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Problemas Comuns nos Primeiros Meses de vida (II) 1. PROBLEMAS DO UMBIGO DO RECÉM-NASCIDO O cordão umbilical em geral contém duas artérias e uma veia. Os vasos estão funcionalmente fechados alguns minutos após o nascimento, mas estão anatomicamente pérvios até 10 a 20 dias, sendo, nesse período, uma potencial porta de entrada para bactérias. A presença de uma única artéria no cordão umbilical ocorre com relativa frequência, incidindo em 5 a 10 por 1000 nascimentos e em 35 a 70 por 1000 nascimentos gemelares. Cerca de 33% das crianças com artéria umbilical única tem malformações congênitas, sendo a trissomia do 18 uma das mais frequentes. O umbigo do recém-nascido pode facilmente contaminar-se, provocando infecção que, muitas vezes, coloca em risco a vida da criança. Por isso, são de extrema importância certos cuidados com o coto umbilical, como manipulação em condições assépticas no momento do nascimento e o uso de antissépticos químicos locais (p. ex., clorexidina ou álcool a 70%) para reduzir a contaminação bacteriana, sobretudo por estafilococo. A queda do coto umbilical costuma ocorrer entre a primeira e a segunda semana de vida. A permanência do coto além de 30 dias em geral está associada a problemas de função dos neutrófilos ou intensa contaminação bacteriana. Após a queda do coto umbilical, deve-se seguir limpando o fundo da cicatriz umbilical com água e sabão por ocasião do banho, removendo crostas e secreções, para diminuir, dessa forma, a população bacteriana. Frequentemente, forma-se nesse local o granuloma umbilical, que é uma lesão vegetante, úmida, de cor rosa- pálido. O granuloma desaparece se tratado com nitrato de prata (solução a 10% ou em bastão). A infecção do umbigo ou onfalite é uma infecção potencialmente grave, que exige tratamento hospitalar. Os germes causadores dessa infecção são, com frequência, o estreptococo beta-hemolítico e o estafilococo. Deve-se suspeitar de onfalite em um recém-nascido sempre que houver sinais de inflamação ao redor do umbigo, com edema, hiperemia e calor local, mais sinais sistêmicos de infecção. Existem outras situações raras que devem ser excluídas quando se observa drenagem de alguma secreção pelo coto ou cicatriz umbilical, como ducto onfalomesentérico patente, cisto onfalomesentérico ou úraco patente. Hérnia umbilical A hérnia umbilical é um achado frequente no lactente. Deve-se a um defeito do fechamento das estruturas fibromusculares da aponeurose do anel umbilical. Em geral está ausente ao nascer, vindo a aparecer somente entre o primeiro e o segundo meses de vida, em aproximadamente 20% dos nascidos a termo e em 75 a 80% dos prematuros. Costuma aumentar de tamanho antes de desaparecer espontaneamente por volta do quarto mês. Ela é mais frequente em indivíduos da raça negra (40%) e faz parte do quadro clínico do hipotireoidismo congênito e de outras síndromes congênitas. A maioria das crianças é assintomática. Raramente, é causa de dor ou desconforto. Ao exame físico, há protrusão redutível, às vezes produzindo borborigmo. Ocasionalmente, o defeito fascial é tão amplo, com pele redundante, que adquire o aspecto de probóscide (semelhante à tromba de elefante). Apresenta aumento de volume aos esforços. Muito raramente ocorre encarceramento. Como ocorre fechamento espontâneo do anel umbilical na grande maioria dos casos e o risco de complicações é pequeno, a cirurgia corretiva só é feita após o terceiro ou quarto ano de vida. O uso de cintos, faixas, moedas e botões não tem nenhuma indicação, já que não modificam a evolução natural da hérnia. 