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5. Problemas Comuns nos Primeiros Meses de vida 2

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Problemas Comuns nos Primeiros Meses de vida (II) 
 
1. PROBLEMAS DO UMBIGO DO RECÉM-NASCIDO 
 
O cordão umbilical em geral contém duas artérias e uma veia. Os vasos estão funcionalmente fechados alguns 
minutos após o nascimento, mas estão anatomicamente pérvios até 10 a 20 dias, sendo, nesse período, uma 
potencial porta de entrada para bactérias. A presença de uma única artéria no cordão umbilical ocorre com relativa 
frequência, incidindo em 5 a 10 por 1000 nascimentos e em 35 a 70 por 1000 nascimentos gemelares. Cerca de 33% 
das crianças com artéria umbilical única tem malformações congênitas, sendo a trissomia do 18 uma das mais 
frequentes. 
 
O umbigo do recém-nascido pode facilmente contaminar-se, provocando infecção que, muitas vezes, coloca em 
risco a vida da criança. Por isso, são de extrema importância certos cuidados com o coto umbilical, como 
manipulação em condições assépticas no momento do nascimento e o uso de antissépticos químicos locais (p. ex., 
clorexidina ou álcool a 70%) para reduzir a contaminação bacteriana, sobretudo por estafilococo. 
 
A queda do coto umbilical costuma ocorrer entre a primeira e a segunda semana de vida. A permanência do coto 
além de 30 dias em geral está associada a problemas de função dos neutrófilos ou intensa contaminação 
bacteriana. Após a queda do coto umbilical, deve-se seguir limpando o fundo da cicatriz umbilical com água e sabão 
por ocasião do banho, removendo crostas e secreções, para diminuir, dessa forma, a população bacteriana. 
Frequentemente, forma-se nesse local o granuloma umbilical, que é uma lesão vegetante, úmida, de cor rosa-
pálido. O granuloma desaparece se tratado com nitrato de prata (solução a 10% ou em bastão). 
 
A infecção do umbigo ou onfalite é uma infecção potencialmente grave, que exige tratamento hospitalar. Os 
germes causadores dessa infecção são, com frequência, o estreptococo beta-hemolítico e o estafilococo. Deve-se 
suspeitar de onfalite em um recém-nascido sempre que houver sinais de inflamação ao redor do umbigo, com 
edema, hiperemia e calor local, mais sinais sistêmicos de infecção. Existem outras situações raras que devem ser 
excluídas quando se observa drenagem de alguma secreção pelo coto ou cicatriz umbilical, como ducto 
onfalomesentérico patente, cisto onfalomesentérico ou úraco patente. 
 
Hérnia umbilical 
 
A hérnia umbilical é um achado frequente no lactente. Deve-se a um defeito do fechamento das estruturas 
fibromusculares da aponeurose do anel umbilical. Em geral está ausente ao nascer, vindo a aparecer somente entre 
o primeiro e o segundo meses de vida, em aproximadamente 20% dos nascidos a termo e em 75 a 80% dos 
prematuros. Costuma aumentar de tamanho antes de desaparecer espontaneamente por volta do quarto mês. Ela é 
mais frequente em indivíduos da raça negra (40%) e faz parte do quadro clínico do hipotireoidismo congênito e de 
outras síndromes congênitas. 
 
A maioria das crianças é assintomática. Raramente, é causa de dor ou desconforto. Ao exame físico, há protrusão 
redutível, às vezes produzindo borborigmo. Ocasionalmente, o defeito fascial é tão amplo, com pele redundante, 
que adquire o aspecto de probóscide (semelhante à tromba de elefante). Apresenta aumento de volume aos 
esforços. Muito raramente ocorre encarceramento. 
 
Como ocorre fechamento espontâneo do anel umbilical na grande maioria dos casos e o risco de complicações é 
pequeno, a cirurgia corretiva só é feita após o terceiro ou quarto ano de vida. O uso de cintos, faixas, moedas e 
botões não tem nenhuma indicação, já que não modificam a evolução natural da hérnia. 
 
2. HÉRNIA EPIGÁSTRICA 
 
A hérnia epigástrica é um defeito da linha alba, com herniação da gordura pré-peritoneal, em qualquer parte da 
linha médica, desde o apêndice xifoide até a cicatriz umbilical. Qualquer defeito na continuidade das fibras 
tendinosas da linha alba (p. ex., rompimento, falha de desenvolvimento) junto à entrada dos vasos sanguíneos pode 
predispor ao aparecimento da hérnia epigástrica. 
 
