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MONOGRAFIA A função Social do Contrato Andrei Ismael Ballei Flenik

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS. 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO 
 
 
 
ANDRÉ ISMAEL BALLEI FLENIK 
 
 
 
 
 
Monografia submetida à Universidade 
do Vale do Itajaí – UNIVALI, como 
requisito parcial a obtenção do grau de 
Bacharel em Direito. 
 
 
 
 
Orientador: Professor MSc. Adilor Danieli 
 
 
 
 
 
 
Itajaí (SC), junho de 2008. 
 
 
DEDICATÓRIA 
Dedico esta caminhada à minha mãe que sempre 
sonhou com este momento, e que é a 
responsável por tudo isto, ao meu pai, meu 
padrasto que não se encontram mais aqui, mas 
que estão presentes na formação do meu caráter, 
aos meus familiares que me apoiaram e aos meus 
amigos e pessoas que estiveram sempre ao meu 
lado e que acreditaram no meu potencial. 
 
 
 
PÁGINA DE APROVAÇÃO 
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale 
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando ANDRÉ ISMAEL BALLEI FLENIK 
sob o título FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO, foi submetida em [__________] 
à banca examinadora composta pelos seguintes professores: 
[__________________________,___________________________________,___
_____________________________] 
Itajaí (SC), junho de 2008. 
 
 
MSc. Adilor Danieli 
Orientador e Presidente da Banca 
 
 
 _________________________ 
Coordenação da Monografia 
 
 
ROL DE CATEGORIAS 
Contrato 
Dentro da teoria dos negócios jurídicos, é tradicional a distinção entre os atos 
unilaterais e os bilaterais. Aqueles se aperfeiçoam pela manifestação da vontade 
de uma das partes, ao passo que estes dependem da comunhão de vontades, 
sendo conhecidos como contratos. Portanto o contrato representa uma espécie 
do gênero negócio jurídico1. Pois contrato é o acordo de duas ou mais vontades, 
em vista de produzir efeitos jurídicos2. 
Bem Comum 
Bem comum é a eterna busca, um eterno aperfeiçoar das relações entre os 
homens, de modo que um indivíduo não anule o outro e, ao mesmo tempo, que a 
proteção da sociedade não asfixie o indivíduo. Para o bem comum é necessário 
que todos os homens, e cada um, tenham condições de se realizar como 
pessoas. É necessário que o bem do todo se harmonize com o bem do indivíduo3. 
Código de Defesa do Consumidor 
Conjunto ordenado de disposições normativas para a defesa e proteção do 
consumidor na aquisição de produtos e serviços, no que atina à saúde, segurança 
e dignidade, aos seus interesses econômicos e a melhoria da sua qualidade de 
vida, contendo para tanto, parâmetros relativos aos seus direitos, aos deveres dos 
fornecedores, a responsabilidade pelo fato e pelo vício do produto e do serviço, 
sem olvidar das práticas comerciais, da proteção contratual, das sanções 
administrativas e das infrações penais4. 
 
1
 RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. 23. ed. 
Atualizada. São Paulo:Saraiva, 1995, p. 09. 
2COLIN e CAPITANT. Cours élementaire de droit civil français. 4 ed. Paris, 1924, p.257. 
3SANTOS, Eduardo Sens dos. A Função Social do Contrato. Florianópolis: OAB/SC editora, 2004. 
p.133. 
4DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil, 5 ed. São 
Paulo:Saraiva, 1998, p. 99. 
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................
INTRODUÇÃO................................................................
CAPÍTULO 1 ................................................................
DOS CONTRATOS EM GERAL........................................................
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITO DE CONTRATOS ...........15 
1.1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CONTRATOS ...........................15 
1.1.2 CONCEITO DE CONTRATO ...................................................................17 
1.2 REQUISITOS PARA VALIDADE DO CONTRATO.........................21 
1.2.1 REQUISITOS SUBJETIVOS ....................................................................22 
1.2.2 REQUISITOS OBJETIVOS ......................................................................22 
1.2.2.1 Licitude de seu objeto ...................................................................23 
1.2.2.2 Possibilidade física ou jurídica do objeto....................................23 
1.2.2.3 Determinação de seu objeto .........................................................23 
1.2.2.4 Economicidade de seu objeto ......................................................24 
 
 
3.2.3 FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO E A INTEGRAÇÃO COM OS DEMAIS PRINCÍPIOS 
CONTRATUAIS:........................................................................................................65 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ..........................................
INTRODUÇÃO 
A presente monografia tem como objeto a Função Social 
dos Contratos concernentes ao Código Civil de 2002, tendo como objetivos, a 
análise dos contratos no âmbito civil. 
Para tanto, a pesquisa foi dividida em três capítulos. Tem 
seu início na análise dos contratos em geral que servirá como aporte teórico 
necessário ao estudo do tema principal deste trabalho. 
No segundo capítulo, dando seqüência lógica ao conteúdo, 
discorre-se sobre a classificação dos contratos e dos princípios que os regem. 
O terceiro e último capítulo, analisa a Função Social do 
Contrato, iniciando com a Função Social e seu Conceito e, após, adentrando-se 
na Função Social do Contrato propriamente dita. 
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as 
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos 
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos sobre a função 
social dos contratos. 
Para tanto foram levantadas as seguintes hipóteses: 
 1. É necessária a presença de requisitos subjetivos, 
objetivos e formais, para que o contrato seja válido. Sua interpretação opera 
sempre sobre um ato de vontade, exprima-se este na lei ou no negócio jurídico; 
 2. Nem todos os contratos terão os mesmos efeitos e serão 
regidos pelos mesmos princípios. A teoria da imprevisão trará um limite a esse 
principio. 
3. A base da função social do contrato estaria no principio 
da igualdade. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da 
função social do contrato. 
 
 
 
15 15
 
CAPÍTULO 1 
DOS CONTRATOS EM GERAL 
Para se abordar a função social do contrato, mister se faz 
analisar a sua evolução histórica e, da mesma sorte, a sua conceituação. 
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITO DE CONTRATOS 
Neste primeiro momento, afigura-se necessária a análise da 
evolução histórica do direito contratual. 
1.1.1 Evolução histórica do conceito de Contratos 
Antes do surgimento da moeda, as relações comerciais se 
desenvolviam num sistema de trocas dos mais variados produtos, envolvendo 
sempre, ainda que tacitamente, direitos e deveres para as partes6. 
Quando o homem usa de sua manifestação de vontade com 
a intenção precípua de gerar efeitos jurídicos, a expressão dessa vontade se 
constitui em um negócio jurídico. A preponderância da autonomia da vontade no 
direito obrigacional, tem como ponto principal o negócio jurídico, podendo ser 
traçado o conceito de contrato nos Códigos Francês e Alemão7. 
As primeiras trocas foram de objetos por objetos, por frutas, 
por animais, utensílios e tudo mais que o homem conseguiu realizar, no qual, 
remontam, na história do Direito, a época muito distante. Na idade quaternária 
quando começaram a ensaiar a divisão do trabalho e a troca de serviços na vida 
dos clãs e das tribos, o homem passou a modificar o poderde sua ação individual 
 
6RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 1.v. Rio de Janeiro. Aide ed.1988, p.19. 
7VENOSA, Sílvio de Salvo. Teoria geral das obrigações e Teoria geral dos contratos. 7. ed. 
São Paulo: Atlas. 2007, p.331 e 335. 
 
