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Gliconeogénese; Rui Fontes Página 1 de 5 Gliconeogénese 1- A gliconeogénese é um termo usado para incluir o conjunto de processos pelos quais o organismo pode converter substâncias não glicídicas (como aminoácidos, lactato, piruvato, glicerol e propionato) em glicose ou glicogénio. 2- Durante o jejum aumenta a actividade lipolítica (hidrólise dos triacilgliceróis em glicerol e ácidos gordos) no tecido adiposo e a maioria dos órgãos (nomeadamente os músculos e o fígado) começa a usar como combustível preferencial os ácidos gordos. Contudo, os eritrócitos e, em grande medida, os neurónios dependem do catabolismo da glicose para a síntese de ATP. Embora a glicogenólise hepática (formação de glicose a partir do glicogénio armazenado no fígado) seja, durante as primeiras horas de jejum, a principal fonte da glicose que é vertido no sangue, à medida que o tempo de jejum aumenta a gliconeogénese vai sendo cada vez mais importante. 3- Quer na glicogenólise quer na gliconeogénese forma-se glicose-6-P e a formação de glicose só pode ocorrer por hidrólise da glicose-6-P. Porque a enzima responsável por este processo (glicose- 6-fosfátase, uma enzima do retículo endoplasmático) existe no fígado, no rim e no intestino delgado (enterócitos) são estes os órgãos responsáveis pela manutenção de níveis de glicemia compatíveis com a actividade dos neurónios e dos eritrócitos durante o jejum. O fígado tem, neste contexto, um papel mais importante que o rim e o intestino. 4- Três das enzimas da glicólise [(1) cínase da glicose: ATP + glicose → glicose-6-P + ADP; (2) cínase 1 da frutose-6-P: ATP + frutose-6-P → ADP + frutose-1,6-bisfosfato; (3) cínase do piruvato: ADP + fosfoenolpiruvato → ATP + piruvato] catalisam reacções fisiologicamente irreversíveis. Na gliconeogénese, também são fisiologicamente irreversíveis as reacções catalisadas pelas enzimas que permitem a conversão de piruvato em fosfoenolpiruvato (equações 1 e 2), a conversão de frutose-1,6-bisfosfato em frutose-6-P (equação 3) e a conversão de glicose- 6-P em glicose (equação 4). carboxílase do piruvato: ATP + H2O + piruvato + CO2 → ADP + Pi + oxalacetato (1) carboxicínase do fosfoenolpiruvato: GTP + oxalacetato → GDP + fosfoenolpiruvato + CO2 (2) frutose-1,6-bisfosfátase: frutose-1,6-bisfosfato + H2O → frutose-6-P + Pi (3) glicose-6-fosfátase: glicose-6-P + H2O → glicose + Pi (4) Assim, as conversões de glicose em glicose-6-P e de frutose-6-P em frutose-1,6-bisfosfato que são catalisadas por cínases na glicólise são revertidas pela acção de fosfátases na gliconeogénese. A conversão de fosfoenolpiruvato em piruvato na glicólise é revertida pela acção sequenciada de duas enzimas: a carboxílase de piruvato que catalisa a formação de oxalacetato a partir de piruvato (processo anaplerótico) e a carboxicínase do fosfoenolpiruvato que catalisa a formação de fosfoenolpiruvato a partir de oxalacetato (processo cataplerótico). A actividade relativa das enzimas envolvidas nas transformações referidas determina a velocidade e o sentido (anabólico ou catabólico) no metabolismo da glicose. 5- Muitas das enzimas envolvidas na gliconeogénese também participam na glicólise: catalisam reacções fisiologicamente reversíveis e o sentido em que estas reacções evoluem (anabólico ou catabólico) depende das concentrações citoplasmáticas dos compostos (reagentes e produtos) envolvidos nessas reacções. Essas enzimas são a enólase, a mútase do fosfoglicerato, a cínase do 3-fosfoglicerato, a desidrogénase do gliceraldeído-3-P, a isomérase das trioses-P, a aldólase e a isomérase das hexoses-P. É de notar que a reacção catalisada pela cínase do 3-fosfoglicerato (ATP + 3-fosfoglicerato ↔ 1,3-bisfosfoglicerato + ADP) funciona no sentido da conversão de ATP em ADP durante a gliconeogénese mostrando claramente que, em jejum, não existe no fígado deficit de ATP. A oxidação hepática dos ácidos gordos libertados no tecido adiposo Gliconeogénese; Rui Fontes Página 2 de 5 fornece ao fígado a energia necessária para a síntese de ATP. É também de notar que, no decurso da gliconeogénese, na reacção catalisada pela desidrogénase do gliceraldeído-3-P (NADH + 1,3- bisfosfoglicerato ↔ NAD+ + Pi + gliceraldeído-3-P), o NADH se oxida a NAD+, o contrário do que ocorre na glicólise. A oxi-redútase directamente responsável pela formação do NADH citoplasmático indispensável à gliconeogénese pode ser a desidrogénase do malato citoplasmática (malato + NAD+ → oxalacetato + NADH) ou a desidrogénase do lactato (lactato + NAD+ → piruvato + NADH). 