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Transcrição Internacional Público e Privado

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CURSO ALCANCE – TURMA REGULAR MPF 2013
Disciplina: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO
Professor: ÁLVARO CASTELO BRANCO
AULA 1: Desenvolvimento histórico. Princípios constitucionais. Fontes do Direito Internacional Público. 
	DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO
- E-mail: alvarocastelobranco@hotmail.com. 
- O Direito Internacional é um ramo jurídico extremamente moderno e que se encontra em constante evolução. 
- Desde 1.200 a. C. já se falava em celebração de tratados e documentos congêneres.
- Todavia, o marco na história do Direito Internacional é a Paz de Vestfália (ou de Vestefália ou ainda Westfália), também conhecida como os Tratados de Münster e Osnabrück, de 1648. Foi a partir desse marco que se começou a pensar na necessidade de criação de uma sociedade internacional, respeitando a soberania dos Estados. Foi a partir desse marco que se começou a falar em Estados soberanos. 
- Há ainda outros marcos importantes na história do Direito Internacional, a exemplo da Segunda Guerra Mundial.
- Cuidado com a expressão Comunidade Internacional. O termo comunidade traz a ideia de um laço de afinidade mais coeso, ou seja, de ligação espontânea por traços de identidade. Todavia, não é isso o que ocorre no plano internacional. Os Estados soberanos se unem mais por necessidade do que por afetividade. Por isso, a expressão mais correta a ser empregada é Sociedade Internacional. 
- CARACTERÍSTICAS DO DIREITO INTERNACIONAL: 
(i) universal: engloba todos os Estados que fazem parte da sociedade internacional;
(ii) paritário: todos os Estados se encontram em uma mesma posição de igualdade;
(iii) aberto: aceita novos atores. Anteriormente, os Estados eram considerados os únicos atores do Direito Internacional. Atualmente, também atuam no plano internacional as organizações internacionais, os indivíduos, a Santa Sé, entre outros;
(iv) descentralizado (característica mais importante): no Direito Internacional não existem órgãos centrais semelhantes aos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. É dizer, não existem poderes acima dos poderes dos Estados. E isso ocorre em razão da soberania dos Estados. 
(v) voluntarismo e consentimento: nenhum Estado pode ser obrigado a aderir a determinado tratado ou a integrar uma organização internacional, por exemplo. 
- Nada obstante o caráter descentralizado do Direito Internacional, há mecanismos que suprem a ausência de poderes centrais: 
(i) Legislativo: embora não haja um Poder Legislativo responsável pela edição de leis, existe a figura do tratado, que representa para o Direito Internacional o mesmo que uma lei representa para o Direito interno;
(ii) Judiciário: embora não haja Poder Judiciário, há sistemas de soluções de controvérsias, como é o caso da Corte Internacional de Justiça, Tribunal Penal Internacional, entre outras Cortes Internacionais. Diferem dos órgãos judiciais internos em razão, por exemplo, de não contemplarem os princípios da inafastabilidade e da inevitabilidade. Assim, para que um Estado se submeta à jurisdição das Cortes Internacionais, deve haver assentimento prévio;
(iii) Executivo: embora não haja Poder Executivo, as organizações internacionais, verdadeiras sociedades de Estados, visam disciplinar as relações entre os Estados. A ONU, por exemplo, criada após a Segunda Guerra Mundial, tem como principal objetivo manter a paz mundial. 
- Todavia, a assertiva de que não há Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário no Direito Internacional não é uma verdade absoluta quando se trata de Direito da Integração Regional, ou seja, dos Blocos Regionais. Exemplo: a União Europeia possui um parlamento, uma Corte Internacional e um Poder Executivo para administrar as relações comunitárias. 
	PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
- Dispõe o art. 4º da CF:
“Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.
- REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL: não se confunde com a União. É uma pessoa jurídica de Direito Internacional. Consiste no próprio Estado brasileiro. 
- Por vezes o constituinte confunde esses conceitos. No art. 1º da CF, por exemplo, consta que “a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático”. Nesse dispositivo não é mencionada a figura da União. Parece que nessa passagem o constituinte tratou a República Federativa do Brasil como sinônimo de União.
- Por outro lado, no art. 21 da CF é estabelecido que compete à União “manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais”. Todavia, essa incumbência não é desempenhada pela União, mas sim pelo Estado brasileiro, pela República Federativa do Brasil.
- Já no art. 18 da CF o constituinte foi técnico ao estatuir que “a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição”. 
- Para José Afonso da Silva, essa confusão de conceitos justifica-se pelo fato de, na prática, ser muito fácil confundir a República Federativa do Brasil com a União, pois aquela toma emprestada toda a estrutura orgânica e funcional desta última. Exemplo disso é o fato de, no Brasil, a chefia de Estado e a chefia de Governo se concentrarem em uma mesma pessoa, o Presidente da República. 
	Independência nacional
- Não é uma expressão muito técnica. O correto seria falar em soberania.
- Com esse princípio, o Brasil afirma que, nas suas relações internacionais, é um Estado soberano, ou seja, não existem, no plano internacional, poderes acima dos poderes do Estado brasileiro. 
- A soberania, contudo, não é um conceito absoluto. Cuida-se de uma ideia que vem sendo constantemente mitigada. Exemplo claro disso é o art. 5º, § 4º, segundo o qual “o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”. Ora, ao reconhecer a jurisdição de um Tribunal Penal Internacional, o Brasil mitiga parcela de sua soberania. 
- Alguns afirmam que o Estado é tão soberano a ponto de ter a possibilidade de abrir mão da sua própria soberania. 
- Atualmente, a soberania não é mais vista como um atributo inviolável e ilimitado. 
- Ainda se discute a respeito da legitimidade da Constituição da União Europeia, pois seria uma Constituição transnacional. Alguns autores sustentam que, com a adoção dessa Constituição, os Estados integrantes da União Europeia deixariam de ser Estados soberanos, passando a integrar uma confederação. 
- Os princípios da não intervenção e da igualdade entre os Estados estão intimamente relacionados à ideia de soberania. Relaciona-se ao aspecto externo da soberania do Brasil. 
- Para Valério Mazzuoli, a soberania possui dois aspectos:
(i) interno: quando o Brasil se afirma soberano;
(ii) externo: reconhecimento da soberania dos demais Estados integrantes da sociedade internacional. 
	Autodeterminação dos povos
- É um tema da predileção do examinador Eugênio Aragão. 
- A autodeterminação dos povos, consagrada no inciso III do art. 4º, não é sinônimo de soberania. 
- Soberania e independência nacional são conceitos eminentemente jurídicos.
- Autodeterminação dos povos é um conceito muito mais sociológico e político do que propriamente jurídico. Diz respeitoà organização política e social de uma comunidade, ou seja, de um grupo ligado por laços de afinidade. 
- Aos povos indígenas deve ser garantido o direito de autodeterminação, como decorre do art. 231, primeira parte, da CF:
“Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. 
- Esse direito de autodeterminação permite que os povos indígenas possuam órgãos administrativos e jurisdicionais próprios, inclusive com possibilidade de aplicação de sanções penais, como decorre do art. 57 do Estatuto do Índio:
“Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte”.
- Pode existir, portanto, um Código Penal Indígena. 
- Recentemente, o Tribunal Constitucional da Bolívia reconheceu a autonomia e independência de uma Corte Indígena. 
	Prevalência dos Direitos Humanos
- Os direitos fundamentais, os direitos humanitários e os direitos humanos têm em comum o fato de se voltarem à proteção da dignidade da pessoa humana. Todavia, são conceitos que não se confundem. 
- Significados da dignidade da pessoa humana:
(i) o ser humano é um fim em si mesmo;
(ii) todo ser humano tem direito de ser tratado como pessoa. 
- DIREITOS FUNDAMENTAIS: proteção à dignidade da pessoa humana no âmbito interno dos Estados.
- Direitos sociais são direitos fundamentais? Topologicamente, os direitos sociais se inserem no Título II, que trata “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”. Todavia, não se encontram no Capítulo I, que versa sobre os direitos individuais. Está localizado no Capítulo II, voltado especificamente aos direitos sociais. A pergunta ganha relevância em razão de o art. 60, § 4º, da CF arrolar como cláusulas pétreas, dentre outras disposições, apenas “os direitos e garantias individuais”. Para o STF, essa proteção também engloba os direitos sociais, pois, segundo o Supremo, ao dizer direitos individuais, o constituinte quis se referir, em verdade, aos direitos fundamentais. O STF aplicou aqui a regra segundo a qual, quando se estiver diante de uma norma ou princípio que proteja a dignidade da pessoa humana, a interpretação deve ser sempre ampliativa. 
 
- DIREITOS HUMANOS: proteção à dignidade da pessoa humana no plano internacional. 
- Embora na prática sejam feitas confusões com esses conceitos, a CF é muito técnica nesse particular, pois, ao tratar da relação das relações internacionais do Estado brasileiro, refere-se a direitos humanos. Mais a frente, ao cuidar da proteção à dignidade da pessoa humana no plano interno, refere-se a direitos fundamentais.
- Atentar para o art. 7º do ADCT, segundo o qual “o Brasil propugnará pela formação de um tribunal internacional dos direitos humanos”. 
