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1 unioeste UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ Campus de Foz do Iguaçu/PR Avenida Tarquínio Joslin dos Santos, 1300 – Polo Universitário – Caixa Postal 961 Fone: (045) 576-8100 – Fax: (045) 575-2733 – CEP 85870-650 – Foz do Iguaçu - PR APOSTILA DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO MECÂNICA I Prof. Eduardo Moreira Prof. João Carlos Sihvenger Prof. Vicente de Paula Corrêa de Sales Dias 2 Prefácio A apostila relativa a disciplina Materiais de Construção Mecânica I está fundamentada na apostila utilizada pelo Centro Tecnológico da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC no Departamento de Engenharia Mecânica. O original foi elaborado pela equipe do Laboratório de Materiais LABMAT coordenada pelo Prof. Dr. Pedro Bernardini, o qual nós gostaríamos de agradecer por nos ter cedido, bem como, pela orientação e incentivo ao longo de todo o processo de estruturação desta disciplina. Incorporou-se pequenas adaptações no texto original fruto da adequação à realidade local. Realimentações no sentido de otimizá-la serão bem vindas. Salientamos que o conteúdo da apostila é uma síntese do abordado em sala de aula, não dispensando a consulta às bibliografias clássicas de materiais. Prof. Eduardo Moreira. 3 Sumário 1. CIÊNCIA DOS MATERIAIS: ..............................................................................................6 1.1 PANORAMA ................................................................................................................. 6 1.2 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS:................................................. 8 1.3 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS ............................................................................ 8 1.4 PROPRIEDADES MECÂNICAS ................................................................................... 9 1.5 PROPRIEDADES TÍPICAS DOS MATERIAIS ........................................................... 10 1.6 RELAÇÃO ENTRE PROPRIEDADES E APLICAÇÕES............................................. 10 2. ESTRUTURA DOS ÁTOMOS E TIPOS DE LIGAÇÕES .................................................11 2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS ÁTOMOS.............................................................................. 11 2.2 TIPOS DE LIGAÇÕES................................................................................................ 12 2.2.1 IÔNICA: metal (cede elétrons) + não metal (ganha elétrons) Ex.: NaCl / MgO ...12 2.2.2 COVALENTE .......................................................................................................13 2.2.3 METÁLICA...........................................................................................................14 2.2.4 VAN DER WAALS (secundarias).........................................................................16 3. ESTRUTURAS DOS MATERIAIS....................................................................................17 3.1 TIPOS ARRANJOS (ORGANIZAÇÃO) ATÔMICOS E TIPOS DE CRISTAIS ............ 17 3.2 TERMINOLOGIA ........................................................................................................ 18 3.3 CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DOS CRISTAIS............................................. 18 3.3.1 TIPOS DE CRISTAIS...........................................................................................18 3.3.2 CRISTAIS METÁLICOS MAIS FREQÜENTES....................................................19 3.3.3 RELAÇÃO ENTRE PARÂMETRO DE REDE E RAIO ATÔMICO .......................20 3.3.4 NÚMERO DE ÁTOMOS POR CÉLULA UNITÁRIA .............................................20 3.3.5 FATOR DE EMPACOTAMENTO.........................................................................20 3.3.6 DIREÇÕES E PLANOS CRISTALINOS ..............................................................21 3.3.7 INTERSTÍCIOS....................................................................................................23 3.4 SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS CRISTAIS METÁLICOS MAIS COMUNS........ 23 3.5 TRANSFORMAÇÕES ALOTRÓPICAS / POLIMÓRFICAS. ....................................... 24 4. DEFEITOS CRISTALINOS ..............................................................................................25 4.1 Visao geral.................................................................................................................. 25 4.2 Defeitos pontuais ........................................................................................................ 25 4.3 Defeitos lineares ......................................................................................................... 26 4.4 Defeitos bidimensionais (superficiais)......................................................................... 27 4.5 Defeitos tridimensionais.............................................................................................. 28 4.5.1 PARTÍCULAS DE SEGUNDA FASE (PRECIPITADOS, INCLUSÕES)...............28 4.5.2 POROS................................................................................................................29 5. DIFUSÃO - MOVIMENTOS ATÔMICOS .........................................................................31 5.1 O que é e Exemplos. .................................................................................................. 31 5.2 Origens ....................................................................................................................... 34 5.3 Mecanismos................................................................................................................ 34 5.4 Equação da difusão - Regime Estacionário - Primeira Lei de Fick. ............................ 34 5.5 Equação da difusão - Regime Não Estacionário - Segunda Lei de Fick..................... 36 5.5.1 Dedução da equação fundamental ......................................................................36 5.5.2 Exemplos de soluções particulares:.....................................................................37 5.5.3 4Exemplos de aplicações ....................................................................................38 5.6 Fatores que influenciam a difusividade....................................................................... 39 5.6.1 Cinética de reação ...............................................................................................39 4 5.6.2 Influência da temperatura na velocidade de difusão............................................40 5.6.3 Influência da energia de ativação ........................................................................41 5.6.4 Influência do tipo de átomo, estrutura e mecanismo...........................................41 5.6.5 Influência dos circuitos de difusão .......................................................................42 5.7 Outros fenômenos ...................................................................................................... 43 5.7.1 Efeito Kirkendall (difusão conjunta)......................................................................43 5.7.2 Porosidade Kirkendall ..........................................................................................43 Efeito de tensões .............................................................................................................43 6. DEFORMAÇÃO PLÁSTICA.............................................................................................44 6.1 Aspectos macroscópicos do ensaio de tração............................................................ 44 6.2 Tensões Induzidas pelo ensaio de tração................................................................... 45 6.3 MECANISMOS ATÔMICOSDE DEFORMAÇÃO....................................................... 45 6.3.1 MECANISMOS ATÔMICOS DE ELASTICIDADE................................................46 6.3.2 MECANISMOS ATÔMICOS DE PLASTICIDADE................................................46 6.4 Competição de mecanismos....................................................................................... 47 6.5 RESISTÊNCIA TEÓRICA DOS METAIS (Existem discordâncias) ............................. 48 6.6 Tipos de discordâncias ............................................................................................... 49 6.7 MECANISMOS DE DEFORMAÇÃO COM DISCORDÂNCIA ..................................... 