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3. PARECERES 3.1 SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. DISTRIBUIÇÃO DE GÁS. DISPONIBILIDADE DE DIREITOS. ESPECIFICIDADES TÉCNICAS DO OBJETO LITIGIOSO. BOA-FÉ E MORALIDADE ADMINISTRATIVA' EDUARDO TALAMINI SUMÁRIO: 1. A consulta- 2. A natureza jurídica da Compagás: o regime jurídico processual a que ela se submete - 3. A indisponibilidade do inte- resse público: suas decorrências no terreno processual-4. O princípio geral da não-necessariedade da intervenção jurisdicional nas relações de direi- to público - 5. A "disponibilidade" como requisito da arbitragem....,. -6. A legitimidade constitucional da arbitragem.- 7. O objeto do processo arbitral em exame: 7.1 Perfeita identificação do objeto no compromisso arbitralj 7.2 O caráter patrimonial dos bens em disputa; 7.3 As especificida(leS téc- nicas da matéria controvertida -; 8. A confirmação doutr.inária e jurispru- dencial do cabimento da arbitragem - 9. Os princípios da boa-fé e da moralidade administrativa - 10. Conclusão. 1. A consulta 1. O Cons6rcio Carioca-Passareli solicita-me parecer acerca dos fatos a se- guir expostos. Em maio do corrente ano, o Consulente e a Companhia Paranaense de Gás - Compagás celebraram compromisso-arbitral; tendo por objeto o exame e julga- mento das divergências surgidas entre as partes relativamente ao "Contrato Com- pagás 004/99" (cláusula primeira do comprollÚsso). (1) O presente parecer teve duas versões, ambas datadas de julho de 2001: a primeira, mais sintética, foi elaborada em prazo de menos de 24 horas desde sua solicitação e foi leva- da aos autos do processo arbitral; a segunda, ora reproduzida, o Consulente fez acom- panhar os memoriais que apresentou, em priIneiro e segundo graus de jurisdição, na ação judicial proposta pela Compagás visando à nulidade da arbitragem. Tal ação foi julgada improcedente, em julgamento confirmado em grau de apelação (3.a Vara da Faienda de Curitiba, autos 22.237/2001; TAPR, Apelação 247.646-0; atuahnente, pendem recursos especial e extraordinário, cuja admissibilidade ainda não foi exami- nada). O acórdão da apelação, também publicado no presente volume, empregou em grande parte os mesmos fundamentos adiante expostos. 136 REVISTA DE ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO - 5 A Consulente relata que a celebração do comprofiÚsso foi antecedida de pIa negociação entre as partes - primeiro, relativamente à matéria objeto de puta. Apenas quando fracassada as tentativas de composição as partes pela solução arbitral. Depois, a própria redação do compromisso arbitral foi objeto de intenso logo entre as partes. Sempre segundo o relato da Consulente, o instrumento- compromisso surgiu de uma primeira minuta feita pela própria Compagás e pois aperfeiçoada nas discussões entre as partes. A versão final do im:trtlmento: aliás, foi assinada não só pelas partes e testemunhas como também pelo advogado da Compagás. . Escolhidos os árbitros, as partes fonnularam quesitos e pleitos, cO.nfonue pre"! visto no compromisso. Nesse momento, houve uma primeira impugnação da Compagás, em que mava que a COI1sulente não estaria se atendo ao objeto da ~rbitragem. Em ta, a Consule~te demonstrou que todos os seus pleitos vhiculavam-se, ~'~~t~~:;~~:;, às questões ~tinentes ao contrato que. se haviam tomado litigiosas _ o q vou relacionando cada um dos pleitos com as correspondências atas de reuniões que deles haviam tratado. Diante disso, o Tribunal AI'hIt.ral feriu a impuguação da Compagás, reconhecendo que os pleitos da Co,uslJlente )t:' inseriam-se no objeto da arbitragem. Posteriormente, na véspera· da data prevista para a entrega do laudo técnico pelo Tribunal Arbitral, para o exame das partes, a Compagás apresentou nova impugnação. Dessa vez, insurgiu-se contra a pr6pria va1idad~ do processo arbitral de cuja instauração participara. Sustentou que o compromisso arbitral e o proces- so dele derivado seriam nulos, não s6 por um suposto defeito na cláusula que defi- niu O objeto controvertido, como ainda por pretensamente não caber a arbitragelll para a solução de conflitos que envolvam sociedade de economia llÚsta prestado- ra de serviço público" (o que reputa ser o seu caso). Em seguida, o Tribunal Arbitral abriu à Consulente a oportunidade para se manifestar sobre a nova impugnação:: 2. Diante desses fatos, a Consulente formula-me os seguintes quesitos: a} O objeto da arbitragem estava suficientemente definido no compromiss~ arbitral? ' b) Cabe o processo arbitral no presente caso? Passo à análise dos aspectos nucleares da questão. 2. A natureza jurídica da Compagás: o rcgimejurídico processual a que ela se submete 3. A Compagás é sociedade de economia mista. Vale dizer> pessoajurfdica de direito privado. que não integra o conceito de Fazenda Pública (União, Estados, Distrito Federal, .Municípios e respectivas autarqula$, aqui incluídas as chamadas "fundações públicas"). . 3. PARECERES 137 ~;! 4. Mais ainda: a atividade desenvolvida pela Compagás não constitui prestação de se/viço público. Iuclui"se entre as hipóteses do inc. IV ar!. 177 da CF/88, ql~~l seja, o "transporte, por meio de conduto, de ( ... ) gás natural de qualquer origem. Trata-se de intervenção do Estado no domínio econômico, sob a forma de ~'10nop6lio, sendo que os entes que a"exercem sujeitam-se ao disposto no art. 173 dà CF, em especial ao § 1.°, 11 (Us~ljeição ao r~gim~ jur~di.co pr6prl~ ~as empres~s . rivadas, inclusive quanto aos direitos e obngaçoes CIViS, COmerCiaiS, traballus- P 'b á' ") tas e trl ut nos . A esse respeito, confIra"se a doutriua de CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, ao comentar o art. 177 da CF/88: "Tais atividades monopolizadas não se confundem com serviços públicos. ,Constituem-se, também elas, em 'serviços governamentais', suje~t~s, pois, às r~ gras do Direito Privado. Correspondem, pura e simplesmente, a atiVIdades econo- micas subtraídas do âmbito da livre iniciativa. "Portanto, as pessoas que o Estado criar p~ra desenvolver estas atividades não serão prestadoras de serviço público" (Curso de Direito Administrativo, 13a ed., S. Paulo, Malheiros, 2001, p. 618). No mesmo sentido posiciona"se EROS ROBERTO GRAU: "No caso assim corno naquele no art. 177 - monop6lio do petr6leo e do gás natural - razÕes creditadas aos imperativos da segurança nacional é que justifi- cam a previsão constitucional de atuação d.o Estadp; como agent~ ec?nô1l1i~0, no campo da atividade econômica em sentIdo estoto. Não há pOIS, ato serviço público" (A Ordem Econômica na Constituição de 1988, 5" ed., S. Paulo, Ma" !beiros, 2000, p. 150). Ainda na mesma linha é a lição de MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, ao manifestar-se sobre a intervenção direta do Estado no donúnio econômico: "Nesse caso não se' trata de atividade assumida pelo Estado como serviço público; é ativida'de: tipicamente privada que o J?st~d_o e:xerce em r~gime de mon~ p6lio (nos casos indicados no art. 177 da Consttt~lçao~ ou em reg~m~ de comp~tI ção com a iniciativa privada, conforme o determme o mteresse publIco ou razoes de segurança (art. 173). O Estado exerce essa ativi~a~e a título.de.i~tell'ellção n.o dom(nio econ6mico, conservando a natureza da atiVIdade como tIpIcamente pn- vada; por isso mesmo, ele se submete às nonnas de -direito privado que não foram expressamentederrogadas pela Constituição" (DireitoAdmillistrativo, 13a ed., São Paulo: Atlas, 2001, p. 350). Nem cabe alegar que a atividade exercida pela Compagás· se~ia serviço pú- blico por supostamente estar compreendida entre as previstas no art. 25, § 2.