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CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL
TEORIA E EXERCÍCIOS
PROFESSOR PEDRO IVO 
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AULA 09 – SENTENÇA / DAS EXCEÇÕES / PROCESSO E 
JULGAMENTO DOS CRIMES CONTRA A HONRA / MEDIDAS 
ASSECURATÓRIAS – ENTORPECENTES E LAVAGEM DE DINHEIRO
Caros alunos, 
Hoje veremos mais alguns importantes temas do Direito Processual Penal! 
Vamos começar... 
Bons estudos! 
**************************************************************************************************** 
9.1 SENTENÇA 
A sentença é uma forma de manifestação intelectual, lógica e formal emitida pelo Estado
através de seus órgãos jurisdicionais, com o principal intuito de por fim a um conflito de
interesses 
 9.1.1 SENTENÇAS EM SENTIDO AMPLO (DECISÕES)
Podemos definir as sentenças em sentido amplo como todos os tipos de decisões
proferidas pelo magistrado. Podem ser classificadas em: 
1. INTERLOCUTÓRIAS SIMPLES Î São decisões que não se referem,
diretamente, ao mérito da causa. Funcionam como uma forma de garantir a 
regularidade do rito procedimental. 
Exemplos: Decretação da prisão preventiva e recebimento da denúncia. 
2. INTERLOCUTÓRIAS MISTAS (DECISÕES COM FORÇA DE DEFINITIVAS) Î
São decisões que, julgando ou não o mérito, encerram uma etapa do
procedimento processual ou a própria relação do processo. São divididas em: 
a. INTERLOCUTÓRIAS MISTAS TERMINATIVAS Î São aquelas que põem
fim ao processo, sem que haja o julgamento de mérito. Exemplos:
Decisão que rejeita a denúncia, impronúncia e procedência das
exceções de coisa julgada e de litispendência. 
 
 
 
 
 
 
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b. INTERLOCUTÓRIAS MISTAS NÃO TERMINATIVAS Î São aquelas que
encerram uma etapa procedimental. Exemplo: Decisão de pronúncia nos
processos do júri popular. 
 9.1.2 SENTENÇAS EM SENTIDO ESTRITO 
Podemos conceituar a sentença stricto sensu como a decisão definitiva que o juiz
profere solucionando a causa. 
As sentenças em sentido estrito podem ser classificadas como: 
1. CONDENATÓRIA Î São aquelas que acolhem a pretensão punitiva estatal,
ainda que parcialmente. Podem ter como efeitos a prisão do réu, a inserção do 
nome do réu no rol dos culpados, obrigação de reparar o dano etc. 
2. ABSOLUTÓRIAS Î São aquelas que não acolhem a pretensão punitiva estatal.
Podem ter como efeito a colocação imediata do réu em liberdade, a devolução 
da fiança etc. 
As sentenças absolutórias dividem-se em: 
a. PRÓPRIAS Î Quando não acolhem a pretensão punitiva, não impondo
qualquer restrição ao acusado. 
b. IMPRÓPRIAS Î Quando, apesar de absolutórias, impõe ao réu medida
restritiva, qual seja a medida de segurança. 
3. TERMINATIVAS DE MÉRITO Î São aquelas que julgam o mérito da causa,
sem, contudo, condenar ou absolver o acusado. É o que ocorre na sentença 
que declara a extinção da punibilidade. 
Por fim, cabe ressaltar que, quanto ao órgão que profere as sentenças, podemos
classificá-las em: 
1. SUBJETIVAMENTE SIMPLES Î Quando proferidas por apenas um juiz (juízo
monocrático ou singular). 
2. SUBJETIVAMENTE PLÚRIMAS Î Quando proferidas pelos órgãos colegiados
homogêneos. Exemplo: acórdão que, julgando apelação da defesa, absolve o 
réu. 
 
 
 
 
 
 
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3. SUBJETIVAMENTE COMPLEXAS Î são aquelas que resultam do
pronunciamento simultâneo de mais de um órgão monocrático, importando em 
prevalência do que for decidido pela maioria. Exemplo: Tribunal do júri. 
 9.1.3 REQUISITOS FORMAIS
A sentença tem certas formalidades que precisam ser observadas, sob pena, até
mesmo, de sua anulação. Por ser um ato jurídico de extrema importância, está sujeita
ao perfeito atendimento dos seguintes requisitos formais: 
1. RELATÓRIO (EXPOSIÇÃO OU HISTÓRICO) Î Resumo do processo com o
histórico da sua marcha e seus incidentes mais importantes. 
O CPP exige: o nome das partes (ou as indicações possíveis para identificá-las) e
a exposição sucinta da acusação e da defesa. 
A ausência do nome da vítima ou da data do crime, por exemplo, não é causa de
nulidade da sentença (erro material). 
Art. 381. A sentença conterá: 
I - os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações
necessárias para identificá-las; 
II - a exposição sucinta da acusação e da defesa; 
2. FUNDAMENTAÇÃO (OU MOTIVAÇÃO) Î Desenvolvimento do raciocínio do juiz
para chegar à conclusão, mediante a análise das provas dos autos. 
Exame do fato em sua amplitude e pormenores juridicamente apreciáveis e do
direito aplicável à espécie. 
O CPP exige a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a
decisão. Sentença vazia é aquela possível de anulação por falta de
fundamentação. 
OBSERVAÇÃO 
A LEI Nº 9.099/95, AO DISPOR SOBRE OS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS,
PREVÊ QUE É DISPENSÁVEL O RELATÓRIO NOS CASOS DE SUA
COMPETÊNCIA. ASSIM, PODEMOS AFIRMAR QUE REPRESENTA UMA
EXCEÇÃO AO ART. 381, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. 
 
 
 
 
 
 
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Art. 381. A sentença conterá: 
[...] 
III - a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a
decisão; 
Cabe ressaltar que, não é necessário que o magistrado, na sentença, transcreva
toda a argumentação das partes, mas apenas que, sucintamente, exponha os fatos
para não causar prejuízo a estas. 
3. CONCLUSÃO (DECISÃO OU DISPOSITIVO) Î Dispositivo final de indicação dos
artigos de lei aplicados e outros dispositivos. É a subsunção da espécie à lei. 
Art. 381. A sentença conterá: 
[...] 
IV - a indicação dos artigos de lei aplicados;
V - o dispositivo; 
Parte autenticada - data e assinatura do juiz. 
FUNDAMENTAÇÃO “PER RELAZIONE” 
Denomina-se fundamentação "per relazione" aquela em que o juiz ou Tribunal
adota como suas as razões de decidir ou de argumentar de outra decisão
judicial ou de alguma manifestação da parte ou do Ministério público,
enquanto custos legis. 
Embora deva ser evitada, tal prática não nulifica a sentença ou acórdão, uma
vez que, feita a menção, é como se a fundamentação referida estivesse
sendo incorporada à decisão, ou seja, como se estivesse sendo citada entre
aspas, não podendo ser acoimada de carente de motivação. 
Ex.: "O Tribunal de Justiça de São Paulo nega provimento ao apelo do réu,
mantendo a r. Sentença condenatória, pelos seus próprios e judiciosos
fundamentos, os quais são adotados neste acórdão como razão de decidir,
sem necessidade de qualquer acréscimo". 
 
 
 
 
 
 
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 9.1.3 SENTENÇA SUICIDA
Conforme o aplaudido professor Fernando Capez, a sentença suicida é a
denominação dada quando a parte dispositiva - ou seja, de conclusão - do provimento
sentencial contraria as razões invocadas na fundamentação. 
Esse tipo de sentença é nula dependendo da amplitude do seu vício, ou estará sujeita
a oposição de embargos de declaração de cunho infringente (art. 382 do CPP) para a
correção de erros conclusivos decorrente da contradição. 
Art. 382. Qualquer das partes poderá, no prazo de 2 (dois) dias, pedir ao
juiz que declarea sentença, sempre que nela houver obscuridade,
ambigüidade, contradição ou omissão. 
Cabe ressaltar que você não deve confundir a sentença suicida com a sentença
vazia. Trata-se, esta última, de sentença que não incorpora a necessária
fundamentação, afrontando o art. 93, IX, da Constituição Federal e o art. 381, III e IV,
do Código Processual Penal. 
 9.1.4 PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO (CONGRUÊNCIA)
O princípio da correlação determina que deve haver adequação entre o fato narrado
na denúncia e aquele pelo qual o réu é condenado. 
Assim, por exemplo, réu denunciado pela prática de crime de roubo não pode, sem
obediência ao disposto no art. 384 do CPP (analisarmos mais a frente), ser
condenado pela prática de receptação, o que viola o princípio da correlação entre a
denuncia e a sentença, garantia fundamental do acusado, que não pode ser
condenado por crime não descrito na peça acusatória. 
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova
definição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos
de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação,
o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5
(cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em
crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito
oralmente. 
Com esse entendimento, o TJMG, dando provimento a recurso interposto pelo
Ministério Público de Montes Claros, anulou decisão de primeiro grau em que o
julgador havia condenado pela prática de receptação um réu denunciado pela prática
de roubo. 
 
