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CONTRATO DE DOAÇÃO ENTRE ASCENDENTES E DESCENDENTES

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CONTRATO DE DOAÇÃO ENTRE ASCENDENTES E DESCENDENTES
ALUNO: ALAN BERNARDO LEMOS COSTA
CONCEITO E NATUREZA JURIDICA
Ao adentrar em uma ponderação doutrinária bem como jurisdicional, ora indubitável no âmbito social, bem como, no âmbito jurídico, venhamos a tutelar um tema de vasta relevância e mérito, no que diz respeito a um dos institutos expressos no Código Civil de 2002, elencado no Título VI, sob a consonância “Das Várias Espécies de Contrato”, nos ditames dos artigos de n° 538 a 564 deste, no que tange o emprego do Contrato de Doação.
O instituto do Contrato de Doação será versado no presente trabalho, sob a ótima do Contrato de Doação entre Ascendentes e Descendentes, tendo por preceito a interdisciplinaridade das disciplinas de Direito Civil, Direito Processual Civil e Direito Constitucional.
Á principio o estudo em tela, far-se-á a citação do artigo de n° 538 do Código Civil, pondo-se a ressaltar o conceito de Doação:
Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. (Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002)
Pela doação, conforme exposto no aludido artigo supracitado, o doador transfere de seu patrimônio bens ou vantagens para o donatário, ainda em vida, haja vista, implicando nessa transferência a forma gratuita, ou seja, sem a presença de qualquer remuneração por excelência. Ademais, o aludido contrato, constitui um dos modos de aquisição da propriedade, bem como, versa de ato de mera liberalidade, sendo benévolo, gratuito e unilateral, posto a criar obrigações para uma só parte, sendo essa o doador. Contudo, há de salientar que este, versa de caráter solene nas doações, todavia, em consonância às doações que far-se-á por coisa móvel e de baixo valor, em tese, pecuniária e de fácil tradição, o contrato poderá ser constituído sem as formalidades, assumindo na ocasião uma Doação Manual, não exigindo forma escrita, sendo essa, expressa no artigo 541, parágrafo único do CC/02.
Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular.
Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição. (Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002).
Além das adequações aos conceitos legais, conforme narrado, versando sobre o artigo de n° 538 do CC, põe-se uma interrogação quanto à aceitação por parte do donatário, tendo por parâmetro uma doação, o qual, tal aceitação é ou não requisito essencial para esse.
Em meio a discrepante analises doutrinária, põe-se a ressaltar a opinião do autor Paulo Luiz Netto Lôbo, em que assevere:
“A aceitação do donatário não é mais elemento essencial do contrato, sendo elemento complementar para tutela dos interesses do donatário porque ninguém é obrigado a receber ou aceitar doação de coisas ou vantagens, inclusive por razões subjetivas” (Comentários..., 2003, p. 279)”.[1: LÔBO, Paulo Luiz Netto. Comentários ao Código Civil. In: AZEVEDO, Antônio Junqueira de. São Paulo: Saraiva, 2003. V 6, Pág. 279 ]
Portanto, dado o exposto, não é necessário o donatário como elemento essencial, mas que este deva ser cientificado, a que pese, no entanto, tal opinião do autor acima citado, corresponde ao que se expressa no artigo 539 do CC/02. 
Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo. (Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002).
Enfim, no tocante às formalidades, o contrato de doação apresenta-se sendo um contrato consensual, haja vista, que têm aperfeiçoamento com manifestação de vontade das partes, bem como, é comutativo, visto que, as partes já sabem de suas prestações, e por fim, este se dá tanto de forma solene e formal e formal e não solene, em que respectivamente, nos casos de doação de imóvel com valor superiro a trinta (30) salários mínimos e nos casos em que envolvam doação de imóveis com valor inferior a trinta (30) salários mínimos ou de bens móveis. 
Dado o exposto, acerca da concepção e natureza jurídica do instituto de Contrato de Doação, logo, será abordada a modalidade a que faz jus a referida subdivisão deste trabalho, no que diz respeito ao Contrato de Doação entre Ascendentes e Descendentes.
DOAÇÃO DE ASCENDENTES E DESCENDENTES
Á principio, conforme os ditames do artigo de n° 544 do Código Civil, o instituto da doação realizada por ascendentes e descendentes, ou de um cônjuge ao outro, padecerá de adiantamento de herança, haja vista, conforme tais pressupostos, que o descendente que recebe bens de seu ascendente direto, sem a presença de remuneração, ou seja, a titulo gratuito deverá colacioná-los, ou seja, confronta-los no inventário do doador, para que tal bem recebido seja descontado da parte cabível no monte hereditário, bem como, realizando uma conferencia destes no processo de inventário na obtenção da igualdade das legitimas.
Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança. (CC - Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002).
Há de salientar, que a determinação legal, no que tange, o adiantamento de herança limita-se à linha direta de descendência, sendo, portanto, injetado exclusivamente entre pais e filhos.
O código de Processo Civil, haja vista, fazendo menção ao artigo supracitado acima, buscou aferir também que o herdeiro, ou seja, descendente, que recebeu dos seus ascendentes o adiantamento da legítima através de doação deve declarar a sua parte a fim de equilibrar o quinhão, ou seja, as legitimas, sendo esta a única e exclusiva função da colação. Posto que, há de ressaltar que todos os valores computados serão apurados ao tempo da abertura da sucessão. Dessa forma, o artigo 1.014, da seção VI “Das Colações” do Código de Processo Civil, faz jus, no que diz respeito ao exposto acima.
Art. 1.014. No prazo estabelecido no art. 1.000, o herdeiro obrigado à colação conferirá por termo nos autos os bens que recebeu ou, se já os não possuir, trar-lhes-á o valor.
Parágrafo único. Os bens que devem ser conferidos na partilha, assim como as acessões e benfeitorias que o donatário fez, calcular-se-ão pelo valor que tiverem ao tempo da abertura da sucessão. (Lei nº 5.869 de 11 de Janeiro de 1973)
Dado o exposto, ressalta-se Silvio Venosa, que:
“Toda doação feita em vida pelo autor da herança a um de seus filhos presume-se como um adiantamento de herança. Nossa lei impõe aos descendentes sucessíveis o dever de colacionar... Os netos devem colacionar, quando representarem seus pais, na herança do avô, o mesmo que seus pais teriam de conferir. Contudo, não está o neto obrigado a colacionar o que recebeu de seu avô, sendo herdeiro seu pai, e não havendo representação”. (Silvio de Salvo Venosa, Direito Civil – Direito das Sucessões – 3ª edição, SP, Ed. Atlas, 2003, pág. 119)
Assim sendo, tratando-se de doação entre avós á netos não importam adiantamento de herança. No que tange o artigo supracitado, o “colacionar”, ou seja, a colação, como também dita, conferência de bens no processo de inventário, obriga-se à apresentação de bens recebidos em vida por certos herdeiros, quando da transferência de bens executada pelo antigo titular. 
Contudo, em face do dispositivo versado acima, a doação feita a netos, cujos pais sejam herdeiros da doadora, não necessita de ser colacionada nos autos do inventário do doador, haja vista também, não caracterizando o fator de adiantamento de herança, posto que, conforme os ditames do artigo 544 do CC referem-se somente a linha direta de descendência, tirante aos netos.
A finalidade da colação, em suma, é a obtenção à igualdade das legitimas, contudo, sua acepção jurídica se faz extraída do artigo 2.002 do CC, em que tutela:
Art. 2.002. Os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente comum são obrigados, para igualar as legítimas, a conferir o valordas doações que dele em vida receberam, sob pena de sonegação.
Parágrafo único. Para cálculo da legítima, o valor dos bens conferidos será computado na parte indisponível, sem aumentar a disponível. (Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002).
Não obstante, versando sobre doação feita a netos, cujos pais sejam herdeiros da doadora, não necessitando de ser colacionada nos autos do inventário do doador, essa, é posta como exceção a tal instituto, sendo essa, notadamente expressa nos ditames do artigo 2.005 do CC, em que assevera: 
Art. 2.005. São dispensadas da colação as doações que o doador determinar saiam da parte disponível, contanto que não a excedam, computado o seu valor ao tempo da doação.
Parágrafo único. Presume-se imputada na parte disponível a liberalidade feita a descendente que, ao tempo do ato, não seria chamado à sucessão na qualidade de herdeiro necessário. (Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002)
Em ênfase ao parágrafo único do aludido artigo supracitado, há de se compreender que se torna desnecessária a colação feita a descendente que, ao tempo do ato, não seria chamado à sucessão na qualidade de herdeiro necessário, ou seja, tendo em vista que o “neto” é classificado simplesmente como sujeito passivo do ato de contrato de doação, não sendo enquadrado nas determinações legais referentes aos herdeiros necessários, posto que, filhos.
Todavia, há de salientar, que versando sobre exceções quanto aos sujeitos obrigados a colacionar, há de ressaltar que o “neto”, dependendo da situação que permeia no caso concreto, está obrigado a colacionar os bens que seu pai ou avô tenham recebido a título de generosidades do ascendente comum, haja vista, desde que tenha comparecido na sucessão representando o ascendente pré-morto. Entretanto, esse dever fica limitado ao valor do quinhão do representado.
