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relatorio do filme o minimo pra viver

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O filme “O Mínimo para Viver” começa retratando os importantes elementos clínicos em famílias com integrantes portadores de doença grave, como a anorexia. Considero que uma das demandas clínicas, bem mostrada é o entendimento familiar sobre a doença: a leitura que a família faz do adoecimento da jovem. A família vendo o corpo da filha definhando fica muito angustiada e tenta reagir dentro dos padrões conhecidos e, muitas vezes, adoecedores. Agindo com: coerção, manipulação, insistências e punições que apenas provocam as resistências da doente. Desacomodar e tornar o grupo familiar partícipe do tratamento é um desafio.
Começando pela estrutura da família de Ellen, 20 anos, desde pequena até sua adolescência viveu com a mãe. A relação do pai com a filha se tornou ausente após a separação do casal.
A mãe de Ellen teve depressão após o parto da filha. Passou por longo e difícil processo até assumir sua homossexualidade e por isso, sente-se culpada por não ter, suficientemente, maternado a filha. Considera que falhou como mãe. Aos 13 anos da menina, a mãe se assumiu em uma relação homossexual, mantida em silêncio. Em seu novo casamento, muda-se para uma região rural nas montanhas.
O pai formou nova família com a esposa e uma filha, dois anos mais nova do que Ellen.
Judy (a madrasta) dedica-se a crenças e valores espirituais. De forma oposta, na família do pai observa-se a valorização de elementos característicos de uma vida burguesa. A função do pai é sustentar financeiramente a família atual, pagar a pensão da “ex” e assumir os custos da doença da filha. Os pais de Ellen parecem não ter interesses em comum. Nem a filha!
Ellen circula no seu mundo familiar como uma intrusa ou hóspede. Carrega sua mochila e alguns pertences entre a clínica, seu quarto na garagem da casa do pai ou numa barraca próxima à casa da mãe, utilizada para aluguel.
A madrasta tenta remendar os vazios de sua vida familiar e também, os de Ellen. É superficial. Considera que os problemas da enteada são conseqüência das questões não resolvidas em seu passado: a separação dos pais por culpa da homossexualidade da mãe; o pai ausente por ter que trabalhar e sustentar sua ex família. Usa estes argumentos como defesa, fazendo-nos pensar que sua vida equilibrada sobre saltos altos e finos é perfeita e que Ellen é o problema.
Essas cisões dos papéis familiares: sadios/doentes; espiritualistas/materialistas; presentes /ausentes; urbanos/rurais geram economia nos afetos, que favorece ao individualismo, egoísmo, falta de proximidade, de intimidade, impedindo uma comunicação saudável entre as pessoas.
No filme, acusam-se, ofendem-se e se referem à Ellen a partir de seus sintomas:
 “Você parece um fantasma!” diz sua mãe.
 “Assim, vai morrer!” diz a madrasta.
 Oferecem-lhe estímulos inadequados: insistem para que coma, oferecem bolo em formato de hambúrguer gigante; sugerem terapia com cavalos.
 O pai, segundo Ellen, quer que ela aprenda a ganhar a vida!
 A irmã mostra-se ressentida, pois suas vivências são balizadas pelos estados de saúde de Ellen. Podia ou não participar de eventos conforme a saúde de sua irmã mais velha.
 Todos apontam os incômodos, preocupações e custos gerados pela filha, sem compreender a sua doença. Todos opinam a partir de seus pontos de vista.
O familiar doente é percebido como o provocador do desequilíbrio familiar. Por isso, é cobrado pela falta de empenho em se curar. É acusado de obrigá-los a conviver com sua aparência esquelética. Para o grupo familiar é difícil perceber que estão diante de uma doença. Assim, resistem em aceitar a realidade e a se sentirem incluídos e participantes de todo o processo da enfermidade.
Assim, Ellen desenvolve forte sentimento de culpa. Considera ter levado uma menina à morte, após ter lido na internet uma poesia de sua autoria. O espaço ocupado pela culpa dentro de si é imenso, fazendo-a transformar seus talentos e criatividades artísticas em algo capaz de matar.
A função do tratamento é auxiliar a família em uma mudança de posição perante a doença, no caso a anorexia. A enferma precisa ser ouvida, porque é ela que sabe de si mesma.
No final, o drama expressa através de uma reviravolta no cenário e na postura dos personagens a necessária mudança em busca da linguagem do encontro. Após Ellen procurar por sua mãe, as esperanças de um prognóstico mais saudável são percebidas.
Mãe e filha revivem-se, agora, em suas verdades. Ellen aceita o colo e consegue engolir o alimento materno oferecido. Rendem-se uma à outra com intimidade e confiança. Um encontro verdadeiro, quando as duas se olham e se reconhecem genuinamente: Ellen em sua fragilidade e sua mãe mais confiante em si e em suas crenças.
A protagonista procurando-se, caminha pelas montanhas: o cenário materno. E, em sonho, depara-se com a sua morte, a serenidade e o amor. E parece se apaziguar!
Com leveza, Ellen se aproxima dos familiares e retoma o tratamento abandonado.

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