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Unidade 4 DOS FATOS JURÍDICOS

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07/11/2012
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DIREITO CIVIL I
UNIDADE 4. DOS FATOS JURÍDICOS
Roberta Siqueira1
4.1 CONCEITO
� Livro III, arts. 104 a 188, CC.
� Os fatos jurídicos, em sentido amplo, são todos os
acontecimentos da vida em que o ordenamento
jurídico considera relevante no campo do direito.
� Podem ser subdivididos em:
� Fatos Naturais ou fatos jurídicos em sentido estrito –
aqueles que decorrem da manifestação da natureza.
� Fatos Humanos ou atos jurídicos em sentido lato –
aqueles que decorrem da atividade humana.
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Mundo Fático = Atos
Humanos + Fatos da
Natureza
Norma Jurídica – criam,
modificam ou extinguem
direitos: Fatos Jurídicos
Mundo dos Direitos –
Relações Jurídicas
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4.2 CARACTERÍSTICAS DOS FATOS JURÍDICOS
� São sempre relevantes para o bem-estar da
coletividade.
� Podem ser produzidos pela vontade do homem
(matrimônio) ou pela natureza, independente da
vontade do homem (terremoto).
� Alteram as relações jurídicas (constituem, modificam
ou extinguem).
� Seus efeitos são notáveis – exterioridade.
Fatos 
Jurídicos(em 
sentido amplo)
Fatos Naturais ou 
fatos jurídicos 
(stricto sensu)
Ordinários
Extraordinários
Fatos Humanos ou 
atos jurídicos (lato 
sensu)
Lícitos
Ato jurídico em 
sentido estrito ou 
meramente lícito
Negócio Jurídico
Ato-fato jurídicoIlícitos
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4.3 FATOS NATURAIS OU FATO JURÍDICO STRICTO SENSU
� Os fatos naturais são aqueles que ocorrem por simples
manifestação da natureza, independentes da vontade
humana, que produzem efeitos jurídicos.
� Independem da vontade humana e, repercutindo na
vida jurídica, criam, modificam ou extinguem uma
relação jurídica.
� Acontecimento natural não volitivo. Ex: decurso do
tempo extinguindo direitos, tempestade, inundação,
queda de objetos, agressão de animal, nascimento,
morte etc. Podem ser ordinários ou extraordinários.
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� Os fatos jurídicos naturais ordinários são aqueles
acontecimentos previsíveis, normais, regulares. Ex:
nascimento, morte, decurso do tempo, menoridade etc.
� Os fatos jurídicos naturais extraordinários são
aqueles que não se apresentam com regularidade,
escapando à previsão e controle. São o caso fortuito, a
força maior e o fato do príncipe (factum principis).
� O caso fortuito e a força maior caracterizam-se pela
imprevisibilidade ou inevitabilidade e pela ausência de culpa
(art. 393, CC). Ex.: desabamento de um edifício em razão de
uma tempestade; naufrágio de um barco em razão de um
maremoto.
� O factum principis ou fato do príncipe ocorre, quando em
virtude de normas estatais, as partes ficam impedidas,
juridicamente, de cumprir as cláusulas do contrato que
firmaram.
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4.4 FATO HUMANO OU ATO JURÍDICO EM SENTIDO
AMPLO
� É todo e qualquer acontecimento decorrente da
vontade humana, com repercussão no mundo
jurídico.
� Se prendem à deliberação volitiva do homem.
Constituem, modificam ou extinguem uma relação
jurídica ou uma situação jurídica.
� Se subdividem em atos jurídicos lícitos ou
ilícitos. 8
4.5 ATOS JURÍDICOS LÍCITOS
� Se subdividem em:
� Ato jurídico em sentido estrito ou meramente lícito
� Ato-fato jurídico
� Negócio jurídico
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4.5.1 NEGÓCIOS JURÍDICOS
� Conceito: É um ato, ou uma pluralidade de atos entre si
relacionados, quer sejam de uma ou de várias pessoas, que
tem por fim produzir efeitos jurídicos, modificações nas
relações jurídicas de âmbito privado.
� Segundo Caio Mário de Silva Pereira - são declarações de
vontade destinadas à produção de efeitos jurídicos queridos
pelo agente. “O fundamento e os efeitos do negócio jurídico
assentam, então, na vontade, não uma vontade qualquer,
mas aquela que atua em conformidade com os preceitos
ditados pela ordem legal”.