 
 
 
 
 
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Sustentou o Ministério Público no seu arrazoado recursal, em síntese, que houve
violação ao princípio da correlação entre acusação e sentença, com ofensa aos
princípios do contraditório, ampla defesa e do devido processo legal, uma vez que a
denúncia relatou ter o denunciado subtraído, para si, mediante grave ameaça um par
de tênis da vítima, enquanto o juízo singelo o condenou nas iras do art. 180 do CP
(receptação), por entender que o réu não participou da subtração da res furtiva e que
a elementar do crime de receptação estaria implícita na denúncia, sem, contudo, abrir,
antes, nova oportunidade para a defesa se pronunciar sobre os novos fatos trazidos
aos autos. 
No mérito, buscou ainda o Parquet a condenação do réu pela prática de roubo
cometido contra a vítima. 
O acórdão foi assim ementado: 
Para que exista a devida correlação, prevê o código de Processo dois institutos que
devem ser observados pelo magistrado, de acordo com o que o caso exigir. É o que
veremos a seguir. 
 9.1.5 EMENDATIO LIBELLI
Emendatio libelli pode ser conceituada como a redefinição judicial da classificação
jurídica contida na peça acusatória, denúncia ou queixa. 
Nesse caso, o juiz analisa os fatos ali descritos e atribui-lhes sua própria definição, de
acordo com sua compreensão sobre eles, adequando-os a um tipo penal diverso do
inicialmente imputado pelo promotor ou querelante. 
O instituto não é recente no ordenamento jurídico brasileiro. O Código de Processo 
Penal já o previa com a seguinte redação: 
APELAÇÃO CRIMINAL - DENÚNCIA PELO DELITO DE ROUBO -
CONDENAÇÃO PELO CRIME DE RECEPTAÇÃO - VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO
DA CORRELAÇÃO - SENTENÇA ANULADA. 
Os fatos descritos na denúncia delimitam o campo de atuação do poder
jurisdicional, coibindo, sob pena de nulidade, julgamento ‘extra’ ou ‘ultra petita’. 
Segundo o princípio da correlação o fato imputado ao réu, na denúncia, deve
guardar correspondência com o fato reconhecido pelo magistrado, na sentença,
sob pena de grave violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa e do
devido processo legal. 
Havendo violação ao princípio da congruência entre a acusação e a sentença,
outra decisão deve ser proferida, com observância do disposto no art. 384 do
CPP. 
(TJMG - AC 1.0433.05.146782-0 - 1a C.Crim. - Rel. Fernando Starling - j. 
26.05.2009) 
 
 
 
 
 
 
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Art. 383. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da que
constar da queixa ou da denúncia, ainda que, em conseqüência, tenha de
aplicar pena mais grave. 
A recente modificação introduzida pela Lei nº 11.719, de 20 de junho de 2008, adotou
a seguinte redação: 
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou
queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em
consequência, tenha de aplicar pena mais grave. 
§ 1º Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver
possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz
procederá de acordo com o disposto na lei. 
§ 2º Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão
encaminhados os autos. 
Com essa alteração, ressaltou-se a IMPOSSIBILIDADE de modificar a descrição
dos fatos descritos na peça acusatória. 
Além disso, foram inseridos os parágrafos 1º e 2º, que apenas consolidaram na
legislação uma prática já adotada pela jurisprudência. Assim, se em decorrência da
nova classificação houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do
processo (art. 89 da lei nº 9.099/95), o magistrado deverá adotar as medidas previstas
para sua propositura (§ 1º). 
Se, entretanto, verificar que se trata de infração da competência de outro juízo,
encaminhará a este os autos (§ 2º). 
Exemplo: A denúncia narra que o sujeito, empregando violência, empurrou a vítima
ao chão e arrebatou a corrente de seu pescoço, tendo o membro do Ministério Público
classificado o fato como furto. Nada impede que o juiz corrija a classificação jurídica
para roubo e condene o réu por tal delito. 
Cabe ressaltar que não há que se pensar em prejuízo para a defesa, pois, o réu se
defende dos fatos e não da classificação legal. 
 9.1.5 MUTATIO LIBELLI
Ao tratar do instituto em tela o art. 384 do CPP dispõe: 
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova
definição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos 
 
 
 
 
 
 
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de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação,
o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5
(cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em
crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito
oralmente. 
§ 1o Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-
se o art. 28 deste Código. 
§ 2o Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido
o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia
e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas,
novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento. 
 Aplicam-se as disposições dos §§ 1o§ 3o e 2o do art. 383 ao caput deste 
artigo. 
§ 4o Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três)
testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença,
adstrito aos termos do aditamento. 
§ 5o Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá. 
Aqui não se trata apenas de mudança na capitulação do delito, mas implica o
surgimento de uma prova nova de elemento ou circunstância da infração penal não
contida na inicial, que altera a definição do fato. 
Ocorrendo esta situação,o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa
subsidiária, no prazo de CINCO dias, podendo arrolar até três testemunhas. 
Em seguida, será ouvido o defensor do acusado, também no prazo de CINCO dias,
podendo arrolar até três testemunhas. 
Caso admita o aditamento, o magistrado, a requerimento de qualquer das partes,
designará dia e hora para a audiência, com inquirição de testemunhas, novo
interrogatório do acusado e realização de debates e julgamento. 
Faz-se mister destacar que a sentença do juiz estará adstrita aos termos do
aditamento. 
Exemplo: Tício é acusado e processado pelo delito de receptação, pois sabia estar na
posse de carro objeto de roubo. Com a descoberta de novas provas, verifica-se que
ele não sabia exatamente, mas deveria saber. Assim, o fato deixou de ser doloso para
culposo, ensejando a medida em estudo. 
Cabe ressaltar que, da mesma forma que tratamos ao estudarmos a Emendatio
Libelli, se em decorrência da nova classificação houver possibilidade de proposta de
suspensão condicional do processo (art. 89 da lei nº 9.099/95), o magistrado deverá
adotar as medidas previstas para sua propositura (§ 1º). 
Se, entretanto, verificar que se trata de infração da competência de outro juízo,
encaminhará a este os autos (§ 2º). 
 
 
 
 
 
 
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Observação: Caso o MP não proceda o aditamento, o juiz encaminhará os autos ao
Procurador Geral, nos termos do art. 28 do CPP (analisamos quando tratamos do
arquivamento do inquérito policial). Relembre: 
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a
denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer
peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as
razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao
procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do
Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento,
ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. 
 9.1.6 EMENDATIO LIBELLI E MUTATIO LIBELLI – CABIMENTO NA 2ª INSTÂNCIA
A Emendatio libelli pode ser feita em 2º grau, salvo se o recurso for exclusivo da
defesa, pois é vedada a reformatio in pejus. 
Apesar de haver divergências, para a sua PROVA, a Mutatio libelli não pode ser
aplicada em segunda instância, nos termos da súmula 453 do STF: 
Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do
código de processo penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao
fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida,
explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa. 
 9.1.7 SENTENÇA ABSOLUTÓRIA
Como vimos, absolutórias são as sentenças que julgam improcedente a pretensão
punitiva. 
A sentença é, então, absolutória quando se julga improcedente a acusação e ocorre
nas hipóteses mencionadas no art. 386 do CPP. 
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte
dispositiva, desde que reconheça: 
I - estar provada a inexistência do fato; 
II - não haver prova da existência do fato; 
III - não constituir o fato infração penal; 
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; 
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; 
 
 
 
 
 