°, da CF/88. O ar!. 177 descreve exatameute a atividade deseuvolvida pela Compagás. Não há como conceber que o texto constitucional trataria de forma diferenciada uma mesma atividade confonne o ente da Federação que a exerce (nem conforme o âmbito tenitorial em que é exercida), ora como atividade econômica em sentidoestrito, ora como serviço público. 138 REVISTA DE ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO - 5 5. De qualquer modo, parece aqui irrelevante examinar se a Compagás ca-se à simples "exploração direta de atividade econômica" ou presta ver'da<]eii "serviço público", Obviamente, não é possível aplicar em tudo e para tudo o me jurídico de direito privado à sociedade de economia mista, ainda quando pIore diretamente "atiyidadeeconômica'·. Mas S~I~' ~i~.~~~:~:~n~,~~.~::r;:~~:ai~~:;~~~ que a sociedade de economia mista prestadora de serviço público fica mente equiparada às pessoas de direito público. Uma tal concepção tomaria plicável a pr6pria existência autônoma da categoria da sociedade de econ'DIll mista. Isso esbarraria na própria Constituição que lhe reconhece tal nomo, ao referir-se em diversos dispositivos à sociedade de economia mIsta como ente distinto dos demais que integram a Administração direta e indireta. Portanto~ em nenhum caso o regime jurídico aplicável à sociedade de nomia mista será idêntico ao regime jurícHco das pessoas de direito ~~~~::~1~ "Fazenda Pública"). Como escreve MARIA SYLVIA ZANELLA t "d~ntre as enti~ade~ d~ Admi~istraç~o Indireta, as de direit'? ~úblico _ _ __ :- _ ~ qU1~S e funda~oes publIcas - t~m praticamente os mesmos pnvIlégios e ' ,', gattvas pr6pnos do Estado, en9uanto as de direito privado têm apenas aquele~ ; que forem expressamente preVIstos em lei que derrogue o direito comum" (Di: reito administrativo, cit., p. 389). . Assim, a definição do regime jurídico aplicável à sociedade de econonúa llÚsta dependerá sempre do exame específico da disciplina pertinente ao caso concreto. 6.:, No pr~s~~te caso, importa a investigação do regime jurídico aplicável à solJ..Içao dos hhglOS que envolvem a Administração Pública _ o que se vai aqui chamar de "campo processual" (em referência ampla a todas as formas de comp(j~ sição de litígios, perante o Judiciário ou fora dele). \ E do exame de tais regras facilmente se constata que o tratamento diferencia- ?O pontualme~te .atribu~do.à Fazenda Públ.ica em momento nenhum é estendido as empresas pubhcas e SOCIedades de economia mista. Podem ser invocadas aqui as rigorosas análises feitas por CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO (Curso ... , cit., pp. 161-163) e ZANELLA DI PlETRO (Direito administrativo, cit.. pp. 383-389). O primeiro passa em revista o trata- mento constitucional dado às empresas públicas e sociedades de econollÚa mista. A segunda prossegue nesse exame até a legislação infraconstitucional. Através de tais ~evantan:entos nota-se que entre a.s regras que conferem regime jurídico dife- renCIado a taIS entes (em contraste com a generalidade de sujeitos de direito priva- do). nenhuma lhes confere qualquer tratamento peculiar 110 terreno processual. À mesllla co~clusão se chega pelo callÚnho inverso, ou seja, examinando as regras de tratamento diferencia.do ao Poder Público em matéria processual. Con- fira-se. exemplificativamente: a) a prerr~gat~va do~ p~azos dilatados está restrita à Fazenda Pública (União, Estados, MumcfplOS, Dlstnto Federal e respectivas autarquias e "fundações pú- blicas") - CPC, art. 188; 3. PARECERES 139 /<!., b) o reexame necessário era genericamente concedido apenas à União, Esta- . ~bS, Distrito Federal e Municfpios (CPC, ~t. 475, lI) e, especialmente, à Fazenda ,pi\blica como wn tndo nas execuções fiscaIS (CPC, art. 475, IlI), até a LeI9.469/97, ~qut? estendeu a regra, em qualquer caso às autarquias e "fundações públicas"; . I;, ; c) o regime de execução pàr precatórios e a impenhorabilidade de bens que está por trás dele também dizem respeito apenas à Fazenda Pública (CF, art. 100, e.CPC, arts. 730 e 731); ~" , d) a prerrogativa da formação unilateral do titulo executivo e a via da execução fiscal igualmente se restringem à Fazenda Pública (Lei 6.830/80, arts. 1.0 e 2.°); e) a dispensa de caução em ação rescis6riaéregra deques6 aproveitam a União, Estados, Distrito Federal e Municfpios (CPC, art. 488, parágrafo único), excep- éionalmente estendida a autarquias através de outrâs leis (ex.: INSS, ex vi do art. 8.° da Lei 8.620/93); etC. Em síntese, o regime diferenciado atribuído à Administração Pública em platéria pr9cessual circunscreve-se ao âmbito da Fazenda Pâblica. Dele não apro- veitam as empresas plJ-blicas _e sociedades de economia mista - pouco importando que a atividade a que se dediquem constitua ou não serviço público. Esses entes, quando levam seus litígios aos mecanismos de composição. estão sujeitos às re- gras gerais, aplicáveis a todos os demais litigantes que não a Fazenda Pública. Reputa-se que a posição por eles ocupada no quadro da Administração Pública não justifica nenhum tratamento especial sob o prisma d~ supremacia ou indispo- nibilidade do interesse público. Logo, aí já se tem um primeiro indieativo de que a condição de sociedade de economia mista (seja exploradora de "atividade econômica" ou prestadora de serviço público) não impede a Compagás de participar de processo arbitral. Se nenhuma peculiaridade cerca a-sua atuação em Juízo - aplicando-se-Ihes as re- gras a que se submete a generalidade dos litigantes -, não há porque se pretender alguma especial diferenCiação, do ponto de vista subjetivo, no que tange ao ca- bimento da arbitragem. 7. As constatações expostas no presente item, em especial a submissão aos ditames constitucionais, por si s6 já bastariam para reconhecer o cabimento da arbitragem no caso em exame. 