a diminuir ou serem perdidas. A redução é de 30%, 40%, 50% após 2 horas, 3 horas e 30 dias, respectivamente (BRATU; FLESER; GLAVAN, 2004). A única vez que os elásticos são removidos é durante a escovação da gengiva e dos dentes. Elásticos novos são colocados uma vez por dia ou quando eles se romperem. Se um paciente remove os elásticos por 1 ou 2 horas por dia (como pode ocorrer durante as refeições), seu tratamento não progredirá satisfatoriamente. Cooperação com os elásticos é vital para se alcançar qualidade nos resultados, como é o caso com a maioria dos aparelhos ortodônticos. MÁ OCLUSÃO DE CLASSE II Angle descreveu a má oclusão de Classe II, como sendo a relação oclusal distal do primeiro molar inferior em relação ao molar superior, sendo também, denominada distoclusão. Na Classe II 1ª divisão, em geral, os pacientes apresentam o arco superior atrésico e alongado, com os incisivos superiores protruídos e os incisivos inferiores verticalizados e um perfil convexo. Na Classe II 2ª divisão, há a relação molar de classe II sem a sobressaliência dos incisivos superiores, estando eles lingualizados ou verticalizados. A má oclusão de Classe II representa uma grande parte dos casos de má oclusão, seja por retrusão mandibular, ou por protrusão maxilar ou ainda pela combinação das duas situações anteriores. (Vellini, 2008) Figura 4: Má Oclusão de Classe II. Fonte: Vellini (2008) 15A má oclusão de classe II, divisão 2 é caracterizada por uma discrepância dentária anteroposterior, que geralmente está acompanhada por alterações esqueléticas e faciais diversas, comprometendo a harmonia facial e a estética facial em diversos graus, principalmente nos casos em que há deficiência mandibular, determinando uma influência negativa na auto-estima do indivíduo, com subsequente falta de convívio social (BISHARA, 2006; SIMONETTI et al., 2008; JANSON et al., 2009; SCHROEDER, 2010). ELÁSTICO SAGITAL DE CLASSE II Para a correção da relação interarcos de Classe II, o elástico intermaxilar é disposto obliquamente da região posterior inferior até a região anterior superior. São utilizados com aparelhos fixos e promovem efeitos de intensidade variável, de acordo com a magnitude da força e o tempo de uso: no arco maxilar, propiciam a inclinação dos incisivos superiores para lingual, extrusão dos incisivos superiores e movimento para baixo do plano oclusal anterior e distalização de todos os dentes; no arco mandibular: propiciam a inclinação dos incisivos inferiores para vestibular, trazem todo o arco mandibular para frente e causam força extrusiva nos molares inferiores; na face, a mandíbula é trazida para frente, com rotação posterior, o queixo é trazido para frente e a altura facial ântero-inferior é aumentada (CABRERA et al., 2003; BRATU; FLESER; GLAVAN 2000). Os elásticos intermaxilares de Classe II são indicados nas seguintes situações clínicas: má oclusão de Classe II, dentária e/ou esquelética; reforço de ancoragem, movimento dos incisivos superiores para trás; avanço do arco mandibular; incisivos inferiores retruídos; correção de desvio de linha média; mordida aberta; nas fases de intercuspidação (BRATU; FLESER; GLAVAN, 2000; HENRIQUES; HAYASAKI; HENRIQUES, 2003; LORIATO; MACHADO; PACHECO, 2006). O uso desses elásticos deve ser indicado para a correção de erros sagitais suaves, como, por exemplo, uma discrepância sagital de até ½ classe II. No arco dentário inferior, o elástico pode ser instalado a partir dos molares (primeiros ou segundos) ou dos segundos pré-molares. No arco dentário superior, geralmente é instalado em ganchos soldados ou cursores na região mesial dos caninos. 16 Figura 5 - Utilização clínica do elástico de Classe II. Fonte: Philippe (1995) A função dos elásticos intermaxilares é movimentar o arco dentário como um só bloco, e não apenas um dente. Promovem efeito ortodôntico ou compensação dentária para mascarar a discrepância basal sagital de Classe II (BRATU; FLESER; GLAVAN 2000; CABRERA et al., 2003; HENRIQUES; HAYASAKI; HENRIQUES, 2003; LORIATO; MACHADO; PACHECO, 2006). Os principais efeitos dos elásticos são: movimentos horizontal, vertical e transversal; distalização e mesialização da mandíbula; extrusão dentária; fechamento de espaço; correção de linha média e relação intercaninos, abertura da mordida (BRATU; FLESER; GLAVAN, 2004). Os elásticos sagitais