Toda criança com queixa de aumento de volume na linha média supraumbilical é passível de ser portadora de 
hérnia epigástrica. A história característica é de aumento de volume nessa região, podendo apresentar queixa de 
dor local. Diagnóstico diferencial deve ser feito com a diástase dos retos abdominais, que é falha na fixação da 
borda medial dos retos abdominais à linha alba e que não traz consequências. 
 
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Habitualmente, o defeito é pequeno, exigindo exame cuidadoso, com a criança em pé e realizando manobra de 
Valsalva. Palpação deve ser cuidadosa, percorrendo toda a linha média à procura de outras hérnias (falhas ou 
nodulações). 
 
O tratamento proposto é cirúrgico, especialmente se houver sintoma, visto que não há resolução espontânea. Pode 
haver encarceramento, com dor e sinais flogísticos, o que caracteriza a necessidade de avaliação urgente. 
 
3. HÉRNIA INGUINAL E HIDROCELE 
 
A persistência do conduto peritônio-vaginal é o principal fator de desenvolvimento da hérnia inguinal e hidrocele 
congênitas e está relacionada com a descida do testículo, que segue o gubernáculo até o escroto. Quando o 
testículo passa do anel inguinal interno, forma-se um divertículo de peritônio em sua superfície anteromedial, 
chamada de processo vaginal. Nas meninas, a persistência do conduto é chamada de canal de Nuck. 
 
As camadas do processo vaginal normalmente se fundem em 90% das crianças nascidas a termo, obliterando a 
entrada da cavidade peritoneal para o canal inguinal. O processo vaginal patente é uma hérnia em potencial, que se 
torna verdadeira quando contém alguma parte de víscera abdominal. A diferença entre hérnia inguinal indireta e 
hidrocele é o calibre do processo vaginal e o conteúdo do saco: na hérnia, o processo vaginal é mais largo e contém 
estrutura intra-abdominal; na hidrocele, o processo é mais estreito e contém apenas fluido peritoneal. 
 
A incidência varia de 1 a 5%, sendo mais comum em meninos, na proporção de 4 a 8: 1. Crianças pré-termo têm 
risco aumentado: 2% nas meninas e 7 a 30% nos meninos. Cerca de 60% ocorrem do lado direito, 30% do lado 
esquerdo e 10% são bilaterais. A história familiar de hérnia está presente em 11,5% dos recém-nascidos. Por outro 
lado, a hérnia inguinal direta, causada por defeito da parede posterior da região inguinal, é mais comum em adultos 
e tem prevalência de 0,5% na criança. 
 
Os fatores predisponentes ou associados são tonicidade da musculatura da região inguinal diminuída (prematuros, 
desnutridos, doenças musculares); defeito no metabolismo dos mucopolissacarídeos (síndrome de Hurler-Hunter); 
doenças do tecido conectivo (síndrome de Ehlers-Danlos); defeitos pélvicos congênitos (extrofia vesical e cloaca); 
displasia do desenvolvimento do quadril; anomalias congênitas da parede abdominal (onfalocele e gastrosquise); 
aumento da pressão abdominal (ascite, massas abdominais); derivação ventrículo-peritoneal; diálise peritoneal; 
criptorquidia; diâmetro aumentado da porção proximal do processo vaginal; fibrose cística. 
 
Hérnia inguinal 
 
Manifesta-se por aumento do volume da região inguinal ou inguinoescrotal relacionado com o esforço físico. Pode 
ser uni ou bilateral. Costuma ser assintomática até que haja encarceramento. O exame físico inclui inspeção e 
palpação da região inguinoescrotal na tentativa de observar abaulamento, massa ou nódulo palpável. Nas crianças 
maiores, pode-se solicitar que façam a manobra de Valsalva. Pode-se pesquisar o sinal da seda ou de Gross, que 
compreende a palpação do cordão espermático com o dedo indicador em movimentos laterais parapalpar o 
espessamento do cordão e a sensação de seda pelo deslizamento, uma sobre a outra, das paredes do saco. 
Havendo dúvida, deve-se reavaliar a criança e, eventualmente, solicitar ecografia de região inguinoescrotal. 
 