49 6.7.1 Escorregamento simples (Slip) ............................................................................49 6.7.2 Escorregamento com desvio (Cross slip) ............................................................50 6.7.3 Ascensão (Climb).................................................................................................50 6.8 Planos onde discordância se movimenta mais fácil (menor tensão) .......................... 50 6.9 Direções preferenciais de movimento......................................................................... 50 6.10 Sistemas de escorregamento ..................................................................................... 51 6.11 CONSEQÜÊNCIAS DO MOVIMENTO DE DISCORDÂNCIAS .................................. 52 6.11.1 DISCORDÂNCIAS SE ANULAM .........................................................................52 6.11.2 DISCORDÂNCIAS SE REPELEM .......................................................................52 DISCORDÂNCIAS SE ANCORAM..................................................................................52 6.11.4 DISCORDÂNCIAS SE MULTIPLICAM ................................................................53 6.11.5 DISCORDÂNCIAS CONTORNAM OBSTÁCULOS .............................................53 6.11.6 DISCORDÂNCIAS ENDURECEM (ENCRUAM) O MATERIAL ..........................54 7. MECANISMOS DE ENDURECIMENTO..........................................................................54 7.1 Encruamento .............................................................................................................. 54 7.2 REFINO DE GRÃO..................................................................................................... 55 7.3 SOLUÇÃO SÓLIDA .................................................................................................... 56 7.4 PARTÍCULAS DE SEGUNDA FASE .......................................................................... 57 8. DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO........................................................................................58 8.1 Conceitos Preliminares ............................................................................................... 58 8.1.1 Nomenclatura.......................................................................................................58 8.1.2 Curvas De Análise Térmica .................................................................................59 8.1.3 Diagramas De Equilíbrio De Fases......................................................................60 8.1.4 Regra das fases de Gibbs ...................................................................................61 8.1.5 Tipos de diagramas de equilíbrio. ........................................................................62 8.2 Diagramas de sistemas unitários. ............................................................................... 63 8.2.1 Elementos do diagrama unitário ..........................................................................63 8.2.2 Exemplo de uso da regra das fases de Gibbs .....................................................63 8.2.3 Exemplo de metaestabilidade ..............................................................................64 8.2.4 Metaestabilidade, Termodinâmica e Cinética ......................................................65 8.3 Diagramas de sistemas binários. ................................................................................ 66 8.4 SISTEMAS ISOMORFOS........................................................................................... 66 8.4.1 Condições para solubilidade sólida ilimitada. ......................................................66 8.4.2 Curvas de solidificação (análise térmica).............................................................67 8.4.3 Diagrama De Equilíbrio Isomorfo. ........................................................................68 Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 5 8.4.4 Elementos do diagrama isomorfo ........................................................................69 8.4.5 Informações obtidas do diagrama........................................................................70 8.5 SISTEMAS EUTÉTICOS. ........................................................................................... 74 8.5.1 Curvas de solidificação. .......................................................................................75 8.5.2 Diagrama De Equilíbrio Eutético. .........................................................................75 8.5.3 ELEMENTOS DO DIAGRAMA EUTÉTICO .........................................................76 8.5.4 Tipos de Ligas em um Sistema Eutético..............................................................78 Sistemas Eutéticos Importantes ......................................................................................83 8.5.5 SISTEMAS EUTETÓIDES...................................................................................85 Liga eutetóide ..................................................................................................................85 Ligas hipo eutetóides .......................................................................................................87 Ligas hiper eutetóides......................................................................................................89 EXERCÍCIOS.........................................................................................................................91 9. CURVAS TTT ..................................................................................................................92 9.1 RESFRIAMENTO ISOTÉRMICO................................................................................ 92 9.2 RESFRIAMENTO CONTÍNUO - CURVAS CCT......................................................... 95 9.2.1 INFLUÊNCIA DO CARBONO. .............................................................................95 INFLUÊNCIA NAS REGIÕES DA CURVA TTT. ..............................................................95 INFLUÊNCIA NA POSIÇÃO DA CURVA TTT .................................................................96 INFLUÊNCIA NA PROFUNDIDADE DE TÊMPERA........................................................98 INFLUÊNCIA NA DUREZA DA MARTENSITA................................................................99 INFLUÊNCIA NA AUSTENITA RETIDA ..........................................................................99 INFLUÊNCIA NA RESISTÊNCIA AO REVENIDO.........................................................100 9.3 INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS DE LIGA.............................................................. 100 INFLUÊNCIA NA POSIÇÃO DA CURVA TTT ...............................................................101 INFLUÊNCIA NA FORMA DA CURVA TTT...................................................................101 INFLUÊNCIA DO BORO................................................................................................104 INFLUÊNCIA NA PROFUNDIDADE DE TÊMPERA......................................................104 INFLUÊNCIA NA DUREZA DA MARTENSITA..............................................................105INFLUÊNCIA NA AUSTENITA RETIDA ........................................................................105 INFLUÊNCIA NA RESISTÊNCIA AO REVENIDO.........................................................106 10. RELAÇÃO MICROESTRUTURA X PROCESSAMENTO...........................................108 6 1. CIÊNCIA DOS MATERIAIS: 1.1 PANORAMA composicao microestrutura propriedades desempenhoprocessamento solicitacao → → → Exemplo de relação entre processo, microestrutura e propriedade. Exemplos de solicitações e respostas Fig. 1 Fig. 2 7 Exemplos de microestrutura Fig. 4: Aço hipoeutetóide - 0,4 % C Fig. 5: A2 temperado e revenido Fig. 6: Aço eutetóide Fig. 7 Fig. 8: Engrenagem cementada (microestrutura varia da superf. para centro) Fig. 3: Ferro puro 8 1.2 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS: MACROSCÓPICO (baseado no estado físico) categorias: sólido / líquido / gasoso (inclusive plasma) parâmetros: forma e volume ESTRUTURAL ( baseado nos átomos que compõem o material) categorias: metais / cerâmicas / polímeros / compósitos parâmetros: tipo de átomo: (posição na tabela periódica = tendência ganhar ou perder e-) metal não-metal semi-metal tipo de ligação (entre átomos) iônica covalente metálica Van der Waals mistas tipo de arranjo (disposição dos átomos no espaço) cristalino: monofásico / polifásico amorfo amorfo - cristalino Nota: Ligas metálicas industriais são constituídas de FASES. Microestrutura: conjunto de fases presentes na liga Fase: porção homogênea quanto composição e estrutura Estrutura: modo como os átomos estão organizados (arranjados) 1.3 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS A ciência dos materiais estuda as relações existentes entre as estruturas e propriedades dos materiais. Propriedade é entendida como uma característica do material em termos, do tipo e da intensidade da resposta, a um estímulo específico que lhe é imposto. As propriedades dos materiais sólidos podem ser agrupadas em seis categorias distintas: químicas (deteriorativa), térmica, elétrica, ótica, magnética e mecânica. 