 
17 17
relação ao patrimônio, eram aplicadas penas pecuniárias, o confisco de bens e 
até castigos físicos e decapitação, quando houvesse rescisões e inexecuções12. 
Mesmo com a figura do Contrato propriamente dito, a força 
vinculante do Contrato tinha mais cunho religioso do que legal. Temia-se mais a 
ira divina ou os castigos severos. Vale dizer, não era a forma e sim o temor 
reverencial, o instrumento de vinculação. Dessa forma, não era a autonomia da 
vontade, mas o medo dos castigos e do desconhecido que tornavam o Contrato 
Obrigatório13. 
Os contratos, como todos os atos tinham caráter jurídico, ou 
seja, tinham caráter rigoroso e sacramental. As formas deviam ser obedecidas, 
ainda que não expressassem exatamente a vontade das partes. A intervenção do 
pretor se mostrou importante no preenchimento das lacunas do ordenamento14. 
O Código Civil de 2002 rompeu a tradição liberal encontrada 
no Código Civil de 1916, ao contemplar o aspecto social dos pactos, 
possibilitando ao magistrado, via de conseqüência, enquadrar a conduta negocial 
dentro dos parâmetros da boa-fé objetiva e de sua função econômica, à luz da 
aplicação da norma. 
1.1.2 Conceito de Contrato 
Para fazer um mapeamento do direito contratual é 
necessário que haja uma localização quanto aos fatos jurídicos. Podem-se 
conceituar fatos jurídicos em sentido estrito e sentido amplo15. 
O Conceito de fatos jurídicos, no seu sentido amplo, seria 
todo acontecimento realizado pela conduta humana ou decorrente de fatos 
 
12
 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos, p. 20. 
13
 SANTOS, Eduardo Sens dos. A função social do contrato. Florianópolis: OAB/SC, 2004, p. 
23. 
14VENOSA, Sílvio de Salvo. Teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos, p.334-
335. 
15
 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, p. 155-156. 
 
 
19 19
No que tange às partes de um contrato, entende-se que não 
é possível contratar sem que haja parte diversa, podendo ser duas ou mais 
partes. O contrato nada mais é do que a expressão das vontades22. 
Feitos esses esclarecimentos importantes, passar-se-á a 
conceituação de contrato, que nas palavras de Diniz23 é “o acordo de duas ou 
mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma 
regulamentação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, 
modificar ou extinguir relações jurídicas da natureza patrimonial”. 
Para Beviláqua24: 
Num contrato, as partes contratantes acordam que se deve 
conduzir de determinado modo, uma em face da outra, 
combinando seus interesses, constituindo, modificando ou 
extinguindo obrigações. 
Para Pereira: “[...] contrato é um acordo de vontades, na 
conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, 
conservar, modificar ou extinguir direitos”25. 
 No mesmo sentido, Loureiro: “[...] podemos conceituá-lo 
como o acordo de duas ou mais pessoas tendente a constituir, regular ou 
extinguir uma relação jurídica de natureza patrimonial”26. 
Hodiernamente, entende-se por contrato o negócio jurídico 
(espécie de ato jurídico) bilateral que tem por finalidade gerar obrigações entre as 
partes. Sob esse aspecto, portanto, o acordo de vontades a que chegam as 
partes tem objetivo certo, efeito este antevisto pelas partes (intuitu negocial) que 
se consubstancia na criação, modificação ou extinção de direitos. 
 
22
 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria Geral dos Contratos Típicos e Atípicos. 2ª ed. – São Paulo: 
Atlas, 2004, p. 19. 
23
 DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. São Paulo: Saraiva, 1995. 
24
 BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das obrigações, p. 132. 
25
 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: fontes das obrigações. 2001, p. 
02. 
26
 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Contratos: no novo código civil, p. 26. 
 
 
21 21
coincidência de dois ou mais consentimentos para se aperfeiçoar. Esse acordo de 
duas ou mais vontades tem por fim produzir efeitos jurídicos. 
Arnaldo Rizzardo31 afirma que o Contrato ocupa o primeiro 
lugar entre os atos jurídicos e é, justamente, aquele por meio do qual as pessoas 
combinam seus interesses, constituindo, modificando ou extinguindo algum 
vínculo jurídico. 
Pereira32 destaca que: 
É um negócio jurídico bilateral, e de conseguinte exige o 
consentimento; pressupõe, de outro lado, a conformidade com a 
ordem legal, em o que não teria o condão de criar direitos para o 
agente; e, sendo ato negocial, tem por escopo aqueles objetivos 
específicos. 
Na atual concepção de contrato, incorporam-se três novos 
princípios do Código Civil, que são: o da boa-fé objetiva, tipificado no art. 42233, o 
do equilíbrio econômico do contrato constante no art. 47834, e o da função social 
do contrato tipificado no art. 42135, todos do Código Civil. Nessa ordem de idéias, 
conclui-se que o contrato se trata do acordo de vontades entre duas ou mais 
pessoas para, entre si, constituir, regular ou extinguir uma relação jurídica, 
presente a boa-fé objetiva e respeitada a função social do contrato. 
1.2 REQUISITOS PARA VALIDADE DO CONTRATO 
Sendo o contrato um negócio jurídico, requer para a sua 
validade, a observância dos requisitos do art.104 do Código Civil Brasileiro de 
 
30
 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Dos contratos e das declarações unilaterais de vontade, 
p.09 - 10. 
31
 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos, p. 14. 
32
 PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 2. 
33
 Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em 
sua execução, os princípios de proibidade e boa fé. 
34
 Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes 
se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de 
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. 
Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. 
35
 Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do 
contrato. 
 
 
23 23
1.2.2.1 Licitude de seu objeto 
É o que não pode ser contrário à lei, à moral, aos princípios 
da ordem pública e aos bons costumes. 
O objeto do contrato, encontrando obstáculo para seu 
desenvolvimento nas leis da física ou da natureza, restará inviabilizado. Ter-se-á 
a impossibilidade jurídica, quando a norma legal proibir o contrato sob 
determinado objeto, sendo o caso de negociar os bens fora do comércio 40. 
Assim, ilícitos e inválidos serão os negócios que ajustem 
pagamento pelo assassinato de alguém, que favoreçam a exploração do lenocínio 
(p.ex., a venda de licença para uma casa de tolerância), a usura, o concubinato, 
os jogos de azar, o exercício ilegal de uma profissão (p.ex., o empréstimo do 
nome profissional a outra, que excluam os direitos de família (p.ex., casamento 
por contrato em que homem e mulher combinem viver juntos, por tempo 
indeterminado, em troca de certas vantagens), ou, ainda, que estipulem a moeda 
estrangeira como indexador para atualização monetária41. 
1.2.2.2 Possibilidade física ou jurídica do objeto 
Se o negócio tiver objeto físico ou material impossível, de 
modo que o agente jamais possa vencer o obstáculo à sua realização, por 
contrariar as leis físico-naturais (p.ex., levar o Pico do Jaraguá até Brasília),ir 
além da força humana (p.ex., empreender uma viagem de volta ao mundo em 
duas horas), ou por inexistir (p.ex., prometer uma sereia para um aquário), restam 
configuradas as hipóteses em que se tem a exoneração do devedor e a invalidade 
do contrato; pois aquele que se obriga a executar coisa insuscetível de realização, 
a nada se obrigou42. 
1.2.2.3 Determinação de seu objeto 
 O objeto deve ser certo, ou pelo menos determinável. Ou 
seja: O contrato deverá conter os elementos necessários (especificação do 
 
40
 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: Direito das Obrigações: Parte Especial v. 6 
Tomo I: Contratos. 7ª ed. ver. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2004, p.5. 
41
 DINIZ, Maria Helena. Teoria das obrigações contratuais e extracontratuais, p.28. 
42
 DINIZ, Maria Helena. Teoria das obrigações contratuais e extracontratuais, 2003, p.28. 
 
