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Dagomir	Marquezi
Alma	Digital
(1997-2014)
	
	
	
	
17	anos	de	colunas	sobre	
tecnologia,	comportamento	e	cultura
"******ebook	converter	DEMO	-
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para	a	revista	Info
	
"******ebook	converter	DEMO	-
www.ebook-converter.com*******"
	
©	deste	livro:	Dagomir	Marquezi	2015
Todos	os	direitos	reservados
	
Livro	produzido	pela
DMP	–	Dagomir	Marquezi	Produções
São	Paulo	SP	Brasil
	
Revisão	e	edição	de	texto:	Lidice	Ba
Capa,	design	e	edição	digital:	Dagomir	Marquezi
Primeira	edição:	abril	2015
	
Colunas	publicadas	originalmente	pela	revista	Info	(Abril	Comunicações)
	
Contato	com	o	autor:	dagomirmarquezi@gmail.com
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www.ebook-converter.com*******"
	
Alma	Digital
Por	Dagomir	Marquezi
	
	
	
	
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www.ebook-converter.com*******"
Agradecimentos	especiais	a	
(por	ordem	alfabética):
	
Barbara	Maria	Fernandes
Carlos	Machado
Débora	Fortes
Gustavo	Poloni
Juliano	Barreto
Katia	Militello
Lidice	Ba
Paulo	Nogueira
Sandra	Carvalho
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Alma	Digital
	
Índice
	
Enter
	
1997	-	1999
Os	que	amam	e	os	que	odeiam
Uma	revolucao	linguistica
O	bom	menino	tem	auto-educação
O	apocalipse	à	espera	de	um	bug
Humano	+	Computador	=
Extra!	Extra!	O	jornal	está	nas	últimas
Poderão	os	simuladores	salvar	o	mundo?
Um	sumério	escreve	no	barro	do	Tigre
Correio	eletrônico	sentimental
Ruídos,	chiados	e	assobios	em	estéreo
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Olhos	para	enxergar	o	mundo	inteiro
“Penumbra	quatro	som	praia	surround	sleep”
A	guerra	dos	browsers
Um	carrinho	cheio	da	areia	do	tempo
Slots	para	meu	cérebro
Pesadelo	púrpura
Sem	medo	de	ser	um	nerd
O	laptop	de	Sigmund	Freud
Viva	a	reserva	de	mercado!
Procura-se	um	extraterrestre
Alguns	cliques	para	mudar	o	mundo
	
2000	-	2002
Mil	e	um	cuidados	com	um	bebê	de	333	MHz
Montado	na	bala
A	vida	em	planilhas
Um	tempo	para	o	tempo
Universo	analógico
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Boa	viagem,	HAL
A	web	dos	wikis
Scanner	humanos
A	arma	do	crime
O	apagão	da	minha	vida
Meu	primeiro	PDA
Mechas	querem	ser	amados
As	cavernas	de	Compucity
Inferno.com
	
2003	-	2005
Minha	vida	num	CD-ROM
O	que	é	M.I.L.F.?
Atestados	de	óbito
Um	computador	para	dona	Dirce
Algorimos	jornalistas
Nossas	vidas	em	linhas	e	colunas
A	onda	Orkut	arrasta	todo	mundo
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Toda	a	coleção	dos	Beatles
O	homem	giga
Braingate
Agora	eu	também	tenho	um	blog
Socorro	em	Casa
Ciranda	do	amor	online
Universidade	do	truco
Acidente	na	via	Dutra
Milagre!	Milagre!
Somos	todos	astronautas
	
2006	-	2008
D.R.	Online
O	fenômeno	Smosh
Teclados,	mouses	e	outras	velharias
A	internet	como	doença
Europa	sem	fio
Os	filhotes	de	James	Bond
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Minha	segunda	vida
TV	Nicho
Cyberpedofilia
A	busca	por	outros	caminhos
Enviar?	Salvar?	Apagar?
A	cerca	de	segurança
Consulta	marcada	para	2018
Revolução	narrativa
Universo	Google
Registro	Total	da	Vida
AEUTEM1CPI
	
2009	-	2011
Aventuras	em	Twitterland
Vigiando	o	Querido	Líder
A	máquina	do	conhecimento
A	torre	de	Babel	está	caindo
Eu	e	Mr	Rains
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Operação	Baal
Até	seu	Lineu	tá	na	rede
Um	museu	em	cada	casa
Tragédia	compartilhada
Minha	etiqueta	no	Facebook
Sartre	e	a	liberdade	inútil
Meu	império	cultural	online
	
2012	-	2014
O	insustentável	desejo	de	ser	curtido
Lâmpada	de	Aladim
A	cultura	desencarnou
A	terceira	grande	revolução	industrial
Um	oceano	de	taras	e	fetiches
Eu	controlo	o	tráfego	aéreo	mundial
À	espera	do	BFS-Auto
Drones	para	todos
Enquanto	isso,	em	1785...
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Crimes	futuros
O	último	post
Passagem	no	Hyperloop
Shodan,	o	Google	dark
Editora	Eu	Mesmo
Um	rewind	no	tape
O	eterno	1962
Voando	a	mil	PPM
A	era	dos	robôs
A	gente	está	se	achando
A	civilização	do	selfie
Navegando	pelo	streaming	sem	perdas
	
O	autor
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Dagomir	Marquezi
Alma	Digital
	
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Enter
	
Meu	caso	com	a	tecnologia	é	antigo.	Talvez	tenha	nascido
comigo.	Ou	foi	influência	do	meu	pai.	Quando	era	uma	criança
no	final	dos	anos	1950	eu	admirava	seu	Decio	desmontando
pacientemente	os	aparelhos	de	casa	para	consertar.	Ele	gostava
especialmente	de	rádios.	Me	ensinou	a	viajar	pelo	mundo	sem
sair	de	casa,	ouvindo	estações	de	ondas	curtas.	Meu	pai	gostaria
de	ter	sido	engenheiro	eletrônico,	mas	sua	origem	humilde	não
permitiu.
Herdei	do	seu	Decio	a	paixão	pelo	rádio,	pela	TV	e	por	qualquer
tipo	de	aparelho	que	passasse	na	minha	frente.	Sempre	fiquei
hipnotizado	por	um	bom	design	ou	pelas	sutilezas	técnicas	de
um	manual	de	funcionamento.	Em	matéria	de	música,	por
exemplo,	fui	iniciado	pelo	meu	pai	nos	toca-discos	78RPM,
acompanhei	a	evolução	para	o	vinil,	depois	para	o	CD,	para	o
DVD-audio	e	o	streaming.	Seu	Decio	se	foi	cedo,	em	1990,	no
início	da	grande	revolução	digital.
Minha	paixão	por	computadores	foi	imediata,	fatal	e	eterna.	A
história	desse	livro	começa	na	verdade	em	1986.	Nessa	época
eu	comprei	um	dos	primeiros	computadores	pessoais
produzidos	no	Brasil,	o	TK-85.	Seu	monitor	era	a	TV	da	sala.
Sua	memória,	um	gravador	cassete	–	que	não	funcionava.	Não
existia	o	conceito	de	softwares.	O	usuário	tinha	que	digitar	cada
linha	de	comando	em	linguagem	BASIC.	Mesmo	com	tantas
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dificuldades	eu	cheguei	a	programar	no	TK-85	modelos
primitivos	de	um	sintetizador	de	som	e	de	um	simulador	de
voo.	Foi	minha	“alfabetização”	na	lógica	de	um	computador.
Em	1997,	onze	anos	depois	daquele	TK-85,	eu	já	tinha	passado
entusiasticamente	por	todos	os	estágios	e	upgrades	da	primeira
fase	da	história	do	computador	pessoal.	Participei	das
experiências	pioneiras	de	comunicação	à	distância	via	BBS.
Experimentei	cada	evolução	dos	processadores	e	cada	nova
versão	do	Windows.	Eu	não	“fui	obrigado”	(como	quase	todo
mundo	que	eu	conheço)	a	me	adaptar	aos	novos	tempos.	Tive	na
verdade	enorme	prazer	em	fazer	parte	dessas	mudanças.
Em	1997	eu	era	um	dos	raros	jornalistas	brasileiros	obcecados
nesse	assunto.	E	numa	era	sem	redes	sociais,	meus	diálogos
remotos	se	davam	por	longos	emails,	escritos	como	cartas
tradicionais.	Foi	por	email	que	eu	entrei	em	contato	com	um
velho	amigo	dos	tempos	da	Veja,	Paulo	Nogueira.	Ele	era	então
o	diretor	do	grupo	Exame,	na	editora	Abril.
Depois	de	uma	intensa	troca	de	mensagens,	o	Paulo	tomou	uma
decisão	ousada.	Combinou	com	Sandra	Carvalho	(então	diretora
de	redação	da	revista	Info)	para	que	eu	assinasse	uma	coluna
mensal.
Eu?!	Na	Info?!	Perto	do	pessoal	que	fazia	a	mais	importante
revista	de	tecnologia	do	Brasil,	sempre	fui	um	leigo.	Mas	a
ideia	do	Paulo	Nogueira	era	justamente	essa:	dar	uma	visão
mais	“humana”	e	reflexiva	a	uma	revista	técnica.	Em	abril	a
primeira	coluna	foi	publicada.	Pensei	na	época:	“Logo	a	Sandra
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vai	me	avisar	que	a	experiência	não	deu	certo”.
E	no	entanto,	quando	escrevo	estas	linhas,	minha	coluna	da	Info
completa	seu	18º	aniversário.	A	diretora	Sandra	Carvalho	foi
substituída	por	Débora	Fortes,	que	deu	lugar	a	Katia	Militello.
E	de	todas	elas	tudo	o	que	eu	recebi	foi	apoio	total	e	liberdade.
Tentei	preservar	nesta	coletânea	as	colunas	tal	como	foramescritas	(e	nem	sempre	como	foram	publicadas).	Realizei
correções	de	estilo	e	informação	(com	a	ajuda	fundamental	de
Lidice	Ba).	Nesta	compilação,	ao	final	de	cada	capítulo	escrevi
um	texto	intitulado	“O	Panorama	em	2015”.	Neles	eu	atualizo
cada	uma	das	colunas.	Conto	o	que	mudou	ou	não,	onde	eu
acertei	nas	minhas	previsões.	E	onde	errei	feio.	É	uma	espécie
de	making	of	de	cada	coluna.	Cortei	também	textos	que
considerei	menos	inspirados	ou	repetitivos.
Este	livro	contém	profecias,	histórias	de	ascensões	e	quedas,
reflexões,	mudanças	de	comportamento	e	peças	de	ficção.
Algumas	colunas	receberam	elogios.	Outras	provocaram
protestos.	Foram	18	anos	vertiginosos.	Mesmo	para	cérebros
eletrônicos	como	o	meu.
	
Dagomir	Marquezi
São	Paulo
05	abril	2015
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1997	-	1999
	
	
	
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Os	que	amam	e	os	que	odeiam
1997
Imagine	a	seguinte	situação:	no	mesmo	centro	de	convenções
marcam	seus	congressos	o	Clube	dos	Adoradores	Fanáticos	de
Computadores	(na	ala	A)	e	a	Sociedade	Internacional	dos	Que
Odeiam	a	Informática	(na	ala	B).
Quem	fosse	para	a	ala	A	daria	de	cara	com	testemunhos
admirados	de	usuários	de	chips	absurdamente	velozes,	discos
rígidos	de	centenas	de	gigabytes,	modems	mais	rápidos	que	o
pensamento,	CD-ROMs	de	velocidade	multiplicada	por	64,
circuitos	de	fibra	óptica,	monitores	de	cristal	de	titânio.
Já	os	visitantes	da	ala	B	exibiriam	com	orgulho	suas	velhas
máquinas	de	escrever.	Lá	estariam	contadores	altivos	com	seus
lápis	e	borrachas,	arquitetos	de	régua-T,	secretárias	com	as
mãos	enegrecidas	pelo	papel	carbono,	caixas	de	banco	com	suas
canetas	Bic.
Num	certo	momento,	fatalmente	ocorreria	no	corredor	um
encontro	de	alguém	da	ala	A	com	alguém	da	ala	B.	Primeiro
eles	se	olhariam	com	mútuo	e	profundo	desprezo.	Quem	sabe
depois	eles	não	começariam	a	conversar?
Como	costuma	acontecer,	os	dois	lados	sairiam	ganhando	com
um	diálogo.	Os	que	adoram	computadores	iriam	aprender	que
tem	gente	trabalhando	duro,	se	esforçando	muito,	e
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conseguindo	resultados	respeitáveis	SEM	computador.	Métodos
“tradicionais”	não	devem	ser	esquecidos,	mas	preservados.
Uma	civilização	sábia	não	escolhe	entre	o	computador	e	o
ábaco.	Fica	com	os	dois.
Já	os	que	odeiam	computadores	poderiam	aprender	que	aquelas
máquinas	diabólicas	são	uma	extensão	de	seu	próprio	potencial.
E	que	ser	contra	o	micro	é	sabotar	sua	própria	capacidade	de
criar	e	produzir.
Eu,	que	amo	os	computadores,	preciso	lembrar	que	existe	uma
vida	lá	fora.	Nessa	hora,	olho	com	inveja	o	monitor	brilhando
na	minha	cara.	E	fico	revoltado.	Eu	tenho	que	dormir.	O
computador,	não.
O	Panorama	em	2015:
Em	1997	computadores	não	integravam	obrigatoriamente	a
paisagem	humana.	Eram	apenas	uma	opção	exótica.	Você
conseguia	viver	perfeitamente	sem	um	computador.	Conta	se
pagava	no	banco.	Comunicação	era	pelo	telefone	ou	correio.	A
“computação”	era	um	mundo	novo	cheio	de	promessas	e
dificuldades.	Desde	a	primeira	coluna	eu	procurei	o	caminho	do
meio	entre	o	combate	a	posições	extremistas	e	irracionais.	Esse
texto	pioneiro	tinha	originalmente	um	trecho	que	descrevia	a
tecnologia	de	ponta	da	época:	“o	último	MMX,	o	disco	de	2	GB
ou	o	modem	de	56,6	Kbps”.	MMX	era	o	processador.	E	o	disco
rígido	tinha	a	mesma	capacidade	de	um	pen-drive	barato	de
agora,	2015.	A	gente	chamava	desktop	de	“micro”.
	