- DIREITOS HUMANITÁRIOS: é uma subespécie dos direitos humanos. Visa à proteção da dignidade da pessoa humana no âmbito de conflitos armados. O TPI é um Tribunal Humanitário, pois existe também para julgar crimes de guerra.
- Por vezes, essa expressão também é utilizada de forma inapropriada. 
- Entre direitos fundamentais e direitos humanos, qual é a proteção mais efetiva? A proteção mais efetiva é conferida pelo Direito Internacional. Isso não significa que se esteja criticando a CF. Sucede que a proteção dos direitos fundamentais sofre uma limitação territorial, a qual inexiste no campo dos direitos humanos. A CF brasileira é muito pródiga na proteção à dignidade da pessoa humana. Todavia, no exterior, o nacional brasileiro não está sujeito ao ordenamento do Brasil. Ele pode estar sujeito a dois ordenamentos, quais sejam, ao ordenamento do Estado onde ele se encontra e ao ordenamento do Direito Internacional (sistema global de proteção da dignidade da pessoa humana). Logo, os direitos humanos são mais efetivos em razão de acompanharem o indivíduo onde quer que ele esteja, ainda mais porque, ultimamente, os Estados estão cada vez mais aderindo a tratados internacionais sobre direitos humanos, contribuindo assim para o que se denomina de humanização do direito internacional.
 
- Universalismo e relativismo: tanto a corrente universalista quanto a relativista defendem a humanização do direito internacional. Todavia, embora defendam a proliferação dos tratados internacionais sobre direitos humanos, discordam em relação a um ponto específico.
(i) universalismo: defende a existência de um conceito único de dignidade da pessoa humana;
(ii) relativista: defende a relativização do conceito de dignidade da pessoa humana. Entende que cada sociedade, em razão de seus aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos, podem ter um conceito diferenciado de dignidade da pessoa humana. Assim, algo que no Brasil seria considerado violação à dignidade da pessoa humana, não o seria na África. 
 
	Defesa da paz e solução pacífica dos conflitos
- Deve-se distinguir o jus ad bellum (direito do uso da força) do jus in bello (direito na guerra). 
- Atualmente, está na ordem do dia o jus contra bellum (direito da prevenção à guerra), que se relaciona intimamente com os dois princípios em questão. 
- Durante muito tempo o Direito Internacional admitia o uso da força como método de solução de controvérsias. 
- Posteriormente, com o amadurecimento da sociedade internacional e a crescente preocupação com os direitos humanos, começou-se a perceber que o uso da força não é a forma mais legítima e indicada para a solução de controvérsias.
- Atualmente, a guerra, ou seja, o uso da força, não é considerada uma forma lícita para a solução de controvérsias. 
- Todavia, o fato de não mais se admitir soluções de controvérsias por meio da guerra não significa que o Direito Internacional tenha abolido por completo a guerra. 
- Ainda se admite o uso das forças armadas em pelo menos três situações: 
(i) legítima defesa;
(ii) guerra de independência;
(iii) autorização do Conselho de Segurança da ONU.
	Repúdio ao terrorismo e ao racismo
- Essas duas condutas possuem tratamento diferenciado tanto no âmbito interno, quanto no âmbito internacional.
- No âmbito interno, o terrorismo é crime equiparado a hediondo, assim como o tráfico de drogas e a tortura (TTT). Já o racismo é imprescritível, assim como a ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
- A corrente majoritária da doutrina entende que o terrorismo não está tipificado no ordenamento jurídico brasileiro. 
	Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade
- Ainda que a conduta não seja bem vista no âmbito interno, tem o Estado brasileiro a obrigação de cooperar com os povos para o progresso da humanidade. 
- Pode ser um bom argumento para se utilizar em provas discursivas. 
	Concessão de asilo político
- É uma proteção concedida a estrangeiro que se encontre perseguido politicamente no seu Estado ou em Estado que não seja da sua nacionalidade. 
- Deve sempre ter em mente que a concessão de asilo político é um princípio constitucional reitor das relações internacionais no Brasil. 
- A previsão do asilo político como princípio constitucional é uma tradição nos países da América Latina, até porque todos os Estados desse continente tiveram problemas com regimes de exceção. 
	Integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações
- Esse dispositivo justifica, por exemplo, a adesão do Brasil a organismos como o Mercosul e a Unasul. 
- Nesse ponto até é possível falar em uma comunidade internacional, haja vista os vínculos sociais e culturais existentes entre os povos latino-americanos. 
- Esses não são os únicos princípios que regemas relações internacionais travadas pelo Brasil. Há ainda, por exemplo, princípios específicos aplicáveis à celebração de tratados (art. 5º, § 3º), às questões relacionadas à Corte Interamericana de Direitos Humanos (art. 109, § 5º), entre outras situações.
	FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
- Em razão de suas características peculiares, o Direito Internacional necessita trabalhar com fontes diferenciadas, que diferem daquelas existentes nos demais ramos jurídicos. 
- Nos demais ramos jurídicos, a lei, em regra, é a principal fonte do Direito. Isso não ocorre no Direito Internacional. 
- Quando a Segunda Guerra chegou ao seu fim, em razão do fracasso da Liga das Nações (organização internacional anteriormente criada para desempenhar as funções hoje exercidas pela ONU), foi criada a ONU, tendo sido estabelecidos como seus principais órgãos a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, a Corte Internacional de Justiça e o Secretariado. 
- A Corte Internacional de Justiça é o principal tribunal da ONU, responsável pelo julgamento das soluções de controvérsias entre os Estados. 
- Anexa à Carta das Nações (também chamada de Carta de São Francisco), existe o Estatuto da Corte Internacional de Justiça, que, além de estabelecer o regulamento da CIJ, enumera em seu art. 38 as fontes do Direito Internacional:
“Artigo 38
1. A Corte, cuja função seja decidir conforme o direito internacional as controvérsias que sejam submetidas, deverá aplicar;
2. as convenções internacionais, sejam gerais ou particulares, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
3. o costume internacional como prova de uma prática geralmente aceita como direito;
4. os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas;
5. as decisões judiciais e as doutrinas dos publicitários de maior competência das diversas nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito, sem prejuízo do disposto no Artigo 59.
6. A presente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um litígio ex aequo et bono, se convier às partes”. 
	Fontes primárias
- TRATADOS: são acordos entre Estados assinado para criar direitos e obrigações entre seus participantes. 
- COSTUMES INTERNACIONAIS: práticas reiteradas (elemento objetivo) conscientemente entendidas como aptas a gerar direitos e obrigações (elemento psicológico). Os costumes internos não são fonte do Direito Internacional, mas tão somente os costumes internacionais. 
- PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO: princípios reconhecidos universalmente como postulados básicos do Direito. Exemplo: devido processo legal, proteção à dignidade da pessoa humana, proteção ao meio ambiente. 
- Alguns desses princípios gerais podem ser entendidos até mesmo como jus cogens, ou seja, superprincípios, que não podem ser derrogados pela vontade dos Estados. Talvez o jus cogens mais importante seja a dignidade da pessoa humana, pois o Estado não pode invocar a sua soberania para justificar violações a esse valor. 
	Fontes secundárias
- São mecanismos que auxiliam a interpretação e a aplicação do Direito Internacional. 
- São fontes secundárias a jurisprudência, a doutrina, a equidade, as decisões vinculantes das organizações internacionais e os atos unilaterais dos Estados. 
AULA 2: Direito dos Tratados.
	DIREITO DOS TRATADOS
- A Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969 foi criada como forma de padronizar a celebração dos tratados. 
- Essa Convenção foi promulgada pelo Decreto 7.030/09. 
- Não foi integralmente incorporada ao ordenamento nacional, tendo o Brasil apresentado reservas em relação aos artigos 25 e 66:
“Artigo 25
Aplicação Provisória 
1. Um tratado ou uma parte do tratado aplica-se provisoriamente enquanto não entra em vigor, se: 
a)o próprio tratado assim dispuser; ou
b)os Estados negociadores assim acordarem por outra forma. 
2. A não ser que o tratado disponha ou os Estados negociadores acordem de outra forma, a aplicação provisória de um tratado ou parte de um tratado, em relação a um Estado, termina se esse Estado notificar aos outros Estados, entre os quais o tratado é aplicado provisoriamente, sua intenção de não se tornar parte no tratado”.
“Artigo 66
Processo de Solução Judicial, de Arbitragem e de Conciliação 
Se, nos termos do parágrafo 3 do artigo 65, nenhuma solução foi alcançada, nos 12 meses seguintes à data na qual a objeção foi formulada, o seguinte processo será adotado: 
a)qualquer parte na controvérsia sobre a aplicação ou a interpretação dos artigos 53 ou 64 poderá, mediante pedido escrito, submetê-la à decisão da Corte Internacional de Justiça, salvo se as partes decidirem, de comum acordo, submeter a controvérsia a arbitragem; 
b)qualquer parte na controvérsia sobre a aplicação ou a interpretação de qualquer um dos outros artigos da Parte V da presente Convenção poderá iniciar o processo previsto no Anexo à Convenção, mediante pedido nesse sentido ao Secretário-Geral das Nações Unidas”.
	Conceito 
- Prevê o art. 2º, § 1º, “a”, da CVDT/69 que tratado “significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica”. 
- Não é possível a existência de um tratado oral, pois se trata de um ato solene. 
- A denominação atribuída ao tratado é irrelevante para a definição de sua natureza. Os nomes mais comuns são tratados, convenções, concordatas, protocolos, ajustes, entre outros. 
