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resenha a psicanálise dos contos de fadas

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_____________________________________________________ 
¹Acadêmica do segundo semestre do curso de Psicologia. 
 
RESENHA: 
 A psicanálise dos contos de fadas 
 
 Naiara Barbosa Niederauer de Brittes¹ 
O livro “A psicanálise dos contos de fadas”, escrito por Bruno Bettelheim em 1903, 
relata portanto, perspectiva da psicanálise, as principais características e a importância dos 
contos de fadas para o bom desenvolvimento da criança. Ele enfatiza que os contos de fadas 
está diretamente ligado com a forma com que a criança vai lidar com os conflitos internos a 
partir do contato que ela (a criança) vai ter ou não com as mais variadas histórias do universo 
infantil, e dirige a criança para a descoberta da identidade e comunicação. 
A divisão da psique humana (id, ego e superego), proposta pela 2ª tópica da psicanálise, 
de acordo com Bruno Bettelheim relaciona-se com as histórias infantis assim como a própria 
ação do inconsciente da criança na vida dos personagens. Um exemplo básico de projeção, um 
dos principais mecanismos de defesa, seria de que a criança vê nos personagens desses contos 
os próprios conflitos e isso faz com que ela enfrente os pais, o próprio id e alguns desejos dele 
barrados pelo superego em função do ajustamento às normas da cultura, sugerindo para a 
criança “experiências para a formação do caráter” (p.32). 
O autor também aborda nesse livro que os contos ou estórias de fadas também mostram 
os conflitos edípicos que acontecem durante a infância na fase fálica e são apresentadas para a 
criança através da relação entre os personagens, como por exemplo, entre o rei e a princesa, 
entre a madrasta e a princesa. Se os conflitos edípicos não forem resolvidos, na idade adulta a 
pessoa poderá ter dificuldades em lidar com conflitos dos futuros filhos. Outro aspecto 
importante o qual Bettelheim relata no livro é sobre a importância das fantasias para a criança 
as quais ela pode tornar-se mais independente dos cuidados primários dos pais e comparando 
os contos de fadas, a criança pode ser capaz de ser dona do seu próprio “reino” ou seja, controlar 
os próprios desejos e fazer as escolhas necessárias. 
 O livro trata-se da descrição de alguns aspectos importantes que a realidade é 
representada para a criança na forma de contos de fadas. Alguns contos citados na primeira 
parte do livro, revela-se os mais antigos e conhecidos dos “Irmãos Grimm”, como por exemplo 
 
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¹Acadêmica do segundo semestre do curso de Psicologia. 
“As três linguagens”, “Simbad o marujo, Simbad o carregador”. Alguns desses contos existem 
dos mais variados tipos desde a representação da adolescência até a existência de características 
contraditórias na personalidade como no conto “Dois Irmãos”. A criança não entende o real 
objetivo do conto, mas de forma inconsciente e simbolizada ela entende que o que se passa com 
ela e o personagem é muito semelhante. 
O conto “João e Maria”, simboliza para a criança a fase em que ela tem que se separar 
da mãe e renunciar aos desejos orais. Isso faz com que por mais que ela esteja numa fase mais 
madura da infância, tenha fixação por seus anseios da fase oral, e ela precisa se libertar deles. 
Os dois irmãos passam por conflitos de serem abandonados pelos pais, o que simboliza a perda 
da ligação dependente da mãe, e faz com que eles saem de casa e no decorrer da história 
precisem enfrentar uma bruxa que no início, parece carinhosa e dão a eles um “afeto” materno 
que perderam, mas depois a bruxa revela-se e eles precisam jogá-la no caldeirão para “devorá-
la” antes que a própria bruxa os faça. Depois de vencer a bruxa, voltam como heróis pra casa, 
onde agora encontram a felicidade. 
“Chapeuzinho Vermelho”, revela-se um conto diferente em relação ao que o conto João 
e Maria simboliza para a criança. Apesar dos dois contos retratarem o medo de ser devorado, 
Chapeuzinho pelo lobo e João e Maria pela bruxa, esse conto representa a transição da menina 
(chapeuzinho) para mulher durante a puberdade, a qual reativa os sentimentos de conflitividade 
edípica. Por sua vez, o lobo é a consequência da menina agir pelo princípio do prazer, e 
desobedecer as orientações da mãe. Por isso que esse conto retrata tanto os conflitos edípicos 
da menina assim como o conflito interno entre o princípio do prazer e o princípio da realidade. 
Em “João e o Pé de Feijão”, o conto simboliza para a criança a fase fálica, onde estão 
presentes os conflitos edípicos. A família, João e a mãe, precisa arranjar dinheiro para 
alimentar-se pois a vaca leiteira, até então considerada o sustento da família, não está dando 
mais leite. De forma inconsciente, a vaca seria uma metáfora da mãe, a qual faz com que a 
criança renuncie ao seio e os desejos orais e procure amadurecimento no ambiente externo, 
longe de casa. Por isso a mãe de João pede que ele consiga vender a vaca para que compre 
alimento. Mas João acaba trocando a vaca por “feijões mágicos”. A mãe de João o ridiculariza, 
mas isso não o faz desistir, até que os feijões florescem e ele escala o pé de feijão descobrindo 
um reino nas alturas, onde habitam o ogre e a esposa. O medo de João ser pego pelo gigante, 
 