Hérnia inguinal encarcerada ocorre quando o conteúdo do saco não pode, ou apenas com manobras especiais, ser 
reintroduzido para a cavidade abdominal. O encarceramento ocorre em 17% das hérnias do lado direito e em 7% 
das do lado esquerdo, sendo mais comum em meninas (17%) e em prematuros (o dobro do risco). A maioria dos 
encarceramentos ocorre no primeiro ano de vida (70%): 30% nos primeiros três meses de vida, 25% entre 3 e 6 
meses e 15% entre 6 e 12 meses. Caso se apresente com aumento súbito na região inguinal, acompanhado de dor, 
choro, às vezes com vômitos, tumoração visível e dolorosa e palpação, pode-se tentar realizar a redução manual. 
Com a criança em posição de Trendelenburg, coloca-se compressa com gelo sobre a região e seda-se a criança. Se 
houver muitos vômitos, pode-se passar sonda nasogástrica para evitar aspiração. Após alguns minutos, a hérnia se 
reduzirá espontaneamente ou com ajuda de manobras manuais. 
 
Na hérnia inguinal estrangulada, o conteúdo não pode ser reintroduzido na cavidade abdominal e aparece 
comprometimento da irrigação sanguínea, que pode evoluir para necrose. Diferente do que ocorre em adultos, a 
hérnia inguinal encarcerada em crianças evolui rápido para hérnia estrangulada com infarto, gangrena e perfuração 
do intestino, e ainda isquemia com infarto do testículo, nos meninos, e ovário, trompa e, eventualmente, útero nas 
meninas. 
 
A hérnia inguinal não melhora espontaneamente. A cirurgia deve ser indicada no momento do diagnóstico, devido 
ao grande risco de encarceramento, sobretudo durante os primeiros seis meses de vida. Nos meninos com 
testículos retidos ou retráteis, associados à hérnia, é feita a orquidopexia concomitante à correção da hérnia 
inguinal. 
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Hidrocele 
 
As hidroceles são muito comuns em recém-nascidos e são, com frequência, bilaterais. Podem ser categorizadas em 
comunicantes e não comunicantes. A hidrocele não comunicante é comum em recém-nascidos do sexo masculino e 
autolimitada, sendo o líquido habitualmente absorvido no primeiro ano de vida. Na hidrocele que persiste após o 
primeiro ano de idade, deve-se suspeitar de comunicação, estando indicada cirurgia. A incidência de hidrocele não 
comunicante em meninos após um ano de idade é menor que 1%. 
 
Quando se consegue esvaziar a hidrocele com delicada compressão do escroto, confirmada com transiluminação, 
provavelmente há comunicação do saco escrotal com a cavidade peritoneal, condição que deve receber o mesmo 
tratamento da hérnia inguinal, ou seja, cirurgia após o diagnóstico. 
 
O cisto ou hidrocele de cordão espermático também tem comunicação com a cavidade peritoneal, com indicação 
de cirurgia logo após o diagnóstico. Na menina, embora menos comum, pode também ocorrer hidrocele (cisto de 
Nuck), havendo da mesma forma a indicação de cirurgia logo após o diagnóstico. 
 
4. TESTÍCULO RETIDO 
 
Embora os testículos em geral sigam o curso para o escroto, ocasionalmente podem ficar retidos no espaço 
retroperitoneal ou intra-abdominal, no canal inguinal ou então seguir para localização ectópica — perineal, 
suprapúbica ou femoral. A falha da descida testicular através do canal inguinal durante o terceiro trimestre de 
gestação pode estar relacionada com insuficiência dos hormônios gonadotrópicos, falha da resposta testicular ao 
estímulo hormonal materno, inadequada tração do gubernáculo ou vários outros fatores, uma vez que mais de 75% 
dos testículos retidos são unilaterais. 
 
Em um terço dos recém-nascidos com testículos retidos, a condição é bilateral. Quando unilateral, o lado direito é 
mais comum (70%) do que o esquerdo. O testículo retido tem sido encontrado no canal inguinal (72%), na região 
pré-escrotal (20%) e na região intra-abdominal (8%). Aplasia ou anorquia têm sido observadas em 2,6%. 
 
A incidência de testículos retidos em recém-nascidos pré-termo varia de 9,2 a 30% e nos a termo, de 3,4 a 5,8%. 
Após um ano de idade, a condição permanece cm 0,8% e 1,8%, respectivamente, mantendo-se até a puberdade. A 
descida espontânea dos testículos costuma ocorrer até os três meses nos recém-nascidos a termo e até os seis 
meses nos prematuros. 
 
