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Textos/semana 1/circulo.pdf Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 O per´ımetro da circunfereˆncia O per´ımetro de um pol´ıgono de n lados e´ a soma do comprimento dos seus lados. Dado um pol´ıgono qualquer, voceˆ pode sempre calcular o seu per´ımetro utilizando uma re´gua para medir o tamanho de cada lado. Isso funciona bem porque cada um dos lados e´ um segmento de reta. Esse conceito pode ser estendido para uma curva qualquer no plano. Nesse caso, o per´ımetro e´ definido como sendo o comprimento do contorno da curva. Pode ser complicado calcula´-lo quando o contorno na˜o e´ formado somente por segmentos de reta, tendo algumas partes curvas. Neste texto estamos interessados em calcular o per´ımetro de uma das curvas mais famosas. Mais especificamente, vamos estudar a seguinte questa˜o: Problema: Qual o comprimento de uma circunfereˆncia de raio r > 0 ? Voceˆ certamente sabe que o per´ımetro e´ dado por 2pir. O que queremos aqui e´ apresentar um processo de aproximac¸a˜o que nos conduza a essa fo´rmula. A ideia e´ parecida com aquela apresentada no texto sobre a velocidade de um carro. O processo de aproximac¸a˜o pode ser descrito da seguinte maneira: para cada nu´mero natural n ≥ 3, seja pn o per´ımetro do pol´ıgono regular de n lados inscrito na circunfereˆncia de raio r. Podemos ver abaixo o desenho de algum desses pol´ıgonos. n = 6 l6 n = 8 l8 n = 10 l10 Chamando de P o comprimento da circunfereˆncia, fica claro a partir dos desenhos que, quanto maior for o valor de n, mais pro´ximo o nu´mero pn estara´ de P . Note ainda que a aproximac¸a˜o e´ sempre feita por falta, isto e´, temos que pn < P para todo n. Observe que cada pol´ıgono pode ser decomposto em n triaˆngulos iso´sceles. Vamos dar um zoom em um deles de modo a calcular o valor de pn. 1 αn ln 2 r A B C αn ln 2 r Se ln e´ o comprimento do lado do pol´ıgono, enta˜o e´ claro que pn = nln. Para obter o valor de ln, vamos usar o triaˆngulo retaˆngulo acima para escrever sen(αn) = ln 2 r . O aˆngulo BÂC mede 2pi/n radianos. Como o triaˆngulo ABC e´ iso´sceles, temos que αn e´ a metade do aˆngulo BAˆC, isto e´, αn = pi/n. Desse modo, segue da expressa˜o acima que ln = 2r sen(pi/n) e portanto pn = 2r × n× sen (pi n ) . Com o aux´ılio de uma calculadora, podemos calcular o per´ımetro, por exemplo, do triaˆngulo e do octo´gono regular inscritos p3 = 2r × 3× sen(pi/3) ∼= 5, 21r, p8 = 2r × 8× sen(pi/8) ∼= 6, 12r, onde fizemos aproximac¸o˜es usando 2 casas decimais. Para estudar como pn varia quando n cresce, temos que saber o comportamento do produto n sen(pi/n). Uma vez que a frac¸a˜o pi/n se aproxima de zero, o termo que envolve o seno se aproxima de sen(0) = 0. Por outro lado, esse termo esta´ multiplicado por outro que fica muito grande. Na˜o esta´ claro o que ocorre com o produto e por isso dizemos que isso e´ uma indeterminac¸a˜o do tipo 0 · ∞. Para entender melhor o que isso significa considere os 3 produtos abaixo. 1 n · n, 1 n2 · n, 1 n · n2. Em todos eles temos o produto de dois termos que dependem de n. Quando n cresce, o primeiro se aproxima de zero e o segundo fica cada vez maior. No entanto, em cada caso, o produto tem um comportamente diferente quando n cresce. No primeiro ele se aproxima de 1 (porque na verdade e´ igual a 1 sempre), no segundo se aproxima de zero (porque e´ igual a 1/n) e no terceiro fica cada vez maior (porque e´ igual a n). Da´ı o termo indeterminac¸a˜o. 2 Voceˆ deve recordar que, no texto sobre a velocidade do carro, nos deparamos com uma situac¸a˜o parecida com a do para´grafo acima. A diferenc¸a e´ que la´ t´ınhamos uma indeter- minac¸a˜o do tipo 0/0, isto e´, uma frac¸a˜o com numerador e denominador se aproximando de zero. Para aproveitar aquela experieˆncia, vamos reescrever a expressa˜o de pn na seguinte forma: pn = 2r × n× sen (pi n ) = 2pir sen(pi/n) pi/n . Assim, basta que estudemos o comportamento do nu´mero βn = sen(pi/n) pi/n . Isto sera´ feito atrave´s da func¸a˜o f(x) = sen(x) x , x 6= 0. Como βn = f(pi/n) e pi/n se aproxima de zero quando n cresce, precisamos estudar o comportamento de f(x) para valores x pro´ximos de zero. Escrevemos enta˜o lim n→+∞ βn = lim n→+∞ sen(pi/n) pi/n = lim n→+∞ f(pi/n) = lim x→0 sen(x) x . (1) Embora a notac¸a˜o acima ainda na˜o tenha sido introduzida formalmente, o seu significado na˜o e´ complicado. Por exemplo, quando olhamos para o limite limx→0 sen(x) x , estamos fazendo a seguinte pergunta: o que acontece com a frac¸a˜o quando os valores de x ficam cada vez mais pro´ximos de 0? Como no texto da velocidade do carro, temos uma frac¸a˜o cujo numerador e denominador se aproximam de zero. La´, fomos capazes de fazer algumas simplificac¸o˜es na frac¸a˜o de modo a calcular o limite. Aqui a situac¸a˜o e´ mais complicada porque na˜o esta´ claro como podemos fazer simplificac¸o˜es no quociente sen(x)/x. Vamos primeiro usar a figura abaixo para trazer alguma luz sobre o que esta´ acontecendo. Note que, no c´ırculo de raio 1, a medida em radianos de um aˆngulo e´ exatamente o comprimento do arco, indicado por x na figura, enquanto sen(x) e´ a medida do segmento de reta vertical que forma um dos catetos 0 1 xsen(x) do triaˆngulo. Assim, e´ razoa´vel dizer que, quando x se aproxima de zero, o comprimento do segmento de reta e do arco se aproximam um do outro, o que faria com que a frac¸a˜o se aproximasse de 1. Com o aux´ılio de uma calculadora, podemos ainda construir a seguinte tabela: x = 1 x = 0, 5 x = 0, 1 x = 0, 01 f(x) = sen(x)/x 0,84147 0,95885 0,99833 0,99998 3 Novamente, somos tentados a dizer que a frac¸a˜o se aproxima de 1. Isso de fato ocorre, conforme sera´ visto nas semanas seguintes. Por ora, vamos confiar na nossa intuic¸a˜o para escrever o limite trigonome´trico fundamental lim x→0 sen(x) x = 1. De posse dessa informac¸a˜o, podemos usar as igualdades em (1) para obter P = lim n→+∞ pn = lim n→+∞ 2pir sen(pi/n) pi/n = 2pir × lim n→+∞ sen(pi/n) pi/n = 2pir. Assim, o per´ımetro da circunfereˆncia de raio r > 0 e´ igual a 2pir, conforme afirmado pelos nossos professores das se´ries ba´sicas. 4 Tarefa Nesta tarefa, vamos usar o mesmo procedimento do texto para calcular a a´rea do c´ırculo de raio r. Para tanto, vamos denotar por A essa a´rea e por an a a´rea do pol´ıgono regular de n lados inscrito na circunfereˆncia, com n ≥ 3. A a´rea an sera´ calculada como a soma da a´rea de cada um dos n triaˆngulos em que o pol´ıgono pode ser dividido. As figuras abaixo ilustram isso. O nu´mero hn e´ a altura do triaˆngulo. αn ln 2 r hn αn ln 2 hn r 1. Calcule os valores do cosseno e do seno do aˆngulo αn para verificar que a a´rea do triaˆngulo e´ dada por r2 sen(pi/n) cos(pi/n). 2. Conclua do item acima que an = pir 2 × sen(pi/n) pi/n × cos (pi n ) . 3. Observando que pi/n se aproxima de zero quando n cresce, determine o valor do limite lim n→+∞ cos (pi n ) . 4. Lembrando agora que o termo que envolve o seno na expressa˜o de an tambe´m se aproxima de 1, determine a a´rea do c´ırculo, que e´ dada por A = lim n→+∞ an = pir 2 × lim n→+∞ sen(pi/n) pi/n × lim n→+∞ cos (pi n ) . 5 Textos/semana 1/reta-tangente.pdf Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 A reta tangente Se a posic¸a˜o de um carro no instante t > 0 e´ dada pela func¸a˜o s(t), vimos que a sua velocidade em um instante arbitra´rio t0 > 0 pode ser calculada atrave´s de aproximac¸o˜es da velocidade me´dia entre os instantes t0 e t0 + h. Mais especificamente escrevemos v(t0) = lim h→0 s(t0 + h)− s(t0) h , para indicar que, quanto mais pro´ximo o nu´mero h estiver de zero, mais pro´ximo o quociente acima estara´ da velocidade no instante t0. Faremos no que se segue uma interpretac¸a˜o geome´trica das quantidades acima. Observe inicialmente que, dado h 6= 0, podemos considerar a reta que passa pelos pontos A = (t0, s(t0)) e B = (t0+h, s(t0+h)). Ela esta´ ilustrada na figura ao lado e estamos interessados em calcular o seu coeficiente angular mh. Lembre que este nu´mero e´ exatamente a tangente do aˆngulo αh formado pela reta com o eixo Ot. Por semelhanc¸a de triaˆngulos, temos que ela pode ser calculada usando-se o triaˆngulo retaˆngulo ACB da figura. t0 t0 + h s(t0) s(t0 + h) A B Cαh A tangente do aˆngulo αh e´ dada pela raza˜o entre o comprimento do seu cateto oposto e da hipotenusa. Assim t0 s(t0) mh = tan(αh) = BC AC = s(t0 + h)− s(t0) (t0 + h)− t0 = s(t0 + h)− s(t0) h . Logo, a velocidade me´dia entre os instantes t0 e t0 + h e´ exatamente a inclinac¸a˜o da reta que passa pelos pontos (t0, s(t0)) e (t0+h, s(t0+h)). Em analogia ao que ocorre quando classificamos uma reta com relac¸a˜o ao um c´ırculo dado, chamamos esta reta de reta secante. 