� Finalidade: nesta espécie de ato jurídico há uma finalidade
negocial, que abrange a aquisição, conservação, modificação
ou extinção de direitos.
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A) AQUISIÇÃO DE DIREITOS
� É a conjunção do direito com seu titular.
� Adquirir um direito é tornar-se o titular do mesmo e ser
o titular de um direito é possuir o mesmo como coisa
própria, é apropriar-se dele.
� Todo direito pertence a alguém que o adquire, e esse
alguém, em virtude da aquisição, assume a posição de
titular do direito, e este titular recebe a denominação de
sujeito de direito.
� Segundo Carlos Roberto Gonçalves, ocorre a aquisição
de um direito com sua incorporação ao patrimônio e à
personalidade do titular . 11
A.1) FORMAS DE AQUISIÇÃO DE DIREITOS:
� Originária : quando se adquire o direito sem qualquer
interferência do anterior titular. Ex.: ocupação de coisa
sem dono, apropriação de uma concha que o mar atira
na praia (res derelicta ou res nullius); art. 1.263 e art.
1.260, CC.
� Derivada: quando decorre da transferência feita por
outra pessoa, ou seja, quando houver a transmissão do
direito de propriedade de uma pessoa a outra, existindo
uma relação jurídica entre o anterior e o atual titular. Ex.
compra e venda (481, CC),doação (538, CC), herança
(1784,CC). Nesse caso, o direito é adquirido com todas
as qualidades ou defeitos do titulo anterior, visto que
ninguém pode transferir mais direitos do que tem. Ex.
compra e venda. 12
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� Translativa: transferência total dos direitos de um titular
para outro. Há a aquisição por parte do novo titular e
extinção por parte do antigo. Ex. compra e venda à
vista.
� Constitutiva: é aquela em que o titular anterior ainda
mantém consigo alguma parcela do direito sobre o bem
objeto da transferência. Ex. doação com cláusula de
usufruto (1390 do CC), alienação fiduciária em garantia
(Decreto lei 911/69).
� Onerosa: quando se exige do adquirente uma
contraprestação, possibilitando a ambos os contratantes
a obtenção de benefícios. Ex. compra e venda, locação.
� Gratuita: quando só o adquirente aufere vantagem,
como acontece na sucessão hereditária.
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B) ESPÉCIES DE DIREITOS
� Direito atual: é o direito subjetivo já formado e incorporado ao
patrimônio do titular, podendo por ele ser exercido.
� Direito futuro: compreende direito condicional e eventual,
ambos dependem da realização de um evento futuro e
incerto, para que possa surtir, integralmente, os seus efeitos.
Não se mostra consumado. Ex.: aluno que por ocasião da sua
formatura, ganhará uma Bolsa de Estudos integral para a Pós
Graduação se tiver a maior nota do grupo de formandos do
semestre. Pode ser:
� Deferido: quando a aquisição depende somente do arbítrio do
sujeito. Ex.: direito de propriedade dependendo apenas do título
aquisitivo;
� Não Deferido: quando sua consolidação se subordina a a fatos
ou condições falíveis. Ex. doação de safra futura. 14
� Direito eventual: é um direito concebido mas ainda pendente
de concretização, a ser efetivada pelo próprio interessado
(elemento de natureza interna). Ex. aceitação de proposta de
compra e venda (434, CC) ou o exercício do direito de
preferência.
� Direito condicional: diferente do direito eventual pois já se
encontra em situação mais avançada, já constituído, perfeito,
entretanto, para ser eficaz, depende do implemento da
condição estipulada que é um evento futuro e incerto.
� Expectativa de direito: é a mera possibilidade de aquisição de
direito, que, dependendo ainda de certas circunstâncias,
ainda não se consumou, A expectativa de direito, por mais
legítima que possa ser, não tem garantia contra a lei nova.
Ex.: direito dos filhos de suceder a seus pais quando estes
morrerem. Enquanto os ascendentes viverem não têm os
filhos, nenhum direito sobre o patrimônio dos pais. 15
� Direito adquirido: É o que já se incorporou definitivamente ao
patrimônio e/ou à personalidade do sujeito de direito. O direito
torna-se adquirido por consequência concreta e direta da
norma jurídica ou pela ocorrência, em conexão com a
imputação normativa, de fato idôneo, que gera a incorporação
ao patrimônioe/ou à personalidade do sujeito. Portanto, tal
direito adquirido, uma vez incorporado ao patrimônio e/ou à
personalidade, não pode ser atingido pela norma jurídica
nova. Ex. aposentadoria.
