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Unidade 4. Dos Fatos Jurídicos

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Direito Civil I
Unidade 4. Dos Fatos Jurídicos
Roberta Siqueira
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4.1 Conceito
Livro III, arts. 104 a 188, CC.
Os fatos jurídicos, em sentido amplo, são todos os acontecimentos da vida em que o ordenamento jurídico considera relevante no campo do direito.
Podem ser subdivididos em:
Fatos Naturais ou fatos jurídicos em sentido estrito – aqueles que decorrem da manifestação da natureza.
Fatos Humanos ou atos jurídicos em sentido lato – aqueles que decorrem da atividade humana.
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 4.2 Características dos Fatos Jurídicos
São sempre relevantes para o bem-estar da coletividade.
Podem ser produzidos pela vontade do homem (matrimônio) ou pela natureza, independente da vontade do homem (terremoto).
Alteram as relações jurídicas (constituem, modificam ou extinguem).
Seus efeitos são notáveis – exterioridade.
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4.3 Fatos Naturais ou Fato Jurídico Stricto Sensu
Os fatos naturais são aqueles que ocorrem por simples manifestação da natureza, independentes da vontade humana, que produzem efeitos jurídicos.
Independem da vontade humana e, repercutindo na vida jurídica, criam, modificam ou extinguem uma relação jurídica. 
Acontecimento natural não volitivo. Ex: decurso do tempo extinguindo direitos, tempestade, inundação, queda de objetos, agressão de animal, nascimento, morte etc. Podem ser ordinários ou extraordinários.
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Os fatos jurídicos naturais ordinários são aqueles acontecimentos previsíveis, normais, regulares. Ex: nascimento, morte, decurso do tempo, menoridade etc.
Os fatos jurídicos naturais extraordinários são aqueles que não se apresentam com regularidade, escapando à previsão e controle. São o caso fortuito, a força maior e o fato do príncipe (factum principis).
O caso fortuito e a força maior caracterizam-se pela imprevisibilidade ou inevitabilidade e pela ausência de culpa (art. 393, CC). Ex.: desabamento de um edifício em razão de uma tempestade; naufrágio de um barco em razão de um maremoto.
O factum principis ou fato do príncipe ocorre, quando em virtude de normas estatais, as partes ficam impedidas, juridicamente, de cumprir as cláusulas do contrato que firmaram.
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4.4 Fato Humano ou Ato Jurídico em Sentido Amplo
É todo e qualquer acontecimento decorrente da vontade humana, com repercussão no mundo jurídico. 
Se prendem à deliberação volitiva do homem. Constituem, modificam ou extinguem uma relação jurídica ou uma situação jurídica.
Se subdividem em atos jurídicos lícitos ou ilícitos.
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4.5 Atos Jurídicos Lícitos 
Se subdividem em:
Ato jurídico em sentido estrito ou meramente lícito
Ato-fato jurídico
Negócio jurídico
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4.5.1 Negócios Jurídicos 
Conceito: É um ato, ou uma pluralidade de atos entre si relacionados, quer sejam de uma ou de várias pessoas, que tem por fim produzir efeitos jurídicos, modificações nas relações jurídicas de âmbito privado. 
Segundo Caio Mário de Silva Pereira - são declarações de vontade destinadas à produção de efeitos jurídicos queridos pelo agente. “O fundamento e os efeitos do negócio jurídico assentam, então, na vontade, não uma vontade qualquer, mas aquela que atua em conformidade com os preceitos ditados pela ordem legal”. 
Finalidade: nesta espécie de ato jurídico há uma finalidade negocial, que abrange a aquisição, conservação, modificação ou extinção de direitos.
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a) Aquisição de Direitos
É a conjunção do direito com seu titular. 
Adquirir um direito é tornar-se o titular do mesmo e ser o titular de um direito é possuir o mesmo como coisa própria, é apropriar-se dele. 
Todo direito pertence a alguém que o adquire, e esse alguém, em virtude da aquisição, assume a posição de titular do direito, e este titular recebe a denominação de sujeito de direito. 
Segundo Carlos Roberto Gonçalves, ocorre a aquisição de um direito com sua incorporação ao patrimônio e à personalidade do titular .