- Embora a Convenção mencione ser o tratado concluído entre Estados, atualmente se admite a celebração de tratados por organizações internacionais e outras entidades, tais como a Santa Sé e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. 
- ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS: em 1986 foi assinada uma nova Convenção de Viena, versando sobre Tratados e Organizações Internacionais. Essa Convenção não revoga a de 1969, funcionando como um complemento a ela. Essa Convenção, em verdade, amplia a Convenção de 1969, pois admite que as organizações internacionais, espécies de sociedades de Estado, também celebrem tratados internacionais. 
- SANTA SÉ: a Santa Sé também possui capacidade para celebrar tratados. Isso se deve à importância que a Igreja católica assumiu na gênese do Direito Internacional, prestando significativa contribuição na Paz de Vestfália e na formação dos Estados soberanos. 
- A Santa Sé não deve ser confundida nem com a Igreja, nem com o Vaticano. Este último é um Estado soberano criado a partir de um tratado celebrado entre a Itália e a Santa Sé. 
- A Santa Sé é a administração superior da Igreja católica. 
- Os tratados da Santa Sé recebem o nome de concordata.
- COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA: possui capacidade para celebrar tratados. Assim como a Santa Sé, não é uma organização internacional, mas sim uma entidade sui generis, pois consiste em uma entidade de Direito Privado. A sociedade internacional conferiu essa capacidade à Cruz Vermelha em razão da importância dessa entidade para o direito humanitário (direito dos conflitos armados).
 
	Classificações 
- Existem inúmeras classificações atribuídas aos tratados. As mais relevantes são as classificações quanto ao número de partes e quanto ao processo de incorporação. 
- QUANTO NÚMERO DE PARTES: 
- Bilaterais: celebrado entre duas partes.
- Multilaterais: celebrado entre mais de duas partes. 
- QUANTO AO PROCESSO DE INCORPORAÇÃO:
- Unifásicos: incorporado ao ordenamento jurídico do Estado por meio de um ato único, ou seja, de um ato simples. Geralmente, esse ato de incorporação traduz-se na assinatura do tratado. 
- Bifásicos ou multifásicos: para ser internalizado, necessita se sujeitar a um procedimento complexo de incorporação, que envolve mais de uma fase e, normalmente,com a participação de mais de um Poder do Estado. Esse é o modelo brasileiro de incorporação de tratados, que tem como inspiração o modelo americano. Sucede que, nos EUA, o tratado necessita ser aprovado apenas pelo Senado Federal, ao passo que no Brasil necessita ser aprovado pelas duas casas do Congresso Nacional, como decorre dos artigos 49, I, e 84, VIII, da CF:
“Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional”.
“Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional”. 
- ACORDOS EM FORMA SIMPLIFICADA OU ACORDOS EXECUTIVOS: são exceções ao tratado multifásico no ordenamento jurídico brasileiro, ou seja, são atos normativos internacionais que se incorporam ao ordenamento pátrio de maneira unifásica. 
- Logo, no Brasil pode haver tratados que entrem em vigor na data da própria assinatura. Isso já foi indagado em prova para a PGFN. 
- Esses acordos não possuem existência autônoma, sendo celebrados para complementar um tratado guarda-chuva ou um tratado quadro. 
(i) tratado guarda-chuva (umbrella treaty): tratado amplo que não se prende em regular completamente determinada questão jurídica, mas apenas instituir as grandes linhas mestras da matéria que lhe deu origem, demandando complementação por meio de outros tratados internacionais concluídos sob a sua sombra. Exemplo: Tratado da Antártica;
(ii) tratado-quadro: estabelece as grandes bases jurídicas do acordo, bem como os direitos e deveres das partes, deixando para um momento posterior sua regulamentação pormenorizada, o que é feito por meio de anexos e apêndices.
- Para se caracterizar um acordo em forma simplificada, mister se faz a concorrência de dois requisitos: 
(i) não pode conter qualquer espécie de despesa ou gravame ao patrimônio nacional;
(ii) não pode inovar no ordenamento jurídico nacional. 
	Processo de incorporação
- NEGOCIAÇÕES: não existem formalismos ou regras que regulem a etapa de negociação dos tratados. Embora extremamente relevante para a conclusão do tratado, cuida-se de uma fase embrionária que não desperta maiores questionamentos jurídicos. 
- Carta de plenos poderes: é uma espécie de procuração conferida pelo Presidente da República para que uma pessoa represente o Estado na celebração do tratado. É exigida, na prática, ao ensejo da assinatura dos tratados. 
- ASSINATURA: é o primeiro ato de materialização do tratado, pois até a fase das negociações o texto ainda está sendo discutido. 
- Autenticação do texto: uma vez assinado o tratado, seu texto torna-se definitivo, não podendo ser modificado a menos que haja uma emenda. A emenda deve obedecer ao mesmo procedimento e ser igualmente assinada; 
- A assinatura significa apenas a intenção do Estado em incorporar o tratado ao seu ordenamento jurídico. A simples assinatura do tratado não significa que o Estado está obrigado ao seu cumprimento, até porque o tratado pode ser rejeitado pelo Parlamento. Com relação ao Protocolo de Kyoto, por exemplo, os EUA assinaram o tratado, mas ele não foi enviado para aprovação no Senado. Em razão disso, não houve incorporação do tratado no ordenamento americano. 
- Legitimados: a Convenção de Viena elenca quatro agentes com legitimidade para assinar um tratado:
(i) Chefe de Estado ou Chefe de Governo: logo, no Brasil, o Presidente da República é legitimado a assinar um tratado. Dificilmente um Chefe de Estado ou Chefe de Governo assina um tratado; 
(ii) Ministro das Relações Exteriores: chanceler; 
(iii) Chefe de missão diplomática: para a adoção do texto de um tratado entre o Estado acreditante e o Estado junto ao qual está acreditado. Missão diplomática é a embaixada, ou seja, repartição pública sediada em país estrangeiro que tem por objetivo cuidar dos interesses do Estado. O chefe dessa missão é o embaixador;
(iv) pessoa que possui carta de plenos poderes: a princípio, a carta de plenos poderes poderia ser atribuída a qualquer pessoa. Na prática, essa carta é normalmente conferida a agentes políticos, tais como Ministros de Estado. 
- Os três primeiros são considerados plenipotenciários, pois não necessitam de carta de plenos poderes para a assinatura do tratado. 
- Na prova para o cargo de Procurador do Bacen indagou-se a diferença entre os plenipotenciários plenos e os plenipotenciários limitados. 
(i) plenos: Chefe de Estado, Chefe de Governo e Ministro das Relações Exteriores. São plenos porque podem celebrar qualquer tipo de tratado, com qualquer Estado e qualquer organização internacional; 
(ii) limitados: Chefe de missão diplomática. É limitado porque somente é plenipotenciário em relação ao Estado no qual está acreditado, ou seja, onde exerce as suas funções. 
- APROVAÇÃO: sob o aspecto jurídico, talvez seja a fase mais importante. 
- Pode ser chamado de referendo ou autorização, mas nunca de ratificação, pois quem ratifica o tratado é o Presidente da República. 
- A aprovação cabe ao Parlamento. Essa aprovação se faz necessária porque o tratado também deve refletir o interesse do povo brasileiro, que é representado pelos integrantes do Congresso Nacional. 
- A tramitação interna do tratado possui o mesmo rito de uma lei de iniciativa do Chefe do Poder Executivo. Assim, sua tramitação se inicia na Câmara dos Deputados e, posteriormente, vai para o Senado. 
- Há dois quóruns de aprovação possíveis:
(i) maioria simples: maioria dos presentes, estando presente a maioria absoluta. É a regra geral; 
(ii) quórum de EC: nos termos do art. 5º, § 3º, da CF, se for aprovado com esse quórum e versar sobre direitos humanos, terá status de emenda constitucional. O primeiro tratado dessa natureza no Brasil é a Convenção da ONU sobre Pessoas com Deficiência.
- O Parlamento não pode modificar o texto do tratado. Como dito, a assinatura é a autenticação do texto do tratado. Após a assinatura, o texto não pode ser modificado. O que o Congresso pode fazer é rejeitar o tratado, ou seja, não o aprovar. 
- Reserva: oposição unilateral de vontade de um Estado, no sentido de não admitir determinado dispositivo do texto de um tratado. É a manifestação de rejeição a um ou mais dispositivos do tratado. Pode ser oposta na assinatura, na aprovação (pelo Parlamento) e até mesmo da ratificação. 
- Os tratados bilaterais não admitem reservas em hipótese alguma, sem exceções. 
- Os tratados multilaterais, em regra, admitem reservas. Somente não admitem reservas nas seguintes hipóteses:
(i) quando a cláusula for essencial ao tratado, ou seja, quando se tratar de um dispositivo elementar para o tratado;
(ii) quando o próprio tratado proíbe, hipótese em que o Estado ou concorda com a integralidade do texto do tratado ou simplesmente não o subscreve. O Estatuto de Roma, por exemplo, proibiu reservas a qualquer de seus dispositivos, como decorre de seu art. 120; 
(iii) quando o tratado indica expressamente quais dispositivos podem ou não sofrer reservas.