3. A indisllonibilidade do interesse pllblico: suas decorrências 110 terreno processual 8. Mas o presente exame pode ser levado adiante, para se demonstrar que nem mesmo a afirmada "indisponibilidade do interesse público" (inocorrente no caso), em sua dimensão processual, seria verdadeiro óbice à arbitragem: Nos campos em que realmente incide a máxima da indisponibilidade do inte- resse público (e não é o caso - repita-se), sua repercussão processual pode ser sin- tetizada nos seguintes termos: não é dado ao agente incumbido da defesa do inte- 140 REVISTA DE ARBI1RAGEM E MEDIAÇÃO _ 5 resse'plÍblic~ indi~etamente dispor de bens abrangidos por tal interesse, através -;; sua sImples mércla no curso do processo. . - Al?umas ?a~ regras que retratam essa orientação no terreno processual já ram aClll~a examm'~das (os, prazos dilatados, o reexame necessário.,,). Outra da ~odena ser ~ogItada: a Inocorrência do efeito principal da revelia quando efetIvamente o mteressepúblico na disputa (CPC, art. 320, II). ' Mesmo esse tratamento diferenciado tem sido alvo de intensa crítica e a ser revisto. A idéia é de que (ais regras estão se tomando anacrônicas n~m"di,jâi em que a F~zenda Pública hoje desfruta de adequados quadros -incumbidos de~esa:ffi Juízo, estando estes sujeitos a suficientes mecanismos internos cahzaçao e ~co~trole. Esse regime especial perdura como um voto de .;:_ do_Po~er Pubh~co em ~eus'pr6P7ios agentes, Por isso, no julgamento da ' : <-'.:' a?ao ~lfeta de mconstItuc~onahdade ~m que se suspendeu a regra da Medida P;o~ ~< ' VIS?fla pela qua~ o ExecutIvo pretendia dobrar o prazo para a propositura de resei: 'o' S6fl~ pela Fa,zenda, o relator, Ministro Sepúlveda Pertence, de passagem indicou _ o'. ' que Já s,e faZia oportuna também a revisão das demais regras estabelecedoras d(! prazo ddatado (ADIn 1753-2, Dl 12.06.98). O reexame necessário por sua vel está sendo pr?gresSlvamente mitigado (v.g., MedProv 2.102-3112001, art. 12,J Projeto de LeI 3.474120~0,. nova redação para o art. 475, e Projeto de Lei 3.999/ 2001, art. 13, parágrafo UlllCO).' Cl 9. Mas note-se que a específica repercussão do princípio da indisPOllibi1idad~ 11? ca"!po do proces~o pá:a por aí. Ela não chega jamais ao ponto de obstar qÚ~ sl:uaçoes que po.denam vir a ser espontaneamente resolvidas extrajud;cialmellt~ d llao p'0ssa~l ser Igualmente compostas,dispensando-se piolllmciamellto judicial epOlS de Instaurado o processo, j A h~isp?ni.bil~dade do int .. er~sse público não afeta outra diretriz fundament~ da atuaçao pu~hca. o Poder PublIco, uma vez constatando que não_tem razão em um dado conflIto, tem o,dever de submeter-se aos parâmetros da legalidade. ' .Essa é uma 6bvia co~statação atinent~ ao pr6prio direito material- válida in': cluslve fora, antes e (ou) mdependentemente da existência de um processo judicial Se o Estado c~l1stata que o particular tem determinado direito em face dele cab ~ lh .. e ~ar cu~pr~mento a esse direito. S6 assim estará sendo observado o interes:~ pubhco prunário, que é o verdadeiro e único interesse público (v. t6pico 5, adiante): A. inst~uração d.e urn processo-judicial não interfere nessa diretriz. Vale aqui um pnncíplO essen~JaI do processo. O processo, o direito processual deve refletir fie~~e.nt~ os desígnros do direit? material. Não cabe ao processo cri~r nem dirni~ nUII dlre!tos. ? processo é.u~ lIls.trumento do direito material, de modo que re- gras e pnncfplOS processuais )~mats podem ser utilizados para adulterar, para dis- torcer, os resultados que adVirtam se não estivesse sendo necessária a tramitação (1) O Pr?jeto de Lei 3.47412000 originou alei 10.35312001 e o Projeto de Lei 3 999/2001 a LeI 10.25912001. . , 3. PARECERES 141 de um processo. Essa noção está sintetizada na insuperável formulação de cmo- y-ENDA, no sentido de que o processo deve dar a quem tem direito tudo aquilo e precisamente aquilo a que ele tem direito ("Dell'azione nascente daI contratto preliminare", emSaggi di diritto processlIale civile (1894,1937),!, Milão, Giuffre, i993, reimp. da 3' ed., p. 110.). n Portanto, as obrigações que eram efetivamente devidas, e que por isso ° ente público tinha de cumprir fora e antes do processo, continuam tendo de ser cumpri- aas mesmo depois de instaurado o processo. Sustentar o contrário significaria jinaginar que a litispendência imunizaria a Administração de seu dever maior, de submeter-se à legalidade. Significaria supor que o processo, fenômeno eminente- mente instrumental, teria o condão jurídico-material de mudar os parâmetros de l~galidade, os critérios do correto agir público. É por isso que, mesmo com um processo em curso, permanece a possibilidade de o ente público reconhecer sua falta de razão e pór fim ao lit(gio. Mais do que ,possibilidade de agir assim, a Fazenda tem o dever de agir assim.3 Eventuais concessões que o particular faça à Administração, em tais casos, obviamente não esbarrarão em nenhum 6bice de indisponibilidade, pois as suas posições, nas relações obrigacionais com a Administração, são disponíveis. Po- der-se-ia cogitar, isso sim, é de uma ofensa ao princípio da moralidade e da boa-fé, por parte da-Administração, quando esta passa a usar esse expediente de modo teiterado.e sistemático para aviltar os direitos dos particulares, Vale dizer, é cen- surável a eventual postura da Administração de inicialmente resistir ao cumpri- mento de suas obrigações, embora desde logo sabedora da sua falta de razão, ape- nas para mais adiante obter uma composição com parcial renúncia a direitos pelo particular. Mas e~sa COI!~ª!ªÇ~21!ª2,--ªf ~,~"t!l.S!J~ªº!!!!~m{) ~çly_fºH1P9,!iiçQ,~~J~nyºl Ykndp os~~ntes_p.:illilicos."ArumaS~Jpr.OYaJUlece.ssidadule.J:eprimir.de,modo-ri goroso o descump.rimento de obrigações gela Administração. Reputar que o des- vio de finalidade é a regra geral e proibir por isso a composição direta pela~ partes equivaleria a tomar a patologia por normalidade. O desvio deve ser combatido, e não transformado e~ padrão, em premissa para outras conclusões. Em síntese, a indisponibilidade do interesse público dentro do processo é pautada pela diretriz de instrumentalidade em face do direito material. O proces- so não pode desvirtuar o direito substancial. A idéia é de que o processo, ~omo instrumento it serviço do direito material, não pode por si s6 gerar a perda de direi- tos protegidos pelo interesse público. Daí a existência das regras acima recapitu- ladas, que impedem que o simples descumprimento de prazos afete o interesse O) Essa diretriz, além de-dever ser aplicada com a observância do devido processo admi- nistrativo, submete-se a um limite constitucional: os casos em que já há condenação judicial transitada em julgado (dívidas pecuniárias contra a Fazenda Pública). Nessa hipótese, a expressa previsão constitucional de respeito à ordem de preferência dos "precatórios" impede que a Fazenda Pública, sem a observância de parâmetros isonômicos, aleatoriamente opte pelo espontâneo cumprimento de condenações. 142 REVISTA DEARUrrRAGEM E MEDIAÇÃO - 5 público. Mas é essa mesma idéia que explica porque os atos que o ente podia (e devia) praticar fora do processo continua podendo (e devendo) depois de instaurado o processo. 10. A orientação ora exposta veio a' ser recentemente adotada pelo SUPeIfln-' Tribunal de Justiça, ao enfrentar o tema do cabimento da ação monitória co'nüH Fazenda Pública. Tal procedimento especial reveste-se de duas especiais peculiaridades suscitaram controvéI:sia, em doutrina e jurisprudência, quanto à !,ossibiliclade'd seu emprego perante o Poder Público: (l.a) o réu recebe initio judicial (amparada em cognição sumária) que o incentivvi:,a:~c~~TI:i~::ll~~~~\;:~~~ ofertando-lhe isenção de custas e honorários em caso de Discute-se se o cumprimento espontâneo desse comando seria uma afronta à "indisponibilidade do (2.') em caso de cumprimento c'.oão-oposição de embargos em quinze dias, a decisão inicial forma-se em título executivo judicial, prosseguindo o processo na forma ex,ec"ti",;e va. Questiona-se se seria aplicável tal conseqüência contra a Fazenda quando os agentes incumbidos de sua defesa pennanecessem inertes. Pois bem, o Superior Tribunal de Justiça reputou admissível a mOnit6u,n~'; a:~~~~~tt a Fazenda Pública. Entendeu ser viável o cumprimento espontâneo do n naqueles casos em que a Fazenda ré constata não proceder a sua postura de inadiiíH plemento (o que qualificou como "relatividade" da indisponibilidade do intereSse público). Apenas, deixou ressalvado que, em caso de não-cumprimento do mandá~ do e não-oposição de embargos não caberá a automática formação do título exeCtfL . Uva, mas o proferimento de uma sentença (em regra não prevista para esse procedi1 - mento) e sua submissão ao reexame necessário (REsp 196.580-MG, 4''I1,rma, v.U:1 ' reI. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TElXEIRA,j. 17.10.2000, DJU 18.12.2ooo)} Em linhas gerais, seguiram-se as balizas antes expostas. A repercussão pài~ cessual da "indisponibilidade do interesse público" cinge-se a impedir que sim.~ pIes omissões dos agentes púbiícos acarretem a perda de posições jurídicas d~ Fazenda. Todavia, não impede que as obrigações que tinham de ser observadâ·s fora do processo sejam cumpridas, ainda que tardiamente, depois de sua instaura- ção. Muito menos afasta a constatação de que, independentemente do processó~ tais obrigações devam ser espontaneamente cumpridas pelos entes públicos. 11. S6 se vai cogitar de algo em sentido oposto- isso é, de uma indisponibil~~ dade que poderia ser chamada de "absoluta", para todos os fins processuais - na.,. queles casos em que também fora do processo tal indisponibilidade punha~se nes- se grau máximo. É o caso da indisponibilidade do direito à liberdade e a necessa- riedade de condenação judicial para que alguém cumpra pena criminal; do pro- (4) Em termos semelhantes foi a solução que propus à .questão, desde a primeira edição do meu Tutela mOllit6ria (São Paulo, RT, 1998, pp. 153-155). Na segunda edição (S. Paulo, RT, 2(01), v. pp. 179-182 e pp. 368-369. 3. PARECERES 143 essa judicial de anulação do casamento ainda quando ambos os cônjuges COIl- ~ordam com a existência da causa de invalidade etc.s Esseaspecto da quesião merece destaque específico, nos t6picos que seguem. 4. O princípio geral da não~necessal'iedade da intervenção jurisdicional nas relações de direito público 10. Tome-se como exemplo o dever de a AdllÚnistração indenizar os ptejuí.zos indevidamente causados ao particular. Ex~mp1ifiq~e-se. ainda co~ o dever que.a Administração tem de anular os seus pr6pnos 'atos Ilegítimos praticados eIl} detn- mento da esferajuódica de particulares (Lei 9.784/98, art. 53 ele art. 55). E nesse mesmo contexto que se insere o dever que a Administração contratan~e t~m de re- tampor os contratos adrllinistrativos, inclusive.quando a equação eco~Oll11co-f~an ceira estiverdesequilibrada em desfavor do particularcontrat~do (v. tÓpICO 7.2, adIan- te). 'I\Jdo isso pode e deve ser feito independentemente de mgresso em Juízo. Nesse ponto. cabe fazer um contraste com determinad.as situações ~e ~ir.eito material, já referidas no fim do t6pico anterior, para as quaIS o processo JudICIal é verdadeiramente indispensável. O exemplo normalmente lembrado é o da p~rsecução penal. Yigora ? prin- cípio da necessariedade do processo pen?l. Po~ m~is que o acusado esteja ~o~ vencido de que é culpado e deve ser pUludo, é mdlspensável um processo J~dl cial para tanto. O mesmo se passa no âmbito civil, com determinadas situações que envol- vem o estado das pessoas, tais como a separação judicial .. o .d~v6rcio ou me~mo a falência e a insolvência. Em todos esses casos, a ação JudICIal é necessána; o processo judicial é indispensável. Não basta a pr6pria parte ~ec?~hecer que não tem razão, que deve, que é culpada ... Apenas uma sentença JudiCial poderá pro- duzir o resultado devido. Em regra, nas relações da Fazenda Pública iss? Ilã~ acontece. Os direitos e~en tualmente existentes podem e devem ser cumpndos mdependentemente da ms- tauração de um processo. Vale dizer: a ação judicial e a intervenção jurisdicional não são necessárias, em regra, no âmbito das re1ações de direito público. - . Esse é o dado fundamental para a constatação do cabimento da arbitragem inclusive nas relações de direito público propriamente ditas (o que nem sequer é o caso). m O primeiro exemplo permanece válido mesmo em face do atual sistema dos Juizad~s Especiais Criminais: as transações ali permitidas jamais impo~tam ~m cO~I~ellaçao criminal do acusado, conforme pacificamente reconhece a doutnna eJá deCidIU o Su- premo (HC 79.572-GO). ·' 144 REVISTA DE ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO - 5 5. A "disponibilidade'" como requisito da arbitragem 12. O quanto já exposto evidencia que "indisponibilidade" e, cOlnS<laüiente~i mente, "disponibilidade" não são conceitos múvocos. Pode-se falar em dif'"ellte' graus e em diferentes acepções de "indisponibilidade" e lldisponibilidade". 12.1. Entre muitas possíveis, a primeira distinção que aqui interessa fazer respeito às situações de indisponibilidade estabelecidas estritamente no do direito processual e aquelas oriundas propriamente do direito material. Ê que, precisamente.para evitar que a tramitaçã~ processual gere dis,toliçõ~ em relação ao direito material e descumpra a diretriz acima destacada, o Rro~essu~l ?:evê em c~rtos casos aquilo que se poderia chamar de mecanismos-d,~ :,_ UldI~p.O!llbllldade e~/n/amell/e'p~oce.ssua!. São caut~las, que indhil :,'" : pombIhzam detennmadas posIçoes jurídIco-processuais - o direito materhll ser, em si mesmo, indisponíveL ;J ''.- Assim, a pessoa que está presa, 'cumprindo pena restritiva de 1iberdade (j~d ',':_' ' por outro motivo, em princípio mantém-se com a plena disposição de seus bens: - ' Todavia, o sistema proc~s.sual civil- cons~d~rando ~s possív~is dificuldades ql.l,t} tal pessoa terá no exerCICI? d_a defesa e.m JUIZO - cna mecamsmos para impedh' que em certos casos a omIssao na prátIca de atos processuais traga prejuízos a essa pessoa. Assim, se o réu no processo civil é alguém que está preso, ser-Ihe-á nomeado um curador especial, incumbido de zelar por seus interesses no pr()l cesso. Con~eq~ientemente, ~e o preso ~ão contestar, não haverá o efeito princJ: paI dareveha (1.e., a presunçao de veraCIdade dos fatos narrados pelo autor): nessê caso, o curador contestará em seu nome, e esse curador nem terá o ônus de im- pugnar especificamente cada fato, como teriam os litigantes em geral, sob pena de os fatos serem presumidos verdadeiros. '. O mesmo acontece, por exemplo, com o réu que é citado por edital ou por hora certa e permanece revel (para ambos os exemplos, v. CPC, art. 9.°, lI, e 302; parágrafo único). Mecanismos de indisponibilidade processual são em 'alguma medida também previ~tos e~ prol da ~azenda P~blica. Trata-se das já mencionadas regras destina~ das a Impedir que a sJmples onussão na prática de atos processuais, pelo represen.i tante da Fazenda em Juízo, venha a acarretar ao ente público conseqüências nega- tivas que poderiam conduzir à sua de~rota no processo. I .. Mas - reitere-se - ~sa é u~a dimensão ~tritame~te processual da indisponi- bIltdade (que de resto - Já se VIU -nem se apltca a socIedades de econollÚa mista como é o caso da Compagás). ' Com ela não se confunde- ainda que possa ter pontos de intersecção - a indis- ponibilidade oriunda do direito material. . 