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a.1) FORMAS DE AQUISIÇÃO DE DIREITOS:
Originária : quando se adquire o direito sem qualquer interferência do anterior titular. Ex.: ocupação de coisa sem dono, apropriação de uma concha que o mar atira na praia (res derelicta ou res nullius); art. 1.263 e art. 1.260, CC.
Derivada: quando decorre da transferência feita por outra pessoa, ou seja, quando houver a transmissão do direito de propriedade de uma pessoa a outra, existindo uma relação jurídica entre o anterior e o atual titular. Ex. compra e venda (481, CC),doação (538, CC), herança (1784,CC). Nesse caso, o direito é adquirido com todas as qualidades ou defeitos do titulo anterior, visto que ninguém pode transferir mais direitos do que tem. Ex. compra e venda. 
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Translativa: transferência total dos direitos de um titular para outro. Há a aquisição por parte do novo titular e extinção por parte do antigo. Ex. compra e venda à vista.
Constitutiva: é aquela em que o titular anterior ainda mantém consigo alguma parcela do direito sobre o bem objeto da transferência. Ex. doação com cláusula de usufruto (1390 do CC), alienação fiduciária em garantia (Decreto lei 911/69).
Onerosa: quando se exige do adquirente uma contraprestação, possibilitando a ambos os contratantes a obtenção de benefícios. Ex. compra e venda, locação.
Gratuita: quando só o adquirente aufere vantagem, como acontece na sucessão hereditária. 
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b) Espécies de Direitos
Direito atual: é o direito subjetivo já formado e incorporado ao patrimônio do titular, podendo por ele ser exercido.
Direito futuro: compreende direito condicional e eventual, ambos dependem da realização de um evento futuro e incerto, para que possa surtir, integralmente, os seus efeitos. Não se mostra consumado. Ex.: aluno que por ocasião da sua formatura, ganhará uma Bolsa de Estudos integral para a Pós Graduação se tiver a maior nota do grupo de formandos do semestre. Pode ser:
Deferido: quando a aquisição depende somente do arbítrio do sujeito. Ex.: direito de propriedade dependendo apenas do título aquisitivo;
Não Deferido: quando sua consolidação se subordina a a fatos ou condições falíveis. Ex. doação de safra futura.
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Direito eventual: é um direito concebido mas ainda pendente de concretização, a ser efetivada pelo próprio interessado (elemento de natureza interna). Ex. aceitação de proposta de compra e venda (434, CC) ou o exercício do direito de preferência. 
Direito condicional: diferente do direito eventual pois já se encontra em situação mais avançada, já constituído, perfeito, entretanto, para ser eficaz, depende do implemento da condição estipulada que é um evento futuro e incerto.
Expectativa de direito: é a mera possibilidade de aquisição de direito, que, dependendo ainda de certas circunstâncias, ainda não se consumou, A expectativa de direito, por mais legítima que possa ser, não tem garantia contra a lei nova. Ex.: direito dos filhos de suceder a seus pais quando estes morrerem. Enquanto os ascendentes viverem não têm os filhos, nenhum direito sobre o patrimônio dos pais.
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Direito adquirido: É o que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e/ou à personalidade do sujeito de direito. O direito torna-se adquirido por consequência concreta e direta da norma jurídica ou pela ocorrência, em conexão com a imputação normativa, de fato idôneo, que gera a incorporação ao patrimônio e/ou à personalidade do sujeito. Portanto, tal direito adquirido, uma vez incorporado ao patrimônio e/ou à personalidade, não pode ser atingido pela norma jurídica nova. Ex. aposentadoria. 
Ato jurídico perfeito: é o ato praticado em certo momento histórico, em consonância com as normas jurídicas vigentes naquela ocasião. É ato consumado, pelo exercício do direito estabelecido segundo a norma vigente ao tempo em que ele foi exercido. Ex. no caso do testamento válido, lavrado e assinado, mas ainda vivo o testador, ou, um negócio jurídico sujeito a condição suspensiva. Nesses exemplos há ato jurídico perfeito, pois tais atos foram constituídos validamente sob a égide de uma lei válida, porém em ambos inexiste direito adquirido.
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c) Conservação de Direitos
São algumas medidas de caráter preventivo ou repressivo, que são necessárias para conservar os direitos.