6- Os eritrócitos produzem continuamente lactato e os músculos, mesmo em jejum, dependem da glicólise anaeróbia para realizarem esforços que consomem ATP a uma velocidade maior que a velocidade de formação de ATP na fosforilação oxidativa. O lactato vertido no sangue pode, no fígado e no rim, ser convertido em glicose e por isso se diz que o lactato é um composto glicogénico. As enzimas e os transportadores envolvidas na conversão do lactato em glicose são a desidrogénase do lactato, o simporter piruvato/H+ da membrana interna da mitocôndria, a carboxílase do piruvato, a carboxicínase do fosfoenolpiruvato da matriz da mitocôndria, o transportador do fosfoenolpiruvato da membrana interna da mitocôndria, a enólase, a mútase do fosfoglicerato, a cínase do 3-fosfoglicerato, a desidrogénase do gliceraldeído-3-P, a isomérase das trioses-P, a aldólase, a frutose-1,6-bisfosfátase, a isomérase das hexoses-P e a glicose-6-fosfátase. É de notar que, quando o lactato é o substrato da gliconeogénese, o NADH necessário para acção catalítica da desidrogénase do gliceraldeído-3-P é formado aquando da acção da desidrogénase do lactato; ambas as desidrogénases são enzimas citoplasmáticas de forma que quer a redução do NAD+ (lactato + NAD+ → piruvato + NADH) quer a oxidação do NADH (1,3-bisfosfoglicerato + NADH → gliceraldeído-3-P + NAD+ + Pi) ocorrem no citoplasma. O conjunto de reacções envolvidas na conversão de lactato em glicose pode ser resumido na seguinte equação soma: 2 lactato (C3H6O3) + 2 GTP + 4 ATP + 6 H2O → glicose (C6H12O6) + 2 GDP +4 ADP + 6 Pi (5) A formação da glicose a partir de lactato (processo endergónico) só é possível porque está acoplada com a hidrólise de ATP e do GTP (processos exergónicos). O gasto de ATP ocorre aquando da acção da carboxílase do piruvato e da cínase do fosfoglicerato enquanto o gasto de GTP ocorre aquando da acção da carboxicínase do fosfoenolpiruvato. 7- A esmagadora maioria dos aminoácidos (as excepções são a lisina e a leucina) também são substratos da gliconeogénese. Em jejum aumenta a hidrólise das proteínas endógenas e o esqueleto carbonado da maioria dos aminoácidos libertados no processo hidrolítico pode gerar glicose no fígado. Neste contexto são particularmente importantes a alanina e o glutamato. A alanina pode, por acção catalítica da transamínase da alanina (alanina + α-cetoácido-X ↔ piruvato + α-aminoácido-X), gerar piruvato e o piruvato pode, através da acção da carboxílase do piruvato, gerar oxalacetato. Quer a transamínase da alanina que a carboxílase do piruvato são enzimas da mitocôndria e, portanto, a conversão alanina → oxalacetato ocorre na matriz mitocondrial. Não existe na membrana interna da mitocôndria transportador para o oxalacetato: a passagem do oxalacetato da matriz mitocondrial para o citoplasma envolve a desidrogénase do malato mitocondrial (oxalacetato + NADH → malato + NAD+), o antiporter malato/α- cetoglutarato que catalisa a saída do malato da matriz para o citoplasma e a desidrogénase do malato citoplasmática (malato + NAD+ → oxalacetato + NADH). O oxalacetato citoplasmático é substrato da carboxicínase do fosfoenolpiruvato citoplasmática (oxalacetato + GTP → fosfoenolpiruvato + CO2 + GDP) e o fosfoenolpiruvatocitoplasmático formado pode, por acção das mesmas enzimas já referidas no ponto 6, converter-se em glicose. De notar que a conversão da alanina em glicose envolve enzimas e transportadores da lançadeira do malato a operar em sentido inverso ao que acorre na glicólise aeróbia. 