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¹Acadêmica do segundo semestre do curso de Psicologia. 
também chamado de ogre, em algumas versões da história, simboliza para a criança o medo dos 
pais descobrirem a atividade masturbatória da criança. 
Em “Branca de Neve”, a versão mais conhecida é dos Irmãos Grimm, a qual a menina 
foi desejada pelos pais de um reino, com características específicas: branca como a neve, rosada 
como o sangue na neve, e com cabelos negros como da janela que tinha a moldura de ébano 
negro. A principal simbolização nesse conto é o conflito narcisante que a criança passa, 
demonstrado no conto pela rainha sentir-se ameaçada pela beleza de Branca de Neve e assim 
tomada por um ciúme da menina que é o amor do pai pela filha e a filha pelo pai. A rainha 
madrasta de Branca de Neve, manda o caçador matá-la, mas ele que representa proteção de um 
pai, não consegue executar a obrigação e manda a Branca de Neve fugir. A criança privada da 
proteção do pai, precisa, então lutar por si só. Branca de Neve foge e encontra uma casa onde 
moram sete pessoas na casa, que seriam os sete anões. Eles trabalham muito como mineradores, 
e simbolizam para a criança os sete dias da semana. Os anões deixam Branca de Neve ficar, 
mas se ela ajudar na casa, limpando, costurando, cozinhando. Isso revela a criança a importância 
do trabalho nos sete dias da semana. Apesar dos conselhos dos anões, a rainha tenta matar 
Branca de Neve, sendo na terceira tentativa uma maça envenenada, Branca de Neve, adormece 
e só acordará com a chegada do príncipe e que lhe dará o beijo apaixonado. Esse tempo que 
Branca de Neve fica desacordada revela então uma gestação onde ela vai acordar amadurecida 
e pronta para casar. 
Em “Os cachinhos de ouro e os três ursos”, o principal conflito que é simbolizado para 
a criança é o da identidade sexual. Cachinhos de ouro representa um estrangeiro que ao fugir 
de casa, encontra uma casa simples, mas acolhedora que aparentemente foi abandonada pelos 
seus moradores. A menina, muito curiosa, espia pela janela, depois pela fechadura e finalmente 
entra na casa. Por ela não saber ainda quem realmente é e estar buscando a si mesma, ela vai 
experimentando tudo de cada urso. Ao entrar na casa, Cachinhos de Ouro observa que a casa é 
habitada por três ursos, pois tem pratos, camas, cadeiras de três tamanhos diferentes. De modo 
geral, “otrês simboliza a busca da identidade pessoal e social” (p.260). Primeiro, Cachinhos de 
Ouro escolhe o prato do pai porque quer se ligar mais a ele, sendo escolhida também a cama e 
cadeira do Papai Urso. Mas a cadeira não lhe serve por ser “muito dura” e o mingau está “muito 
quente”. Então Cachinhos representa uma criança (menina) que em uma decepção edípica 
profunda, volta-se a relação inicial com a mãe. Por isso que Cachinhos tenta se “enquadrar” na 
 