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Uma	Revolucao	Linguistica
1997
Leia	o	título	de	novo.	Eu	sei	que	ele	está	errado.	Falta	acento,
falta	trema,	falta	cedilha.	Mas...	você	entendeu.
A	língua	portuguesa	já	teve	dias	melhores.	Sua	presença
geográfica	está	cada	vez	mais	limitada:	Portugal,	Cabo	Verde,
Angola.	A	desagregação	de	Moçambique	faz	com	que	cada	vez
mais	moçambicanos	adotem	o	inglês	da	vizinha	República	Sul
Africana.	Timor,	que	fazia	as	honras	da	língua	portuguesa	na
Ásia,	foi	destruído	pela	truculência	indonésia.	Ah,	temos
Macau,	ainda.	Mas	se	nem	Hong	Kong	resistiu	ao	novo	império
chinês...
A	história	da	linguagem	humana	obedece	a	leis	naturais	e
dinâmicas.	O	inglês	tornou-se	a	língua	planetária,	entre	outras
coisas,	porque	é	objetiva,	simples	e	econômica.	Já	os	nossos
filhos	passam	alguns	de	seus	mais	produtivos	anos	escolares
decorando	uma	língua	que	jamais	falarão	e	que	conjuga	seus
verbos	em	um	zilhão	de	modos	diferentes.	O	português	é	um
mastodonte	atolado	em	regras,	fragilizado	num	ecossistema
linguístico	cada	vez	mais	hostil.
Eu	tive	o	sinal	de	que	o	espanhol	sobreviveria	quando	vi	Arnold
Schwarzenegger	dizendo	“Hasta	la	vista,	baby”	em	O
Exterminador	do	Futuro	2.	Enquanto	os	franceses	se	negam	a
falar	outra	coisa	que	não	seja	o	francês	(ridículas	leis	impedem
chamar	um	hambúrguer	de	hambúrguer),	os	hispânicos	se
misturam.	E	o	espanhol	fica	mais	forte	com	isso.
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A	BBC	World	exibiu	uma	reportagem	curiosa	sobre	o
nascimento	de	uma	nova	língua	—	o	“spanglish”.	Numa	mesma
frase	os	entrevistados	passavam	do	inglês	para	o	espanhol	e
vice-versa	com	toda	a	naturalidade.	A	língua,	como	o
computador	e	o	carro,	deveria	ser	um	instrumento	a	serviço	do
homem.	E	não	um	objeto	de	culto.
A	língua	portuguesa	precisa	ser	simplificada	e	modernizada.
Essa	mudança	está	nascendo	—	e	o	fórceps	chama-se	e-mail.
Por	razões	técnicas,	trocar	mensagens	por	e-mail	usando	o
português	“correto”	é	arriscado.	O	software	do	outro	lado	pode
reconhecer	a	floresta	de	acentos	e	sinais	gráficos.	Ou	não.	O	“ã”
que	você	envia	pode	chegar	do	outro	lado	como	um	símbolo
gráfico	completamente	irreconhecível.	Os	“á”,	“à”,	“ê”,	“ç”,
“ü’’	podem	virar	“%”,	“@”,	“&”,	“ ”	ou	“å”.
A	garantia	para	mandar	uma	mensagem	compreensível	é	não
arriscar.	E	simplesmente	escrever	sem	qualquer	acento.	Como
na	língua	inglesa,	o	significado	da	palavra	será	reconhecido	no
contexto	da	frase.	Achar	que	alguém	não	vai	entender	que
“revolucao”	quer	dizer	“revolução”	é	chamar	o	leitor	de
estúpido.	Ou	estupido.
O	e-mail	veio	para	ficar,	e	já	está	ajudando	a	tentar	tirar	a
língua	portuguesa	da	UTI.	A	própria	lógica	objetiva	da
informática	está	exigindo	que	brasileiros	aprendam	noções
básicas	de	inglês.	“Setup”	será	sempre	uma	palavra	mais	fácil
de	se	dizer	e	usar	do	que	“configuração”.	Assim	como
“download”	é	mais	simples	e	direta	do	que	“importar	arquivos
	
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através	da	linha	telefônica”.
Estamos	caminhando	para	o	portunglish,	uma	mistura	dinâmica
de	português	com	inglês,	e	nossa	cultura	só	tem	a	ganhar	com
isso.	Caminhamos	também	para	um	português	mais	objetivo,
mais	simples,	mais	adaptado	aos	novos	tempos.
Para	os	guardiões	da	tradição,	é	uma	péssima	notícia.	Para	o
resto	de	nós,	é	motivo	para	uma	party.
O	Panorama	em	2015:
Sim,	naquele	tempo	a	gente	baixava	arquivos	pela	linha
telefônica.	Resolvi	ser	polêmico	logo	na	segunda	coluna	para
firmar	meu	espaço.	Marquei	uma	posição,	embora	parecesse
nesse	texto	ser	mais	radical	do	que	eu	era	de	verdade.	Quis
provocar.	Tratei	de	duas	questões	paralelas:	a	língua	portuguesa
e	o	e-mail,	que	ainda	não	tinha	se	firmado	completamente.	Com
o	tempo,	aconteceu	o	contrário	do	que	eu	tinha	imaginado:	o
mercado	se	globalizou	e	as	empresas	(como	a	Microsoft	e	a
Google)	passaram	a	adaptar	seus	softwares	ao	português	e
outras	línguas.	E	aconteceu	a	virada.	Esses	softwares	criados	no
exterior	começaram	a	cuidar	do	bom	funcionamento	do
português	por	meio	de	corretores.	Absolutamente	ninguém
poderia	imaginar	isso	em	1997.	Se	eu	gosto	da	língua
portuguesa?	Claro	que	eu	gosto!	Como	escritor	e	jornalista	eu
vivo	dela.	Por	isso	mesmo	torço	para	que	sobreviva	num	mundo
cada	vez	dinâmico.
	
"******ebook	converter	DEMO	-
www.ebook-converter.com*******"O	bom	menino	tem	autoeducação
1997
“O	bom	menino	não	faz	pipi	na	cama.
O	bom	menino	não	faz	malcriação.	
O	bom	menino	vai	sempre	na	escola	
E	na	escola	aprende	sempre	a	lição”.
Sábias	palavras	do	palhaço	Carequinha.
Carequinha?	Quem	tem	menos	de	40	provavelmente	não
imagina	quem	seja.	Mas	nos	anos	1960	seu	compacto-simples
de	O	Bom	Menino	fez	um	sucesso	imenso.	E	virou	uma	espécie
de	micro	manual	do	bom	comportamento	para	toda	uma
geração.
Nos	tempos	do	Carequinha,	escola	era	um	lugar	onde	você
levava	caderno,	lápis,	borracha,	sentava	numa	cadeira	e	anotava
o	que	a	mestra	dizia.	Era	lei.	Tinha	de	ser	decorado	e	repetido
na	prova.	A	participação	do	aluno	se	resumia	a	levantar	a	mão
com	um	dedo	esticado	(que	significava	“quero	fazer	xixi”),	ou
dois	dedos	(“quero	fazer	cocô”).	A	professora	deixava.	Ou	não.
Ponto	final.
Para	os	anos	1950	estava	mais	do	que	bom.	Daí	vieram	métodos
mais	modernos	e	participativos	de	ensino.	O	aluno	passou	a
pesquisar	mais,	a	frequentar	mais	bibliotecas	e	realizar	mais
estudos	em	campo.
Alguns	métodos	mudaram,	sim.	Mas	de	uma	maneira	geral	os
estudantes	hoje	continuam	a	engolir	regras	idiotas,	datas
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estúpidas,	tabelas	infernais.	Perguntei	à	diretora	da	escola	do
meu	filho:	por	que	o	pobre	coitado	tem	de	gastar	seus	melhores
anos	decorando	tanta	coisa	que	ele	provavelmente	jamais	vai
usar?	Resposta:	a	educação	brasileira	está	voltada	para	o
vestibular.	É	o	que	interessa.
Eis	que	surge	a	dupla	computador	&	internet.	Essa	combinação
tem	um	poder	infinito	de	informar	e	educar	gente	de	qualquer
idade.	Um	aluno	equipado	com	um	PC	multimídia	e	um
provedor	de	internet	pode	aprender	numa	única	semana	muito
mais	que	num	ano	inteiro	de	aula	na	escola.
A	escola	do	futuro	vai	ter	que	mudar.	As	pessoas	estudarão	cada
vez	mais	em	casa,	por	conta	própria.	Vão	usar	o	infinito	poder
de	informação	e	pesquisa	que	é	um	computador	conectado	a	um
modem.
A	educação	deveria	se	tornar	cada	vez	menos	formal	e	mais
personalizada,	de	acordo	com	as	necessidades	de	cada	um.	A
autoeducação	será	uma	tendência	cada	vez	mais	forte	—	e
eficiente.	Não	existem	duas	pessoas	iguais.	Cada	uma	deve	ter	a
chance	de	estudar	o	que	quiser	e	de	desenvolver	todo	seu
potencial	individual.	Uma	voltinha	de	alguns	minutos	por
instrumentos	de	busca	como	o	Yahoo	ou	o	AltaVista	pode
equivaler	a	meses	de	visitas	a	bibliotecas	e	museus.
Acabar	com	os	livros?	Nunca!	Há	um	prazer	especial	em	ler
livros	e	revistas	de	papel	que	nenhum	notebook	substitui.	No
entanto,	mais	de	que	livros,	precisamos	de	computadores.
Computadores	aos	montes.	Computadores	em	salas	de	aula,	em
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bibliotecas,	jardins	de	infância,	computadores	em	cada	casa,
apartamentos	e	favelas.
O	Panorama	em	2015:
Essa	coluna	é	do	tempo	em	que	o	Yahoo	inaugurou	o	conceito
de	busca	na	internet	e	o	AltaVista	aparecia	como	seu	poderoso
desafiante.	De	novo,	é	preciso	lembrar	que	em	1997	o
computador	era	opcional.	De	lá	para	cá,	a	internet	só	melhorou
seu	potencial	didático	com	instrumentos	como	a	Wikipedia,	os
cursos	à	distância,	os	vídeos	didáticos	e	as	universidades
abertas.	Eu	dedicaria	outras	colunas	(geralmente	indignadas)	ao
assunto	falência	da	educação	brasileira,	que	só	piorou	desde
1997.	O	Carequinha	(George	Savalla	Gomes)	faleceu	no	dia	5
de	abril	de	2006,	em	São	Gonçalo	RJ.	Pediu	para	ser	enterrado
com	sua	maquiagem	de	palhaço.	Mas	não	foi	atendido.	Esta	é	a
letra	completa	de	“O	Bom	Menino”:	“O	bom	menino	não	faz
pipi	na	cama	/	O	bom	menino	não	faz	malcriação	/	O	bom
menino	vai	sempre	à	escola	/	E	na	escola	aprende	sempre	a
lição	/	O	bom	menino	respeita	os	mais	velhos	/	O	bom	menino
não	bate	na	irmãzinha	/	Papai	do	céu	protege	o	bom	menino	/
Que	obedece	sempre,	sempre	a	mamãezinha	/	Por	isso	eu	peço	a
todas	as	crianças	/	Muita	atenção	para	o	conselho	que	eu	vou
dar	(FALADO)	Olha	aqui,	Carequinha	não	é	amigo	de	criança
que	passa	de	noite	da	sua	cama	pra	cama	da	mamãe	e	também
não	é	amigo	de	criança	que	rói	unha,	e	chupa	chupeta.	Tá	certo
ou	não	tá?	Táaaaaaa	(Cantado)	Eu	obedeço	sempre	a
mamãezinha	/	Então	aceite	os	parabéns	do	Carequinha.
(FALADO)	Olha	aqui.	Carequinha	só	gosta	de	criança	que
respeita	mamãe,	papai,	titia	e	vovó	e	seja	amigo	dos	seus
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amiguinhos.	E	também	que	coma	na	hora	certa,	e	durma	na
hora	que	a	mamãe	mandar.	Tá	certo	ou	não	tá?	Táaaaaaa
(CANTADO)	Eu	obedeço	sempre	a	mamãezinha	/	Então	aceite
os	parabéns	do	Carequinha	/	Viva	o	bom	menino!	/	Vivaaaaaa!”
	