Os testículos retidos palpáveis podem subdividir-se em testículos criptorquídicos, ectópicos, ascendentes, retráteis 
e iatrogênicos. São criptorquídicos os que permanecem em algum lugar do trajeto normal da descida testicular; os 
ectópicos deixam o trajeto normal da descida testicular, podendo ser encontrados na região inguinal, no períneo, 
no canal femoral, na área penopúbica, ou até mesmo no hemiescroto contralateral; os ascendentes são testículos 
que já estavam posicionados no escroto e posteriormente migraram para o canal inguinal, sugerindo que, nesses 
testículos, a criptorquidia seja uma condição adquirida, resultado de um relativo encurtamento progressivo das 
estruturas do cordão espermático (essa condição tem causado confusão com os testículos retráteis); por fim, os 
retráteis são os que desceram normalmente ao escroto, mas que retraem intermitentemente para o canal inguinal 
como resultado da contração do músculo cremaster. Essa função do músculo regula a temperatura dos testículos e 
protege contra trauma extrínseco. A retração ocorre como resultado de baixa temperatura ou estimulação cutânea 
do nervo genitofemoral. Esse reflexo contrátil está diminuído ou ausente no recém-nascido. Após os 10 anos de 
idade, o reflexo torna-se menos pronunciado devido aos níveis aumentados de andrógenos no início da puberdade. 
As crianças com testículos retráteis devem ser acompanhadas a cada seis meses ou anualmente até a adolescência, 
pois estudos demonstram que os testículos retráteis podem ascender (testículos ascendentes) para o canal inguinal 
e resultar no diagnóstico tardio de criptorquidia. Na presença de hérnia inguinal, os testículos retráteis devem ser 
fixados no escroto (orquidopexia), pois a cicatrização da hérnia pode deixar o testículo fixado na região inguinal 
(criptorquidia iatrogênica). 
 
Algumas correlações indiretas e dados sugestivos foram encontrados na exposição materna a desreguladores 
endócrinos químicos, como pesticidas, dietilestilbestrol, fixadores e tintura de cabelos (ptalatos) com a ocorrência 
de criptorquidia ou existência de síndrome de disgenesia testicular. Outros fatores de risco para criptorquidia têm 
sido sugeridos, como idade materna avançada, obesidade materna, diabetes materno, história familiar de 
criptorquidia, nascimento prematuro, baixo peso ao nascer ou pequeno para a idade gestacional, apresentação 
pélvica e consumo de bebidas contendo cola durante a gravidez. 
 
A temperatura no escroto é de cerca de 33°, comparado a 34-35° da região inguinal e 37° da cavidade abdominal. 
Por estar submetido à temperatura elevada, o testículo sofre alterações progressivas. A lesão histológica dos 
testículos retidos inicia-se a partir dos seis meses de idade e é irreversível. A partir dos dois anos, já se identificam 
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alterações histológicas nesses testículos, que se intensificam com o aumento da idade. Os testículos com localização 
mais alta (intra-abdominais) são os mais afetados: eles são histologicamente normais até os seis meses, mas 
apresentam atrofia tubular grave aos dois anos. As células de Sertoli também mostramlesão a partir do primeiro 
ano de vida. Um terço dos testículos criptorquídicos tem anomalias do epidídimo, aumentando o potencial de 
infertilidade por obstrução. A lesão tubular se correlaciona diretamente com parâmetros de fertilidade e 
inversamente com a idade da orquidopexia. 
 
O exame físico deve ser realizado com a criança em posição supina, relaxada e à temperatura confortável. Se o 
testículo for palpado no canal inguinal, não há a necessidade de realizar nenhum exame complementar. Caso o 
testículo não seja palpado, pode-se investigar com ultra-sonografia, que tem acurácia de 44% e é examinador-
dependente. 
 
A videolaparoscopia é o padrão-ouro para o diagnóstico do testículo impalpável e tem sido usada para identificar a 
posição do testículo intra-abdominal e excluir atrofia secundária. Esse exame, além de permitir o diagnóstico, 
possibilita a orquidopexia videolaparoscópica estagiada ou em um só tempo, que deve ser realizada precocemente, 
a partir dos 4 ou 6 meses de vida. 
 
Os neonatos que apresentam criptorquidia uni ou bilateral, associada a hipospádia ou micropênis, devem ser 
avaliados com cariótipo e avaliação hormonal por equipe multidisciplinar e são inicialmente considerados como 
portadores de anomalia da diferenciação sexual. 
 
