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ROTEIRO DE AULA DIREITO PENAL II 3º Período Prof.(a).: Patrícia Oliveira (aula 1) DO CONCURSO DE PESSOAS I - Notas Introdutórias Art. 29 a 31 do Código Penal Questão terminológica: Concurso de agentes / Concurso de delinquentes / codelinquência. Iter criminis. Crime plurissubjetivo/obrigatório ≠ Crime Unissubjetivo/ facultativo. Crime Plurissubjetivo Crime Unissubjetivo Concurso necessário Concurso eventual Obrigatoriamente duas (ou mais pessoas /agentes) estão envolvidos na prática o mesmo crime. Pode o crime ser cometido por uma pessoa e eventualmente são praticados por duas ou mais pessoas. A atuação dos agentes faz parte da descrição do tipo penal. Não especificação da quantidade de agentes no tipo penal. Ex. Crime de associação criminosa (art. 288 do CP) Ex. Homicídio (art. 121); Lesão corporal (art. 129) Necessidade do assunto pauta-se na distinção entre coautoria e participação, para que sejam atendidos os princípios constitucionais norteadores do Direito Penal, em especial, os voltados ao campo da pena. II - Conceito. “É a colaboração empreendida por duas ou mais pessoas para a realização de um crime ou de uma contravenção penal.” (MASSON, 2014.p524) “É a intervenção dolosa ou culposa de mais de um agente num mesmo delito”. (QUEIROZ, 2012.p 307) “Quando duas ou mais pessoas concorrem para a prática de uma mesma infração penal”. (GRECO, 2012.p415) III - Requisitos do Concurso de Pessoas. A. Pluralidade de agentes e de condutas. Requisito indispensável. Necessidade de no mínimo duas pessoas que atuam em conjunto e objetivam praticar um crime (ou contravenção penal). ROTEIRO DE AULA Os agentes devem ser culpáveis (dotados de culpabilidade) → necessidade nos crimes unissubjetivos (monossubjetivos) Crimes plurissubjetivos (plurilaterais) → dispensável a culpabilidade de todos os coautores ou partícipes. (Fundamento = previsão da reunião obrigatória dos agentes) “A participação de cada um e de todos contribui para o desdobramento causal do evento e respondem todos pelo fato típico em razão da norma de extensão do concurso”. (BITENCOURT, 2007.p 447). B. Relevância causal de cada conduta. A conduta deve possuir relevância para o cometimento da infração penal. Cada participante da empreitada criminosa concorre para que a infração penal seja relevante ao ponto da interferência do Direito Penal e por consequência do ESTADO. Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. “de qualquer modo” = “compreendida como uma contribuição pessoal, física ou moral, direta ou indireta, comissiva ou omissiva, anterior ou simultânea à execução”. (MASSON, 2014.p 526). A contribuição do agente deve ser ANTERIOR A CONSUMAÇÃO. EXCEÇÃO = quando a contribuição anterior for acertada anteriormente. (Ex. Tício acorda com Caio que após o crime de furto o produto da infração criminosa será guarda em sua casa) C. Liame subjetivo entre os agentes. Trata-se do vínculo subjetivo / vínculo psicológico / Nexo subjetivo / concurso de vontades. É de natureza indispensável para a configuração do concurso de pessoas. Afasta a prática da responsabilidade objetiva. É a comunhão de vontades (interesses) entre os indivíduos, pois os sujeitos agem de forma consciente para a prática do crime = VONTADE HOMOGÊNEA → PRINCÍPIO DA CONVERGÊNCIA. “Vínculo psicológico que une os agentes para a prática da mesma infração penal”. (GRECO, 2012.p 416) Não sendo possível a visualização de tal nexo entre os agentes, cada um responderá de forma isolada por sua conduta. Liame subjetivo ≠ Ajuste prévio LIAME SUBJETIVO AJUSTE PRÉVIO Comunhão de vontades Combinação antecipada entre agentes delituosos → desejam a prática mesmo crime. Não pressupões a existência de ajuste prévio. Havendo ajuste prévio → há liame subjetivo. ROTEIRO DE AULA D. Identidade de infração Penal. Trata-se de uma consequência jurídica (e não propriamente dito um requisito) em decorrência dos outros elementos verificadores do concurso de crimes. Os esforços dos sujeitos infratores devem dirigir-se a prática de determinada modalidade criminosa (mesmo crime). Conclusão: “Somente quando duas ou mais pessoas, unidas pelo