promovem efeito ortodôntico, ou compensação dentária, para mascarar a discrepância basal sagital de Classe II ou de Classe III. A mecânica é recíproca, portanto o efeito ocorre nos dois arcos dentários. Os elásticos mais utilizados são os de espessura 3/16” pesado e médio, 1/8” médio, 5/16” médio. A magnitude da força conferida por intermédio de um dinamômetro de precisão deverá ser de 200 a 250 gramas. De acordo com CABRERA et al., 2003, os elásticos aos serem distendidos promovem ações iguais e contrárias em suas extremidades, daí suas resultantes poderem ser ocupadas como elementos de ancoragem ou tração; porém quando se pretende utilizar resultantes somente em um dos lados, deverá ser anulado com o auxílio de dispositivos de ação igual e contrária, para evitar efeitos indesejados. Entretanto, essas forças geralmente não são paralelas ao plano oclusal, resultando em componentes verticais e horizontais de força, que dependerão da localização e da distância entre os pontos de fixação dos elásticos. Quanto maior for essa distância ântero-posterior, a componente vertical de força poderá ser menor e a componente horizontal será maior. Dessa forma, a extensão do canino superior até o segundo molar inferior pode minimizar os efeitos extrusivos e potencializar a componente horizontal da mecânica aplicada. 17 Com referência à magnitude de força, Cabrera et al indicam a utilização de 200-250g na mecânica com elástico de Classe II. Philippe (1995) sugeriu que, além da análise mecânica, faz-se necessária uma análise individual de cada paciente, de acordo com o padrão muscular e o crescimento esquelético. Segundo o autor, o elástico de Classe II tradicional está mais indicado em casos de pacientes com Classe II moderada e dimensão vertical normal, utilizando-se um fio o mais rígido possível no arco superior para controle dos efeitos indesejados. Isso é necessário para anular um componente vertical de força que tende a extruir os incisivos superiores e os molares inferiores, o que resultaria na inclinação do plano oclusal para baixo e para frente. O mesmo autor contraindica esse tipo de elástico em pacientes Classe II, divisão 1, e face curta (padrão hipodivergente) e em Classe II, divisão 2, com mordida profunda devido ao efeito indesejado no plano oclusal, no giro da mandíbula e na extrusão dos dentes anteriores superiores. Da mesma forma, contraindica em pacientes Classe II com face longa (padrão hiperdivergente), pois a extrusão dos molares inferiores causaria um giro horário da mandíbula, prejudicando o aspecto facial convexo e aumentando a altura facial ântero- inferior. Pode-se utilizar, também, elásticos triangulares de classe II, que se localizam no canino superior a um molar inferior e outro dente inferior mais anterior (canino ou pré-molar). Sua melhor indicação seria para otimizar a intercuspidação durante as fases de finalização dos casos. Figura 6: Exemplo da utilização clínica do elástico triangular de Classe II. Fonte: Philippe (1995) Essa distribuição acrescenta um componente vertical no segmento anterior nos casos de Classe II, além de potencializar a tendência extrusiva nos dentes de suporte. Devido ao componente vertical, é contraindicado em casos de mordida aberta esquelética (Loriato, 2006). 18 Um efeito colateral dos elásticos de Classe II, comumente encontrado na clínica ortodôntica, é o giro mesial dos molares inferiores. Como a linha de ação da força dispensada pelo elástico passa distante do centro de resistência dos molares, momentos de força serão criados, gerando uma tendência de rotação para mesial e de inclinação para lingual. Vale salientar que esse tipo de efeito colateral não ocorre apenas nos molares, mas em todos os dentes que sirvam de apoio aos elásticos, pois a linha de ação da força sempre vai passar distante do centro de resistência dos dentes. Figura 7: Giro mesial do molar inferior direito devido à utilização clínica do elástico de Classe II. Fonte: Régio (1979) Para minimizar esses efeitos indesejados, podem ser utilizados arcos pesados como os retangulares, arcos com stops justos aos acessórios dos molares, arcos com dobras de pré-ativação, arcos linguais ou palatinos ou outro recurso biomecânico que irá contrapor esses efeitos. O uso de elásticos intermaxilares também tem sido associado à ocorrência de reabsorções radiculares