O	apocalipse	à	espera	de	um	bug
1997
Algum	computador	já	te	fez	chorar?
Não	digo	chorar	de	raiva,	porque	travou	nos	últimos	10
segundos	de	um	download	de	4	horas	e	meia.	Não	digo	chorar
de	ódio,	porque	diz	que	seu	drive	A	não	existe,	embora	a
luzinha	do	drive	A	esteja	piscando	bem	na	sua	frente.
Algum	computador	já	te	fez	chorar	de	emoção	e	piedade?
Eu	quase	cheguei	lá	quando	assisti	pela	primeira	vez	2001,	uma
Odisseia	no	Espaço.	Num	filme	emocionalmente	gelado,	um
dos	raros	momentos	de	humanidade	ficou	por	conta	de	HAL
9000,	o	irresistível	computador	a	bordo	da	nave	Discovery.
Quando	Dave	Bowman	(último	sobrevivente	humano	da
Discovery)	começa	a	desligar	os	circuitos	de	memória	de	HAL
9000,	o	que	vemos	e	ouvimos	é	um	astronauta	agindo	como
uma	máquina.	E	um	computador	implorando	pela	própria	vida,
como	um	ser	humano.
“Dave...	pare...	pare...	você	vai	parar,	Dave?	Você	vai	parar,
Dave?	Eu	estou	com	medo...	Eu	estou	com	medo,	Dave...
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Dave...eu	posso	sentir...	Eu	posso	sentir...	Meu	pensamento	está
indo	embora...	Não	há	dúvida	sobre	isso...	Eu	posso	sentir...	Eu
estou	com	medo...”
Foi	difícil	segurar	as	lágrimas	quando	HAL,	num	último
momento	de	lucidez,	começou	a	cantar	a	canção	infantil
“Daisy”.	Mas	2001	não	era	um	filme	sentimental.	Tratava,	entre
outras	coisas,	da	crucial	questão:	um	dia	o	computador
dominará	o	homem?
A	rivalidade	computador	versus	homem	assumiu	contornos
dramáticos	neste	ano	de	1997.	Garry	Kasparov	foi	derrotado
pelo	Deep	Blue	da	IBM,	numa	competição	histórica	de	xadrez
acompanhada	pelo	mundo	todo.
O	que	me	faz	lembrar	de	outro	computador	astro	de	cinema:	o
WOPR,	de	Jogos	de	Guerra	(“WarGames”,	1983).	No	filme,
Matthew	Broderick	é	um	jovem	hacker	que	acessa	um
supercomputador	das	Forças	Armadas	americanas	especializado
em	simulação	de	guerra.	Para	o	garoto,	é	um	jogo.	Para	WOPR
é	a	detonação	real	da	guerra	termonuclear	contra	os	soviéticos.
WarGames	parece	hoje	ultrapassado	com	o	fim	da	Guerra	Fria.
Rússia	e	Estados	Unidos	atualmente	se	dão	bem.	Mísseis	estão
sendo	desmontados	em	ambos	os	lados.	Podemos	respirar
aliviados,	então?
No	dia	25	de	janeiro	de	1995,	no	interior	de	uma	base	de	defesa
da	Federação	Russa,	tudo	aparentemente	está	normal.	De
repente,	um	sinal	no	radar.	O	computador	identifica	um	míssil
invadindo	o	espaço	aéreo	russo.	Aparentemente	um	Polaris	foi
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disparado	de	um	submarino	americano	no	Mar	da	Noruega.
Alvo:	Moscou.	Tempo	de	impacto:	15	minutos.	Imediatamente
a	base	manda	um	sinal	para	o	presidente	Boris	Yeltsin.	Alerta
total.
Quinze	minutos.	Dedos	nos	gatilhos.	Catorze.	Treze.	(O	que
você	estava	fazendo	naquela	quarta-feira,	25	de	janeiro	de	1995,
o	dia	em	que	o	mundo	poderia	ser	devastado	por	uma	guerra
nuclear?)	Sete	minutos	até	Moscou...	6...	5...	4...
Faltavam	3	minutos	para	a	provável	incineração	da	capital	russa
quando	o	“míssil	americano”	desapareceu	do	radar.	Tratava-se
na	verdade	de	um	inocente	foguete	norueguês	realizando
pesquisas	sobre	a	aurora	boreal.	Os	computadores	russos
Daquele	dia	de	1995	até	agora	o	que	aconteceu?	Os	russos
continuam	armados	com	6.000	ogivas	nucleares	guardadas	por
militaresinsatisfeitos,	operando	computadores	obsoletos	e	de
manutenção	cada	vez	mais	precária.	São	computadores	capazes
de	confundir	um	foguetinho	de	pesquisas	com	o	poderoso
Polaris.	Velhos,	lentos,	tentando	coordenar	os	dados	e	os
comandos	de	1.300	mísseis	estratégicos.	O	Apocalipse	à	espera
de	um	bug.
“Dave...	Eu	estou	com	medo...”
O	Panorama	em	2015:
Nesse	25	de	janeiro	de	1995	quando	o	mundo	quase	acabou	eu
tirei	o	dia	para	passear	com	meu	filho	Icaro	(então	com	11
anos).	Comemos	uma	pizza	na	padaria	Real,	no	bairro	do
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Sumaré,	em	São	Paulo.	Eu	trabalhava	na	época	como	roteirista
freelance	para	o	SBT.	Já	tinha	escrito	em	1983	(numa	parceria
com	Lu	Gomes)	um	livro	chamado	Guerra	Nuclear.	Nessa
época	eu	achava	que	o	apocalipse	seria	apenas	uma	questão	de
tempo.	Já	em	1997	havia	a	tensão	entre	as	potências,	faltas	de
canais	de	comunicação,	segredos	demais.	Essa	situação
melhorou	com	os	anos	e	chegou	a	um	nível	de	equilíbrio	e
segurança.	E	voltou	a	se	deteriorar	até	chegar	a	2015	com
perigos	muito	reais	–	como	a	Coréia	do	Norte	e	o	Irã.
	
Humano	+	Computador	=
1997
Você	anda	cansado?	Sua	memória	está	falhando?	Não	se
entende	mais	com	seus	filhos?	Sua	vida	sexual	anda	em	baixa?
Acabaram	seus	problemas!	Com	BRAINWARE©	sua	vida	vai
se	modificar	completamente,	e	para	melhor!	Com
BRAINWARE©	você	vai	conectar	seu	cérebro	diretamente	ao
seu	computador!	E	ainda	receberá	gratuitamente	todos	os	cabos,
plugues	e	até	o	implante	de	cabelo	que	vai	disfarçar
completamente	sua	conexão	cerebral!
BRAINWARE©	custa	muito	menos	do	que	você	pode	pagar,	e
nós	aceitamos	todas	as	formas	de	pagamento!	Ligue	agora
mesmo	para	1604	e	compre	seu	BRAINWARE©.	Satisfação
garantida	ou	seu	dinheiro	de	volta!	Tenha	seu	cartão	de	crédito
à	mão	quando	falar	com	uma	de	nossas	atendentes!
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<><><>
	
Um	conector	na	base	do	seu	cérebro,	um	cabo	ligando	seus
centros	nervosos	a	um	computador,	com	adaptador	para	laptops.
Parece	uma	utopia	distante,	mas	não	é.	Os	extremos	tendem	a
se	unir.	Não	é	o	homem	CONTRA	o	computador,	mas	o	homem
SOMADO	ao	computador.
Nós	já	estamos	todos	“plugados”	de	uma	forma	mais
metafórica.	É	natural	que	este	plugue	se	torne	físico	um	dia.
Temos	dois	exemplos	de	como	isso	aconteceu	no	chamado
mundo	animal.
Exemplo	1:	cientistas	japoneses	implantaram	recentemente	um
chip	diretamente	ligado	ao	cérebro	de	uma	barata.	O	inseto
recebe	impulsos	aleatórios	do	chip	que	determinam	se	ele	deve
desviar	seu	caminho	para	a	direita	ou	para	a	esquerda.	A	barata,
tonta,	mal	consegue	se	equilibrar	com	aquele	tijolinho	metálico
sobre	sua	cabeça.
Exemplo	2:	animais	domésticos	podem	receber	chips	de
identificação,	implantados	sob	a	pele.	Por	meio	de	injeção
subcutânea,	o	animal	tem	registrado	no	chip	seu	nome,
endereço,	meios	de	contato	com	o	dono,	para	o	caso	de	se
perder.	Não	vai	demorar	para	que	possa	ser	localizado	por
satélite.
O	primeiro	exemplo	é	grotesco.	Mas	agora	imagine	que	o	tal
chip	colocado	no	cérebro	de	uma	barata	estivesse	no	de	um	ser
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humano.	E	que	este	chip	pudesse	reconhecer	e	anular	ataques
epilépticos.	Quanto	ao	exemplo	do	bebê,	já	pensou	se	cada
criança	recebesse	sob	a	pele	ao	nascer	um	chip	de
identificação?	Nenhuma	forma	de	controle,	só	o	registro	de
nome,	origem,	nome	dos	pais,	tipo	de	sangue,	etc.	Pense	o
quanto	isso	seria	útil	em	dramas	envolvendo	sequestros,
acidentes,	amnésia	etc.
O	conflito	homem	x	máquina	talvez	termine	com	um	final	feliz.
Já	ouviu	falar	do	BRAINWARE©?
O	Panorama	em	2015:
Essa	foi	a	primeira	de	uma	longa	série	de	textos	em	defesa	da
boa	imagem	dos	computadores.	Eles	costumam	ser	mostrados
como	vilões	(intencionais	ou	por	acidente)	em	filmes	e	séries
de	TV.	E	eu	sempre	defendi	que	computadores	devem	ser
tratados	com	o	mesmo	respeito	com	que	tratamos	nossos
melhores	amigos.
	
Extra!	Extra!	O	jornal	está	nas	últimas
1997
Lá	por	1965	eu	ganhei	minha	primeira	máquina	de	escrever.	Era
uma	Remington	compacta,	verde-escura,	redondinha	como	um
fusca.	Na	mesma	época,	descobri	(com	ajuda	do	meu	pai)	o
rádio	de	ondas	curtas.	Enquanto	os	meninos	jogavam	bola	na
rua,	eu	colocava	uma	folha	de	caderno	em	branco	na	Remington
e	transcrevia	as	notícias	da	BBC	e	da	Rádio	Moscou	que	só
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seriam	publicadas	nos	jornais	do	dia	seguinte.	Era	um	“radio
escuta”,	como	se	dizia	na	época.	Eu	brincava	de	jornalista
internacional.
Quando	me	tornei	adulto	e	comecei	a	ganhar	dinheiro,	virei	um
consumidor	compulsivo	de	bancas	de	revistas.	Cheguei	a
assinar	quatro	jornais	diários	simultaneamente.	Eles	viraram
três,	dois,	depois	um.	A	assinatura	do	último	acabou	e	eu
quebrei	uma	rotina	de	30	anos.	Não	me	lambuzo	mais	de	tinta.
Não	leio	jornais	—	de	papel	—	há	meses.
Na	rede,	a	banca	de	jornais	mais	completa	do	mundo	está	aberta
24	horas	na	sua	casa,	praticamente	de	graça.	O	El-Ahrein,	o
Jerusalem	Post,	o	Nairobi	News,	New	York	Times,	Times	de
Londres,	o	Le	Monde,	o	Anchorage	Express,	jornais	chilenos,
jornais	da	Costa	Rica,	do	Irã,	de	Madagascar,	das	Ilhas	Fiji,
jornais	de	Sorocaba,	Teresina,	Curitiba,	Belém	do	Pará	e	Rio
Branco.
Resumindo:	o	jornalão	acabou.	Vai	continuar	existindo	por
mais	algum	tempo,	mas	ficou	obsoleto.	O	reinado	dessa
maçaroca	de	papel	barato	como	base	da	informação	diária	está
no	fim.
O	primeiro	jornal	foi	o	britânico	Daily	Courant,	nascido	em
1702.	Nesses	quase	300	anos,	ler	jornal	sempre	significou	estar
bem	informado.	Mas	a	superação	do	papel	não	quer	dizer	o	fim
das	redações,	dos	jornalistas,	dos	editores	etc.	Haverá	uma
migração	muda	e	discreta	em	direção	à	nova	mídia.	Por	que	ler
um	jornal	congelado	no	tempo	se	você	encontra	um	noticiário
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online	que	se	modifica	a	cada	segundo?	As	limitações	técnicas
de	hoje	estão	para	ser	superadas.	Um	monitor	portátil,	outro	à
prova	d’água,	acesso	mais	rápido	e	barato	via	cabo,	terminais
públicos	—	caminhamos	para	tudo	isso,	e	rapidamente.
Valeu	jornalão,	aprendi	muito	com	você.	Obrigado	pela	sua
fidelidade	ao	lado	do	meu	troninho.	Descanse	em	paz,	ao	lado
do	pergaminho	e	do	rádio	galena.
O	Panorama	em	2015:
“Galena”	é	um	formato	muito	primitivo	de	rádio,	símbolo	de
tecnologia	obsoleta.	O	que	eu	previ	em	1997	seria	minha	rotina
18	anos	depois.	Só	estava	apressado	demais.	Há	no	texto	até
uma	sutil	previsão	dos	futuros	tablets	–	na	referência	ao
“monitor	portátil”.	Meu	problema	maior	como	candidato	a
Nostradamus	é	o	timing.	Eu	via	a	digitalização	da	imprensa
como	um	fenômeno	iminente.	Neste	ano	de	2015	o	Daily
Courant	faz	313	anos.	E	contra	toda	lógica,	o	papel	resiste
teimosamente.	A	leitura	digital	vai	acabar	prevalecendo,	mas	o
processo	enfrenta	muito	mais	resistência	do	que	eu	poderia
imaginar	em	1997.	A	digitalização	da	imprensa	não	se	tornaria
apenas	uma	questão	de	preferência,	mas	de	sua	própria
sobrevivência.
	
