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Aula 4 - Alguns sinais de pontuação: O uso da vírgula. Poder da vírgula Padrão frasal 1. O presidente compareceu à reunião, acompanhado da secretária, do diretor e do coordenador. Nesse caso, o presidente foi à reunião com três pessoas. 2. O presidente compareceu à reunião, acompanhado da secretária do diretor e do coordenador. Já nesse caso, o presidente foi à reunião só com duas pessoas: a secretária do diretor e o coordenador. O diretor não foi, e a secretária não é funcionária do presidente. De uma forma simples, você já aprendeu, portanto, quando não deve e quando deve usar a vírgula. Vamos, então, fazer uma atividade? Veja se você consegue adivinhar “A charada das três irmãs” no poema a seguir: Se consultar a razão digo que amo SOLEDADE Não Lia cuja bondade ser humano não teria Não aspiro à mão de Iria que não tem pouca beldade Como você percebeu, o texto poético não foi pontuado propositalmente. Essa será sua tarefa! Afinal, de acordo com a pontuação, o eu lírico, indeciso, pode amar de quatro maneiras diferentes. Como essa é uma marca do texto escrito, não se esqueça de que se relaciona a aspectos sintáticos e, portanto, ao padrão frasal. Tente, então, pontuar o poema de modo que o eu lírico: · a) Confesse seu amor por Soledade. Se consultar a razão, digo que amo SOLEDADE. Não Lia, cuja bondade ser humano não teria. Não aspiro à mão de Iria, que não tem pouca beldade. · b) Confesse seu amor por Iria. Se consultar a razão, digo que amo Soledade? Não! Lia, cuja bondade ser humano não teria? Não! Aspiro à mão de IRIA, que não tem pouca beldade. · c) Confesse seu amor por Lia. Se consultar a razão, digo que amo Soledade? Não! LIA, cuja bondade ser humano não teria. Não aspiro à mão de Iria, que não tem pouca beldade. · d) Hesite entre as três irmãs. Se consultar a razão, digo que amo Soledade? Não! LIA, cuja bondade ser humano não teria. Não aspiro à mão de Iria, que não tem pouca beldade. Usos da vírgula Veja, agora, alguns casos em que devemos usar a vírgula: · Enumerações Analise o exemplo a seguir: Cléo Pires, Fábio Jr. e mais aparecem em 1º trailer de ‘Qualquer gato vira-lata 2’ Você sabe por que há vírgula entre “Cléo Pires” e “Fábio Júnior”? Simples: porque sempre devemos usá-la para separar elementos listados. · Apostos explicativos A vírgula deve ser usada para separar explicações que estão no meio da frase – aquelas que interrompem o pensamento, chamadas de apostos explicativos (termos ou expressões que se referem a um substantivo para ampliar seu significado. Esse tipo de aposto pode ser retirado da frase sem causar prejuízo a sua significação como um todo). O trecho a seguir, retirado de uma notícia, apresenta exemplos dessa particularidade da língua: A nova princesa da Inglaterra, filha da duquesa de Cambridge, Kate Middleton, e do príncipe William, nasceu às 8h 34m deste sábado (2) em Londres (4h 34m) de Brasília, segundo o Palácio de Kensington, sua residência oficial. A menina e a mãe passam bem. Nesse caso, os apostos explicativos – “filha da Duquesa de Cambridge’” e “Kate Middleton” – devem ficar entre vírgulas. · Adjunto adverbial antecipado A vírgula deve ser usada para separar o lugar, o tempo ou o modo que vier no início da frase – aquilo a que chamamos de adjunto adverbial antecipado, como mostra o exemplo a seguir: De janeiro a abril deste ano, foram 286 mil casos confirmados e 74 mortes. TO, PE, AL, SE, BA, RR e MT tiveram alta em total de casos, diz governo. · Vocativo e anacoluto Como tratamos do padrão frasal, aproveite a dica: se há vocativo na sentença, devemos usar a vírgula. O mesmo vale para os anacolutos (figuras de linguagem que representam quebras de padrão frasal. Exemplo: Saúde, quem não precisa dela?). O primeiro balão do diálogo ao lado apresenta um exemplo de vocativo. Veja: Primeiro balão: "Ana, sua amiguinha chegou!" Segundo balão: "Amiguinha? Fala sério!" Observe, agora, a importância da vírgula nos dois exemplos a seguir fornecidos por Silva (2012b): 1. Dr. José Carlos vem aqui. -> (Sem vírgula = afirmação) (SUJEITO) (VERBO) 2. Dr. José Carlos, vem aqui. -> (Com vírgula = chamamento) (VOCATIVO) (VERBO) · Incisos explicativos, retificativos ou continuativos Analise o exemplo a seguir: Em 1943, já eram 36 os navios mercantes brasileiros afundados por submarinos alemães perto da costa catarinense durante a Segunda Guerra Mundial. Aliás, um desses submarinos, o U-513, foi recentemente localizado pelo velejador Vilfredo Schurmann. Como explicar o uso da vírgula em: “Aliás, um desses submarinos [...]”