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FANTASMAS NO QUARTO DO BEBE

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O artigo “Fantasmas no quarto do bebê” fala que em todos os quartos dos bebês podem surgir fantasmas do passado dos pais. Estes podem ser evitados quando a criança é protegida pelo amor de seus cuidadores, mas também eles podem se aproximar em um simples momento de descuido, sem ninguém os perceber. Estes terroristas podem se instalar interferindo na alimentação, sono, higiene da criança, causando aborrecimentos. Os fantasmas podem atravessar gerações e chegam sem pedir licença, podendo ou não repetir histórias trágicas na vida das famílias.
Alguns pais sofrem sem pedir ajuda, e a criança começa a desenvolver visível carência afetiva e lacunas no desenvolvimento. Estes por ter um passado assombrado por fantasmas encontram como maneira de amenizar o sofrimento colocar uma criança no mundo para que não deixem ela passar o que passaram, mas é impossível prever como eles vão lidar com este bebê, se irão mesmo conseguir dar o melhor ou se vão continuar sendo perseguidos, guiados pelas repetições do passado.
O Programa de Saúde Mental para o Bebê acompanhou dois casos, foram escolhidos bebês em situação de alto risco. No caso 1 é a história de Mary, que teve sua primeira consulta com apenas cinco meses e meio, sua mãe tentou deixar a filha para adoção, pois não a queria, mas o pai não permitiu que o fizesse. A mãe de Mary tinha depressão e já havia tentado suicídio. A menina com cinco meses ainda não tinha cabelos na nuca, demonstrava pouco interesse quanto aos estímulos do ambiente e era apática, calma por demais, embora estivesse nutrida corretamente e mantida fisicamente. Mary na segunda sessão chora, chora muito e as terapeutas se seguram para não ajudar a mãe, para não deixar que ela se sentisse incapaz, mas a mãe tentou um gesto para acalma-la e logo desistiu, desviando o olhar. A criança chora por longos cinco minutos e a conclusão que as psicólogas chegam é que a mãe de Mary simplesmente não a ouve, embora estejam ali, juntas.
Sra. March, mãe de Mary, teve uma mãe psicótica que passou quase toda sua vida no hospital após desconfigurar o rosto com tentativa de sucídio, os filhos pouco a viam. Sra. March foi criada pela avó a contra gosto, era uma menina excluída em seu histórico de psicoses, crimes, pobreza e promiscuidade. Na adolescência conhece seu marido, com história de pobreza também mas que almejava algo melhor do que conhecera, algo comum entre os dois. Sra. March traiu o marido e talvez Mary não fosse sua filha, esse episódio trouxe muita culpa para ela, se tornando um grande problema, ela tinha a idéia de ter estragado a vida da filha. O pai da menina se mostrava certo de ser seu pai e a amava, não gostava quando a esposa se questionava. Na família de ambos ser filho ilegítimo não era incomum, na família se Sra. March a promiscuidade acompanhava gerações, causando dúvidas quanto a peternidade de várias crianças, talvez Mary fosse o “fruto culposo de uma fantasia incestuosa”. 
A mãe da menina foi encaminhada para psicoterapia, mas faltava com mais freqüência do que comparecia. Ela demonstrava fobia ao estar com o terapeuta, se calava durante horas, pode-se perceber que ela não confiava em figuras masculinas, através de suas alusões pode-se perceber que ela guardava um segredo. Ela não conseguia estabelecer transferência com o terapeuta e o bebê, enquanto isso, corria riscos, o tratamento estava demorando a engrenar. Então começaram as visitas domiciliares. A Sra. March finalmente conseguiu falar de sua história, em um tom triste e era notável que este sentimento refletia no rosto da filha, a mãe repetia com ela o desinteresse e abandonos que sofrera na infância. Para afastar estes fantasmas da família, era preciso fazer com que a mãe reconhecesse estas repetições. 
Pode-se pensar que a mãe não ouve o choro da filha pois nunca ouviram o seu, ela tinha um olhar triste e vazio. Era como se ela e filha fossem dois bebês e ela se fechava para o pranto das duas. E era isto que deveria mudar. Após ouvi-la a terapeuta verbalizava seus sentimentos, era uma mãe que se sentia rejeitada e projetava na filha o medo de amar, com a terapia ela foi se permitindo manifestar emoções, como choro, sofrimento, angustia. Se sentia aliviada pela liberação dos sentimentos e consolada pela terapeuta que lhe dava segurança. A mãe que antes só se aproximava da filha para atender suas necessidades físicas, agora buscava um contato maior, no início um pouco desajeitada e afastada, depois quando a filha chorava a apertava sobre o corpo e até cantava para acalmá-la. Os fantasmas estavam se afastando e o olhar de mãe e filha se encontrando. A terapeuta chamava a atenção de Sra. March quanto ao sorriso de Mary que parecia ser especial quando para a mãe, mostrava também que a menina procurava o consolo da mãe quando chorava e Sra. March timidamente passou a se orgulhar. O pai e a mãe começaram a perceber o desenvolvimento da filha, passaram a observá-la e descobriram o prazer em acompanhar a evolução da filha (a terapeuta sempre pontuando estes aspectos positivos, de olhar, cuidado, atenção).