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¹Acadêmica do segundo semestre do curso de Psicologia. 
cadeira e comer o mingau da mãe. Depois ela finalmente se identifica com os objetos do bebê 
urso o qual tem cadeira quebrada, e cachinhos é tomado por um desejo de estar no lugar do 
bebê. Esse anseio pode ser representado pela criança que é surpreendida com a chegada do 
irmão mais velho, e por não aceitar isso usando da regressão para ganhar a atenção dos pais, 
comportando-se como um bebê novamente. 
Os dois últimos contos, são a Bela Adormecida e a Borralheira. Em “A Bela 
Adormecida”, o conto representa para a criança as mudanças que ocorre entre a puberdade e a 
adolescência, um período ativo e passivo. O conto mostra para a criança que é preciso de ter 
coragem e enfrentar os perigos da passividade. A criança é tomada por um impedimento dos 
pais para o despertar da sexualidade. Por isso que os esforços mal intencionados dos pais podem 
adiar a conquista da maturidade dos filhos, sendo esse o adormecer por cem anos da Bela 
Adormecida. O despertar da sexualidade da criança seria no conto, quando a bela adormecida 
acorda encontra o príncipe, como em Branca de Neve, tendo aí a união com o amado. Em “A 
Borralheira”, nome mais antigo, por isso o conto é mais conhecido como “Cinderela”. Esse é 
um conto o qual a protagonista vivencia um sofrimento e esperanças que constituem a rivalidade 
fraternal, mas que no final vence as irmãs más que a maltrataram. Por isso que o conto simboliza 
para a criança substituição das relações fraternas pelas relações entre irmãos adotivos, e isso 
faz com que a mãe/madrasta da Borralheira, tenha mais amor por suas filhas de sangue do que 
a enteada, e deixa que as filhas humilhem e a nomeiam de Borralheira. A garota que é 
menosprezada pela mãe adotiva, não acredita em si mesma e se sente incapaz ser melhor que 
as irmãs. Esses sofrimentos também são sentidos pelas crianças que sendo mais nova sente-se 
inferior ao irmão mais velho ou até a criança que é filha única sente-se menosprezada na 
presença de outras crianças. 
A leitura desse livro considera-se fundamental para que os contos de fadas possam fazer 
a fazer parte da vida cotidiana das crianças. Por isso, é importante a indicação para os pais, 
professores, e outras pessoas que mantém algum tipo de grau de parentesco com a criança (avós, 
tios, padrinhos...) para que ela possa desenvolver-se de forma saudável e resolver seus conflitos 
internos, como a maioria simboliza os edípicos, mas também externos em relação às renúncias 
e ao amadurecimento. Os contos de fadas tem significados diferentes para cada etapa da vida 
da criança por isso é importante escolher o mais adequado de acordo com os objetivos. Mas a 
leitura também pode ser feita por pré-adolescentes que também passam por conflitos internos e 
 
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¹Acadêmica do segundo semestre do curso de Psicologia. 
externos, porém nesse caso, a interpretação da história vai ser bem diferente que a criança faz. 
O livro apesar de ser bem extenso é essencial para um melhor entendimento sobre a função dos 
contos de fadas na vida de uma pessoa, pois aquele que não teve contato com as histórias corre 
o risco de não conseguir enfrentar os próprios problemas e amadurecer o suficiente. Após a 
leitura, observa-se que os contos de fadas não são apenas um lazer, mas melhoram a criatividade 
do leitor e ajudam a enfrentar como já citado antes, os próprios conflitos. 
REFERÊNCIA: 
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas.11ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
1980. (Literatura e Teoria Literária).

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