8- Todos os aminoácidos que no decurso do seu catabolismo geram intermediários do ciclo de Krebs (processos anapleróticos) são substratos da gliconeogénese. O glutamato servirá como exemplo. Gliconeogénese; Rui Fontes Página 3 de 5 Através da acção de transamínases (glutamato + α-cetoácido-X ↔ α-cetoglutarato + α- aminoácido-X) ou da desidrogénase do glutamato (glutamato + NAD+ → α-cetoglutarato + NH4+ + NADH) o glutamato converte-se em α-cetoglutarato. Por acção de enzimas do ciclo de Krebs, o α-cetoglutarato pode gerar malato que, saindo da mitocôndria, pode oxidar-se a oxalacetato (desidrogénase do malato citoplasmática); o oxalacetato formado pode, via fosfoenolpiruvato, gerar glicose. Tal como no caso da alanina, também aqui, a enzima directamente responsável pela redução do NAD+ citoplasmático é a desidrogénase do malato citoplasmática. 9- A lipólise no tecido adiposo (hidrólise dos triacilgliceróis endógenos), para além de ácidos gordos, também liberta glicerol para o sangue. Ao contrário do que acontece em muitos tecidos (nomeadamente no tecido adiposo), no fígado (e rim) existe uma enzima que é capaz de catalisar a transformação do glicerol em glicerol-3-P (cínase do glicerol: glicerol + ATP → glicerol-3-P + ADP) iniciando o processo de conversão do glicerol em glicose. A transformação do glicerol-3-P (3C) em glicose (6C) envolve a actividade das seguintes enzimas: desidrogénase citoplasmática do glicerol-3-P (glicerol-3-P + NAD+ ↔ dihidroxiacetona-P + NADH), isomérase das trioses-P (dihidroxiacetona-P ↔ gliceraldeído-3-P), aldólase (dihidroxiacetona-P + gliceraldeído-3-P ↔ frutose-1,6-bisfosfato), frutose-1,6-bisfosfátase (frutose-1,6-bisfosfato + H2O → frutose-6-P + Pi), isomérase das hexoses-P (frutose-6-P ↔ glicose-6-P) e glicose-6-fosfátase (glicose-6-P + H2O → glicose + Pi). A equação soma relativa à transformação que ocorre no fígado (e rim) pode ser escrita: 2 glicerol + 2 NAD+ + 2 ATP + 2 H2O → glicose + 2 NADH + 2 ADP + 2 Pi (6) No caso do glicerol (ao contrário dos casos do lactato, alanina e glutamato) a sua conversão em glicose não envolve a redução do 1,3-bisfosfoglicerato em gliceraldeído-3-P (desidrogénase do gliceraldeído-3-P). O NADH formado durante a conversão de glicerol-3-P em glicose poderá ser oxidado pelo oxigénio via lançadeira do malato e complexos I, III e IV da cadeia respiratória. 10- No homem, a maioria dos ácidos gordos tem um número par de carbonos (cadeia par) e geram no seu catabolismo acetil-CoA que reage com o oxalacetato por acção catalítica da síntase do citrato. Nesta reacção não há formação de intermediários do ciclo de Krebs (não é uma reacção anaplerótica). Por outro lado, a conversão de acetil-CoA em piruvato também não pode ocorrer porque a reacção catalisada pela desidrogénase do piruvato (piruvato + NAD+ + CoA → acetil- CoA + NADH + CO2) é fisiologicamente irreversível. Porque o acetil-CoA não pode contribuir para a síntese de compostos que sejam substratos da gliconeogénese os ácidos gordos de cadeia par não são glicogénicos. Pelo contrário, os ácidos gordos de cadeia ímpar podem dar origem (para além de acetil-CoA) a propionil-CoA (o grupo propionil contém 3 carbonos). O propionil- CoA pode por acção de uma sintétase (carboxílase do propionil-CoA: propionil-CoA + CO2 + ATP + H2O → D-metil-malonil-CoA + ADP + Pi) e de duas isomérases gerar succinil-CoA que é um intermediário do ciclo de Krebs. Para além do glicerol, do lactato, do piruvato, da alanina, do glutamato e de muitos outros aminoácidos também os ácidos gordos de cadeia ímpar são glicogénicos. 11- Sendo parte importante nos processos homeostáticos, as enzimas que catalisam as reacções fisiologicamente irreversíveis na glicólise e na gliconeogénese são, no fígado e rim, reguladas de tal forma que quando a glicemia está elevada (nomeadamente na veia porta) as primeiras estão activadas e as segundas inibidas. O contrário acontece quando a glicemia está diminuída. A regulação da actividade destas enzimas pode envolver a (i) indução ou a repressão dos genes codificadores dessas enzimas, (ii) variação na concentração intracelular de substratos ou (iii) reguladores alostéricos assim como (iv) activação ou inibição por fosforilação reversível. 