liame subjetivo, levarem a efeito condutas relevantes dirigidas ao cometimento de uma mesma infração penal é que poderemos falar em concurso de pessoas”. (GRECO, 2012.p 417) IV - Natureza jurídica do concurso de pessoas (Teorias). A. Teoria Monista. Também chamada: monística ou unitária. É a adotada pelo Código Penal brasileiro (REGRA) Art. 29, caput. Todo aquele que de qualquer forma concorre para o crime por ele deve ser responder. Coautores e partícipes sujeitam-se há um único delito (mesmo crime). Tal teoria não faz distinção entre autor, coautor ou partícipe. Apesar de o crime ser praticado por várias pessoas o mesmo permanece uno e indivisível. Fundamenta-se na teoria da equivalência das condições necessárias à produção do resultado / Equivalência dos antecedentes. (art. 13, caput do CP) Ex. A mata B dentro da casa deste, C, tendo conhecimento do fato a todo o momento, dá cobertura para A ao dirigir o carro que o retira da cena do crime. B. Teoria Dualista. Criada por Vincenzo Manzini. “Para esta teoria há dois crimes: um para os autores, aqueles que realizam a atividade principal, a conduta típica emoldurada no ordenamento positivo, e outro para os partícipes, aqueles que desenvolvem uma atividade secundária, que não realizam a conduta nuclear descrita no tipo penal.” (BITENCOURT, 2007.p 442-443) Faz-se a distinção entre autoria e participação. C. Teoria Pluralista. Idealizada por Francesco Carnelutti. Atribui a cada agente um crime diferente. De forma excepcional o Código Penal brasileiro recepciona esta teoria: ROTEIRO DE AULA a) Art. 126 do CP (Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante) → 3º responde pelo art. 126 e a gestante pelo art. 124 do CP. b) Art. 235 do CP (Bigamia) → Pessoa casada = responde pelo caput → 3º tendo conhecimento da situação = responde pelo §1º do art. 235. c) Corrupção passiva (art. 317) e ativa (art. 333) → funcionário público responde pelo art. 317 enquanto o particular pelo art. 333 do CP. V - Da Autoria. 1. Teorias acerca do conceito de autor. a) Teoria Unitária. Não faz distinção entre autor e partícipe. Todo sujeito que participa do crime é considerado autor. Autor = “aquele que de qualquer modo contribui para a produção de um resultado penalmente relevante”. (MASSON, 2012.p 529) Fundamenta-se na conditio sine qua non Adotada pelo Código Penal de 1940 (antes da Reforma Penal 1984) “O nexo causal constitui, em princípio, o único critério de relevância jurídico-penal de um comportamento, restando supérfluo o conceito de acessoriedade”. (QUEIROZ, 2012.p 313) b) Teoria Extensiva. Também é fundamentada na teoria da equivalência dos antecedentes / condições. Não há distinção entre autor e partícipe. Vincula-se a teoria subjetiva da participação → “É autor quem realiza uma contribuição causal ao fato, seja qual for seu conteúdo, com „vontade de autor‟, enquanto é partícipe quem, ao fazê-lo, possui unicamente „vontade de partícipe‟”. (BITENCOURT, 2007.p 452) Vontade de autor = agente deseja o fato como próprio. Vontade de partícipe = agente deseja o fato como alheio. O critério de distinção fica reservado ao de natureza subjetivo. (elemento anímico) → VONTADE. Ex. Tício contrata (paga) Caio para matar Golias. Tício (mandante) responde como autor e Caio (executor) como partícipe. c) Teoria Restritiva. “Autor é aquele que realiza a conduta descrita no tipo penal, ou seja, executa a ação consubstanciada no verbo núcleo do tipo.” (ESTEFAM, 2010.p 281) ROTEIRO DE AULA Partícipe = é o colaborador. Aquele que cooperará com o autor seja induzindo, instigando ou auxiliando materialmente aquele. Vincula-se a uma teoria objetiva da participação → duas vertentes: formal e material. Autor = pratica ação nuclear. Objetivo-formal Partícipe = ñ pratica ação nuclear. A = contribuição (+) relevante crime. Objetivo-material P = contribuição (-) relevante crime. Teoria encontrou dificuldades em relação à autoria mediata. Ex. Médico, desejando matar Caio, solicita que Coralina (enfermeira) aplique injeção (preparada pelo médico) no paciente. Não sabendo da intenção do médico Coralina executa a ordem. Nesse caso: Coralina =autora . O CÓDIGO PENAL BRASILEIRO