12.2. Ocorre que, mesmo no âmbito do direito material, cabe considerar duas dIferentes acepções da .uindisponibilidade", também inconfundíveis entre si, ain- da que possam sobrepor-se em específicas hipóteses. 3. PARECERES 145 Em um sentido, a "indisponibilidade" retrata a impossibilidade de pura e simplesmente se renunciar a um determinado direito. Nesse sentido, o Poder público titulariza posições jurídicas que são em grande medida "indisponíveis", Mas mesmo essa indisponibilidade comporta gradações. Afinal, se por um lado ~xistem atividades e bens que, em vista de sua absoluta essência pública, não podem ser abdicados em hip6tese nenhuma (p. ex., não se concebe que o Poder ~b1ico possa renunpiar ao seu poder de legislar ou à sua titularidade do poder 4e polícia), por outro há casos em que, embora o bem jurídico seja indisponível, outros valores constitu,cionais justi4cam que, observadas determinadas condi- ções, o Estado renuncie a determinadas decorrências ou derivações desse bem "indisponível" (assim, a potestade tributária é indisponível, mas é possível lei autorizando à remissão, a anistia, do crédito fiscal). Mas nem é o caso de levar adiante as considerações a esse respeito, porque não é tal acepção de lIindisponibilidade" que importa para Ó presente caso.6 É a segunda acepção de lIindisponibilidade" extraível do direito material que ora interessa. Trata-se da impossibilidade, que apenas se põe em determinadas e excepcionais hipóteses, de o sujeito, constatando que não detém razão, curvar-se à pretensão alheia, essa sim fundada, procedente. Vale dizer, proíbe-se o próprio reconhecimento espontâneo e extrajudicial de que não se tem razão e iinpõe-se como necessário e imprescindível o concurso da Jurisdição: apenas a eSta caberá dizer quem tem razão. Enfim, é a exçepcional hipótese de "necessariedade da in- tervenção jurisdicional", examinada no tópico 4, acima. É possível então traçar a seguinte distinção relativamente às duas acepções de "indisponibilidade" originadas propriamente do direito material: - na primeira delas, a "indisponibilidade" põe-se como vedação à renúncia de um direito existente; - na segunda, a "indisponibilidade" configura-se como proibição de esponta~ neamente se reconhecer que não se tem razão e se submeter voluntarianlente ao direito alheio: apenas a Jurisdição poderá dizer quem tem razão e aplicar as con- seqüências jurídicas cabíveis. Essa hipótese é melhor definida como sendo de unecessariedade de intervenção jurisdicional". 13. Reitere-se: apenas a "indisponibilidade" na primeira dessas duas acepçõesem regra incide - e dentro de certos limites - sobre as relações de direito público propriamente ditas. Na segunda acepção, a uindisponibilidade" é excepcional in- c1usiveno âmbito do direito público. Limita-se, no direito público e no direito priva- do, a casos específicos, tais como aqueles mencionados no tópico 4, acima. O prin- cípio geral- repita-se - é o de que o Poder Público tem o dever de cumprir obriga- ções e respeitar direitos alheios independentemente de intervenção jurisdicional. {~J Um quadro mais amplo a respeito da questão tem-se em "A (in)disponibilidade do in- teresse público: conseqUências processuais", palestra que proferi no simpósio "A Jus- tiça Federal e o processo civil", 04.06.2004. 1 I 146 REVISTA DE ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO - 5 14. E é apenas essa segunda acepção da "indisponibilidade" que tem para a aferição do cabimento da arbitragem. c;abe a arbi~agem sempre que a matéria envolvida possa ser resolvida ~r6pnas partes, mdependentemente de ingresso em Juízo. Se o conflito entre tIcul~ e a Administração PúbJica é eminentemente patrimonial e se ele maténa que ~deria se~ s~lu~io?~da diretamente entre as partes, sem que necessána, ~ lrt.tervençao Jun~dlclOnaJ. então a arbitragem é cabível. Se o pode ser dmnudo pelas pr6pnas partes, não faria sentido que não pudesse ser composto medIante Juízo arbItral sob o pálio das garantias do devido prc>celMé 15: Esse é o sigI~ificado da regra do art. 1.0 da Lei 9.307Ji996, quando ao cabImento da arbItragem "para dirimir direitos patrimoniais di"oo/l(,'ei .. ,"·" . Trata~se ~a (Í~c~ interpretação compatível não só com os PrincíPiO,>srl~16í;:i~i' teIam ~ a~aç~o publIca mas também com a função da arbitragem e os p que a msp1fam.~ Não é J?Ossível pre!ender inv~ar a primeira acepção de "indisponibilidade" ~uco re!end~ para aSSIm negar o cabimento da arbitragem envolvendo o Pode' b~co. Nao. é vIável afinnar que, na medida em que o agente público nã,) p<xlel reloM.n',\ cI~r a dueIt?s .9ue. a A~minis~a~ão detém, que na medida em que ele não mao ?~ pOSI!Oes JurídIcas publIcas, não poderia tampouco submeter os Admmlst~açao ao processo arbitral. Sustentar isso implica.ignorar o >0';"'>0 J co da arbItragem, bem como desprezar ° regime jurídico de direito público. Isso porqu~, por um lado, a arbitragem nãô é aposta, jogo~d.~,eb~az~a~:r;·I ld;;o~.~;~É remete a soluça0 de sua causa ao processo arbitral não a está s c~ra-ou-coroa nem à roleta-russa. Está buscando uma composição para o ,', >~ fl.Ito em um processo pautado em parâmetros objetivos quanto ao seu desenvol1 .' vlmen~o e ao conte6.do de suas decisões; um processo em consonâncin com as garan~:a~ do due pr?cess of law ~, sob esse específico aspecto, controlável pelo - !U?icIan? (v. o_tÓPICO 6, a segut.r).portªntodO se"subme~er mpa pretensão ao _:;": jlllZO ~rbItralnao se está renuncIando a el<hll~9....§.ç: está abrirido mão do direitO -,-O m.M~n?t .ql!~ ~y.ªnt!-"mh!lªn!~~e.xi~t~,----.AP~.ill~~_~_SJªJlbd~~tnJJº_do direitq de ob'illf ,c:'~ º~ JUdlÇl.ánQ _~~9Jnçªg __ PJ!rª---ª----qºJ!§LqR, ,Mªs_i§"s_ºJ.ª--rnlt~m o!!_qrre qliªndo~~;'-Qla~' ~ao é 91mda dlfetamente p~ill~p~~~ sem ingressar_~V1 J1JJZ-º"::,,Q.m;l~,_Eit~e-s~~ e em r_çgIAQºª,~jYJ~_lJmnºÇ.mJlR~tn~1ªçº?~_,Q~-ºit~!!.9_PJ1]Mh~.o. - Em ..:'egundo lug~r, o p~il1cípio.da ~sonomia não autoriza interpretação dife~ rente. Nao há fator diferencIal que Justifique tratamento discriminat6rio à Adm11 (I) O atual C6d~go Civi~, que ainda não estava promulgado na época do parecer, vale-s~ de f6nnula am~a mrus clara para definir o cabimento da arbitragem: "Art. 852. É veda- do o compromisso para solução de questões de estado, de direito pessoal de família e de outras"ue não tenham caráter estritamente patrimonial". Obviamente, "questões de esta.do ~ada tem a ver ~?m "ques~ões de direito público". A expressão refere-se a statlls Juríd~co:.estado famIlIar (status familiae), estado de cidadania (statlls civitatis) e o estado de liberdade (status libertatis). 3. PARECERES 147 nistração P6.blica nessa hip6tese. Os aspectos que legitimam a arbitragem em qual- ,quer outro caso também estão presentes quando a Administração está envolvida ~éIU um conflito. Não se justifica, portanto, interpretação restritiva da regra autori- izadora da arbitragem. l" Por fim, não se ignora que há a possibilidade de a Administração vir a ser der- rotada na arbitragem. Mas, mesmo quando isso ocorrer, não terá havido nenhuma renúncia ou ato de disposição por parte da Administração. Significará apenas que ela não tinha razão quanto ao que pretendia. Porta~_sua derrota no Qrocesso ar- ~ bitral não representar~, afron~~.2.1:!