 
25 25
1.3 INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS 
Toda manifestação de vontade necessita de interpretação 
para que se saiba o seu significado e o seu alcance, as situações que previu e os 
efeitos que pretende ter48. 
Bessone49 explica que a interpretação opera sempre sobre 
um ato de vontade, exprima-se este na lei ou no negócio jurídico. 
No primeiro caso, a vontade é do Estado e se formula através de 
normas abstratas e gerais. No segundo, ela emana de entes 
públicos ou privados e disciplina, concretamente, um certo 
negócio jurídico. Nos dois casos, a interpretação é uma operação 
lógica, que tem por objetivo determinar o significado de uma 
vontade manifestada. 
Segundo Gomes50: 
Deve-se admitir, por dedução lógica, que o fim último da 
interpretação é a determinação de tais efeitos. Afinal, o que 
importa é definir a vontade contratual objetivamente expressa nas 
cláusulas, mesmo que não corresponda exatamente à intenção do 
declarante. É, de resto, comportamento obrigatório dos 
contratantes que demanda do intérprete clara definição e, se é 
juiz, a escolha do preceito aplicável em caso de controvérsia 
(lide). 
Diniz51 entende que: 
[...] o intérprete do sentido negocial não deverá ater-se, 
unicamente, a exegese do contrato, isto é, ao exame gramatical 
de seus termos, mas sim a fixação da vontade dos contraentes, 
procurando seus efeitos jurídicos, indagando sua intenção, sem 
se vincular, estritamente, ao teor lingüístico do ato negocial. Por 
 
48
 WALD, Arnoldo. Obrigações e contratos, p. 202. 
49
 BESSONE, Darcy. Do contrato, p. 167. 
50
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 199. 
51
 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e 
extracontratuais, p. 65. 
 
 
27 27
contrato serve de título à transferência de direitos reais. Tais 
efeitos se manifestam não só na força obrigatória, mas também na 
relatividade do contrato. 
O contrato tem força vinculante, pois, se não tivesse 
obrigatoriedade em relação aos contraentes, jamais poderia desempenhar sua 
função jurídico-econômica54. 
Gomes55 bem descreve acerca da força vinculante: 
A primeira conseqüência da força vinculante do contrato é sua 
irretratabilidade. Uma vez perfeito e acabado, não pode ser 
desfeito senão por outro acordo de vontades chamado distrato56. 
Comporta a regra exceções que, entretanto, não a infirmam. A 
segunda conseqüência é expressa no princípio de que o contrato 
não pode ser alterado pela vontade exclusiva de um dos 
contratantes. Qualquer modificação em seu conteúdo há de 
resultar, para valer, do consentimento das duas partes. Algumas 
exceções, no entanto, admitem-se. 
Gomes57 vai mais além descrevendo que: 
A força vinculante do contrato revela-se em sua plenitude na 
irretratabilidade. Contraído o vínculo, nenhuma das partes pode 
desfazê-lo a seu arbítrio. A vontade unilateral é importante, de 
regra, para desatá-lo ou rompê-lo, somente podendo dissolver-se 
por acordo de vontade, tal como nasceu. Em caráter excepcional 
a lei autoriza, porém, a dissolução por vontade unilateral, mas em 
circunstâncias que não atingem propriamente a regra da 
irretratabilidade, que significa impossibilidade de arrependimento 
unilateral. A irrevogabilidade do contrato é, em síntese, corolário 
imediato de um dos grandes princípios de Direito Contratual: o da 
força obrigatória. É, no entanto, admitida à revogação mediante 
contrarius consensus, se os efeitos do contrato ainda não se 
produziram. A revogação por mútuo dissenso tem efeito retroativo. 
 
54
 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e 
extracontratuais, p. 94. 
55
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 161. 
56
 Diz-se de distrato a “forma consensual de desconstituição da eficácia do negócio jurídico”. 
57
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 161. 
 
 
29 29
Utilizando-se das palavras do doutrinador supracitado, 
conclui-se que as prestações são de coisas ou de fatos, mas, embora a obrigação 
contratual tenha como objeto a entrega de determinado bem, permanece o efeito 
pessoal do contrato consistente apenas no direito do credor de exigir do devedor 
que faça a entrega. 
1.4.1 Estipulação em favor de terceiro 
A estipulação em favor de terceiro consiste em exceção ao 
princípio da relatividade dos contratos. Para Gomes60: 
A estipulação em favor de terceiro é, realmente, o contrato por via 
do qual uma das partes se obriga a atribuir vantagem patrimonial 
gratuita a pessoa estranha à formação do vínculo contratual. (...). 
Para haver estipulação em favor de terceiro é necessário que do 
contrato resulte, para este, uma atribuição patrimonial gratuita. O 
benefício há de ser recebido sem contraprestação e representar 
vantagem suscetível de apreciação pecuniária. A gratuidade do 
proveito é essencial, não valendo a estipulação que imponha 
contraprestação. A estipulação não pode ser feita contra o 
terceiro. Há de ser em seu favor. 
Para Lopes61, o princípio fundamental da estipulação em 
favor de terceiro é de ordem psicológica, assim dispõe: 
A intenção do estipulante de contratar, não no seu próprio 
interesse, senão no de terceiro. Essa intenção necessita vir 
manifestada de um modo expresso e inequívoco. Não basta uma 
cláusula suscetível de proporcionar, ocasionalmente, ou por 
repercussão, vantagens a terceiros. Cumpre que tudo decorra, 
sem nenhuma dúvida possível, do resultado da própria operação, 
ou de circunstâncias indicativas da intenção do estipulante de 
conferir um direito a um terceiro. Trata-se de uma questão de 
interpretação de vontade 
 
60
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 165-166. 
61
 “LOPES, Serpa. Curso de direito civil, p. 112/113. 
 
 
31 31
[...]. A pessoa designada toma, na relação contratual, o lugar da 
parte que a nomeou, tal como se ela própria houvera celebrado o 
contrato. O designante sai da relação sem deixar vestígios. [...], o 
contraente in próprio nomeia terceiro titular do contrato. 
Importante ressaltar que somente permanecerá válido entre 
os contratantes iniciais. 
1.5 EXTINÇÃO DOS CONTRATOS 
A extinção do contrato poderá se dar pelo distrato, que 
nada mais é do que o acordo de vontade entre as partes contratantes, a fim de 
extinguir o vínculo contratual anteriormente estabelecido. 
Segundo o Código Civil, em seu artigo 472 , à 
perfectibilização do distrato, exige-se a mesma forma utilizada para a confecção 
do contrato. 
Qualquer que seja o efeito do distrato, ele não atinge os 
terceiros que adquiriram direitos em virtude da existência do contrato extinto66. 
Darcy Bessone67 entende que não é cabível o distrato nos 
contratos de execução imediata, pois neste caso a obrigação é cumprida 
instantaneamente no momento da celebração do contrato.Outra forma de extinção se dá pela cláusula resolutiva que 
pode ser tácita ou expressa. A cláusula resolutiva tácita tem seu fundamento na 
lei e alcança todos os contratos, ela é prevista no Código Civil. 
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a 
resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, 
cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e 
danos. 
 