- O Brasil apresentou reserva ao art. 28 da Convenção de Viena, que trata da aprovação provisória do tratado. O Congresso Nacional entendeu que esse dispositivo representaria uma usurpação da competência o Legislativo pátrio. Logo, não cabe aplicação provisória de tratados no Brasil.
- No Brasil, o tratado é incorporado por meio de dois atos normativos, quais seja, Decreto Legislativo e Decreto de Promulgação, este último editado pelo Presidente da República.
- Finda a participação do Congresso Nacional, é editado o acima referido Decreto Legislativo. Esse Decreto é o ato seguinte à aprovação do tratado pelo Congresso Nacional. 
- Juridicamente, o Decreto Legislativo não tem muita importância, significando apenas que o Congresso Nacional encerrou a sua participação no processo de incorporação do tratado.A edição desse Decreto não significa que o tratado está vigor internamente ou internacionalmente. Apenas põe fim à participação do Legislativo. 
- RATIFICAÇÃO: é com a ratificação que o tratado entra em vigor internacionalmente. É um ato do Presidente da República. 
- Significa a confirmação do Estado à parte interessada dando conta de que foram observados os requisitos internos para a incorporação do tratado. Se instrumentaliza por meio de uma nota de ratificação enviada à parte ou às partes interessadas. 
- No caso do Brasil, o requisito interno exigido pela CF é a aprovação do tratado pelo Congresso Nacional.
- Na prática, um tratado no Brasil demora cerca de quatro anos para ser incorporado. 
- O tratado bilateral somente entra em vigor internacionalmente quando houver a troca de notas de ratificação entre as partes. Assim, se Brasil e EUA celebrarem um tratado no qual o primeiro país promove a ratificação em 2004 e o outro apenas em 2006, o tratado entra em vigor internacionalmente no ano de 2006. 
- No tratado multilateral, há a eleição de um Estado depositário, que, dentre outras funções, é o responsável pelo recebimento das notas de ratificação remetidas pelas diversas partes do tratado. Nesse caso, a sua entrada em vigor no plano internacional depende daquilo que dispuser o tratado. Pode, por exemplo, prever que entrará em vigor quando todas as partes tiverem apresentado as suas ratificações. Podem também prever que entrará em vigor a partir do momento em que determinado número de partes apresentarem ratificações. 
- O Presidente da República não está vinculado a promover a ratificação do tratado. Mesmo depois da aprovação pelo Parlamento, pode o Presidente recusar-se a ratificar o tratado. A ratificação é um ato discricionário. 
- PROMULGAÇÃO: é com a promulgação que o tratado entra em vigor internamente. É concretizada por meio de um Decreto do Presidente da República. 
- Após a ratificação, o tratado ainda não produz efeitos no plano interno. Para o STF, o tratado somente entra em vigor no plano interno com a promulgação, por meio de um Decreto do Presidente da República. 
- Logo, no Brasil, todos os tratados são Decretos. É dizer, o Brasil incorpora os tratados por meio de Decretos do Presidente da República. 
- A partir da publicação desse Decreto, o tratado passa a ter vigência interna, ou seja, passa a ser um ato normativo interno, podendo o seu cumprimento ser exigido do Estado e dos particulares.
- Após a ratificação e antes da promulgação, o cidadão não pode invocar as disposições do tratado para resolver uma contenda interna. Todavia, pode o Brasil ser responsabilizado no plano internacional por violação ao tratado. 
- REGISTRO: a Carta das Nações Unidas dispõe que, para a invocação do tratado perante um órgão da ONU, deve ele estar previamente registrado. 
“Artigo 102. 
1. Todo tratado e todo acordo internacional, concluídos por qualquer Membro das Nações Unidas depois da entrada em vigor da presente Carta, deverão, dentro do mais breve prazo possível, ser registrados e publicados pelo Secretariado.
2. Nenhuma parte em qualquer tratado ou acordo internacional que não tenha sido registrado de conformidade com as disposições do parágrafo 1 deste Artigo poderá invocar tal tratado ou acordo perante qualquer órgão das Nações Unidas”.
- O registro é uma espécie de publicação do tratado.
- Todavia, o fato de o tratado não estar registrado no Secretariado da ONU não significa que ele seja inválido ou que não produza efeitos jurídicos, tampouco que não possa ser invocado perante outro Estado. 
- O único problema do tratado não registrado é a impossibilidade de sua invocação perante um órgão da ONU. Caso seja invocado, o órgão da ONU delibera se aceita ou não a aplicação do tratado não registrado. Todavia, essa regra tem sido objeto de questionamentos. 
	Modificação 
- Os tratados podem ser modificados por meio de emendas.
- Para ser modificado, o tratado deve passar pelo mesmo procedimento previsto para a sua incorporação, ou seja, a emenda será negociada, assinada, aprovada, ratificada, promulgada e registrada.
	Extinção 
- O tratado pode ser extinto por várias maneiras: decurso de prazo, perda do objeto, perecimento do objeto, declaração de guerra, rompimento das relações diplomáticas. 
- Todavia, a grande questão a esse respeito é a extinção do tratado por meio de manifestação de vontade unilateral do Estado. Essa forma de extinção do tratado é denominada de denúncia.
- No Direito Internacional, a denúncia é a manifestação de vontade de um Estado no sentido de não fazer mais parte de determinado tratado. 
- Caso concreto: a Convenção nº 158 da OIT dispõe sobre a impossibilidade de um trabalhador da iniciativa privada ser demitido sem justa causa, o que cria uma espécie de estabilidade empregatícia na iniciativa privada. Essa Convenção chegou a ser ratificada pelo Brasil. Todavia, antes de ser promulgada, o Presidente da República (FHC), pressionado pelo setor patronal, resolveu denunciar a Convenção. 
- Todavia, discutiu-se se para essa denúncia seria ou não necessária a autorização do parlamento. A este respeito, existem duas correntes:
(i) corrente tradicional (Clóvis Beviláqua): sustenta que, no Brasil, há uma primazia do Poder Executivo em relação ao Legislativo no processo de incorporação dos tratados, pois é o Poder Executivo que coordena todo o processo, iniciando-o com as negociações e finalizando-o com a promulgação. Em razão disso, o Poder Executivo poderia perfeitamente denunciar o tratado sem aprovação do parlamento. 
(ii) corrente moderna (posição do professor): entende que, como a CF prevê a aprovação do tratado pelo Congresso, a sua denúncia, por questão de simetria, também deveria estar sujeita à aprovação do parlamento. A Constituição da Argentina prevê expressamente a necessidade de a denúncia do tratado ser aprovada pelo parlamento. 
- No caso da Convenção 158 da OIT, o Presidente optou por não consultar o Congresso Nacional. Assim, expediu um Decreto de denúncia e comunicou à OIT que o Brasil estava denunciando aquele tratado. 
- Posteriormente, a CUT e a CONTAG manejaram ADI 1625 contra esse Decreto. O relator, Min. Maurício Corrêa, votou pela procedência da ADI. Esse voto foi seguido pelo Min. Ayres Brito. Em voto-vista, o Min. Jobim abriu divergência, entendendo pela desnecessidade de consulta ao parlamento. Em seguida, o Min. Joaquim Barbosa, também em voto-vista, acompanhou o relator. Posteriormente, a Min. Ellen Gracie pediu vista e se aposentou sem proferir o seu voto. Atualmente, o feito se encontra no gabinete da Min. Rosa Weber. 
- Em prova da OAB, elaborada pela CESPE, a banca entendeu que o Presidente da República poderia denunciar o tratado sem a manifestação do Congresso Nacional. 
AULA 3: Status dos tratados no Brasil. Direito da nacionalidade. Condição jurídica do estrangeiro no Brasil. 
	STATUS DOS TRATADOS NO BRASIL 
- Em verdade, não se trata do status do tratado propriamente dito, pois ele é incorporado ao ordenamento interno por meio de um Decreto do Presidente da República. 
- A indagação, portanto, é a respeito do status desse Decreto que incorpora o tratado. 
	Regra geral 
- Não é fruto de previsão legislativa, mas sim da jurisprudência do STF, formada em 1977 a partir do julgamento do RE 80.004. 
- Nesse julgamento, o STF entendeu que os tratados ingressariam no ordenamento pátrio com status de lei ordinária. 
- Logo, têm o condão de revogar leis anteriores com ele incompatíveis e também podem ser revogados por leis posteriores que disponham de modo diverso do seu texto. Alguns internacionalistas discordam, sustentado que seria impossível uma lei posterior revogar um trato. Todavia, esse é o posicionamento do STF a esse respeito. 
- Já foi indagado em prova se um tratado geral poderia revogar uma lei especial. A resposta é negativa, pois tendo o tratado o status de lei ordinária, iráse portar no plano interno como se fosse uma lei dessa natureza. Deve-se, portanto, seguir a regra segundo a qual lei geral não revoga lei especial. 
- Nos conflitos entre leis e tratados, deve-se lançar mão das técnicas usuais de solução de antinomias. 
	Exceções
- TRATADOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA: dispõe o art. 98 do CTN:
“Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha”.
- Entende-se, embora não de forma pacífica, que esse dispositivo seria aplicável apenas aos chamados tratados-contrato, e não aos tratados-lei. 
- Logo, o tratado-contrato em matéria tributária possui status de supralegalidade. Isso porque, embora revogue a legislação anterior com ele incompatível, deve ser observado pela legislação superveniente, não podendo ser por ela revogado.