As medidas de caráter preventivo são as que visam garantir o direito contra futura violação:
Natureza Extrajudicial: asseguram o cumprimento da obrigação creditícia. Ex.: garantias reais e as pessoais.
Natureza Judicial: asseguram o cumprimento do direito através das medidas cautelares previstas no CPC.
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As medidas de caráter repressivo são aquelas que visam restaurar o direito violado. A pretensão é deduzida em juízo por meio da ação (art. 5, XXXV da CF/88).
A defesa privada ou autotutela não é permitida em nosso ordenamento a não ser em casos especialmente previstos, como por exemplo no art. 188, I e II e art. 1.210, §1º, todos do CC.
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d) Modificação de Direitos
Os direitos podem sofrer modificações quanto ao seu objeto, quanto à pessoa do sujeito e, às vezes quanto a ambos aos aspectos.
Modificação Objetiva: quando o objeto do direito pode ser modificado. Pode ser:
Qualitativa: o conteúdo do direito se converte em outra espécie, sem que aumentem ou diminuam as faculdades do sujeito. Ex.: dação em pagamento.
Quantitativa: o objeto aumenta ou diminui no volume ou extensão, sem alterar a qualidade do direito. Ex.: acréscimo de terreno (aluvião).
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Modificação Subjetiva: quando a modificação ocorre na pessoa titular do direito, permanecendo inalterada a relação jurídica primitiva. A alteração pode se dar:
Por ato inter vivos: cessão de crédito, desapropriação, alienação.
Por causa mortis: sucessão (desaparece o titular do direito e surgem os herdeiros).
Os direitos personalíssimos são insuscetíveis de modificação subjetiva.
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e) Extinção de Direitos
Os direitos podem ser extintos por várias razões, como pelo perecimento do objeto, alienação, renúncia, abandono, falecimento do titular de direito personalíssimo, prescrição, decadência, confusão, implemento de condição resolutiva, escoamento do prazo, perempção da instância e desapropriação. Algumas causas de extinção podem ser:
Subjetivas: quando o direito é personalíssimo e morre seu titular.
Objetivas: quando perece o objeto sobre o qual recaem. 
Concernentes ao vínculo jurídico: quando acaba a pretensão ou o próprio direito material, como na prescrição e na decadência.
Alguns autores distinguem extinção de perda de direitos, dizendo que este último caso, só ocorre quando o direito se destaca do titular e passa a subsistir com outro sujeito, enquanto na extinção o próprio direito desaparece e não pode mais ser exercido por ninguém.
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f) Teoria do Negócio Jurídico
O CC de 2002 adota a posição dualista com relação à teoria dos atos jurídicos, ou seja, se refere aos negócios e aos atos jurídicos lícitos.
O novo código substituiu a expressão genérica ato jurídico, empregada pelo diploma anterior, pela designação específica negócio jurídico. Há cm regramento bilateral de condutas no negócio jurídico. A vontade tem finalidade negocial (criar, adquirir, transferir, modificar ou extinguir direitos).
Alguns negócios jurídicos são unilaterais e são aperfeiçoados com uma única manifestação de vontade. Ex.: testamento, instituição de fundação, renúncia da herança, procuração, confissão de dívida, etc.
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g) Classificação do Negócio Jurídico
g.1) Quanto ao número de declarantes, os negócios jurídicos podem ser:
Unilaterais – aperfeiçoam com uma única manifestação de vontade. Podem ser:
Receptícios – a declaração de vontade tem que se tornar conhecida do destinatário para produzir efeitos. Ex.: denúncia ou resilição de um contrato, revogação de mandato etc.
Não receptícios – aqueles em que o conhecimento por parte de outras pessoas é irrelevante. Ex.: testamento, confissão de dívida etc.
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Bilaterais – aqueles em que há necessidade de acordo de vontades ou consentimento mútuo. Podem ser:
Bilaterais simples – aqueles que somente uma das partes auferem vantagens, enquanto a outra arca com os ônus. Ex.: doação, comodato etc.
Bilaterais sinalagmáticos – aqueles que outorgam ônus e vantagens recíprocos. Ex.: compra e venda, locação.
Plurilaterais – contratos que envolvem mais de duas partes. Ex.: contratos de sociedade, consórcios etc.
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g.2) Quanto às vantagens patrimoniais:
Gratuitos – são aqueles em que só uma das partes aufere vantagens ou benefícios, como na doação e no comodato.