� Ato jurídico perfeito: é o ato praticado em certo momento
histórico, em consonância com as normas jurídicas vigentes
naquela ocasião. É ato consumado, pelo exercício do direito
estabelecido segundo a norma vigente ao tempo em que ele
foi exercido. Ex. no caso do testamento válido, lavrado e
assinado, mas ainda vivo o testador, ou, um negócio jurídico
sujeito a condição suspensiva. Nesses exemplos há ato
jurídico perfeito, pois tais atos foram constituídos validamente
sob a égide de uma lei válida, porém em ambos inexiste
direito adquirido.
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C) CONSERVAÇÃO DE DIREITOS
� São algumas medidas de caráter preventivo ou
repressivo, que são necessárias para conservar os
direitos.
� As medidas de caráter preventivo são as que
visam garantir o direito contra futura violação:
� Natureza Extrajudicial: asseguram o cumprimento da
obrigação creditícia. Ex.: garantias reais e as pessoais.
� Natureza Judicial: asseguram o cumprimento do direito
através das medidas cautelares previstas no CPC.
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� As medidas de caráter repressivo são aquelas
que visam restaurar o direito violado. A pretensão é
deduzida em juízo por meio da ação (art. 5, XXXV
da CF/88).
� A defesa privada ou autotutela não é permitida em
nosso ordenamento a não ser em casos
especialmente previstos, como por exemplo no art.
188, I e II e art. 1.210, §1º, todos do CC.
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D) MODIFICAÇÃO DE DIREITOS
� Os direitos podem sofrer modificações quanto ao
seu objeto, quanto à pessoa do sujeito e, às vezes
quanto a ambos aos aspectos.
� Modificação Objetiva: quando o objeto do direito
pode ser modificado. Pode ser:
� Qualitativa: o conteúdo do direito se converte em outra
espécie, sem que aumentem ou diminuam as
faculdades do sujeito. Ex.: dação em pagamento.
� Quantitativa: o objeto aumenta ou diminui no volume ou
extensão, sem alterar a qualidade do direito. Ex.:
acréscimo de terreno (aluvião). 19
� Modificação Subjetiva: quando a modificação
ocorre na pessoa titular do direito, permanecendo
inalterada a relação jurídica primitiva. A alteração
pode se dar:
� Por ato inter vivos: cessão de crédito, desapropriação,
alienação.
� Por causa mortis: sucessão (desaparece o titular do
direito e surgem os herdeiros).
� Os direitos personalíssimos são insuscetíveis de
modificação subjetiva.
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E) EXTINÇÃO DE DIREITOS
� Os direitos podem ser extintos por várias razões, como pelo
perecimento do objeto, alienação, renúncia, abandono,
falecimento do titular de direito personalíssimo, prescrição,
decadência, confusão, implemento de condição resolutiva,
escoamento do prazo, perempção da instância e
desapropriação. Algumas causas de extinção podem ser:
� Subjetivas: quando o direito é personalíssimo e morre seu titular.
� Objetivas: quando perece o objeto sobre o qual recaem.
� Concernentes ao vínculo jurídico: quando acaba a pretensão ou
o próprio direito material, como na prescrição e na decadência.
� Alguns autores distinguem extinção de perda de direitos,
dizendo que este último caso, só ocorre quando o direito se
destaca do titular e passa a subsistir com outro sujeito,
enquanto na extinção o próprio direito desaparece e não pode
mais ser exercido por ninguém. 21
F) TEORIA DO NEGÓCIO JURÍDICO
� O CC de 2002 adota a posição dualista com relação à
teoria dos atos jurídicos, ou seja, se refere aos negócios
e aos atos jurídicos lícitos.
� O novo código substituiu a expressão genérica ato
jurídico, empregada pelo diploma anterior, pela
designação específica negócio jurídico. Há cm
regramento bilateral de condutas no negócio jurídico. A
vontade tem finalidade negocial (criar, adquirir,
transferir, modificar ou extinguir direitos).
� Alguns negócios jurídicos são unilaterais e são
aperfeiçoados com uma única manifestação de
vontade. Ex.: testamento, instituição de fundação,
renúncia da herança, procuração, confissão de dívida,
etc. 22
G) CLASSIFICAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
g.1) Quanto ao número de declarantes, os
negócios jurídicos podem ser:
o Unilaterais – aperfeiçoam com uma única
manifestação de vontade. Podem ser:
o Receptícios – a declaração de vontade tem que se
tornar conhecida do destinatário para produzir efeitos.