1 Para cada h 6= 0, temos uma reta secante diferente e portanto uma inclinac¸a˜o mh dife- rente. Quando h se aproxima de zero, essas retas secantes parecem se aproximar de uma outra reta, que vamos chamar de reta tangente no ponto (t0, s(t0)). Nada mais natural do que inferir que a inclinac¸a˜o mh da reta secante deve se aproximar da inclinac¸a˜o da reta tan- gente, quando h se aproxima de zero. Assim, a velocidade no instante t0 e´ exatamente a inclinac¸a˜o da reta tangente no ponto (t0, s(t0)). Os conceitos introduzidos acima podem ser estendidos para uma func¸a˜o mais geral f(x) definida em um intervalo aberto contendo o ponto x = a. Para cada x 6= a pertencente ao domı´nio de f a reta secante que passa por (a, f(a)) e (x, f(x)) tem inclinac¸a˜o igual a tanα = f(x)− f(a) x− a . Quando x se aproxima de a, o ponto (x, f(x)) se aproxima do ponto (a, f(a)). As retas secantes se aproximam de uma reta que chamaremos de reta tangente ao gra´fico de f no ponto (a, f(a)). Esta reta e´ a (u´nica) reta que passa pelo ponto (a, f(a)) e tem inclinac¸a˜o igual a f ′(a) = lim x→a f(x)− f(a) x− a , quando o quociente acima se aproxima de um nu´mero a` medida em que x se aproxima de a. Vamos determinar esta reta no caso em que f(x) = x2 e a = 2. A inclinac¸a˜o e´ dada por f ′(4) = lim x→2 x2 − 22 x− 2 = limx→2 x2 − 4 x− 2 . Observe que o numerador e o denominador se aproximam de zero, quando x se aproxima de 2. No entanto, podemos fatorar o numerador para calcular f ′(4) = lim x→2 x2 − 4 x− 2 = limx→2 (x+ 2)(x− 2) x− 2 = limx→2(x+ 2) = 2 + 2 = 4. Na u´ltima igualdade, estamos dizendo que o nu´mero (x+ 2) se aproxima de 4, quando x se aproxima de 2. Das contas acima conclu´ımos que a inclinac¸a˜o da reta tangente y(x) no ponto (2, f(2)) e´ igual 4. Uma vez que esta reta passa pelo ponto (2, f(2)) = (2, 4), a sua equac¸a˜o e´ dada por y(x)− 4 = 4(x− 2), isto e´ y(x) = 4x− 4. 2 f(2) x y(x) 2 Tarefa Seja I ⊂ R um intervalo aberto e f : I → R uma func¸a˜o. Dado a ∈ I, lembre que a reta tangente ao gra´fico de f no ponto (a, f(a)) e´ a (u´nica) reta que passa pelo ponto (a, f(a)) e tem inclinac¸a˜o igual a f ′(a) = lim h→0 f(a+ h)− f(a) h = lim x→a f(x)− f(a) x− a , quando o limite existe. Nesta tarefa vamos determinar a reta tangente para o caso em que f(x) = √ x e a > 0. O passo crucial e´ determinar a sua inclinac¸a˜o atrave´s do limite f ′(a) = lim x→a √ x−√a x− a . Observe que, no limite acima, numerador e denominador se aproximam de zero. 1. Para resolver a indeterminac¸a˜o multiplique o numerador e o denominador da frac¸a˜o por ( √ x+ √ a) para concluir, apo´s as devidas simplificac¸o˜es, que √ x−√a x− a = 1√ x+ √ a . 2. Tomando o limite quando x→ a na u´ltima expressa˜o, conclua que a inclinac¸a˜o da reta tangente e´ igual a f ′(a) = 1/(2 √ a). 3. Determine agora a equac¸a˜o da reta tangente, lembrando que ela deve passar pelo ponto (a, f(a)). Veja o gra´fico abaixo. Reta tangente a f(a) 3 Textos/semana 1/velocidade-instantanea.pdf Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 O problema da velocidade instantaˆnea Suponha que um carro move-se com velocidade constante e igual a 60 km/h. Se no instante t = 0 ele estava no marco zero da estrada, na˜o e´ dif´ıcil notar que a func¸a˜o que fornece a posic¸a˜o em um instante t > 0 e´ dada por s(t) = 60t. Se a posic¸a˜o inicial e´ s0 ∈ R e a velocidade (constante) e´ igual a v0 ∈ R, enta˜o a posic¸a˜o e´ dada por s(t) = s0 + v0t. Voceˆ certamente ja´ se deparou com a situac¸a˜o acima em um contexto mais geral. De fato, se o carro tendo uma acelerac¸a˜o constante e igual a a ∈ R, a sua posic¸a˜o e´ dada por s(t) = s0 + v0t + 1 2 at2, t > 0, que e´ exatamente a equac¸a˜o do espac¸o para o movimento uniformemente variado. Como a acelerac¸a˜o e´ igual a a, podemos facilmente deduzir que a velocidade do carro e´ dada pela func¸a˜o v(t) = v0 + at, t > 0. Estamos interessados aqui no seguinte problema: supondo que conhecemos a posic¸a˜o do carro s(t), queremos determinar a sua velocidade v(t) em um dado instante t > 0. No caso em que s(t) e´ um polinoˆmio de grau 1 ou 2, a soluc¸a˜o ja´ foi dada nos dois para´grafos anteriores. O que queremos agora e´ obter uma forma de calcular a velocidade para func¸o˜es s(t) mais gerais. As ideias que vamos desenvolver servem para muitas expresso˜es da func¸a˜o s(t). Pore´m, para simplificarmos a exposic¸a˜o, vamos supor que s(t) = t3. Tambe´m por simplicidade, vamos supor que queremos encontrar a velocidade do carro no instante t = 2. Sumarizando, vamos tratar do problema seguinte: Problema: se a posic¸a˜o do carro e´ dada por s(t) = t3, qual e´ a velocidade do carro no instante t = 2 ? A primeira coisa que deve ser observada e´ que as fo´rmulas aprendidas no ensino me´dio na˜o sa˜o suficientes para obtermos a resposta. De fato, elas so´ se aplicam para aos casos em que a func¸a˜o s(t) e´ um polinoˆmio de grau 1 (velocidade constante) ou um polinoˆmio de grau 2 (acelerac¸a˜o constante). Logo, precisamos desenvolver uma nova te´cnica para resolver o problema. 1 Ainda que na˜o saibamos calcular a velocidade v(t), podemos usar a expressa˜o de s(t) para calcular a velocidade me´dia entre os instante t = 2 e t = 4, por exemplo. Ela e´ dada pela expressa˜o s(4)− s(2) 4− 2 = 43 − 23 4− 2 = 64− 8 2 = 28. Logo, como na˜o sabemos calcular v(2), podemos aproximar esse valor usando a velocidade me´dia calculada acima. Naturalmente, essa aproximac¸a˜o conte´m algum tipo de erro, porque estamos deixando um intervalo de 2 horas em que o motorista poderia, eventualmente, efetuar mudanc¸as de velocidade, sem com isso mudar o valor de v(2). Parece natural que, se diminuirmos esse intervalo de tempo para 1 hora somente, a aproximac¸a˜o pela velocidade me´dia seria melhor. Assim, podemos considerar agora a seguinte aproximac¸a˜o: s(3)− s(2) 3− 2 = 27− 8 1 = 19. Procedendo como acima, podemos construir uma tabela que fornece, para cada valor h 6= 0, a velocidade me´dia do carro entre o instante inicial t = 2 e o instante final t = 2+ h. Listamos abaixo alguns valores dessa tabela: h 6= 0 instante final velocidade me´dia t = 2 + h s(2+h)−s(2) (2+h)−2 2 4 28 1 3 19 0,5 2,5 15,25 0,1 2,1 12,61 0,01 2,01 12,0601 0,001 2,001 12,006001 Do ponto de vista f´ısico, parece claro que a aproximac¸a˜o que estamos usando (velocidade me´dia) fica mais precisa a` medida em que o intervalo de tempo h se torna mais pro´ximo de zero. Assim, a tabela parece indicar que a velocidade no instante 2 e´ igual a 12. Para melhor justificar a afirmac¸a˜o acima, vamos criar uma nova func¸a˜o. Seja enta˜o vm2(h) a func¸a˜o que associa, para cada h 6= 0, a velocidade me´dia entre os instantes t = 2 e t = 2 + h. Formalmente, vm2(h) = s(2 + h)− s(2) (2 + h)− 2 = (2 + h)3 − 28 h . (1) Observe que o valor de h nunca pode ser igual a zero. Mais especificamente, como estamos falando de dois instantes distintos t = 2 e t = 2 + h, os valores possiveis para h sa˜o todos aqueles em que h 6= 0 e h ≥ −2. Essa u´ltima restric¸a˜o surge porque, se h < −2, enta˜o 2 2+h < 0, e na˜o faz sentido falarmos em instante de tempo negativo. Em resumo, o domı´nio da func¸a˜o vm2 e´ dado por Dom(vm2) = [−2, 0) ∪ (0,+∞) = {h ∈ R : h ≥ −2 e h 6= 0}. Precisamos descobrir o que acontece com o valor de vm2(h) quando h fica pro´ximo de zero. Se olharmos para o u´ltimo quociente da definic¸a˜o de vm2 em (1), percebemos que, a` medida em que h se aproxima de zero, tanto o numerador quanto o denominador desse quociente se aproximam de zero. Para entender melhor o comportamento do quociente, vamos lembrar que, para todo a, b ∈ R, temos (a+ b)3 = a3 +3a2b+3ab2 + b3. Deste modo, a expressa˜o de vm2(h) em (1) pode ser escrita como vm2(h) = (2 + h)3 − 23 h = (23 + 3 · 22 · h + 3 · 2 · h2 + h3)− 23 h = h(12 + 6h+ h2) h , ou ainda vm2(h) = 12 + 6h+ h 2. Vale ressaltar que, ainda que a expressa˜o do lado direito da equac¸a˜o acima possa ser calculada para qualquer valor de h, o domı´nio da func¸a˜o vm2 continua sendo [−2, 0) ∪ (0,+∞). Usando a expressa˜o acima, os valores de vm2(h) da tabela anterior podem ser facilmente calculados. Ale´m disso, fica muito simples perceber o que acontence com vm2(h) quando h se aproxima de zero. De fato, como os termos 6h e h2 ficam pro´ximos de zero, conclu´ımos que vm2(h) se aproxima de 12, conforme espera´vamos. Usamos a seguinte notac¸a˜o para escrever isso de maneira sucinta: lim h→0 vm2(h) = lim h→0 s(2 + h)− s(2) h = 12. Observe que todas estas considerac¸o˜es nos permitem concluir que a velocidade do carro no instante t = 2 e´ igual a 12. Na˜o existe nada de especial no instante t = 2, escolhido para a exposic¸a˜o acima. Para qualquer t > 0, podemos calcular a velocidade no instante t > 0 como sendo v(t) = lim h→0 s(t + h)− s(t) (t + h)− t = lim h→0 (t+ h)3 − t3 h . Usando novamente a expressa˜o do cubo de uma soma, obtemos (t+ h)3 − t3 = (t3 + 3t2h+ 3th2 + h3)− t3 = h(3t2 + 3th+ h2), de modo que v(t) = lim h→0 h(3t2 + 3th+ h2) h = lim h→0 (3t2 + 3th+ h2) = 3t2 + 0 + 0 = 3t2. 