66
 BRASIL, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Ap. Cível 70007970239. 16ª Câm. Cív. – Rel. Dês. 
Helena Ruppenthal Cunha – j. 17/3/2004. 
67
 BESSONE, Darcy. Do contrato: teoria geral p. 251. 
 
 
33 33
CAPÍTULO 2 
DA CLASSIFICAÇÃO E DOS PRINCÍPIOS DOS CONTRATOS 
O presente capítulo se volta ao estudo da classificação dos 
contratos e dos princípios que os regem. 
2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS QUANTO A SUA NATUREZA 
2.1.1 Contratos unilaterais e bilaterais 
Todo contrato decorre do acordo de duas ou mais vontades, 
mas como em relação aos seus efeitos, esse negócio jurídico bilateral ou 
plurilateral ora gera obrigações de natureza patrimonial para todos os 
contratantes, ora só para um deles, apenas sob esse prisma será possível se falar 
em contrato bilateral e unilateral70. 
Nos contratos bilaterais ou sinalagmáticos, surgem 
obrigações para ambas as partes, que assumem, simultaneamente, a dupla 
posição de devedor e credor. Neles, a obrigação de um corresponde ao direito do 
outro, podendo-se dizer que a obrigação de um é a causa, a razão de existir, o 
pressuposto da obrigação do outro71. 
Diniz72 explicita: 
Bilaterais, em que cada um dos contraentes é simultânea e 
reciprocamente credor e devedor do outro, pois produzem direitos 
e obrigações para ambos, tendo por característica principal o 
sinalagma, ou seja, a dependência recíproca de obrigações; daí 
também serem denominados contratos sinalagmáticos. 
 
70
 DINIZ, Maria Helena. Teoria das obrigações contratuais e extracontratuais, p.79. 
71
 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: contratos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002, 
p.36. 
72
 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e 
extracontratuais, p. 71-72. 
 
 
35 35
A mesma noção está presente no art. 392 do atual Código. 
Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o 
contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a 
quem não favoreça; nos contratos onerosos, responde cada uma 
das partes por culpa, salvo as exceções previstas na lei. 
A lei trata com maior rigor aquele que não possui a carga, o 
peso contratual no contrato unilateral. O doador, por exemplo, só pode ser 
responsabilizado pelo perecimento da coisa doada se agir com dolo, não por 
simples culpa. O donatário responderá por simples culpa76. 
Com essa classificação, podem-se destacar valiosos efeitos 
práticos seguintes77 : 
a) Exceção do contrato não cumprido (exeptio non 
adimpleti contractus); 
b) Condição resolutiva tácita; havendo interdependência 
das obrigações correlatas, presume-se a existência de uma condição resolutiva. 
Isto é, o inadimplemento culposo de uma das obrigações constitui justa causa 
para a resolução do contrato; 
c) Riscos do perecimento da coisa; nos contratos 
bilaterais, resta saber qual o destino da obrigação correlata se, por força maior, 
dá-se a impossibilidade do cumprimento de uma delas; 
d) Os contratos bilaterais, como regra, são os que se 
sujeitam à aplicação da teoria da imprevisão, já estudada; 
e) Nos contratos unilaterais, responde apenas por dolo e 
não por culpa, a parte a quem o contrato não aproveite, enquanto nos bilaterais, 
ambos respondem por culpa no caso de inadimplemento das obrigações. 
 
76
 VENOSA, Silvio de Salvo. Teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos, p. 363. 
77
 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil contratos, p.37. 
 
 
37 37
Para Diniz82 entende-se que “os contratos a título oneroso 
são aqueles que trazem vantagens para ambos os contraentes, pois estes sofrem 
um sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito almejado”. 
2.1.3 Contratos comutativos e aleatórios 
O contrato comutativo vem a ser aquele em que cada 
contratante, além de receber do outro prestação relativamente equivalente à sua, 
pode verificar, de imediato, essa equivalência. 
Segundo Pereira83: 
São comutativos os contratos em que as prestações de ambas as 
partes são de antemão conhecidas, e guardam entre si uma 
relativa equivalência de valores. Não se exige a igualdade 
rigorosa destes, porque os bens que são objetos dos contratos 
não têm valoração precisa. Podendo ser, portanto, estimadas 
desde a origem, os contratantes estipulam a avença, e fixam 
prestações que aproximadamente se correspondem. 
Portanto, nesse contrato, cada contratante se obriga a dar 
ou a fazer algo que é considerado como equivalente àquilo que lhe dão ou que 
lhe fazem. 
Será comutativo o contrato a título oneroso e bilateral em 
que a extensão das prestações de ambas as partes, conhecida desde o momento 
da formação do vínculo contratual, é certa, determinada e definitiva, apresentando 
uma relativa equivalência de valores que, por sua vez, são insuscetíveis de 
variação durante o implantação do contrato, embora, algumas vezes, corram 
riscos relativos à coisa ou à oscilação do seu valor, o que, contudo, são 
circunstâncias independentes do contrato84. 
 
81
 VENOSA, Silvio de Salvo. Teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos, p. 372. 
82
 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e 
extracontratuais, p.74. 
83
 PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 39-40. 
84
 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e 
extracontratuais, p.84. 
 
 
39 39
2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS QUANTO A SUA FORMA 
2.2.1 Contratos consensuais 
Para Rodrigues89, “consensuais são aqueles que se ultimam 
pelo mero consentimento das partes, sem necessidade de qualquer outro 
complemento”; citando como exemplo, a compra e venda de bens móveis, ou o 
contrato de transporte. “E reais, são aqueles ajustes que dependem, para seu 
aperfeiçoamento, da entrega da coisa, feita por um contratante ao outro”. 
Seguindo o princípio do consensualismo, em geral, os 
contratos se tornam perfeitos com o consenso das partes (acordo de vontades). 
Isto é, a partir de então se tem por geradas as obrigações. Esses contratos são 
chamados de contratos consensuais90. 
2.2.2 Contratos solenes ou formais 
O contrato só deverá obrigatoriamente conter uma forma se 
assim for determinado pela lei. Na omissão legal quanto à pré-determinação da 
forma, o contrato vale e é eficaz, qualquer que seja sua forma91. 
Descreve Diniz92: 
Os contratos solenes ou formais consistem naqueles para os 
quais a lei prescreve, para a sua celebração, forma especial que 
lhes dará existência, de tal sorte que, se o negócio for levado a 
efeito sema observância da forma legal, não terá validade. 
Desse modo, serão formais os contratos cuja validade 
depender da observância de uma forma pré-estabelecida pela lei. Aqui, há uma 
distinção de importância, quais sejam os contratos cuja forma é exigida pela lei ad 
probationem e, aqueles cuja formalidade tem caráter constitutivo ou solene. 
 
89
 RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 33. 
90
 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: contratos, p.39.91
 VENOSA, Silvio de Salvo. Teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos, p. 384. 
92
 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e 
extracontratuais, p. 83-84. 
 