 
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VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de
pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1o do art. 28, todos do Código Penal), ou
mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; 
VII – não existir prova suficiente para a condenação. 
De acordo com o mencionado dispositivo, a absolvição será decretada desde que o
juiz reconheça “estar provada a inexistência do fato” (inc. I). Tendo ficado comprovado
que o fato imputado ao acusado não ocorreu, impõe-se a absolvição. 
Assim, para que haja a absolvição pelo inciso I do referido preceito, é necessário que
fique minudentemente demonstrado que o fato, no qual a denúncia é embasada,
nunca existiu. 
Eis o exemplo clássico da pseudovítima de um homicídio que reaparece sem
apresentar qualquer dano a sua integridade física. Ou um exemplo em que a coisa
que se pretendia ter sido subtraída (furtada), a coisa tida como objeto do furto, é
encontrada posteriormente no interior do automóvel do pseudo-ofendido. 
Também tem lugar a absolvição quando o juiz reconhece “não haver prova da
existência do fato” (inc. II). Nessa hipótese o fato criminoso pode ter sucedido,
acontecido, mas não se esclareceu devidamente a sua ocorrência. 
Exemplificando: na acusação de furto não se comprovou ter havido subtração de
coisa alguma da vítima; na acusação de estupro ou corrupção de menores não haver
elementos seguros na prova pericial de que houve conjunção carnal afirmada pela
vítima. 
É absolvido, ainda, o acusado quando “não constituir o fato infração penal” (inc. III). 
Embora o fato tenha ocorrido, não é ele típico, não está caracterizado por nenhuma
descrição abstrata da lei penal. É a hipótese, por exemplo, de se concluir por fraude
civil em acusação de estelionato, ou de se verificar que a vítima de sedução já tinha
mais de 18 anos na época do fato. 
Pode a absolvição se dar por “estar provado que o réu não concorreu para a infração
penal” (inc. IV) ou por “não haver prova de ter o réu concorrido para a infração penal”
(inc. V). Não ficando evidenciado que o acusado tenha executado o crime ou tenha
participado dele inexiste a prova da autoria ou da participação, o que enseja a sua
absolvição. 
Também é absolvido o acusado quando “existirem circunstâncias que excluam o
crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1o do art. 28, todos do
Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência)”. (inc. VI). 
Refere-se esse preceito às causas excludentes da antijuridicidade ou ilicitude
(justificativas) e às causas excludentes da culpabilidade (dirimentes). 
As causas excludentes de ilicitude são as causas em que não há crime, previstas no
art. 23 do CP (estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever
legal e exercício regular de direito). 
 
 
 
 
 
 
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As causas excludentes da culpabilidade estão previstas nos artigos 21 e 22, 26 e 28
do CP (coação irresistível, obediência hierárquica, inimputabilidade por doença
mental, desenvolvimento mental incompleto e desenvolvimento mental retardado e
embriaguez fortuita completa). 
Por último, o réu deve ser absolvido se “não existir prova suficiente para a
condenação” (inc. VII). 
Neste caso, as provas não são seguras de modo a amparar decisão condenatória;
apesar de existirem provas, elas não autorizam juízo de certeza para condenação. 
Por fim, cabe ressaltar que o réu absolvido pode apelar da decisão definitiva
absolutória para obter a modificação do fundamento legal de sua absolvição quando
preenchido os necessários pressupostos do recurso que são o interesse e a
sucumbência (prejuízo sofrido). 
Assim, por exemplo, se absolvido o réu por insuficiência de prova, pode pretender o
reconhecimento da inexistência do fato ou de não constituir o fato uma infração penal. 
 9.1.7.1 EFEITOS SENTENÇA ABSOLUTÓRIA
Os possíveis efeitos da sentença absolutória estão descritos no parágrafo único do
art. 386 do código de Processo Penal. Segundo o citado dispositivo, na sentençaabsolutória, o juiz: 
9 MANDARÁ, SE FOR O CASO, PÔR O RÉU EM LIBERDADE; 
9 ORDENARÁ A CESSAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES E PROVISORIAMENTE
APLICADAS; 
9 APLICARÁ MEDIDA DE SEGURANÇA, SE CABÍVEL. 
 9.1.8 SENTENÇA CONDENATÓRIA
Como já analisamos, sentença condenatória é aquela que reconhece a
responsabilidade criminal do réu em virtude de infração a uma norma penal
incriminadora, imputando-lhe, em consequência, uma pena. 
Exige, assim, comprovação plena acerca da autoria e da materialidade do crime
imputado, não bastando mero juízo de possibilidade ou probabilidade. 
 
 
 
 
 
 
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 9.1.8.1 EFEITOS SENTENÇA CONDENATÓRIA 
Podemos dividir os efeitos penais da sentença penal em primários (principais) e
secundários (reflexos). 
Vamos começar, analisando os efeitos primários. São eles: 
1. IMPOSIÇÃO DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE, RESTRITIVA DE DIREITOS
OU MULTA Î Dispõe o art. 393, I do Código Penal: 
Art. 393. São efeitos da sentença condenatória recorrível: 
I - ser o réu preso ou conservado na prisão, assim nas infrações
inafiançáveis, como nas afiançáveis enquanto não prestar fiança; 
Com relação ao supra-exposto dispositivo, cabe um importante comentário: 
No que tange às condenações às penas não privativas de liberdade, não há
qualquer dúvida que, no caso de apelação interposta, ficarão suspensas
enquanto não for julgada a apelação interposta em relação à sentença
condenatória. 
Por outro lado, no que diz respeito às penas privativas de liberdade, define o
art. 393, I que o réu será preso ou conservado na prisão, assim nas infrações
inafiançáveis, como nas afiançáveis enquanto não prestar fiança. 
Com o advento da lei nº 11.719/08 a regra da prisão imediata presente no art.
393, I foi tacitamente revogada. No atual regramento, condiciona-se a prisão à
decretação da prisão preventiva, caso presentes os requisitos, ou à
interposição de recurso sem efeito suspensivo após o julgamento da apelação. 
Para finalizar, observe o disposto na súmula 267 do STJ: 
A interposição de recurso sem efeito suspensivo, contra decisão
condenatória não obsta a expedição de mandado de prisão. 
2. INCLUSÃO DO NOME DO RÉU NO ROL DOS CULPADOS Î Encontra previsão
no art. 393, II do Código de Processo Penal: 
Art. 393. São efeitos da sentença condenatória recorrível:
[...] 
II - ser o nome do réu lançado no rol dos culpados. 
 
 
 
 
 
 
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Este dispositivo trata da inclusão do nome do acusado no livro cartorário que
se destina ao nome do condenado, à sua qualificação e à referência ao
processo em que se operou a condenação. 
Segundo o entendimento jurisprudencial, é absolutamente inconstitucional a
previsão do art. 393, ao considerar o lançamento do nome do réu no rol dos
culpados um efeito da sentença condenatória RECORRÍVEL. 
Assim, é pacífico o entendimento de que há obrigatoriedade de sentença
judicial transitada em julgado para que possa ocorrer a inscrição. 
Vamos passar agora ao estudo dos efeitos penais reflexos, também chamados de
secundários: 
1. REVOGAÇÃO DO SURSIS E DO LIVRAMENTO CONDICIONAL Î Uma
condenação transitada em julgado poderá acarretar a revogação do
sursis e do livramento condicional, autorizados devido à condenação em
outro processo. 
2. REINCIDÊNCIA Î O indivíduo apenas será considerado reincidente se
for condenado a fato praticado no máximo até cinco anos após o
cumprimento da pena imposta devido a condenação anterior. 
3. REGRESSÃO DO REGIME CARCERÁRIO. 
4. OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO Î Podemos dizer que a sentença
condenatória vincula o juízo cível. 
Assim, ao transitar em julgado, a sentença assume a característica de
título executivo judicial, podendo ser executada pela vítima ou por seus
herdeiros. 
É importante ressaltar que com o advento da lei nº 11.719/08 o art. 387,
IV do CPP passou a dispor: 
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: 
[...] 
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela
infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido; 
Este arbitramento do quantum indenizatório definido pelo juiz ao proferir
a sentença, apesar de não impedir a vítima de apurar, no juízo cível, o
prejuízo efetivamente sofrido, faz com que a sentença penal assuma, 
 
 
 
 
 
 
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desde logo a função de título executivo líquido, proporcionando que o
ofendido ajuíze, logo apões o trânsito em julgado, a ação de execução. 
5. PERDA EM FAVOR DA UNIÃO, DOS INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA
PRÁTICA DO CRIME, DESDE QUE CONSISTAM EM OBJETOS QUE
ESTEJAM EM SITUAÇÃO DE ILEGALIDADE NOS INSTANTES QUE
ANTECEDERAM A PRÁTICA DA INFRAÇÃO. 
6. PERDA EM FAVOR DA UNIÃO DOS BENS ADQUIRIDOS COM O PRODUTO
DA INFRAÇÃO PENAL 
 9.1.9 INTIMAÇÃO DA SENTENÇA
A sentença é ato jurisdicional pronto e acabado quando o juiz a publica em mão do
escrivão (art. 389) ou quando é assinado o termo de audiência em que foi proferida. 
Art. 388. A sentença poderá ser datilografada e neste caso o juiz a
rubricará em todas as folhas. 
Art. 389. A sentença será publicada em mão do escrivão, que lavrará nos
autos o respectivo termo, registrando-a em livro especialmente destinado
a esse fim. 
A publicação em mão do escrivão é a entrega formal ao serventuário que torna a
sentença pública, devendo, em seguida, haver a intimação das partes, o que, todavia,
não mais interfere em sua integridade. 
A intimação é ato posterior, para conhecimento das partes, mas a sentença já é ato
perfeito e acabado a partir do momento da entrega, devendo o escrivão lavrar termo
de registro em livro próprio. É nessa data que fica interrompida a prescrição,
independentemente da data da futura intimação. 
A intimação, que é ato de comunicação processual, tem por finalidade dar ciência às
partes do teor da sentença, para que possam, se quiserem, recorrer, e para que
possa, inexistindo recurso ou esgotado este, ocorrer a coisa julgada. 
Os arts. 390 a 392 disciplinam a intimação da sentença, instituindo regras que devem
ser observadas estritamente a fim de que ocorra o efeito acima apontado. 
Essas regras devem ser cumpridas independentemente da situação de presença ou
revelia do réu anteriormente no processo, devendo, cada situação prevista, ser
verificada no momento da intimação da própria sentença. 
O primeiro a ser intimado da sentença deve ser o Ministério Público, no prazo de 03
dias, e como nas suas demais intimações deve ela ser feita pessoalmente, com os
autos, neles apondo seu "ciente". 
 