? Esse emprego se justifica porque a vírgula separa incisos explicativos, retificativos ou continuativos. São alguns deles: ou melhor, isto é, a saber, ou antes, digo, por assim dizer, por isso, além disso. · Supressão do verbo A vírgula também pode ser usada para marcar a supressão do verbo. Exemplos: Você traz o café e eu, o pão. (trago) Ele não nos entende nem nós, a ele. (entendemos) · Isolamento de datas A vírgula deve ser usada para separar o nome da localidade nas datas, como mostra o exemplo a seguir: Após o tumulto causado pela paralisação por duas horas das linhas 1 e 2 do Metrô, nesta terça-feira, (23/07/2014), o presidente da Rio Eventos, da Prefeitura do Rio, Leonardo Maciel, declarou ao Bom Dia Rio desta quarta-feira, que a quebra do metrô causa um impacto ruim na cidade, no entanto, “é uma limitação de infraestrutura que a gente tem na cidade”. Período simples e composto Agora, vamos aprender a empregar a vírgula a partir da classificação das orações (frases que possuem verbo). Na Língua Portuguesa, existem orações mais simples e mais complexas. Vejamos alguns exemplos: Eu gosto de ler. Período simples (um verbo) Eu gosto de ler porque me ajuda a dormir. Período composto (dois verbos) Esses períodos são formados pelas orações coordenadas e subordinadas. Orações coordenadas São aquelas sintaticamente equivalentes, que não mantêm, entre si, uma relação gramatical. Para entender o conceito de orações coordenadas, analise a tirinha a seguir: Você percebeu que as orações destacadas não dependem uma da outra para fazer sentido? A norma padrão da Língua Portuguesa classifica essas orações como orações independentes ou coordenadas. Orações coordenadas Há dois tipos de orações coordenadas, quais sejam: · Assindética: aquela que não apresenta conjunção · Sindética : aquela que apresenta conjunção. A vírgula deve ser usada para separar as orações coordenadas assindéticas – como as destacadas na tirinha. Atenção! Há, ainda, a oração que chamamos de intercalada ou interferente – aquela que representa um comentário do autor do texto, como podemos observar no exemplo a seguir, já apresentado anteriormente: De janeiro a abril deste ano, foram 286 mil casos confirmados e 74 mortes. TO, PE, AL, SE, BA, RR e MT tiveram alta em total de casos, diz governo. Essas orações independem da estrutura sintática do período. Usamos vírgulas para separá-las, mas também é possível empregar o travessão duplo. Veja, a seguir, as classificações das orações coordenadas sindéticas. Como vimos anteriormente, as orações coordenadas sindéticas são aquelas que apresentam conjunção. Atente para o uso da vírgula no seguinte trecho: Compro muitos livros pela internet, mas nada substitui a livraria, onde você pode procurar novidades nas estantes, não nos "sites", onde jazem escondidas em profundos sepulcros. Entre outras classificações, elas podem ser: · Adversativas: Sempre usamos vírgula antes de conjunções adversativas - mas, porém, contudo, todavia, entretanto. Se o texto tivesse sido redigido com a conjunção adversativa deslocada, a conjunção deveria aparecer entre vírgulas. Veja: Compro muitos livros pela internet; nada substitui, no entanto, livraria, onde você pode procurar novidades nas estantes, não nos "sites", onde jazem escondidas em profundos sepulcros. Conclusivas: Sempre usamos vírgula antes de conjunçõesconclusivas - logo, portanto, por isso, por conseguinte. Veja um exemplo: Ele estudou bastante, portanto será aprovado. Além disso, a mesma regra anterior vale para a conjunção conclusiva deslocada, que deve aparecer entre vírgulas. Veja: Ele estudou bastante, será, portanto, aprovado. ATENÇÃO! A conjunção POIS com valor conclusivo deve ficar entre vírgulas. Ex: Ele sempre se dedicou à empresa, será, pois, promovido. (= portanto) Já a conjunção POIS com valor explicativo ou causal pode ou não vir antecedida de vírgula. Ex: Ele deverá ser promovido, pois se dedica à empresa. (= porque) Vamos entender, adiante, como funciona o uso da vírgula quando empregamos a conjunção E nas sentenças. Conjunção E Geralmente, não usamos vírgula com a conjunção E. No entanto, há algumas exceções. Como mostra Silva (2013), devemos empregá-la: · Antes da conjunção E com valor ADVERSATIVO Ex: Já são dez horas, e a reunião ainda não terminou. (= mas) · Quando o conectivo E liga orações com sujeitos diferentes Ex: Os funcionários reclamavam, e a direção atendeu. · Quando o conectivo E tem valor consecutivo ou