2. HÉRNIA EPIGÁSTRICA A hérnia epigástrica é um defeito da linha alba, com herniação da gordura pré-peritoneal, em qualquer parte da linha médica, desde o apêndice xifoide até a cicatriz umbilical. Qualquer defeito na continuidade das fibras tendinosas da linha alba (p. ex., rompimento, falha de desenvolvimento) junto à entrada dos vasos sanguíneos pode predispor ao aparecimento da hérnia epigástrica. Toda criança com queixa de aumento de volume na linha média supraumbilical é passível de ser portadora de hérnia epigástrica. A história característica é de aumento de volume nessa região, podendo apresentar queixa de dor local. Diagnóstico diferencial deve ser feito com a diástase dos retos abdominais, que é falha na fixação da borda medial dos retos abdominais à linha alba e que não traz consequências. BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce Habitualmente, o defeito é pequeno, exigindo exame cuidadoso, com a criança em pé e realizando manobra de Valsalva. Palpação deve ser cuidadosa, percorrendo toda a linha média à procura de outras hérnias (falhas ou nodulações). O tratamento proposto é cirúrgico, especialmente se houver sintoma, visto que não há resolução espontânea. Pode haver encarceramento, com dor e sinais flogísticos, o que caracteriza a necessidade de avaliação urgente. 3. HÉRNIA INGUINAL E HIDROCELE A persistência do conduto peritônio-vaginal é o principal fator de desenvolvimento da hérnia inguinal e hidrocele congênitas e está relacionada com a descida do testículo, que segue o gubernáculo até o escroto. Quando o testículo passa do anel inguinal interno, forma-se um divertículo de peritônio em sua superfície anteromedial, chamada de processo vaginal. Nas meninas, a persistência do conduto é chamada de canal de Nuck. As camadas do processo vaginal normalmente se fundem em 90% das crianças nascidas a termo, obliterando a entrada da cavidade peritoneal para o canal inguinal. O processo vaginal patente é uma hérnia em potencial, que se torna verdadeira quando contém alguma parte de víscera abdominal. A diferença entre hérnia inguinal indireta e hidrocele é o calibre do processo vaginal e o conteúdo do saco: na hérnia, o processo vaginal é mais largo e contém estrutura intra-abdominal; na hidrocele, o processo é mais estreito e contém apenas fluido peritoneal. A incidência varia de 1 a 5%, sendo mais comum em meninos, na proporção de 4 a 8: 1. Crianças pré-termo têm risco aumentado: 2% nas meninas e 7 a 30% nos meninos. Cerca de 60% ocorrem do lado direito, 30% do lado esquerdo e 10% são bilaterais. A história familiar de hérnia está presente em 11,5% dos recém-nascidos. Por outro lado, a hérnia inguinal direta, causada por defeito da parede posterior da região inguinal, é mais comum em adultos e tem prevalência de 0,5% na criança. Os fatores predisponentes ou associados são tonicidade da musculatura da região inguinal diminuída (prematuros, desnutridos, doenças musculares); defeito no metabolismo dos mucopolissacarídeos (síndrome de Hurler-Hunter); doenças do tecido conectivo (síndrome de Ehlers-Danlos); defeitos pélvicos congênitos (extrofia vesical e cloaca); displasia do desenvolvimento do quadril; anomalias congênitas da parede abdominal (onfalocele e gastrosquise); aumento da pressão abdominal (ascite, massas abdominais); derivação ventrículo-peritoneal; diálise peritoneal; criptorquidia; diâmetro aumentado da porção proximal do processo vaginal; fibrose cística. Hérnia inguinal Manifesta-se por aumento do volume da região inguinal ou inguinoescrotal relacionado com o esforço físico. Pode ser uni ou bilateral. Costuma ser assintomática até que haja encarceramento. O exame físico inclui inspeção e palpação da região inguinoescrotal na tentativa de observar abaulamento, massa ou nódulo palpável. Nas crianças maiores, pode-se solicitar que façam a manobra de Valsalva. Pode-se pesquisar o sinal da seda ou de Gross, que compreende a palpação do cordão espermático com o dedo indicador em movimentos laterais parapalpar o espessamento do cordão e a sensação de seda pelo deslizamento, uma sobre a outra, das paredes do saco. Havendo dúvida, deve-se reavaliar a criança e, eventualmente, solicitar ecografia de região inguinoescrotal. Hérnia inguinal encarcerada ocorre quando o conteúdo do saco não pode, ou apenas com manobras especiais, ser reintroduzido para a cavidade abdominal. O encarceramento ocorre em 17% das hérnias do lado direito e em 7% das do lado esquerdo, sendo mais comum em meninas (17%) e em prematuros (o dobro do risco). A maioria dos encarceramentos ocorre no primeiro ano