Poderão	os	simuladores	salvar	o	mundo?
1997
Os	animais	matam	com	a	lógica	da	sobrevivência.	Os	homens
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matam	e	destroem	por	prazer,	por	esporte	e	por	sadismo.	Esse
comportamento	não	tem	explicação	simples.	São	instintos
destrutivos	pulsando	como	um	tumor.	Alguns	de	nós	controlam
bem	esses	impulsos.	Outros	entram	no	carro	e	dão	150
quilômetros	por	hora	até	encontrar	um	muro.	Ou	um	pedestre.
Pois	é	aí	que	os	simuladores	podem	salvar	a	humanidade.
Simuladores	e	videogames	permitem	que	esses	instintos
destrutivos	possam	ser	satisfeitos	sem	consequências	trágicas.
Alguém	já	experimentou	colocar	um	assassino	compulsivo	para
jogar	Doom?	Como	ele	se	sentiria	após	uma	hora	de	sangue
virtual	se	espalhando	pela	tela?	Ninguém	sabe.	Ninguém
experimentou.E	se	a	cada	um	desses	potenciais	assassinos	do	volante	fosse
dada	a	obrigação	de	pilotar	três	horas	diárias	de	games	de
corrida?	Corra,	corra,	bata	até	enjoar.	Trezentos	quilômetros
(virtuais)	por	hora,	vai,	corra	mais,	vai	que	dá,	não	deu.	O	carro
voa	em	slow	motion	pelo	céu	do	autódromo	numa	bola	de	fogo.
Quer	começar	uma	nova	corrida?	Clique	em	OK.
Mas	simuladores	não	foram	feitos	só	para	destruir.	Há	alguns
construtivos,	também.	Refiro-me	aos	tamagoshi,	os	bichinhos
virtuais	que	invadiram	o	mercado	e	viraram	mania
internacional.	Tamagoshi	são	computadores	extremamente
simples,	instalados	em	brinquedos	fofinhos	e	equipados	com
um	simulador	de	ser	vivo.	Por	meio	dele,	multidões	de	crianças
e	adolescentes	tiveram	a	oportunidade	de	cuidar	de	um	ser	que
dependia	deles.	Uma	geração	inteira	teve	sua	primeira	sensação
de	maternidade/paternidade	virtual.
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Simuladores	permitem	que	cada	um	de	nós	realize	experiências
impossíveis	de	viver	no	mundo	real.	Infelizmente	ninguém
estuda	direito	essas	possibilidades	terapêuticas	a	fundo.	Cada
desajustado	deste	mundo	poderia	ter	seu	simulador	sob
encomenda.	Terroristas	em	potencial	explodiriam	planetas
inteiros	sem	machucar	ninguém.
Enquanto	eles	brincam,	nós	estamos	a	salvo.
O	Panorama	em	2015:
A	onda	dos	tamagoshi	se	espalhava	no	final	de	1997.	Eu	fui
sincero	ao	demonstrar	minhas	dúvidas	com	essa	teoria:	saturar
uma	pessoa	com	seu	próprio	instinto	agressivo	pode	ajudar	a
controlar	seus	impulsos	destrutivos?	Depois	me	toquei	que
estava	inconscientemente	me	inspirando	no	repugnante
“método	Ludovico”,	do	livro	(de	Anthony	Burgess)	e	filme	(de
Stanley	Kubrick)	Laranja	Mecânica	(“A	Clockwork	Orange”).
Nele,	o	personagem	Alex	(Malcom	McDowell)	é	obrigado	a
visualizar	situações	de	violência	até	se	enjoar	delas.	Hoje	essas
pesquisas	são	parte	da	rotina	científica.
	
Um	sumério	escreve	no	barro	do	Tigre
1997
De	vez	em	quando	dá	uma	tremenda	preguiça	de	escrever,	não
dá?	O	cursor	fica	piscando	na	tela	em	branco	por	longos
minutos	e	nos	julgamos	vítimas	de	um	brutal	esforço	criativo.
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Na	sua	próxima	crise	de	criatividade,	desligue	o	computador.
Na	escuridão	do	seu	monitor	talvez	você	consiga	ver	a	sombra
de	um	sumério	sujo	de	lama	no	vale	da	Mesopotâmia.
No	barro	do	rio	Tigre,	o	homem	de	5000	anos	atrás	grava
imagens.	Cada	desenho	que	ele	risca	tem	um	significado,	e	esse
é	o	princípio	da	linguagem.	Assim	se	registrava	a	História	em
3000	a.C.	Dois	mil	anos	depois	os	fenícios	inventaram	um
sistema	de	comunicação	baseado	em	sinais	com	sons	próprios.
Os	gregos	aprimoraram	essa	forma	de	linguagem.	Os	romanos
abandonaram	em	parte	os	formões	e	os	martelos.	Passaram	a
escrever	com	uma	palha	molhada	em	tinta	sobre	um	vegetal
chamado	papiro.	Bem	mais	prático.
Aí	a	Igreja	Católica	Romana	decide	registrar	sua	doutrina	por
escrito.	No	século	6	d.C.	um	teólogo	espanhol	dá	um	grande
salto	tecnológico	e	inventa...	a	pena	de	ganso	(afiada	na	ponta).
A	pena	permaneceu	a	forma	básica	de	escrita	por	nada	menos
que	1.300	anos.
O	século	18	muda	tudo.	Além	de	uma	revolução	cultural,	traz
os	meios	para	registrá-la:	o	papel,	o	lápis	e	os	primeiros
modelos	de	caneta	com	ponta	de	metal.	De	repente,	num
intervalo	de	apenas	catorze	anos,	surgem	duas	invenções	que
mudam	a	história	da	escrita.	A	primeira	é	a	caneta	com
depósito	próprio	de	tinta	-	a	caneta	tinteiro.
A	outra	grande	mudança	começa	em	1829,	quando	é	patenteada
a	primeira	máquina	mecânica	de	escrever	de	tipos	móveis.	Seu
design	vai	se	aperfeiçoando,	até	que	em	1873	é	lançada	a
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primeira	Remington.	É	a	base	da	moderna	máquina
datilográfica.	Um	grande	salto	para	a	humanidade.	Em	1925	a
IBM	lança	a	primeira	máquina	de	escrever	elétrica.	Um	motor
passa	a	poupar	uma	parte	do	esforço	muscular	humano	—	como
mudar	de	linha,	voltar	ao	início	da	página,	tirar	o	papel	do	rolo
etc.
Nessas	máquinas,	qualquer	correção	resultava	em	tanta	sujeira
no	papel	que	ficava	bem	mais	simples	jogar	fora	e	começar
tudo	de	novo	numa	folha	em	branco.	Essa	permanente
possibilidade	de	desastre	funcionava	como	um	freio	em
qualquer	processo	criativo.
Religue	o	seu	computador.	Lá	está	o	cursor	piscando	no
monitor	em	branco.	Com	o	computador	você	escreve	o	que
quer,	apaga	o	que	quer,	produz	várias	versões	do	mesmo	texto,
corrige	tudo	automaticamente,	insere	ilustrações,	muda	a
tipologia,	imprime	a	laser	ou	envia	para	o	outro	lado	do	mundo
em	questão	de	minutos.	Escrever	virou	uma	grande	moleza.
Foi	pensando	no	sumério	chafurdando	na	lama	da	Mesopotâmia
que	eu	resolvi	tomar	vergonha	na	cara	e	escrever	esta	coluna	de
uma	vez.
O	Panorama	em	2015:
Comecei	minha	carreira	com	máquinas	de	escrever.	Escrevi
centenas	de	artigos	e	capítulos	de	novelas	corrigindo	erros	com
uma	tintinha	branca.	Ou	fazendo	sanduíches	de	papel	com	papel
carbono.	É	uma	das	razões	para	valorizar	tanto	o	computador.
Aliás,	a	revista	The	Economist	publicou	em	janeiro	de	2013	um
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curioso	artigo	sobre	o	papel	carbono.	Ele	sobrevive	em	algumas
burocracias	infernais	-	como	na	Rússia.	Descobriram	outra
utilidade	para	ele:	marcar	o	desenho	na	pele	do	cliente	antes	da
tatuagem	definitiva.	Ah,	sim,	e	os	dentistas	ainda	usam	carbono
para	demarcar	locais	na	obturação	que	precisem	de	um
lixamento.
	
Correio	eletrônico	sentimental
1997
O	correio	eletrônico	(em	forma	de	e-mail	e	cc:Mail)	junta	as
vantagens	da	palavra	escrita	às	facilidades	da	palavra	falada.
Como	se	escrevesse	uma	carta,	você	é	obrigado	a	elaborar
melhor	a	sua	lógica	para	transmitir	o	que	quer.	Seus
sentimentos	podem	ficar	mais	claros.
É	claro	que	o	e-mail	reflete	a	personalidade	de	quem	o	escreve.
Um	imbecil	vai	ser	um	imbecil	grunhindo	numa	caverna	ou
usando	um	celular	digital.	Mas	o	correio	eletrônico	permite	a
quem	tem	algo	a	dizer	que	se	expresse	com	mais	clareza	e
criatividade.
Pela	sua	própria	natureza,	o	correio	eletrônico	pode	inspirar	um
relacionamento	bastante	íntimo	entre	duas	pessoas.	Seja	entre
amigos,	amantes,	parentes	ou	colegas	de	infância,	o	e-mail	tem
uma	capacidade	ainda	não	explicada	de	abrir	o	coração	de	seus
usuários.	E	de	unir	pessoas	com	os	mesmos	interesses	ao	redor
do	mundo.
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Ficou	mais	prático	achar	a	sua	tribo.	Goste	de	carros	antigos	ou
de	engenharia	genética,	está	fácil	encontrar	gente	interessada	no
que	você	gosta.	Num	desses	fóruns	(que	reunia	fãs	de	um	antigo
seriado	de	TV)	conheci	Nancy,	moradora	de	Victoria,	na	costa
canadense	do	Pacífico.
A	princípio,	trocamos	informações	sobre	o	seriado	em	si.	Logo
entramos	no	terreno	pessoal	—	dois	quase	antípodas,
“conversando”	por	escrito	todos	os	dias.	Em	uma	semana	e
meia	de	mailing	diário,	Nancy	já	estava	me	contando	alguns
detalhes	sobre	sua	vida	conjugal	em	crise.	Eu,	por	outro	lado,
comecei	a	desabafar	com	ela	minhas	apreensões	meio
paranoicas	sobre	os	males	da	próstata	—	um	papo	mais	que
íntimo	que	costumo	ter	unicamente	com	meu	urologista.
Em	duas	semanas	nasceu	entre	nós	algo	mais	que	simples
curiosidade.	A	gente	já	sentia	falta	um	do	outro,	se	um	de	nós
falhasse	na	correspondência.	Nosso	relacionamento	não	tinha	a
agressividade	intrusiva	de	um	telefone	tocando	durante	o	jantar.
Nancy	escrevia	quando	queria.	Eu	lia	sua	mensagem	quando
podia.	E	respondia	quando	dava.
De	repente	sutis	fantasias	começaram	a	rondar	minha	troca	de
mails	com	Nancy.	Um	não	conhecia	a	cara	do	outro.
Inevitavelmente	um	rosto	imaginário	começa	a	se	materializar.
Aquela	mulher	vivendo	a	meio	caminho	do	círculo	Ártico
estava,	na	época,	mais	próxima	de	mim	do	que	qualquer
vizinha.	A	amizade	durou	pouco	—	menos	de	um	mês.	Mas	foi
intensa,	rápida	e	fulminante.
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Porque	via	e-mail	você	não	vê	o	corpo	da	pessoa,	apenas	sua
mente.	E,	por	trás	da	mente,	revela-se	aos	poucos	a	sua	alma.
Alma	digitada,	formatada,	transformada	em	Kbytes	seguindo
pela	linha	telefônica	num	fluxo	pessoal	e	inconfundível.
O	Panorama	em	2015:
No	final	de	1997	o	e-mail	ainda	não	era	o	método	padrão	de
comunicação	que	se	tornaria	com	o	tempo.	O	CC:mail	foi	uma
forma	mais	primitiva	de	correio	eletrônico	baseada	em
linguagem	DOS.	Nessa	curta	amizade	com	Nancy	estava	a
semente	do	que	aconteceria	no	futuro	próximo:	o	fenômeno	das
redes	sociais.
	