~!!!.~9sc~~~ __ ~~_!!!!~!.ess.~~p,~ºli~º· ,§,iwp.~~sme_n '.J~~Q)J1~~r"~_s~pgQH~2_~ão ~!~!ese!!.~~ S~!!~_~~"ª~ºl.~~i~º"~mJ~y{)r_ ~~ .A.d~i..l)j,~ tração, não há q~~_"~_~J~l_~~~l..I!_~~~~§~~~"p.6.,~!~_~~._ .91:l __ ~~n~o.~,-º hl!~~~S_Sy mtbH!:!9 pão .estará~ l<~es_'Cnte.ein[,!vQI:.i~A<!I11iEistraç1i(). De há muito a doutrina já esclareceu que interesses pragmáticos da Admi- nistração que não encontrem amparo no ordenamento não constituem interesse público, são meros interesses secundários, ilegítimos. O interesse de que o agente p6.blico deve buscar a satisfação não é, simplesmente, o interesse da Adminis- tração como sujeito jurídico em si mesmo (Uinteresse secundário"), mas, sim, o "interesse coletivo primário", formado pelo complexo de interesses prevalecentes na coletividade (RENATO ALESSI, Sistema lstituzionale dei Diritto Ammi/lis- trativo Italiano, Milão, Giuffré, 1953, pp. 151-152. Veja-se, também, C. A. BAN- DEIRA DE MELLO, Curso, cit., pp. 64-65). 16. O exposto até aqui já conduz ao reconhecimento do cabimento da arbitra- gem no caso em exame. Outros argumentos podem ainda ser adicionados. 6. A legitimidade constitucional da arbitragem 17. Para o-presente c~so é irrelevante a discusSão acerca da natureza da arbi- tragem. Saber se verdadeiramente se trata ou não de uma atividade jurisdicional é aspecto sem repercussão direta para o caso em exame. Interessa é destacar o reconhecimento da constitucionalidade do instituto, uma vez que: (a) no campo em que os conflitos poderiam ser c-ompostos independentemen- te de intervenção judicial ('ldireitos disponíveis"), a opção pela solução arbitral não representa nenhuma afronta à garantia inscrita no art. 5.°, XXXV, da CF/88. A possibilidade de acesso ao Judiciário não pode ser transformada em proibição do emprego de outra via, mais adequada às necessidades dos litigantes; (b) por imposição legal, e sob pena de nulidade, vigoram na arbitragem, as garantias essenciais do devido processo legal (contradit6rio, ampla defesa, impar- cialidade do julgador ... - Lei 9.307/96, arts. 20 e 21, § 2.·, 26, lI, 32 ... ); (c) existem precisos mecanismos de fiscalização, pelo Judiciário, da obser- vância dessas garantias (Lei 9.307/96, ar!. 33); ~ 148 REVISTA DE ARBITRAGBM E MEDlAÇAo _ 5 (d) todos os atos derivados da arbitragem que exijam o emprego detolrça tiva (providências instmt6rias ou executivas) se"rã~oí~d~;e:;s;e;;m~pe::;:nh,~~~a~d~os~~;)c~~::~~ pois de seus pressupostos de cabimento haverem s: (Lei 9.307/96, art. 22, §§ 2." e 4."). O reconhecimento de constitucionalidade da arbitragem sempre prev"!e." no Supremo Tribunal Federal. Note-se que mesmo a discussão atinente'ao instituto atualmente em curscii\i Plenário do Supremo diz respeito apenas à constitucionalidade da execução cífica da cláusula compromiss6ria. Vale dizer: debate-se se é possível uma impor à outra aarbitragem (mediante . negociaI previa que os conflitos entre elas seriam posteriormente tal via. E a votação encaminha-se no-sentido de considerar-se c1usive essa imposição (SE 5.206 [Ag. Rg.]).' Já nos casos,em que ambas as pa:rtes finnaram o próprio compromisso arl'ili."r;!,; - ou seja, espontaneamente se submeteramà arbitragem - jamais sequer se le;:~J~qô[ tou no Supremo qualquer dúvida a respeito de constitucionalidade (v., p. ex., 5.828, reI. Min.llmar Galvão,j. 06.12.2000; SEC 5.847, reI. Min. Maurício rêa, emRT777, 2000, p. 189). 7. O objeto do processo arbitral em exame 7.1 Pelfeita identificação do objeto no compromisso arbitral 18. No caso em exame, a questão atinente ao objeto do compromisso arbitr~ ficou superada pela precisa demonstração de que todos os pleitos inseriam-se n,~ previsão contida no compromisso. ' 1~. Há uma diferença fundamental entre as exigências de descrição do objeto da arbItragem na cláusula compromissória e no pr6prio compromisso arbitral. 11 A cláusula compromiss6ria - Le., a previsão de que futuramente, se for o caso; as partes submeterão seus litígios à arbitragem - exige, em regra, o emprego de f6rmulas mais analíticas, que descrevam as hip6teses de litígios que deverão ser resolvidos mediante arbitragem. E assim o é porque se trata de uma previsão para o futuro; uma previsão que é formulada quando ainda não existe concretamente o litígio a ser objeto da arbitragem. En.tão,cabe descrever adequadamente a(s) hip6tese(s) de possível litígio futuro, inclusive para que a cláusula compromiss6~ ria retrate adequadamente a manifestação das partes de submeterem um dado tipo de questão ao juízo arbitral, de modo a ensejar, se necessário, tutela jurisdicional supletiva do compromisso de' arbitragem. CVral discussão ora está encerrada. O julgamento que estava em curso na época da elabo- ração do parecer veio a concluir-se, confirmando-se a orientação que, conforme indi- cado no texto, entãojá se delineava (j. 12.12.2001, v.m., DJU 30.04.2004). 3. PARECERES 149 ':-:' Já o pr6prio compromisso arbitral é celebrado tendo em vista um litígio con- ,I::, to já instaurado. Portanto, é dispensável uma tipificação mais específica do ~~~flito. Basta referir-se ao litígio já existente, remetendo a documentos ou ou- tros elementos que o retratem. 20. Por outro lado, o informalismo é uma diretriz fundamental da arbitragem, Plicável inclusive aos atos que a constituem, que lhe dão suporte. a . Se é perfeitamente identificável o objeto da arbitragem que se p'actuo~ no ,.; mpromisso ainda que mediante a consideração de elementos que lhe sejam co, ., d . ê'xtemos, não cabe exigir que, por simples fonnahdade, o pr6pno texto o lIlstm- iÍtento de compromisso descreva explicitamente todos os aspectos e elementos atinentes ao referido objeto. " , 21. No presentecaso,foi demonstrado que o objeto.da arbitragem não era in- ~erto. Apenas, a cláusula atinente ao tema tinha seu conteúdo vinculado aos docu- mentos comuns às partes, que estabeleciam com precisão o campo da c~ntrovér sia: as Udiverg~ncias entre as partes", relativamente ao contrato 04. ObVIamente, era uma referência a todas as divergências postas até aquele momento, nos docu- wentos produzidos entre as partes (basicamente, correspondências e atas de reu- niões). Não era uma cláusula aberta e imprecisa para o futuro, mas com exata re- feribilidade no passado. Em suma, o compromisso arbitral estabeleceu que a arbitragem teria por objeto as controvérsias concretamente surgidas até aquele momento - todas eJas retrata- das em documentos escritos antes trocados entre as partes, atinentes à recomposi- ção da equação. O objeto da arbitragem compromissada tem de ser definido, preciso. Mas nada impede que seja amplo, desde que perfeitamente identificável. 