ADOTOU A TEORIA RESTRITIVA NO PRISMA OBJETIVO-FORMAL. → Tal teoria é completada pela teoria da autoria mediata. d) Teoria do domínio do fato Teoria intermediária entre as teorias objetiva e subjetiva. Criada por Hans Welzel. Será considerado autor aquele que possui o domínio final sobre o fato, ou seja, seu controle final. Explica satisfatoriamente a autoria mediata → “Por autor mediato, entende-se aquele que, sem executar a conduta típica, controla ou manipula terceiro para que cometa o crime, utilizando-o como instrumento de sua vontade”. (ESTEFAM, 2010.p 281) Ex. Inácio pede que Jacinto, menor de idade, mate Coralina. A aplicação dessa teoria limita-se aos crimes DOLOSOS. Atualmente verificamos a incidência dessa teoria na Lei de Crime Organizado (Lei nº 12.850/13), art. 2º, §3º “a pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução”. 2. Formas de Autoria. 2.1 – Da Coautoria. O domínio do fato pertence a várias pessoas. ROTEIRO DE AULA Funda-se sobre o princípio da divisão do trabalho. Cada autor contribui com sua parte no fato, somando-se a parte dos demais na totalidade do delito, respondendo assim pelo todo. Conceito: o “Há, na coautoria, a decisão comum para a realização do resultado e a execução da conduta.” (MIRABETE, 2014.p 218). o “Quando várias pessoas tomam parte, conjuntamente, no delito, de modo que o domínio do fato é comum a todos que dele participam” (QUEIROZ, 2012.p 316). o “Se autor é aquele que possui o domínio do fato, é o senhor de suas decisões, coautores serão aqueles que tem domínio funcional dos fatos, ou seja, dentro do conceito de divisão de tarefas, serão coautores todos os que tiverem uma participação importante e necessária ao cometimento da infração, não se exigindo que todos sejam executores, isto é, que todos pratiquem a conduta descrita no núcleo do tipo”. (GRECO, 2012.p 424) (grifos e negritos nossos) Requisitos: reunião de vários autores + divisão de tarefas + domínio funcional da tarefa atribuída → consecução final do fato. Coautoria Sucessiva: o Admissível o Nesse caso a participação do coautor da empreitada criminosa se dá após o início da execução. (crime em andamento). o “É a espécie de coautoria que ocorre quando a conduta, iniciada em autoria única, se consuma com a colaboração de outra pessoa, com forças concentradas, mas sem prévio e determinado ajuste.” (MASSON, 2014.p 537) 2.2 – Da Autoria Direta e Indireta. a) Autoria direta/ imediata o Agente comete pessoalmente o crime. o É o executor direito da conduta descrita no tipo penal incriminador (autor executor). b) Autoria indireta / mediata o Quando o agente se utiliza de outra pessoa, como instrumento, para realizar a conduta criminosa. o Agente deve ter o domínio do fato para que possa figurar como autor mediato. o Casos de autoria mediata: ROTEIRO DE AULA - Erro determinado por terceiro / Erro escusável (art. 20, §2º do CP) Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. [...] § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. Ex. A coloca veneno em suco para matar B, e pede que C entregue a bebida para B. → Somente A responde pelo fato. - Coação moral irresistível (art. 22, primeira parte do CP) Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. - Obediência hierárquica (art. 22, segunda parte do CP) Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. - Inimputabilidade penal do executor por menoridade penal, embriaguez ou doença mental (art. 62, III do CP) Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: [...] III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal. o Autoria mediata e o crime de mão própria: Crime próprio = autor goza de condição especial. Ex. Peculato (art. 312 do CP) → ADMISSÍVEL AUTORIA MEDIATA Crime mão própria = autor pratica pessoalmente (exigência expressa do tipo penal. Ex. Falso testemunho (art. 342 do CP) → INADMISSÍVEL AUTORIA MEDIATA (Mirabete /Masson) c) Da Autoria Intelectual. o O autor intelectual é “aquele que traça o plano criminoso, com todos os seus detalhes”. (GRECO, 2012.p 430) o O crime é produto da criação do autor delituoso. o Pode o autor intelectual se ainda considerado assim mesmo que não execute o plano por