Ruídos,	chiados	e	assobios	em	estéreo
1998
Final	de	campeonato.	Seu	time	está	em	campo.	No	carro,	você
acompanha	o	jogo	pela	sua	emissora	AM	favorita	com	o
coração	aos	saltos.	O	locutor	se	esgoela.
“...a	bola	é	dividida	no	meio	de	campo,	o	atacante	encontra	a
defesa	adversaria	desguarnecida	e	vai	sair	o	gol!	Não	pode
bobear!	Olha	aí	o	sensacional	ataque	do	ffffsffsfxxxzzzzzzzz...”
Você	fica	sem	saber	de	quem	foi	o	ataque,	já	que	um	ônibus
parou	ao	lado	do	seu	carro,	e	a	AM	sumiu	do	ar.	Longos
segundos	de	suspense.	O	ônibus	se	afasta	e	a	voz	do	locutor
retorna:
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“...goooooooooooooollllllll...	Mas	que	golaço!	Gol	que	define	o
campeonato!	Beleza	pura!	Assim	é	que	eu	gosto!	Tudo	começou
numa	confusão	no	meio	do	campo,	que	gerou	um	contra-ataque
fulminante	culminando	nessa	pintura	de	gol	do	time	do
xxxxxxxxxxxxxxffxfzzz...”
Você	acaba	de	entrar	num	túnel.
Numa	época	em	que	a	TV	apresenta	uma	grande	inovação
tecnológica	por	semana,	o	rádio	parece	ter	puxado	o	freio	de
mão	lá	atrás.	É	basicamente	o	mesmo	há	décadas.	Ouvir	rádio
AM	numa	cidade	como	São	Paulo	está	—	perdão,	leitores	—
um	saco.
Você	é	obrigado	a	passear	com	o	radinho	dentro	da	sua	própria
casa,	procurando	uma	recepção	aceitável.	Vira	o	receptor	de	um
lado	para	o	outro,	encosta	na	janela.	E	tudo	o	que	sai	dele	são
ruídos,	chiados	e	assobios.	Algumas	FMs	ainda	pegam	bem.
Mas	a	maioria	delas	é	apenas	outra	coleção	de	ruídos,	chiados	e
assobios.	Só	que	em	estéreo.
O	rádio	morreu,	então?	Não.	Mas	depender	das	velhas	AM/FM
tem	cada	vez	menos	sentido.	Usando	uma	tecnologia	chamada
RealAudio,	emissoras	de	rádio	estão	mudando	sua	história	e
transmitindo	seus	sinais	pela	internet.
Uma	das	maiores	mudanças	está	acontecendo	em	termos
geográficos.	Emissoras	FM	transmitem	basicamente	para	as
cidades	de	origem.	Emissoras	AM	alcançam	regiões	de	200	a
300	quilômetros,	com	qualidade	precária	de	som.
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Na	internet	não	existem	distâncias.	Você	pode	estar	em	Cuiabá
ouvindo	uma	FM	alternativa	italiana	como	se	morasse	em
Milão.	Já	o	brasileiro	em	viagem	por	Marrocos	ou	pelo	Pacífico
Sul	pode	captar	a	AM	de	Recife	ou	Porto	Alegre.	Estabelece-se
uma	espécie	de	teoria	da	relatividade	geográfica.	Você	está	aqui
como	se	estivesse	lá,	e	lá	como	se	estivesse	aqui.
PS	—	Quanto	ao	campeão	do	jogo,	não	poderia	ser	outro	senão
o	glorioso	ffffzzzszxxxxxxxz...
O	Panorama	em	2015:
Dezoito	anos	depois	desse	texto,	NADA	mudou	no	rádio
brasileiro.	Uma	possibilidade	de	grande	avanço	de	qualidade
poderia	vir	com	a	digitalização.	Foi	criada	uma	comissão	para
estabelecer	o	padrão	digital	do	rádio	brasileiro,	o	que	já	seria
um	enorme	avanço.	A	comissão	discutiu,	testou	3	sistemas
(americano,	europeu	e	japonês),	foi	desfeita.	E	não	se	tocou
mais	no	assunto.	Permanecemos	nos	mesmíssimos	chiados	e
assobios	da	AM	e	da	FM.	Para	compensar	essa	imobilidade
nacional,	o	rádio	se	estabeleceu	de	vez	na	internet.	Meu
receptor	básico	hoje	é	um	aplicativo	chamado	TuneIn.	Com	ele,
posso	cozinhar	meu	almoço	em	São	Paulo	ouvindo	a	Jazz	Radio
96.4	de	Monte	Carlo,	Mônaco.
	
Olhos	para	enxergar	o	mundo	inteiro
1998
Em	verdade	vos	digo:	estes	olhos	que	a	terra	há	de	comer	(se
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não	me	cremarem)	veem	coisas	que	outros	mortais	não	veem.
Esses	olhos	injetados	de	sangue	hoje	viajam	pelo	mundo	sem
que	eu	saia	do	lugar.	E	assim	se	faz.
São	16h32	em	Auckland,	e	um	grande	cargueiro	está	sendo
rebocado	em	Davenport.	Ao	fundo,	a	grande	torre	de	TV	parece
ter	sido	espetada	na	maior	cidade	da	Nova	Zelândia	por
civilizações	intergalácticas.
Mas	agora	são	19h35	e	meus	olhos	pouco	enxergam	do	Vale
Sorrento	de	San	Diego,	Califórnia.	Duas	luzes	vermelhas
piscam	no	escuro	das	montanhas.	E	na	quinta	piscada	meus
olhos	se	ofuscam	com	o	sol	que	acabou	de	nascer	em	Vaalimaa,
Finlândia.
À	minha	frente,	uma	frota	de	caminhões	mistura	seus	faróis
altos	ao	clarão	do	sol.	Seus	motoristas	esperam	a	vistoria	dos
guardas	da	fronteira.	Atrás	dos	caminhões	está	a	Finlândia.	À
frente,	a	fronteira	da	Rússia.	O	primeiro	caminhão	acelera	e
avança	para	o	território	russo,	mas	meus	olhos	já	não	o	veem.
Pois	se	o	sol	está	nascendo	no	mar	Báltico,	está	se	pondo	no
Havaí.	E	eu	me	delicio	com	as	cores	que	se	refletem	nas	ondas
que	quebram	na	areia	de	O’ahu.	Gaivotas	flutuam	ao	vento,	e	ao
vento	flutua	meu	olhar.
Que	agora	descobre	que	o	dia	ainda	não	nasceu	em	Berna,	na
Suíça.	As	luzes	permanecem	acesas	no	Café	BIT,	mas	a	banca
de	jornais	ainda	não	abriu	as	portas.	Um	casal	agora	está	saindo
do	Café	e	...	o	que	esse	homem	está	fazendo	com	a	mulher?!
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Nunca	pude	saber,	pois	em	seguida	meus	olhos	observaram	as
nuvens	que	cobrem	o	Monte	Fuji,	no	Japão.	Enquanto	o	cume
está	obscurecido,	o	sol	do	Pacífico	ilumina	os	veios	de	neve	que
correm	pelo	seu	sopé.	Agora	o	monte	sagrado	dos	japoneses	já
não	preenche	o	meu	olhar.	São	09h50	na	base	australiana	de
Dawson,	e	eu	testemunho	o	verão	no	continente	antártico.
Guindastes,	chaminés,	embarcações	e	cinco	homens
encapotados	encostados	a	um	container	suam	ao	“calor”	de	zero
grau.
Não	é	preciso	ser	nenhum	místico	iluminado	para	percorrer
tantos	lugares	tão	distantes	quase	ao	mesmo	tempo.	Seus	olhos
precisam	apenas	de	um	computador	conectado	com	a	internet.
Centenas,	milhares	de	camerazinhas	estão	espalhadas	pelo
mundo,	à	nossa	disposição.
O	que	significa	isso	tudo?	Uma	espécie	de	Big	Brother	ao
contrário.	Crescemos	na	suposição	de	que	um	dia	câmeras	de
TV	iriam	controlar	cada	aspecto	de	nossas	vidas	para	um
governo	totalitário.	Pelo	contrário:	de	dentro	de	casa	você
observa	o	mundo.	Existem	câmeras	em	Kobe,	Japão	(para	o
caso	de	um	novo	terremoto),	câmeras	em	restaurantes	italianos,
câmeras	em	estacionamentos	no	Vale	do	Silício.	E	um	dia	quem
estiver	na	internet	terá	uma	câmera	no	alto	de	seu	monitor	ou
apontada	para	seu	próprio	quintal.
E	em	verdade	vos	digo:	nesse	dia,	meus	olhos	serão	seus	olhos
e	ninguém	terá	mais	nada	a	esconder.	E	assim	será.
O	Panorama	em	2015:
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Nessa	coluna	eu	lancei	um	conceito	que	repetiria	e	atualizaria
nos	anos	seguintes:	o	do	“big	brother	ao	contrário”.	Nunca	mais
deixaria	de	ficar	espantado	de	poder	observar	o	mundo	sem	sair
a	cadeira.	A	princípio	de	webcams	fixas.	A	partir	de	2012,	de
nossos	celulares,	com	transmissão	direta.	A	ideia	de	um	estado
totalitário	dá	cada	vez	mais	lugar	a	uma	sociedade	capaz	de	se
fiscalizar.	Nos	anos	seguintes,	graças	às	câmeras	de	segurança
um	número	crescente	de	criminosos	passou	a	ser	flagrado	e
punido.	Hoje	parece	absurdo	que	em	1998	que	a	frase	“um	dia
quem	estiver	na	internet	terá	uma	câmera	no	alto	de	seu
monitor”	fosse	apenas	uma	tentativa	de	profecia.
	
“Penumbra	quatro	som	praia	surround
sleep”
1998
Sete	horas	da	manhã.	Os	malditos	alto-falantes	ao	redor	da
minha	cama	tocam	um	heavy	metal	de	rachar	a	parede.	Já	pedi
ao	RUAC	que	me	desperte	às	quintas	com	música	renascentista
italiana.	Não	adiantou.
Mas	não	posso	negar	que	muita	coisa	melhorou	em	minha	vida
desde	que	instalei	um	RUAC	standardno	meu	apartamento.
Apesar	da	margem	de	erro	se	negar	a	baixar	dos	8%.	É	muita
coisa.	Assim,	quando	você	dá	uma	ordem	do	tipo	“despertar	7
horas	Renascença	Itália”,	pode	ser	surpreendido	por	um	Iron
Maiden.	Dou	a	ordem	“musica	off	monitores	individuais
todos”.
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O	monitor	1	mostra	o	tempo	lá	fora.	O	monitor	2	exibe	o
resumo	da	CNN.	No	monitor	3	ginastas	sorridentes	se	exibem
em	minúsculos	biquínis	ao	sol	da	Califórnia.	O	monitor	4
desfila	todos	os	gols	do	dia	anterior.	O	monitor	5	lista	as	opções
de	menu	para	o	breakfast.	No	monitor	6	está	a	lista	de	músicas
arquivadas	para	pronta	audição.	Os	3	Patetas	se	esmurram	no
monitor	7.	O	monitor	8	mostra	as	opções	de	voo	para
Vancouver	no	próximo	sábado.
“Monitor	3	metade	monitor	35	metade.	Conectar	Huang-Chu
300	segundos.”
O	cronômetro	começa	a	piscar	seus	grandes	números	em
contagem	regressiva	(299...	298...)	Eu	pulo	da	cama	para	dar
uma	lavada	no	rosto	e	algum	trabalho	ao	sistema	de	reciclagem
de	dejetos.	Ordeno	“chuveiro	32	graus”	mas	o	primeiro	jato
insiste	em	vir	gelado.
“Saco!”	É	apenas	um	desabafo,	mas	o	RUAC	entende	como
“Taco”	e	logo	tenho	um	kit	básico	de	comida	mexicana
fumegando	numa	bandeja	flutuante.	Quando	eu	digo	“tira”,	o
RUAC	começa	a	projetar	um	velho	policial	com	Kirk	Douglas
no	monitor	25.
Finalmente	um	dos	trasponders	é	liberado	e	via	satélite	entro
em	contato	direto	com	Huang-Chu	no	canal	B76.	Eu	só	acordei
às	7	da	manhã	porque	em	Hong	Kong	são	18	horas	e	precisamos
conversar	um	pouco	sobre	os	passos	a	serem	tomados	no	dia
seguinte.
“Conexão	tela	inteira”.	As	garotas	da	Califórnia	desaparecem.
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Meu	sócio	chinês	ocupa	o	monitor	tomando	um	chá.	Trocamos
algumas	rápidas	piadinhas	introdutórias,	e	em	seguida	Huang
me	resume	a	situação	no	mercado	asiático	no	final	daquele	dia.
RUAC	significa	Remote	Universal	Audio	Command,	ou
Comando	Remoto	Universal	por	Áudio.	Você	pode	dar	ordens
faladas,	e	o	computador	central	da	casa	realizará	boa	parte	de
suas	tarefas	cotidianas.	Significa	também	que	você	pode
trabalhar	se	comunicando	com	o	resto	do	mundo	sem	sair	da
cama.
Acerto	detalhes	da	agenda	do	dia	com	meu	associado	chinês.
Logo	ele	estará	se	preparando	para	dormir	e	eu,	me	levantando.
Nos	despedimos.	Fico	pensando	se	assisto	a	um	noticiário,	se
faço	um	pouco	de	virtual	trekking	na	esteira.	Perdido	em	tantas
dúvidas,	volto	a	sentir	aquele	arrepio.	Tento	pensar	no	sentido
da	minha	vida.
Para	pensar	melhor,	ordeno	“penumbra	quatro	som	praia
volume	2	surround	total	sleep	30	minutos”.	Logo	o	RUAC	me
bota	para	dormir	novamente.
O	Panorama	em	2015:
A	primeira	das	colunas	no	estilo	ficção	científica.	O	RUAC	é
um	computador	inspirado	no	gênio	da	lâmpada	de	Aladim.	A
realidade	descrita	na	coluna	tem	um	lado	fascinante:	a
aceleração	de	nossos	sentidos,	a	facilidade	de	realização	de
tarefas,	o	fim	de	certas	rotinas	inúteis.	Por	outro	lado,	a	coluna
traz	uma	realidade	melancólica,	fechada	na	individualidade	e
no	artificialismo.	Nesse	suposto	futuro	é	possível	viver	isolado
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trancado	num	apartamento	sem	ver	a	luz	do	sol	por	tempo
indefinido.	O	computador	fornece	tudo,	até	estímulo	ao	sexo.
Conversar	ao	vivo	com	um	sócio	em	Hong	Kong	se	tornaria
algo	corriqueiro	a	partir	de	2003	com	o	Skype.	Em	2015	já
temos	uma	espécie	de	projeto	de	“RUAC”	em	cada	celular	com
serviços	por	voz.
	