(i) tratado-lei: fixam normas gerais de Direito Internacional Público, com base na vontade convergente das partes. Não são obrigatórios senão para os Estados que os celebraram;
(ii) tratados-contrato: baseados na vontade divergente das partes, assemelham-se a um contrato, pois por ele as partes fazem concessões mútuas buscando interesses diferentes.
- Segundo o STF, os tratados não podem regular matéria que no Brasil é sujeita à reserva de lei complementar. 
- TRATADOS SOBRE DIREITOS HUMANOS APROVADOS COM QUÓRUM DE EMENDA CONSTITUCIONAL: nos termos do art. 5º, § 3º, da CF “os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.
- Até o momento, o único tratado aprovado com esse status no Brasil foi a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 
- Direitos humanos devem ser entendidos como normas que visam a proteção da dignidade da pessoa humana. 
- Estudar o chamado controle de convencionalidade, que significa a aferição in abstrato da validade de uma norma jurídica tendo por parâmetro de controle um tratado com status de emenda constitucional. 
- A CF não diz que o tratado aprovado com quórum qualificado será uma emenda constitucional. Apenas diz que ele terá status de emenda constitucional. Daí porque surge a dúvida a respeito da possibilidade de suscitar controle de validade de uma norma utilizando o tratado como parâmetro. 
- Alguns sustentam que esse controle poderia ser suscitado por meio de ADI. Outros entendem que seria necessário criar um outro mecanismo de controle, o chamado controle de convencionalidade, ou seja, controle de constitucionalidade no qual o parâmetro não é uma norma constante da CF, mas sim um tratado com status de emenda constitucional. 
- DEMAIS TRATADOS SOBRE DIREITOS HUMANOS: é a situação dos tratados aprovados após a CF de 1988, mas sem observar o rito especial previsto no seu art. 5º, § 3º, como é o caso do PSJCR, que foi incorporado pelo Decreto 678/92. 
- Após a sua incorporação, muitos autores, a exemplo de Flávia Piovesan, passaram a sustentar que esse tratado havia sido introduzido no ordenamento pátrio com status de emenda constitucional, em razão do que previsto no art. 5º, § 2º, da CF, segundo o qual “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. 
- Logo, segundo esses autores, a CF não seria um sistema fechado, na medida em que o referido dispositivo traria uma abertura para o chamado bloco de constitucionalidade, ou seja, para a existência de normas constitucionais não presentes do corpo da CF. 
- É dizer, a CF seria um sistema aberto, um sistema em expansão.
- Essa é a chamada Teoria da Alopoiese Constitucional. 
- Essa teoria foi encampada pelo STJ, entendendo esse Tribunal que a prisão do depositário infiel teria sido revogada da CF por meio do PSJCR. 
- Todavia, o STF não concordou com essa tese. Em entendimento capitaneado pelo Min. Gilmar Mendes, o STF observou que o PSJCR fora incorporado com o quórum de lei ordinária. Logo, para o STF, não se poderia admitir a alteração da Constituição por meio de uma lei ordinária. 
- Logo, entendeu o STF que, por ter sido aprovado no Congresso com quórum de lei ordinária, o PSJCR não teria status de emenda constitucional. 
- Aliás, segundo o STF, o objetivo da edição do art. 5º, § 3º, da CF foi justamente deixar bem clara a inviabilidade de atribuição de status constitucional a tratados aprovados com quórum de lei ordinária. 
- É certo que a partir da entrada em vigor do referido parágrafo, um tratado somente alcançará status de emenda constitucional se for aprovado com quórum qualificado. 
- Contudo, discutiu-se sobre como ficaria a situação dos tratados incorporados antes do referido parágrafo, como é o caso do PSJCR.
- Essa discussão chegou ao STF no caso da prisão do depositário infiel. A esse respeito, formaram-se duas correntes:
(i) Gilmar Mendes: como um ato normativo com status de lei ordinária não pode alterar a CF, não se sustenta a alegação de que a prisão do depositário infiel teria sido revogada pelo PSJCR; 
(ii) Celso de Mello: defendendo a alopoiese constitucional, sustentou que o art. 5º, § 2º, da CF dava sustentação à existência de um bloco de constitucionalidade, permitindo que normas não constantes do texto da CF sirvam como parâmetro de controle de constitucionalidade. 
- A tese do Min. Celso de Mello foi derrotada e, mais uma vez, afirmou o STF que o PSJCR não tem status de emenda constitucional.
- Todavia, em conclusão, o STF entendeu que, em razão do art. 5º, § 2º, da CF, os tratados sobre direitos humanos, mesmo sem aprovação pelo quórum qualificado, possuem uma estatura mais elevada na ordem jurídica, dada a relevância dos interesses tutelados pelas suas normas. Possuem, portanto, status supralegal. Estão abaixo da CF e acima das leis. 
- Consequentemente, a prisão civil do depositário infiel permanece admitida pela CF, não tendo a previsão constitucional sofrido qualquer mudança por obra do PSJCR, justamente porque esse Diploma legal possui status inferior à Constituição. 
- Logo, a prisão civil do depositário infiel é constitucional, ou seja, possui prisão constitucional no art. 5º, LXVII. 
- Todavia, a CF apenas menciona a possibilidade da prisão civil do depositário infiel, sem, contudo, trazer a sua regulamentação pormenorizada. A prisão civil do depositário infiel era disciplinada por atos normativos inferiores à CF.
- E, por estar acima dessa regulamentação legal, o PSJCR revogou todas as disposições infraconstitucionais que disciplinavam a prisão do depositário infiel. 
- Logo, embora admitida constitucionalmente, a prisão do depositário infiel não mais pode ser decretada, haja vista a ausência de regulamentação legal. Isso pode ser percebido na redação da súmula vinculante 25:
“É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”.
- Veja-se que a súmula não prevê a inconstitucionalidade da prisão do depositário infiel. Fala, na verdade, em ilicitude dessa modalidade de prisão. 
- Em função disso, o art. 5º, LXVII, da CF, no que diz respeito à prisão civil do depositário infiel, é uma norma constitucional de eficácia limitada, pois não possui aplicabilidade. Para essa norma ser aplicável, faz-se necessária a edição de uma emenda constitucional regulamentando a prisão civil do depositário infiel. 
- Somente por emenda constitucional a prisão civil do depositário infiel poderá ser restaurada, pois, sendo o PSJCR uma norma de status supralegal, qualquer lei que venha a cuidar do assunto será fatalmente inválida. 
	RELAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO COM O DIREITO INTERNO 
- Não é uma matéria da predileção de Eugênio Aragão. 
- Por mais que seja aprovado pelo Congresso Nacional, o tratado não expressaapenas a vontade do Estado brasileiro, mas também a de outros Estados.
- Já as leis, em sua essência, são a expressão da vontade do povo, manifestada por meio de seus representantes eleitos. 
- Em função disso, há uma discussão sobre a legitimidade democrática dos tratados.
- Essa é a razão das divergências entre a doutrina monista e a doutrina dualista no Direito Internacional Público. 
	Monismo
- Defende a existência de um único ordenamento jurídico. 
- Para o monismo, não existe ordenamento jurídico interno e ordenamento jurídico internacional, mas sim um único ordenamento jurídico. 
- Para o monismo, os tratados se encontram dentro na pirâmide kelseniana. 
- Não existe monismo puro. Essa doutrina se divide em duas subcorrentes, vale dizer, internacionalista e nacionalista.
- MONISMO INTERNACIONALISTA: para essa corrente, caso o tratado conflite com a legislação interna, a primazia será sempre do Direito Internacional, ou seja, do tratado, ainda que o conflito se estabeleça com uma norma constitucional. 
- MONISMO NACIONALISTA: para essa corrente, caso o tratado conflite com a legislação interna, a primazia será sempre das normas internas. 
	Dualismo
- Sustenta que não seria possível a convivência entre um ordenamento internacional e um ordenamento interno. 
- Defende a existência não de um, mas sim de vários ordenamentos jurídicos. 
- Para o dualismo, o tratado está fora da pirâmide kelseniana, pois existe um ordenamento nacional diverso do ordenamento internacional. 
- Esses ordenamentos jurídicos seriam completamente incompatíveis. 
- O dualismo sustenta que, para um ato internacional ter validade no ordenamento interno, deve ele passar por um processo de transformação, ou seja, por um filtro. Nesse processo, o tratado se transforma em um ato normativo interno. 
- DUALISMO EXTREMADO: para essa corrente, o tratado, para ter validade no ordenamento interno, deve ser transformado em uma lei. 
- A Itália adota o dualismo extremado. 
- DUALISMO MODERADO OU MITIGADO: para essa corrente, o tratado, para ter validade no ordenamento interno, não necessita ser transformado em uma lei, podendo ser transformado em um ato interno infralegal, a exemplo de um Decreto. 
- De acordo do STF, o Brasil é dualista moderado. 
- No Direito interno do Brasil, não existem propriamente tratados. Os tratados existem no Direito Internacional. No Brasil, o que há são Decretos que incorporam os tratados, transformando-os em normas do ordenamento pátrio.
	DIREITO DA NACIONALIDADE 
- Tanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos, quanto o PSJCR preveem a nacionalidade como um direito do cidadão. 