 
41 41
2.3 CONTRATOS QUANTO A SUA DESIGNAÇÃO 
2.3.1 Contratos nominados 
Os contratos nominados ou típicos abrangem, como bem 
leciona Antunes Varela99, “as espécies contratuais que têm nomem iuris e servem 
de base à fixação dos esquemas, modelos ou tipos de regulamentação específica 
da lei”. 
Rodrigues100 descreve que “os contratos nominados ou 
típicos são aqueles a que a lei dá denominação própria e submete as regras que 
pormenoriza”. 
E ressalta101: 
O Código Civil brasileiro cuida de dezesseis contratos típicos, a 
saber: compra e venda, troca, doação, locação, empréstimo, 
depósito, mandato, gestão de negócio, edição, representação 
dramática, sociedade, parceria rural, constituição de renda, 
seguro, jogo e aposta e fiança. 
Já Diniz102 descreve que Código Civil rege e esquematiza 
vinte e três tipos dessa espécie de contrato: compra e venda, troca, contrato 
estimatório, doação, locação de coisas, empréstimo, prestação de serviço, 
empreitada, depósito, mandato, comissão, agência, distribuição, corretagem, 
transporte, constituição de renda, segura, jogo, aposta, fiança, sociedade, 
transação e compromisso. 
2.3.2 Contratos inominados 
Os contratos inominados ou atípicos se afastam dos 
modelos legais, pois não são disciplinados ou regulados expressamente pelo 
Código Civil ou por lei extravagante, porém são permitidos juridicamente, desde 
 
99
 VARELA, Antunes. Direito das obrigações, p.152. 
100
 RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 34-35. 
101
 RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 35. 
102
 DINIZ, Maria Helena. Teoria das obrigações contratuais e extracontratuais, p.94. 
 
 
43 43
2.4 CONTRATOS QUANTO A PESSOA DO CONTRATANTE 
2.4.1 Contratos pessoais ou intuito personae e contratos impessoais 
Os contratos pessoais são aqueles em que a pessoa do 
contratante é considerada pelo outro como elemento determinante de sua 
conclusão. A pessoa do contratante, nesses contratos, tem influência decisiva no 
consentimento do outro, que tem interesse em que as obrigações contratuais 
sejam por ele cumpridas, por sua habilidade particular, competência, idoneidade e 
etc110. 
Os contratos impessoais são aqueles em que a pessoa do 
contratante é juridicamente indiferente. Pouco importa quem execute a obrigação; 
o único objetivo é que a prestação seja cumprida111. 
2.4.2 Conseqüências práticas dessa distinção 
A distinção entre contratos intuito personae e impessoais se 
reveste de grande importância, em virtude das conseqüências práticas 
decorrentes da natureza personalíssima dos negócios pertencentes à primeira 
categoria, que: 
a) são intransmissíveis, não podendo ser executados por 
outrem; assim sendo, com o óbito do devedor, extinguir-se-ão, pois os sucessores 
não poderão cumprir a prestação, que era personalíssima; b) não podem ser 
cedidos, de modo que se substituído o devedor, ter-se-á a celebração de novo 
contrato; c) são anuláveis, havendo erro essencial sobre a pessoa do 
contratante112. 
 
107
 Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do 
contrato. 
108
 Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em 
sua execução os princípios de probidade e boa fé. 
109
 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e 
extracontratuais, p.94. 
110DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e 
extracontratuais, p.98. 
111
 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil, p.62. 
112
 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil, p. 62. 
 
 
45 45
2.6 CONTRATOS QUANTO AO TEMPO DE SUA EXECUÇÃO 
2.6.1 Contratos de execução imediata 
Os contratos de execução imediata são os que se esgotam 
num só instante uma única prestação. Para Pereira117: 
[...] de execução imediata ou instantânea é o contrato em que a 
solução se efetua de uma só vez e por prestação única, tendo por 
efeito a extinção cabal da obrigação. E de execução diferida ou 
retardada é aquele em que a prestação de uma das partes não se 
dá de um só jato, porém a termo, não ocorrendo à extinção da 
obrigação enquanto não se completar a solutio. 
Define Lopes118, que contratos de execução imediata são os 
que se exaurem num só momento, “como a compra e venda a vista, enquanto 
que os de execução continuada se realizam através de prestações contínuas e 
sucessivas”. 
2.6.2 Contratos de execução continuada 
Os contratos de execução continuada são os que se 
protraem no tempo, caracterizando-se pela prática ou abstenção de atos 
reiterados, solvendo-se num espaço mais ou menos longo de tempo. Ocorrem 
quando a prestação de um ou de ambos os contraentes se dá a termo, podendo-
se exemplificar o contrato de compra e venda a prazo, ante a circunstância de os 
contratantes terem convencionado pagamento parcelado, a prestação não poderá 
ser satisfeita contemporaneamente a formação do contrato, pois o comprador 
recebe o que comprou para pagá-lo em certo número de prestações futuras, 
protraindo-se, assim, a execução119. 
Os contratos de execução contínua, como pontifica, são os 
que sobrevivem com a persistência da obrigação, muito embora ocorram soluções 
periódicas, até que, pelo implemento de uma condição ou decurso de um prazo, 
 
117
 PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 41. 
118
 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil, p. 60. 
119
 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p.62. 
 
 
47 47
outra, no geral mais fraca e na necessidade de contratar, não tem 
poderes para debater as condições, nem introduzir modificações, 
no esquema proposto. Este último contraente aceita tudo em 
bloco ou recusa tudo por inteiro. 
A idéia de contrato de adesão vem a contrariar a de contrato 
paritário, pelo fato de que aquele impossibilita ao contratante discutir as cláusulas, 
ao passo que este permite as partes contratantes o tratamento do conteúdo. 
Nesta linha de raciocínio emprega Rodrigues124: 
No conceito clássico de contrato admite-se uma fase em que se 
procede ao debate das cláusulas da avença e nas quais as 
partes, colocadas em pé de igualdade, discutem os temos do 
negócio. É a chamada fase de puntuação, onde as divergências 
são eliminadas através da transigência dos contraentes. A este 
tipo de negócio dá-se o nome de contrato paritário, pois se supõe 
a igualdade entre os interessados. No contrato de adesão a fase 
inicial de debates e transigência fica eliminada, pois uma das 
partes impõe a outra, como um todo, o instrumento inteiro do 
negócio, que esta, em geral não pode recusar. 
Nesses contratos há manifestação livre e coincidente de 
duas ou mais vontades. Deveras, os interessados livremente se vinculam, 
discutindo amplamente e fixando as cláusulas ou as condições que regerão a 
relação contratual125. 
2.9 PRINCÍPIOS CLÁSSICOS DO CONTRATO 
Na definição do dicionário Antônio Houaiss da Língua 
Portuguesa, princípio é “o que serve de base para alguma coisa; causa primeira, 
raiz, razão126”. 
Celso Antônio Bandeira de Mello127 acerca dos princípios 
descreve: 
 
124
 RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, p. 42.125
 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e 
extracontratuais, p.90. 
 