Ex.: denúncia ou resilição de um contrato, revogação
de mandato etc.
o Não receptícios – aqueles em que o conhecimento por
parte de outras pessoas é irrelevante. Ex.: testamento,
confissão de dívida etc.
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� Bilaterais – aqueles em que há necessidade de
acordo de vontades ou consentimento mútuo.
Podem ser:
� Bilaterais simples – aqueles que somente uma das
partes auferem vantagens, enquanto a outra arca com
os ônus. Ex.: doação, comodato etc.
� Bilaterais sinalagmáticos – aqueles que outorgam ônus
e vantagens recíprocos. Ex.: compra e venda, locação.
� Plurilaterais – contratos que envolvem mais de
duas partes. Ex.: contratos de sociedade,
consórcios etc.
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G.2) QUANTO ÀS VANTAGENS PATRIMONIAIS:
o Gratuitos – são aqueles em que só uma das partes
aufere vantagens ou benefícios, como na doação e no
comodato.
o Onerosos – são aqueles em que ambos os
contratantes auferem vantagens, às quais, porém
corresponde um sacrifício ou contraprestação. Ex.:
compra e venda, locação, empreitada etc. Podem ser:
o Comutativos – de prestações certas e determinadas.
o Aleatórios – caracterizam-se pela incerteza, para as duas
partes, sobre as vantagens e sacrifícios que deles pode advir.
O risco é da essência do negócio. 25
o Neutros – aqueles que se caracterizam pela
destinação dos bens. Ex.: bem indisponível pela
cláusula de incomunicabilidade (instituição de bem
de família, renúncia abdicativa, doação
remuneratória).
o Bifrontes - são os que podem ser onerosos ou
gratuitos, segundo a vontade das partes, como o
mútuo, o mandato, o depósito.
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G.3) QUANTO AO MOMENTO DA PRODUÇÃO DOS EFEITOS:
o Inter vivos: aqueles que destinam-se a produzir
efeitos desde logo, ou seja, estando as partes
vivas. Ex.: promessa de compra e venda, locação,
permuta, mandato, casamento etc.
o Mortis Causa: são os negócios destinados a
produzir efeitos após a morte do agente, como
ocorre com o testamento, o codicilo e a doação
estipulada em pacto antenupcial para depois da
morte do testador. São denominados de negócios
nominados ou típicos. Só podem ser celebrados se
definidos pela lei. 27
G.4) QUANTO AO MODO DE EXISTÊNCIA:
o Principais: são os que têm existência própria e não
dependem da existência de qualquer outro. Ex.: compra
e venda, locação, permuta etc.
o Acessórios: são os que têm sua existência
subordinada à do contrato principal, como na cláusula
penal, a fiança, o penhor e a hipoteca. Seguem o
destino o principal.
o Derivados ou Subcontratos: aqueles que têm por
objeto direitos estabelecidos em outro contrato,
denominado básico ou principal, como por exemplo na
sublocação ou subempreitada. Também dependem do
contrato principal, mas participam da própria natureza
do direito tratado no contrato principal.
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G.5) QUANTO ÀS FORMALIDADES:
o Solenes: aqueles que devem obedecer uma forma
prescrita em lei para se aperfeiçoarem. Ex.:
escritura pública na alienação de imóvel acima de
certo valor (CC, art. 108), o testamento como
manifestação de última vontade (arts. 1.864 e s.), a
renúncia da herança (art. 1.806) etc.
o Não solenes: são os negócios de forma livre.
Basta o consentimento para sua formação. Em
regra, os contratos têm forma livre, salvo exceções
(art. 107, CC). Ex.: locação e comodato.