externas. Consolaro afirmou que a causa principal e mais frequente das reabsorções dentárias na população ocidental é a movimentação dentária induzida, sendo quea reabsorção severa e importante acomete cerca de 10% das pessoas submetidas a tratamentos ortodônticos. Acrescentou que, entre os fatores favorecedores da maior frequência de reabsorções dentárias, encontra-se o uso de elásticos intermaxilares. Dessa forma, para a prevenção da ocorrência de reabsorções dentárias durante o tratamento ortodôntico, deve-se, se possível, não utilizar os elásticos intermaxilares. Da mesma maneira, Brezniak e Wasserstein associaram o uso de elásticos intermaxilares nos tratamentos ortodônticos com a ocorrência de reabsorção radicular, o que foi verificado no estudo de Linge e Linge, onde ocorreu mais reabsorção radicular no lado de utilização de elásticos intermaxilares. 19 Alguns autores as definem como reabsorções radiculares inflamatórias induzidas ortodonticamente, pois se caracterizam por processos inflamatórios assépticos extremamente complexos (Brezniak e Wasserstein, 2002), podendo levar a uma necrose isquêmica no ligamento periodontal (Pizzo et al., 2007). O inicio e a progressão da reabsorção radicular estão associados com fatores de risco relacionados ao tratamento ortodôntico como, por exemplo, o uso de elásticos intermaxilares, o fechamento de espaço das extrações dentarias ortodonticamente indicadas, as mecânicas intrusivas, os deslocamentos dentários extensos, além de outros como a duração do tratamento, magnitude das forças empregadas, a direção do movimento dentário, torque e método de aplicação das forças (continuas versus intermitentes). Os fatores de risco inerentes ao paciente são susceptibilidade genética, algumas doenças sistêmicas (alterações metabólicas de cálcio e fósforo), anormalidades na morfologia radicular, trauma dental, uso de medicamentos e dentes endodonticamente tratados. O que se pode observar é o fato de que o tipo de técnica ortodôntica empregada no tratamento não apresenta uma ligação direta com o processo de perda de substância radicular. O processo parece estar mais relacionado às características das forças empregadas, tais como intensidade, direção, frequência e duração. Outro fator que também apresentam alguma influência é o tipo de movimento dentário, bem como a sua extensão. O’Reilly, Rinchuse e Close (1993) realizaram um estudo longitudinal prospectivo para avaliar se pacientes tratados ortodonticamente submetidos à extração e ao uso de elásticos intermaxilares de Classe II apresentavam maior incidência de sinais e sintomas de disfunções têmporo-mandibulares (DTM). Os resultados indicaram que há uma interação do tempo de tratamento com dor à palpação. Independente do protocolo de tratamento, o sucesso do tratamento está na dependência de uma série de variáveis, que segundo Janson et al. (2008) são inerentes ao paciente, tais como: a idade, seu grau de colaboração e a severidade da má oclusão; e ao Ortodontista: a escolha do protocolo de tratamento. TEORIA DE FORÇA DAS DEZ HORAS Em 1975, Andrews sugeriu um período mínimo de 10h para ativar a reabsorção óssea pelos clastos na superfície do alvéolo, durante a movimentação dentária induzida sob forças constantes. A eliminação do estresse mecânico pela suspensão da força, mesmo após um curto período de tempo, seria suficiente para interromper a atividade clástica. Uma nova aplicação de forças requereria uma retomada do processo desde o seu início. 20 A “teoria das 10 horas”, formulada por Andrews determinou clinicamente a necessidade do uso contínuo de aparelhos ortodônticos removíveis, se o objetivo fosse a movimentação dentária. Por outro lado, a teoria das 10h dá suporte à ancoragem temporária na intercuspidação, como o uso alternado de elásticos intermaxilares nos dentes antagonistas na finalização de casos clínicos, movimentando apenas os dentes de interesse, sem efeitos colaterais indesejáveis nos demais dentes que não se quer movimentar. Apesar de amplamente difundida, a “teoria das 10 horas” só foi microscopicamente estudada em 1996, quando Cuoghi, em sua tese de doutorado em macacos, quantificou a movimentação dentária nas primeiras 24h e estudou microscopicamente os fenômenos teciduais induzidos, para esclarecer a conveniência do uso clínico de forças contínuas ou