3 Na penu´ltima igualdade acima, usamos o fato de, para cada t > 0 fixado, os termos 3th e h2 se aproximarem de zero quando h se aproxima de zero. Assim, podemos enunciar a soluc¸a˜o do nosso problema como se segue: Soluc¸a˜o do problema: Se a posic¸a˜o do carro e´ dada pela func¸a˜o s(t) = t3, enta˜o a velocidade e´ v(t) = 3t2, para todo t > 0. Em particular, a velocidade no instante 2 e´ igual a 12. Finalizamos com algumas observac¸o˜es importantes: 1. O me´todo desenvolvido aqui nos permite considerar va´rias expresso˜es diferentes para a func¸a˜o s(t). Tudo o que deve ser feito e´ uma manipulac¸a˜o alge´brica da expressa˜o s(t+ h)− s(t) h , de modo a descobrir o que acontece com o quociente quando h se aproxima de zero. 2. A expressa˜o acima na˜o esta´ definida quando h = 0. Isso na˜o e´ importante na aplicac¸a˜o do me´todo, visto que queremos estudar o comportamento do quociente para valores h que sa˜o pro´ximos, mas diferentes de zero. 3. Estas ideias sera˜o desenvolvidas a` exausta˜o nas pro´ximas semanas, quando introduzire- mos o conceito de derivada. Contudo, se voceˆ chegou vivo ate´ aqui, na˜o tera´ nenhuma dificuldade para entender o que esta´ por vir. 4. O que foi feito aqui depende somente de sabermos a definic¸a˜o de velocidade me´dia. Assim, voceˆ pode agora tentar explicar isso tudo para aquele seu primo que cursa o primeiro ano do ensino me´dio! Como um bom exerc´ıcio, vale a pena refazer as contas acima para o caso em que s(t) = s0 + v0t+ (a/2)t 2, com s0, a ∈ R, para verificar que, nesse caso, o limite da velocidade me´dia quando h se aproxima de zero e´ exatamente v(t) = v0 + at. 4 Tarefa Nesta tarefa vamos usar a mesma estrate´gia adotada no texto para determinar a velocidade do carro, supondo agora que a posic¸a˜o e´ dada pela func¸a˜o s(t) = 1 t , t > 0. Vamos inicialmente calcular a velocidade no instante t = 3. Para tanto, siga os passos abaixo: 1. Com o aux´ılio de uma calculadora, complete a tabela abaixo: h 6= 0 instante final velocidade me´dia t = 3 + h s(3+h)−s(3) (3+h)−3 1 4 −0, 0833 (aproximadamente) 0,1 3,1 0,01 0,001 2. Verifique que, apo´s as devidas simplificac¸o˜es, temos s(3 + h)− s(3) h = 1 3 + h − 1 3 h = · · · = − 1 (3 + h)3 . 3. Fazendo h se aproximar de 0 na u´ltima expressa˜o acima, determine v(3). Repetindo o argumento do item 2 acima verifique que v(t) = lim h→0 s(t+ h)− s(t) h = · · · = lim h→0 −1 (t+ h)t , e obtenha a expressa˜o para v(t). O que significa o sinal de menos que aparece nessa ex- pressa˜o? 5 Textos/semana 10/esboco-graficos.pdf Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Esboc¸o de gra´ficos Neste texto vamos retomar o problema de duas cargas ele´tricas com carga unita´ria e positiva, fixadas num eixo perpendicular a uma parede, como na figura abaixo. O potencial ele´trico gerado por essas duas part´ıculas num ponto x ao longo desse eixo e´ dado, em unidades convenientes, pela seguinte func¸a˜o P (x) = 1 |x+ 1| + 1 |x− 1| , x > −1, x 6= 1. Conforme vimos anteriormente, usando a definic¸a˜o da func¸a˜o mo´dulo podemos reescrever o potencial como P (x) = − 2 x2 − 1 , se − 1 < x < 1, 2x x2 − 1 , se x > 1. No que se segue vamos fazer um estudo do sinal das derivadas de primeira e segunda ordem da func¸a˜o P . Vamos inicialmente observar que a derivada de P na˜o esta´ definida em x = 1 mas existe no conjunto (−1, 1) ∪ (1,+∞). Para determina´-la basta derivar cada expressa˜o alge´brica (−2(x2 − 1)−1)′ = 4x(x2 − 1)−2 (2x(x2 − 1)−1)′ = 2(x2 − 1)−1 − 4x2(x2 − 1)−2 = −2(x2 + 1)(x2 − 1)−2 de modo que P ′(x) = 4x (x2 − 1)2 , se − 1 < x < 1, −2(x2 + 1) (x2 − 1)2 , se x > 1. 1 Os eventuais pontos cr´ıticos da func¸a˜o P sa˜o aqueles nos quais a derivada se anula. Note que, no intervalo (−1, 1), a derivada se anula somente no ponto x = 0. No outro intervalo ela e´ sempre negativa. Portanto, o u´nico ponto cr´ıtico da func¸a˜o P e´ o ponto x = 0. Para estudar o sinal de P ′ observamos que, ale´m do ponto cr´ıtico, temos ainda que considerar os extremos dos subintervalos do domı´nio. Deste modo, temos treˆs intervalos a serem considerados: (−1, 0), (0, 1) e (1,+∞). Uma observac¸a˜o que facilita a ana´lise do sinal da derivada e´ notar que o denominador das duas expresso˜es e´ sempre positivo. Assim, o sinal vai ser determinado pelo numerador. Temos enta˜o a seguinte configurac¸a˜o: sinal de 4x −2(x2 + 1) (x2 − 1)2 P ′ func¸a˜o P x ∈ (−1, 0) − indiferente + − decrescente x ∈ (0, 1) + indiferente + + crescente x ∈ (1,+∞) indiferente − + − decrescente Uma outra forma de indicar esse resultado e´ usar o diagrama abaixo: P ց ր ց | | | −1 0 1P ′ − + − Tanto o quadro quanto o diagrama nos permite concluir que o ponto cr´ıtico x = 0 e´ um ponto de mı´nimo local. Observe que, ainda que antes do ponto x = 1 a derivada seja positiva e depois negativa, na˜o podemos afirmar que este ponto e´ um ponto de ma´ximo local. De fato, esta ana´lise na˜o se aplica neste ponto porque ele nem pertence ao domı´nio da func¸a˜o. Passemos agora a estudar a derivada segunda, lembrando que o seu sinal nos fornece informac¸o˜es sobre a concavidade do gra´fico. A concavidade e´ voltada para cima onde P ′′ e´ positiva e para baixo onde P ′′ e´ negativa. O ca´lculo da derivada segunda pode ser feito como antes (4x(x2 − 1)−2)′ = 4(x2 − 1)−2 − 16x2(x2 − 1)−3 = −4(3x2 + 1)(x2 − 1)−3 (−2(x2 + 1)(x2 − 1)−2)′ = −4x(x2 − 1)−2 + 8(x2 + 1)x(x2 − 1)−3 = 4x(x2 + 3)(x2 − 1)−3 de modo que P ′′(x) = −4(3x2 + 1) (x2 − 1)3 , se − 1 < x < 1, 4x(x2 + 3) (x2 − 1)3 , se x > 1. 2 Note que a derivada segunda nunca se anula no intervalo (−1, 1), porque o numerador −4(3x2 + 1) e´ sempre negativo. Tambe´m no intervalo (1,+∞) ela na˜o se anula. De fato, o numerador 4x(x2+3) se anularia somente se x = 0, mas este ponto na˜o pertence ao intervalo (1,+∞). Assim, a derivada segunda tem sinal constante em cada um dos seus intervalos de definic¸a˜o. No primeiro intervalo este sinal e´ o mesmo de, por exemplo, P ′′(0) = −4/(−1) = 4 > 0 e no segundo o mesmo de P ′′(2) = 8 ·12/33 > 0, e portanto o gra´fico e´ sempre coˆncavo para cima. Esta conclusa˜o poderia tambe´m ser obtida a partir do quadro abaixo: sinal de −4(3x2 + 1) 4x(x2 + 3) (x2 − 1)3 P ′′ func¸a˜o P x ∈ (−1, 0) − indiferente − + concavidade p/ cima x ∈ (0, 1) − indiferente − + concavidade p/ cima x ∈ (1,+∞) indiferente + + + concavidade p/ cima Mais uma vez, esse resultado pode ser indicado com o diagrama P ⌣ ⌣ ⌣ | | | −1 0 1P ′′ + + + O pro´ximo passo para o esboc¸o do gra´fico e´ estudar o comportamento da func¸a˜o P nas vizinhanc¸as de x = −1, x = 1 e quando x → +∞. Isto ja´ foi feito na tarefa de um texto anterior, e os resultados encontrados foram os seguintes: lim x→−1+ P (x) = lim x→−1+ −2 x2 − 1 = +∞ lim x→1− P (x) = lim x→1− −2 x2 − 1 = +∞ lim x→1+ P (x) = lim x→1+ 2x x2 − 1 = +∞ lim x→+∞ P (x) = lim x→+∞ 2x x2 − 1 = 0 Deste modo, as retas x = −1 e x = 1 sa˜o ass´ıntotas verticais e a reta P = 0 e´ uma ass´ıntota horizontal. Utilizando essas informac¸o˜es podemos esboc¸ar o gra´fico de P como ilustrado acima. 3 Tarefa Considere duas cargas ele´tricas, a primeira com carga unita´ria positiva e a segunda com carga unita´ria negativa, fixadas num eixo perpendicular a uma parede, como na figura abaixo. O potencial ele´trico gerado por essas duas part´ıculas num ponto x ao longo desse eixo e´ dado, em unidades convenientes, pela seguinte func¸a˜o P (x) = 1 |x+ 1| − 1 |x− 1| , x > −1. O objetivo desta tarefa e fazer um esboc¸o da gra´fico da func¸a˜o acima. 1. Lembrando que |y| = y se y ≥ 0 e |y| = −y se y < 0, verifique a func¸a˜o P pode ser reescrita na forma P (x) = 2x x2 − 1 , −1 < x < 1, −2 x2 − 1 , x > 1. 2. Calcule a derivada de P (x) e determine seus (poss´ıveis) extremos locais e seus intervalos de crescimento e decrescimento. 3. Calcule a derivada segunda P ′′(x) e determine intervalos de concavidade para cima e para baixo. 4. Determine as ass´ıntotas verticais e horizontais de P (x) 5. Utilizando as informac¸o˜es acima esboce o gra´fico de P (x). 