22. O exame concreto da questão torna supérflua qualquer consideração adi- cional sobre o tema. Apenas deve-se acrescentar que é irrelevante a posterior insubordinação do pactuante quanto àquilo que pactuou. . O objeto era preciso e definido. Ambas as partes fixaram-no de modo cons- ciente. A Compagás inclusive fez-se acompanhar de i. advogado, cujo alto grau de qualificação é not6rio. O posterior arrependime~to da Compagá~ e sua :nalsu- cedida tentativa de desvincular-se do processo arbItral a que se obngara nao ser- vem juridicamente, para tomar "incerta" a previsão do objeto da arbitragem. Se- ria d~prop6sito supor que o conteúdo de uma cláusula é "incerto" apenas porque uma das partes está afirmando que é incerto. 7.2 O caráter patrimonial dos bens em disputa 23. Indo avante, cabe destacar o caráter patrimonial do objeto do litígio sub- metido à arbitragem. 150 REVISTA DE ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO _ 5 Discute-se tão somente o quantum necessário à recomposição da econômico-financeira originalmente estabelecida no contrato. Trata-se apenas a exata contrapartida remuneratória que a Compagás deve à pelos serviços que essa executou por força do contrato. Enfim. a disputa a uma questão pecuniária. Acima já se apontaram as razões pelas quais a Compagás não presta público e por que, se o prestasse, isso seria irrelevante para o deslinde da tão em exame. Cabe aqui adicionar mais um argumento a esse respeito. que a Compagás efetivamente prestasse serviço público, s6 se poderia alguma dúvida quanto ao ,cabimento da arbitragem (que, de resto, seria, vel nos termos expostos n~ tópico 5) caso estivesse em disputa algum essencial da própria atividade que lhe foi delegada; algum aspecto do próprio exercício cuja mera execução se lhe atribuiu; a titularidade ou < de algum bem p?blico diretamente afetado à prestação do serviço etc. No to, nada disso se põe no-presente caso. Aplica-se aqui a precisa lição de CAIO TÁCITO: ''Em suma, nem todos os contratos administrativos envolvem, n~:~,~~~~,~:~:~.;~ direitos indispOlúveis da Administração. Certamente, haverá casos em que tação assumida pelo Estado possa corresponder a interesses público,"s ~d[~e~u~~so;~~i~~~'\;0 públicos ou a fruição de vantagens que não se compadecem com a dade ou a alienação do patrimônio estatal. ( ... ) 'Todavia, quando se trata tão-somente de cláusulas pelas quais a Admlnjstr~-:( , ção está submetida a uma contraprestação financeira, não faz sentido ampliar:,o, , conceito de indisponibilidade à obrigação de pagar vinculada à obra ou serviço executado ou ao benefício auferido peja Administração em virtude da prestação regular do outro contraente" ("Arbitragem nos litígios administrativos", em RD,4 210, 1997, pp. 114-115). 24. Tal encaminhamento da questão, aliás, guarda perfeita consonância com um já bastante antigo entendimento adotado por doutrina e jurisprudência a res-: peito da necessidade de intervenção do Ministério Público em processos que en- volvam o interesse público (CPC, art. 82, fi). Primeiro, note-se que em tais caso~ ninguém jamais cogitou do cabimento q'~ intervenção do Ministério Público em virtude da simples presença de sociedade de economia mista ou empresa pública (prestadoras ou não de serviço público), Veja-se, por todos, ARRUDA ALVIM, com remissão a diversos julgados (Mallllai de direito p1VcesslIal civil, 7.' ed., v. I, S. Paulo, RT, 2000, p. 543). Isso vem ao encontro do que já se expôs especialmente no item 11. Além disso, está de há muito assente que, mesmo quando a própria Fazenda Pública participa do litfgio, a sua simples presença não constitui "interesse públi- co" suficiente para justificar a intervenção do Ministério Público _ de modo que, . 3. PARECERES 151 ;' ',' ,', . d disputaJor meramente patrimonial, tal intervenção não ocorrerá (v., . quan o at as as seguintes decisões do Supremo Tribunal Federal: RTf 133/345, êntre ou r , 93i226, 94/395, 94/899). , Isso é confirmado pela lição de CELSO AGRICOLA BARBI: (I "(.,,) qual o interesse.público que exige a intervenção do Ministério Públi~o? ";_; H( •.. ) Não podem ser os interes~es .P?t:imon~~is da Fazenda e sua~ autarqu~a~~ {:'.' elas têm seus procuradores Judlclals habllitados a bem defende-las em JUl ~:'1~omentários ao CPC, 7' ed., v. I, Rio de Janeiro, Forense, 1992, § 458, p. 230). ~; E a orientação quejá era adotada pelo ~uprem~ Trib~nal con~nua sendo se- -( uÚa pelo Superior Tribunal de Justiça, _que lIlcluslve edltou a .S?mu~a 1~9,.se~ do a qual nas execuções fiscais não cabe a intervenção do Mmlsté~lo Publtco, ~~:cisamente por reputar-se que em tais casos o interesse controvertido é mera- . mente patrimonial. 25. Some-se a tudo isso a consideração da base da di.sputa entre as partes. Tra- ta-se de saber se existe desequilíbrio econômico financelfo a ser recomposto e em quais limites. Ora, uma vez constatado o desequilíbrio é dever do eu.te contrata~te restaurar á original equação, voluntariamente, através de todos os ajustes que se façam n~ cessários. Frise-se: não se trata de a Administração poder recompor a equaçao S ante slIa· tem o dever de assim proceder (cf., por todos, MARÇAL JUSTEN fuHO, Cdmentários à Lei de Licitações, 7' ed., S. Paulo, Dialética, 2000, p. 556). . Trata-se, portanto, de medida que pode e de:e ser adotada independentemen- te de intervenção judicial. Pode ser composta ~lfetamente. entre as part:s contra- tantes. Logo, é compatível com O processo arbitral (v. tÓpiCOS 4 e 5, aCima). d b> 7.3 As especificidades técnicas da llwtéria controvertida 26. De resto - não é demais notar - as pr.6prias características da matéria obje- to do litígio aconselhavam o emprego da arbitragem. A influência do direito material sobre o processo é um ~specto semp~e pre- sente, em maior ou menor grau. O di~eito. process~IaI, na medld~ em que é 1Ilst~~ mento de realização do direito maten~l, ~ofre os l.nfluxos deste, ten~e a ser .mo dado conforme as características do dtrelto matenal que ele se propoe a aplIcar. No que tange à arbitragem e à opção por seu empr~go, não é dif~re~te. A escolha dessa via de composição tende a ocorrer sobretudo quando o lItígIO. en- volve matérias cujas peculiaridades possam vir a ser adequadamente refletIdas no processo arbitral. . Nesse sentido, ELIO FAZZALARI já se OCl1~OU de realçar a íntima relação existente entre direito material e a opção pela arbItragem. Constatou, por exem- plo, que a arbitragem internacional, por seu caráter "a-estatal", tende a ser o me- 152 REVISTA DE ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO ~ 5 canismo, ?,e composi~ão por excelência dos conflitos surgidos-em um me:cant~l deS~Ilvolvldo em determinados setores da atividade e~;:~;::~b; aph~a l~ls .de.dl~e.rentes países ou é regido por práticas comerciais (Isfltuz/01lI dI dmtto processuale civile, Pádua, Cedam, 1992, p. 478). ?ut: 0 terr~no para o,qual a arbitragem reyela-se especialmen~~~eJ!:~~i~;~~l~ dos htíglOS cUJ,a ~?mposlç~o·envolve o enfrentamento de questões cífic-"~. A,po~slbllIdad~ de mdicar árbitros que detenham amplo matena tecmca Incentiva as partes a optar pelo processo arbitral. Foi o que ocorreu no caso em exame. As questões relativas àl :j~t~;~:~ ~~~~ tua! envolv:m a consideração de uma série de detalhes técnicos n de mstalaç,ao ?e tubulações de gás e atividades conexas. Bem por isso, das partes l~dICOU co~o árbitro um profissional com larga experiência e esses árbl~os selecIOnaram um terceiro com semelhante currículo (todm"ci~ ampla atuaçao na área de gás canalizado, especialmente nos quadros da PetrobtilS 8. A confirmação doutrinária ejurisprudencial do cabimento da al'l>i!Jrag;ellí 27. Tem prevalecido de modo marcante nos tribunais, ,e~n~a~d~d~our;t~n;': nl:,a~:o;ã~'~~W~:"~ menta da possibilidade de arbitragem envolvendo entes d . . 