 
 
 
 
 
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O querelante ou o assistente será intimado da sentença, pessoalmente ou na pessoa
de seu advogado. Se nenhum deles for encontrado no lugar da sede do juízo, a
intimação será feita mediante edital com o prazo de 10 dias, afixado no lugar de
costume (art. 391). 
 Art. 391. O querelante ou o assistente será intimado da sentença,
pessoalmente ou na pessoa de seu advogado. Se nenhum deles for
encontrado no lugar da sede do juízo, a intimação será feita mediante
edital com o prazo de 10 dias, afixado no lugar de costume. 
Aintimação da sentença condenatória ao réu obedece às regras do art. 392, que
prevê situações específicas com procedimentos específicos e que não podem ser
substituídos, sob pena de a sentença não transitar em julgado. Assim, vamos verificar
o texto legal e,posteriormente, analisar o dispositivo: 
Art. 392. A intimação da sentença será feita: 
I - ao réu, pessoalmente, se estiver preso; 
II - ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, quando se
livrar solto, ou, sendo afiançável a infração, tiver prestado fiança; 
III - ao defensor constituído pelo réu, se este, afiançável, ou não, a
infração, expedido o mandado de prisão, não tiver sido encontrado, e
assim o certificar o oficial de justiça; 
IV - mediante edital, nos casos do no II, se o réu e o defensor que houver
constituído não forem encontrados, e assim o certificar o oficial de justiça; 
V - mediante edital, nos casos do no III, se o defensor que o réu houver
constituído também não for encontrado, e assim o certificar o oficial de
justiça; 
VI - mediante edital, se o réu, não tendo constituído defensor, não for
encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça. 
§ 1o O prazo do edital será de 90 dias, se tiver sido imposta pena privativa
de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, e de 60 dias, nos
outros casos. 
§ 2o O prazo para apelação correrá após o término do fixado no edital,
salvo se, no curso deste, for feita a intimação por qualquer das outras
formas estabelecidas neste artigo. 
As situações são as seguintes: 
1. Se o réu estiver preso a intimação será sempre pessoal. 
Mas e se o acusado estava solto e durante o andamento de outra forma de
citação vem a ser preso: 
 
 
 
 
 
 
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Neste caso, sendo preso, a intimação pessoal passa a ser obrigatória. 
2. Se o réu estiver solto e não for expedido mandado de prisão, a intimação será
feita ou ao réu pessoalmente, ou ao defensor constituído. 
O inc. II do art. 392 refere à prestação de fiança e a hipótese de o acusado
livrar-se solto, apenas. Com as modificações ocorridas no sistema da liberdade
provisória, devemos entender o dispositivo como aplicável a todas as hipóteses
em que não é expedido mandado de prisão, ainda que fora das hipóteses
originariamente previstas. 
A intimação, no caso, é alternativa, e, se feita em ambas as pessoas, não tem
ordem determinada, mas o prazo de recurso começa a correr a partir da última. 
3. Se foi expedido mandado de prisão e o acusado não foi encontrado, faz-se a
intimação na pessoa do advogado constituído. O oficial de justiça, no caso,
deve certificar que o acusado não foi encontrado, concluindo-se, pois, que
deve ser tentada, primeiro, a intimação pessoal. 
4. Nas demais situações não previstas expressamente nos itens anteriores, a
intimação far-se-á por edital, e essas situações são as seguintes: 
9 Não foi expedido mandado de prisão e não é encontrado nem o réu nem
o defensor constituído, após certificar essas ocorrências o oficial de
justiça; 
9 Foi expedido mandado de prisão e não se encontra o réu nem o
advogado constituído, assim certificando o oficial de justiça; 
9 O acusado não tem defensor constituído e não é encontrado, com
certidão do oficial de justiça. 
Nesta última situação, o advogado dativo pode e deve ser intimado, podendo,
também, recorrer, mas a intimação do dativo não dispensa a intimação do réu,
pessoalmente ou por edital. Se a intimação do réu, por uma dessas formas, não for
feita, a sentença não transitará em julgado e o eventual recurso do dativo não poderá
ser examinado enquanto ela não se efetivar. 
No caso de necessidade de intimação por edital, o seu prazo será de 90 dias se tiver
sido imposta pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano e de
60 dias nos outros casos. 
O prazo para apelação corre após o término do prazo fixado no edital, salvo se, no
curso deste, for feita a intimação por uma das outras formas, pessoalmente ao réu ou
ao constituído, formas de intimação que têm precedência. 
No direito brasileiro não existe o processo contumacial como concebido na legislação
italiana, na qual a sentença. resultante de processo que se desenvolveu à revelia, tem
meios diferentes e mais amplos de impugnação. 
 
 
 
 
 
 
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Assim, feita a citação por edital, nos casos e obedecidas as formalidades legais, bem
como feita a intimação correta da sentença, esta tem a mesma eficácia e pode sofrer
os mesmos meios de impugnação da sentença produzida em processo que se
desenvolveu em contraditório pleno. 
9.2 DAS EXCEÇÕES 
 9.2.1 CONCEITO
A análise etimológica do vocábulo ‘exceção’ demonstra sua derivação do latim
‘exceptio’ que, em amplo sentido, significa o direito do acusado de se defender. 
Em sentido estrito, Fernando Capez conceitua exceção “como o meio pelo qual o
acusado busca a extinção do processo sem o conhecimento do mérito”. 
Entretanto, há de se estender a legitimidade ao Ministério Público e ao querelante
que, em certos casos, como se verá adiante, poderão se valer de determinas
exceções. Portanto, segundo Mirabete, “de maneira geral, a argüição das exceções
constitui incidente processual próprio da defesa, mas é possível que também o autor
possa opô-la”. 
No processo penal permite-se que o acusado se defenda diretamente, quando, por
exemplo, nega em seu interrogatório a autoria do fato que lhe foi imputado, e
indiretamente nas hipóteses em que sua manifestação é capaz de extinguir, modificar
ou impedir a pretensão deduzida pelo autor, ou simplesmente prorrogá-la, dilatá-la,
protelá-la ou adiá-la. 
Nestes últimos casos o acusado utiliza-se das denominadas exceções (stricto sensu),
elencadas nos cinco incisos do artigo 95 do Código de Processo Penal (CPP). 
Art. 95. Poderão ser opostas as exceções de: 
I - suspeição; 
II - incompetência de juízo; 
III - litispendência; 
IV - ilegitimidade de parte; 
V - coisa julgada. 
São, portanto, exceções as que se referem à suspeição e incompetência do juízo,
litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada. 
Não obstante inexistir naquele rol a figura da exceção de impedimento, esta se
encontra fulcrada em uma das conjecturas do artigo 252 do Diploma Processual
Penal, portanto, plenamente admissível sua ocorrência. 
 
 
 
 
 
 
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 9.2.2 ESPÉCIES
As exceções podem ser peremptórias ou dilatórias. 
Aquelas exceções que põem fim à relação jurídica, se acolhidas, são chamadas de
peremptórias. Já as que meramente ocasionam a extensão do curso processual são
conhecidas por dilatórias. 
Dentre as primeiras tem-se a exceção de coisa julgada e litispendência e, quanto à
segunda espécie, podem-se relacionar as demais (suspeição, impedimento e
incompetência do juízo). 
A exceção de ilegitimidade de parte poderá ser considerada peremptória ou dilatória
se se referir à titularidade do direito de ação ou à capacidade de exercício, pois nesta
derradeira hipótese é possível a ratificação por quem de direito, o que não ensejará o
término da respectiva ação penal até mesmo por questão de economia e celeridade
processual, respeitados todos os direitos e garantias constitucionais da defesa. 
 9.2.3 EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO
Esta exceção tem por finalidade a rejeição do dirigente processualquando existirem
razões suficientes para que se infira por sua parcialidade diante do caso que lhe fora
apresentado. 
Assim, havendo algum interesse ou sentimento pessoal capaz de interferir na solução
da situação em deslinde, caso o magistrado não se dê por suspeito, poderá as partes
recusá-lo. Relembre, abaixo, as hipóteses de suspeição que tratamos quando
analisamos os sujeitos processuais: 
Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser
recusado por qualquer das partes: 
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles; 
II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo
a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja
controvérsia; 
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro
grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de
ser julgado por qualquer das partes; 
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; 
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes; 
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no
processo. 
Podemos dizer que a imparcialidade do juiz deriva de sua equidistância em relação
às partes. Greco Filho relata que isso ocorre em razão “do sistema legal do processo, 
 