9 O custo do material, embora não seja uma propriedade intrínseca ao material, freqüentemente, é fator a ser considerado na seleção de um determinado material para uma dada aplicação. Para facilitar o entendimento das propriedades dos materiais utilizam-se diagramas esquemáticos que mostram o efeito de uma variável sobre uma certa propriedade em termos qualitativos. No entanto, muitas vezes, é importante dispor de dados quantitativos relativos às propriedades dos materiais. Na apresentação dos dados quantitativos surge a variança que pose ser encontrada nos ensaios. Esta variação induz à adoção de tratamento estatístico para estabelecer o valor médio e quando da sua utilização nos cálculos deve-se estimar uma margem de segurança adequada, a fim de levar em conta fontes adicionais de variação encontrada em serviço. 1.4 PROPRIEDADES MECÂNICAS As propriedades mecânicas relacionam deformação com uma carga ou força aplicada. A primeira propriedade que geralmente nos vem à mente é a resistência mecânica, a qual pode se apresentar sob a forma: - resistência à tração; - resistência à compressão; - resistência ao cizalhamento e à torção; - resistência à fadiga; - resistência ao impacto. Outras propriedades mecânicas são elasticidade, ductilidade, fluência, dureza e tenacidade. Para se conceituar as propriedades mecânicas mencionadas é interessante se definir alguns termos mais comuns em engenharia. Tensão é definida como a força por unidade de área e é expressa em libras por polegada quadrada (psi) ou em quilogramas força por centímetro quadrado (kgf/cm2) ou por milímetro quadrado (kgf/mm2) e newton por milímetro quadrado (N/mm2 [Mpa]. Como efeito de tensão tem-se a deformação, que pode ser elástica ou plástica. A deformação elástica é reversível, desaparece quando a tensão é removida. O módulo de elasticidade é o quociente entre a tensão aplicada e a deformação elástica resultante. Ele está relacionado com a rigidez do material. A deformação plástica é a deformação permanente provocada por tensões que ultrapassam o limite de elasticidade. A ductilidade é a deformação plástica total até o ponto de ruptura. Pode ser expressa pelo alongamento decorrente da deformação, ou pela estricção que é a redução na área da seção reta do corpo, imediatamente, antes da ruptura (estricção = (área inicial – área final) / (área inicial)). Os materiais altamente dúcteis sofrem grande redução na área da seção reta antes da ruptura. A dureza é definida pela resistência da superfície do material à penetração. A dureza e a resistência à tração estão intimamente relacionadas. A tenacidade é a medida da energia necessária para romper o material ou a sua habilidade em absorver energia até a sua ruptura. Difere pois, da resistência à tração, que é a medida da tensão necessária para romper o material. A energia está relacionada à área sob a curva de tensão versus deformação. Um material dúctil com a mesma resistência de um material frágil irá requerer maior energia para ser rompido e, portanto, é mais tenaz. A fluência é uma deformação lenta causada por tensões constantes e inferiores ao limite de escoamento normal. A velocidade de deformação (fluência) é acelerada com o aumento de temperatura. 10 1.5 PROPRIEDADES TÍPICAS DOS MATERIAIS As propriedades de uma certa classe de material não são constantes, mas variam dentro de uma certa faixa. Todavia, a magnitude desta faixa é resultante do tipo de ligação, conforme apresentado na tabela abaixo. PROPRIEDADE METAIS CERAMICOS POLIMEROS Dureza média a alta (100 a 1000 HB) alta (> 2000 HB) baixa (<40 HB) Ductilidade (alongamto total) baixa a alta (5 a 100 %) baixa (<2%) baixa a muito alta (5 a 1000 %) Rigidez média a alta (50 a 400 GPa) média a alta (70 a 500 GPa) baixa (7 MPa a 4 GPa) Resistencia elevada tração ≈ compressão 100 a 2000 MPa baixa tração elevada compressão baixa (10 a 100 MPa) Tenacidade (KIC) elevada 30 a 80 MPa m baixa 0,2 a 5,3 MPa m baixa 0,8 a 1,1 MPa m Densidade média a alta (3 a 19 g/cm3) média (2 a 4 g/cm3) baixa (0,8 a 1,2 g/cm3) Resistência ao calor média (até 1200 oC) elevada (2500 oC) baixa (200 oC) Condutividade Térmica e elétrica elevada muito baixa baixa a moderada Transparência baixa (nula) baixa a elevada baixa a elevada 1.6 RELAÇÃO ENTRE PROPRIEDADES E APLICAÇÕES condutores elétricos condutiv. eletr. alta trocadores de calor condutiv. term. alta vasos de pressão alta tenacidade vigas estruturais alta resist tração ferramentas impacto alta tenacidade componentes de maquina facilidade fabricação com precisão dimensional METAIS espelhos brilho fibras óticas transparência isolantes elétricos baixa condutiv. elétrica refratários baixa condutiv. térmica ferramentas abrasivas alta dureza pisos, azulejos baixo custo CERÂMICOS lentes transparencia capas de fios isolante flexível amortecedores de vibração, pneus baixa rigidez embalagens, garrafas baixo custo, reprocessavel POLÍMEROS capacetes baixa densidade, fácil conformacao 11 2. ESTRUTURA DOS ÁTOMOS E TIPOS DE LIGAÇÕES MODELO DE ÁTOMO (Bohr): esferas rígidas prótons /elétrons / nêutrons (desenho)camada eletrônica + externa = camada de valência (orbitais s e p) são o elétrons que participam das ligações inter-atômicas e, portanto, definem as propriedades dos materiais estabilidade de átomos está ligada ao preenchimento total da camada de valência caso dos gases nobres (8 elétrons) e hélio (2 elétrons, exceção) 2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS ÁTOMOS TIPOS DE ÁTOMOS (quanto à capacidade de ceder / doar elétrons) metais: cedem elétrons (lado esquerdo e centro da tabela / maioria) não metais: ganham elétrons (lado direito) semi-metais; ganham ou perdem elétrons Fig. 9: Modelo de átomo., Fig. 10: 12 2.2 TIPOS DE LIGAÇÕES 2.2.1 IÔNICA: metal (cede elétrons) + não metal (ganha elétrons) Ex.: NaCl / MgO ocorre entre átomos das extremidades horizontais da tabela periódica natureza da ligação é columbiana (elétrica) É NÃO direcional (magnitude da ligação é igual em todas as direções). Isto também implica que todos os ânions ficam cercados espacialmente por todos os cátions e vice versa para gerar uma somatória de cargas igual a zero. Possui elevada energia ( 600 a 1500 kj/mol) = alto ponto de fusão , duros, frágeis, isolantes elétricos e térmicos. Ligação predominante nas cerâmicas Fig. 11 Fig. 12 13 2.2.2 COVALENTE átomos compartilham elétrons: Ex.: Si, C (diamante) ocorre entre átomos menos afastados na tabela periódica que para o caso da ligação iônica é direcional (devido ao compartilhamento) geralmente é uma ligação forte Fig. 13 Fig. 14 14 pode ocorrer entre átomos distintos; CH4 / H2O / HNO3 pode ocorrer entre átomos similares não metálicos; H2 / Cl2 / F2 pode ocorrer em sólidos elementares ; Si / Ge / Diamante ( C ) pode ocorrer entre elementos do lado direito da tabela: SiC / GaAs / InSb existe nas cerâmicas e nos polímeros alto ponto de fusão (alguns casos, baixo como o bismuto) , materiais duros, frágeis , isolantes térmicos e elétricos. 