A terapeuta começou a pedir para Sra. March fazer ligaçãoes quanto seu passado e o que estava repetindo com a menina, sem se dar conta. Mary passou a ser mais alegre e carinhosa. Aos dez meses foi submetida a exames e estava na média quanto seu desenvolvimento, apego a mãe, qualidade de sorrisos, teste de inteligência, etc. A mãe se mostrava orgulhosa, mas ainda deprimida, embora dissesse que pela primeira vez na vida se sentia amada por alguém, Mary.
Por necessidade encontrou um emprego de meio-turno e não mostrou hesitar ao ter que deixar a filha com uma babá. Por vezes se mostrou má, fria, impertinente. Esta era uma família que tratava a separação, a perda como algo um tanto habitual e a terapeuta encontrou dificuldade em explicar a importância da proximidade de Mary a mãe neste primeiro ano de vida. Mary perdeu sua babá e foi entregue a outra, a criança chorou e a família se descontrolou. A terapeuta tentou os fazer pensar que significado isto poderia ter para a criança.
Na terapia Sra.March começou a falar das figuras de sua infância, sua tia, avó, até fotos mostrou, chorou bastante, mas não conseguia fazer ligações mesmo com as intervenções. Explicou como sua família agia com perdas, tentou exemplificar como acontecendo com Mary, o fato de perder familiares e ser criada por outros integrantes da família, começou a fazer Sra. March pensar se colocando no lugar da filha, a mesma concluiu que é impossível substituir alguém, o amor de alguém e refletindo sobra o passado viu que não quer que sua filha passe o mesmo que ela. A mãe da menina passou a compreender perdas e lutos e finalmente encontrou uma babá estável que tranqüilizasse a vida de sua filha.
O segredo de Sra. March foi revelado por ela após dois anos de tratamento, não conseguiria ficar em uma sala fechada com o terapeuta pois quando criança seu próprio pai se mostrava para ela, a avó a acusara de ter seduzido o avô também, ela negou. Aos 11 anos teve sua primeira experiência sexual com um primo, o qual era visto pela mesma como irmão. No segundo ano de tratamento após se conhecer um pouco mais e a ansiedade ter diminuído conseguiu conversar com o teraputa, reforçando ainda mais a relação da mãe com a filha.
O segundo caso, trata-se de uma menina chamada Annie, a qual com 16 anos engravida e consequentemente sofre diversas complicações por sua idade e experiência maternal. Quando a terapeuta resolve intervir na complicada família de Annie, percebe que os problemas vão muito além das dificuldades de uma gravidez indesejada. 
Annie sofrera na sua infância pela morte de seu pai, violências de seu padrasto e diversos xingamentos vindos de sua mãe, o que lhe ocasionaram conflitos, desejos e medos reprimidos que estariam voltando à tona diante do seu novo bebê Greg.
Annie não conseguia, sem entender o porque, relacionar-se fisicamente com seu filho e os cuidados dados a ele eram extremamente os necessários e básicos à sobrevivência do mesmo. Os afetose momentos de lazer que o Greg tinha era totalmente restrito ao pai Earl.
Já na primeira sessão de terapia domiciliar, a terapeuta constatou a frieza emocional de Annie e presenciou momentos de extrema violência para uma criança recém nascida. Annie dizia para seu filho que mataria ele depois de grande e que o espancaria também.
As seguintes sessões forram dificultadas pela resistência de Annie em criar um bom vínculo com a terapeuta e a situação foi se agravando até a equipe da terapeuta Sra. Shapiro, decidiu intervir legalmente, ou seja, denunciar a família por negligência visando o melhor desenvolvimento do bebê.
Com a comunicação da família sobre a intervenção, Annie e Earl mudaram sua percepção e aderiram ao tratamento. O que antes era visto como tranferência, como ter trancada a Sra. Shapiro do lado de fora de casa igual sua mãe fazia agora não estava mais presente na vida de Annie.
Através das lembranças e da associação das memórias com o afeto reprimido Annie conseguiu aos poucos se reestruturar e perceber que tudo que ela sofrera não precisava ser sofrido pelo seu filho, e as frases de morte destinadas a ele, agora tinham mudado para frases de carinho, Annie conseguiu portar-se maternalmente diante de Greg mesmo com as dificuldades sofridas durante a infância.

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