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G.6) QUANTO AO NÚMERO DE ATOS NECESSÁRIOS:
o Simples: são os negócios que se constituem por ato
único.
o Complexos: são os que resultam da fusão de vários
atos semeficácia independente. Ex.: alienação de um
imóvel em prestações.
o Coligados: compõem-se de vários outros. Ex.:
arrendamento de posto de gasolina (coligado pelo
mesmo instrumento ao contrato de locação de bombas,
de comodato da área de funcionamento de lanchonete,
de financiamento etc.). Existe uma conexão mediante
um vínculo que une o conteúdo dos contratos. 30
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G.7) QUANTO ÀS MODIFICAÇÕES QUE PODEM PRODUZIR:
o Dispositivos: são aqueles que podem ser
utilizados pelos seus titulares para alienar,
modificar ou extinguir direitos. Ex.: concessão de
remissão de dívida, usufruto etc.
o Obrigacionais: aqueles que geram obrigações
para uma ou ambas as partes, possibilitando a uma
delas exigir da outra o cumprimento de
determinada prestação. É completado, em geral
pelo negócio dispositivo. Ex.: contratos em geral.
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G.8) QUANTO AO MODO DE OBTENÇÃO DO RESULTADO:
o Fiduciário: aqueles em que alguém (fiduciante),
transmite o direito a outro (fiduciário), que se obriga
a devolver esse direito ao patrimônio do
transferente ou destiná-lo a outro fim.
o Simulado: é o que tem aparência contrária à
realidade. As declarações de vontade são falsas.
Não é considerado válido, portanto nulo (art. 167).
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H) INTERPRETAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
� Interpretar o negócio jurídico é precisar o sentido e alcance
do conteúdo da declaração de vontade das partes, não a
vontade interna, psicológica, mas a vontade objetiva, o
conteúdo, as normas que nascem da sua declaração.
� Adota-se atualmente a teoria da vontade e da declaração,
no que se refere à interpretação.
� Parte-se da declaração escrita (teoria da declaração) para se
chegar na real intenção das partes (teoria da vontade). A
vontade não deve ser considerada no pensamento íntimo dos
declarantes, mas sim no sentido mais adequado a uma
interpretação que leve em conta a boa-fé, o contexto e o fim
econômico do negócio jurídico (art. 112). O texto reforça a
teoria da declaração, mas sem aniquilar a da vontade. 33
H.1) REGRAS DE INTERPRETAÇÃO:
� Art. 113: boa-fé e usos do lugar.
� Relativização do subjetivismo: a intenção é importante, mas
os elementos objetivos também devem ser observados.
� A boa-fé se presume; a má-fé, ao contrário, deve ser provada.
Os usos e costumes de cada localidade também devem ser
considerados.
� Arts. 114. Os negócios benéficos ou gratuitos são os que
envolvem uma liberalidade: somente um dos contraentes se
obriga, enquanto o outro apenas aufere um benefício. Devem
ser interpretados restritivamente, pois representam
renúncia a direitos.
� Outros dispositivos sobre interpretação: arts. 423, 819, 1.899,
CC.
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4.5.2 ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO OU LÍCITO
� O ato jurídico em sentido estrito ou meramente lícito,
constitui simples manifestação de vontade, sem
conteúdo negocial, que determina a produção de efeitos
legalmente previstos.
� Neste tipo de ato, não existe propriamente uma
declaração de vontade manifestada com o propósito de
atingir, dento do campo da autonomia privada, os
efeitos jurídicos pretendidos pelo agente (como no
negócio jurídico), mas sim um simples comportamento
humano deflagrador de efeitos previamente
estabelecidos em lei.
� Subdivide-se em: materiais ou reais e participações. 35
� Os ato materiais ou reais, são os atos nos quais existe
uma vontade consciente na origem da atividade
humana, mas o mesmo não ocorre na produção dos
seus efeitos, ou seja, existe uma vontade na produção
de um ato, mas não objetivando a produção de seus
efeitos, os quais são produzidos sem o seu querer. Ex.:
reconhecimento da filiação, a percepção de frutos
(colher o fruto de uma árvore, em local permitido), a
fixação de domicílio, a despedida sem justa causa do
empregado, a adoção.
� As participações são atos de mera comunicação,
dirigidos a um destinatário, sem cunho negocial, que se
consumam por uma declaração. Há um ato intencional
que se consuma por meio da declaração, com as
repercussões pretendidas pelo seu autor, consistente
no desejo de levar a terceiros a ciência de um
determinado intuito, ou da ocorrência de determinado
fato. Ex.: notificação, intimação, confissão, aviso etc.
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É sempre unilateral e 
potestativo
É menos rico de conteúdo. 
O efeito da manifestação 
da vontade está previsto 
na lei e não pode ser 
alterado pelo agente.
Em alguns casos, a lei 
exige uma manifestação 
da vontade; em outros, 
contenta-se com a mera 
intenção ou 
comportamento do agente.