2.2.3 METÁLICA átomos cercados por uma nuvem de elétrons livres Fig. 15 15 Ocorre entre metais Não é direcional e ausência de carga local permite ductilidade Também são ligações fortes (menos que as anteriores) Possuem condutividade elétrica, térmica, resistência mecânica e ductilidade Fig. 16 Fig. 17 16 2.2.4 VAN DER WAALS (secundarias) atração eletrostática (dipolos induzidos) entre átomos de moléculas distintas. É o caso da água e da atracão entre cadeias poliméricas distintas tem baixa energia (quando água ferve esta ligação esta sendo rompida, mas para dissociar a água, quebrar ligação h - o precisa de temperatura muito maior) outro exemplo é o polímero que tem ligação covalente mas deforma devido a ruptura das ligações secundárias. Fig. 18: Ligação secundária entre moléculas de água. Fig. 19: Presença de ligação secundaria entre moléculas de polimeros Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 17 3. ESTRUTURAS DOS MATERIAIS 3.1 TIPOS ARRANJOS (ORGANIZAÇÃO) ATÔMICOS E TIPOS DE CRISTAIS ARRANJO: é a forma como os átomos estão organizados. TIPOS ORGANIZAÇÃO: Desconsiderando-se as imperfeições cristalinas, os átomos podem estar arranjados de acordo com três categorias distintas: SEM ORDEM: quando não há organização dos átomos em qualquer escala. É o caso do argônio. ORDEM DE CURTO ALCANCE: quando há uma repetição, em escala pequena (átomos vizinhos), de uma dada organização. é o caso das moléculas de água, vidros e monômeros (dos polímeros) ORDEM DE LONGO ALCANCE: quando há repetição de uma dada forma de organização ao longo de todo o material. neste caso há ordem de curto e longo algance. Estruturas que apresentam ordem de longo alcance são ditas CRISTALINAS enquanto materiais com ordem de curto alcance são ditos AMORFOS. Fig. 20 Cristopher Realce Cristopher Realce 18 3.2 TERMINOLOGIA REDE CRISTALINA: é uma coleção de pontos que estão dispostos em um padrão periódico, de tal modo que as vizinhanças de cada ponto são idênticas. ESTRUTURA CRISTALINA: é a organização dos átomos em materiais que apresentam ordem de longo alcance. Em sentido mais específico, refere-se à forma, tamanho e disposição (arranjo) dos átomos dentro da rede cristalina CÉLULA UNITÁRIA: é uma subdivisão da rede cristalina que ainda retém as características gerais de toda a rede. 3.3 CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DOS CRISTAIS 3.3.1 TIPOS DE CRISTAIS Existem 14 tipos de células unitárias (redes de Bravais) que podem ser agrupadas em 7 sistemas cristalinos distintos. Fig. 21 Fig. 22 19 3.3.2 CRISTAIS METÁLICOS MAIS FREQÜENTES Fig. 23: CCC: Fe, Ti, W, Mo, Nb, Ta, K, Na, V, Cr, Zr Fig. 24: CFC: Fe, Cu, Al, Au, Ag, Pb, Ni, Pt Fig. 25: HC: Ti, Mg, Zn, Be, Co, Zr, Cd. Fig. 26: Tetragonal: Martensita Cristopher Realce 20 3.3.3 RELAÇÃO ENTRE PARÂMETRO DE REDE E RAIO ATÔMICO O parâmetro de rede (aresta do cubo) é função do raio atômico e do tipo de estrutura cristalina. Para determinar a relação entre parâmetro de rede (ao) e o raio atômico (r) deve-se localizar a direção onde os átomos se tangenciam. A tabela abaixo ilustra tais relações. EXERCÍCIO: Calcular a densidade do cobre 3.3.4 NÚMERO DE ÁTOMOS POR CÉLULA UNITÁRIA Consiste no número de átomos "efetivamente" presentes na célula unitária. Átomos situados nos cantos e nas faces são contados parcialmente. Cubico simples: 8(cantos) x(1/8) = 1 atm/celula CFC: 8(cantos)x(1/8) + 6(faces)x(1/2) = 4 atm/celula CCC: 8(cantos)x(1/8) + 1(face)x(1) = 2 atm/celula 3.3.5 FATOR DE EMPACOTAMENTO É a fração volumétrica dos espaços ocupados por átomos em relação ao volume da célula unitária. Fator de empacotamento = (número de átomos / célula) x (volume de cada átomo) / volume da célula unitária. Maior fator de empacotamento gera maior densidade. A figura ao lado ilustra a variação dimensional resultante das transformações de fase do ferro, cuja origem é a variação do fator de empacotamento (e o efeito é o surgimento de tensões durante transformação de fase). Fig. 27 Estrutu ra Parâmetro de rede (ao) CS 2 R CFC 4 / 2R ou 2 2R CCC 4 / 3R ou 4 3 / 3R Fig. 28 CÉLULA FATOR DE EMPACOTAMEN TO Cubico simples 0,52 CCC 0,68 CFC 0,74 Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 21 3.3.6 DIREÇÕES E PLANOS CRISTALINOS Há varias direções e planos em um cristal. Algumas direções e alguns planos são especiais, pois são mais empacotados (tem mais átomos) que outros. Estas direções e planos compactos tem papel relevante na deformação plástica dos metais. Fator de empacotamento linear: É a fração (linear) de uma dada direção que é ocupada por átomos. Em outras palavras, a relação entre o comprimento ocupado por átomos e o comprimento total da direção. No caso da estrutura CFC, a direção [110], diagonal da base, tem comprimento total de 4 r e a parcela ocupada por átomos também é 4r, portanto o fator de empacotamento linear é de 4r/4r = 1 (100 % empacotada)As direções em que ocorre máximo empacotamento linear são designadas de direções compactas e possuem papel relevante no mecanismo de deformação plástica dos metais. Fator de empacotamento planar: É a fração de área ocupada por átomos em um dado plano em relação a área do plano. Os planos de máxima densidade planar são denominados planos compactos. ESTRUTURA CFC Planos compactos {111} (Diagonal do cubo) Direções compactas <110> (diagonais da face) ESTRUTURA HC (c/a = 1,633) Planos compactos (0001) (planos da base) Direções compactas <100> (diagonais da base) Fig. 29 Fig. 30 Fig. 31 Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 22 ESTRUTURA CCC Planos compactos NÃO tem Direções compactas <111> (diagonais do cubo) Planos e direções compactas em estruturas CFC e HC na estrutura CCC tem-se planos "mais compactos" (mas não verdadeiramente compactos, isto é, de máxima densidade planar) Fig. 32 Fig. 33 Cristopher Realce Cristopher Realce 23 3.3.7 INTERSTÍCIOS Note: Há dois tipos de interstícios (octaédricos e tetraédricos) CFC é mais empacotado que CCC, mas tem interstícios maiores. (daí caber mais átomos de C na austenita do que na ferrita) (CFC tem menor difusividade, pois é mais empacotado) 3.4 SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS CRISTAIS METÁLICOS MAIS COMUNS Obs.: A relação c/a de 1,633 no HC é ideal. (Zn tem c/a maior e Zr e Ti tem c/a menor que 1,633) Fig. 34 Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 24 3.5 TRANSFORMAÇÕES ALOTRÓPICAS / POLIMÓRFICAS. Materiais que possuem mais de uma estrutura cristalina são chamados de alotrópicos ou polimórficos. Alotropia: termo geralmente aplicado aos elementos puros. Polimorfismo: termo mais geral, usado para substancias compostas. Ferro: pode ser CFC ou CCC. Cristopher Realce 25 4. DEFEITOS CRISTALINOS 4.1 VISAO GERAL Defeitos Pontuais: Lacunas Interstiticiais, substitucionais Defeitos Lineares: Discordâncias em hélice e em cunha. Defeitos Planares: Contornos de pequeno ângulo Contornos de grão Macla Interface precipitado - matriz. Defeitos Volumétricos: precipitados, inclusões, poros, microtrincas. 4.2 DEFEITOS PONTUAIS a) LACUNAS Consiste na ausência de átomo do reticulado. Importante para mecanismo de interdifusão (átomo substitucional) Fig. 35 Fig. 36 Cristopher Realce 26 b) SOLUCAO SÓLIDA É a presença de um segundo tipo de átomo (soluto) dissolvido em um solvente. Há dois tipos: substitucional e intersticial Substitucional: Ocorre quanto átomos tem tamanhos próximos ( diferença entre raios menor que 15 %) Gera distorção no reticulado: introduz tensões, atua como barreira ao movimento de discordâncias, aumenta a resistência do material É mais difícil se mover (interdifusão) pela rede cristalina. Ex.: Ni em aços inoxidáveis austeníticos esta dissolvido na austenita Zn (abaixo de 30 %) no cobre forma latão. Instersiticial: Ocorre quando átomos tem tamanho muito menor do que o solvente. Também gera distorção na rede: tem efeito endurecedor. Tem maior mobilidade na rede pois interdifusão não exige mecanismo de lacunas. Caso do H e do C nos aços. 4.3 DEFEITOS LINEARES DISCORDÂNCIAS Imagem (50.000 X) de defeito (discordâncias) em amostra de titânio: defeito consiste em linhas de pequena espessura e largura porém com grande comprimento. Fig. 37: Substitucional Fig. 38: Intersticial Fig. 39 Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 27 Discordâncias: São defeitos lineares, devido presença de semi plano extra na estrutura cristalina Participam de um dos mecanismos de deformação plástica de metais e são responsáveis pela elevada ductilidade dos mesmos. Quantidade típica em um metal no estado recozido: 106 cm de discordância / cm3 de metal. 4.4 DEFEITOS BIDIMENSIONAIS (SUPERFICIAIS) CONTORNOS DE GRÃO São interfaces entre dois grãos, sendo que cada grão é constituído de milhares de células unitárias. Tem origem na solidificação e atuam como barreira ao movimento de discordâncias. maclas: são desvios nos planos atômicos. Fig. 43: maclas de recozimento Fig. 40 Fig. 41 Fig. 42 Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 28 4.5 DEFEITOS TRIDIMENSIONAIS Partículas de segunda fase, poros e trincas. Poros: um poro é ausência de material (uma segunda fase "oca"). 4.5.1 PARTÍCULAS DE SEGUNDA FASE (PRECIPITADOS, INCLUSÕES) Partículas de Segunda Fase: Tem origem na imiscibilidade, isto é, quando se adicionam átomos que ou são insolúveis ou estão em quantidades acima do limite de solubilidade do material que constitui o solvente. INCLUSÕES Fig. 44: Precipitado incoerente e coerente Fig. 45: Al - Si Fig. 47: Oxido de Cobre em cobre puro Fig. 46: Sulfetos de Manganês em aco Cristopher Realce Cristopher Realce 29 4.5.2 POROS devido gases intrínsecos do processo de fabricação Fig. 48 Fig. 49 Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 30 devido contração de solidificação 31 5. DIFUSÃO - MOVIMENTOS ATÔMICOS 5.1 O QUE É E EXEMPLOS. O que é: transporte de matéria no estado sólido, induzido por agitação térmica. Exemplos: Cementação, Sinterização, Soldagem por difusão, Tratamentos térmicos (Galvanização, Têmpera) Cristopher Realce Cristopher Realce 32 Cristopher Realce 33 GALVANIZAÇÃO: deposição de Zn sobre aço (Parte do Zn difunde para interior do aço, gerando adesão) Têmpera: Consiste em EVITAR difusão do carbono para fora da austenita (ao invés de gerar ferrita e perlita, gera martensita). Revenir: consiste em oportunizar saída parcial do carbono da martensita temperada, visando reduzir tensões internas. Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 34 5.2 ORIGENS TIPO FORÇA MOTRIZ EXEMPLOS Térmica Amplitude de vibração⇒ gera “saltos” de átomos através do reticulado Autodifusão Mecânica + T Tensões internas e/ou externas ⇒ gera movimento de átomos visando aliviar as tensões Recuperação / recristalização: (σ internas) Fluência: (σ externas) Química + T Presença de gradientes de potencial químico (µ= niG ∂∂ ) Em sist. multifásicos: segregações em c. grão Em sist. monofásicos: gradientes de concentr. 5.3 MECANISMOS Difusão de átomo substitucional: se dá através da troca de posição com lacunas (exige lacunas) Difusão de átomo intersticial: se dá pelo movimento através dos interstícios (não exige lacunas) Assim: velocidade de difusão de átomo intersticial é maior que substitucional. 5.4 EQUAÇÃO DA DIFUSÃO - REGIME ESTACIONÁRIO - PRIMEIRA LEI DE FICK. ( Leis da Difusão - Adolf Fick -1855) : C C x J Equação de x CDJ ∂ ∂−= onde: J = fluxo = atm / (m2 . s) ou g / (m2 . s) D = coef. de difusão. C = concentração = atm / m3 ou g / m3 x = distância de difusão (m) (sinal negativo indica fluxo ser contrário ao gradiente) Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 35 Condições de contorno: Sistema monofásico (força motriz é grad. concentr.). Ausência de campo elétrico e/ou campo de tensões. Ausência de fenômenos de interface. Difusão é apenas volumétrica. Coef. Difusão não varia com composição (ou concentração). EXEMPLO: purificação do hidrogênio. Uma mistura gasosa, contendo H2, N2, O2 e vapor de H2O, é pressurizada contra uma lâmina (5 mm espessura) de paládio. O H2 é purificado por se difundir mais rápido que os demais gases, atingindo a outra face da lâmina que está mantida sob pressão atmosférica. Calcular fluxo horário de purificação ( litros / hora?). Solução: x CDJ ∂ ∂−= = -1 x 10-8 m2/s x (0,6-2,4) (0,005) m mKg 3/ = 0,36x10-5 sm Kg .2 Fluxo horário = JxArea = 0,36x10-5 2 kg m s x 0,2 m2 x 3.600 s/h = 2,592x10-3Kg/h ou 2,592 gramas H2 / hora Fluxo horário em litros por hora: 1Mol H2 = 2g e equivale a 22,4 litros nas CNTP ⇒ Fluxo = 2,592 22,4 2 g h x litros g = 29,03 litros / h Dados: Área = 0,2 m2. T=500oC DH/Pd (500oC) = 1x10-8 m2 / s C2 = 2,4 Kg H2 / m3 Pd e C1 = 0,6 Kg H2 / m3 Pd H2 C1 C2 H2 N2 O2 H2 O Cristopher Realce Cristopher Realce 36 5.5 EQUAÇÃO DA DIFUSÃO - REGIME NÃO ESTACIONÁRIO - SEGUNDA LEI DE FICK. (segunda lei de Fick, gradiente de concentração varia no tempo⇒ fluxo também varia!) 5.5.1 Dedução da equação fundamental • massa (entra - sai) = acumulação ⇒ p/ dado ∆ t ⇒ velocidade (entra-sai) = velocidade de acumulação de massa. ⇒ veloc. mássica = fluxo x área (= J x A) veloc. entrada= (J x A)1 veloc. saída = veloc. entrada + acumulação = (J . A)1 + x AJ ∂ ∂ ).( . dx acumulação = variação conc. em volume = t∂ ∂ (C . A .dx) = A.dx . t C ∂ ∂ ⇒ J . A - [ J . A + x AJ ∂ ∂ ).( . dx] = A dx . t C ∂ ∂ ⇒ - x J ∂ ∂ = t C ∂ ∂ ⇒ entrada saída acumulação ⇒ como J = - D x C ∂ ∂ (1a lei ) ⇒ Note: p/ D = constante ⇒ t C ∂ ∂ = D 2 2 x C ∂ ∂ Fe - 1% C Fe puro %C x Perfil de C para t = 0 Perfil de C para t = Par de difusão: aço - ferro (1100 oC) t C ∂ ∂ = x∂ ∂ ( D x C ∂ ∂ ) ( 2 a lei de Fick ) curvatura (concentração evolui no tempo no sentido da curvatura) Cristopher Realce 37 cte tD x = .2 5.5.2 Exemplos de soluções particulares: eq. geral: t C ∂ ∂ = x∂ ∂ ( D x C ∂ ∂ ) ⇒ p/ D = constante ⇒ t C ∂ ∂ = D 2 2 x C ∂ ∂ (∗) Solução geral de (*): ( para D = const.) p / nitretação: Co = 0 % N no aço C (x,t) = Cs [ 1 - erf ( tD x .2 ) ] p / descarbonetação: (Cs = 0 % C) C (x,t) = Co [erf ( tD x .2 )] p / C(x,t) = constante ⇒ ) .2 (1),( tD xerfcte CoCs CotxC −==− − ⇒ ⇒ x α tD. ) .2 (1),( tD xerf CoCs CotxC −=− − onde: Cs = conc. superfície (x=0) Co = C inicial no material C (x,t) = composição p/ dado x e t erf (z) = π 2 ∫ −z ye 0 2 dy z erf(z) z erf(z) z erf(z) 0 0 0,55 0,563323 1,3 0,934008 0,025 0,028204 0,6 0,603856 1,4 0,952285 0,05 0,056372 0,65 0,642029 1,5 0,966105 0,1 0,112463 0,7 0,677801 1,6 0,976348 0,15 0,167996 0,75 0,711155 1,7 0,98379 0,2 0,222703 0,8 0,742101 1,8 0,989091 0,25 0,276326 0,85 0,770668 1,9 0,99279 0,3 0,328627 0,9 0,796908 2 0,995322 0,35 0,379382 0,95 0,820891 2,2 0,998137 0,4 0,428392 1 0,842701 2,4 0,999311 0 45 0 475482 1 1 0 880205 2 6 0 999764 Valores da função erro: Cristopher Realce Cristopher Realce 38 tD. x α 5.5.3 4Exemplos de aplicações CEMENTAÇÃO DE AÇO: Pretende-se cementar um aço com 0,1 %C, mantendo-o em uma atmosfera com 1,2% C em alta temperatura, até que se atinja 0,45 % C em uma profundidade de 2 mm abaixo da superfície. Qual o tempo total de cementação se o coeficiente de difusão for D = 2x 10 -11 m2 / s ? SOLUÇÃO: Dados do problema: Co = 0,1 % C; Cs = 1,2 % C ; C(x,t) = 0,45 % C x = 2 mm = 0,002 m Usando equação tem-se: ⇒ 71,0 1022 002,0 11 =− tx ⇒ t = 27,6 horas A cementação de 1mm de uma engrenagem a 800 °C requer 10h. Qual seria o tempo necessário para se obter a mesma profundidade a 900 °C? Dado: Q para difusão de C de ferro CFC = 137859 J/mol. SOLUÇÃO: sabe-se que ⇒ D1073 t1073 = D1173t1173 t1173= Sabe-se que DAl / Cu (200 °C) = 2,5x10-24 m2/s e DAl / Cu (500 °C) = 2,5x10-24 m2/s Calcular a energia de ativação para difusão do alumínio no cobre. Solução: ) .2 (1),( tD xerf CoCs CotxC −=− − ) .2 (1 1,02,1 1,045,0 tD xerf−=− − ⇒ tD xerf .2 ( )= 0,68⇒ tD x .2 =0,71 horas x xh RQ RQt D tD 68,2)315,1exp(10 )1173314,8/137850exp( )1073314,8/137850exp(10 )1173/exp( )1073/exp( 1073 1173 10731073 =−=− −=− −= D773/D473= 24 17 105,2 101,3) 473314,8 exp( ) 773314,8 exp( − − =− − x x x QDo x QDo ⇒ Q = 166.000 J/mol Cristopher Realce 39 5.6 FATORES QUE INFLUENCIAM A DIFUSIVIDADE 5.6.1 Cinética de reação - EQUAÇÃO DE ARRHENIUS - avalia a cinética de uma reação - Para a DIFUSÃO, tem-se: Note: Ga varia entre: 40 a 300 kJ/mol e Do varia entre: 5x10-6 e 5x10-4 m2/s.(metais) Dados de difusão para alguns materiais Par de Difusão Q (J/mol) Do (m2/s) Par de Difusão Q (J/mol) Do (m2/s) Difusão intersticial C em Fe γ 137.850 0.23x10-4 N em Fe CCC 76.680 0.0047 x10-4 C em Fe α 87.570 0.011 x10-4 H em Fe γ 43.160 0.0063 x10-4 N em Fe γ 144.970 0.0034 x10-4 H em Fe α 15.080 0.0012 x10-4 Auto-difusão Au em Au 183.520 0.13 x10-4 Al em Al 134.920 0.10 x10-4 Pt em Pt 283.240 0.27 x10-4 Ag em Ag 188.550 0.80 x10-4 Pb em Pb 108.520 1.27 x10-4 Cuem Cu 206.570 0.36 x10-4 Mg em Mg 134.920 1.0 x10-4 Fe em Fe γ 279.470 0.65 x10-4 Zn em Zn 91.340 0.1 x10-4 Fe em Fe α 246.790 4.1 x10-4 Ti em Ti HCP 95.950 0.4 x10-4 Difusão substitucional Ni em Cu 242.600 2.3 x10-4 Cu em Ni 257.690 0.65 x10-4 Au em Ag 190.650 0.26 x10-4 Zn em Cu 183.940 0.78 x10-4 Ag em Au 168.440 0.072 x10-4 Ni em Fe γ 268.160 4.1 x10-4 Al em Cu 165.510 0.045 x10-4 Tk Ea evv .0 − = G ∆ G Ga onde: v = velocidade da reação. Ea = energia de ativação (barreira) k = constante de Boltzmann. vo = constante (relacionada freqüência de salto) = − kT Ea e parcela dos átomos que tem energia maior que Ea. obs: caso se use Ga (ao invés de posição TR Ga eDD .0 − = Ga = barreira energética ∆G = força motriz (gráfico acima) Do = fator de freqüência = constante que depende da Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 40 5.6.2 Influência da temperatura na velocidade de difusão Cristopher Realce Cristopher Realce 41 == − − 1 2 1 2 RT Ga RT Ga Ae Ae k k exp - )]1 1 2 1([ TTR Ga − =exp - )]1.2 21([ TT TT R Ga − 5.6.3 Influência da energia de ativação quanto MAIOR a energia de ativação ⇒ MENOR é a velocidade do processo. quanto MAIOR a energia de ativação ⇒ MAIOR a sensibilidade da velocidade com T. EXEMPLO: Avalie o efeito do aumento da temperatura de 25°C para 600°C nas velocidades de reação de dois processos químicos, caracterizados pelas seguintes energias de ativação. Ga=83,7 kJ/mol e Gb = 251 kJ/mol. Solução: para processo A: =−−= )] 298873 873298( ./314,8 /700.83exp[ 298 873 xKmolJ molJ K K 25,22e = 4,6x109 para processo B: =−−= )] 298873 873298( ./314,8 /000.251exp[ 298 873 xKmolJ molJ K K 73,66e = 9,5x1028 Note: • processo B aumenta mais a velocidade, com a temperatura, do que o processo A. • aumento de 3 vezes na energia de ativação resultou em aumento de 103 na velocidade. • isto mostra que a sensibilidade da velocidade com T é MAIOR paraMAIORES Ea. (Como a maioria das reações no estado sólido tem Ea entre 40 a 300 kJ/mol, basta uma variação de centena de graus para cessar a reação.) • porém, a velocidade da reação é MENOR quanto MAIOR for a Ea (sinal negativo) energia de ativação depende do tipo de átomo, estrutura e do mecanismo. 