4 Textos/semana 11/lhospital.pdf Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Regra de L’Hoˆpital Comec¸amos lembrando que lim x→1 x2 − x x2 − 1 = limx→1 x(x− 1) (x+ 1)(x− 1) = limx→1 x x+ 1 = 1 2 . No primeiro limite acima, numerador e denominador se aproximam de zero, de modo que temos uma indeterminac¸a˜o do tipo 0/0. Para resolver o problema, simplificamos a frac¸a˜o para que se tornasse claro o valor do limite. Infelizmente, nem sempre e´ poss´ıvel fazer uma tal simplificac¸a˜o, como fica claro a partir do exemplo lim x→1 ln(x) x− 1 . (1) De fato, na˜o ha´ nenhuma manipulac¸a˜o alge´brica aparente que nos permite entender o com- portamento da frac¸a˜o quando x esta´ pro´ximo de 1. A fim de motivar o resultado que nos permitira´ calcular o limite acima, vamos supor que f(a) = g(a) = 0 e que as derivadas de f e g sa˜o cont´ınuas com g′(a) 6= 0. Note que o limite lim x→a f(x) g(x) e´ uma indeterminac¸a˜o do tipo 0/0, pois f e g sa˜o cont´ınuas em x = a. Neste caso, vale o seguinte lim x→a f(x) g(x) = lim x→a (f(x)− f(a)) (x− a) (x− a) (g(x)− g(a)) = limx→a f(x)− f(a) x− a g(x)− g(a) x− a = f ′(a) g′(a) = lim x→a f ′(x) g′(x) . O racioc´ınio acima pode ser usado para resolver o limite (1). De fato, considerando f(x) = ln(x), g(x) = (x− 1) e a = 1, temos que f(1) = g(1) = 0 e g′(1) = 1 6= 0, de modo que lim x→1 ln(x) x− 1 = limx→a f(x) g(x) = lim x→1 (ln(x))′ (x− 1)′ = limx→1 1 x 1 = 1. Na verdade, esta conta e´ uma caso particular de um resultado geral que enunciamos abaixo. 1 Teorema 1 (Regra de L’Hoˆpital). Sejam f e g duas func¸o˜es deriva´veis tais que g′(x) 6= 0 para x pro´ximo de a, exceto possivelmente em a. Suponha que lim x→a f(x) = lim x→a g(x) = 0 ou que lim x→a f(x) = ±∞ e lim x→a g(x) = ±∞. Enta˜o lim x→a f(x) g(x) = lim x→a f ′(x) g′(x) , se o limite da direita existe (ou e´ ∞ ou e´ −∞). O mesmo resultado vale se substituirmos o s´ımbolo x → a, em todos os limites, por qualquer dos s´ımbolos a seguir: x → a+, x → a−, x→ +∞, x→ −∞. A Regra de L’Hoˆpital simplesmente nos diz que o limite de um quociente e´ igual ao limite do quociente de suas derivadas, desde que as hipo´teses do teorema sejam satisfeitas. Exemplo 1. Vamos calcular o limite lim x→0 ex − 1 x . Para tanto, observe primeiro que temos uma indeterminac¸a˜o do tipo 0/0, numerador e denominador sa˜o deriva´veis e a derivada do denominador e´ igual a 1, na˜o podendo portanto se anular. Assim, podemos aplicar a Regra de L’Hoˆpital para obter lim x→0 ex − 1 x = lim x→0 (ex − 1)′ (x)′ = lim x→0 ex 1 = 1. Note que o numerador ex − 1 na˜o permite fatorac¸o˜es evidentes que permitam simplificar o quociente. Assim, a aplicac¸a˜o do teorema foi uma maneira eficiente de calcular o limite. � Exemplo 2. O limite lim x→+∞ x2 ex e´ uma indeterminac¸a˜o do tipo ∞/∞. Aplicando o teorema obtemos lim x→+∞ x2 ex = lim x→+∞ (x2)′ (ex)′ = lim x→+∞ 2x ex . Note que o u´ltimo limite ainda e´ uma indeterminac¸a˜o do tipo∞/∞. Podemos enta˜o aplicar o teorema novamente para obter lim x→+∞ x2 ex = lim x→+∞ 2x ex = lim x→+∞ 2 ex = 0. Na˜o e´ dif´ıcil generalizar o resultado acima no seguinte sentido: se p(x) = a0+a1x+ · · ·+ anx n e´ um polinoˆmio de grau n, enta˜o n aplicac¸o˜es de L’Hoˆpital nos fornece lim x→+∞ p(x) ex = 0, isto e´, a func¸a˜o exponencial cresce mais ra´pido do que qualquer polinoˆmio. � 2 Exemplo 3. No limite lim x→+∞ ln(x)√ x , temos uma indeterminac¸a˜o do tipo ∞/∞. Assim, lim x→+∞ ln(x)√ x = lim x→+∞ 1 x 1 2 √ x (2) e reca´ımos em uma indeterminac¸a˜o do tipo 0/0. Se aplicar o teorema novamente vamos obter lim x→+∞ ln(x)√ x = lim x→+∞ 1 x 1 2 √ x = lim x→+∞ − 1 x2 − 1 x3/2 , o que na˜o parece ser melhor. De fato, se continuarmos aplicando o teorema sempre vamos cair em uma indeterminac¸a˜o do tipo 0/0. Isso na˜o quer dizer que o teorema esta´ errado, tampouco que na˜o e´ poss´ıvel calcular o limite. De fato, podemos simplesmente manipular o u´ltimo quociente em (2) como segue lim x→+∞ ln(x)√ x = lim x→+∞ 1 x 1 2 √ x = lim x→+∞ 2 √ x x = lim x→+∞ 2√ x = 0. Isso nos mostra que nem sempre a aplicac¸a˜o do teorema e´ o melhor caminho. A`s vezes, uma manipulac¸a˜o alge´brica nos leva mais rapidamente ao resultado esperado. � Exemplo 4. No caso do limite lim x→0+ ln(x) tan(pi 2 − x) , o numerador tende para −∞ e o denomi- nador para +∞. Assim, temos um indeterminac¸a˜o do tipo ∞/∞. Todas as hipo´teses do teorema esta˜o satisfeitas, de modo que podemos calcular lim x→0+ ln(x) tan(pi 2 − x) = limx→0+ 1 x − sec2(pi 2 − x) (3) e cair em outra indeterminac¸a˜o do tipo∞/∞. Antes de aplicar o teorema novamente, vamos escrever o lado direito de uma maneira mais conveniente lim x→0+ ln(x) tan(pi 2 − x) = limx→0+ 1 x − sec2(pi 2 − x) = limx→0+ − cos2(pi 2 − x) x . Agora, temos uma indeterminac¸a˜o do tipo 0/0 e a regra nos fornece lim x→0+ ln(x) tan(pi 2 − x) = · · · = limx→0+ − cos2(pi 2 − x) x = lim x→0+ −2 cos(pi 2 − x)sen(pi 2 − x) 1 = 0. Voceˆ pode, como exerc´ıcio, tentar aplicar L’Hoˆpital diretamente no u´ltimo limite em (3) para se convencer que a manipulac¸a˜o que fizemos era realmente o melhor caminho. � E´ importante ter em mente a necessidade de checar se estamos com uma indeterminac¸a˜o do tipo 0/0 ou ∞/∞ quando vamos aplicar a regra. De fato, se a aplicarmos ao limite limx→pi− sen(x)/(cos(x)− 1) vamos obter lim x→pi− sen(x) cos(x)− 1 = limx→pi− cos(x) − sen(x) = −∞, 3 em que usamos na u´ltima igualdade o fato do numerador se aproximar de−1 e o denominador tender para zero por valores positivos. Ora, este resultado e´ claramente falso pois note que lim x→pi− sen(x) cos(x)− 1 = 0 −1− 1 = 0. O que aconteceu aqui e´ que o limite original na˜o era sequer uma indeterminac¸a˜o. �. Exemplo 5. Vamos agora tentar calcular o limite lim x→0+ x ln(x). Neste caso um dos fatores vai para zero, enquanto o outro vai para −∞, e temos portanto um indeterminac¸a˜o do tipo 0 ×∞. Na˜o e´ poss´ıvel aplicar L’Hoˆpital diretamente. Em vez disso, vamos inverter um dos fatores e dividir pelo inverso. Lembre que multiplicar por 2 equivale a dividir por 1/2. Assim, lim x→0+ x ln(x) = lim x→0+ ln(x) 1 x = lim x→0+ 1 x − 1 x2 = lim x→0+ −x2 x = 0. Observe que, embora o limite limx→0+(1/x)/(−1/x2) seja tambe´m uma indeterminac¸a˜o em que pode-se aplicar L’Hoˆpital, a simplificac¸a˜o feita no u´ltimo passo nos leva ao resultado diretamente. Neste ponto, vale a pena fazer um pouco de contas e se convencer de que a igualdade lim x→0+ x ln(x) = lim x→0+ x 1 ln(x) , embora correta, na˜o nos levaria a lugar algum. � Exemplo 6. O limite limx→0+ x x e´ uma indeterminac¸a˜o do tipo 00, ja´ que a func¸a˜o da base e da poteˆncia va˜o para zero. Para analisar indeterminac¸o˜es com poteˆncias, recorremos a` igualdade y = eln(y), va´lida para todo y > 0. Escrevemos lim x→0+ xx = lim x→0+ eln(x x) = lim x→0+ ex ln(x) = elimx→0+ x ln(x) = e0 = 1, em que usamos o resultado do u´ltimo exemplo e a continuidade da func¸a˜o exponencial. �. 4 Textos/semana 12/area-entre-curvas.pdf Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 A´rea entre curvas e a Integral definida Seja S a regia˜o do plano delimitada pelas curvas y = f(x) e y = g(x) e as retas verticais x = a e x = b, onde f e g sa˜o func¸o˜es cont´ınuas tais que f(x) ≥ g(x) para todo x ∈ [a, b]. Vamos desenvolver aqui uma te´cnica que permite calcular a a´rea de S. Para simplificar a exposic¸a˜o vamos considerar f(x) = x e g(x) = x2, definidas no intervalo [0, 1]. O leitor na˜o tera´ dificuldades em verificar que, para todo x ∈ [0, 1], vale x ≥ x2. Neste caso, a regia˜o S e´ denominada triaˆngulo parabo´lico e esta´ indica na figura ao lado. A ideia para calcular a a´rea consiste em fazer aproxima- c¸o˜es e, depois, tomar o limite nas aproximac¸o˜es. Os passos seguintes mostram como faremos as nossas aproximac¸o˜es. 1. Dividimos o intervalo [0, 1] em n subintervalos de igual comprimento ∆x = 1 n considerando os pontos 0 = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = 1, em que xk = k/n, para cada k = 1, 2, . . . , n. 2. Para cada k = 1, 2, . . . , n consideramos o retaˆngulo cuja base e´ o intervalo [xk−1, xk] e a altura e´ dada lk = f(xk)− g(xk). Como a base desse retaˆngulo tem comprimento xk − xk−1 = 1 n = ∆x, a sua a´rea e´ exatamente [f(xk)− g(xk)]∆x. 3. Podemos agora aproximar a a´rea S usando a soma das a´reas de cada um desses retaˆngulos. A aproximac¸a˜o tem a seguinte expressa˜o: An = [f(x1)− g(x1)]∆x+ [f(x2)− g(x2)]∆x+ · · ·+ [f(xn)− g(xn)]∆x = n∑ k=1 [f(xk)− g(xk)]∆x. 1 As figuras abaixo ilustram essas aproximac¸o˜es nos casos em que n = 5, n = 10 e n = 20, respectivamente. n = 5 n = 10 n = 20 Intuitivamente, a aproximac¸a˜o melhora a` medida que a quantidade de retaˆngulos au- menta. Deste modo, a a´rea da regia˜o S e´ dada pelo seguinte limite a´rea(S) = lim n→+∞ An = lim n→+∞ n∑ k=1 [f(xk)− g(xk)]∆x. (1) Vamos calcular a a´rea acima lembrando que f(x) = x, g(x) = x2 e que os pontos xk foram escolhidos de modo que xk = k/n, para cada k = 1, 2, . . . , n. Temos que An = n∑ k=1 [f(xk)− g(xk)]∆x = n∑ k=1 [ k n − ( k n )2] 1 n = 1 n2 n∑ k=1 k − 1 n3 n∑ k=1 k2. (2) Vamos verificar que cada um dos termos acima possui limite quando n→ +∞. Para o primeiro, observe que 1 n2 n∑ k=1 k = 1 n2 (1 + 2 + · · ·+ n). A maior dificuldade aqui e´ que o termo 1/n2 tende para zero quando n → ∞, enquanto a soma (1+2+ · · ·+n) claramente vai para infinito. Assim, ao tentarmos fazer n→∞, temos uma indeterminac¸a˜o. Ela pode ser resolvida se lembrarmos que os termos da soma entre pareˆnteses acima formam uma progressa˜o aritme´tica de raza˜o 1, de modo que 1 n2 n∑ k=1 k = 1 n2 n(n+ 1) 2 = 1 2 ( n+ 1 n ) . Logo, podemos facilmente calcular lim n→∞ 1 n2 n∑ k=1 k = lim n→+∞ 1 2 ( n + 1 n ) = 1 2 . 