 
49 49
devem declarar a sua vontade de forma livre, séria e no sentido da 
contratação”131. 
As normas de Direito Contratual têm, como regra geral, 
caráter supletivo, porquanto serão aplicadas para suplementar a vontade das 
partes e possibilitar a consecução da finalidade por elas almejada. 
Ratifica Gomes132, acerca da autonomia da vontade: 
Significam o poder dos indivíduos de suscitar, mediante 
declaração de vontade, efeitos reconhecidos e tutelados pela 
ordem jurídica. No exercício desse poder, de toda pessoa capaz 
tem aptidão para provocar o nascimento de um direito, ou para 
obrigar-se. [...] Outros conceituam a autonomia da vontade como 
um aspecto da liberdade de contratar, no qual o poder atribuído 
aos particulares é o de se traçar determinada conduta para o 
futuro, relativamente às relações disciplinares da lei. 
O princípio da autonomia da vontade se particulariza em 
nosso direito contratual na liberdade de contratar. Significam o poder das pessoas 
de suscitar, mediante sua declaração de vontade, efeitos reconhecidos e 
tutelados pela ordem jurídica. Exercendo esse poder, todo indivíduo capaz tem 
aptidão para provocar o nascimento de um direito ou para assumir alguma 
obrigação133. 
A liberdade de contratar se manifesta em três aspectos: a) 
liberdade de contratar propriamente dita; b) liberdade de estipular o contrato; c) 
liberdade de estipular o conteúdo do contrato. 
2.9.2 Força obrigatória do contrato 
O princípio da força obrigatória ou da obrigatoriedade das 
convenções que leva à intangibilidade dos contratos é aquele, segundo o qual, o 
contrato faz lei entre as partes (pacta sunt servanda). Isto é, uma vez 
 
131
 LISBOA, Roberto Senise. Contratos difusos e coletivos, p. 84. 
132
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 22. 
133
 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais de vontade, p.15 
 
 
51 51
O princípio da força obrigatória, contudo, poderá ser 
mitigado em decorrência da denominada Teoria da Imprevisão. 
A teoria da imprevisão, consiste na possibilidade de revisão 
dos contratos já aperfeiçoados, chegando a admitir, em seu grau máximo, a 
própria inexecução das obrigações sem responsabilidade do contratante. Isto 
implica dizer que da sua aplicação poderá sobrevir, inclusive, a extinção do 
vínculo contratual139. 
2.9.3 Relatividade dos efeitos do contrato 
Esse princípio diz respeito à eficácia dos contratos. Tem-se 
que os efeitos do contrato não podem lesar terceiros. No que se refere a terceiros, 
“o contrato é res inter alios acta, aliis neque nocet neque prodest”. Assim é o 
entendimento de Diniz140: 
O contrato somente produz efeitos entre os contratantes. O ato 
negocial deriva de acordo de vontade das partes, sendo lógico 
que apenas as vincule, não tendo eficácia em relação a terceiros. 
Assim, ninguém se submeterá a uma relação contratual, a não ser 
que a lei o imponha ou a própria pessoa o queira. 
Portanto, tais contratos não produzem efeito com relação a 
terceiros, a não ser nos casos previsto no ordenamento jurídico. 
O referido princípio não é absoluto, comportando várias 
exceções. Neste prisma, é o entendimento de Gomes141: 
[...], o sucessor, a título universal de um contratante, embora não 
tenha participado da formação do contrato, terceiro não é, porque 
a sua posição jurídica deriva das partes, como tal devendo ser 
tido. Há contratos que, fugindo a regra geral, estendem efeitos a 
outras pessoas, quer criando, para estas, direitos, quer impondo 
obrigações. Tais são, dentre outros, a estipulação em favor de 
 
139
 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: contratos, p. 18. 
140
 DINIZ, Maria Helena Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e 
extracontratuais, p. 36. 
141
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 43-44. 
 
 
53 53
2.10.2 Equivalência material 
O princípio da equivalência material busca realizar e 
preservar o equilíbrio real de direitos e deveres no contrato, antes, durante e após 
sua execução, para harmonização dos interesses. 
Esse princípio preserva a equação e o justo equilíbrio 
contratual, seja para manter a proporcionalidade inicial dos direitos e obrigações, 
seja para corrigir os desequilíbrios supervenientes, pouco importando que as 
mudanças de circunstâncias pudessem ser previsíveis143. 
 O que interessa não é mais a exigência cega de 
cumprimento do contrato, da forma como foi assinado ou celebrado, mas se sua 
execução não acarreta vantagem excessiva para uma das partes e desvantagem 
excessiva para outra, aferível objetivamente, segundo as regras da experiência 
ordinária144. 
O princípio clássico pacta sunt servanda passou a ser 
entendido no sentido que o contrato obriga as partes contratantes nos limites do 
equilíbrio dos direitos e deveres entre elas145. 
O princípio da equivalência material se desenvolve em dois 
aspectos distintos: subjetivo e objetivo. O aspecto subjetivo leva em conta a 
identificação do poder contratual dominante das partes e a presunção legal da 
vulnerabilidade. 
A lei presume juridicamente vulnerável o trabalhador, o 
inquilino, o consumidor, o aderente de contrato de adesão. 
O aspecto objetivo considera o real desequilíbrio de direitos 
e deveres contratuais que pode estar presente na celebração do contrato ou na 
 
143
 NETTO LÔBO, Paulo Luiz. O novo código civil discutido por juristas brasileiros. Campinas: 
Bookseller, 2003, p. 87. 
144
 NETTO LÔBO, Paulo Luiz. O novo código civil discutido por juristas brasileiros, p. 87. 
145
 NETTO LÔBO, Paulo Luiz. O novo código civil discutido por juristas brasileiros, p. 87. 
 
 
55 55
função a que corresponde, pois ao contrário, seu titular os desvirtua, cometendo 
abuso do direito de contratar. 
Nas palavras de Loureiro149, tem-se que: 
[...] o denominado abuso de direito, segundo a maior parte dos 
juristas, caracteriza um limite imposto ao exercício do direito 
subjetivo. É necessário estabelecer um limite aos direitos 
subjetivos para que os demais sejam protegidos contra atitudes 
egoístas e anti-sociais do titular dos direitos. 
Trata-se de evitar que o titular de um determinado direito 
subjetivo cometa excessos ao exercer tal direito, para não prejudicar interesses 
alheios150. 
Em suma, a liberdade de contratar abrange a liberdade da 
parte em celebrar ou não o contrato. Em determinados casos, no entanto, a 
própria lei proíbe a recusa de contratar, não só nos contratos de consumo, mas 
nos contratos em geral. 
A recusa pode se mostrar ainda abusiva em vista das 
circunstâncias do negócio, quando a interrupção das tratativas ocorrer de maneira 
abrupta, não razoável, com o fito de prejudicar a parte contrária ou ainda quando 
se mostrar anti-funcional151. 
Segundo João Álvaro Quintiliano Barros152: 
As teorias que negam a autonomia do ato abusivo se 
fundamentam na equiparação deste com o ilícito, em razão de 
ambos produzirem os mesmos efeitos, qual seja a 
responsabilização civil do agente. 
 
149
 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Contratos: no novo código civil, p. 85. 
150
 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Contratos: no novo código civil, p. 85. 
151
 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Contratos: no novo código civil. 2005, p. 108. 
152BARROS, João Álvaro Quintiliano. Abuso de direito. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6944>. Acesso em: 29 de set. de 2007. 
 