Onerosos – são aqueles em que ambos os contratantes auferem vantagens, às quais, porém corresponde um sacrifício ou contraprestação. Ex.: compra e venda, locação, empreitada etc. Podem ser:
Comutativos – de prestações certas e determinadas.
Aleatórios – caracterizam-se pela incerteza, para as duas partes, sobre as vantagens e sacrifícios que deles pode advir. O risco é da essência do negócio.
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Neutros – aqueles que se caracterizam pela destinação dos bens. Ex.: bem indisponível pela cláusula de incomunicabilidade (instituição de bem de família, renúncia abdicativa, doação remuneratória).
Bifrontes - são os que podem ser onerosos ou gratuitos, segundo a vontade das partes, como o mútuo, o mandato, o depósito.
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g.3) Quanto ao Momento da Produção dos Efeitos:
Inter vivos: aqueles que destinam-se a produzir efeitos desde logo, ou seja, estando as partes vivas. Ex.: promessa de compra e venda, locação, permuta, mandato, casamento etc.
Mortis Causa: são os negócios destinados a produzir efeitos após a morte do agente, como ocorre com o testamento, o codicilo e a doação estipulada em pacto antenupcial para depois da morte do testador. São denominados de negócios nominados ou típicos. Só podem ser celebrados se definidos pela lei.
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g.4) Quanto ao Modo de Existência:
Principais: são os que têm existência própria e não dependem da existência de qualquer outro. Ex.: compra e venda, locação, permuta etc.
Acessórios: são os que têm sua existência subordinada à do contrato principal, como na cláusula penal, a fiança, o penhor e a hipoteca. Seguem o destino o principal.
Derivados ou Subcontratos: aqueles que têm por objeto direitos estabelecidos em outro contrato, denominado básico ou principal, como por exemplo na sublocação ou subempreitada. Também dependem do contrato principal, mas participam da própria natureza do direito tratado no contrato principal.
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g.5) Quanto às Formalidades:
Solenes: aqueles que devem obedecer uma forma prescrita em lei para se aperfeiçoarem. Ex.: escritura pública na alienação de imóvel acima de certo valor (CC, art. 108), o testamento como manifestação de última vontade (arts. 1.864 e s.), a renúncia da herança (art. 1.806) etc.
Não solenes: são os negócios de forma livre. Basta o consentimento para sua formação. Em regra, os contratos têm forma livre, salvo exceções (art. 107, CC). Ex.: locação e comodato.
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g.6) Quanto ao Número de Atos Necessários:
Simples: são os negócios que se constituem por ato único.
Complexos: são os que resultam da fusão de vários atos sem eficácia independente. Ex.: alienação de um imóvel em prestações.
Coligados: compõem-se de vários outros. Ex.: arrendamento de posto de gasolina (coligado pelo mesmo instrumento ao contrato de locação de bombas, de comodato da área de funcionamento de lanchonete, de financiamento etc.). Existe uma conexão mediante um vínculo que une o conteúdo dos contratos.
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g.7) Quanto às Modificações que podem produzir:
Dispositivos: são aqueles que podem ser utilizados pelos seus titulares para alienar, modificar ou extinguir direitos. Ex.: concessão de remissão de dívida, usufruto etc.
Obrigacionais: aqueles que geram obrigações para uma ou ambas as partes, possibilitando a uma delas exigir da outra o cumprimento de determinada prestação. É completado, em geral pelo negócio dispositivo. Ex.: contratos em geral.
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g.8) Quanto ao Modo de Obtenção do Resultado:
Fiduciário: aqueles em que alguém (fiduciante), transmite o direito a outro (fiduciário), que se obriga a devolver esse direito ao patrimônio do transferente ou destiná-lo a outro
fim.
Simulado: é o que tem aparência contrária à realidade. As declarações de vontade são falsas. Não é considerado válido, portanto nulo (art. 167).
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h) Interpretação do Negócio Jurídico
Interpretar o negócio jurídico é precisar o sentido e alcance do conteúdo da declaração de vontade das partes, não a vontade interna, psicológica, mas a vontade objetiva, o conteúdo, as normas que nascem da sua declaração.
Adota-se atualmente a teoria da vontade e da declaração, no que se refere à interpretação. 