A	guerra	dos	browsers
1998
Sabe	como	é:	o	computador	do	cunhado	é	sempre	melhor	que	o
nosso.	E	lá	estava	eu	naquele	domingão	tentando	disfarçar
minha	inveja	com	o	super	computador	do	meu	cunhado
Claudio,	observando	resignado	seu	novo	e	poderoso	hardware.
Foi	quando	observei	um	ícone	diferente	no	desktop.	Era	um
novo	browser.
Gentilmente,	meu	cunhado	me	passou	o	novo	programa	num
único	disquete	embalado	em	elogios.	Fiquei,	é	claro,
desconfiado	—	o	quão	bom	pode	ser	um	navegador	de	1.377
kB?	Botei	no	diretório	Temp,	dei	dois	cliques.	No	dia	seguinte	a
novidade	já	era	meu	browser-padrão.
O	nome	do	browser:	NeoPlanet.	Instala	fácil.	Importa	os
bookmarks	do	Microsoft	da	Microsoft.	Em	matéria	de
navegação,	é	uma	lancha	veloz	e	de	fácil	manobra.	Consegue
unir	três	características	úteis:	simplicidade,	eficiência	e	beleza.
Tem	design	leve,	claro	e	agradável.	Azulzinho,	futurista,
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amigável.	Prático.
O	NeoPlanet	adotou	o	sistema	de	canais	como	base	de	sua
navegação	em	qualquer	tipo	de	site.	Ele	oferece	uma	série	de	25
canais	pré-programados,	de	News	a	Games,	de	Kids	a	Fashion,
cada	um	deles	com	dezenas	de	opções.	Só	com	eles,	já	se	pode
viajar,	e	muito.	Mas	é	facílimo	criar	e	editar	novos	canais	e
destinações.	Para	que,	por	exemplo,	no	canal	News	você	tenha
uma	seção	de	publicações	brasileiras,	basta	arrastar	alguns
ícones.
Não	estou	fazendo	propaganda	do	NeoPlanet.	Estou	fazendo
propaganda	do	livre	mercado.	Para	cada	mil	devotos	do	ódio
que	passam	seus	dias	amaldiçoando	Bill	Gates	existe	um
punhado	de	caras	determinado	a	criar	produtos	melhores	que	os
da	Microsoft.	É	o	caso	dos	que	criaram	este	NeoPlanet,	um
browser	muito	mais	avançado	e	satisfatório	que	os	criados
pelos	gigantes	da	Microsoft	e	da	Netscape.
O	NeoPlanet	foi	criado	pela	Bigfoot	International,	de	New
York,	uma	empresa	especializada	em	programas	de
comunicação	em	rede.	O	browser	ainda	é	pouquíssimo
conhecido.	Mas	tem	potencial	para	incomodar	ambos	os	líderes.
Chega	por	fora,	come	pelas	beiradas.	Embalados	pelo
NeoPlanet,	novos	browsers	devem	estar	sendo	criados	neste
momento,	um	melhor	que	o	outro.
O	Panorama	em	2015:
Incrível	o	NeoPlanet	caber	num	disquetinho	de	1,4	Mb	–	o
padrão	de	mobilidade	da	época.	E	a	conexão	de	28.8	kbpm?	Dá
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para	ter	uma	ideia?	Logo	depois	de	escrever	essa	coluna,	o
promissor	NeoPlanet	sumiu.	Surgiram	outras	alternativas	como
o	Opera	e	o	Safari.	O	MS	Explorer	nunca	mais	se	acertou.	O
Firefox	provocou	impacto,	mas	se	perdeu	ao	oferecer	serviços
demais.	Em	2015	o	mercado	está	dominado	pelo	Google
Chrome,	que	é	simples	e	muito	prático.	Afinal,	o	browser	deve
ser	apenas	uma	mídia	e	não	a	atração	principal.
	
Um	carrinho	cheio	de	areia	do	tempo
1998
É	perto	do	meio-dia	e	o	sol	bate	forte	sobre	a	praia	do	Gonzaga,
em	Santos.	O	chapeuzinho	de	palha	não	consegue	proteger	os
olhos	franzidos	do	menino	sentado	na	esteira.	Por	trás	do
garotinho	estão	os	braços	todo-poderosos	de	seu	pai,	já	calvo
antes	dos	30.	A	bela	e	jovem	mãe	faz	uma	careta	pedindo	pressa
ao	fotógrafo.
O	garotinho	de	3	anos	sou	eu.	A	imagem	foi	registrada	em	1956
ou	1957.	Talvez	tenha	sido	minha	primeira	incursão	a	uma
praia.	O	lugar	está	vazio,	só	tem	um	vendedor	de	raspadinha	de
groselha	ao	fundo.	A	areia	do	Gonzaga	está	suja:	bitucas	de
cigarro,	embalagens	de	Ki-Bamba,	garrafas	vazias	de	Cerejinha.
Aos	meus	pés,	um	carrinho	de	mão	volta	à	minha	memória
como	se	nunca	tivesse	saído.	Meu	Rosebud.	Meu	tesouro
afetivo.
Até	outro	dia	tudo	isso	era	apenas	uma	fotinho	preto-e-branco
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amassada	e	descorada	por	quatro	décadas	de	desgaste.	Passei	a
imagem	pelo	scanner	e	por	um	equalizador	gráfico.	O	resultado
agora	ocupa	minha	tela	de	17	polegadas	com	todos	em	seus
preciosos	detalhes.
Tratar	fotos	agora	está	ao	alcance	até	de	um	leigo	como	eu.
Basta	um	scanner	de	150	dólares	e	meia	dúzia	de	cliques	no
mouse.	Recuperei	cenas	da	infância	de	meus	avós	e	do
crescimento	do	meu	filho.	Ao	transformar	velhas	fotos	em
sinais	binários,	elas	podem	ser	copiadas	com	fidelidade,
processadas,	recicladas,	modificadas	e	otimizadas.
Lembro-me	então	do	ditador	soviético	Joseph	Stalin.	O	bigodão
tinha	dois	métodos	para	eliminar	inimigos.	Para	acabar
fisicamentecom	eles,	bastava	um	tiro	na	nuca	ou	umas	férias
forçadas	na	Sibéria.	Para	expulsar	seus	dissidentes	da	História,
os	funcionários	do	Kremlin	realizavam	grosseiros	retoques	a
pincel	nas	fotos	em	que	apareciam.
O	que	faria	o	velho	Stalin	com	um	CorelDraw	ou	um	Photoshop
nos	dias	de	hoje?	Poderia	não	só	apagar	um	inimigo	de	uma
foto,	como	também	incluir	um	novo	amigo	numa	foto	do
passado.	O	que	seria	de	sua	polícia	secreta	equipada	com	redes
de	computadores?	Como	seriam	seus	espiões	munidos	com
laptops	e	câmeras	digitais?
O	que	me	leva	a	pensar	que	hoje,	fim	do	século	20,
computadores	são	inimigos	de	ditaduras.	Não	é	coincidência	o
fato	de	que	as	últimas	tiranias	da	face	da	terra	sejam	nulidades
tecnológicas.	Nem	é	por	acaso	que	a	internet	seja	considerada
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uma	das	principais	razões	para	que	o	regime	tirânico	do	Irã	hoje
trema	nas	bases.
Naquele	dia	de	sol	em	Santos,	eu	nem	imaginava	quem	era
Stalin,	que	tinha	morrido	dois	dias	antes	do	meu	nascimento.
Apenas	tentava	me	defender	do	sol	e	localizar	a	voz	que	dizia
“olha	o	passarinho!”.	Minha	cara	enrugada	foi	captada	por	uma
lente	e	provocou	reações	químicas	numa	película.	Que	um	dia
sofreu	um	banho	de	ácidos	e	se	transformou	numa	imagem
desbotada	num	papel.
Hoje	meu	pai	já	partiu	para	um	upgrade	espiritual.	Minha	mãe,
por	mais	que	tente,	não	entende	como	aquela	foto	amassada
ficou	tão	nítida	no	computador.	Graças	à	era	digital	aquele
momento	na	praia	de	Santos	virou	um	porto	seguro	da	minha
memória.	Posso	até	sentir	o	cheiro	da	maresia	e	a	textura	áspera
do	carrinho	cheio	de	areia	úmida	a	meus	pés.
O	Panorama	em	2015:
Uma	das	colunas	mais	sentimentais.	Até	hoje	fico	espantado
com	o	descaso	provocado	pelo	poder	dos	scanners.	Talvez	seja
meu	instinto	de	historiador	falando	alto.	Mas	dou	cada	vez	mais
valor	a	essas	máquinas	de	recuperação	do	passado.	Que
continuam	baratas,	acessíveis	–	e	mal	usadas.	Melhoraram	com
o	tempo,	mas	permaneceram	tecnicamente	limitadas.	Eu	não
registraria	nenhuma	novidade	de	destaque	nesse	campo	até	o
final	de	2012.
	
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Slots	para	meu	cérebro
1999
Não	sei	exatamente	quantas	horas	passo	por	dia	no	computador.
Só	sei	que	se	pudesse	passaria	mais.	Como	projeção	de	nosso
universo	mental,	essa	máquina	é	um	prato	cheio	para	confusão
entre	realidade	e	fantasia,	entre	mundo	virtual	e	real	etc.	Os
psicanalistas	não	estão	preparados	para	isso.
O	fato	é	que	estou	lesado	o	suficiente	para	ter	algumas	ideias
esquisitas.	Gostaria	de	aproveitar	certos	recursos	do	meu
computador	na	minha	vida	real.	Se	ele	pode,	por	que	eu	não?
Cinco	exemplos:
1.	Desfragmentador	de	estante
Cada	vez	que	vejo	o	Windows	colocar	meus	arquivos	em
ordem,	rapidinho,	aqueles	tijolinhos	se	encaixando	à	perfeição,
eu	olho	com	inveja	para	minhas	estantes.	Fitas	cassete	sem
caixa.	Controles	remotos.	Velhas	fotos.	Contas	a	pagar.	Contas
jamais	pagas.	Folhetos	de	pizzarias.	O	copo	de	vinho	e	sua
mancha.	O	print	do	e-mail	do	Leonel.	Eu	preciso	de	um
desfragmentador	de	estantes.	Alguém	ou	algo	que	dê	ordem	ao
caos	em	alguns	minutos,	informando	passo	a	passo	o	grau	de
desfragmentação.	86%...	83%...	77%...
2.	Memória	expansível
Esqueci	de	pagar	o	plano	de	saúde	da	minha	mãe	(de	novo!).
Esqueci	de	arranjar	mais	um	orçamento	para	o	conserto	do
carro.	Esqueci	o	nome	do	cara	da	companhia	de	seguros	que	me
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pediu	esses	orçamentos.	Esqueci	de	comprar	a	ração	da	Mary.
Esqueci	de	marcar	exame	no	fisioterapeuta.	Esqueci	de	escrever
a	coluna	da	Info.	Esqueci	de	tomar	remédio	para	a	memória.
Preciso	de	slots	em	meu	cérebro,	placas	de	expansão	física	de
memória	ROM	urgente.	Eu	preciso!	Preciso	do	que,	mesmo?
3.	Auto-Attachment
De:	DAGOMIR
Para:	PAULA
Assunto:	Camiseta
“Paulinha,	tudo	bem?	Como	estão	as	coisas	por	aí	em	Milão?
Preciso	comprar	uma	camiseta	da	seleção	italiana	para	o	meu
filho.	Reserve	uma	mesa	na	sua	cantina	favorita.	Sigo	atachado.
Beijos,	D.”
4.	VirusScan
E	se	a	gente	pudesse	acordar	com	prompt	automático	antivírus?
“Seu	sistema	está	com	um	vírus	de	laringite	pronto	a	entrar	em
ação.	Proceder	a	eliminação	de	vírus?	OK?	Confirma
eliminação	de	vírus?	OK?	Não	se	esqueça	de	atualizar	a	lista	de
vírus	detectáveis	no	centro	de	saúde	mais	próximo.”
5.	Disc	Cleanup
Com	tanta	coisa	para	me	preocupar,	por	que	não	consigo	me
livrar	desse	refrão	do	último	CD	do	James	Brown?!	“You	got
that	funk	on	ah	roll...”	Um	limpador	de	memória	colocaria	as
coisas	momentaneamente	inúteis	que	grudam	na	cabeça	num
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diretório	reaproveitável.	O	refrão	do	James	Brown,	um
monólogo	do	Patolino,	aquela	morena	esguia	do	boliche,	as
regras	oficiais	do	futebol	de	botão...	Tudo	isso	seria	suspenso
para	que	a	nossa	cabeça	funcionasse	exclusivamente	no	mundo
das	coisas	práticas	e	urgentes.	Quando	a	parte	mais	chata	da
vida	desse	um	tempo,	seria	só	recuperar	os	arquivos	desejados.
“You	got	that	funk	on	ah	roll”.
O	Panorama	em	2015:
1-Desfragmentador	de	estante:	ainda	seria	útil,	mas	com	tantos
serviços	digitais	online	e	on	demand,	minhas	estantes	estão
cada	vez	mais	vazias	de	CDs,	DVDs,	BluRays	e	livros	de	papel.
2-Memória	expansível:	eu	quero!	3-Auto-attachment:	também
quero!	4-VirusScan:	estamos	nos	aproximando	disso	no	mundo
real.	5-Disc	CleanUp:	cada	vez	mais	necessário.	6	-	Minha	mãe
Dirce	faleceu.	7	-	Nossa	cachorrinha	Mary	também.	8	-	Paula
foi	uma	colega	de	redação	na	editora	Abril.
	