Ato 
Jurídico 
em Sentido 
Estrito É, em regra, bilateral, 
havendo, todavia, alguns 
poucos negócios jurídicos 
unilaterais.
Permite a escolha da 
categoria jurídica almejada 
e o autorregramento de 
condutas, ou seja, a 
obtenção da múltiplos 
efeitos no exercício da 
autonomia privada
Exige uma vontade 
qualificada, sem vícios, 
manifestada por pessoa 
maior e que tenha o 
necessário discernimento.
Negócio 
Jurídico
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4.5.3 ATO-FATO JURÍDICO
� São certas ações humanas que a lei encara como fatos, sem
levar em consideração a vontade, a intenção ou a
consciência do agente.
� O efeito do ato não é buscado pelo agente, mas decorre de
uma conduta e é sancionado pela lei, como no caso de uma
pessoa que acha, casualmente, um tesouro (art. 1.264).
� Nos atos-fatos jurídicos a vontade humana é irrelevante, o
que importa é o resultado produzido. Nestes casos o
elemento psíquico pouco importa, ou seja, não é relevante
que o ato-fato jurídico tenha sido praticado por um incapaz,
por exemplo. Exemplo disto é um louco encontrar um tesouro.
Serão aplicadas as normas do artigo 1264 do Código Civil, ou
seja, independentemente de um louco ter achado o tesouro,
ele será dono de parte dele.
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5. ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
� Os elementos do Negócio Jurídico podem ser
subdivididos em três espécies:
� Elementos Essenciais (essentialia negotii)
� Elementos Naturais (naturalia negotii)
� Elementos Acidentais (accidentalia negotii)
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A) ELEMENTOS ESSENCIAIS
� São aqueles elementos estruturais, indispensáveis
à existência do ato e que lhe formam a substância.
Ex: declaração de vontade nos negócios em geral;
a coisa, o preço e o consentimento na compra e
venda. Podem ser:
� Gerais: comuns a todos os negócios. Ex.: declaração
de vontade.
� Particulares: peculiares a certos tipos de negócios.
Ex.: compra e venda – coisa, preço e consentimento
(art. 482); testamento particular – documento de próprio
punho ou mediante processo mecânico (art. 1.876).
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B) ELEMENTOS NATURAIS
� São as consequências ou efeitos que decorrem da
própria natureza do negócio, sem necessidade de
vir expresso na norma principal. Pode vir expresso
na norma supletiva.
� Ex.: Art. 441 – responsabilidade do alienante pelos
vícios redibitórios;
� Art. 327 - lugar de pagamento quando não
convencionado .
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C) ELEMENTOS ACIDENTAIS
� São aqueles elementos acessórios, os quais
podem ser adicionados facultativamente ao
negócio para modificar alguma de suas
consequências naturais.
� Ex.: condição, termo, encargo ou modo (arts. 121, 131,
136).
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5.1 A TRICOTOMIA ENTRE OS PLANOS DA
EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA
� Plano de Existência: este plano está ligado à presença
de todos os elementos estruturais do ato jurídico. Para
que o ato exista é necessário a presença de todos os
elementos estruturais. Faltando um elemento estrutural
o ato não ingressa no mundo jurídico: é inexistente.
� Ex.: casamento realizado por um delegado de polícia.
� Plano da Validade: Existindo o ato, ou seja, presentes
os elementos estruturais, devem também ser
preenchidos alguns requisitos fáticos para que este ato
seja válido (capacidade do agente, licitude do objeto e a
forma prescrita em lei). Um ato pode existir e não ser
válido, caso em que será nulo ou anulável.
� Ex.: casamentorealizado pelo juiz de paz, porém os
nubentes com idade de 15 anos. 43
� Plano da Eficácia: quando o negócio jurídico
existe (contém elementos estruturais), é válido
(requisitos), entretanto, ainda não tem eficácia, pois
depende do cumprimento de uma condição
imposta. É onde os fatos jurídicos produzem seus
efeitos.
� Ex.: Concessão e manutenção de bolsa de estudos;
� Casamento anulável celebrado de boa-fé (art. 1.561).
� Nosso Código Civil não adotou a tricotomia
existência – validade – eficácia, pois considera-se
que os requisitos de existência encontram-se na
base do sistema jurídico. 44
5.2 REQUISITOS DE EXISTÊNCIA
� Os requisitos de existência dos negócios jurídicos
são seus elementos estruturais, a saber:
� Declaração de vontade
� Finalidade negocial
� Idoneidade do objeto
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A) DECLARAÇÃO DE VONTADE
� A vontade deve ser manifestada para que exista um
negócio jurídico.