Nos testículos criptorquídicos, o risco de transformação maligna é maior (5 a 10 vezes) do que nos eutópicos. Há 
controvérsias sobre se a cirurgia modifica o risco de malignização. Sabe-se que o diagnóstico precoce de tumor de 
testículo pela palpação é facilitado se o testículo está fixado na bolsa escrotal. Estudos recentes sugerem que a 
orquidopexia precoce, em torno dos seis meses de idade, reduziria a possibilidade de tumor. 
 
Tratamento 
 
Nos últimos anos, tem-se discutido muito sobre qual o melhor momento em relação à idade das crianças para 
indicar a cirurgia para o tratamento dos testículos intra-abdominais. Vários relatos apontam para indicação de 
cirurgia mais precoce, oferecendo mais benefícios aos lactentes. 
 
Os principais argumentos em favor da orquidopexia precoce são: 1) aumentar o potencial de fertilidade, 2) reduzir a 
possibilidade de torção, 3) efetuar concomitante reparo da hérnia inguinal, 4) prevenir trauma ou dor, 5) reduzir 
possibilidade de tumor ou proporcionar a palpação mais fácil do testículo e, assim, um diagnóstico mais precoce de 
um eventual tumor e 6) prevenir efeito psicológico e cosmético ocasionado pela bolsa escrotal vazia. 
 
Uma vez diagnosticado, o testículo criptorquídico deve ser tratado precocemente – a partir dos 6 a 9 meses de vida 
e antes do segundo ano de vida. O tratamento indicado é a cirurgia, com liberação e fixação do testículo na bolsa 
escrotal (orquidopexia). 
 
A terapia hormonal com gonadotrofina coriônica humana (HCG) tem seu uso limitado a casos selecionados em que 
há dúvida quanto ao diagnóstico diferencial entre testículos impalpáveis e retráteis, e antes da orquidopexia, com a 
finalidade de aumentar o testículo e os vasos espermáticos e, assim, facilitar a técnica cirúrgica. Alguns pacientes 
com diminuição do índice de fertilidade, diagnosticado por biópsia de testículo, no momento da orquidopexia 
poderiam se beneficiar com o uso de HCG após a cirurgia. 
 
5. FIMOSE E PARAFIMOSE 
 
Conceitua-se fimose como a presença de um anel prepucial que impede ou dificulta a exposição da glande, 
podendo ser congênita ou adquirida. A maioria dos meninos nasce com fimose (96%); portanto, a fimose é 
considerada fisiológica até os cinco anos de Idade. 
 
O descolamento fisiológico do prepúcio ocorre em 25% aos seis meses, 50% com um ano, 80% aos dois anos, 90% 
aos quatro anos e 94% aos cinco anos. Apenas 6% dos meninos permanecem com fimose após os cinco anos de 
idade. Somente a partir dessa idade é que está indicada a correção cirúrgica da fimose fisiológica, que pode cursar 
sem sintomas mesmo em crianças maiores. Se a criança tem sintoma associado à presença da fimose, há 
necessidade de avaliação para a indicação de tratamento conservador e/ou cirúrgico. 
 
O tratamento conservador inicial, com aplicação tópica de corticosteroides/hialuronidase, pode ser indicado devido 
à sua baixa morbidade, por ser indolor, não traumático e principalmente pelo baixo custo. A literatura tem 
demonstrado a eficiência do tratamento tópico com esteroides para aliviar a estenose prepucial. Este tratamento se 
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baseia no efeito da aceleração do crescimento e expansão do prepúcio, que ocorre normalmente ao longo de vários 
anos e que geralmente resulta no alargamento do anel prepucial. 
 
A fimose adquirida pode estar relacionada com os cuidados dos meninos nos primeiros anos de vida. Os fatores 
frequentemente implicados na fimose adquirida são dermatite das fraldas e higiene inadequada da genitália, que 
ocasionam balanopostite de repetição, reação inflamatória, fibrose e cicatrizes. Outro fator relacionado é a 
“massagem” no pênis: alguns pais, preocupados com a aderência balanoprepucial, fazem “massagem” no pênis, 
forçando a pele e ocasionando pequenos traumatismos, fissuras, sangramentos e fibrose. A fibrose e as cicatrizes 
retraem a pele, o que torna o anel prepucial mais estreito e menos elástico, dificultando a retração do prepúcio e 
podendo levar à fimose adquirida ou iatrogênica. A única indicação médica absoluta para a postectomia é a fimose 
patológica, habitualmente relacionada à balanite xerótica obliterante (BXO). Outras indicações incluem as 
balanopostites de repetição. 
 