Pesadelo	púrpura
1999
Eu	estava	sonhando	quando	escrevi	isso,	me	desculpe	se	parece
um	plágio.	Mas	hoje	quando	acordei	parecia	o	dia	do	Juízo
Final.	O	céu	estava	todo	púrpura	e	tinha	gente	correndo	para
todo	lado	tentando	fugir	da	destruição.
23:59	do	dia	31	de	dezembro	de	1999.	Os	champanhes,	as	uvas,
as	lentilhas,	as	crianças	correndo,	os	fogos.	Meia-noite.
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Blecaute	nas	maiores	concentrações	humanas	do	planeta.	A	luz
não	volta	em	meia	hora.	Nem	em	uma	hora.	Nem	em	um	dia.
Nem	em	um	mês.	Centrais	telefônicas,	idem.	Aeroportos.
Hospitais.	Prisões.	Emissoras	de	TV.	Computadores	das
centrais	elétricas	acham	que	acabaram	de	entrar	no	ano	de
1900.
Você	pensa	em	descer	os	27	andares	do	seu	prédio	a	pé,	com	a
lanterna.	Mas	a	quitanda	da	esquina	jamais	se	abrirá	aos
clientes	de	novo.	Nem	precisa	abrir:	seus	cheques	viraram	papel
pintado.	O	bug	feriu	de	morte	o	sistema	financeiro.	O	peru	vai
se	estragar	em	breve,	assim	como	tudo	o	que	é	perecível,	pois
sem	eletricidade	a	geladeira	não	funciona.	Você	tem	alguns
enlatados	em	casa	que	talvez	durem	uma	semaninha.	A	água	do
filtro,	as	cervejas	e	os	refrigerantes	talvez	resistam	um	pouco
mais.
Lá	embaixo,	os	primeiros	bandos	de	vândalos	já	atacam	os
infelizes	apanhados	na	rua.	Você	ouve	à	distância	as	sirenes	de
viaturas	que	vagueiam	pelas	ruas	escuras	tentando	assustar	os
marginais	-	que	serão	nossos	futuros	novos	governantes.	Não
adianta	discar	para	o	190.	Não	adianta	escrever	para	os	jornais
denunciando	que	ninguém	atendeu	no	190.	Os	jornais	não	mais
chegarão	às	bancas.
Nada	de	bom	acontece?	O	sistema	do	Pentágono	funcionou	à
perfeição	(ufa!).	Mas	o	alívio	dura	pouco:	os	capengas
computadores	da	defesa	russa	também	acreditam	que	estamos
no	réveillon	de	1900.	E	entram	automaticamente	em	estado	de
alerta	máximo,	redefinindo	seus	alvos	de	forma	aleatória	ao
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redor	do	mundo.
Como	o	Artista-e-Quem-Sabe-Profeta-Antigamente-Conhecido-
Como-Prince,	eu	estava	sonhando	quando	escrevi	isto,	e	me
desculpe	se	peguei	pesado	demais...	Torço	para	que	nada	de
pior	aconteça.	Rezo	por	outra	chance	—	que	não	merecemos.
Dizem	que	a	festa	de	2000-zero-zero	vai	acabar	—	ups!	—	já
acabou.Então	eu	vou	festejar,	pois	conseguimos	chegar	a	1999.
Se	você	não	quer	entrar	na	festa,	nem	se	preocupe	em	bater	na
minha	porta.	A	vida	é	uma	festa,	e	festas	não	foram	feitas	para
durar.
O	Panorama	em	2015:
O	que	seria	da	literatura	apocalíptica	se	não	fosse	a	paranoia?
Pelo	menos	o	bug	do	milênio	tinha	alguma	base	científica.	Pior
foi	a	crença	do	calendário	interrompido	dos	maias.	Essa	coluna
ficou	parecendo	um	dos	filmes	(ruins)	do	diretor	Roland
Emmerich,	tipo	2012.	O	primeiro	parágrafo	(e	o	último)	são
traduções	livres	da	musica	1999,	do	Prince.
	
Sem	medo	de	ser	nerd
1999
NERD:
“Estudante	superaplicado;	pessoa	dedicada	obsessivamente	a
uma	atividade	não-social”	(Random	House	Historical
Dictionary	of	American	Slang)
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“Pessoa	insípida,	maçante,	tediosa,	estudioso,	geralmente	do
sexo	masculino”	(NTC’s	Dictionary	of	American	Slang).
Se	existe	uma	característica	que	eu	não	admito	em	seres
humanos	é	o	preconceito.	De	nenhum	tipo.	Eu	não	rio	de	piada
de	preto,	de	judeu,	de	árabe,	de	branco.	Piada	de	loira,	pra	mim,
se	enquadra	na	lei	antirracismo.
Por	isso	me	incomoda	ouvir	por	aí	frases	do	tipo	“leitor	da	Info
é	tudo	nerd”.	Sugere	que	os	leitores	dessa	revista	são	todos
branquelos,	usam	lentes	fundo	de	garrafa,	vestem	camisa	de
mangas	curtas	abotoadas	no	colarinho,	espetam	uma	dúzia	de
canetas	no	bolso,	são	garotões	chatos,	entediantes,	bobos	e	não
ganham	mulheres.	As	quais,	segundo	esse	mesmo	preconceito,
não	lêem	a	Info.
Nerds	existem	e	aos	montes,	assim	como	há	playboys,	peruas,
mauricinhos,	bad	boys,	marombeiros	e	tantos	outros
agrupamentos	humanos	reunidos	em	expressões	perigosamente
simplistas.	No	meio	dessas	classificações,	a	palavra	nerd	não	é
das	mais	hostilizadas.	Considerados	inofensivos,	os	nerds	são
vistos	por	outras	tribos	com	uma	certa	condescendência.	São
meio	gênios,	meio	trouxas,	e	quando	vão	ao	banheiro	leem
manuais	de	placas-mãe.
Quase	dois	anos	de	coluna	na	Info	me	fizeram	jogar	esse
preconceito	onde	ele	merece	ser	jogado:	no	lixo.	A	fauna	que	lê
essa	revista	é	variada	e	rica.	Claro	que	tem	uma	boa	parcela	de
leitores	mais	atenta	aos	aspectos	técnicos	da	computação	—	e
isso	não	os	transforma	em	nerds.	Melhor	ainda:	e	daí	se	forem
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autênticos	nerds?	Qual	o	problema?
E	então	me	lembro	de	um	fascinante	homem	chamado	Timothy
Leary,	que	trocou	uma	promissora	carreira	acadêmica	pelo
terreno	desconhecido	do	LSD.	Perguntaram	a	Leary	se	achava
que	durante	os	anos	90	o	ácido	lisérgico	ainda	deveria	ser
distribuído	a	quem	quisesse	explorar	novos	territórios	da
própria	consciência.	O	psicólogo	respondeu	que	não	era	mais
preciso,	pois	o	LSD	já	tinha	um	substituto:	o	computador.
O	Panorama	em	2015:
Nerds	foram	promovidos	a	cargos	mais	dignos	na	cultura	pop.
Símbolo	disso	é	o	enorme	sucesso	da	série	de	TV	The	Big	Bang
Theory.	Outro	aspecto	que	evoluiu	foi	o	florescimento	cada	vez
maior	de	mulheres	“nerds”,	orgulhosas	da	própria	nerdice.	Em
2014	os	nerds	foram	os	heróis	de	uma	novela	das	sete	na	rede
Globo,	G3r4ção	Br4s1l.
	
O	laptop	de	Sigmund	Freud
1999
Não	consigo	convencer	minha	terapeuta	de	que	existe	uma
conspiração	real	contra	minha	pessoa.	Conspiração	tão	vasta
que	envolve	a	própria	terapeuta	-	sem	que	ela	saiba.	Mas	já
consegui	provar	para	ela	que	quem	não	tem	um	computador
ligado	à	internet	virou	uma	ilha.
Ela	resistiu	um	tempo,	mas	depois	descobriu	que	não	há
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paciente	ou	colega	que	já	não	esteja	navegando.	Exemplos	não
faltam.	Uma	de	suas	pacientes,	figura	inteligente	e	bonita,	cheia
de	vida,	arranjou	um	pretendente	num	chat.	E	agora	ele	quer
encontrar	a	mocinha	ao	vivo.	Ela	adoraria,	mas	há	um	detalhe
nessa	love	story:	a	mocinha	declarou	ao	interessado	que	está
“um	pouco	acima	do	peso”.	Na	verdade,	passou	dos	120	quilos.
E	agora?	Ninguém	previu	uma	situação	dessas.	Hoje	em	dia	boa
parte	de	nossa	psique	vagueia	nessa	teia	sem	fim	do	cyberspace.
O	mundo	mudou,	nós	mudamos,	e	nossos	terapeutas	precisam
se	preparar	para	esse	novo	mundo.	Afinal,	computadores	e
psicoterapias	parecem	ter	sido	feitos	um	para	o	outro.
A	revista	Veja	publicou	uma	reportagem	sobre	os	“psicólogos
online”.	Como	sempre,	os	corporativistas	e	conservadores
reagiram	com	uma	mistura	conhecida:	medo	e	inveja.	Se
agarram	aos	dogmas	de	Sigmund	Freud	e	falam	em	nome	dele.
Freud	não	pode	se	defender,	pois	não	tinha	um	laptop	no
consultório.	E	sua	Viena	dos	anos	1920	ainda	não	estava	ligada
à	internet.	Como	supor	de	que	forma	ele	reagiria	a	algo	que	não
conheceu?
Na	história	dos	computadores	existiu	inclusive	uma	terapeuta
virtual	chamada	“Eliza”.	Isso	ainda	no	final	dos	anos	60!	Na
verdade	tratava-se	de	um	“simulador	de	psicólogo”,	um
programa	desenvolvido	no	Massachusetts	Institute	of
Technology	pelo	professor	Joseph	Weizenbaum.
Eliza	basicamente	pedia	ao	paciente	que	falasse	o	que	viesse	à
cabeça.	E	devolvia	algumas	palavras	para	o	“humano”	refletir.
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Aparentemente,	seguia	as	regras	de	livre	associação	do
freudianismo	ortodoxo.	Se	o	usuário	digitasse	a	palavra	“pai”,
Eliza	devolveria	uma	“fale-me	mais	sobre	seu	pai”.	Foi
considerado	um	programa	que	comprovava	na	prática	o	quanto
é	fácil	uma	máquina	fingir	que	é	inteligente.
Dos	tempos	de	Eliza,	em	1966,	para	cá,	tudo	mudou.
Especialmente	pela	presença	da	internet.	Novos	caminhos
podem	ser	tentados	com	mais	imaginação	e	menos	preconceito.
Qualquer	profissional	de	qualquer	área	deveria	encarar	o
computador	como	um	instrumento,	e	não	como	um	possível
rival.	Quanto	antes	se	tocar	disso,	melhor	para	todos	nós.
Quanto	à	conspiração	(na	qual	minha	terapeuta	ainda	não
acredita),	tudo	o	que	posso	dizer	por	enquanto,	é	que	envolve	o
serviço	secreto	do	Vaticano,	a	alta	direção	da	empresa	Nike,
enviados	do	planeta	Ion,	membros	do	governo	mineiro	e,	é
claro,	Bill	Gates.
O	Panorama	em	2015:
Ninguém	que	eu	saiba	tentou	levar	a	sério	uma	sessão	de
terapia	tipo	chat,	com	câmera.	Por	que	não	tentar?	Vejo	por
exemplo	que	o	CVV	–	que	já	salvou	tanta	gente	do	suicídio	–
atende	por	chat	em	horários	limitados.	Mas	a	resistência	às
novidades	tecnológicas	nesses	territórios	acadêmicos	costuma
ser	mais	forte	que	o	normal.
	