intermitentes. Sob força contínua dissipante analisou-se a movimentação depois de 5, 10, 15, 20 e 25h. Na situação de força contínua intermitente os períodos foram: 10h de força com 5h de repouso, 10hF/10hR, 10hF/5hR/5hF e 10hF/5hR/10hF. Os resultados nas primeiras 25 horas revelaram que: a) a movimentação dentária induzida atingiu seu pico máximo após 10h de força contínua dissipante; b) nos períodos de 10, 15, 20 e 25h as movimentações dentárias não apresentaram diferenças significantes, pois permaneceram no mesmo patamar das 10h de movimentação; c) as forças contínuas sem períodos de repouso proporcionaram maiores movimentações. Após 10h de força contínua dissipante e repouso de 5h, a quantidade de movimentação foi menor nas reativações em períodos de 5 e 10h de força. As conclusões foram: 1. Para uma movimentação dentária efetiva, as forças devem ser contínuas. Os períodos de repouso devem ser mínimos e a interrupção da força não favorece a movimentação dentária; 2. Nas primeiras 20h, microscopicamente sem alterações ósseas, a movimentação ocorreu pela compressão do ligamento e pela deflexão óssea e não pela ação de células clásticas e consequente reabsorção óssea alveolar; 3. A deflexão óssea nos lados de pressão e tensão está intimamente relacionada com a pressão radicular e o estiramento das fibras periodontais. A falta de movimentação dentária induzida, com base na reabsorção óssea nas primeiras 20 horas, revela que a interrupção das forças pode ser conveniente clinicamente na ancoragem temporária, como na intercuspidação, com uso alternado de elásticos intermaxilares nos dentes antagonistas, facilitando a finalização de casos clínicos. Os dentes utilizados na ancoragem 21 durante a intercuspidação voltam a sua posição original, pois o seu movimento baseou-se exclusivamente na compressão periodontal e na deflexão óssea. A mobilização celular e tecidual para iniciar esta movimentação requer um período muito maior que 10 horas. No trabalho em macacos de Cuoghi pode-se ver que as superfícies radiculares em nenhum momento das primeiras 20 horas de movimentação apresentaram reabsorções dentárias, mesmo quando microscopicamente analisadas. Os cementoblastos que apresentavam-se eliminados pela pressão, após 5 e 10 horas de repouso, estavam substituídos e reposicionados com morfologia muito parecida a de um dente sob condições de normalidade, sem movimento dentário. A movimentação ortodôntica pode ser realizada com o emprego de forças constantes com um período mínimo de 10 horas para ativar o processo de reabsorção clástica. Cessando o estresse provocado pela mecânica ortodôntica, por um período curto de tempo, a atividade clástica seria interrompida e o processo biológico da movimentação dentaria induzida retornaria ao seu inicio. Na Teoria das dez horas, ao imprimir uma força com o intuito de prover a movimentação ortodôntica, os osteoclastos responsáveis pela reabsorção e os osteoblastos responsáveis pela aposição só promoverão condições para a movimentação a partir de 10 horas de uso continuo da força. Cessada a força, o movimento do dente para imediatamente. Após um período aproximadamente de 30 minutos de repouso, será necessária a aplicação de mais 10 horas de força continua para que se reinicie a movimentação ortodôntica. (CABRERA, 2007). Os elásticos interarcos horizontais quando usados distendidos quer no sentido de classe II ou III promovem uma ação iguale contrária aos locais onde foram atados (reciprocidade). Para anular este efeito indesejado, pode-se usar o conceito da Teoria de Força das dez horas, retirando a força do local aonde não se deseja movimentar, antes que complete 10 horas de aplicação de força. Baseado no conceito desta teoria pode-se reduzir o período de uso do aparelho de ancoragem ou tração extrabucal (uso de somente 8 horas por dia) intercalando-o com uso de elásticos interarcos horizontais (classe II). É uma maneira de gerar força não reciproca. 