 
 
 
 
 
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que adotou o chamado sistema acusatório, no qual são distintos o órgão acusador e o
órgão julgador”. 
Vamos passar agora, especificamente, a analise do rito procedimental quando da
alegação ou verificação da exceção de suspeição. 
Pode o magistrado dar-se por suspeito sem provocação das partes, isto é, ex officio,
caso em que deverá fundamentar sua decisão e providenciar a remessa dos autos ao
seu substituto legal, intimando as partes. 
Art. 97. O juiz que espontaneamente afirmar suspeição deverá fazê-lo
por escrito, declarando o motivo legal, e remeterá imediatamente o
processo ao seu substituto, intimadas as partes. 
Já na hipótese de a parte alegar a exceção de suspeição, deverá fazê-la por petição
escrita e devidamente assinada por ela ou por procurador dotado de poderes
especiais. 
Art. 98. Quando qualquer das partes pretender recusar o juiz, deverá
fazê-lo em petição assinada por ela própria ou por procurador com
poderes especiais, aduzindo as suas razões acompanhadas de prova
documental ou do rol de testemunhas. 
Neste caso, cabe destacar que tal exceção deverá preceder às demais na avaliação,
salvo quando fundada em motivo superveniente. Tal procedimento é imprescindível,
pois a verificação das “demais exceções pressupõem um juiz isento”. 
Art. 96. A argüição de suspeição precederá a qualquer outra, salvo
quando fundada em motivo superveniente. 
A processualização desta exceção se inicia com a apresentação da petição ou da
resposta à acusação (art. 98 e 369-A, CPP) perante o juiz (excepto). 
A tramitação será em apartado e se o magistrado admiti-la de plano determinará a
remessa dos autos principais ao substituto legal, prosseguindo normalmente o feito. 
Art. 99. Se reconhecer a suspeição, o juiz sustará a marcha do processo,
mandará juntar aos autos a petição do recusante com os documentos que
a instruam, e por despacho se declarará suspeito, ordenando a remessa
dos autos ao substituto. 
Caso o juiz não admita a suspeição, além de determinar a autuação em apartado,
oferecerá resposta em três dias, juntando documentos e indicando testemunhas se
houver. No prazo de 24 horas os autos serão remetidos ao Tribunal de Justiça que
poderá rejeitar liminarmente a exceção, prosseguindo a ação penal perante o juízo de
primeiro grau. 
 
 
 
 
 
 
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Art. 100. Não aceitando a suspeição, o juiz mandará autuar em apartado
a petição, dará sua resposta dentro em três dias, podendo instruí-la e
oferecer testemunhas, e, em seguida, determinará sejam os autos da
exceção remetidos, dentro em 24 vinte e quatro horas, ao juiz ou tribunal
a quem competir o julgamento. 
Se o Tribunal reconhecer a relevância da exceção, mandará citar as partes e marcará
data para inquirição das testemunhas. Após, será realizado o julgamento. 
Art. 100 [...] 
§ 1o Reconhecida, preliminarmente, a relevância da argüição, o juiz ou
tribunal, com citação das partes, marcará dia e hora para a inquirição das
testemunhas, seguindo-se o julgamento, independentemente de mais
alegações. 
§ 2o Se a suspeição for de manifesta improcedência, o juiz ou relator a
rejeitará liminarmente. 
Reconhecendo a improcedência, os autos serão devolvidos ao juiz (excepto) e
havendo malícia do excipiente a este será imposta multa. 
Se procedente a exceção, serão declarados nulos os atos processuais e os autos
remetidos ao substituto legal daquele juiz. Neste caso, havendo erro inescusável do
juiz este pagará as custas. 
Art. 101. Julgada procedente a suspeição, ficarão nulos os atos do
processo principal, pagando o juiz as custas, no caso de erro inescusável;
rejeitada, evidenciando-se a malícia do excipiente, a este será imposta a
multa de duzentos mil-réis a dois contos de réis. 
A exceção somente suspenderá o curso do processo principal se a parte ex adversa
reconhecer a procedência da arguição e requerer o sobrestamento do feito até que se
julgue o incidente. 
Art. 102. Quando a parte contrária reconhecer a procedência da
argüição, poderá ser sustado, a seu requerimento, o processo principal,
até que se julgue o incidente da suspeição. 
Entretanto, ante a ausência de expressa indicação do momento em que será ofertada
oportunidade à parte contrária de se manifestar sobre a exceção de suspeição,
entende-se que o dirigente processual deverá, antes de apresentar sua resposta,
intimar aquela parte para que se manifeste sobre o incidente. 
 
 
 
 
 
 
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Evita-se assim o prosseguimento infrutífero do feito principal, já que, se for suspenso
ab initio, com o eventual reconhecimento da exceção pelo juízo de segundo grau não
haverá atos processuais a serem declarados nulos. Evitar-se-á, por conseguinte, a
prática desnecessária de atos com carga decisória. 
 9.2.4 EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA DE JUÍZO
É a segunda exceção prevista no art. 95 do CPP e fundamenta-se na ausência de
capacidade funcional do juiz. Tal exceção, denominada declinatória fori, é regulada
pelos arts. 108 e 109 do CPP, podendo ser oposta por escrito ou oralmente no prazo
de defesa. 
Art. 108. A exceção de incompetência do juízo poderá ser oposta,
verbalmente ou por escrito, no prazo de defesa. 
Cabe ressaltar que a incompetência poderá ser absoluta ou relativa. 
A primeira ocorre quando é impossível sua prorrogação, não podendo o julgador, de
forma alguma, atuar no caso. É o que se identifica quando a competência é
determinada pela natureza da infração (em razão da matéria) ou pela prerrogativa de
função, que poderá ser reconhecida a qualquer momento, mesmo após o trânsito em
julgado, salvo se proferida sentença absolutória. 
Por sua vez, a incompetência relativa admite que o órgão judicante aprecie o evento
que lhe fora submetido, pois, se não reconhecida por este, ex officio ou por arguição
do interessado, não é capaz de gerar prejuízo aos sujeitos processuais antitéticos,
valendo-se, portanto, os atos processuais praticados. É o que acontece quando a
competênciafor territorial. 
Vamos agora passar à análise dos aspectos processuais: 
Havendo a incompetência, o dirigente processual deverá, de ofício, declará-la, caso
contrário, poderá ser arguida a respectiva exceção. 
Art. 109. Se em qualquer fase do processo o juiz reconhecer motivo que
o torne incompetente, declará-lo-á nos autos, haja ou não alegação da
parte, 
Há doutrinadores que não admitem a oposição da exceção de incompetência pelo
autor da demanda. Assim, para estes, antes de intentar a ação penal o sujeito ativo
deverá requerer a remessa dos autos ao juízo competente. Contudo, leciona Mirabete
que: 
“... é pacífico na doutrina que, a despeito da denúncia, pode o Ministério Público ao
reconhecer no curso do processo a incompetência do Juízo, oferecer a declinatori fori.
A menção no artigo à “parte” e mesmo a posição do Ministério Público como fiscal da 
 
 
 
 
 
 
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lei não podem conduzir a outra solução, máxime quando se trata de incompetência
absoluta.” 
Portanto, admite-se a interposição da exceção pelo acusado, querelante e pelo
Ministério Público, quando atuar como parte ou fiscal da lei. 
Como vimos, a arguição poderá ser oral ou por escrito e será dirigida ao próprio juiz
da causa. Ao recebê-la, após a redução a termo no caso de ter sido apresentada
oralmente, o magistrado determinará sua autuação em apartado e a oitiva do
representante do Ministério Público, se não for ele o proponente, cabendo ressaltar
que não há prazo predeterminado no Código para tal manifestação. 
Após, seguem os autos conclusos para a apreciação da exceção. Se rejeitada,
permanecerá o juiz no feito, inexistindo na Lei previsão de recurso próprio,
remanescendo, contudo, a possibilidade de habeas corpus. Se acolhida a exceção, o
feito será remetido ao juízo competente, sendo que da decisão caberá recurso em
sentido estrito (art. 581, II, CPP). 
Art. 108 [...] 
§ 1o Se, ouvido o Ministério Público, for aceita a declinatória, o feito será
remetido ao juízo competente, onde, ratificados os atos anteriores, o
processo prosseguirá. 
§ 2o Recusada a incompetência, o juiz continuará no feito, fazendo tomar
por termo a declinatória, se formulada verbalmente. 
É oportuno destacar que a exceção referente à incompetência relativa deverá ser
arguida no prazo da defesa ou na primeira oportunidade dada ao interessado para
que se manifeste nos autos, sob pena de preclusão, caso em que ocorrerá a
prorrogação da competência. Se referir à incompetência absoluta, poderá ser oposta
em qualquer fase do processo e a qualquer tempo. 
 9.2.5 EXCEÇÃO DE LITISPENDÊNCIA
Ocorre litispendência quando uma ação repete outra em curso. No processo penal
isso se verifica sempre que a imputação atribuir ao acusado, mais de uma vez, em
processos diferentes, a mesma conduta delituosa. 
Tem como fundamento o princípio de que ninguém pode ser julgado duas vezes pelo
mesmo fato: princípio do non bis in idem. Nesse caso, prevê a lei a exceção de
litispendência, evitando-se o trâmite em paralelo de dois processos iguais. 
 