2 O ca´lculo do limite que envolve a soma dos termos do tipo k2 e´ um pouco mais delicada. De fato, neste caso os termos que va˜o sendo somados na˜o formam uma PA, tampouco uma PG. Pore´m, pode-se mostrar que (veja Vı´deo) n∑ k=1 k2 = (12 + 22 + · · ·+ n2) = n(n + 1)(2n+ 1) 6 . Logo, lim n→∞ 1 n3 n∑ k=1 k2 = lim n→+∞ 1 n3 n(n + 1)(2n+ 1) 6 = lim n→+∞ ( n + 1 n )( 2n+ 1 6n ) = 1 3 . Substituindo-se os resultados dos limites acima em (2) pode-se concluir que a a´rea do triaˆngulo parabo´lico e´ a´rea(S) = lim n→∞ An = lim n→∞ ( 1 n2 n∑ k=1 k − 1 n3 n∑ k=1 k2 ) = ( 1 2 − 1 3 ) = 1 6 . E´ importante observar que o procedimento acima vale para quaisquer func¸o˜es f(x) e g(x) cont´ınuas que satisfazem f(x) ≥ g(x) em [a, b]. Assim, denotando por S a regia˜o do plano compre- endida abaixo do gra´fico de f e acima do gra´fico de g, temos que a´rea(S) = lim n→∞ n∑ k=1 [f(xk)− g(xk)]∆x. O procedimento de aproximac¸a˜o acima pode ser feito de uma maneira geral. De fato, dada uma func¸a˜o cont´ınua f : [a, b]→ R vamos dividir o intervalo [a, b] em n subintervalos de mesmo tamanho ∆x = (b−a)/n que se interceptam somente (e possivelmente) nos extremos. Para isto, consideramos os pontos a = x0 < x1 < x2 < . . . < xn−1 < xn = b, em que xk = a+k∆x, para cada k = 1, . . . , n. Vamos escolher em cada subintervalo [xk−1, xk] um ponto x∗ k arbitra´rio e considerar a soma de Riemman Sn = n∑ k=1 f(x∗ k )∆x. 3 Observe que a soma acima depende, de fato, na˜o so´ do ı´ndice n mas tambe´m da escolha dos pontos x∗ k ’s. Contudo, pode-se mostrar que, quando n → +∞, a soma acima converge para um nu´mero, qualquer que seja a escolha destes pontos. Vamos denotar este limite da seguinte forma ∫ b a f(x)dx = lim n→+∞ n∑ k=1 f(x∗ k )∆x. O nu´mero acima e´ chamado integral definida de f no intervalo [a, b]. Definimos ainda ∫ a a f(x)dx = 0, ∫ a b f(x)dx = − ∫ b a f(x)dx. A integral ∫ b a f(x)dx e´ um nu´mero, na˜o dependendo portanto de x. De fato, a letra usada no s´ımbolo da integral na˜o e´ importante, de modo que∫ b a f(x)dx = ∫ b a f(t)dt. Usando a definic¸a˜o de integral e os argumentos apresentados no in´ıcio do texto conclu´ımos que, se f, g : [a, b] → R sa˜o func¸o˜es cont´ınuas tais que f(x) ≥ g(x) para todo x ∈ [a, b], enta˜o a a´rea da regia˜o S compreendida entre os gra´ficos das func¸o˜es e´ exatamente a´rea(S) = ∫ b a [f(x)− g(x)]dx. Em particular, se f ≥ 0 em [a, b], podemos tomar g ≡ 0 para concluir que a a´rea abaixo do gra´fico de f e acima do eixo Ox e´ dada por ∫ b a f(x)dx. O ca´lculo de uma integral usando a definic¸a˜o na˜o e´ uma tarefa simples. De fato, e´ necessa´rio obter fo´rmulas que nos permitam manipular o somato´rio que aparece na definic¸a˜o de modo a conseguir calcular o limite. Contudo, veremos em breve um me´todo que nos permitira´ calcular as integrais de maneira mais simples. 4 Tarefa Nesta tarefa vamos calcular a a´rea da regia˜o delimitada pelos gra´ficos das para´bolas f(x) = (4x− x2) e g(x) = x2, conforme ilustrado na figura abaixo. A primeira dificuldade que encontramos e´ que, diferente do exemplo visto no texto sobre a´reas, na˜o sabemos aqui qual e´ o intervalo [a, b] que utilizaremos no ca´lculo, tam- pouco qual das curvas fica por cima da outra. Os passos seguintes resolvem essa questa˜o: 1. Determine as soluc¸o˜es da equac¸a˜o f(x) = g(x), cha- mando de a o menor valor e b o maior. 2. Pelo Teorema do Valor Intermedia´rio temos que, em todo o intervalo [a, b], uma das func¸o˜es e´ sempre maior ou igual a` outra. Determine qual delas e´ a maior, calculando cada uma delas em ponto c ∈ (a, b) e comparando os dois valores. Uma vez que os gra´ficos se tocam em somente dois pontos, a regia˜o S a ser considerada e´ aquela que fica abaixo da func¸a˜o que esta´ por cima, e acima da que esta´ por baixo, sendo considerado somente o que ocorre no intervalo [a, b]. 3. Proceda como no texto para calcular o valor da aproximac¸a˜o de a´rea An obtida quando dividimos o intervalo [a, b] em n subintervalos de tamando ∆x = (b− a)/n. 4. Usando as fo´rmulas apresentadas no texto calcule o limite limn→+∞An para obter o valor da a´rea. 5. Escreva a a´rea em termos de uma integral definida. 5 Textos/semana 12/tfc.pdf Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Teorema Fundamental do Ca´lculo - Parte 1 Neste texto vamos provar um importante resultado que nos permite calcular integrais definidas. Ele pode ser enunciado como se segue. Teorema 1 (Teorema Fundamental do Ca´lculo - Parte 1). Se f e´ cont´ınua em [a, b] e F : [a, b]→ R e´ uma func¸a˜o cont´ınua tal que F ′(x) = f(x) para todo x ∈ (a, b), enta˜o ∫ b a f(x)dx = F (b)− F (a). Uma func¸a˜o F como acima e´ chamada de primitiva de f em [a, b]. O teorema diz que, para calcular a integral de uma func¸a˜o, e´ suficiente conhecermos uma primitiva desta func¸a˜o. Isto estabelece uma interessante relac¸a˜o entre o processo de integrac¸a˜o e o de derivac¸a˜o. O primeiro, que foi motivado aqui pelo ca´lculo de a´reas, ja´ era essencialmente conhecido pelos matema´ticos gregos da antiguidade. Naquele tempo, calculavam a´reas e volumes usando um processo de aproximac¸a˜o que ficou conhecido como Me´todo da Exausta˜o. Por outro lado, as ideias ba´sicas do processo de derivac¸a˜o ja´ apareciam no se´culo XIV, no contexto de dinaˆmica. Apesar do teorema ser muito u´til para efetuar o ca´lculo das integrais, a sua importaˆncia histo´rica esta´ no fato de que ele conecta duas habilidades que a` primeira vista sa˜o distintas. O teorema conta ainda com uma segunda parte, que sera´ vista em um texto seguinte. Antes de provar o Teorema 1 precisamos lembrar a definic¸a˜o da integral ∫ b a f(x)dx. Divi- dimos o intervalo [a, b] em n subintervalos de mesmo tamanho ∆x = (b−a)/n, considerando os pontos a = x0 < x1 < x2 < . . . < xn−1 < xn = b, com xk = a+k∆x, para cada k = 1, . . . , n. Escolhemos, em cada subintervalo [xk−1, xk], um ponto x∗k arbitra´rio e definimos ∫ b a f(x)dx = lim n→+∞ n∑ k=1 f(x∗k)∆x. E´ importante lembrar que, qualquer que seja a escolha dos pontos x∗k, o limite acima sempre existe e tem o mesmo valor. 1 Demonstrac¸a˜o do Teorema 1. Observe inicialmente que F (b)− F (a) = F (xn)− F (x0) = [F (xn)− F (xn−1)] + [F (xn−1)− F (x0)] = ... = [F (xn)− F (xn−1)] + [F (xn−1)− F (xn−2)] + · · ·+ [F (x1)− F (x0)]. De fato, para checar a igualdade acima basta eliminar todos os colchetes e perceber que a maior parte dos termos se cancelam, restando no final somente o primeiro e o u´ltimo, isto e´, F (xn)−F (x0) = F (b)−F (a). Para cada k = 1, . . . , n, podemos aplicar o Teorema do Valor Me´dio para obter x∗k ∈ [xk−1, xk] tal que F (xk)− F (xk−1) = F ′(x∗k)(xk − xk−1) = f(x ∗ k)∆x, xk−1 x∗ k xk F (xk−1) F (xk) Figura 2: Gra´fico de F xk−1 x∗ k xk f(x∗ k ) Figura 3: Gra´fico de F ′ = f uma vez que F ′(x) = f(x). Substituindo a igualdade acima em (1), obtemos F (b)− F (a) = f(x∗n)∆x+ f(x ∗ n−1)∆x · · ·+ f(x ∗ 1)∆x = n∑ k=1 f(x∗k)∆x. Passando ao limite quando n → +∞ e lembrando a definic¸a˜o de integral, conclu´ımos final- mente que F (b)− F (a) = lim n→+∞ n∑ k=1 f(x∗k)∆x = ∫ b a f(x)dx, que e´ o que quer´ıamos provar. � Na sequeˆncia fazemos algumas aplicac¸o˜es deste importante teorema. 2 Exemplo 1. Em um texto anterior, vimos que a a´rea da regia˜o S delimitada pelos gra´ficos das func¸o˜es f(x) = (4x− x2) e g(x) = x2 e´ dada pela integral ∫ 2 0 [(4x− x2)− (x2)]dx = ∫ 2 0 [4x− 2x2]dx. Naquela altura, o ca´lculo foi bem complicado, e necessitou de algumas fo´rmulas de so- mato´rios. Vamos agora usar o Teorema para calcular esta a´rea. Observe que a func¸a˜o H(x) = (2x2 − (2/3)x3) e´ cont´ınua e satisfaz H ′(x) = (4x− 2x2). Deste modo, ∫ 2 0 [4x−2x2]dx = H(2)−H(0) = 2 ·22− 2 3 23 = 8− 16 3 = 8 3 . Alguma du´vida de que foi mais simples agora?! � Figura 1: A regia˜o S Exemplo 2. Considere f(x) = cos(x) e a integral definida ∫ pi/2 0 f(x)dx = ∫ pi/2 0 cos(x)dx. Uma vez que a func¸a˜o F (x) = sen(x) e´ cont´ınua e satifaz F ′(x) = (sen(x))′ = cos(x), vemos que ela e´ uma primitiva para f(x) em [0, pi/2]. Logo, ∫ pi/2 0 cos(x)dx = F (pi 2 ) − F (0) = sen (pi 2 ) − sen(0) = 1. Como f ≥ 0 em [0, pi/2], o nu´mero acima representa a a´rea da regia˜o compreendida abaixo do gra´fico de cos(x), no intervalo [0, pi/2], e o eixo Ox. � Se F e´ uma func¸a˜o qualquer e os pontos a e b esta˜o no seu domı´nio, e´ usual denotar a diferenc¸a F (b)− F (a) por F (x) ∣∣∣b x=a = F (b)− F (a). Assim, se F e´ uma primitiva de f em [a, b], o Teorema Fundamental do Ca´lculo se escreve como ∫ b a f(x)dx = F (x) ∣∣∣b x=a . 