5.6.4 Influência do tipo de átomo, estrutura e mecanismo. • Ea de atm intersticial é menor que substitucional (resultando em uma, ou mais, ordem de grandeza mais rápida de difusão) • Ea é menor para estruturas mais abertas (C em Fe (α) é mais rápido que em Fe (γ)) • Em átomos substitucionais, Ea é menor para átomos menores. • Em materiais com menor T fusão, Ea é menor ( na verdade, maior Th = T/P.F.) Ga=0,034 Tf (Ga em kcal/mol e Tf em Kelvin) Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 42 D sup. ln D 1/T Dvol D c.g. D sup. Velocidade: D sup > D c.g. > D vol (estrutura mais aberta) Fluxo: J vol > J c.g. > J sup. (área maior) D c.g. D vol. 5.6.5 Influência dos circuitos de difusão Cristopher Realce Cristopher Realce 43 5.7 OUTROS FENÔMENOS 5.7.1 Efeito Kirkendall (difusão conjunta) 5.7.2 Porosidade Kirkendall O acúmulo de lacunas induzidos em um dado local pelo fenômeno de difusão conjunta pode gerar precipitação das mesmas, gerando porosidade. Tal porosidade é pouco frequente devido à necessidade de criação de superfície (que aumenta a energia livre do sistema). Porém, ocorre em alguns poucos casos onde o aporte local de lacunas é intenso, tal como na difusão de Al em Fe sinterizado e em regiões próximas ao cordão de solda. 5.7.3 Efeito de tensões D Zn / Cu > D Cu / Zn J Zn / Cu + J Cu /Zn + J v = 0 (presenvação do no sítios no reticulado) FENÔMENO: • Marcadores se movem em sentido oposto ao átomo de maior coef. de difusão (Zn) • Isto se deve à aniquilação de planos cristalinos da rede, à direita dos marcadores, como forma de aniquilar o excesso de lacunas que chegam à direita dos marcadores. O fenômeno acima confirma dois fatos importantes: 1- Difusão de átomos diferentes, numa mesma rede (monofásica), se dá com velocidades diferentes. (Em geral o átomo de menor ponto de fusão é mais veloz.) 2 - O mecanismo de difusão substituicional é por lacunas • tensões externas aplicadas ao material podem direcionar o fluxo de átomos (setas cheias), causando direção preferencial de difusão. • tal fenômeno ocorre durante a fluência. σc σc σt σt Fluxo de átomos Fluxo de lacunas % Cu, Cu Zn J Zn / Cu J LAC J Cu / Zn Cu puro Zn puro Mo, Ta Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 44 6. DEFORMAÇÃO PLÁSTICA 6.1 ASPECTOS MACROSCÓPICOS DO ENSAIO DE TRAÇÃO Cristopher Realce 45 6.2 TENSÕES INDUZIDAS PELO ENSAIO DE TRAÇÃO Solicitação de tração induz tensoes normais (trativas, que induz fratura) e cisalhantes (que induz deformação plástica) 6.3 MECANISMOS ATÔMICOS DE DEFORMAÇÃO VISÃO GERAL: Cada mecanismo de deformação atua em uma determinada faixa de solicitação (nível de tensão). Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 46 6.3.1 MECANISMOS ATÔMICOS DE ELASTICIDADE afastamento de átomos (normal e cisalhante, em metais e cerâmicos) rotação de ligação (polímeros) 6.3.2 MECANISMOS ATÔMICOS DE PLASTICIDADE Metais: cisalhamento e maclação Cerâmicos: cisalhamento Polímeros: fluxo viscoso Cristopher Realce 47 6.4 COMPETIÇÃO DE MECANISMOS ruptura de ligações (fratura) x cisalhamento (deformação plástica) Curvas de tração Morfologia de uma fratura dúctil tipo taça-cone (à esquerda) e frágil (à direita) resultantes de carregamento de tração (Erro! A origem da referência não foi encontrada. 48 a bG πτ 2max = onde: x= distância na direção de cisalhamento b = distância entre posições de a xG b x =πτ 2max πτ 2max G= )2sen(max b xπττ = 6.5 RESISTÊNCIA TEÓRICA DOS METAIS (EXISTEM DISCORDÂNCIAS) RESISTÊNCIA TEÓRICA AO CISALHAMENTO Curva senoidal: representa a variação da tensão cisalhante baseado na escala atômica. para pequenas distâncias de cisalhamento: Reta tracejada: Representa a variação da tensão cisalhante baseada no ensaio macroscópico de cisalhamento. τ = G γ onde: G = módulo de cisalhamento γ = deformação cisalhante Para pequenas distâncias de cisalhamento: γ = x / a (a = distância entre planos) Portanto: Gx aτ = (eq.2) Combinando as equações (1 e 2) acima, tem-se: Como “b” é da mesmaordem de grandeza que “a”, tem-se: Conforme dados a seguir, o valor previsto é muito acima daquele medido experimentalmente. ERRO ENTRE PREVISÃO E VALOR EXPERIMENTAL A grande diferença entre os valores previstos e aqueles obtidos experimentalmente está no fato de que o modelo teórico não considerou a existência de defeitos no material O defeito que explica a baixa tensão (experimental) de cisalhamento é a discordância. Na tabela ao lado constata-se que materiais sem discordâncias apresentam pequena diferença entre o valor experimental e o teórico, confirmando que o defeito controlador do cisalhamento é a discordância. Material com discordâncias. G/2π (GPa) LE (MPa) τ crss Erro Ag 12,6 0,37 ~ 3 x104 Al 11,3 0,78 ~ 1 x104 Cu 19,6 0,49 ~ 4 x104 Ni 32 ~ 5 ~ 1 x104 Fe 33,9 27,5 ~ 1 x103 Mo 54,1 71,6 ~ 8 x102 Material sem discordâncias G/2π (GPa) Resistência (MPa) Erro Cu 19,1 3,0 ~6 Ni 33,4 3,9 ~8,5 Fe 31,8 13 ~2,5 max 2 ( .1)x eq b πτ τ=bX b x /.2)2sen( ππ ≅ Cristopher Realce Cristopher Realce 49 6.6 TIPOS DE DISCORDÂNCIAS 6.7 MECANISMOS DE DEFORMAÇÃO COM DISCORDÂNCIA 6.7.1 Escorregamento simples (Slip) Cristopher Realce Cristopher Realce 50 6.7.2 Escorregamento com desvio (Cross slip) Discordância (em hélice) muda de plano (permite contornar obstáculos) 6.7.3 Ascensão (Climb) Discordância em cunha muda (sobe) de plano (permite contornar obstáculos) Este mecanismo necessita de difusão (portanto é termicamente ativado) e ocorre quando há fenômeno de fluência. 6.8 PLANOS ONDE DISCORDÂNCIA SE MOVIMENTA MAIS FÁCIL (MENOR TENSÃO) A figura ao lado indica que há menos esforço em se deslizar o plano de átomos, em planos compactos, devido à menor inclinação a ser superada. 6.9 DIREÇÕES PREFERENCIAIS DE MOVIMENTO Na figura ao lado observa-se as três direções compactas em um plano de máxima densidade. Caso o escorregamento ocorra em uma direção não compacta (tal como a indicada pela linha tracejada), necessita-se maior tensão para mover a discordância. Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 51 6.10 SISTEMAS DE ESCORREGAMENTO CFC CCC HCP τ crss 0,35-0,70 35-70 0,35-0,70 No sistemas escorregamento 12 48 (não compactos) 3 Cross Slip pode ocorrer pode ocorrer não pode Propriedade Dutil Resistente Frágil Cristopher Realce 52 6.11 CONSEQÜÊNCIAS DO MOVIMENTO DE DISCORDÂNCIAS 6.11.1 DISCORDÂNCIAS SE ANULAM Discordâncias de sinais opostos (p.ex. cunha positiva com cunha negativa), ao se interceptarem, se anulam, restaurando o cristal perfeito. Embora haja casos (tal como no processo de recuperação) de aniquilação de discordâncias (e portanto reduzindo sua densidade no material), tais casos não são intensos a ponto de aniquilar todas as discordâncias. 6.11.2 DISCORDÂNCIAS SE REPELEM Discordâncias de mesmo sinal tendem a se repelir devido às interações dos respectivos campos de tensões. Durante o movimento de discordâncias, a multiplicação (fenômeno a ser visto em seguida) das mesmas gera maior densidade de discordâncias no material, sendo que as mesmas tendem a se repelir. Tal fenômeno explica em parte o endurecimento do material com a deformação. 6.11.3 DISCORDÂNCIAS SE ANCORAM Quando duas discordâncias se interceptam, surge um degrau que é imóvel, imobilizando (ancorando) localmente aquele segmento (degrau) da discordância. O ancoramento também pode ocorrer mediante interação da discordância com precipitados. Assim, o ancoramento (que resulta do movimento de discordâncias) exige maior esforço para continuar o movimento das mesmas, constituindo outro motivo para o fenômeno de endurecimento por deformação. Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 53 6.11.4 DISCORDÂNCIAS SE MULTIPLICAM Na figura ao lado tem-se uma discordância inicialmente ancorada nos pontos B e C. O segmento BC, ao se mover, se curva, gerando o anel de discordância resultando no aumento da densidade das mesmas. Tal mecanismo (também denominado de fonte de Frank – Read) é o responsável pelo aumento de densidade de discordâncias que ocorre com a deformação. 6.11.5 DISCORDÂNCIAS CONTORNAM OBSTÁCULOS Conforme mencionado no item referente aos tipos de movimentos de discordâncias, tanto o escorregamento com desvio quanto a ascensão de discordâncias permitem que as mesmas contornem obstáculos. As estratégias de endurecimento (ver item mecanismos de endurecimento) tem como aspecto comum a tentativa de limitar o movimento das discordâncias. Em alguns casos, para que a estratégia seja eficaz (isto é, para que se obtenha efetivo endurecimento), deve-se considerar como minimizar a possibilidade das discordâncias contornarem obstáculos. Um exemplo consiste no uso de partículas duras, cisalhantes no endurecimento por partícula de segunda fase. Outro exemplo é o uso de materiais com baixo coeficiente de auto difusão (visando minimizar climb) para solicitações mecânicas em alta temperatura (fluência). Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 54 6.11.6 DISCORDÂNCIAS ENDURECEM (ENCRUAM) O MATERIAL Na figura ao lado tem-se a evolução da densidade total, fração móvel e densidade das discordâncias móveis com a deformação em um material inicialmente com baixa densidade de discordâncias. Ao se deformar o material, vimos que ocorre multiplicação de discordâncias (gerando maior densidade total, figura a) e que há interações que geram ancoramento (gerando menor fração móvel, figura b). De ambos os eventos resulta o pico de discordâncias móveis da figura c. Como as discordâncias móveis são as responsáveis pela dutilidade do material, tem- se que: 1) materiais inicialmente com baixa densidade de discordâncias tendem a amolecer com o início da deformação. Tal situação é freqüente em materiais não metálicos. 2) materiais inicialmente com elevada densidade de discordância (nos metais, a densidade típica de discordâncias, mesmo no estado “mole”, recozido, já é alta para o fenômeno aqui descrito) tendem a endurecer com a deformação. Tal fenômeno é freqüente em metais e suas ligas. 7. MECANISMOS DE ENDURECIMENTO 7.1 ENCRUAMENTO O encruamento consiste no aumento do limite de escoamento com a deformação plástica do material. O fenômeno de encruamento resulta da multiplicação das discordâncias, de sua interação (ancoramentos e aproximação de campos de tensões) e da impossibilidade de contornarem obstáculos (precipitados, contornos de grão) Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce Cristopher Realce 55 Materiais CFC tem maior encruamento devido cross slip, enquanto materiais HC não tem planos compactos transversais que possibilitem cross-slip A figura ao lado ilustra que, para uma mesma quantidade de deformação plástica (ε1), o material B aumenta mais a resistência (encrua mais) que o material A e, por isso, materiais com maior coeficiente de encruamento endurecem mais. Tal coeficiente está associado à dificuldade de realizar cross slip. Materiais CFC com facilidade de cross slip (alta EFE, tal como o alumínio) tendem a contornar facilmente os obstáculos e possuem baixo coeficiente de encruamento (inclinação dacurva de tração no campo plástico). Por outro lado, quanto maior o coeficiente de encruamento, maior a resistência ao início da estricção, conforme evidenciado na figura ao lado. O alongamento uniforme do material A (εuA) é menor do que o B (εuB). Assim, materiais com mais elevado coeficiente de encruamento não só tem sua resistência mais elevada pela deformação como também aceitam maior intensidade de deformação sem iniciar a estricção (aspecto vantajoso na estampagem profunda). Materiais ferríticos e hexagonais compactos apresentam menor encruamento que materiais CFC. Aços de baixo carbono encruam menos que aços inoxidáveis austeníticos. O encruamento é um mecanismo de endurecimento importante em metais que não apresentam aumento de resistência significativa mediante tratamento térmico. 7.2 REFINO DE GRÃO O contorno de grão constitui-se em uma barreira ao movimento de discordância por exigir que a mesma mude de plano de propagação ao cruzar de um grão para o grão adjacente. O uso do refino de grão é uma técnica muito utilizada, tanto em materiais conformados e tratados termicamente quanto em materiais fundidos visando aumento da resistência do material. 2 Ko dσ σ= + Cristopher Realce 56 7.3 SOLUÇÃO SÓLIDA A presença de átomos de tamanho distinto do solvente gera distorções no reticulado que por sua vez elevam a tensão de Peierls. Quanto maior a diferença entre o tamanho dos átomos do soluto em relação ao solvente, maior o efeito endurecedor, tal como ilustrado na figura ao lado. Neste sentido, átomos intersticiais tem maior efeito endurecedor do que átomos substitucionais. A figura abaixo ilustra o efeito da adição de níquel no cobre em termos de limite de resistência, limite de elasticidade e alongamento. Na parte superior da figura abaixo tem-se o diagrama de equilíbrio cobre - níquel indicando tratar-se de sistema monofásico e, portanto, o efeito do níquel sobre o cobre é pelo mecanismo de endurecimento por solução sólida (e não, por exemplo., por partículas de segunda fase). Cristopher Realce 57 7.4 PARTÍCULAS DE SEGUNDA FASE A presença de partículas de segunda fase dispersas em uma matriz metálica é uma barreira ao movimento de discordâncias. Há dois mecanismos que podem ocorrer caso uma discordância encontre um precipitado: corte ou contorno do mesmo. Particulas moles são cortadas enquanto partículas duras são contornadas Fig. 50 Estrutura do precipitado (coerente ou incoerente) Fig. 51: Mecanismo de corte (note criação de superfície: cria endurecimento) Fig. 52: Mecanismo de contorno (multiplica discord.) Fig. 53: Estrutura de alumínio com precipitados Cristopher Realce 58 8. DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO Uma vez que as aplicações de um material dependem de suas propriedades e estas das fases presentes na microestrutura, percebe-se que o conhecimento das fases presentes no material é de suma importância prática. Diagramas de equilíbrio são gráficos (mapas) que indicam quais fases estão presentes em um sistema, em equilíbrio, sob um dado estado termodinâmico (isto é, sob determinadas condições de temperatura, pressão e composição química). Nem sempre um material possui as fases indicadas pelo respectivo diagrama de equilíbrio, pois há casos em que o material se encontra em condições de não equilíbrio1. Mesmo assim, o diagrama de equilíbrio é uma ferramenta útil para indicar quais as fases que estariam presentes caso o material venha atingir o equilíbrio (p.ex., através de tratamentos térmicos). Portanto, os diagramas servem para identificar as fases presentes em um material em equilíbrio e para diagnosticar tendências de um material fora do equilíbrio. 8.1 CONCEITOS PRELIMINARES 8.1.1 Nomenclatura substância: É a natureza dum corpo; aquilo que lhe define as qualidades materiais; matéria. A substância do gelo e da neve é a mesma, porém sob formas diferentes.2 As substâncias podem ser classificadas em: simples: quando constituídas de uma única espécie química. Ex.:água (moléculas de H2O), gás hélio (átomos de He), alumínio puro (átomos de Al). compostas: quando constituídas por diferentes espécies químicas. Ex.: ar (moléculas de N2, O2), tijolos refratários (SiO2), água do mar (H2O, NaCl e outros sais) Os termos “mistura” e “liga” são também utilizados para designar substâncias compostas. Em geral o termo “mistura” se aplica às substâncias líquidas na temperatura ambiente (mistura água + sal, mistura água + óleo, mistura gasolina + álcool) e o termo “liga” se aplica aos metais (liga Fe-C, liga Fe- Si). Além disso os termos “mistura” e “liga” se referem uma formulação específica (composição) de dois ou mais componentes. Ex.: a mistura água + 10%sal é diferente da mistura água + 20 % sal e a liga cobre + 5 % Zn é diferente da liga cobre + 15 % Zn. componente: É a espécie química , com propriedades físicas e químicas específicas, que constitui uma substância composta. Portanto, uma substância simples é constituída de um único componente, enquanto uma substância composta é constituída de pelo menos dois componentes distintos. composição química: designa a quantidade (concentração) de cada componente presente em uma mistura. Ex. aço ABNT 1020 tem composição Fe-0,20% C. Liga Al-Si eutética tem composição Al-12 %Si. Um certo tijolo refratário tem composição X % Al2O3 e Y % SiO2. 1 Aço temperado e diamante são exemplos de materiais em estado fora do equilíbrio. 