12- Os mecanismos que condicionam a regulação da actividade das enzimas que catalisam os passos irreversíveis da glicólise e da gliconeogénese hepáticas e renais são complexos envolvendo Gliconeogénese; Rui Fontes Página 4 de 5 também a acção de hormonas que se libertam noutros tecidos. Assim, são parte importante nos processos homeostáticos a insulina (que aumenta no sangue em resposta a aumentos na glicemia e tem acção hipoglicemiante) e a glicagina (que aumenta no caso inverso e tem acção hiperglicemiante). Estas hormonas pancreáticas exercem os seus efeitos regulando a actividade de enzimas e de transportadores. 13- Em jejum, a hipoglicemia estimula as células α dos ilhéus pancreáticos a produzir glicagina. A glicagina liga-se ao seu receptor na face externa da membrana dos hepatócitos estimulando a cíclase do adenilato (ATP → AMPc + PPi) e a consequente acumulação de AMP cíclico (AMPc) que é activador alostérico da “cínase de proteínas dependente do AMPc” (PKA). A PKA é uma cínase que tem como substrato aceitador de fosfato múltiplas enzimas e proteínas reguladoras da expressão genética (ATP + proteína → ADP + proteína-P). A glicagina induz os processos que levam à formação de glicose estimulando a síntese de AMPc que leva à activação da PKA que catalisa a fosforilação de proteínas. Quando as proteínas fosforiladas pela PKA são enzimas cuja actividade promove a formação de glicose a forma fosforilada é a forma activa; pelo contrário, quando são enzimas cuja actividade promove o consumo de glicose a fosforilação pela PKA induz a sua inactivação. 14- Dois dos substratos da PKA são a cínase do piruvato hepática e uma enzima “bifuncional” envolvida na regulação do par fosfátase da frutose-1,6-bisfosfato/cínase 1 da frutose-6-P. Em concordância com o papel da cínase do piruvato na glicólise a forma fosforilada desta enzima é menos activa; ou seja, a glicagina, via PKA, inibe a cínase do piruvato hepática e, consequentemente, a glicólise. Também em concordância com o papel da fosfátase da frutose-1,6- bisfosfato na gliconeogénese e da cínase 1 da frutose-6-P na glicólise a fosforilação da enzima “bifuncional” induzida pela glicagina, via PKA, vai implicar a activação da fosfátase da frutose- 1,6-bisfosfato (activação da gliconeogénese) e a inibição da cínase 1 da frutose-6-P (inibição da glicólise). A enzima “bifuncional” regula a concentração intracelular de um composto – a frutose- 2,6-bisfosfato – que é, simultaneamente, activador da cínase 1 da frutose-6-P e um inibidor da fosfátase da frutose-1,6-bisfosfato. A enzima “bifuncional” tem duas actividades: cínase 2 da frutose-6-P (ATP + frutose-6-P → ADP + frutose-2,6-bisfosfato) que leva à formação de frutose- 2,6-bisfosfato e fosfátase da frutose-2,6-bisfosfato (frutose-2,6-bisfosfato + H2O → frutose-6-P + Pi) que leva à sua hidrólise. Via frutose-2,6-bisfosfato a activação da cínase 2 da frutose-6-P implica activação da cínase 1 da frutose-6-P; pelo contrário, a activação da fosfátase da frutose- 2,6-bisfosfato implica a activação da fosfátase da frutose-1,6-bisfosfato. Em concordância com isto a fosforilação pela PKA da enzima “bifuncional” tem como consequência a diminuição da concentração intracelular da frutose-2,6-bisfosfato porque na sua forma fosforilada a enzima“bifuncional” tem predominantemente uma actividade hidrolítica: ou seja, na forma fosforilada anula-se a actividade de cínase 2 da frutose-6-P e fica estimulada a actividade de fosfátase da frutose-2,6-bisfosfato. Embora se desconheça a fosfátase que é activada, a insulina provoca rápida desfosforilação da enzima “bifuncional” provocando aumento da concentração de frutose- 2,6-bisfosfato com activação da glicólise e inibição da gliconeogénese [1]. 