Parte-se da declaração escrita (teoria da declaração) para se chegar na real intenção das partes (teoria da vontade). A vontade não deve ser considerada no pensamento íntimo dos declarantes, mas sim no sentido mais adequado a uma interpretação que leve em conta a boa-fé, o contexto e o fim econômico do negócio jurídico (art. 112). O texto reforça a teoria da declaração, mas sem aniquilar a da vontade.
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h.1) Regras de Interpretação:
Art. 113: boa-fé e usos do lugar.
Relativização do subjetivismo: a intenção é importante, mas os elementos objetivos também devem ser observados.
A boa-fé se presume; a má-fé, ao contrário, deve ser provada. Os usos e costumes de cada localidade também devem ser considerados.
Arts. 114. Os negócios benéficos ou gratuitos são os que envolvem uma liberalidade: somente um dos contraentes se obriga, enquanto o outro apenas aufere um benefício. Devem ser interpretados restritivamente, pois representam renúncia a direitos.
Outros dispositivos sobre interpretação: arts. 423, 819, 1.899, CC.
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4.5.2 Ato Jurídico em Sentido Estrito ou Lícito
O ato jurídico em sentido estrito ou meramente lícito, constitui simples manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que determina a produção de efeitos legalmente previstos. 
Neste tipo de ato, não existe propriamente uma declaração de vontade manifestada com o propósito de atingir, dento do campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos pelo agente (como no negócio jurídico), mas sim um simples comportamento humano deflagrador de efeitos previamente estabelecidos em lei.
Subdivide-se em: materiais ou reais e participações. 
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Os ato materiais ou reais, são os atos nos quais existe uma vontade consciente na origem da atividade humana, mas o mesmo não ocorre na produção dos seus efeitos, ou seja, existe uma vontade na produção de um ato, mas não objetivando a produção de seus efeitos, os quais são produzidos sem o seu querer. Ex.: reconhecimento da filiação, a percepção de frutos (colher o fruto de uma árvore, em local permitido), a fixação de domicílio, a despedida sem justa causa do empregado, a adoção. 
As participações são atos de mera comunicação, dirigidos a um destinatário, sem cunho negocial, que se consumam por uma declaração. Há um ato intencional que se consuma por meio da declaração, com as repercussões pretendidas pelo seu autor, consistente no desejo de levar a terceiros a ciência de um determinado intuito, ou da ocorrência de determinado fato. Ex.: notificação, intimação, confissão, aviso etc. 
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4.5.3 Ato-fato Jurídico
São certas ações humanas que a lei encara como fatos, sem levar em consideração a vontade, a intenção ou a consciência do agente. 
O efeito do ato não é buscado pelo agente, mas decorre de uma conduta e é sancionado pela lei, como no caso de uma pessoa que acha, casualmente, um tesouro (art. 1.264).
Nos atos-fatos jurídicos a vontade humana é irrelevante, o que importa é o resultado produzido. Nestes casos o elemento psíquico pouco importa, ou seja, não é relevante que o ato-fato jurídico tenha sido praticado por um incapaz, por exemplo. Exemplo disto é um louco encontrar um tesouro. Serão aplicadas as normas do artigo 1264 do Código Civil, ou seja, independentemente de um louco ter achado o tesouro, ele será dono de parte dele. 
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5. Elementos do Negócio Jurídico
Os elementos do Negócio Jurídico podem ser subdivididos em três espécies:
Elementos Essenciais (essentialia negotii)
Elementos Naturais (naturalia negotii)
Elementos Acidentais (accidentalia negotii)
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a) Elementos Essenciais
São aqueles elementos estruturais, indispensáveis à existência do ato e que lhe formam a substância. Ex: declaração de vontade nos negócios em geral; a coisa, o preço e o consentimento na compra e venda. Podem ser:
Gerais: comuns a todos os negócios. Ex.: declaração de vontade.
Particulares: peculiares a certos tipos de negócios. Ex.: compra e venda – coisa, preço e consentimento (art. 482); testamento particular – documento de próprio punho ou mediante processo mecânico (art. 1.876).
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b) Elementos Naturais
São as consequências ou efeitos que decorrem da própria natureza do negócio, sem necessidade de vir expresso na norma principal. Pode vir expresso na norma supletiva.