A parafimose é definida como a incapacidade de fazer o prepúcio voltar a recobrir a glande do pênis quando 
completamente retraído e está relacionada com a presença de anel prepucial apertado ou após retração forçada do 
prepúcio. Nos casos prolongados de parafimose, há dificuldade do retorno venoso e linfático, o que pode ocasionar 
edema importante e comprometer o fluxo sanguíneo da glande. O tratamento da parafimose, na maioria das vezes, 
é a redução manual com anestésico tópico. Quando a redução manual não é possível, está indicada a redução 
cirúrgica com incisão dorsal do prepúcio e postoplastia ou postectomia. 
 
Algumas malformações do pênis podem ser confundidas com fimose e fazem parte do diagnóstico diferencial. As 
mais comuns são hipospádia, pênis curvo, aderência balanoprepucial, pênis embutido, prepúcio redundante e 
micropênis. 
 
 
6. DISPLASIA DO DESENVOLVIMENTO DO QUADRIL 
 
A displasia do desenvolvimento do quadril é a condição na qual a cabeça do fêmur está fora da fossa acetabular. 
Tem amplo espectro, desde displasia simples do acetábulo, displasia acetabular com subluxação, até completo 
deslocamento da articulação coxofemoral, em que a cabeça do fêmur não tem contato com o acetábulo. É de 
herança poligênica e tem como fatores predisponentes sexo feminino (6 a 8: 1), cesariana (dobra o risco), história 
familiar, apresentação pélvica e oligoidrâmnio. Outras condições que diminuem o espaço intrauterino e limitam a 
movimentação incluem bebês grandes para a idade gestacional e primeira gestação. É mais comum também em 
crianças com doenças neuromusculares como a artrogripose e a mielomeningocele e está presente em 20% das 
crianças com torcicolo congênito. 
 
A suspeita diagnóstica é feita no exame de rotina do recém-nascido antes da alta hospitalar. No recém-nascido e no 
lactente pequeno, em geral se consegue abduzir completamente as coxas, formando ângulo de 180 graus com a 
bacia, de tal modo que os joelhos tocam a mesa de exame. Quando não for possível a abdução completa de uma ou 
ambas as coxas, deve-se suspeitar de displasia do desenvolvimento do quadril. Outros achados clínicos comuns são 
pregas cutâneas assimétricas nos membros inferiores e encurtamento de um dos membros.A pesquisa de displasia do desenvolvimento do quadril é feita clinicamente mediante manobras de Ortolani e 
Barlow e pelo sinal de Galeazzi positivos. Na suspeita de displasia do desenvolvimento do quadril, está indicado 
estudo de imagem. A ecografia é indicada em crianças menores de seis meses e pode ser utilizada no 
acompanhamento da criança, minimizando a necessidade de radiografias seriadas e possibilitando a identificação 
precoce de falhas no tratamento. Em crianças maiores (4 a 6 meses), nas quais a epífise proximal do fêmur já está 
ossificada, a radiografia apresenta menor custo, maior efetividade e menor erro de interpretação. Em caso de 
confirmação do diagnóstico, faz-se necessário o encaminhamento para ortopedista. 
 
O tratamento deve ser iniciado precocemente, se possível antes da alta hospitalar. O objetivo do tratamento é 
manter a cabeça do fêmur bem localizada e centrada no acetábulo, a fim de proporcionar condições favoráveis ao 
seu desenvolvimento normal. Isso é obtido com o uso de órteses, sendo o suspensório de Pavlik ainda o mais 
utilizado mundialmente. O tratamento dura de dois a três meses e o prognóstico é muito bom. Cabe ressaltar que 
os resultados são melhores quanto mais cedo é feito o diagnóstico e iniciado o tratamento. Se não tratada, ou se o 
tratamento for tardio, a criança com displasia do desenvolvimento do quadril ficará com sequelas, limitando a sua 
capacidade de deambular. 
 
 
(Issler, Roberto Mario S., Freitas, Ariel Azambuja Gomes de, Rosito, Nicolino César. Problemas Comuns nos Primeiros Meses de 
vida. In: Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em Evidências. 4ª edição. Ed Artmed. Porto Alegre, 
2013.) 
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