de vida (70%): 30% nos primeiros três meses de vida, 25% entre 3 e 6 meses e 15% entre 6 e 12 meses. Caso se apresente com aumento súbito na região inguinal, acompanhado de dor, choro, às vezes com vômitos, tumoração visível e dolorosa e palpação, pode-se tentar realizar a redução manual. Com a criança em posição de Trendelenburg, coloca-se compressa com gelo sobre a região e seda-se a criança. Se houver muitos vômitos, pode-se passar sonda nasogástrica para evitar aspiração. Após alguns minutos, a hérnia se reduzirá espontaneamente ou com ajuda de manobras manuais. Na hérnia inguinal estrangulada, o conteúdo não pode ser reintroduzido na cavidade abdominal e aparece comprometimento da irrigação sanguínea, que pode evoluir para necrose. Diferente do que ocorre em adultos, a hérnia inguinal encarcerada em crianças evolui rápido para hérnia estrangulada com infarto, gangrena e perfuração do intestino, e ainda isquemia com infarto do testículo, nos meninos, e ovário, trompa e, eventualmente, útero nas meninas. A hérnia inguinal não melhora espontaneamente. A cirurgia deve ser indicada no momento do diagnóstico, devido ao grande risco de encarceramento, sobretudo durante os primeiros seis meses de vida. Nos meninos com testículos retidos ou retráteis, associados à hérnia, é feita a orquidopexia concomitante à correção da hérnia inguinal. BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce Hidrocele As hidroceles são muito comuns em recém-nascidos e são, com frequência, bilaterais. Podem ser categorizadas em comunicantes e não comunicantes. A hidrocele não comunicante é comum em recém-nascidos do sexo masculino e autolimitada, sendo o líquido habitualmente absorvido no primeiro ano de vida. Na hidrocele que persiste após o primeiro ano de idade, deve-se suspeitar de comunicação, estando indicada cirurgia. A incidência de hidrocele não comunicante em meninos após um ano de idade é menor que 1%. Quando se consegue esvaziar a hidrocele com delicada compressão do escroto, confirmada com transiluminação, provavelmente há comunicação do saco escrotal com a cavidade peritoneal, condição que deve receber o mesmo tratamento da hérnia inguinal, ou seja, cirurgia após o diagnóstico. O cisto ou hidrocele de cordão espermático também tem comunicação com a cavidade peritoneal, com indicação de cirurgia logo após o diagnóstico. Na menina, embora menos comum, pode também ocorrer hidrocele (cisto de Nuck), havendo da mesma forma a indicação de cirurgia logo após o diagnóstico. 4. TESTÍCULO RETIDO Embora os testículos em geral sigam o curso para o escroto, ocasionalmente podem ficar retidos no espaço retroperitoneal ou intra-abdominal, no canal inguinal ou então seguir para localização ectópica — perineal, suprapúbica ou femoral. A falha da descida testicular através do canal inguinal durante o terceiro trimestre de gestação pode estar relacionada com insuficiência dos hormônios gonadotrópicos, falha da resposta testicular ao estímulo hormonal materno, inadequada tração do gubernáculo ou vários outros fatores, uma vez que mais de 75% dos testículos retidos são unilaterais. Em um terço dos recém-nascidos com testículos retidos, a condição é bilateral. Quando unilateral, o lado direito é mais comum (70%) do que o esquerdo. O testículo retido tem sido encontrado no canal inguinal (72%), na região pré-escrotal (20%) e na região intra-abdominal (8%). Aplasia ou anorquia têm sido observadas em 2,6%. A incidência de testículos retidos em recém-nascidos pré-termo varia de 9,2 a 30% e nos a termo, de 3,4 a 5,8%. Após um ano de idade, a condição permanece cm 0,8% e 1,8%, respectivamente, mantendo-se até a puberdade. A descida espontânea dos testículos costuma ocorrer até os três meses nos recém-nascidos a termo e até os seis meses nos prematuros. Os testículos retidos palpáveis podem subdividir-se em testículos criptorquídicos, ectópicos, ascendentes, retráteis e iatrogênicos. São criptorquídicos os que permanecem em algum lugar do trajeto normal da descida testicular; os ectópicos deixam o trajeto normal da descida testicular, podendo ser encontrados na