� A forma de instrumentalizar a manifestação da vontade
é através da declaração de vontade.
� Rege o direito civil o princípio da autonomia da
vontade, pelo qual as pessoas têm liberdade de, em
conformidade com a lei, celebrar negócios jurídicos,
criando direitos e contraindo obrigações. O princípio é
limitado pelo princípio da supremacia da ordem
pública, pelo qual o Estado interfere nas manifestações
de vontade, em nome dos mais fracos. 46
� Vontade manifestada obriga o contratante –
princípio da obrigatoriedade dos contratos
(pacta sunt servanda): o contrato faz lei entre as
partes e não pode ser modificado pelo Judiciário.
� Opõe-se ao princípio da obrigatoriedade dos
contratos o princípio da revisão dos contratos
ou da onerosidade excessiva (CC, art. 478),
baseado na cláusula rebus sic stantibus e na teoria
da imprevisão que autoriza o recurso ao Judiciário
para se pleitear a revisão dos contratos, ante a
ocorrência de fatos extraordinários e imprevisíveis.
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A.1) FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA VONTADE
Expressa
• Se realiza por 
meio da 
palavra, falada 
ou escrita e de 
gestos, sinais 
ou mímicas, 
possibilitando o 
conhecimento 
da intenção do 
agente.
• Ex.: celebração 
de contrato, 
emissão de 
título de crédito
Tácita
• Declaração de 
vontade que se 
revela pelo 
comportamento 
do agente.
• Ex.: aceitação 
de herança (art. 
1.805), 
aquisição de 
propriedade 
móvel pela 
ocupação (art. 
1.263)
Presumida
• É aquela 
estabelecida 
pela lei.
• Ex.: 
presunções de 
pagamento 
(arts. 322, 323, 
324), aceitação 
de herança 
quando se 
exige a 
manifestação 
do herdeiro 
(1.807) 48
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A.2) ESPÉCIES DE DECLARAÇÕES DE VONTADE
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Receptícia
• A que se dirige a 
pessoa 
determinada, para 
que tome 
conhecimento da 
intenção do 
declarante.
• Ex.: revogação de 
mandato (art. 686), 
proposta de 
contrato (arts. 427 
e 428)
Não Receptícia
• Se efetiva com a 
simples 
manifestação de 
vontade do agente, 
não necessitando 
de destinatário 
especial.
• Ex.: promessa de 
recompensa, 
revogação de 
testamento.
Direta
• Aquela feita sem 
intermediários.
Indireta
• Aquela em que o 
representante se 
utiliza de outras 
pessoas ou meios 
para levar a 
manifestação de 
vontade até seu 
destinatário.
• Ex.: cartas, 
telegramas, 
notificações.
A.3) O SILÊNCIO
� Em regra o silêncio não produz efeitos jurídicos,
conforme art. 111, CC.
� Entretanto, poderá produzir efeitos (silêncio será
interpretado como manifestação tácita):
� Quando a lei lhe atribuir tal efeito. Ex.: doação pura (art. 539),
aceitação de mandato (art. 659), aceitação de herança (art.
1.807).
� Quando tal efeito ficar convencionado em um pré-contrato ou
ainda resultar dos usos e costumes. Ex.: art. 432.
� Cabe o exame do caso concreto para verificação se o
silêncio importa ou não declaração de vontade. 50
A.4) RESERVA MENTAL
� Ocorre quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira
intenção, ou seja, quando não quer um efeito jurídico que
declara querer.
� Propósito: enganar o outro contratante ou declaratário.
� É indiferente ao mundo jurídico e irrelevante no que se
refere à validade e eficácia do negócio jurídico.
� Art. 110, CC - A reserva mental desconhecida da outra parte é
irrelevante para o direito.
� Se a reserva mental é conhecida da outra parte, não se forma
o negócio jurídico. A vontade inexiste, portanto, não se tem
negócio jurídico.
51
B) FINALIDADE NEGOCIAL
� A finalidade dos negócios jurídicos em geral, são:
� Adquirir
� Conservar
� Modificar ou
� Extinguir direitos
52
C) IDONEIDADE DO OBJETO
� O objeto do negócio jurídico deve ser idôneo.