27.1. Na jurispmdência, destaca-se a célebre decisão do S:up,relllo' TI,ibIJtiilÍ\i Federal no "caso Lage": "In~orporação ~ Bens e direitos das Empresas Organização Lage e do 00 •• ',"'1"; de Henn~ue Lage - Juízo Arbitral- Cláusula de irrecorribilidade _ Juros da - Correçao monetána. UHOla "f <11_ Legalidade do Juízo Arbitral, que o nosso Direito sempre admitiu e sagrau, até ~esmo nas causas contra a ~azenda. Precedente do Supremo Tribunal Federal.( ... ) (AI 52.191, Pleno, reI. Mm. BILAC PINTO, em RTJ 68/382). ,;'~ ~e~elhante posicionamento encontra-se em acórdão do Tribunal de Justiça dOÁDlstnto Federal, relatado pela hoje Ministra do Superior Tribunal de Justiçà' F TIMA NANCY ANDRIGHI: A "MAN~ADO DE SEGURANÇA. Pólo passivo. Tempestividade. Licitaçã~. I~t,;,r~sse publIco mdlsponíveI. Juízo arbitral. Dec.-1ei 2.300 e Lei 8.666/93 P , , slbllIdade. . os in ( ... ) "lII - Pelo ar!. 54, daLei 8.66~/93, os con,tratos administrativos regem-se pela~ su~s cl~usulas e p;eceltos de drreIto público, aplicando-se-lhes supletivamente-oi prmcíplOs da teona ~e:~1 dos contratos e as disposições de direito privado, o qJ~ vem refo:~~r a pOSSIbIlIdade de adoção do juízo arbitral para dirimir questõd~ contratuals (MS 1998002003066·9 - Conselho Especial- TJDF - j. 18.05.1999 - rela. Desa. Nancy Andnghl - DJ 18.08.1999, em Revista de Direito Bancário" do Mercado de Capitais e da Arbitragem 8, 2000, p. 359). ' 3. PARECERES 153 27.2. Na doutrina, além do exato ensinamento de CAIO TÁCITO, já citado, dovo ser mencionado ainda o escólio de ADILSON DALLARI: , {f! , . l'Em primeiro lugar, cabe ressaltar que ao optar pela arbitragem o contratante público não está transigindo com o interesse público nem abrindo mão de instru- mentos de defesa de interesses públicos. Está, sim, escolhendo uma forma mais expedita, ou um meio mais hábil, para a defesa do interesse público. Assim como RJU~z, no procedimento judicial, deve ~er imparcial, também o árbitro deve deci- #rr.çom imparcialidade. O interesse público não se confunde COIl"!- o mero interes- s~ da Administração ou da Fazenda Pl1blica; o interesse públicq estfi na correta aplicação dalei, e se confunde coma realização concretadaJustiça. Inúmeras vezes, _ para defender o interesse público, é preciso decidir contra a Administração Públi- ca" ("Arbitragem na concessão de serviço público", emRTDP 13, 1996, pp. 8-9). I!" . , Outra não é a opinião de DIOGO DE FIGUEIREDO MOREIRA NETO: "Consigne-se, finalmente, que a competência para negociar e contratar a res- peito de interesses patrimoniais disponíveis de adllÚnistração pública implica na correlata competência para pactuar preventivamente a solução de controvérsias por meio de arbitramento. Tal é anonlla do ar!. l° da Lei 9.307, do 23 do setembro de 1996, daí decorrendo que a competência para a escolha das regras de direito (ar!. 2°, § 1°), bem como para escolha dos árbitros (ar!. 13, § 2.") segue-se como çorolário" (uArbitragem nos contratos administrativos", em RDA 209, 1997, p. 89). Idêntico ainda é o pensamento, entre outros, de LEON FREJDA SZKLARO- WSKY ("A arbitragem e a Administração Pública", divulgado na internet, na pá- gina do autor), ARNOLDO WALD ("A arbitragem e os contratos administrativos", divulgado na internet: www.camarbra.com.br/wald.htm) e CARLOS ALBERTO CARMONA (Arbitragem e processo: 11m comentário à Lei 9.307/96, Malheiros, 1998, pp. 52 e ss.). 27.3. O Tribunal de Contas da União também já se pronunciou pela admissibili- dade da arbitragem em contratos administrativos. Trata-se da D~cisão 188/95 (pro- cesso Te 006.098/93-2), que consiste em importante precedente sobre essa matéria. Naquela oportunidade, em reexame de decisão anterior, admitiu-se a arbi- tragem em contrato de concessão (inequivocamente sujeito às regras de direito público), apenas com a ressalva de que não fossem incluídas "cláusulas que não observem estritamente o princípio da legalidade e a indisponibilidade do inte· resse público". 9. Os princípios da boa·fé c da moralidade administrativa 28. Por último, não se pode deixar de notar que a postura adotada pela Com- pagás, com a devida venia, configura um venire contrafacl/lm propriiwI. Ela se volta agora contra um encaminhamento de solução que ela mesma, antes, houvera sugerido e de cuja formulação participara. Na lição do FRANCISCO MUNIZ: · , rI ! 154 REVISTA DE ARBITRAGEM EMEDIAÇÃO - 5 ''A locução venire contrafactum proprium traduz o exercício de um em contradição com o cOlllPor~amento assumido anteriormente pelo titl1Iar.:tiiÍ~' "Infringe a boa-fé quem-pretende fazer valer um direito em co.ntradiiçãótlillli sua conduta anterior. na qual a outra parte confia" (Textos de Direito ~""",'\!Jl1F ritiba, Juruá, 1998, p. 41). O princípio da moralidade administrativa - este sim in~~;~)~~~V~!~:~~àl~~ cável a qualquer enle da Administração Pública (CF, arl. 37) - é com tal postura. No âmbito administrativo, tanto quanto no privado, universalmente o princípio da boa-fé como exigência de lCllldade e rei,li"~9 das expectativas objetivamente criadas. Dentre tantos outros, vede ZALES PEREZ (El Principio General de la Buena Fe ell el Derecho trativo, Madri, Civilas, 1983, pp. 48 e seguintes) e HANS MAURER Administratif Allemmid, P~1fis, Librairie Générale de Droit et de JUI:iSI}fude.nd;,~;: I 1994, RP. 55-56). No direito estrangeiro, práticas semelhantes à presente têm sido alvo deé,i'" J pecífica censura. O Instituto de Direito Internacional, em sua reunião o~;~~:~~]1 em Saint-Jacques de Compostelle, em 13.09.1988, aprovou resolução s. a qual Hum"Estado, uma empresa de Estado ou uma entidade estatal invocar sua incapacidade de concluir uma convenção de arbitragem para cusar a participar da arbitragem com a qual havia consentido" (apud CLÁVIQ VALENÇA FILHO, Revista de Direito Ballcário, do Mercado de Capitais e dà Arbitragem 8, 2000,p. 370). 'fi lO, Conclusão ib 29. Com base no acima exposto, formulo as seguintes respostas para os quesi- tos apresentados: a) O objeto da arbitragem estava suficientemente definido no compromiss~ arbitral? Sim. A cláusula do compromisso atinente ao objeto veiculou conceito ("di- vergências entre as partes relativamente ao Contrato 004/99") cuja concretA detenilinaçài:J dependia apenas da consideração dos documeil/os comimsi/s partes, em que estavam retratadas todas as questões pen(!entes, e queforcuil todás reunidos por ocasião tanto da celebração do compromisso quanto da cOllstituíl ção do tribunal arbitral. b) Cabe o processo árbitral no presente caso? Sim. A condição juddica da Compagás e o objeto do /Urgia entre as partes não são 6bices ao emprego da arbitragem. Pelo contrário as especificidadeS téc:; /licas da controvérsia aconselham-na. . Éo parecer. Curitiba, julho de 2001. -"'
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