região inguinal, no períneo, no canal femoral, na área penopúbica, ou até mesmo no hemiescroto contralateral; os ascendentes são testículos que já estavam posicionados no escroto e posteriormente migraram para o canal inguinal, sugerindo que, nesses testículos, a criptorquidia seja uma condição adquirida, resultado de um relativo encurtamento progressivo das estruturas do cordão espermático (essa condição tem causado confusão com os testículos retráteis); por fim, os retráteis são os que desceram normalmente ao escroto, mas que retraem intermitentemente para o canal inguinal como resultado da contração do músculo cremaster. Essa função do músculo regula a temperatura dos testículos e protege contra trauma extrínseco. A retração ocorre como resultado de baixa temperatura ou estimulação cutânea do nervo genitofemoral. Esse reflexo contrátil está diminuído ou ausente no recém-nascido. Após os 10 anos de idade, o reflexo torna-se menos pronunciado devido aos níveis aumentados de andrógenos no início da puberdade. As crianças com testículos retráteis devem ser acompanhadas a cada seis meses ou anualmente até a adolescência, pois estudos demonstram que os testículos retráteis podem ascender (testículos ascendentes) para o canal inguinal e resultar no diagnóstico tardio de criptorquidia. Na presença de hérnia inguinal, os testículos retráteis devem ser fixados no escroto (orquidopexia), pois a cicatrização da hérnia pode deixar o testículo fixado na região inguinal (criptorquidia iatrogênica). Algumas correlações indiretas e dados sugestivos foram encontrados na exposição materna a desreguladores endócrinos químicos, como pesticidas, dietilestilbestrol, fixadores e tintura de cabelos (ptalatos) com a ocorrência de criptorquidia ou existência de síndrome de disgenesia testicular. Outros fatores de risco para criptorquidia têm sido sugeridos, como idade materna avançada, obesidade materna, diabetes materno, história familiar de criptorquidia, nascimento prematuro, baixo peso ao nascer ou pequeno para a idade gestacional, apresentação pélvica e consumo de bebidas contendo cola durante a gravidez. A temperatura no escroto é de cerca de 33°, comparado a 34-35° da região inguinal e 37° da cavidade abdominal. Por estar submetido à temperatura elevada, o testículo sofre alterações progressivas. A lesão histológica dos testículos retidos inicia-se a partir dos seis meses de idade e é irreversível. A partir dos dois anos, já se identificam BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce alterações histológicas nesses testículos, que se intensificam com o aumento da idade. Os testículos com localização mais alta (intra-abdominais) são os mais afetados: eles são histologicamente normais até os seis meses, mas apresentam atrofia tubular grave aos dois anos. As células de Sertoli também mostramlesão a partir do primeiro ano de vida. Um terço dos testículos criptorquídicos tem anomalias do epidídimo, aumentando o potencial de infertilidade por obstrução. A lesão tubular se correlaciona diretamente com parâmetros de fertilidade e inversamente com a idade da orquidopexia. O exame físico deve ser realizado com a criança em posição supina, relaxada e à temperatura confortável. Se o testículo for palpado no canal inguinal, não há a necessidade de realizar nenhum exame complementar. Caso o testículo não seja palpado, pode-se investigar com ultra-sonografia, que tem acurácia de 44% e é examinador- dependente. A videolaparoscopia é o padrão-ouro para o diagnóstico do testículo impalpável e tem sido usada para identificar a posição do testículo intra-abdominal e excluir atrofia secundária. Esse exame, além de permitir o diagnóstico, possibilita a orquidopexia videolaparoscópica estagiada ou em um só tempo, que deve ser realizada precocemente, a partir dos 4 ou 6 meses de vida. Os neonatos que apresentam criptorquidia uni ou bilateral, associada a hipospádia ou micropênis, devem ser avaliados com cariótipo e avaliação hormonal por equipe multidisciplinar e são inicialmente considerados como portadores de anomalia da diferenciação sexual. Nos testículos