 
 
 
 
 
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Não há prazo para que seja suscitada, já que importa em nulidade absoluta. 
Quanto ao procedimento, a exceção de litispendência seguirá o mesmo rito da
exceção por incompetência. 
Art. 110. Nas exceções de litispendência, ilegitimidade de parte e coisa
julgada, será observado, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre a
exceção de incompetência do juízo. 
Assim, será oposta junto ao juiz da causa principal, o qual mandará autuá-la em
apartado, decidindo após oitiva da outra parte e do Ministério Público. Cabe ressaltar
que no decorrer da tramitação da exceção, não haverá suspensão do processo
criminal. 
Art. 111. As exceções serão processadas em autos apartados e não
suspenderão, em regra, o andamento da ação penal. 
 9.2.6 EXCEÇÃO DE ILEGITIMIDADE DE PARTE
A ilegitimidade de parte poderá ser reconhecida ex officio pelo juiz ou através de
provocação do acusado. 
A maioria de nossos doutrinadores entende que esta exceção abrange tanto a
ilegitimidade ad causam (titularidade da ação) como a ilegitimidade ad processum
(capacidade processual). 
Dessa forma, há de se reconhecer como causas que justificam a arguição da
exceção, dentre outras, as seguintes: 
Observação 
Não é cabível a litispendência no caso de inquérito policial. Assim, no caso de
dois inquéritos para apurar o mesmo fato, o investigado poderá impetrar habeas
corpus ou mandado de segurança com a finalidade de trancar o inquérito que
por último foi aberto. 
 
 
 
 
 
 
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9 Quando é oferecida a queixa-crime no caso de ação penal pública. Insta
lembrar que é cabível o oferecimento da queixa, no caso de ação
originariamente pública, quando o Ministério Público deixar transcorrer in
albis o prazo legal para a propositura da ação; 
9 Quando é ofertada a denúncia no caso de ação penal privada; 
9 Na hipótese de ser o querelante incapaz; 
9 Se o querelante não for o representante legal do ofendido; 
9 Quando na ação privada personalíssima, cujo único caso, atualmente, é o do
artigo 236 do Diploma Penal, a queixa é oferecida pelo sucessor da vítima. 
 
Quanto ao procedimento, seguirá o mesmo rito da exceção de incompetência (art.
110, caput, CPP), não havendo suspensão do processo e nem prazo para sua
arguição. 
Antes de apreciada a exceção pelo magistrado, deverá se proceder à oitiva do
representante do Parquet e também do querelante, na hipótese de a ação ter sido por
ele iniciada. 
 9.2.7 EXCEÇÃO DE COISA JULGADA 
Em simples termos, pode-se conceituar a coisa julgada como “uma qualidade dos
efeitos da decisão final, marcada pela imutabilidade e irrecorribilidade”. 
Assim, se for julgada a questão em um determinado processo e nenhuma das partes
interpuser recurso, ou se este for manejado, mas não conhecido ou denegado e não
houver nova manifestação de inconformismo, ter-se-á, em regra, a imutabilidade da
decisão final. 
Agora, caro(a) aluno(a), um questionamento: Por que eu utilizei a expressão “em
regra” no parágrafo acima? (Pense na aula anterior para responder). 
Diz-se “em regra” porque ela (a sentença) poderá ser passível de alteração, no caso
de condenação, através da revisão criminal (art. 621 e seg., CPP). 
Assim, existindo o trânsito em julgado de uma decisão, não será possível a
propositura de outra ação com base na mesma conduta criminosa e com identidade
de partes e do pedido, sob pena de violar o princípio da proibição de dupla punição
pelo mesmo fato. 
Findo o processo, mediante sentença condenatória ou absolutória irrecorrível, o
simples surgimento de um novo já acarreta prejuízo para o acusado, pois o desgaste
pessoal ao ver-se novamente incriminado sub judice é suficiente para que se estenda
a regra do non bis in idem. 
 
 
 
 
 
 
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É conveniente destacar a diferença de cunho acadêmico-doutrinária entre coisa
julgada formal e material. Norberto Avena diferencia os dois institutos da seguinte
forma: 
Coisa julgada formal Î É a imutabilidade da decisãojudicial provocada pela
natureza irrecorrível, ou pela não-interposição do recurso cabívl no prazo legal, ou 
pelo esgotamento de todas as vias impugnativas possíveis. 
A coisa julgada formal não produz qualquer reflexo em relações processuais futuras,
ainda que versem sobre o mesmo fato e o mesmo sujeito passivo. 
Em verdade, traduz-se como um fenômeno puramente processual, não envolvendo
ou decorrendo, necessariamente, do exame de aspectos atinentes ao mérito. Acarreta
simplesmente a impossibilidade de ser revista a decisão judicial que a gerou. 
Tendo em vista este contexto e considerando a ausência de projeção de seus efeitos
em outros processos, descabe a sua arguição pormeio de exceção de coisa julgada. 
Coisa julgada material Î É a imutabilidade dos efeitos substanciais da sentença
de mérito, fazendo com que um juiz esteja obrigado a respeitar a decisão proferida no 
âmbito de outro processo. Assim, a coisa julgada material produz reflexos em
relações processuais distintas que envolvam o mesmo fato e o mesmo réu. 
A distinção entre coisa julgada material e formal consiste, portanto, no fato de que a
primeira é a imutabilidade dos efeitos da sentença, impedindo a prática de qualquer
ato estatal, processual ou não, que venha a atingí-los, enquanto que a segunda
refere-se à decisão judicial como ato processual impassível de revisão em face da
preclusão das vias impugnativas. Portanto, apenas a coisa julgada material poderá
ser objeto de exceção de coisa julgada. 
Quanto ao procedimento, seguirá o mesmo rito da exceção de incompetência (art.
110, caput, CPP), não havendo suspensão do processo e nem prazo para sua
arguição. 
9.3 PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES CONTRA A HONRA 
Antes de tudo, a fim de introduzir o tema, cabe um panorama geral dos chamados crimes
contra a honra. 
O Cap. V do Título I da Parte Especial do Código Penal Brasileiro trata “Dos Crimes
Contra a Honra”, definindo condutas delituosas do art. 138 ao 141. 
Na definição de Victor Eduardo Gonçalves, a honra “é o conjunto de atributos morais ,
físicos e intelectuais de uma pessoa , que a tornam merecedora de apreço no convívio
social e que promovem a sua auto-estima”. 
 
 
 
 
 
 
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 O conceito de honra abrange tanto aspectos objetivos quanto subjetivos: 
Objetivos Î Representam o que terceiros pensam a respeito do sujeito, ou seja, trata da
reputação do indivíduo. 
Subjetivos Î Representam o juízo que o sujeito faz de si mesmo, ou seja, seu amor-
próprio. 
Ao tratar dos crimes contra honra, o legislador penal definiu três espécies de delito.
Vamos analisá-los: 
CALÚNIA Î Consiste em atribuir falsamente a alguém a responsabilidade pela
prática de um fato determinado definido como crime. Encontra previsão no art. 138 do 
Código Penal: 
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como
crime: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 
É possível que o sujeito se livre do crime de calúnia, bastando para isso que
PROVE o fato imputado a outrem!!! Trata-se da chamada exceção da verdade,
situação em que o réu terá o direito de comprovar que o que disse é a mais pura
verdade. 
Imagine, por exemplo, que Tício diz a todos que Mévio roubou o carro de Caio e,
devido a isso, é processado por calúnia. Caso Tício prove, através de filmagens das
câmeras de segurança de uma loja, que o fato realmente ocorreu, atípica será sua
conduta. 
Assim, podemos afirmar que, regra geral, a exceção da verdade é admitida no crime
de calúnia. Ocorre, todavia, que, segundo o parágrafo 3º do art. 138, nos seguintes
casos não será admitida a exceção da verdade: 
DIFAMAÇÃO Î Consiste em atribuir a alguém fato determinado, ofensivo à sua
reputação. Seria o caso, por exemplo, de Tício dizer que Mévio foi trabalhar 
embriagado. Encontra previsão no art. 139 do Código Penal: 
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. 
 