- A CF não prevê expressamente que a nacionalidade é um direito fundamental, mas isso pode ser inferido tanto em razão da posição topográfica ocupada pelos dispositivos que tratam da nacionalidade, como também pela alta relevância da matéria para a afirmação da dignidade pessoal de cada cidadão. 
- Logo, pode-se afirma que a nacionalidade é um direito fundamental.
- Já o art. XV da Declaração Universal dos Direitos do Homem prevê que “toda pessoa tem direito a uma nacionalidade” e que “ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade”. 
- Além do jus solis, do jus sanguinis e do critério misto, existem outro critérios para a determinação da nacionalidade, que é o jus domicili e o jus labori. 
- Pelo jus domicilii, o estabelecimento de residência em um Estado confere ao indivíduo a nacionalidade do referido Estado. É o que ocorre no Vaticano. 
- No jus labori, a prestação de serviços em prol do Estado favorece ou facilita a aquisição da respectiva nacionalidade. 
- SÃO BRASILEIROS NATOS (art. 12, I, da CF):
“a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira”.
- No caso da alínea c, há duas situações. A primeira não exige estabelecimento de residência no Brasil, bastando o registro em repartição brasileira competente (repartição consular). Na segunda situação, cabível no caso de não ter havido registro em repartição brasileira competente, o interessado deve fixar residência no Brasil e optar, a qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira.
- Em prova subjetiva do TRF-5 foi indagado se, no caso de quem ainda não atingiu a maioridade, alguém poderia fazer a opção por ele. A resposta é negativa, pois essa opção é um direito personalíssimo. 
- Todavia, essa situação pode deixar o indivíduo sem nacionalidade (apátrida), caso, por exemplo, o país no qual nasceu não adote o critério do jus soli e não seja ele filho de nacional do referido país.
- Para o STF, nessa situação, enquanto o indivíduo não atingir a maioridade, terá a nacionalidade brasileira, haja vista a sua incapacidade para formular a opção. Após atingir a maioridade, essa nacionalidade brasileira fica suspensa até o indivíduo manifestar a sua opção.
- SÃO BRASILEIROS NATURALIZADOS (art. 12, II, da CF):
“a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.”
- Já foi indagado em prova para juiz federal se haveria, no que concerne à naturalização, tratamento privilegiado para estrangeiros oriundos de países lusófonos. A resposta é positiva. Esse tratamento privilegiado diz respeito tão somente ao prazo de residência, que é de apenas um ano ininterrupto.
- O caso da alínea “b” é denominado de naturalização extraordinária constitucional. 
	Diferenças entre brasileiro nato e naturalizado
- Existem quatro distinções entre brasileiros natos e naturalizados.
- Essas distinções somente podem ser estabelecidas pela Constituição. 
1) OCUPAÇÃO DE DETERMINADOS CARGOS: estabelecida no art. 12, § 3º, da CF, que prevê rol taxativo. 
- São privativos de brasileiros natos os cargos de:
(i) Presidente e Vice-Presidente da República;
(ii) Presidente da Câmara dos Deputados;
(iii) Presidente do Senado Federal;
(iv) Ministro do Supremo Tribunal Federal;
(v) carreira diplomática;
(vi) oficial das Forças Armadas;
(vii) Ministro de Estado da Defesa. 
- Esse regramento não pode ser seguido pela Constituição Estadual a pretexto de observar a simetria. Por se tratar de rol taxativo, não se admite interpretação extensiva. 
- Para ser militar, não é necessário ser brasileiro nato. Apenas para ser oficial das Forças Armadas é exigida a condição de brasileiro nato. 
- Pela lógica, o Ministro das Relações Exteriores deveria ser brasileiro nato. Ressalte-se que ele não necessita um diplomata de carreira. Todavia, não há exigência de que o Ministro das Relações Exteriores seja brasileiro nato. 
2) CONSELHO DA REPÚBLICA: nos termos do art. 89 da CF, dentre os seus membros, estão seis brasileiros natos.
- Já constou em prova assertiva segundo a qual ser brasileiro nato seria condição para integrar o Conselho da República. Está errada. O Ministro da Justiça e os líderes da maioria e da minoria da Câmara e do Senado, por exemplo, não necessitam ser brasileiros natos. Devem ser brasileiros natos os seis cidadãos referidos no inciso VII do art. 89, além, é óbvio, do Vice-Presidente da República, do Presidente da Câmara e do Presidente do Senado,que já necessitam ser brasileiros natos por força do art. 12, § 3º, da CF. 
3) EXTRADIÇÃO: na forma do art. 5º, LI, da CF, nenhum brasileiro nato será extraditado do Brasil. O naturalizado pode ser extraditado em duas situações:
(i) crime comum cometido antes da naturalização;
(ii) crime de tráfico de drogas, na forma da lei brasileira, antes ou depois da naturalização. 
- A extradição do brasileiro naturalizado não se confunde com as hipóteses de perda da nacionalidade. O brasileiro pode perder a nacionalidade:
(i) na via administrativa (perda-opção): por decreto do Presidente da República, quando o sujeito voluntariamente adquirir outra nacionalidade. Vale tanto para o brasileiro nato, como para o brasileiro naturalizado;
(ii) na via judicial (perda-sanção): por sentença da Justiça Federal em ação de cancelamento da naturalização pela prática de atividade nociva ao interesse nacional. Só vale para brasileiros naturalizados. Como noticiado no informativo 694 do STF, o cancelamento da naturalização somente pode ocorrer na via judicial. É dizer, mesmo constatando-se vício no processo administrativo de naturalização, não pode o Poder Executivo, com base na autotutela, anular o ato que concedeu a naturalização. Há aqui uma reserva de jurisdição.
- A perda-sanção nunca pode ser aplicada ao brasileiro nato. 
- A CF admite, em algumas situações, a dupla nacionalidade. Logo, nem sempre a aquisição de outra nacionalidade implicará perda da nacionalidade brasileira. A perda-opção do brasileiro nato tem como pressuposto o consentimento, dependendo da sua manifestação expressa. 
4) PROPRIEDADE DE RÁDIO, TV E JORNAL, BEM COMO RESPONSABILIDADE PELA DEFINIÇÃO DA LINHA EDITORIAL DESSES VEÍCULOS: previsto no art. 222 da CF. É privativa de brasileiro, seja ele nato ou naturalizado. Todavia, para o naturalizado exige-se dez anos de naturalização.
	CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO NO BRASIL 
- Tratada na Lei 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro).
	Diferenças entre brasileiros e estrangeiros
- A expressão “estrangeiros residentes”, constante do caput do art. 5º da CF, sofreu mutação constitucional. Logo, os direitos e garantias fundamentais são extensíveis a quaisquer estrangeiros, ainda que estejam apenas de passagem pelo território nacional. 
- Tendo em vista que o art. 5º da CF afirma que todos são iguais perante a lei, inclusive estrangeiros, haveria alguma distinção entre brasileiros e estrangeiros? Nada obstante a previsão desse dispositivo, existem diferenças de tratamento jurídico entre brasileiros e estrangeiros. A previsão do referido dispositivo diz respeito apenas à proteção à dignidade. 
- No que se refere à proteção à dignidade, não há distinções entre brasileiros e estrangeiros. O que os distinguem são apenas os aspectos decorrentes da nacionalidade. 
- Nacionalidade é um vínculo jurídico-político, em regra eterno, que une uma pessoa a um Estado.
- Direitos políticos: o estrangeiro não exerce direitos políticos no Brasil, com exceção da situação específica do português equiparado. 
- Direito de permanência: ao contrário do brasileiro, o estrangeiro não possui o direito incondicional de sair do território nacional e retornar a qualquer momento, tampouco o de permanecer no Brasil pelo tempo que desejar. Para tanto, o estrangeiro necessita de uma autorização, ou seja, de um visto. 
- Direito de propriedade: o estrangeiro pode adquirir propriedade no Brasil. Contudo, esse direito é sujeito a algumas restrições, animadas por interesses relacionados à soberania nacional. Há limitações, por exemplo, à aquisição de propriedades por estrangeiros na faixa de fronteira, bem como limitações relacionadas à extensão de propriedades rurais. 
- As distinções entre brasileiros e estrangeiros podem ser estabelecidas em leis infraconstitucionais. De outra parte, as distinções entre brasileiros natos e naturalizados somente podem ser veiculadas na Constituição. 
- A própria Lei 6.815/80 cria distinções entre brasileiros e estrangeiros. 
- Essa lei vem sendo explorada com muita profundidade nas provas para o cargo de juiz federal. 
- Essa lei possui uma sequência lógica, abordando a condição jurídica do estrangeiro na seguinte ordem:
(i) autorização para entrada;
(ii) entrada;
(iii) permanência;
(iv) saída. 
	Autorização para entrada (visto consular)
- Sob o ponto de vista jurídico, nenhum Estado no mundo tem obrigação de receber estrangeiros. O Estado pode simplesmente impedir a entrada de estrangeiros em seu território. É lógico que restrição dessa ordem pode causar sérios problemas ao Estado no campo econômico e também nas suas relações diplomáticas, mas obrigação jurídica não há. Isso não configura nenhum ilícito na seara do Direito Internacional. 
- Essa questão foi cobrada na prova da DPU.
- O Estado somente está obrigado a receber os seus nacionais. O recebimento de um estrangeiro se dá no exercício de uma discricionariedade. 
- Isso significa que, a princípio, qualquer estrangeiro, para ingressar no território nacional, necessita de uma autorização.