Viva	a	reserva	de	mercado!
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1999
Todos	nós	que	usamos	e	gostamos	de	computadores	temos
muito	a	agradecer	aos	governantes	deste	país.	Em	1984	eles
fecharam	o	Brasil	numa	reserva	de	mercado	de	informática.
Muitos	se	opuseram	a	essa	medida	na	época,	mas	depois
acabaram	reconhecendo:	foi	a	decisão	certa!
A	lei	de	reserva	de	informática	possibilitou	a	implantação	de
empresas	genuinamente	brasileiras	logo	no	nascedouro	de	uma
indústria	que	não	para	de	crescer	no	mundo.	O	fato	de	o	Brasil
possuir	hoje	domínio	global	na	área	de	computação	se	deve	a
uma	política	inteligente	e	ousada,	baseada	antes	de	tudo	no
nacionalismo.	Os	países	que	optaram	por	mercados	livres	—
como	os	Estados	Unidos	e	outros	na	Europa	e	Ásia	—	saíram
perdendo.	Só	o	Brasil	triunfou,	graças	à	Lei	de	Reserva	do
Mercado.
Sem	falsos	patriotismos,	podemos	dizer	que	o	planeta	segue	os
protocolos	e	inventos	saídos	de	nossas	universidades	e
institutos	avançados	de	pesquisa.	Estamos	sempre	à	frente	—	e
o	mundo	morre	de	inveja	disso.	Palavras	de	um	executivo
japonês:	“Vocês	têm	as	mais	belas	mulheres,	inventaram	a
caipirinha	e	o	samba,	e	ainda	dominam	o	mercado	mundial	de
computadores.	O	que	mais	vocês	querem?!”
Todos	os	grandes	avanços	da	informática	começaram	em
território	brasileiro.	Os	computadores,	aliás,	eram	máquinas
complicadas	de	operar	até	que	o	goiano	Guilherme	Portaes
criou	o	S.O.B.	(Sistema	Operacional	Brasileiro).	Anos	depois,	o
sistema	evoluiu	para	o	Janelas,mais	gráfico	e	amigável	com	o
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usuário.
Uma	série	de	novos	conceitos	vieram	com	o	sistema	Janelas.	O
preá,	por	exemplo.	Até	então	todos	os	comandos	eram
digitados.	O	preá	facilitou	as	coisas	com	o	conceito	de	“rolar
até	a	flecha	atingir	o	alvo	na	tela	e	então	pressionar	o	botão
esquerdo”.
As	acusações	de	que	Guilherme	Portaes	esteja	monopolizando	a
indústria	mundial	de	discos-flexíveis-contendo-programação-
de-computador	foram	consideradas	injustas	na	sede	da	empresa
em	Fortaleza	(CE).	“Não	somos	monopolistas”,	declarou
Portaes	à	rede	noticiosa	NTC.	“Somos	apenas	os	melhores”.
Acredita-se	que	as	vendas	do	sistema	operacional	Janelas	2000
deverão	bater	todos	os	recordes	anteriores.
Portaes	aproveitou	para	anunciar	seu	novo	computador-portátil-
para-ser-apoiado-no-colo,	o	Tabajara-6000,	e	um	novo	modelo
de	computador-para-o-tampo-da-mesa,	o	Apinagés-500.	Que	a
rival	Jabuticaba	afirma	ser	uma	reles	cópia	de	seu	modelo
Macaxeira,	mais	conhecido	no	exterior	como	Mac.
A	empresa	comandada	pelo	senhor	Portaes	(a	Minúsculamacia)
já	está	anunciando	para	o	próximo	mês	a	mais	nova	versão	do
paginador	de	RedeInterrelacionada,	ou	RedeInter.	A	versão	8,1
do	paginador	“Explorador	da	RedeInter”	conta	com	as
facilidades	da	linguagem	gráfica	Pororoca	e	recursos	de
programação	Catiripapo.
A	Minúsculamacia	está	ainda	com	planos	de	lançar	uma	nova
série	de	jogos-eletrônicos-para-computadores-pessoais	durante
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a	próxima	Festa	do	Divino,	em	Petrolina.	Entre	os	jogos,	um
simulador	de	carro	de	boi	e	a	nova	versão	eletrônica	do	Banco
Estatal	Imobiliário.
O	Panorama	em	2015:
Um	exercício	em	realidade	alternativa.	Tudo	o	que	eu	fiz	foi
imaginar	que	a	estupidez	histórica	conhecida	como	Reserva	de
Mercado	de	Informática	tivesse	dado	certo.	Os	nomes	dos
produtos	e	empresas	são	obviamente	traduções	toscas	dos
originais.	Microsoft,	por	exemplo,	virou	Minusculamacia,	Bill
Gates	se	transformou	em	Guilherme	Portaes	e	assim	por	diante.
Escrevi	isso	como	uma	visão	irônica	de	uma	forma	de	pensar
que	achei	que	estivesse	a	caminho	da	insignificância.	Por
ironia,	em	2015	a	mentalidade	estatista	e	nacionalizante	que
criou	a	política	da	Reserva	de	Mercado	de	Informática	continua
praticamente	a	única	forma	de	pensamento	permitida.	Eu
gostaria	de	ver	o	Brasil	na	vanguarda	da	tecnologia	e	inovação,
sendo	exemplo	para	o	mundo.	Capacidade	para	isso	existe.	É
uma	tarefa	para	as	novas	gerações,	desde	que	rompam	com	essa
prisão	com	o	passado.
	
Procura-se	um	extraterrestre
1999
Ninguém	—	nem	o	mais	genial	dos	escritores	de	ficção
científica,	nem	o	mais	lúcido	dos	profetas	—	poderia	imaginar
que	um	dia	um	cara	normal	como	eu	estaria	procurando	ETs
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dentro	de	casa.
Você	já	deve	ter	ouvido	falar	no	SETI	(sigla	de	Search	for	Extra
Terrestrial	Intelligence).	Ou	Procura	por	Inteligência
Extraterrestre,	que	usa	como	base	de	funcionamento	um
programa	chamado	Boinc.	O	universo	está	cheio	de	sinais	de
rádio,	ecos	de	explosões	cósmicas,	ruídos	perdidos	no	tempo,
tudo	caótico	e	enigmático.
Cabe	ao	SETI	descobrir	alguma	lógica	nessa	barulheira.	Essa
lógica	seria	o	sinal	de	inteligência	e	ordem	no	meio	do	caos.
Quem	assistiu	ao	filme	Contato	sabe	como	é.	Jodie	Foster	passa
semanas,	meses,	anos	em	observatórios	astronômicos
analisando	esses	ecos	do	infinito.	Até	que	um	dia	ela	descobre
um	sinal	claramente	inteligente	e	muda	a	História.
Fora	da	ficção,	o	SETI	enfrenta	um	problema	grave.	Seus
computadores	mal	conseguem	dar	conta	do	monstruoso	volume
de	informação	que	registra.	Ou	seja:	a	mensagem	dos	ETs	pode
já	ter	sido	captada	pelas	gigantescas	antenas	parabólicas	a
serviço	do	SETI,	mas	ainda	não	foi	analisada	e	compreendida.
Pressionado	pelo	permanente	aperto	de	verbas,	o	SETI
encontrou	uma	saída:	contar	com	uma	mãozinha	dos	leigos.	Se
você	também	quer	procurar	ETs	em	casa	(ou	no	escritório),
inscreva-se	no	programa.	Basta	fazer	um	download	de	um
programa	com	pouco	mais	de	700	KB.	Este	programa	entra	em
contato	com	a	sede	do	SETI	e	baixa	no	seu	computador	um
único	segundo	de	registros	de	ondas	de	rádio	captados	pelo
observatório	de	Arecibo,	em	Porto	Rico	(o	mesmo	do	filme
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Contato).
O	meu	primeiro	segundo	foi	o	registrado	em	07:05:47	UTC	do
dia	8	de	janeiro	de	1999.	Os	sinais	captados	nesse	único
segundo,	um	volume	de	informação	equivalente	a	300	KB,
chegaram	no	meu	computador	e	o	programa	passou	a	analisar
cada	pequena	fatia	desses	sons.
Não	ouvi	nada.	Os	sinais	sonoros	são	transmitidos	em	forma	de
gráficos,	que	servem	como	screen	saver	para	seu	monitor.
Ninguém	precisa	interferir.	É	a	sua	CPU	que	fica	analisando
esses	dados	nos	momentos	de	inatividade.	Vários	dados
técnicos	são	projetados,	na	maioria	indecifráveis	(“Frequency
Resolution:	0.288023,	Dopples	Drift	Rate:	-9,9968”).	Os
gráficos	são	hipnotizantes	em	sua	repetição.
A	análise	do	primeiro	bloco	levou	quase	50	horas.	As
conclusões	foram	remetidas	de	volta	ao	SETI	pela	internet.	Eu
recebi	o	segundo	bloco	de	sinais	(registrados	no	mesmo	dia,	às
06:43:04	UTC).	Se	num	desses	blocos	de	dados	analisados
houver	algum	sinal	de	inteligência	extraterrestre,	serei	avisado
por	e-mail.
Procurar	ETs	em	casa	é	tarefa	para	trouxas?	Então	há	muitos	de
nós	espalhados	pelo	mundo.	Em	apenas	uma	semana	de
atividade,	meio	milhão	de	computadores	estava	conectado	ao
SETI,	analisando	dados	que	de	outra	forma	não	conseguiriam
ser	processados.	Quem	sabe	amanhã	super-redes	de
computadores	voluntários	possam	ajudar	a	descobrir	a	cura	para
a	Aids	ou	a	sobrevivência	de	espécimes	em	extinção?
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O	Panorama	em	2015:
O	SETI	passou	por	várias	crises	de	continuidade.	Mas	ainda
funciona	no	mesmo	endereço.	Nunca	captou	qualquer	sinal	de
vida	extraterrestre,	que	eu	saiba.	A	esperança	da	frase	final	se
concretizou.	O	programa	desenvolvido	para	o	projeto	SETI
(chamado	BOINC)	hoje	usa	o	mesmo	princípio	de	computação
coletiva	para	outras	finalidades	que	exigem	análise	em	rede.
Como	a	monitoração	do	clima,	a	coordenação	de	redes
humanitárias,	previsão	de	terremotos,	cura	da	malária,	etc.
	
Alguns	cliques	para	mudar	o	mundo
1999
Outro	dia	li	no	UOL	um	manifesto	assinado	pela	cantora	Rita
Lee	pedindo	o	fim	dos	rodeios.	Imediatamente	mandei	meu
apoio,	porque	sou	contra	qualquer	tipo	de	espetáculo	humano
que	implique	em	sofrimento	para	qualquer	animal.
Não	tenho	nada	contra	as	pessoas	que	gostam	de	se	reunir	em
festas	country.	Mas	esse	business	não	deveria	depender	do	uso
de	animais.	Para	bancar	o	animal	bravio,	touros	mansos	têm
suas	virilhas	apertadas	por	cordas	e	seus	testículos
comprimidos.	Conclusão:	eles	pulam	daquele	jeito	por	causa	da
dor.
Rodeios	podem	substituir	animais	de	verdade	por	touros
mecânicos.	Assim	como	circos	definitivamente	podem
dispensar	tigres,	ursos	e	chimpanzés	para	continuarem
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populares.	O	mais	famoso	circo	do	mundo,	o	Cirque	du	Soleil,
sempre	trabalhou	sem	animais.
Como	Rita	Lee,	abomino	touradas	e	farras	do	boi,	animais	em
circo,	rinhas	de	galo,	luta	entre	pitbulls.	Talvez	por	isso	fui	o
segundo	leitor	a	entrar	no	fórum	contra	o	rodeio,	que	não	parou
de	crescer.	Apenas	uma	minoria	foi	contra	o	manifesto.	O	resto
(uns	90%)	apoiou,	de	um	jeito	ou	de	outro.	Alguns	até
radicalizaram	(tipo	“os	touros	deviam	montar	nos	peões”),	mas
a	grande	maioria	queria	apenas	fazer	alguma	coisa	para	evitar	o
sofrimento	dos	animais.
Como	Rita,	vim	ao	mundo	entre	outras	coisas	para	defender	o
direito	dos	(outros)	animais.	No	fim	dos	anos	80	ganhei	uma
coluna	ecológica	no	jornal	O	Estado	de	São	Paulo.	Escrevi
sobre	a	caça	das	baleias	no	litoral

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