 
 
57 57
CAPÍTULO 3 
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO 
3.1 HISTÓRICO DA FUNÇÃO SOCIAL 
A idéiade função social foi formulada pela primeira vez por 
São Tomás de Aquino, quando afirmou que os bens apropriados individualmente 
teriam um destino comum, que o homem deveria respeitar. 
 Essa idéia, no entanto, ganhou força apenas no século 19, 
devido às profundas alterações econômicas e sociais que ocorreram naquele 
período. No entanto, como sempre ocorre na história, as idéias filosóficas surgem 
com bastante antecedência em relação ao período em que as mudanças 
ocorrem153. 
Uma das doutrinas filosóficas que fundamentou as 
mudanças do século 19 foi o racionalismo, concepção segundo a qual a razão era 
o centro de todas as ações humanas. A expressão “penso, logo existo” ilustra 
bem essa visão do ser humano. 
No campo econômico, a Revolução Industrial se 
caracterizou pela liberdade como fundamento da organização econômica, 
deixando a “mão invisível” do mercado regular o funcionamento da economia no 
âmbito interno e internacional. Em conseqüência, surgiram alterações na ordem 
social, formando-se novas classes sociais: a burguesia, detentora do capital, e os 
trabalhadores154. 
 
153
 TOMASEVINICIUS FILHO, Eduardo. A função social do contrato conceitos e critérios de 
aplicação. Disponível em http://www.senado.gov.br/web/cegraf/ril/Pdf/pdf_168/R168-15.pdf>. 
Acesso em 29 de set.de 2007. 
154
 SMITH, Adam. Uma investigação sobre a natureza e causas da riqueza das nações. São 
Paulo: Hemus.1981. 
 
 
59 59
encíclica é que era conveniente promover melhores condições de trabalho, do 
que se correr o risco de a classe trabalhadora instituir o socialismo158. 
De acordo com Leão XIII, o socialismo insuflava o ódio dos 
trabalhadores contra os patrões; e, ao pregarem o fim da propriedade privada, 
corriam contra a ordem natural das coisas, pois a propriedade seria um direito 
natural. O fato de uma pessoa ser patrão e outra operária se devia a diferença 
natural de uma pessoa para outra. Por isso mesmo, Deus não impôs a 
distribuição dos bens entre as pessoas159. 
No item 16 da Encíclica, Leão XIII propunha o seguinte aos 
trabalhadores: 
(...) cumprir integral e fielmente o que por própria liberdade e com 
apoio da justiça se estipulou sobre o trabalho; não causar dano 
algum ao capital; não ofendam a pessoa de seus patrões; abster-
se de toda violência ao defender seus direitos e não promover 
sedições; não mesclar-se com homens depravados, que 
alimentam pretensões imoderadas e prometem artificiosamente 
grandes coisas, o que leva consigo arrependimentos estéreis e as 
conseqüentes perdas de fortuna. 
 Para os patrões, propunha-se o seguinte: 
(...) não considerar os trabalhadores como escravos; respeitá-los, 
como é justo, a dignidade da pessoa humana, sobretudo 
enobrecida pelo que se chama de caráter cristão. (...) Tampouco 
deve impor-lhes mais trabalho do que podem suportar suas 
forças, nem de uma classe que não seja condizente com sua 
idade e sexo160. 
 
158
 LEAO XIII. Encíclica rerum novarum on capital and labor. Roma: Vaticano, 1891. Disponível 
em: <http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/ _15051891_rerumnovarum_en.html>. 
Acesso em: 29 de set. de 2007. 
159
 TOMASEVINICIUS FILHO, Eduardo. A função social do contrato conceitos e critérios de 
aplicação. Disponível em http://www.senado.gov.br/web/cegraf/ril/Pdf/pdf_168/R168-15.pdf>. 
Acesso em 29 de set. de 2007. 
160
 Em 1931, o Papa Pio XI lançou a Encíclica Quadragésimo anno, a qual celebra os quarenta 
anos da Encíclica Rerum novarum, e na qual se faz uma reinterpretação dessa última, de modo a 
evidenciar que o Papa Leão XIII já falava em função social. 
 
 
61 61
face da sociedade. O direito não pode ser um fim em si mesmo; está a serviço da 
proteção da dignidade da pessoa humana165. 
Outro jurista que estudou a função social foi Leon Duguit, 
expoente do sociologismo jurídico. De acordo com Miguel Reale, Duguit 
encontrava na solidariedade a explicação de todos os fenômenos de convivência. 
O ser humano não seria auto-suficiente, o que ensejaria uma interdependência 
inevitável. A atividade particular de cada ser humano deveria harmonizar-se com 
as atividades dos demais, resultando numa divisão geral do trabalho166. 
Duguit167 sustentava que as transformações pelas quais o 
direito civil passa, levariam a uma alteração dos conceitos jurídicos tradicionais. O 
direito subjetivo, por exemplo, seria um conceito metafísico, porque teria por base 
a vontade humana, a qual não pode ser analisada objetivamente e seria 
substituído pela idéia de função social. 
O constitucionalista italiano Santi Romano, desenvolveu o 
conceito de função a partir da conexão entre poderes, direitos e deveres. Além 
disso, foi ele quem estabeleceu a idéia de função social como “poder-dever”, que 
significa o exercício de um direito subjetivo, de tal modo que o mesmo não 
contrarie o interesse público168. 
 Porém, surge a dificuldade de determinar o conteúdo dos 
deveres positivos, decorrentes da função social do instituto jurídico. 
 
165
 TOMASEVINICIUS FILHO, Eduardo. A função social do contrato conceitos e critérios de 
aplicação. Disponível em http://www.senado.gov.br/web/cegraf/ril/Pdf/pdf_168/R168-15.pdf>. 
Acesso em 29 de set. de 2007. 
166
 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 18. ed. São Paulo:Saraiva, 1998, p. 441. 
167
 DUGUIT, Leon. Las transformaciones del derecho: publico e privado. Buenos Aires: Heliasta, 
1975. 
168ROMANO, Santi. Princípios de direito constitucional geral. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 1977, p.142-143. 
 
 
63 63
A função social compete servir como grande estímulo ao 
progresso material, mas, sobretudo, à valorização crescente do ser humano, num 
quadro em que o Homem exercita a sua criatividade para crescer como indivíduo 
e com a Sociedade174. 
3.2 FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO 
3.2.1 Histórico da Função Social do Contrato 
Para conceituar “Direito” houve uma evolução histórica 
grande e, mesmo assim, não existe consonância em todas as definições, sem 
contar que o conceito irá mudar dependendo do referencial. Não é diferente com 
a Função Social do Contrato, que pode se transmutar dependendo do contexto 
histórico. 
Antes da Revolução Francesa, a nobreza e o clero 
causavam interferência nas decisões judiciais. Após a revolução, com a tomada 
do poder pela burguesia, fazia-se necessário o seu pensamento nas decisões 
judiciais sem a invencível valoração do judiciário. O sonho burguês seria possível 
somente com o controle dos três poderes, estando os três sob a égide da 
burguesia o juiz seria somente um proclamador da lei. 
A burguesia necessitava desse controle para segurança das 
relações jurídicas, ou seja, do patrimônio privado. A decisão do judiciário deveria 
ser linear e em total consonância com o que prescrevia a lei, sob pena de ultraje a 
segurança jurídica. Com isso, o direito começou a se enrijecer e a permanecer 
inerte diante das mudanças sociais 175. 
As relações fáticas não são estáticas e rígidas, o legislador 
permanece sempre um passo atrás da realidade fática, até porque, nenhum 
legislador pode prever o futuro; contudo, começou a coadunar a idéia de que o 
legislador não poderia fazer leis para todas as matérias e que para essas 
matérias deveriam ser utilizadas outros métodos de interpretação que não a lei176. 
 