- A essa autorização dá-se o nome de visto consular. O visto consular é uma autorização para o ingresso do estrangeiro no território nacional. 
- O visto é um ato discricionário do Estado brasileiro. Ainda que o estrangeiro preencha todos os requisitos para o ingresso no Brasil, o seu pedido de vista pode ser negado. 
- A concessão do visto é um ato de Estado. Logo, há, nesse aspecto, imunidade de jurisdição. Caso o Brasil negue um visto a um americano que preencha todos os requisitos legais, ele não poderá ingressar na Justiça americana pleiteando a concessão do visto, como também não poderá requerer compensação por danos morais em razão da negativa do visto. 
- O visto não gera direito adquirido à entrada do Estado estrangeiro. Confere apenas uma expectativa de direito. Mesmo após a obtenção do visto na repartição consular, o estrangeiro pode ter a sua entrada obstada quando chegar ao país. Assim prevê o Estatuto do Estrangeiro:
“Art. 3º A concessão do visto, a sua prorrogação ou transformação ficarão sempre condicionadas aos interesses nacionais”.
AULA 4: Condição jurídica do estrangeiro no Brasil. 
- O Estatuto do Estrangeiro prevê sete espécies de vistos, na forma do seu art. 4º:
“Art. 4º Ao estrangeiro que pretenda entrar no território nacional poderá ser concedido visto:
I - de trânsito;
II - de turista;
III - temporário;
IV - permanente;
V - de cortesia;
VI - oficial; e
VII - diplomático.”
- Extensão do visto a familiares: na forma do parágrafo único do art. 4º, “o visto é individual e sua concessão poderá estender-se a dependentes legais, observado o disposto no artigo 7º.
- Prevê o art. 6º que “a posse ou a propriedade de bens no Brasil não confere ao estrangeiro o direito de obter visto de qualquer natureza, ou autorização de permanência no território nacional”. 
- As hipóteses em que o visto não será concedido estão previstas no art. 7º:
“Art. 7º Não se concederá visto ao estrangeiro:
I - menor de 18 (dezoito) anos, desacompanhado do responsável legal ou sem a sua autorização expressa;
II - considerado nocivo à ordem pública ou aos interesses nacionais;
III - anteriormente expulso do País, salvo se a expulsão tiver sido revogada;
IV - condenado ou processado em outro país por crime doloso, passível de extradição segundo a lei brasileira; ou
V - que não satisfaça às condições de saúde estabelecidas pelo Ministério da Saúde”.
- VISTO DE TRÂNSITO: 
“Art. 8º O visto de trânsito poderá ser concedido ao estrangeiro que, para atingir o país de destino, tenha de entrar em território nacional.
§ 1º O visto de trânsito é válido para uma estada de até 10 (dez) dias improrrogáveis e uma só entrada.
§ 2° Não se exigirá visto de trânsito ao estrangeiro em viagem contínua, que só se interrompa para as escalas obrigatórias do meio de transporte utilizado”.
- É concedido ao estrangeiroque necessita vir ao Brasil apenas com a finalidade de trânsito, ou seja, passará no Brasil apenas em escala ou conexão para chegar a outro país. 
- É concedido apenas para uma única entrada. Os outros vistos, em regra, garantem múltiplas entradas.
- O prazo máximo de permanência com o visto de trânsito é apenas de dez dias, improrrogáveis. Os outros vistos, em regra, podem ser prorrogados.
- É possível a dispensa do visto de trânsito quando se tratar de passagem contínua. Exemplo: quando estrangeiro necessita ingressar no Brasil apenas para trocar de voo, permanecendo no país por poucas horas, sem sair da área de desembarque internacional.
- VISTO DE TURISTA: 
“Art. 9º O visto de turista poderá ser concedido ao estrangeiro que venha ao Brasil em caráter recreativo ou de visita, assim considerado aquele que não tenha finalidade imigratória, nem intuito de exercício de atividade remunerada. 
Art. 10. Poderá ser dispensada a exigência de visto, prevista no artigo anterior, ao turista nacional de país que dispense ao brasileiro idêntico tratamento.
Parágrafo único. A reciprocidade prevista neste artigo será, em todos os casos, estabelecida mediante acordo internacional, que observará o prazo de estada do turista fixado nesta Lei.
Art. 11. A empresa transportadora deverá verificar, por ocasião do embarque, no exterior, a documentação exigida, sendo responsável, no caso de irregularidade apurada no momento da entrada, pela saída do estrangeiro, sem prejuízo do disposto no artigo 125, item VI.
Art. 12. O prazo de validade do visto de turista será de até cinco anos, fixado pelo Ministério das Relações Exteriores, dentro de critérios de reciprocidade, e proporcionará múltiplas entradas no País, com estadas não excedentes a noventa dias, prorrogáveis por igual período, totalizando o máximo de cento e oitenta dias por ano”.
- É o visto mais concedido, em regra. Todavia, segundo o professor, o visto com mais chances de ser cobrado em provas é o temporário, pois ele possui mais detalhes jurídicos. 
- O visto de turista assegura o ingresso do estrangeiro no Brasil para fim de turismo, ou seja, o estrangeiro não pode ter finalidade migratória e também é impedido de exercer qualquer atividade remunerada no país. 
- Esse visto garante múltiplas entradas. 
- O prazo de permanência é de até noventa dias, podendo ser prorrogado por mais noventa, nunca se ultrapassando cento e oitenta dias por ano. 
- O seu prazo de validade, salvo disposição em contrário, é de até cinco anos. Não confundir esse prazo com o prazo de permanência. O fato de o visto ter validade de cinco anos não significa que o estrangeiro possa permanecer no Brasil, com esse visto, pelo prazo de cinco anos. 
- Pode ser dispensado quando houver um tratado de promessa de dispensa recíproca entre o Brasil e o país do estrangeiro. Exemplo: tratado entre o Brasil e a União Europeia. 
- Autoridade Policial e Autoridade Aduaneira não podem dispensar o visto de turista. 
- VISTO TEMPORÁRIO:
“Art. 13. O visto temporário poderá ser concedido ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil:
I - em viagem cultural ou em missão de estudos;
II - em viagem de negócios;
III - na condição de artista ou desportista;
IV - na condição de estudante;
V - na condição de cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria, sob regime de contrato ou a serviço do Governo brasileiro;
VI - na condição de correspondente de jornal, revista, rádio, televisão ou agência noticiosa estrangeira.
VII - na condição de ministro de confissão religiosa ou membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem religiosa. 
Art. 14. O prazo de estada no Brasil, nos casos dos incisos II e III do art. 13, será de até noventa dias; no caso do inciso VII, de até um ano; e nos demais, salvo o disposto no parágrafo único deste artigo, o correspondente à duração da missão, do contrato, ou da prestação de serviços, comprovada perante a autoridade consular, observado o disposto na legislação trabalhista. 
Parágrafo único. No caso do item IV do artigo 13 o prazo será de até 1 (um) ano, prorrogável, quando for o caso, mediante prova do aproveitamento escolar e da matrícula.
Art. 15. Ao estrangeiro referido no item III ou V do artigo 13 só se concederá o visto se satisfizer às exigências especiais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Imigração e for parte em contrato de trabalho, visado pelo Ministério do Trabalho, salvo no caso de comprovada prestação de serviço ao Governo brasileiro”.
- Ao contrários dos vistos de trânsito e de turista, não existe um único visto temporário. Existem, em verdade, sete espécies de visto temporário, arroladas nos incisos do art. 13. 
- No Brasil, não existe um visto de estudante ou um visto de trabalho, por exemplo. Essas são espécies do visto temporário. 
- As finalidades do visto temporário são variadas, na forma do art. 13. 
- O prazo de permanência do visto temporário depende da sua finalidade:
(i) até noventa dias: negócios, artista ou desportista;
(ii) tempo necessário: viagem cultural ou missão de estudos; cientista, professor ou técnico; e correspondente;
(iii) um ano, prorrogável mediante prova do aproveitamento escolar e da matrícula: estudante e religioso (vide art. 36);
- VISTO PERMANENTE:
“Art. 16. O visto permanente poderá ser concedido ao estrangeiro que pretenda se fixar definitivamente no Brasil.
Parágrafo único. A imigração objetivará, primordialmente, propiciar mão-de-obra especializada aos vários setores da economia nacional, visando à Política Nacional de Desenvolvimento em todos os aspectos e, em especial, ao aumento da produtividade, à assimilação de tecnologia e à captação de recursos para setores específicos. 
Art. 17. Para obter visto permanente o estrangeiro deverá satisfazer, além dos requisitos referidos no artigo 5º, as exigências de caráter especial previstas nas normas de seleção de imigrantes estabelecidas pelo Conselho Nacional de Imigração.
Art. 18. A concessão do visto permanente poderá ficar condicionada, por prazo não-superior a 5 (cinco) anos, ao exercício de atividade certa e à fixação em região determinada do território nacional”.
- É concedido àquele que pretenda residir no Brasil de maneira definitiva. 
- As condições para a concessão desse visto são mais criteriosas. Não é qualquer pessoa com intenção de morar definitivamente no Brasil que terá direito ao referido visto. 
- Para obter esse visto, o estrangeiro deve contribuir com algo para os interesses do país. Exemplo: mão de obra especializada, residir em local que necessite de mais habitantes. 