3 Exemplo 3. Vamos retomar outro exemplo do texto anterior. La´, quer´ıamos calcular a a´rea da regia˜o delimitada pelos gra´ficos das func¸o˜es f(x) = x e g(x) = x2, definidas em [0, 1]. Como f(x) ≥ g(x) em [0, 1], a a´rea e´ dada pela integral ∫ 1 0 [f(x)− g(x)]dx = ∫ 1 0 (x− x2)dx. Uma conta simples nos permite encontrar uma primitiva para a func¸a˜o que esta´ sendo integrada acima. De fato, d dx ( x2 2 − x3 3 ) = x− x2, de modo que ∫ 1 0 (x− x2)dx = ( x2 2 − x3 3 )∣∣∣∣ 1 x=0 = ( 12 2 − 13 3 ) − ( 02 2 − 03 3 ) = 1 6 , o que confirma o resultado obtido no texto anterior. � Exemplo 4. Uma vez que (arctan(x))′ = 1/(1 + x2), temos que ∫ 4 0 4 1 + x2 dx = (4 arctan(x)) ∣∣∣1 x=0 = 4 arctan(1)− 4 arctan(0) = 4 · pi 4 − 4 · 0 = pi. O fator multiplicativo 4 na˜o dificultou em nada a conta. De fato, a integral goza de uma se´rie de propriedades que facilitam a vida, conforme voceˆ vera´ na sua tarefa. � Nesta altura, voceˆ poderia se perguntar se toda func¸a˜o possui primitiva. Confome ve- remos no pro´ximo texto, a resposta e´ afirmativa se considerarmos func¸o˜es cont´ınuas. Mais especificamente, se f e´ cont´ınua em [a, b], enta˜o a func¸a˜o g definida por g(x) = ∫ x a f(t)dt, x ∈ [a, b], e´ cont´ınua e cumpre g′(x) = f(x), para todo x ∈ (a, b). Em outas palavas, a func¸a˜o acima e´ uma primitiva de f em [a, b]. 4 Tarefa Nesta tarefa voceˆ vai provar as propriedades ba´sicas da integral definida. Ainda que todas elas possam ser provadas usando a definic¸a˜o de integral, faremos isto aqui usando o Teorema Fundamental do Ca´lculo. Supondo que f e g sa˜o func¸o˜es cont´ınuas, prove as seguintes afirmac¸o˜es. 1. ∫ b a c dx = c(b− a), se c ∈ R 2. ∫ b a cf(x)dx = c ∫ b a f(x)dx, se c ∈ R 3. ∫ b a [f(x) + g(x)]dx = ∫ b a f(x)dx+ ∫ b a g(x)dx 4. ∫ b a [f(x)− g(x)]dx = ∫ b a f(x)dx− ∫ b a g(x)dx 5. ∫ b a f(x)dx = ∫ c a f(x)dx+ ∫ b c f(x)dx 6. se f(x) ≥ 0 em [a, b], enta˜o ∫ b a f(x)dx ≥ 0 7. se f(x) ≥ g(x) em [a, b], enta˜o ∫ b a f(x)dx ≥ ∫ b a g(x)dx 8. se m ≤ f(x) ≤M em [a, b], enta˜o m(b− a) ≤ ∫ b a f(x)dx ≤M(b − a). 5 Textos/semana 12/TFC2.pdf Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Teorema Fundamental do Ca´lculo - Parte 2 No texto anterior vimos que, se F e´ uma primitiva de f em [a, b], enta˜o ∫ b a f(x)dx = F (b)− F (a). Isto reduz o problema de resolver uma integral a`quele de encontrar uma primitiva de f . Deste modo, e´ natural perguntar se toda func¸a˜o cont´ınua possui uma primitiva. Confome veremos a seguir, a resposta e´ afirmativa. Mais especificamente, considere f cont´ınua em [a, b] e defina a func¸a˜o g(x) = ∫ x a f(t)dt, x ∈ [a, b]. (1) Note que, dentro da integral, estamos usando a varia´vel t somente para diferenciar do x que esta´ no limite superior de integrac¸a˜o. Isto na˜o e´ problema nenhum pois, como ja´ vimos,∫ x a f(t)dt = ∫ u a f(u)du, por exemplo. No resultado abaixo apresentamos a parte final do Teorema Fundamental do Ca´lculo. Teorema 1 (Teorema Fundamental do Ca´lculo - Parte 2). Se f : [a, b] → R e´ uma func¸a˜o cont´ınua, enta˜o a func¸a˜o g definida em (1) e´ cont´ınua, deriva´vel em (a, b) e g′(x) = f(x), x ∈ (a, b). Em particular, toda func¸a˜o cont´ınua possui uma primitiva. O resultado acima, juntamente com aquele do texto anterior, forma o que chamamos de Teorema Fundamental do Ca´lculo. A primeira demonstrac¸a˜o de uma versa˜o do teorema foi apresentada por James Gregory (1638-1675). Isaac Barrow (1630-1677) provou uma versa˜o um pouco mais geral para que, depois, o seu brilhante aluno Isaac Newton (1643-1727) com- pletasse o desenvolvimento da teoria matema´tica por tra´s do teorema. Na˜o menos destaque merece o nome de Gottfried Leibniz (1646-1716) que foi quem sistematizou o conhecimento em uma teoria de quantidades infinitesimais e introduziu a notac¸a˜o usada hoje. A enorme variedade de aplicac¸o˜es desta teoria nos permite afirmar, sem exageros, que estamos di- ante de uma das maiores descobertas cient´ıficas da era moderna. Logo, todos os esforc¸os demandados ate´ aqui no curso de Ca´lculo na˜o foram em va˜o... 1 Antes de apresentar a prova do Teorema 1 vamos definir o que se entende por me´dia de uma func¸a˜o. Supondo enta˜o que f esta´ definida em [a, b], tomamos um nu´mero n ∈ N e dividimos o itervalo [a, b] em n subintervalos fechados de tamanho ∆x = (b− a)/n de modo que a unia˜o de todos eles deˆ o intervalo [a, b] e eles se interceptem, possivelmente, nos seus extremos. Em cada um dos n intervalos, escolhemos um ponto x∗k e calculamos a me´dia aritme´tica f(x∗1) + f(x ∗ 2) + · · · f(x ∗ n) n = 1 n n∑ k=1 f(x∗k) = 1 b− a k∑ i=1 f(x∗k)∆x. Quando o nu´mero n cresce, aumentamos a quantidade de pontos que va˜o entrar no ca´lculo da me´dia. Se f for integra´vel em [a, b], fazendo n → +∞, obtemos o conceito de me´dia de uma func¸a˜o: media(f) = lim n→+∞ 1 b− a n∑ k=1 f(x∗k)∆x = 1 b− a ∫ b a f(x)dx. O resultado abaixo e´ uma consequeˆncia interessante das propriedades da integral definida. Lema 1 (Teorema da Me´dia). Se f e´ cont´ınua em [a, b], enta˜o existe c ∈ [a, b] tal que f(c) = 1 b− a ∫ b a f(x)dx. Em outras palavras, a me´dia de uma func¸a˜o cont´ınua e´ sempre assumida. Demonstrac¸a˜o. Sejam m e M o mı´nimo e ma´ximo de f em [a, b], respectivamente. Sabe- mos que estes dois nu´meros existem porque toda func¸a˜o cont´ınua definida em um intervalo fechado assume ma´ximo e mı´nimo. Uma vez que m ≤ f(x) ≤ M em [a, b], integrando obtemos m(b− a) = ∫ b a mdx ≤ ∫ b a f(x)dx ≤ ∫ b a Mdx = M(b− a). Assim, se denotarmos por xm e xM os pontos de mı´nimo e ma´ximo, respectivamente, obtemos f(xm) = m ≤ 1 b− a ∫ b a f(x)dx ≤M = f(xM). Aplicando o Teorema do Valor Intermedia´rio no intervalo [xm, xM ] (ou [xM , xm]), obtemos c ∈ [a, b] tal que f(c) coincide com a me´dia de f . � Usando o resultado acima, podemos facilmente provar a 2a parte do Teorema Fundamen- tal do Ca´lculo. Prova do Teorema 1. Para calcular a derivada da func¸a˜o g definida em (1), vamos ter que usar a definic¸a˜o de derivada. Considere enta˜o x ∈ (a, b) fixado e h > 0 pequeno de tal 2 modo que x, x+ h ∈ (a, b). Temos que g(x+ h)− g(x) = ∫ x+h a f(t)dt− ∫ x a f(t)dt = (∫ x a f(t)dt+ ∫ x+h x f(t)dt ) − ∫ x a f(t)dt = ∫ x+h x f(t)dt. Dividindo por h > 0 e usando o Teorema da Me´dia, obtemos ch ∈ [x, x+ h], tal que g(x+ h)− g(x) h = 1 h ∫ x+h x f(t)dt = f(ch). Uma vez que x ≤ ch ≤ x + h, temos que ch → x, quando h → 0 +. A continuidade de f implica enta˜o que limh→0+ f(ch) = f(x) e portanto lim h→0+ g(x+ h)− g(x) h = f(x). Isso mostra que derivada lateral a` direita e´ igual a f(x). Usando o mesmo argumento obtemos lim h→0− g(x+ h)− g(x) h = f(x), o que mostra que a derivada lateral a` esquerda tambe´m vale f(x). Portanto, a func¸a˜o g e´ deriva´vel e d dx [∫ x a f(t)dt ] = g′(x) = f(x), x ∈ (a, b). A existeˆncia da derivada acima mostra que g e´ cont´ınua em (a, b). A continuidade nos pontos extremos x = a e x = b e´ uma consequeˆncia da existeˆncia dos limites laterais acima. Isto finaliza a prova do teorema. � Vale notar que, apesar do Teorema 1 garantir a existeˆncia de primitiva, ele na˜o ajuda muito no ca´lculo efetivo de uma integral definida. De fato, sabendo que a func¸a˜o g definida em (1) e´ uma primitiva de f e usando a primeira parte do Teorema Fundamental do Ca´lculo, obtemos ∫ b a f(t)dt = g(b)− g(a) = ∫ b a f(t)dt− ∫ a a f(t)dt = ∫ b a f(t)dt, que e´ uma igualdade o´bvia. Exemplo 1. Como a func¸a˜o cosseno e´ cont´ınua, temos que d dx [∫ x 0 cos3(t)dt ] = cos3(x). Note que, no ca´lculo acima, na˜o e´ necessa´rio resolver a integral para depois derivar. Basta usar o Teorema 1. � 3 Exemplo 2. Vamos calcular a derivada da func¸a˜o f(x) = ∫ x2+1 1 et 2 dt. O ponto importante aqui e´ que na˜o podemos aplicar diretamente o Teorema 1, porque o limite de integrac¸a˜o e´ x2, e na˜o x. Contudo, se definirmos p(x) = x2 + 1, q(x) = ∫ x 1 et 2 dt, temos que f(x) = q(p(x)). Podemos enta˜o usar a Regra da Cadeia para obter f ′(x) = q′(p(x))p′(x) = ep(x) 2 · (x2 + 1)′ = 2xe(x 2+1)2 . Note que usamos o Teorema 1 para calcular q′(x) = ex 2 . � Exemplo 3. Existem func¸o˜es que na˜o possuem primitivas. De fato, considere a func¸a˜o f definida em [0, 2] por f(x) = { 0, se x ∈ [0, 1) ∪ (1, 2], 1, se x = 1. Suponha que ela possui uma primitiva, que vamos denotar por F . Uma vez que F ′(x) = f(x) em (0, 2), conclu´ımos que F ′ ≡ 0 nos intervalos (0, 1) e (1, 2). Deste modo, a func¸a˜o F e´ constante em cada um desses intervalos, isto e´, existem c1, c2 ∈ R, tais que F ≡ c1 em (0, 1) e F ≡ c2 em (1, 2). Por outro lado, como F e´ cont´ınua em x = 1, temos que c1 = lim x→1− F (x) = F (1) = lim x→1+ F (x) = c2. Deste modo, c1 = c2 e a func¸a˜o F e´ constante em todo o intervalo (0, 2). Isto implica que 0 = F ′(1) = f(1), o que e´ um absurdo, pois f(1) = 1. Conclu´ımos enta˜o que a func¸a˜o f acima na˜o possui primitiva. Isso naturalmente na˜o contradiz o Teorema 1, porque f na˜o e´ cont´ınua. � 4 Tarefa A primeira parte do Teorema Fundamental do Ca´lculo pode ser provada a partir da segunda. Faremos isso nesta tarefa. Considere f um func¸a˜o cont´ınua em [a, b] e resolva os itens a seguir. 