15- Resumindo os pontos 13 e 14 no que se refere à regulação da cínase 1 da frutose-6-P (glicólise) e da fosfátase da frutose-1,6-bisfosfátase (gliconeogénese): a) glicemia↓ ⇒ glicagina ↑ ⇒ AMPc↑ ⇒ PKA↑ ⇒ enzima bifuncional fosforilada ⇒ frutose- 2,6-bisfosfátase↑ ⇒ frutose-2,6-bisfosfato↓ ⇒ frutose-1,6-bisfosfátase↑ ⇒ gliconeogénese↑ A activação de uma cínase (PKA) pela glicagina vai activar duas fosfátases (frutose-2,6 e frutose- 1,6-bisfosfátase). A correcção homeostática da hipoglicemia envolve a activação da gliconeogénese. b) glicemia↑ ⇒ insulina↑ ⇒ fosfátase da enzima bifuncional↑ ⇒ enzima bifuncional desfosforilada ⇒ cínase 2 da frutose-6-P↑ ⇒ frutose-2,6-bisfosfato↑ ⇒ cínase 1 da frutose-6-P↑ ⇒ glicólise↑ Gliconeogénese; Rui Fontes Página 5 de 5 A activação de uma fosfátase (fosfátase que desfosforila a enzima bifuncional) pela insulina vai activar duas cínases (as cínases 2 e 1 da frutose-6-P). A correcção homeostática da hiperglicemia envolve a activação da glicólise. 16- A hidrólise dos triacilgliceróis endógenos está aumentada no jejum e gera glicerol e ácidos gordos. O glicerol é, como primeiro passo da sua transformação em glicose, fosforilado no fígado. Os ácidos gordos de cadeia par (os mais abundantes) não são substratos da gliconeogénese mas tem um importante papel no processo. A sua oxidação leva à formação de acetil-CoA e ATP. (i) A acetil-CoA é, simultaneamente, um activador alostérico da carboxílase do piruvato (gliconeogénese) e, via activação da cínase da desidrogénase do piruvato (ATP + desidrogénase do piruvatoactiva → ADP + desidrogénase do piruvato-Pinactiva), um inibidor da oxidação do piruvato e, consequentemente, da oxidação da glicose. Embora a fosforilação da desidrogénase do piruvato (piruvato + CoA + NAD+ → acetil-CoA + CO2 + NADH + H+) não esteja dependente da acção da PKA também aqui a hipoglicemia tem como consequência a fosforilação de uma enzima. (ii) O ATP gerado no catabolismo dos ácidos gordos fornece energia necessária para a gliconeogénese e para as outras actividades do hepatócito. 17- Para além dos mecanismos alostéricos e de fosforilação reversível já apontados também têm importância na regulação da glicólise e na gliconeogénese a regulação da síntese das enzimas próprias da glicólise e gliconeogénese ao nível da transcrição. No fígado, a insulina estimula a síntese da cínase do piruvato (enzima da glicólise) e inibe a síntese das enzimas próprias da gliconeogénese como a carboxílase do piruvato, a carboxicínase do fosfoenolpiruvato, a fosfátase da frutose-1,6-bisfosfato e a glicose-6-fosfátase. A glicagina e os glicocorticoides têm efeitos opostos estimulando a gliconeogénese. Está melhor estudada a acção da glicagina como estimuladora da síntese da carboxicínase do fosfoenolpiruvato e de glicose-6-fosfátase. Estes efeitos também são mediados pelo AMPc e pela PKA. A PKA estimada pelo AMPc fosforila uma proteína nuclear denominada CREB (cAMP response element binding protein; proteína ligante do elemento de resposta ao cAMP) que é um factor de transcrição; o CREB fosforilado liga-se a uma região específica que existe nos promotores dos genes da carboxicínase do fosfoenolpiruvato e da glicose-6-fosfátase denominada CRE (cAMP response element) e esta ligação induz a transcrição dos genes referidos e aumento de concentração das enzimas codificadas. Por mecanismos em grande parte desconhecidos a insulina inibe a transcrição dos mesmos genes; a consequente diminuição da concentração de carboxicínase do fosfoenolpiruvato e da glicose-6-fosfátase diminui a velocidade da gliconeogénese e a libertação de glicose no fígado. 18- Por si só, o valor da glicemia tem importância na regulação da cínase da glicose (ATP + glicose → ADP + glicose-6-P). Esta enzima hepática, porque tem um Km elevado (de cerca de 8-10 mM), é sensível às variações fisiológicas da glicemia (4-12 mM na veia porta). Além disto, quando a concentração de glicose é baixa no hepatócito a cínase da glicose está ligada a uma proteína inibidora; quando a concentração de glicose aumenta quebra-se a ligação entre a cínase da glicose e a proteína inibidora e a cínase fica activa. 1. Wu, C., Khan, S. A. & Lange, A. J. (2005) Regulation of glycolysis-role of insulin, Exp Gerontol. 40, 894-9.
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