 
 
 
 
 
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A calúnia se aproxima da difamação por atingirem a honra objetiva de alguém através
da imputação de um fato, por se consumarem quando terceiros tomam conhecimento
de tal imputação (crimes formais), por admitirem a tentativa na modalidade escrita e
por permitirem a retratação total, até a sentença de 1a Instância, do querelado. 
Porém, diferenciam-se pelo fato da calúnia exigir que a imputação do fato seja falsa e,
além disso, que este seja definido como crime, o que não ocorre na difamação. 
Assim, se Tício diz que Mévio foi trabalhar embriagado, pouco importa se tal fato é
verdadeiro ou não, afinal, a intenção do legislador no delito de difamação foi deixar
claro que as pessoas não devem fazer comentários desabonadores de que tenham
conhecimento sobre essa ou aquela pessoa. 
Observação Î A exceção da verdade não é regra na difamação!!! Segundo o
parágrafo único do art. 139, a difamação só admite a exceção da verdade se o
ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. O
fundamento desta possibilidade reside no resguardo da honorabilidade do exercício da
função pública. 
Essa excepcionalidade da exceção da verdade ocorre porque na difamação é
irrelevante se o fato é falso ou verdadeiro. 
INJÚRIA Î Consiste em atribuir a alguém qualidade negativa que ofenda sua
dignidade ou decoro. Atinge a honra SUBJETIVA do sujeito. Assim, se Tício chama 
Mévio de ladrão, imbecil, burro, feio etc., constitui crime de injúria. Encontra previsão
no art. 140 do Código Penal. Observe: 
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Perceba que na injúria não há ATRIBUIÇÃO DE FATO, mas de QUALIDADE
NEGATIVA ao sujeito. Desta forma, se Tício diz: “Mévio roubou o carro de Caio”,
temos o crime de calúnia. Todavia, se a frase é: “Mévio é ladrão”, temos o delito de
injúria. 
 9.3.1 APLICABILIDADE
É o rito aplicado aos crimes de calúnia, injúria e difamação, quando se trata de 
AÇÃO PENAL PRIVADA. 
Assim, não abrange os crimes contra a honra do Presidente da República (CP, art.
141, I), crimes contra a honra de funcionário público no exercício da função (CP, art.
141, II), além da injúria real (CP, art. 140, § 2º). 
 
 
 
 
 
 
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 9.3.2 ATOS QUE COMPÕE O RITO 
1. AJUIZAMENTO DA AÇÃO PENAL E AUDIÊNCIA DE RECONCILIAÇÃO:
antes de receber a queixa, o juiz oferecerá às partes oportunidade para se
reconciliarem, fazendo-as comparecer em juízo e ouvindo-as,
separadamente, sem a presença dos seus advogados, não se lavrando
termo (art. 520). 
Art. 520. Antes de receber a queixa, o juiz oferecerá às partes
oportunidade para se reconciliarem, fazendo-as comparecer em juízo e
ouvindo-as, separadamente, sem a presença dos seus advogados, não
se lavrando termo. 
Cabe ressaltar que a ausência da audiência de conciliação constitui nulidade
processual, pois tal solenidade é condição de procedibilidade da ação penal. 
Mas, e se o querelado não comparecer na citada audiência? 
Neste caso, deve o juiz entender que ele não deseja a conciliação e
prosseguir, normalmente, com o rito procedimental. 
2. RECONCILIAÇÃO: Se, depois de ouvir o querelante e o querelado, o
juiz achar provável a reconciliação, promoveráentendimento entre eles, na 
sua presença. No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante
o termo da desistência, a queixa será arquivada (arts. 521 e 522). 
3. RECEBIMENTO DA QUEIXA-CRIME, CITAÇÃO E RESPOSTA: caso
não haja reconciliação, o magistrado deverá verificar se é caso de rejeição
liminar (art. 395). Caso não seja, deverá receber a queixa, determinando a
citação do acusado para responder à acusação em dez dias (arts. 396 e
396-A), oportunidade esta em que poderá o advogado argüir preliminares e
alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e
justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas,
qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. 
4. EXCEÇÃO DA VERDADE: no prazo definido para a apresentação da
resposta, poderá o querelado apresentar exceção da verdade (calúnia) ou 
exceção da notoriedade do fato (pertinente ao crime de difamação praticado
contra funcionário público no exercício da função). 
A exceção deverá ser apresentada até o final do prazo da resposta,
precluindo logo após, sendo juntada aos próprios autos do processo
criminal, ao contrário do que ocorre com as demais exceções, que, como
vimos nesta aula são autuadas em apartado. 
 
 
 
 
 
 
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5. Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do
fato imputado, o querelante poderá contestar a exceção no prazo de dois
dias, podendo ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou outras
indicadas naquele prazo, em substituição às primeiras, ou para completar o
máximo legal (art. 523). 
6. PROSSEGUIMENTO SEGUNDO O RITO ORDINÁRIO ÎApós a
resposta do acusado, e, conforme o caso, apresentação de exceção da
verdade, caberá ao magistrado analisar a possibilidade de absolvição
sumária do acusado. 
Se o magistrado não absolver sumariamente o acusado, designará
audiência, a ser realizada no prazo máximo de 60 dias (art. 400), ordenando
a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o
caso, do querelante e do assistente (art. 399). Também será obrigatória a
notificação do ofendido (art. 201, § 2º). 
Na instrução, poderão ser inquiridas até 08 (oito) testemunhas arroladas
pela acusação e 08 (oito) pela defesa. 
O acusado, embora preso, tem o direito de comparecer, de assistir e de
presenciar, sob pena de nulidade absoluta, os atos processuais,
notadamente aqueles que se produzem na fase de instrução do processo
penal, que se realiza, sempre, sob a égide do contraditório. São irrelevantes,
para esse efeito, as alegações do Poder Público concernentes à dificuldade
ou inconveniência de proceder à remoção de acusados presos a outros
pontos da própria comarca, do Estado ou do País, eis que razões de mera
conveniência administrativa não têm – nem podem ter – precedência sobre
as inafastáveis exigências de cumprimento e respeito ao que determina a
Constituição (STF, HC 93.503/SP, DJ 15.06.2009, Informativo 549). 
Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o
querelante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências
cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na
instrução. 
Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido o pedido pelo
fato de o magistrado considerá-lo irrelevante, impertinente ou protelatório,
serão oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte) minutos,
respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10
(dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença (art. 403). 
OBSERVAÇÃO: 
NÃO SE ADMITE EXCEÇÃO DA VERDADE OU DA NOTORIEDADE DO
FATO NOS CRIMES DE INJÚRIA, POIS AQUI É FERIDA A HONRA
SUBJETIVA DA PESSOA 
 
 
 
 
 
 
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O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de
acusados, conceder às partes o prazo de 05 (cinco) dias sucessivamente
para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez)
dias para proferir a sentença. 
Caso seja ordenada diligência considerada imprescindível, de ofício ou a
requerimento da parte, a audiência será concluída sem as alegações finais
(art. 404). 
Após a realização das diligências determinadas, as partes apresentarão, no
prazo sucessivo de 05 (cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e,
no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá a sentença (art. 404, parágrafo
único). 
Sentença: ao término da fase de alegações finais, o juiz proferirá sua
sentença verbalmente, na própria audiência ou por escrito, no prazo de 10
(dez) dias. 
************************************************************************ 
FUTURO (A) APROVADO (A) 
PASSAREMOS AGORA AO ÚLTIMO TÓPICO DE NOSSA AULA!!! 
PERCEBA O GRANDE CAMINHO QUE VOCÊ JÁ PERCORREU
ATÉ AQUI E MOTIVE-SE PARA FECHAR OS TEMAS COM
CHAVE DE OURO!!! 
VAMOS EM FRENTE!!! 
BONS ESTUDOS!!! 
*********************************************************************** 
OBSERVAÇÃO: 
 A LEI Nº 11.719/2008 INSERIU NO ART. 399, § 2º, O PRINCÍPIO DA
IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ, SEGUNDO O QUAL O JUIZ QUE
PRESIDIR A AUDIÊNCIA DEVERÁ PROFERIR A SENTENÇA. TAL REGRA
SERÁ EXCEPCIONADA QUANDO O JUIZ TIVER SIDO CONVOCADO,
AFASTADO POR QUALQUER MOTIVO, PROMOVIDO OU APOSENTADO,
CASOS EM QUE PASSARÁ OS AUTOS AO SEU SUCESSOR. 
 