ele totalmente delineado → teoria do domínio do fato. d) Da Autoria por determinação. ROTEIRO DE AULA o “É autor por determinação o sujeito que determina outro ao fato, mas que conserva seu domínio, posto que se o perde, como no caso em que o determinado comete um delito, já não é autor, mas instigador”. (ZAFFARONI apud MASSON, 2014.p 540). o Trata-se de uma forma de concorrer para o crime, não se tratando de autoria do delito. o “Quem se vale de outro, que não realiza conduta punível, por ausência de dolo, em um crime de mão própria, ou ainda o sujeito que não reúne as condições legalmente exigidas para a prática de um crime próprio, quando se utiliza de quem possui tais qualidades e se comporta de forma atípica, ou acobertado por uma causa de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade”. (MASSON, 2014.p 541) o Difere-se da autoria mediata. o Pune-se o autor por determinação segundo o art. 29, caput do CP → concorreu de qualquer forma. o Ex. Caso de crime de próprio ou de mão própria → “ Sujeito A usa funcionário público para cometer crime de corrupção passiva (funcionário age em erro de tipo) → funcionário não tem a noção de que o que está recebendo possua valor econômico. → neste caso A não poderá responder como autor nem partícipe, pois não há ao menos a práticade fato típico. → sendo assim deverá responder de acordo com o art. 29, caput ( de qualquer forma concorreu para o crime) → AUTOR DA DETERMINAÇÃO PARA A CORRUPÇÃO PASSIVA. e) Da Autoria por Convicção. o “Agente conhece efetivamente a norma, mas descumpre por razões de consciência, que pode ser política, religiosa, filosófica etc.”. (GRECO, 2012.p 432) o Ex. Testemunhas de Jeová f) Da Autoria Colateral, Incerta e Desconhecida. Autoria Colateral Autoria Incerta Autoria Desconhecida “Quando duas pessoas concorrem para um mesmo resultado, sem que haja entre elas vínculo subjetivo”. (ESTEFAM, 2010. P 284) “Quando, diante de uma hipótese de autoria colateral, é impossível determinar quem foi o responsável pelo resultado.” (ESTEFAM, 2010. P 284) Não se tem conhecimento de quem praticou a ação delituosa Não coautoria Incerteza quanto ao resultado e não quanto à autoria. Autor desconhecido e não resultado desconhecido. ROTEIRO DE AULA Ausência de liame subjetivo - - Ex. 2 atiradores disparam contra a mesma pessoa → 1 não sabe a existência do outro.→ se ambos contribuíram para a morte = Homicídio. → Se um contribuiu = Homicídio e o outro Tentativa. Ex. caso anterior → Ambos responderão por tentativa de homicídio. Ex. A aparece morto mas não se sabe quem o matou. g) Da Autoria de Escritório o Derivada da doutrina alemã o Tem relação intima com a teoria do domínio do fato. o Trata-se de uma autoria media especial / particular o “É autor de escritório o agente que transmite a ordem a ser executada por outro autor direito, dotado de culpabilidade e passível de ser substituído a qualquer momento por outra pessoa, no âmbito de uma organização ilícita de poder”. (MASSON, 2014.p 541) o Ex. líder PCC (Primeiro Comando a Capital). VI – Da Participação 1. Notas Introdutórias. Participação (atividade acessória) ≠ coautoria (atividade principal). Só existirá o partícipe se existir o autor. Deve a participação ser dirigida a pessoas e fatos determinados A participação não admite a modalidade tentada → indiferente penal. Art. 31 do CP – “O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado”. 2. Espécies de Participação. a) Participação Moral (induzimento e instigação) a.1 – Induzimento ou determinação. o Nesse caso o partícipe atua sobre a vontade do autor do delito, ou seja, ele faz nascer à pretensão / propósito do cometimento do crime. o Autor não tinha o pensamento /ideia em cometer o fato criminoso o Plantação da semente. ROTEIRO DE AULA o Ex. Tício comenta com Melvio que Tibúrcio anda falando mal de sua pessoa para os colegas. Tício então comenta que se fosse ele mataria Tibúcio → Mélvio absorve / aceita a ideia e mata Tibúrcio. a.2 – Instigação. o Nesse caso a ideia da prática criminosa já está no pensamento do autor, sendo assim, a atuação do partícipe é de reforçá-la, estimula-la. o Fortalecimento da ideia criminosa. o Ex. Mélvio comenta com Tício que está sabendo que Tibúrcio anda falado mal dele e que está pensando em matá-lo. Tício diz a Mélvio que concorda com o pensamento do amigo e que ele faria o mesmo → Mélvio efetivamente mata Tibúrcio. b) Participação Material (Cumplicidade). Trata-se da prestação de auxílio material. O partícipe é um facilitador para que o crime ocorra. É a contribuição por meio de comportamento tanto na preparação quanto na execução do crime. Ex. Empréstimo de arma, vigilância no momento da prática delitiva. 