22 DISCUSSÃO A má oclusão de classe II, divisão 2 é caracterizada por uma discrepância dentária anteroposterior, que geralmente está acompanhada por alterações esqueléticas e faciais diversas, comprometendo a harmonia facial e a estética facial em diversos graus, principalmente nos casos em que há deficiência mandibular, determinando uma influência negativa na auto-estima do indivíduo, com subsequente falta de convívio social (BISHARA, 2006; SIMONETTI et al., 2008; JANSON et al., 2009; SCHROEDER, 2010). Requer a atenção especial relativa ao seu diagnóstico e planejamento ortodôntico, para o qual as medidas cefalométricas são de grande relevância, assim como várias opções de protocolos de tratamento (BISHARA, 2006; SIMONETTI et al., 2008; JANSON et al., 2009; SCHROEDER, 2010). As opções de tratamento da má oclusão de classe II encontradas na literatura são compiladas por Proffit et al. (1992) em três grupos. Consistem em: modificar o crescimento para reduzir a discrepância esquelética; movimentar os dentes para compensar a discrepância esquelética (camuflagem); reposicionar os ossos maxilares cirurgicamente. Segundo Bishara (2006) o tratamento deve ocorrer nos últimos anos da dentição mista ou início da adolescência, para simplificar o tratamento geral, tirando partido do potencial de crescimento do paciente e pela cooperação no uso de aparelhos. Os elásticos de Classe II associados ao aparelho fixo são uma das alternativas do protocolo de tratamento da má oclusão de classe II, sem extrações relatadas por Janson et al. (2009), as demais são: o uso de distalizadores, de ancoragem extrabucal, de aparelhos ortopédicos funcionais. Janson et al. (2009) afirmaram que o protocolo de tratamento com extração de dois pré-molares superiores, tem uma proporção de sucesso maior, independente do padrão facial e da relação maxilomandibular. Bratu, Fleser e Glavan (2004) recomendaram o uso de elásticos intermaxilares na fase de acabamento de tratamento ortodôntico, a fim de obter uma oclusão ótima e uma estabilidade dos resultados de longo prazo. Segundo Cabrera (2007), na Teoria de força das dez horas formulada por Andrews, ao imprimir uma força com o intuito de promover a movimentação ortodôntica, os osteoclastos responsáveis pela reabsorção e os osteoblastos responsáveis pela aposição só promoverão condições para a movimentação a 23 partir de 10 horas de uso continuo da força. Cessada a força, o movimento do dente para imediatamente. Cuoghi, em sua tese de doutorado em macacos (1996), concluiu que para uma movimentação dentária efetiva, as forças devem ser contínuas. Os períodos de repouso devem ser mínimos e a interrupção da força não favorece a movimentação dentária. Bishara (2006), Artese (2009) e Schroeder (2010) ressaltaram a importância de um diagnóstico e planejamento criteriosos. Concordam com a importância da idade, possibilitando o aproveitamento do crescimento, simplificando o tratamento ortodôntico e exigindo menor colaboração da paciente durante o tratamento ortodôntico. 24 CONCLUSÃO Os elásticos são acessórios utilizados durante várias fases do tratamento, principalmente ao final da terapia. Para serem efetivos, necessitam da colaboração do paciente em relação ao seu uso e devem ser trocados regularmente, sendo removidos apenas, durante a escovação e durante as refeições. O uso de elásticos não deve ser dispensado devido aos efeitos indesejados que provocam. Deve-se, compreender os efeitos favoráveis, de acordo com o planejamento do caso, e associar outros recursos na mecânica utilizada que possam contrapor as forças indesejadas associadas aos elásticos. Dessa forma, não só os efeitos dentários, mas também os efeitos faciais podem ser equilibrados e resultados mais favoráveis podem ser alcançados. Conhecendo as características dos elásticos, bem como os efeitos necessários para a correção das diferentes maloclusões, o profissional pode usar da sua criatividade no uso dos elásticos, sempre respeitando suas limitações, vantagens e desvantagens. 25 REFERÊNCIAS CABRERA, M. C. et al. Elásticos em Ortodontia: comportamento e aplicação clínica. R Dental Press Ortodon Ortop facial, Maringá, v. 8, n. 1, p. 115-129, 2003. ALEXANDRE L. P. Avaliação das propriedades mecânicas dos elásticos e cadeias elastoméricas em ortodontia. Revista Odonto • Ano 16, n. 32, jul. dez. 2008, São Bernardo do Campo, SP, Metodista . LORIATO, OLívia B.; MACHADO, André Wilson, PACHECO, Wellington. Considerações clínicas e biomecânicas de elásticos em Ortodontia. R Clin Ortodon Dental Press, Maringá, v. 5, n. 1 - fev./mar. 2006 GANDA, A. M. F.; MAZZIEIRO E. T.; BATISTA C. H. T. Mecânicas Ortodônticas e Reabsorções Radiculares. 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