enfático Ex: Os trabalhadores se reuniram, discutiram, e decidiram como agir. Chegou, e viu, e lutou, e venceu finalmente. Orações subordinadas adverbiais As orações subordinadas adverbiais são aquelas que exercem a função de adjunto adverbial. A vírgula PODE ser usada para separar a oração principal da subordinada adverbial – causal, concessiva, condicional, final, temporal. Quando essa oração subordinada estiver deslocada ou for reduzida, a vírgula será obrigatória, como na fala de Paulo Freire: [Quando a educação não é libertadora], o sonho do oprimido é ser o opressor. (oração subordinada adverbial temporal) A vírgula não seria necessária nesse caso se a ordem do período fosse a seguinte: "O sonho do oprimido é ser o opressor quando a educação não é libertadora." Orações subordinadas adjetivas As orações subordinadas adjetivas são aquelas que possuem valor e função de adjetivo. Para entender melhor esse conceito. Veja a propaganda ao lado: "A você que nos faz sorrir, que nos faz chorar, que nos faz feliz, que nos faz amar, que nos ajudou e nos ajuda a viver, a vocês mamães o nosso PARABÉNS!" NA propaganda acima, temos o uso de várias orações adjetivas: [que nos faz chorar], [que nos faz feliz], [que nos faz amar], [que nos ajudou]. Cada uma delas é considerada uma oração subordinada adjetivas explicativa. Essa oração possui pontuação curiosa: a gramática estabelece que a vírgula aparecerá se a oração for adjetiva explicativa e não aparecerá se a oração for adjetiva restritiva. Mas qual é a diferença entre essas orações subordinadas adjetivas? De acordo com a gramática normativa, na oração subordinada adjetiva: · Explicativa: Há uma informação já conhecida, algo que faz parte do senso comum; · Restritiva: Há uma informação nova que não pode ser retirada sem prejuízo da significação da sentença. Analise os exemplos fornecidos por Silva (2012b): Os funcionários, que se dedicaram à empresa, devem ganhar mais. (Entre vírgulas -> Oração explicativa = “Todos se dedicaram e serão aumentados”.) Os funcionários que se dedicaram à empresa devem ganhar mais. (Sem vírgula -> Oração restritiva = “Só os que se dedicaram devem ser aumentados”.) Na frase: Gostaríamos, filho amado, que você se comportasse melhor. Isolam o vocativo "filho amado" A pontuação correta: Quando as crianças chegarem, a aula vai começar. ATIVIDADE · "Todo mundo precisa ler, mas os escritores devem ler. Sobretudo os livros certos..." Nesse texto o uso da vírgula isola: Uma oração coordenada adversativa. ( Sempre usamos vírgula antes de conjunções adversativas - mas, porém, contudo, todavia, entretanto. ) · "Não foi chamado porque, no Brasil, em se tratando de inscrições e avisos públicos, a Língua Portuguesa é sempre a primeira vítima." O uso da expressão "no Brasil", entre vírgulas, é justificado porque: Ressalta a circunstância de lugar. (Adjunto adverbial antecipado: A vírgula deve ser usada para separar o lugar, o tempo ou o modo que vier no início da frase) Ponto e vírgula Bechara (2000, p. 611) afirma que o ponto e vírgula serve de intermediário entre o ponto final e a vírgula. Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o ponto. O emprego do ponto e vírgula depende do contexto, mas há algumas regras básicas para seu uso. Vejamos algumas delas (MUNDO, 2007): · 1. Quando a vírgula marca a omissão de um verbo Neste caso, pode haver, antes do sujeito desse verbo, uma pausa representada pelo ponto e vírgula ou pelo ponto simples. Ex: O general não temia o que lhe podia acontecer; os soldados, sempre. (temiam) · 2. Em enumerações Geralmente, observamos este caso em textos jurídicos – leis, artigos, decretos etc. – e em livros didáticos. Usamos o ponto e vírgula principalmente se os elementos enumerados forem relativamente extensos e numerosos. Veja o exemplo a seguir, em que cada elemento que faz parte da enumeração é um período composto, ou seja, um período com mais de uma oração: “Havia vários fatores que corroboravam sua personalidade violenta: morava em uma região muito violenta, na qual tiros e facadas eram algo comum; nunca teve acesso à escola e à boa informação, por não desfrutar as condições econômicas básicas para isso; era espancado pelo pai quando tinha seis anos de idade; etc.”. · 3. Com conjunções intercaladas Quando optamos por colocar estes conectivos entre vírgulas – em posição não inicial na oração –, o ponto e vírgula é uma ótima opção para marcar a pausa entre as orações. Ex: Jonas tem muito dinheiro; não pode, porém, desfrutar suas vantagens.