2 Dicionário Aurélio 59 sistema: designa genericamente o conjunto de todas as misturas possíveis entre dois componentes, sem distinguir uma composição em particular. Ex. misturas água+10% sal, água+20% sal, água+30% sal, pertencem ao sistema água-sal. Todas as ligas de Fe-C pertencem ao sistema Fe-C. Latão para cartucho tem composição 70% Cu e 30% Zn e pertence ao sistema Cu-Zn. tipos de sistemas: os sistemas podem ser classificados quanto ao número de componentes3 presentes (unitário, binário ternário, etc) e quanto ao tipo de reação que possuem (isomorfo, eutético, eutetóide, etc.) fase: é a porção de matéria que possui: ⇒ mesma estrutura e arranjo atômico ⇒ interface definida entre a fase e o ambiente ou outra fase. ⇒ aproximadamente (4) mesma composição e propriedades (físicas, mecânicas, químicas) Em alguns casos uma fase é constituída de uma única espécie química. Ex.: A fase cementita (Fe3C) nos aços é constituída de 100 % Fe3C Em outros casos, uma fase pode ser constituída por mais de uma espécie química. Ex. Uma mistura de H2O + 5 % NaCl, na temperatura de -10 oC, é constituída de uma fase sólida ( gelo, e este com 100 % H2O) e de uma fase líquida (esta constituída de 87% H2O e 13% NaCl). Latões para cartucho são constituídos de uma única fase (α) cuja composição é 70%Cu e 30% Zn. 8.1.2 Curvas De Análise Térmica A análise térmica é uma das ferramentas experimentais5 utilizadas para construção do diagrama de equilíbrio e portanto para identificar a ocorrência de transformações (reações) em um material e em qual temperatura tais transformações ocorrem. Esta análise consiste, por exemplo, em medir a evolução da temperatura ao longo do tempo, para uma substância (composição e pressão constantes), durante o resfriamento ou aquecimento da mesma. Tomando-se o exemplo da água, sabe-se que, sob pressão de 1 atm, ocorre a transformação do estado vapor para o estado líquido a 100oC e a transformação do estado líquido para o sólido (gelo) ocorre a 0oC. Nestecaso, a curva de resfriamento seria aquela ilustrada na figura ao lado. Nesta curva há que se notar que: ⇒ as linhas têm, localmente, uma inclinação que depende da taxa de transferência de calor entre a substância e o meio 3 Note que o número de substâncias não é o número de elementos químicos. O sistema água-sal possui quatro elementos químicos (H, O, Na e Cl) mas tais elementos estão combinados nas substâncias água (H2O) e sal (NaCl), gerando um sistema binário. Por outro lado, o latão é um tipo de metal formado por átomos de cobre e zinco, formando um sistema binário. 4 ao longo do interior de um grão (de estrutura atômica constante) pode haver flutuação de composição (caso do “zonamento”) e mesmo assim este grão seria considerado uma única fase. Daí não ser necessário que a composição química seja constante em uma dada fase e, por conseguinte, as propriedades também não são constantes. 5 Um exemplo de outra ferramenta experimental é o uso de análise dilatométrica, que consiste em se avaliar as variações dimensionais que ocorrem no material ao longo de um ciclo térmico (temperatura e tempo). 60 ambiente. Portanto esta curva ilustra um fenômeno que possui caráter cinético6, pois depende da velocidade de extração de calor. ⇒ as inflexões (pontos “a”, “b”, “c” e “d”) na curva se devem ao início (ou final) de uma transformação de fase. ⇒ a transformação de fase de solidificação, inicia no ponto “c” e finaliza no ponto “d”. Tal transformação está ocorrendo a uma temperatura constante. Tal temperatura é o ponto de solidificação (ou de fusão). ⇒ a transformação de fase de condensação, inicia no ponto “a” e finaliza no ponto “b”. Tal transformação está ocorrendo a uma temperatura constante. Tal temperatura é o ponto de condensação (ou ebulição). ⇒ Nem todas as substâncias possuem um ponto de fusão (ou de solidificação) constante. No caso dos metais, apenas os metais puros e as ligas eutéticas apresentam ponto de fusão constante. Os demais metais apresentam solidificação (ou fusão) ocorrendo em um intervalo (faixa) de temperaturas. ⇒ A curva tracejada representa, com mais exatidão, a trajetória de temperatura durante o início da solidificação. Tal trajetória diz respeito aos fenômenos de super- resfriamento e recalescência que ocorrem no início da solidificação, mas que será estudado mais adiante, no capítulo de solidificação. Dos itens acima constata-se que a análise térmica indica em qual temperatura inicia ou finaliza uma transformação. Todavia, a análise térmica, não indica “quais” transformações estão ocorrendo. Considere, por exemplo, o resultado de uma análise térmica realizada em uma liga Pb-30%Sn, conforme ilustra a figura ao lado. Embora a figura indique que nas temperaturas de 270 oC e de 183 oC esteja ocorrendo uma transformação de fase, nada se pode afirmar sobre qual é a transformação. Para se saber qual transformação está ocorrendo, é necessário utilizar conhecimentos complementares, tais como o diagrama de equilíbrio de fases discutido a seguir. 8.1.3 Diagramas De Equilíbrio De Fases Um diagrama de fases é um gráfico que indica as fases presentes em um sistema, em equilíbrio, sob determinadas condições (p.ex. temperatura e pressão ou temperatura e composição). O conhecimento das fases presentes em um sistema é fundamental para se compreender: ⇒ as transformações que o mesmo pode sofrer (p.ex. ao se variar a temperatura, a pressão ou a composição) ⇒ as propriedades (físicas, químicas, mecânicas) do sistema, pois estas dependem das fases presentes. 6 fenômenos de caráter cinético são aqueles que dependem do tempo (e portanto da velocidade) de transformação. Por outro lado, fenômenos de caráter termodinâmico são aqueles que não dependem do tempo (nem da velocidade). Ponto de fusão e composição química de um sistema são exemplos de grandezas termodinâmicas. 61 Exemplos de diagramas de fases são apresentados nas figuras abaixo. Note-se que ambos os diagramas tem em comum o fato de indicarem as fases presentes em cada região do diagrama. Todavia, os diagramas possuem coordenadas diferentes. No primeiro as coordenadas são pressão e temperatura enquanto no segundo são temperatura e composição química da mistura. Tais diferenças de sistemas de coordenadas se devem ao número de variáveis necessário para especificar precisamente o estado termodinâmico7 do sistema. No caso do diagrama da água, é necessário especificar a temperatura e a pressão8 para se descrever completamente um dado estado do sistema. No caso do diagrama do sistema água-sal, é necessário especificar a temperatura, a pressão e a composição particular da mistura para se descrever completamente um dado estado deste sistema. Aqui, seria necessário um gráfico com três eixos (pressão, temperatura e composição), mas freqüentemente o estudo (e as aplicações tecnológicas) de um dado sistema é feito sob pressão ambiente. Neste caso, o diagrama representa as fases presentes sob uma atmosfera de pressão (pressão constante) e sua representação pode ser feita em um gráfico bidimensional. O número de variáveis necessárias para descrever o estado particular de um sistema é descrito pela regra das fases, conforme próximo item. 8.1.4 Regra das fases de Gibbs A regra das fases de Gibbs9 estabelece o número de fases que podem coexistir em um sistema em equilíbrio termodinâmico e é representada pela seguinte equação. onde: P = número de fases10 presentes F = número de graus de liberdade11 do sistema (isto é, o número de variáveis independentes que podem ser alteradas sem alterar o número de fases em equilíbrio) C = número de componentes do sistema 7 Estado termodâmico: neste caso se refere a uma situação particular do sistema. Água a 25 oC e a 30 oC encontra-se no estado líquido, mas possui energia diferente, estando sob situações diferentes. 8 A composição está especificada subliminarmente, pois se trata da substância água (H2O). 9 J.Willard Gibbs, físico do séc. XIX. 10 Do inglês, P de “phase”. 11 Do inglês, F de “freedom”, liberdade. Fig.: Diagrama água-sal (P= 1 atm). P + F = C + N 62 N = número de variáveis não relativas à composição (p.ex., pressão e temperatura) O emprego desta regra será apresentado nos próximos itens. 8.1.5 Tipos de diagramas de equilíbrio. Os diagramas de equilíbrio são classificados de acordo com: ⇒ número de componentes do sistema : neste caso têm-se sistemas: unitários (água, Mg puro, sílica) binários (água-sal, Fe-C, Al-Si) ternários (Fe-C-Cr, SiO2-Al2O3-CaO) quaternários, etc ⇒ tipo de transformação de fases presente (reação eutética, peritética, eutetóide, etc). Cada um dos tipos de diagramas citados acima é detalhado nos itens a seguir em ordem crescente de complexidade. 63 8.2 DIAGRAMAS DE SISTEMAS UNITÁRIOS. Diagramas unitários são aqueles que envolvem um único componente. Embora sejam os diagramas mais simples, diversas informações podem ser obtidas a partir dos mesmos. 8.2.1 Elementos do diagrama unitário Os diagramas unitários possuem elementos cuja descrição será feita através do exemplo da água, figura ao lado. Coordenadas: Abscissa: indica uma temperatura particular do sistema. Ordenadas: indica uma pressão particular do sistema. Pontos do diagrama: indica um estado particular do sistema (temperatura e pressão) Campos do diagrama: Os campos (ou regiões) do diagrama ilustram a fase presente sob uma dada temperatura e pressão. P.ex.: a água a 100 oC e 0,1 atm está no estado vapor (fase vapor), enquanto na mesma temperatura porém a 10 atm se encontra
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