 
 
 
 
 
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9.4 MEDIDAS ASSECURATÓRIAS LAVAGEM DE DINHEIRO /
ENTORPECENTES 
Medidas assecuratórias são providências cautelares de natureza processual, urgentes e
provisórias, determinadas com o fim de assegurar a eficácia de uma futura decisão
judicial, seja quanto à reparação do dano decorrente do crime, seja para a efetiva
execução da pena a ser imposta. 
São exemplos de medidas assecuratórias a hipoteca legal, o seqüestro, o arresto, a
fiança, busca e apreensão e, relativamente às pessoas, prisão provisória. 
 9.4.1 NOÇÕES GERAIS
As medidas assecuratórias possuem caráter cautelar, o que exige que estejam
sempre fundadas na aparência do bom direito e no perigo da demora. 
A aparência do bom direito se demonstra pelos elementos probatórios colhidos, que
indiquem a necessidade da medida e a plausibilidade, ainda que em juízo preliminar,
de condenação futura. 
Já o perigo na demora, apesar de não ser mencionado em nenhum dos dispositivos
que tratam do tema, advém da própria razão de ser de tais medidas, qual seja, evitar
a impossibilidade da reparação do dano causado pelo autor do crime em razão do
lapso temporal demandado pela ação penal. É o entendimento de Magalhães
Noronha: 
“Essas medidas assecuratórias destinam-se a prevenir o dano ou
prejuízo que adviria fatalmente da demora, da espera até que se
pudesse tomar uma solução definitiva, em prol dos interesses do
ofendido. Graças às medidas aqui previstas, garante-se, através da
guarda judicial da coisa o ressarcimento do prejuízo causado pelo
delito. É, pois, de natureza eminentemente preventiva a medida
cautelar, já que se destina a evitar o dano que a morosidade,
procrastinação ou delonga podia causar”. 
Dessa forma, pode-se afirmar que o perigo na demora encontra-se implícito na
própria razão de ser das medidas assecuratórias, constituindo presunção juris et de
jure, ou seja, não admitindo prova em contrário. 
 
 
 
 
 
 
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Assim, não seria admissível que o réu demonstrasse, em analogia à prisão
preventiva, a desnecessidade da cautela, em razão da ausência de indícios de que
venha a frustrar a reparação futura. Neste sentido, manifestou-se o Tribunal Regional
Federal da 4ª Região: 
Vamos tratar agora das medidas assecuratórias em espécie: 
 9.4.2 SEQUESTRO
O sequestro é a medida assecuratória, prevista nos arts. 125 à 133 CPP, que incide
sobre os bens móveis e imóveis adquiridos com os proventos da prática criminosa. 
Entendem-se como proventos da prática criminosa os lucros obtidos com o delito, ou
seja, aqueles adquiridos de forma indireta pelo crime. Com efeito, não importa quem
exerce a posse do bem, bastando que seja comprovada sua origem ilícita para que
sejam seqüestrados. 
O processo penal, quando da utilização do termo sequestro na medida em apreço,
não o fez de forma técnica. Assim, devemos buscar a definição de tal instituto na
doutrina. 
Para a doutrina, sequestro é a medida cautelar que consiste na retenção de bens
sobre os quais existe discussão quanto a sua propriedade, a fim de preservá-los até
que seja julgada a lide. 
Para que seja decretado o sequestro, o primeiro requisito é a existência de indícios
veementes que demonstrem a proveniência ilícita dos bens. 
PENAL E PROCESSO PENAL. CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO
NACIONAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. MEDIDAS ASSECURATÓRIAS.
MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE. HIPOTECA LEGAL E ARRESTO
PROVISÓRIO. PENHORABILIDADE. BEM DE FAMÍLIA. EXCEÇÃO. MEAÇÃO.
PERICULUM IN MORA. PRESUNÇÃO LEGAL. 
(...) 
7. O periculum in mora nas cautelares penais se dá por presunção legal
absoluta, não se admitindo prova de que na espécie inexiste o risco de
desfazimento do patrimônio do réu. 
(TRF4– Apelação Criminal – Processo n°: 200470000152488 – 7ªT – PR –
Rel.: Des. NÉFI CORDEIRO – DJ 16.06.2006). 
 
 
 
 
 
 
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Art. 126. Para a decretação do seqüestro, bastará a existência de
indícios veementes da proveniência ilícita dos bens. 
Dessa forma, não é necessário comprovar a autoria do crime dos quais os proventos
foram utilizados na aquisição do bem, sendo o suficiente a existência de fortes
elementos indiciários capaz de demonstrar que o bem fora adquirido como produto de
crime. 
A doutrina entende como “indícios veementes” da prática do crime, aqueles
necessários para formar um juízo de probabilidade, ou seja, que indiquem de forma
clara a proveniência ilícita dos bens, mas sem a necessidade de formar um juízo de
certeza. 
Poderão requerer a decretação do sequestro: o ofendido, o Ministério Público, a
autoridade policial, mediante representação, bem como ser declarada de ofício pelo
juízo criminal. Tal medida poderá ser requerida em qualquer fase, inclusive durante o
inquérito. 
Art. 127. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou do
ofendido, ou mediante representação da autoridade policial, poderá
ordenar o seqüestro, em qualquer fase do processo ou ainda antes de
oferecida a denúncia ou queixa. 
Decretado o sequestro, este será autuado em apartado, sendo expedidos os devidos
mandados judiciais, bem como determinada a inscrição da medida no Registro de
Imóveis. 
Em se tratando de sequestro de bens móveis, o juiz nomeará um depositário, que
adotará as medidas necessárias para a conservação da coisa. 
O sequestro, se realizado na fase de inquérito, será levantado quando não for
proposta ação penal no prazo de sessenta dias, a contar da conclusão das diligências
do sequestro. Isso porque o caráter provisório de tal medida cautelar não permite que
ela perdure por tempo indeterminado, tornando a inércia do órgão acusador causa
para sua extinção. 
Ressalta-se que o prazo para a propositura da ação penal somente se iniciará depois
de juntado aos autos o mandado de sequestro cumprido, e não após o registro da
medida em cartório. 
 9.4.3 DA HIPOTECA LEGAL
Outro instrumento para a garantia da reparação civil ex delicto é a hipoteca legal. 
Trata-se de direito real de garantia, que recai sobre os bens imóveis do acusado, cuja
finalidade precípua é garantir a reparação do dano causado pelo delito e, se houver
saldo remanescente, a execução de eventual pena de multa aplicada e o pagamento
das custas do processo, consoante o disposto no art. 140 do CPP. 
 
 
 
 
 
 
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Art. 140. As garantias do ressarcimento do dano alcançarão também as
despesas processuais e as penas pecuniárias, tendo preferência sobre
estas a reparação do dano ao ofendido. 
A hipoteca legal incide sobre quaisquer bens imóveis do acusado, inclusive lícitos,
não sendo necessário comprovar que estes tenham sido adquiridos com o produto do
crime. 
Para que se concretize a hipoteca legal, é necessário que estejam presentes dois
requisitos: 
A) A CERTEZA DA INFRAÇÃO; E 
B) INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA. 
Assim, uma vez que reste comprovada a materialidade do crime, caberá ao
requerente tão somente demonstrar indícios suficientes para imputar a autoria dos
fatos criminosos ao proprietário do bem. 
Em regra, a especialização da hipoteca legal somente poderá ser requerida pelo
próprio ofendido. Todavia, o artigo 142 do CPP autoriza ao Ministério Público
promover a hipoteca legal sempre que houver interesse da Fazenda Pública ou se o
ofendido for pobre e o requerer. 
Art. 142. Caberá ao Ministério Público promover as medidas
estabelecidas nos arts. 134 e 137, se houver interesse da Fazenda
Pública, ou se o ofendido for pobre e o requerer. 
Autuado o pedido, segundo dispõe o art. 135 do CPP, o juiz determinará a apuração
da responsabilidade e avaliação dos imóveis designados por peritos nomeados, ou
por avaliador oficial, onde houver. 
Concluída tal diligência, o magistrado arbitrará o valor da responsabilidade e dos
imóveis designados na inicial, sendo aberto ao requerente e ao acusado o prazo de
dois dias para manifestarem-se sobre o valor fixado, oportunidade em que o juiz
poderá alterá-lo. 
O valor da responsabilidade poderá novamente ser apurado a requerimento das
partes, quando proferida a sentença penal condenatória. 
Arbitrado o valor da responsabilidade, será determinado o registro da hipoteca dos
imóveis necessários para garantir a responsabilidade. Todavia, se o acusado oferecer
caução suficiente, poderá o juiz deixar de proceder com a inscrição da hipoteca legal.
Ressalte-se que o juiz poderá rejeitar a caução se não a julgar idônea. 
Art. 135 
 
 
 
 
 
 
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[...]
§ 6o Se o réu oferecer caução suficiente, em dinheiro ou em títulos de
dívida pública, pelo valor de sua cotação em Bolsa, o juiz poderá deixar
de mandar proceder à inscrição da hipoteca legal. 
Sendo o réu absolvido, ou declarada extinta sua punibilidade, será cancelado o
registro da hipoteca legal, por ausência absoluta de providência posterior no juízo
penal. 
Eventual reparação subseqüente, decorrente do fundamento da absolvição, é medida
a ser pleiteada na esfera cível. 
Havendo sentença penal condenatória, os autos da hipoteca legal serão remetidos ao
juízo cível, para que este proceda com a execução do quantum indenizatório

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