� Ex.: Mútuo – a manifestação da vontade deve recair
sobre coisa fungível.
� Comodato – objeto deve ser coisa infungível.
53
5.3 REQUISITOS DE VALIDADE
� Para que o negócio jurídico seja válido, deve preencher
certos requisitos. Na falta desses requisitos, o negócio
é inválido, não produzirá o efeito jurídico em questão e
será nulo ou anulável. Podem ser:
� Requisitos de validade, de caráter geral (art. 104):
� Capacidade do agente
� Objeto lícito, possível, determinado ou determinável
� Forma prescrita ou não defesa em lei
� Requisitos de validade, de caráter específico: aqueles
exigidos para certos negócios jurídicos.
� Ex.: Exige-se para a compra e venda: a coisa, o preço e o
consentimento.
54
07/11/2012
10
A) CAPACIDADE DO AGENTE
� Capacidade do agente é a aptidão para intervir em negócios
jurídicos, como declarante ou declaratário.
� É a capacidade de fato ou exercício para exercer os atos da vida
civil.
� É adquirida com a maioridade, aos 18 anos, ou com a
emancipação (art. 5º, CC).
� Requisito necessário à validade e eficácia do negócio jurídico,
bem como ao poder de disposição do agente.
� Obs.: Casos de incapacidade e modos de suprimento da
incapacidade (rever).
� Art. 105, CC – a incapacidade não aproveita ao cointeressado
capaz – só pode ser anulada pelo incapaz.
55
B) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU
DETERMINÁVEL
� Objeto lícito: aquele que não atenta contra a lei,
moral ou bons costumes.
� Objeto possível: quando impossível o negócio é
nulo. Pode haver impossibilidade física do objeto,
ou seja, aquela que emana de leis físicas ou
naturais (art. 106, CC), ou a impossibilidade
jurídica do objeto, que ocorre quando o
ordenamento jurídico proíbe expressamente
negócios a respeito de determinado bem, como a
herança de pessoa viva (CC, art. 426). 56
� Objeto determinado ou determinável:
indeterminado relativamente ou suscetível de
determinação no momento da execução. Ex.:
venda de coisa incerta, indicada pelo gênero e pela
quantidade (CC, art. 243); venda alternativa (CC,
art. 252).
57
C) FORMA
� É o meio de revelação da vontade. Deve ser prescrita em lei.
� Não deve ser confundida com a prova, que é meio de
demonstração da existência.
� O nosso ordenamento jurídico adota o sistema da forma livre,
ou do consensualismo ou da liberdade de forma, no que se
refere à prova como requisito de validade do negócio jurídico. O
consensualismo é a regra, e o formalismo a exceção (art.
107, CC).
� O negócio jurídico será nulo quando não obedecer a forma
prescrita em lei ou preterida alguma solenidade que a lei
considere essencial (CC, art. 166, IV e V). Noutros casos, a lei
exige publicidade, através do sistema de Registros Públicos
(CC, art. 221). O formalismo e a publicidade são garantias do
direito. 58
C.1) ESPÉCIES DE FORMAS
� Podem ser distinguidas três espécies de formas:
a) Forma livre: predominante em nosso direito (CC, art.
107). Qualquer meio de manifestação de vontade.
b) Forma especial ou solene: exigida pela lei, como
requisito de validade de determinados negócios
jurídicos. Pode ser:
• Única: a que não pode ser substituída por outra (CC, art.
108). Ex.: escritura pública paraalienação imobiliária,
testamento para deserdação (art. 1.964).
• Múltipla ou plural: o ato é solene, mas a lei permite sua
realização por vários modos. Ex.: reconhecimento voluntário
de filho (art. 1.609, CC), instituição de uma fundação (art.
62). 59
c) Forma contratual: é aquela convencionada pelas
partes (art. 109, CC).
d) Ad solemnitatem ou ad substantiam: quando
determinada forma é da substância do ato,
indispensável para que a vontade produza efeitos.
Ex.: escritura pública, na aquisição de imóvel (CC,
art. 108), modos de reconhecimento de filhos (CC,
art. 1.609).
e) Ad probationem tantum: quando a forma destina-
se a facilitar a prova do ato. Ex.: art. 1.536, CC
(lavratura do assento do casamento); CPC, art.
401; CC, art. 227 (obrigação de valor superior a 10
vezes o salário mínimo). 60

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