Ex.: Art. 441 – responsabilidade do alienante pelos vícios redibitórios;
Art. 327 - lugar de pagamento quando não convencionado .
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c) Elementos Acidentais
São aqueles elementos acessórios, os quais podem ser adicionados facultativamente ao negócio para modificar alguma de suas consequências naturais.
Ex.: condição, termo, encargo ou modo (arts. 121, 131, 136).
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5.1 A Tricotomia entre os Planos da Existência, Validade e Eficácia
Plano de Existência: este plano está ligado à presença de todos os elementos estruturais do ato jurídico. Para que o ato exista é necessário a presença de todos os elementos estruturais. Faltando um elemento estrutural o ato não ingressa no mundo jurídico: é inexistente.
Ex.: casamento realizado por um delegado de polícia.
Plano da Validade: Existindo o ato, ou seja, presentes os elementos estruturais, devem também ser preenchidos alguns requisitos fáticos para que este ato seja válido (capacidade do agente, licitude do objeto e a forma prescrita em lei). Um ato pode existir e não ser válido, caso em que será nulo ou anulável.
Ex.: casamento realizado pelo juiz de paz, porém os nubentes com idade de 15 anos.
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Plano da Eficácia: quando o negócio jurídico existe (contém elementos estruturais), é válido (requisitos), entretanto, ainda não tem eficácia, pois depende do cumprimento de uma condição imposta. É onde os fatos jurídicos produzem seus efeitos.
Ex.: Concessão e manutenção de bolsa de estudos;
Casamento anulável celebrado de boa-fé (art. 1.561).
Nosso Código Civil não adotou a tricotomia existência – validade – eficácia, pois considera-se que os requisitos de existência encontram-se na base do sistema jurídico.
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5.2 Requisitos de Existência
Os requisitos de existência dos negócios jurídicos são seus elementos estruturais, a saber:
Declaração de vontade
Finalidade negocial
Idoneidade do objeto
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a) Declaração de Vontade
A vontade deve ser manifestada para que exista um negócio jurídico.
A forma de instrumentalizar a manifestação da vontade é através da declaração de vontade.
Rege o direito civil o princípio da autonomia da vontade, pelo qual as pessoas têm liberdade de, em conformidade com a lei, celebrar negócios jurídicos, criando direitos e contraindo obrigações. O princípio é limitado pelo princípio da supremacia da ordem pública, pelo qual o Estado interfere nas manifestações de vontade, em nome dos mais fracos.
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 Vontade manifestada obriga o contratante – princípio da obrigatoriedade dos contratos (pacta sunt servanda): o contrato faz lei entre as partes e não pode ser modificado pelo Judiciário.
Opõe-se ao princípio da obrigatoriedade dos contratos o princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva (CC, art. 478), baseado na cláusula rebus sic stantibus e na teoria da imprevisão que autoriza o recurso ao Judiciário para se pleitear a revisão dos contratos, ante a ocorrência de fatos extraordinários e imprevisíveis.
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a.1) Formas de Manifestação da Vontade
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a.2) Espécies de Declarações de Vontade
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a.3) O silêncio
Em regra o silêncio não produz efeitos jurídicos, conforme art. 111, CC.
Entretanto, poderá produzir efeitos (silêncio
será interpretado como manifestação tácita):
Quando a lei lhe atribuir tal efeito. Ex.: doação pura (art. 539), aceitação de mandato (art. 659), aceitação de herança (art. 1.807).
Quando tal efeito ficar convencionado em um pré-contrato ou ainda resultar dos usos e costumes. Ex.: art. 432.
Cabe o exame do caso concreto para verificação se o silêncio importa ou não declaração de vontade.
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a.4) Reserva mental
Ocorre quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção, ou seja, quando não quer um efeito jurídico que declara querer.
Propósito: enganar o outro contratante ou declaratário.
É indiferente ao mundo jurídico e irrelevante no que se refere à validade e eficácia do negócio jurídico.
Art. 110, CC - A reserva mental desconhecida da outra parte é irrelevante para o direito. 
Se a reserva mental é conhecida da outra parte, não se forma o negócio jurídico. A vontade inexiste, portanto, não se tem negócio jurídico.