- Existe a possibilidade de concessão de um visto denominado permanente-provisório. É o que ocorre quando o Brasil estabelece uma espécie de período de prova, de até cinco anos, para que o estrangeiro demonstre as condições necessárias à obtenção do visto permanente (art. 18). 
- VISTOS OFICIAL, DE CORTESIA E DIPLOMÁTICO: na forma do art. 19, “o Ministério das Relações Exteriores definirá os casos de concessão, prorrogação ou dispensa dos vistos diplomáticos, oficial e de cortesia”. A concessão desses três visto fica condicionada ao preenchimento das condições fixadas pelo MRE.
- Como o regramento desses vistos se encontra em atos infralegais do MRE, dificilmente seus pormenores serão cobrados em provas de concursos. 
- FRONTEIRA: nas cidades de fronteira é permitido o trânsito de estrangeiros sem visto, admitindo-se até mesmo a dispensa do visto temporário para o exercício de atividades remuneradas e para estudo. Isso está disciplinado no art. 21:
“Art. 21. Ao natural de país limítrofe, domiciliado em cidade contígua ao território nacional, respeitados os interesses da segurança nacional, poder-se-á permitir a entrada nos municípios fronteiriços a seu respectivo país, desde que apresente prova de identidade.
§ 1º Ao estrangeiro, referido neste artigo, que pretenda exercer atividade remunerada ou freqüentar estabelecimentode ensino naqueles municípios, será fornecido documento especial que o identifique e caracterize a sua condição, e, ainda, Carteira de Trabalho e Previdência Social, quando for o caso.
2º Os documentos referidos no parágrafo anterior não conferem o direito de residência no Brasil, nem autorizam o afastamento dos limites territoriais daqueles municípios”.
	Entrada 
- É na entrada que se afere a regularidade ou não do ingresso do estrangeiro, pois o estrangeiro somente pode ingressar no Brasil pelos postos de entrada oficiais. 
- Posto de entrada oficial: aquele que tem, pelo menos, servidores de três órgãos, quais sejam, Ministério da Fazenda, Ministério da Saúde e Ministério da Justiça (Polícia Federal), na forma do art. 22:
“Art. 22. A entrada no território nacional far-se-á somente pelos locais onde houver fiscalização dos órgãos competentes dos Ministérios da Saúde, da Justiça e da Fazenda”.
- Se o estrangeiro não ingressou por posto de entrada oficial, a sua entrada, somente por esse fato, já é considerada irregular. 
- Nos termos do art. 24, “nenhum estrangeiro procedente do exterior poderá afastar-se do local de entrada e inspeção, sem que o seu documento de viagem e o cartão de entrada e saída hajam sido visados pelo órgão competente do Ministério da Justiça”. É esse visto que materializa o registro da entrada do estrangeiro. É a partir da data de aposição desse visto que se conta o prazo para permanência. 
	Saída 
- Não se exige visto para a saída de estrangeiro. A princípio, o visto é apenas de entrada, não existindo a figura do visto de saída.
- Todavia, o Estatuto do Estrangeiro, em seu art. 50, prevê a possibilidade de exigência do visto de saída. 
“Art. 50. Não se exigirá visto de saída do estrangeiro que pretender sair do território nacional. 
§ 1° O Ministro da Justiça poderá, a qualquer tempo, estabelecer a exigência de visto de saída, quando razões de segurança interna aconselharem a medida.
§ 2° Na hipótese do parágrafo anterior, o ato que estabelecer a exigência disporá sobre o prazo de validade do visto e as condições para a sua concessão.
§ 3º O asilado deverá observar o disposto no artigo 29”. 
- Logo, o Ministro da Justiça, por razões de segurança interna, pode editar uma Portaria exigindo a apresentação de visto para a saída do território nacional. Exemplo: se as manifestações de rua alcançarem proporções muito maiores, exigindo um controle mais rígido sobre os estrangeiros que se encontram no território nacional. 
- Em situações de normalidade, não se exige visto de saída. 
- Documentos do estrangeiro (ou documentos de viagem): não se cuida aqui dos documentos que o estrangeiro deve portar, mas sim dos documentos passíveis de concessão pelo Brasil ao estrangeiro. São dois documentos: 
“Art. 54. São documentos de viagem o passaporte para estrangeiro e o laissez-passer. 
Parágrafo único. Os documentos de que trata este artigo são de propriedade da União, cabendo a seus titulares a posse direta e o uso regular”.
- Passaporte para estrangeiro: não é uma segunda via do passaporte do estrangeiro. Pode ser concedido nas seguintes hipóteses:
“Art. 55. Poderá ser concedido passaporte para estrangeiro:
I - no Brasil:
a) ao apátrida e ao de nacionalidade indefinida;
b) a nacional de país que não tenha representação diplomática ou consular no Brasil, nem representante de outro país encarregado de protegê-lo;
c) a asilado ou a refugiado, como tal admitido no Brasil.
II - no Brasil e no exterior, ao cônjuge ou à viúva de brasileiro que haja perdido a nacionalidade originária em virtude do casamento.
Parágrafo único. A concessão de passaporte, no caso da letra b, do item I, deste artigo, dependerá de prévia consulta ao Ministério das Relações Exteriores”. 
- Laissez-passer: normalmente, consta no passaporte a indicação de que ele é válido em todos os países com os quais o Estado emissor mantem relações diplomáticas. Se o Estado emissor romper relações com o país no qual o seu nacional estiver, o seu passaporte automaticamente perde a validade. Nesse caso, se esse país for o Brasil e o estrangeiro aqui estiver, não é hipótese de concessão de passaporte para estrangeiro, mas sim de laissez-passer. 
- Como consta no site do DPF, o laissez-passer é o “documento de viagem concedido ao estrangeiro portador de documento de viagem não reconhecido pelo governo brasileiro ou que não seja válido para o Brasil, expedido por países com os quais não se mantém relação diplomática”.
- Está previsto no art. 56:
“Art. 56. O laissez-passer poderá ser concedido, no Brasil ou no exterior, ao estrangeiro portador de documento de viagem emitido por governo não reconhecido pelo Governo brasileiro, ou não válido para o Brasil. 
Parágrafo único. A concessão, no exterior, de laissez-passer a estrangeiro registrado no Brasil como permanente, temporário ou asilado, dependerá de audiência prévia do Ministério da Justiça”.
	Espécies de saída compulsória 
- Questão cobrada em prova para ingresso na DPU: um grupo de brasileiros que pretende viajar pela Europa embarca em voo para Espanha e, ao chegar nesse país, são barrados no aeroporto e postos no voo de volta para o Brasil.
- Juridicamente, não há qualquer ilegalidade na conduta adotada pela Espanha, pois nenhum Estado está obrigado a receber estrangeiros em seu território e, quando recebe, o faz no exercício de sua discricionariedade. Logicamente isso gera uma situação de desconforto, sobretudo quando não há um fundamento relevante para a negativa. Todavia, é uma conduta permitida sob o ponto de vista jurídico. 
- No caso, não houve deportação, expulsão, tampouco extradição. Cuida-se de uma mera proibição de ingressar no país, a qual não se enquadra em nenhuma das precitadas espécies de saída compulsória. Embora não haja nenhum termo técnico amplamente reconhecido, essa hipótese é denominada por alguns autores de repatriamento. 
- Não houve deportação, expulsão ou extradição porque, juridicamente, não ocorreu no caso a entrada dos brasileiros no território espanhol. Eles ingressaram de fato, mas não de direto no território espanhol. 
- Somente é possível falar na saída compulsória do estrangeiro após o seu ingresso de direito em Estado do qual não seja nacional. É dizer, depois que ele ultrapassa as barreias alfandegárias e aduaneiras de fiscalização. 
- Essa questão foi anulada, mas, segundo o professor, não seria caso de anulação. 
- DEPORTAÇÃO: é a saída compulsória do estrangeiro do Brasil em razão da sua irregularidade, ou seja, é a saída compulsória do estrangeiro que se encontra de maneira irregular no Brasil. 
- A deportação é eminentemente objetiva. Analisa-se apenas a irregularidade do estrangeiro. Cuida-se de uma análise objetiva. Não cabe qualquer subjetividade nesse exame.
- Essa irregularidade pode ser de duas espécies. 
(i) em razão da entrada irregular: estrangeiro que ingressa de maneira clandestina, por exemplo, sem passar por posto de entrada oficial;
(ii) em razão da permanência irregular: quando, por exemplo, ultrapassa o prazo máximo de permanência. 
- A deportação, via de regra, não é feita de maneira imediata. O Estado confere ao estrangeiro uma oportunidade para se retirar voluntariamente do território nacional. 
- O Brasil notifica o estrangeiro acerca da sua condição irregular e lhe confere prazo para sair do território nacional. Caso o estrangeiro deixe o país nesse prazo, não terá havido deportação. Logo, não se produzirá qualquer consequência gravosa no patrimônio jurídico do estrangeiro. 
- Caso não saia no prazo fixado, o estrangeiro será deportado, ou seja, retirado compulsoriamente do território nacional. 
- Excepcionalmente, quando houver interesse nacional, pode haver deportação imediata, na forma do art. 57: 
“Art. 57. Nos casos de entrada ou estada irregular de estrangeiro, se este não se retirar voluntariamente do território nacional no prazo fixado em Regulamento,

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