1. Se g : [a, b]→ R e´ dada por g(x) = ∫ x a f(t)dt, determine a derivada g′(x). 2. Supondo que F e´ uma primitiva (qualquer) de f em [a, b], justifique a existeˆncia de uma constante C ∈ R tal que g(x) = f(x) + C, ∀ x ∈ [a, b]. 3. Fazendo x = a na igualdade acima, determine o valor de C. 4. Conclua dos itens anteriores que∫ b a f(t)dt = F (b)− F (a). 5 Textos/semana 13/indefinida.pdf Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Integral indefinida O Teorema Fundamental do Ca´lculo afirma que, se f e´ cont´ınua em [a, b], enta˜o ∫ b a f(x)dx = F (b)− F (a), desde que F seja uma primitiva de f em [a, b]. Deste modo, e´ importante estabelecermos estrate´gias que nos permitam encontrar primitivas explicitamente. Se F e´ uma primitiva de f enta˜o, para todo K ∈ R, temos que (F (x) +K)′ = f(x), de modo que F (x)+K tambe´m e´ uma primitiva. Ale´m disso, se o domı´nio de f e´ um intervalo e G e´ uma outra primitiva de f , enta˜o d dx (G(x)− F (x)) = f(x)− f(x) = 0. O Teorema do Valor Me´dio garante que existe um constanteK ∈ R, tal que G(x) = F (x)+K. Isso mostra que a famı´lia de func¸o˜es {F (x) +K}K∈R conte´m todas as primitivas de f . Esta famı´lia de func¸o˜es e´ chamada integral indefinida de f e e´ denotada da seguinte maneira∫ f(x)dx = F (x) +K. Na expressa˜o acima, K ∈ R e´ chamada constante de integrac¸a˜o. E´ importante que fique claro a diferenc¸a entre a integral definida e a indefinida. A primeira e´ um nu´mero, enquanto a segunda representa uma famı´lia de func¸o˜es. Ela pode ser calculada encontrando uma primitiva de f e, em seguida, adicionando a constante de integrac¸a˜o. Por exemplo,∫ x2dx = x3 3 +K, pois d dx ( x3 3 +K ) = x2. Antes de apresentar alguns exemplos vamos observar que voceˆ sempre pode checar se acertou o ca´lculo de uma integral indefinida. Para tanto, basta verificar se a derivada do resultado coincide com a func¸a˜o que esta´ sendo integrada. 1 Exemplo 1. Temos que, se n 6= −1, enta˜o∫ xndx = xn+1 n + 1 +K, pois d dx ( xn+1 n + 1 +K ) = (n + 1) xn+1−1 (n+ 1) = xn, onde usamos a regra da poteˆncia para derivadas. � Note que a fo´rmula de integrac¸a˜o acima na˜o faz sentido quando n = −1. Esse caso pode ser facilmente tratado, conforme mostrar o pro´ximo exemplo. Exemplo 2. Temos que ∫ x−1dx = ∫ 1 x dx = ln |x|+K, uma vez que (ln |x|+K)′ = 1/x. � A justificativa que demos para somar a constante de integrac¸a˜o apo´s encontrar uma primitiva foi baseada no Teorema do Valor Me´dio. Deste modo, e´ importante garantir que estamos trabalhando em um intervalo. Daqui para frente, sempre que escrevermos uma fo´rmula geral de integrac¸a˜o, vamos assumir que ela e´ va´lida em um intervalo. Assim, quando escrevemos ∫ 1 x dx = ln |x|+K, estamos entendo que isso e´ va´lido no intervalo (−∞, 0) ou (0,+∞). Assim∫ −1 −e 1 x dx = (ln |x|+K) ∣∣∣−1 x=−e = (ln(−x) +K) ∣∣∣−1 x=−e = ln(1)− ln(e) = −1, pois |x| = −x no intervalo (−e,−1). Exemplo 3. As integrais abaixo podem ser verificas a partir das regras usuais de derivac¸a˜o: ∫ exdx = ex +K, ∫ cos(x)dx = sen(x) +K,∫ sen(x)dx = − cos(x) +K, ∫ 1 1 + x2 = arctan(x) +K,∫ 1√ 1− x2dx = arcsen(x) +K. Conforme veremos depois, existe uma te´cnica que permite calcular as duas u´ltimas integrais acima, sem ter que memoriza´-la. As 3 primeiras, juntamente com as dos dois exemplos anteriores, sa˜o integrais ba´sicas que voceˆ precisa saber. � 2 As propriedades de linearidade da derivada sa˜o transmitidas de maneira imediata para a integral indefinida. Deste modo, e´ muito simples verificar que∫ (f(x) + g(x))dx = ∫ f(x)dx+ ∫ g(x)dx, ∫ (f(x)− g(x))dx = ∫ f(x)dx− ∫ g(x)dx, e ∫ cf(x)dx = c ∫ f(x)dx. Exemplo 4. Suponha que a velocidade de um carro seja dada por v(t) = 2t+ et e queremos determinar a sua posic¸a˜o s(t) em um instante t ≥ 0. Como a taxa de variac¸a˜o da posic¸a˜o e´ a velocidade, temos que s′(t) = 2t + et. Integrando os dois lados com respeito a` t, obtemos s(t) +K1 = ∫ s′(t)dt = ∫ (2t+ et)dt = t2 + et +K2. De in´ıcio, a primeira igualdade acima pode parecer confusa mas, na verdade, ela e´ muito simples. De fato, ao tentarmos calcular ∫ s′(t)dt estamos procurando uma func¸a˜o cuja de- ravada seja s′(t). Ora, tal func¸a˜o e´ exatamente s(t) acrescida de qualquer constante K1. A igualdade acima pode ser reescrita da seguinte maneira s(t) = t2 + et +K, onde a constante arbitra´ria K foi obtida juntando-se todas as constantes que apareciam anteriormente. Uma primeira ana´lise do resultado do para´grafo anterior nos deixa um pouco frustrados. O aparecimento da constante (arbitra´ria) K nos levaria a` conclusa˜o de que o problema tem infinitas soluc¸o˜es. Isto soa estranho porque, em um dado instante t > 0, o carro so´ pode estar em uma posic¸a˜o. Para entender o que esta´ acontecendo suponha que temos agora dois carros partindo de posic¸o˜es iniciais diferentes, mas com mesma velocidade v(t) = 2t+et. Ora, ainda que eles tenham a mesma velocidade, a posic¸a˜o deles sera´ sempre diferente, porque partiram de posic¸o˜es diferentes. O que vai ocorrer e´ que, em cada instante t > 0, a distaˆncia entre eles sera´ sempre a mesma, sendo exatamente igual a` distaˆncia entre os pontos de partida. A observac¸a˜o feita acima mostra que obtivemos infinitas soluc¸o˜es porque o conjunto de dados que temos e´ incompleto. De fato, para determinar a posic¸a˜o do carro, ale´m da velo- cidade, precisamos saber o ponto de partida, digamos s(0) = 5. Com esta nova informac¸a˜o 3 somos levados a resolver o seguinte problema: determinar uma func¸a˜o s : [0,+∞)→ R que satisfaz { s′(t) = 2t+ et, t ∈ (0,+∞), s(0) = 5. Conforme verificado anteriormente, as soluc¸o˜es da primeira equac¸a˜o sa˜o da forma s(t) = t2 + et + K. Precisamos agora escolher a constante K de modo que a condic¸a˜o inicial s(0) = 5 seja satisfeita. Isso pode ser feito simplesmente calculando a famı´lia de soluc¸o˜es no ponto t = 0: 5 = s(t) = 02 + e0 +K = 1 +K ⇒ K = 4. Deste modo, a soluc¸a˜o do problema e´ dada por s(t) = t2 + et + 4, t ≥ 0. Este exemplo deve deixar claro a importaˆncia da constante de integrac¸a˜o. � Vale destacar que, para obter a constante K no exemplo acima, foi utilizado o fato de sabermos a posic¸a˜o no instante t = 0. Na˜o existe nada de especial na escolha de t = 0. De fato, para determinamos a constante K, bastava saber a posic¸a˜o em qualquer instante a ≥ 0. Assim, se soube´ssemos por exemplo que s(a) = b, bastaria calcular b = s(a) = a2 + ea +K, para concluir que K = b− a2 − ea. Para finalizar o texto vamos fazer a ana´lise geome´trica da famı´lia de primitivas da func¸a˜o v(t). A exposic¸a˜o acima nos permitiu concluir que existem infinitas func¸o˜es cuja derivada e´ (2t+ et), visto ∫ (2t+ et)dt = t2+ et+K. Do ponto de vista geome´trico o que a constante K faz e´ “levantar” (se K > 0) ou “abaixar” (se K < 0) em K unidades o gra´fico da func¸a˜o s0(t) = (t 2 + et). Assim, se denotarmos por l0 a reta tangente ao gra´fico de s0 no ponto (t0, s0(t0)), quando deslocamos o gra´fico de s0 para cima ou para baixo, o mesmo ocorre com sua reta tangente. Pore´m, nesse deslocamento, a inclinac¸a˜o da reta tangente permanece inalterada, de modo que a inclinac¸a˜o da reta tangente ao gra´fico de sK(t) = t 2 + et + K no ponto (t0, sK(t0)) e´ a mesma inclinac¸a˜o de l0. Tarefa Determine uma func¸a˜o y : R → R tal que y′(x) = 1 x + 3 √ x e cujo gra´fico passe pelo ponto (1, 4). 