3. Teorias sobre a participação. a) Teoria da Acessoriedade Mínima. Partícipe só será punido se o autor praticar uma conduta típica → Fato típico. Independe da ilicitude do fato, culpabilidade e punibilidade do agente. b) Teoria da Acessoriedade Limitada (ou média) Partícipe só será punido se o autor praticar uma conduta típica e ilícita → Fato típico + ilicitude. Independe da culpabilidade e punibilidade do agente. Adotada majoritariamente pela doutrina. Ex. “A” aplica vários socos em “B”, este por sua vez para ser defender de “A” pede a “C” a faca que estava em sua mão, prontamente “C” lhe entrega. “B” sem excesso e agindo de forma proporcional a conduta sofrida mata “A” → Neste caso “C” não será responsabilizado pelo fato, pois “B” agira em legítima defesa (excludente de ilicitude) c) Teoria da Acessoriedade Máxima (ou extrema). Partícipe só será punido se o autor praticar um fato típico, ilícito e culpável. → Fato típico + ilícito + culpável. ROTEIRO DE AULA Independe de efetiva punibilidade do agente. d) Teoria da Hiperacessoriedade. Partícipe só será punido se o autor praticar um fato típico, ilícito, culpável e punível. → Fato típico + ilícito + culpável + punível. Punibilidade como condição indispensável para responsabilização penal do partícipe. 4. Punibilidade no Concurso de Pessoas. a) Participação de menor importância. Art. 29, § 1º do CP. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. Trata-se de uma causa geral de diminuição de pena. Aplicável somente ao partícipe. Incompatível com a coautoria → Possuidor do domínio do fato. Redução obrigatória e não facultativa. Fixação do quantum redutor será de acordo com a maior ou menor contribuição do partícipe. b) Cooperação dolosamente distinta. Art. 29, § 2º do CP. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser- lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Tal previsão legal não se limita ao partícipe, aplica-se também aos coautores. Conclusão: O concorrente que não quis participar de crime mais grave só responderá pelo crime menos grave se não tinha como prever resultado mais grave. “Se o resultado mais grave fosse previsível para o concorrente, a pena prevista para infração penal para a qual queria concorrer será aumentada até a metade.” (GRECO, 2012.p 449). Ex. Leleco induz Pé Chato a invadir a casa de Florência, que sabia estar viajando, para que cometa furto → Pé Chato influenciado por Leleco invade a casa e se depara com Florência, afasta-lhe utilizando a força e subtrai seus pertences → Leleco apenas tinha conhecimento que Florência voltaria só após 60 dias e não antes → diante da não previsibilidade de Leleco este ROTEIRO DE AULA responderá por furto e Pé Chato por roubo, uma vez que utilizou de violência. c) Participação sucessiva. Perfeitamente admitida. “A participação sucessiva é possível nos casos em que um mesmo sujeito é instigado, induzido ou auxiliado por duas ou mais pessoas, cada qual desconhecendo o comportamento alheio, para executar uma infração penal.” (MASSON, 2014.p 550). Tal participação deverá ter capacidade para influir na decisão do autor → verificado que determinado desejo estava plenamente sedimentado no autor não há que se falar em participação realizada posterior à primeira. Ex. Arlindo induz Berismar a matar Cornélia. Após tal induzimento, Berismar, sem ter ainda decidido marta Cornélia, encontra-se com Diocleciano, este por sua vez, instiga Arlindo a matarCornélia. Efetivamente Berismar pratica o homicídio → Arlindo e Diocleciano responderão também pelo homicídio na qualidade de partícipes. d) Multidão delinquente. “É possível o cometimento de crime