criptorquídicos, o risco de transformação maligna é maior (5 a 10 vezes) do que nos eutópicos. Há controvérsias sobre se a cirurgia modifica o risco de malignização. Sabe-se que o diagnóstico precoce de tumor de testículo pela palpação é facilitado se o testículo está fixado na bolsa escrotal. Estudos recentes sugerem que a orquidopexia precoce, em torno dos seis meses de idade, reduziria a possibilidade de tumor. Tratamento Nos últimos anos, tem-se discutido muito sobre qual o melhor momento em relação à idade das crianças para indicar a cirurgia para o tratamento dos testículos intra-abdominais. Vários relatos apontam para indicação de cirurgia mais precoce, oferecendo mais benefícios aos lactentes. Os principais argumentos em favor da orquidopexia precoce são: 1) aumentar o potencial de fertilidade, 2) reduzir a possibilidade de torção, 3) efetuar concomitante reparo da hérnia inguinal, 4) prevenir trauma ou dor, 5) reduzir possibilidade de tumor ou proporcionar a palpação mais fácil do testículo e, assim, um diagnóstico mais precoce de um eventual tumor e 6) prevenir efeito psicológico e cosmético ocasionado pela bolsa escrotal vazia. Uma vez diagnosticado, o testículo criptorquídico deve ser tratado precocemente – a partir dos 6 a 9 meses de vida e antes do segundo ano de vida. O tratamento indicado é a cirurgia, com liberação e fixação do testículo na bolsa escrotal (orquidopexia). A terapia hormonal com gonadotrofina coriônica humana (HCG) tem seu uso limitado a casos selecionados em que há dúvida quanto ao diagnóstico diferencial entre testículos impalpáveis e retráteis, e antes da orquidopexia, com a finalidade de aumentar o testículo e os vasos espermáticos e, assim, facilitar a técnica cirúrgica. Alguns pacientes com diminuição do índice de fertilidade, diagnosticado por biópsia de testículo, no momento da orquidopexia poderiam se beneficiar com o uso de HCG após a cirurgia. 5. FIMOSE E PARAFIMOSE Conceitua-se fimose como a presença de um anel prepucial que impede ou dificulta a exposição da glande, podendo ser congênita ou adquirida. A maioria dos meninos nasce com fimose (96%); portanto, a fimose é considerada fisiológica até os cinco anos de Idade. O descolamento fisiológico do prepúcio ocorre em 25% aos seis meses, 50% com um ano, 80% aos dois anos, 90% aos quatro anos e 94% aos cinco anos. Apenas 6% dos meninos permanecem com fimose após os cinco anos de idade. Somente a partir dessa idade é que está indicada a correção cirúrgica da fimose fisiológica, que pode cursar sem sintomas mesmo em crianças maiores. Se a criança tem sintoma associado à presença da fimose, há necessidade de avaliação para a indicação de tratamento conservador e/ou cirúrgico. O tratamento conservador inicial, com aplicação tópica de corticosteroides/hialuronidase, pode ser indicado devido à sua baixa morbidade, por ser indolor, não traumático e principalmente pelo baixo custo. A literatura tem demonstrado a eficiência do tratamento tópico com esteroides para aliviar a estenose prepucial. Este tratamento se BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce baseia no efeito da aceleração do crescimento e expansão do prepúcio, que ocorre normalmente ao longo de vários anos e que geralmente resulta no alargamento do anel prepucial. A fimose adquirida pode estar relacionada com os cuidados dos meninos nos primeiros anos de vida. Os fatores frequentemente implicados na fimose adquirida são dermatite das fraldas e higiene inadequada da genitália, que ocasionam balanopostite de repetição, reação inflamatória, fibrose e cicatrizes. Outro fator relacionado é a “massagem” no pênis: alguns pais, preocupados com a aderência balanoprepucial, fazem “massagem” no pênis, forçando a pele e ocasionando pequenos traumatismos, fissuras, sangramentos e fibrose. A fibrose e as cicatrizes retraem a pele, o que torna o anel prepucial mais estreito e menos elástico, dificultando a retração do prepúcio e podendo levar à fimose adquirida ou iatrogênica. A única indicação médica absoluta para a postectomia é a fimose patológica, habitualmente relacionada à