4 Textos/semana 13/substituicao.pdf Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Integrac¸a˜o por subtituic¸a˜o Vimos que, para determinar o valor da integral ∫ f(x)dx, o que precisamos e´ encontrar uma primitiva para f . Isto pode ser feito com facilidade em alguns casos. Pore´m, as ideias que desenvolvemos ate´ aqui na˜o nos permitem calular, por exemplo, a integral ∫ 2x sen(x2)dx. A te´cnica que vamos desenvolver para considerar esta e outras integrais esta´ baseada na regra da cadeia. Suponha que f seja uma func¸a˜o com uma primitiva F , e que g seja uma func¸a˜o deriva´vel tal que a composic¸a˜o f(g(x)) esteja bem definida. Neste caso, temos que d dx F (g(x)) = F ′(g(x))g′(x) = f(g(x))g′(x). Integrando, obtemos ∫ f(g(x))g′(x)dx = F (g(x)) +K. (1) Voltando ao exemplo do in´ıcio do texto, observe que se denotarmos g(x) = x2, enta˜o g′(x) = 2x. Assim, a integral fica ∫ 2x sen(x2)dx = ∫ sen(g(x))g′(x)dx = − cos(x2) +K, uma vez que F (x) = − cos(x) e´ uma primitiva da func¸a˜o seno. A expressa˜o (1) e´ conhecida como fo´rmula de mudanc¸a de varia´veis. O seu nome pode ser entendido a partir da seguinte te´cnica mnemoˆnica. Se introduzirmos a varia´vel u = g(x), enta˜o du dx = g′(x). Fazendo um abuso de notac¸a˜o, podemos escrever du = g′(x)dx, de modo que a igualdade em (1) fica ∫ f(g(x))g′(x)dx = ∫ f(u)du = F (u) +K = F (g(x) +K. A te´cnica e´ tambe´m chamada de substituic¸a˜o. Exemplo 1. Vamos usar uma mudanc¸a de varia´veis para calcular ∫ x √ 1 + x2dx. 1 Se fizermos u = (1 + x2) temos que du dx = 2x, ou ainda dx = 1 2x du. Deste modo, ∫ x √ 1 + x2dx = ∫ x √ u 1 2x du = 1 2 ∫ √ u du = 1 2 · 2 3 u3/2 +K = 1 3 (1 + x2)3/2 +K. Note que, na u´ltima igualdade, voltamos para a varia´vel x. � O ponto chave do me´todo e´ a escolha da nova varia´vel. Ela pode ser feita de maneira arbitra´ria mas, uma vez feita, o termo du fica determinado. Uma escolha boa e´ aquela que nos permite, na nova integral, eliminar completamente a varia´vel original. Ale´m disso, e´ importante que saibamos como calcular a integral resultante, que envolve a varia´vel u. Por exemplo, a substituic¸a˜o u = x2, du = 2x dx na integral ∫ 2x cos(x4)dx, nos leva a ∫ cos(u2)du, que na˜o sabemos calcular. A melhor maneira de identificar uma substituic¸a˜o boa e´ usar a experieˆncia. Vamos enta˜o trabalhar alguns exemplos. Exemplo 2. Na integral ∫ x2(x3 − 2)7dx, podemos fazer u = (x3 − 2), de modo que du dx = 3x2, ou ainda dx = 1 3x2 du. Assim, ∫ x2(x3 − 2)7dx = ∫ x2u7 1 3x2 du = 1 3 ∫ u7du = 1 24 u8 +K = 1 24 (x3 − 2)8 +K. Note que, neste caso, poder´ıamos ter expandido o temo x2(x3 − 2)7 em poteˆncias de x e integrado cada termo. Na˜o ha´ du´vidas que a mudanc¸a de varia´veis fornece o resultado de maneira mais ra´pida. � Exemplo 3. Para calcular a integral definida ∫ 9 1 e √ x√ x dx, escolhemos u = √ x, de modo que dx = 2 √ x du, e a integral indefinida se escreve como ∫ e √ x √ x dx = ∫ 2eu du = 2eu +K = 2e √ x +K. Logo, ∫ 9 1 e √ x √ x dx = 2e √ x ∣∣∣9 x=1 = 2(e3 − e), em que usamos o Teorema Fundamental do Ca´lculo na penu´ltima igualdade. � 2 Usando o TFC, podemos facilmente verificar que, se g′ for cont´ınua em [a, b] e f for cont´ınua na imagem de g pelo intervalo [a, b], enta˜o ∫ b a f(g(x))g′(x)dx = ∫ g(b) g(a) f(u)du. A igualdade acima mostra que a mudanc¸a de varia´veis pode ser feita diretamente na integral definida, desde que tomemos o cuidado de fazer a respectiva mudanc¸a nos extremos de integrac¸a˜o. No u´ltimo exemplo, temos que se x = 1, enta˜o u = √ 1 = 1, enquanto que quando x = 9, u = 3. Logo, ∫ 9 1 e √ x √ x dx = ∫ 3 1 2eu du = 2eu ∣∣∣3 u=1 = 2(e3 − e). Exemplo 4. Para a integral ∫ pi 0 3 cos2(x)sen(x)dx, fazemos u = cos(x) para obter dx = − 1 sen(x) dx. Quando x = 0 e x = 1, temos que u = cos(0) = 1 e u = cos(pi) = −1, respectivamente. Logo, ∫ pi 0 3 cos2(x)sen(x)dx = − ∫ −1 1 3u2du = −u3 ∣∣∣−1 u=1 = [−(−1)3]− [−13] = 2. Naturalmente, o processo anterior de mudar varia´veis na indefinida, resolver a integral na varia´vel u, voltar para a varia´vel x a aplica o TFC daria o mesmo resultado. � Exemplo 5. Vamos mostrar que, se f e´ uma func¸a˜o cont´ınua, enta˜o a integral ∫ a −a f(x2)x dx e´ igual a zero, qualquer que seja a ∈ R. De fato, fazendo a mudanc¸a u = x2, obtemos ∫ a −a f(x2)x dx = 1 2 ∫ a2 a2 f(u) du = 0, uma vez que, quando x = ±a, a varia´vel u vale a2. � 3 Exemplo 6. Em alguns casos a substituic¸a˜o pode ser menos o´bvia. Por exemplo, na integral ∫ x2 √ x− 1dx, podemos fazer u = (x − 1) para obter du = dx. Fazendo enta˜o a mudanc¸a de varia´veis, obtemos ∫ x2 √ x− 1dx = ∫ (u+ 1)2 √ u du. Uma vez que (u+ 1)2 √ u = (u2 + 2u+ 1) √ u, podemos fazer a multiplicac¸a˜o e obter ∫ (u+ 1)2 √ u du = 2 7 u7/2 + 4 5 u5/2 + 2 3 u3/2 +K, e portanto ∫ x2 √ x− 1dx = 2 7 (x− 1)7/2 + 4 5 (x− 1)5/2 + 2 3 (x− 1)3/2 +K. A integral acima tambe´m pode ser resolvida com a substituic¸a˜o u = √ x− 1. Deixamos para o leitor esta parte. � Exemplo 7. Para a integral ∫ 1 1 + ex dx, usamos a mudanc¸a x = − ln(u). Com essa escolha, temos ex = (1/u). Como dx du = −(1/u), conclu´ımos que dx = −(1/u)du, e portanto ∫ 1 1 + (1/u) ( −1 u ) du = ∫ −1 1 + u du = − ln |1 + u|+K = − ln |1 + e−x|+K. Observe que, neste caso, como escrevemos x como func¸a˜o da nova varia´vel u, o ca´lculo que fizemos foi de dx du . � Tarefa Suponha que uma a´rvore foi transplantada e, t anos depois, esta´ crescendo a` raza˜o de 1 + (t+1)−2 metros por ano. Sabendo que apo´s 2 anos a a´rvore atingiu uma altura de 5 metros, determine qual era a altura da a´rvore quando ela foi transplantada. 4 Textos/semana 14/partes.pdf Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Integrac¸a˜o por partes Vimos nos textos anteriores que a te´cnica de mudanc¸a de varia´veis e´ muito u´til no ca´lculo de algumas primitivas. Pore´m, existem casos em que ela na˜o e´ suficiente. Por exemplo, suponha que queremos resolver a integral∫ xexdx. Uma ana´lise inicial mostra que esta integral na˜o e´ de resoluc¸a˜o imediata. De fato, se es- tive´ssemos integrando somente o termo x, ter´ıamos a primitiva x2/2, enquanto que se o integrando fosse somente ex, poder´ıamos tomar a primitiva ex. Contudo, neste caso, temos o produto destas duas func¸o˜es. Uma tentativa inicial seria usar a mudanc¸a u = ex, que nos fornece du = exdx e x = ln(u). Assim, ∫ xexdx = ∫ xdu = ∫ ln(u)du. Embora a igualdade acima esteja correta, ela na˜o nos ajuda muito, porque tambe´m na˜o sabe- mos uma primitiva para a func¸a˜o ln(u). Portanto, a integral proposta na˜o deve ser resolvida por mudanc¸a de varia´veis.Neste texto vamos introduzir uma nova te´cnica de integrac¸a˜o que vai nos permitir, entre outras coisas, encontrar uma primitiva para a func¸a˜o xex. Lembre que a fo´rmula de mudanc¸a de varia´veis foi obtida a partir da Regra da Cadeia. O que vamos fazer inicialmente e´ obter, a partir da regra de derivac¸a˜o de um produto, uma nova fo´rmula. Para tanto, lembre que d dx [f(x) · g(x)] = f ′(x)g(x) + f(x)g′(x), sempre que f e g sa˜o deriva´veis. Integrando a igualdade acima com respeito a x, e lembrando que uma primitiva de (f(x)g(x))′ e´ o produto f(x)g(x), obtemos∫ f(x)g′(x)dx = f(x)g(x)− ∫ f ′(x)g(x)dx. A igualdade acima e´ conhecida como fo´rmula de integrac¸a˜o por partes. Na sequeˆncia, vamos mostrar como ela pode ser u´til. Exemplo 1. Vamos usar a fo´rmula para resolver a integral ∫ xexdx. Se denotarmos f(x) = x e g′(x) = ex, obtemos∫ xexdx = ∫ f(x)g′(x)dx = f(x)g(x)− ∫ f ′(x)g(x)dx = x · g(x)− ∫ 1 · g(x)dx. 1 Para finalizar o ca´lculo, precisamos descobrir quem e´ g(x). Como g′(x) = ex, temos que g(x) = ∫ g′(x)dx = ∫ exdx = ex +K1, em que K1 e´ a constante de integrac¸a˜o. Deste modo ∫ xexdx = x(ex +K1)− ∫ (ex +K1)dx = xe x − ∫ exdx, ou ainda, ∫ xexdx = (x− 1)ex +K. Se voceˆ quiser, pode checar o resultado acima simplesmente derivando o lado direito. � Vale notar que, no ca´lculo da func¸a˜o g acima, a constante de integrac¸a˜o K1 sempre vai desaparecer. De fato, basta notar que f(x)(g(x) +K1)− ∫ f ′(x)(g(x) +K1)dx = f(x)g(x)− ∫ f ′(x)g(x)dx, qualquer que seja o nu´mero K1. Deste modo, ao aplicarmos a fo´rmula, e´ comum escolher K1 = 0 na expressa˜o de g(x). Outra observac¸a˜o importante e´ que a fo´rmula pode ser reescrita de uma maneira mais simples de ser lembrada, atrave´s do seguinte artif´ıcio: considere u = f(x) e v = g(x). Com esta definic¸a˜o, temos que du dx = f ′(x). Se considerarmos, formalmente, o s´ımbolo du dx como sendo uma frac¸a˜o, isso nos leva a du = f ′(x)dx e, de maneira ana´loga, dv = g′(x)dx. Assim, a fo´rmula de integrac¸a˜o por partes pode ser escrita como ∫ udv = uv − ∫ vdu. Exemplo 2. Para a integral indefinida ∫ x cos(x)dx, vamos considerar u = x e dv = cos(x)dx. Deste modo, temos que u = x, dv = cos(x)dx du = dx, v = ∫ dv = ∫ cos(x)dx = sen(x), onde escolhemos a constante de integrac¸a˜o como sendo 0 no ca´lculo de v. Assim, usando a fo´rmula, obtemos ∫ x cos(x)dx = ∫ udv = uv − ∫ vdu = x sen(x)− ∫ sen(x)dx, ou ainda ∫ x cos(x)dx = x sen(x) + cos(x) +K. Novamente, a igualdade pode ser checada pela simples derivac¸a˜o do lado direito. � 2 Ao aplicar a fo´rmula, e´ fundamental fazer uma escolha apropriada do termo dv. A primeira dica para esta escolha e´ lembrar que, para aplicar a fo´rmula, sera´ necessa´rio conhecer o valor de v, isto e´, calcular a integral ∫ dv. Deste modo, o termo dv deve ser uma func¸a˜o que sabemos integrar. Esta observac¸a˜o, quando aplicada no Exemplo 2 acima, descarta imediatamente a escolha dv = x cos(x). Pore´m, ainda restariam treˆs possibilidades: dv = xdx, dv = dx, dv = cos(x)dx. Ja´ vimos que a terceira escolha acima funciona. Para a primeira ter´ıamos u = cos(x), dv = xdx du = −sen(x) dx, v = ∫ xdx = x2/2, de modo que ∫ x cos(x)dx = x2 2 cos(x) + ∫ x2 2 sen(x)dx. Esta igualdade, embora correta, na˜o ajuda muito, porque a integral que aparece
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