pela multidão delinquente, como nas hipóteses de linchamento, depredações, saque e etc.” (MIRABETE, 2014.p 228). “Nos crimes multitudinários não podemos presumir o vínculo psicológico entre os agentes. Tal liame deverá ser demonstrado no caso concreto, a fim de que todos possam responder pelo resultado advindo da soma das condutas.” (GRECO, 2012.p457). Caso os agentes cometam o crime sob a influência de multidão durante o tumultuo → a pena será atenuada se os agentes não provocaram o tumultuo (art. 65, III, e do CP). Por sua vez a pena será agrava se → Art. 62, I do CP → agente - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes. e) Participação impunível Art. 31 do CP Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz. Posição → Desistência voluntária e o arrependimento eficaz (tentativa abandonada) são causas de afastamento de tipicidade ROTEIRO DE AULA do crime inicialmente tentado → partícipe não responde →Adoção da teoria da acessoriedade limitada. 5. Questões Complementares. A. Concurso de Pessoas em crimes culposos. a) Coautoria - Admissível à coautoria em crime culposo (Posição Majoritária) - A cooperação não está no resultado e sim na CONDUTA (falta de dever de cuidado). - Aqueles que não observam o dever de cuidado objetivo são coautores. HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO CULPOSO. DELITO DE TRÂNSITO. CO-AUTORIA. POSSIBILIDADE. ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL ENTRE O COMPORTAMENTO DO PACIENTE E O EVENTO DANOSO. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. VIA INADEQUADA.1. É perfeitamente admissível, segundo o entendimento doutrinário e jurisprudencial, a possibilidade de concurso de pessoas em crime culposo, que ocorre quando há um vínculo psicológico na cooperação consciente de alguém na conduta culposa de outrem. O que não se admite nos tipos culposos, ressalve- se, é a participação. Precedentes desta Corte. (STJ.HC40474 PR 2004/0180020-5.Rel.Min. LAURITA VAZ.Jul 06/12/2005.T5 - QUINTA TURMA.Pub.DJ 13.02.2006 p. 832) Ex. Dois amigos em um carro. A instiga B, condutor, a dirigir com excesso de velocidade . Ocorre um acidente matando C → A e B são responsáveis por homicídio culposo. b) Participação. - Inadmissível a participação em crimes culposos (Posição majoritária). B. Concurso de Pessoas em crimes omissivos (Próprios e Impróprios) a) Crimes Omissivos Próprios / Puro. a.1 – Coautoria. São crimes que não exigem qualquer resultado naturalístico para que se configurem. Omissão de socorro Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ROTEIRO DE AULA ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Para os autores Damásio de Jesus, Luiz Flávio Gomes e Nilo Batista → INADMISSÍVEL → tendo as pessoas o dever de agir cometerão isoladamente infrações penais, sendo cada um autor da conduta criminosa e não coautores. Para os autores Rogério Greco e Cezar Roberto Bitencourt → ADMISSÍVEL → Possível desde que aquelas pessoas que possuem o dever de agir, de comum acordo, deixem de praticar a conduta devida. Tema não pacífico na doutrina. a.2 - Participação Admissível apenas na modalidade MORAL (induzimento e instigação). Ex. Dimas instiga Deodato a não prestar alimentos para seu filho menor de idade. → crime de abandono material (art. 244 do CP). b) Crimes Omissivos impróprios. b.1 – Coautoria. Inadmissibilidade (posição majoritária). Agentes tem o dever de agir → cometem crime isoladamente, sendo cada um autor do crime, e não coautores. Ex. pais que deixam de alimentar os filhos voluntariamente. b.2 – Participação. Participação “mediante ação” em crime omissivo impróprio → ADMISSÍVEL (induzimento e instigação) → Ex. Tomas induz Romilda a matar seu próprio filho deixando de alimentá-lo. Participação “mediante omissão” em crime omissivo impróprio → INADMISSÍVEL → Na verdade trata-se de AUTORIA. → Ex. PM que presencia o pai espancando o próprio filho e nada faz. C. Concurso de Pessoas em crimes de mão própria e crimes próprios. c.1 – Crimes Próprios. “São aqueles em que o tipo penal exige uma situação fática ou jurídica específica por parte do sujeito ativo.” (MASSON, 2014.p 539). Exige-se um qualidade específica do