174
 SANTOS, Eduardo Sens dos. A Função Social do Contrato, p.129 
175
 SANTOS, Eduardo Sens dos. A Função Social do Contrato, p. 114. 
176
 SANTOS, Eduardo Sens dos. A Função Social do Contrato p. 117/119. 
 
 
65 65
apresentado é a derradeira idéia para se afirmar que a função social do contrato é 
a materialização das crescentes necessidadessociais em busca de uma 
conveniência geral (bem comum) regidas sob a ótica dos princípios morais e dos 
ideais da conduta humana. 
3.2.2 A Função Social do Contrato e a Integração com as demais ciências 
sociais: 
Entende-se que a função social do contrato significa, "a 
aproximação do direito com as demais ciências sociais, como a sociologia, a 
economia, a ciência política, antropologia, em um processo interdisciplinar de 
resposta as questões que a sociedade contemporânea coloca ao jurista", de 
quem passou a exigir uma postura crítica em prol de uma ordem mais justa na 
sociedade 180. 
No Estado Social se exige que a ação dos poderes públicos 
se desenvolva em favor de uma maior justiça social181. 
3.2.3 Função Social do Contrato e a Integração com os Demais Princípios 
Contratuais: 
Para Eduardo Sens dos Santos, a Função Social do 
Contrato tem natureza jurídica de princípio, que determina genericamente “que 
exerça um direito da melhor forma possível”. A função social é princípio do direito 
contratual porque “encerra um mandado de otimização, ou seja, determina que 
algo se realize da melhor forma possível, dentro das possibilidades fáticas 
jurídicas182. 
Hodiernamente, o que se busca é a realização de um 
contrato que detenha a função social, ou seja, de um contrato que além de 
desenvolver uma função translativa-circulatória das riquezas, também realize um 
papel social atinente à dignidade da pessoa humana e a redução das 
 
179
 MANCEBO, Rafael Chagas. A função Social do Contrato, p.26/27. 
180
 GOMES, Orlando. Contratos, p. 20. 
181
 AMARAL, Francisco. Direito Civil: introdução, p. 356. 
182
 SANTOS, Eduardo Sens dos. A função social do contrato, p. 157. 
 
 
67 67
violar interesses meta individuais ou interesses individuais 
relacionados com a proteção da dignidade humana. 
Adiante temos nas palavras da autora Mariana Ribeiro 
Santiago188, que: 
“[...] pelo fato de que o contrato é um instrumento da política 
econômica e também da política social, não podendo, portanto, 
ser fruto exclusivamente da autonomia da vontade dos 
particulares, toda essa socialização no direito obrigacional se 
justifica.” 
Ademais, é passível de se compreender que o direito 
privado assume hoje um caráter social, com séria intervenção do poder público 
nas relações obrigacionais entre as partes, diante dos princípios explicitados 
anteriormente, por se erigir a norma civil ao patamar de interpretação em 
consonância ao que consta na Constituição Federal editada em 1988, esta com 
especial enfoque aos direitos e garantias fundamentais da pessoa humana. Ou 
seja, o legislador buscou editar a norma civilista, dando feição a Lei 10.406/2002, 
utilizando como espelho os princípios fundamentais constantes na Constituição 
Federal Brasileira189. 
Nas palavras de Theodoro Júnior190: A base da função social 
do contrato estaria no princípio da igualdade, o qual atuaria in casu, para superar 
o individualismo, de modo a fazer com que a liberdade de cada um dos 
contratantes seja igual para todos. 
Ainda expõe o autor que: 
[...] a função social estaria ligada à observância dos princípios da 
igualdade material, eqüidade e boa-fé objetiva, por parte dos 
contratantes, todos decorrentes da grande cláusula constitucional 
 
188
 SANTIAGO, Mariana Ribeiro. O princípio da função social do contrato, p. 74 
189FERDINAND, Wagner. A função social do contrato, Blumenau, 2006. Monografia 
(Bacharelado: Direito). Universidade Regional de Blumenau. 
190
 THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social, p. 44. 
 
 
69 69
contrato. Por isso não basta apenas àquela relação de proporcionalidade entre os 
princípios. É necessário que com o contrato se atinja o bem comum195. 
E o bem comum, para se dar uma breve explicação, não 
pode ser entendido como o bem somente dos indivíduos, tampouco como o bem 
somente do todo, deve ser visto como o bem do todo e o bem dos indivíduos196. 
A função social do contrato surge, então, para proporcionar 
maior equilíbrio nas relações contratuais, tornando-as mais próximas do ideal de 
justiça, através da concretização do princípio da dignidade da pessoa humana. 
Somente os contratos que cumprem a sua função social são dignos da tutela do 
Direito197 . 
 
195GUIMARÃES, Haina Eguia. A função social dos contratos em uma perspectiva civil-
constitucional. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5814>. Acesso em 10 
de nov. 2007. 
196
 GUIMARÃES, Haina Eguia. A função social dos contratos em uma perspectiva civil-
constitucional. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5814>. Acesso em 10 
de nov. 2007. 
197
 GUIMARÃES, Haina Eguia. A função social dos contratos em uma perspectiva civil-
constitucional. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5814>. Acesso em 10 
de nov. 2007. 
 
 
 
71 71
interpretação é uma operação lógica, que tem por objetivo determinar o 
significado de uma vontade manifestada. Assim resta confirmada a primeira 
hipótese de pesquisa 
Quanto à segunda hipótese que versava o questionamento: 
2. Nem todos os contratos terão os mesmos efeitos e serão 
regidos pelos mesmos princípios. A teoria da imprevisão trará um limite a esse 
principio. 
Igualmente se encontra confirmada a segunda hipótese, 
posto que nem todos os contratos tenham os mesmos efeitos e serão regidos 
pelos mesmos princípios. O que deve ter em mente é que o efeito principal do 
contrato é ligar as partes juridicamente, sendo que o contrato consiste em criar 
obrigações, estabelecendo um vínculo jurídico entre as partes contratantes. 
No que tange a terceira e ultima hipótese: 
3 A base da função social do contrato estaria no principio da 
igualdade. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da 
função social do contrato. 
 A base da função social do contrato estaria no princípio da 
igualdade o qual atuaria in casu, para superar o individualismo, de modo a fazer 
com que a liberdade de cada um dos contratantes seja igual para todos. A função 
social estaria ligada à observância dos princípios da igualdade material, eqüidade 
e boa-fé objetiva, por parte dos contratantes, todos decorrentes da grande 
cláusula constitucional de solidariedade, sem que haja um imediato 
questionamento acerca do princípio da relatividade dos contratos. 
A liberdade de contratar será exercida em razão e nos 
limites da função social do contrato. 
Neste contexto, a função social do contrato significa à 
aproximação do direito com as demais ciências sociais, como a sociologia, a 
economia, a ciência política, antropologia, em um processo interdisciplinar de 
 
 
73 73
 
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS 
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cláusulas gerais. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do 
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