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b) Finalidade Negocial
A finalidade dos negócios jurídicos em geral, são:
Adquirir
Conservar
Modificar ou
Extinguir direitos
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c) Idoneidade do Objeto
O objeto do negócio jurídico deve ser idôneo.
Ex.: Mútuo – a manifestação da vontade deve recair sobre coisa fungível.
Comodato – objeto deve ser coisa infungível.
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5.3 Requisitos de Validade
Para que o negócio jurídico seja válido, deve preencher certos requisitos. Na falta desses requisitos, o negócio é inválido, não produzirá o efeito jurídico em questão e será nulo ou anulável. Podem ser:
Requisitos de validade, de caráter geral (art. 104):
Capacidade do agente
Objeto lícito, possível, determinado ou determinável
Forma prescrita ou não defesa em lei
Requisitos de validade, de caráter específico: aqueles exigidos para certos negócios jurídicos.
Ex.: Exige-se para a compra e venda: a coisa, o preço e o consentimento.
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a) Capacidade do Agente
Capacidade do agente é a aptidão para intervir em negócios jurídicos, como declarante ou declaratário.
É a capacidade de fato ou exercício para exercer os atos da vida civil.
É adquirida com a maioridade, aos 18 anos, ou com a emancipação (art. 5º, CC).
Requisito necessário à validade e eficácia do negócio jurídico, bem como ao poder de disposição do agente.
Obs.: Casos de incapacidade e modos de suprimento da incapacidade (rever).
Art. 105, CC – a incapacidade não aproveita ao cointeressado capaz – só pode ser anulada pelo incapaz.
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b) Objeto lícito, possível, determinado ou determinável
Objeto lícito: aquele que não atenta contra a lei, moral ou bons costumes.
Objeto possível: quando impossível o negócio é nulo. Pode haver impossibilidade física do objeto, ou seja, aquela que emana de leis físicas ou naturais (art. 106, CC), ou a impossibilidade jurídica do objeto, que ocorre quando o ordenamento jurídico proíbe expressamente negócios a respeito de determinado bem, como a herança de pessoa viva (CC, art. 426).
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Objeto determinado ou determinável: indeterminado relativamente ou suscetível de determinação no momento da execução. Ex.: venda de coisa incerta, indicada pelo gênero e pela quantidade (CC, art. 243); venda alternativa (CC, art. 252).
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c) Forma
É o meio de revelação da vontade. Deve ser prescrita em lei.
Não deve ser confundida com a prova, que é meio de demonstração da existência.
O nosso ordenamento jurídico adota o sistema da forma livre, ou do consensualismo ou da liberdade de forma, no que se refere à prova como requisito de validade do negócio jurídico. O consensualismo é a regra, e o formalismo a exceção (art. 107, CC).
O negócio jurídico será nulo quando não obedecer a forma prescrita em lei ou preterida alguma solenidade que a lei considere essencial (CC, art. 166, IV e V). Noutros casos, a lei exige publicidade, através do sistema de Registros Públicos (CC, art. 221). O formalismo e a publicidade são garantias do direito.
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c.1) Espécies de Formas
Podem ser distinguidas três espécies de formas:
a) Forma livre: predominante em nosso direito (CC, art. 107). Qualquer meio de manifestação de vontade.
b) Forma especial ou solene: exigida pela lei, como requisito de validade de determinados negócios jurídicos. Pode ser:
Única: a que não pode ser substituída por outra (CC, art. 108). Ex.: escritura pública para alienação imobiliária, testamento para deserdação (art. 1.964).
Múltipla ou plural: o ato é solene, mas a lei permite sua realização por vários modos. Ex.: reconhecimento voluntário de filho (art. 1.609, CC), instituição de uma fundação (art. 62).
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c) Forma contratual: é aquela convencionada pelas partes (art. 109, CC).
d) Ad solemnitatem ou ad substantiam: quando determinada forma é da substância do ato, indispensável para que a vontade produza efeitos. Ex.: escritura pública, na aquisição de imóvel (CC, art. 108), modos de reconhecimento de filhos (CC, art. 1.609).
e) Ad probationem tantum: quando a forma destina-se a facilitar a prova do ato. Ex.: art. 1.536, CC (lavratura do assento do casamento); CPC, art. 401; CC, art. 227 (obrigação de valor superior a 10 vezes o salário mínimo).
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