balanite xerótica obliterante (BXO). Outras indicações incluem as balanopostites de repetição. A parafimose é definida como a incapacidade de fazer o prepúcio voltar a recobrir a glande do pênis quando completamente retraído e está relacionada com a presença de anel prepucial apertado ou após retração forçada do prepúcio. Nos casos prolongados de parafimose, há dificuldade do retorno venoso e linfático, o que pode ocasionar edema importante e comprometer o fluxo sanguíneo da glande. O tratamento da parafimose, na maioria das vezes, é a redução manual com anestésico tópico. Quando a redução manual não é possível, está indicada a redução cirúrgica com incisão dorsal do prepúcio e postoplastia ou postectomia. Algumas malformações do pênis podem ser confundidas com fimose e fazem parte do diagnóstico diferencial. As mais comuns são hipospádia, pênis curvo, aderência balanoprepucial, pênis embutido, prepúcio redundante e micropênis. 6. DISPLASIA DO DESENVOLVIMENTO DO QUADRIL A displasia do desenvolvimento do quadril é a condição na qual a cabeça do fêmur está fora da fossa acetabular. Tem amplo espectro, desde displasia simples do acetábulo, displasia acetabular com subluxação, até completo deslocamento da articulação coxofemoral, em que a cabeça do fêmur não tem contato com o acetábulo. É de herança poligênica e tem como fatores predisponentes sexo feminino (6 a 8: 1), cesariana (dobra o risco), história familiar, apresentação pélvica e oligoidrâmnio. Outras condições que diminuem o espaço intrauterino e limitam a movimentação incluem bebês grandes para a idade gestacional e primeira gestação. É mais comum também em crianças com doenças neuromusculares como a artrogripose e a mielomeningocele e está presente em 20% das crianças com torcicolo congênito. A suspeita diagnóstica é feita no exame de rotina do recém-nascido antes da alta hospitalar. No recém-nascido e no lactente pequeno, em geral se consegue abduzir completamente as coxas, formando ângulo de 180 graus com a bacia, de tal modo que os joelhos tocam a mesa de exame. Quando não for possível a abdução completa de uma ou ambas as coxas, deve-se suspeitar de displasia do desenvolvimento do quadril. Outros achados clínicos comuns são pregas cutâneas assimétricas nos membros inferiores e encurtamento de um dos membros.A pesquisa de displasia do desenvolvimento do quadril é feita clinicamente mediante manobras de Ortolani e Barlow e pelo sinal de Galeazzi positivos. Na suspeita de displasia do desenvolvimento do quadril, está indicado estudo de imagem. A ecografia é indicada em crianças menores de seis meses e pode ser utilizada no acompanhamento da criança, minimizando a necessidade de radiografias seriadas e possibilitando a identificação precoce de falhas no tratamento. Em crianças maiores (4 a 6 meses), nas quais a epífise proximal do fêmur já está ossificada, a radiografia apresenta menor custo, maior efetividade e menor erro de interpretação. Em caso de confirmação do diagnóstico, faz-se necessário o encaminhamento para ortopedista. O tratamento deve ser iniciado precocemente, se possível antes da alta hospitalar. O objetivo do tratamento é manter a cabeça do fêmur bem localizada e centrada no acetábulo, a fim de proporcionar condições favoráveis ao seu desenvolvimento normal. Isso é obtido com o uso de órteses, sendo o suspensório de Pavlik ainda o mais utilizado mundialmente. O tratamento dura de dois a três meses e o prognóstico é muito bom. Cabe ressaltar que os resultados são melhores quanto mais cedo é feito o diagnóstico e iniciado o tratamento. Se não tratada, ou se o tratamento for tardio, a criança com displasia do desenvolvimento do quadril ficará com sequelas, limitando a sua capacidade de deambular. (Issler, Roberto Mario S., Freitas, Ariel Azambuja Gomes de, Rosito, Nicolino César. Problemas Comuns nos Primeiros Meses de vida. In: Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em Evidências. 4ª edição. Ed Artmed. Porto Alegre, 2013.) BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce BrunoSimoes Realce
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