sujeito ativo do crime. Ex. Crime de peculato (art. 312 do CP) POSSIBILIDADE DE COAUTORIA E PARTICIPAÇÃO → Os que não possuem a qualidade especial exigida pelo tipo penal devem ter consciência que o autor possui essa qualidade. c.2 – Crimes de Mão Própria/ de atuação pessoal/ de conduta infungível. ROTEIRO DE AULA “São aqueles que somente podem ser praticados pelo sujeito expressamente indicado pelo tipo penal”. (MASSON,2014.p540). Adoção da teoria restritiva (objetivo-formal). INADMISSÍVEL COAUTORIA. ADMISSÍVEL PARTICIPAÇÃO. Ex. Falso testemunho (art. 342 do CP) / Autoaborto (ART. 124, 1ª parte, do CP) D. Comunicabilidade das Circunstâncias e Condições Pessoais. Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. 1. Elementares ≠ Circunstâncias. ELENTARES CIRCUNSTÂNCIAS Essentialia delicti Accidentalia delicti/ Acidentais “Dados fundamentais de uma conduta criminosa”. (MASSON, 2014.p551) “São os fatores que se agregam ao tipo fundamental, para fim de aumentar ou diminuir a pena”. (MASSON, 2014.p552) Elementos que constituem o crime. Dados acessórios ao crime → dispensável caracterização tipo penal. Ex. Homicídio simples → matar e alguém. Furto → subtrair / para si ou para outrem / coisa alheia móvel. Ex. Homicídio → motivo torpe (art.121,§ 2º, I), relevante valor moral (§1º) Furto → durante repouso noturno (art.155, §1º) Excluindo elementar = FATO ATÍPICO Excluindo circunstância = aumenta ou diminui a pena. 2. Espécies de elementares e circunstâncias. a) De caráter não pessoal (objetivas) / caráter real. Relacionam-se com o FATO e não com o agente. MEIOS = emprego de fogo, veneno ou explosivo. MODOS DE EXECUÇÃO = emboscada, traição, dissimulação. TEMPO, LUGAR, OCASIÃO. QUALIDADE DA VÍTIMA = mulher grávida, criança, idoso, enfermo. Ex. Roubo → violência contra a pessoa. b) De caráter pessoal (subjetivas) Relaciona-se com o AGENTE e não com o fato. MOTIVOS DO CRIME = fútil, relevante valor moral. ROTEIRO DE AULA QUALIDADES ESPECÍFICAS DO AUTOR = seus antecedentes, conduta social, personalidade. RELAÇÃO PESSOAL QUE POSSUEM COM A VÍTIMA = cônjuge, ascendente, descendente e irmão. Ex. condição de funcionário público no crime de peculato. c) Condições de caráter pessoal “São as qualidades, os aspectos subjetivos inerentes a determinado indivíduo, que o acompanham em qualquer situação, isto é, independem da práticada infração penal”. (MASSON, 2014.p 553) Ex. Reincidência / menor de 21 anos. 3. Regras extraídas do art. 30 do CP. a) Elementares Objetivas e Subjetivas COMUNICAM-SE desde que haja conhecimento por parte dos agentes. Ex. A, funcionário público, convida B, não funcionário público (extraneus), para juntos subtraírem computadores do órgão público onde A trabalha → ambos respondem por Peculato-furto. b) Circunstâncias Objetivas. COMUNICAM-SE desde que haja conhecimento por parte dos agentes. Ex. Terêncio, com ódio mortal de Inácio, contrata Pirata para matá-lo. Pirata diz que o matará com várias facadas além de colocar álcool nas feridas caracterizando assim meio cruel. Terêncio concorda. Ambos responderão por homicídio qualificado pelo meio cruel. c) Circunstâncias Subjetivas e condição de caráter pessoal. SÃO INCOMUNICÁVEIS. Sendo elementares do crime e de conhecimento do outro agente comunicam-se. Ex. Infanticídio → responderá aquele que ajudar a mãe a matar o próprio filho. Referência Bibliográfica BITENCOURT, César Roberto. Teoria geral do delito – uma visão panorâmica da dogmática penal brasileira. Coimbra: Almedina, 2007. ROTEIRO DE AULA ESTEFAM, André. Direito penal – parte geral. São Paulo: Saraiva, 2010. GRECO, Rogério.Curso de direito penal – parte geral. 14. ed. ver., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Impetus, 2012. v. 1 MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado – parte geral. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Método, 2012. v. 1 MIRABETE, Julio Fabbrini.Manual de direito penal – parte geral – art. 1º a 120 do CP. 30. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2014. v.1 QUEIROZ, Paulo. Curso de direito penal – parte geral. 8. ed. Bahia: JusPODIVM, 2012. v.1
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