De tal forma, é vultoso indagar, que pondo-se em evidencia a doação feita a descendentes, ou seja, comumente expressando “filhos”, a que pese, legítimos ou naturais, a Constituição Federal de 1988, é perdoaria, quando se trata de não existir quaisquer diferenças entre filhos havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção. O qual deste modo, a Constituição Federal, desviou quaisquer restrições referentes ao direito sucessório de filhos adotivos, posto que, nos ditames expressos do Código Civil, no que tange a sucessão, estes, obedecem aos dispositivos constitucionais, sendo essa a Lei Suprema de nosso ordenamento, não fazendo, portanto, nenhuma distinção entre filhos adotivos e naturais.
Artigo 227 § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. (Constituição Federal de 1988)
Contudo, ao embarcar mediante a concepção do contrato de doação de ascendentes à descendentes, há de aludir dois artigos do Código Civil, sendo estes, respectivamente o artigo de n° 548 e 549 deste, em que aduz sobre a reserva para a subsistência e doação de parte disponível, sendo de fato, elementos essências, haja vista, necessários aos ditames do doador.
Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador. (Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002).
Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. (Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002).
 O doador, ao realizar a doação a descendentes, far-se-á de limitação quanto à repartição do patrimônio a ser doado, haja vista, conforme mencionado acima, a doação que exceder cinquenta por cento (50%) do patrimônio do doador que possuir herdeiros necessários, ou seja, descendentes ou ascendentes, será vista como doação inoficiosa, visto que, o testador não poderá dispor em testamento, mais da metade da herança, o qual, todavia, importará em nulidade absoluta, no entanto, caso a transferência, não ultrapasse ou atinge a metade, não corresponderá em fator de nulidade. Tal premência faz jus também ao que assevera o disposto no artigo de n° 1 789 do CC, “Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança”. (Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002).
Sob outra perspectiva, do contrato de doação de ascendentes á descendentes, põe-se a indagar um fator de grande mérito, no que diz respeito à anuência, ou seja, concordância dos herdeiros não beneficiados no tocante à doação a que se faz jus.
Em consonância aos artigos de n° 496 e 533 do CC/02, respectivamente, asseveram acerca da anulabilidade da necessidade de anuência, conforme dito no parágrafo precedente. 
Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. (Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002).
Art. 533. Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda, com as seguintes modificações:
I - salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da troca;
II - é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante.
(Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002)
Em suma, dado o exposto, é explicito nos referidos artigos supracitados que, ao oposto do que se evidencia na alienação de bens de pais para filhos, onde é necessário o consentimento dos demais herdeiros, no entanto, na validade dos contratos de doação entre ascendentes e descendentes é dispensada a anuência dos demais filhos, ou seja, dos demais herdeiros não beneficiados pela transferência do bem. Contudo, há de se ressaltar que tal instituto, a que se refere ao consentimento, é elemento essencial apenas nos contratos de compra e venda e troca, expressos estes no título VI, sob a consonância “Das Várias Espécies de Contrato” no CC.
CONCLUSAO
O teor da referida subdivisão do trabalho, sob a ótica do Contrato de Doação de Ascendentes a Descendentes, fez-se acerca do plano de validade existente nesta. Testifica, no entanto que, a doação, sendo essa um contrato unilateral, logo que, por esse fator, constitui uma mera liberalidade, o individuo, posto que, o doador, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outro, no caso, tratando-se do donatário. 
Repisa-se, que o intuito da analise acerca do tema, propôs à versar e indagar, sobre a formalidade do referido contrato, logo que, este, por ser configurada como uma doação simples, não se exige qualquer contraprestação do donatário para que haja a transferência do bem ou vantagem.
Isto posto, constatou-se que o contrato de doação celebrado entre ascendentes e descendentes indiretos, ou seja, netos, não afronta o ordenamento jurídico a que se permeia, logo que, este, é presumidamente imputado na parte disponível do doador, resultando na impossibilidade de suscitação de nulidade, ou seja, referindo à doação inoficiosa.
Por fim, cabe á indagar que, a falta de consentimento dos herdeiros não beneficiados na transferência da referida doação, ou seja, os herdeiros excluídos da doação, não afeta o firmamento de validade da transferência a favor dos donatários. 
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Manual de Direito Civil, Vol. Único, Contratos em Espécie (Contratos Típicos do CC/2002) – Flávio Tartuce, Ed. 2014 – 4ª Ed.
Silvio de Salvo Venosa, Direito Civil – Direito das Sucessões – 3ª edição, SP, Ed. Atlas, 2003, pág. 119.
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Comentários ao Código Civil. In: AZEVEDO, Antônio Junqueira de. São Paulo: Saraiva, 2003. V 6, Pág. 279
http://cenariojus.blogspot.com.br/2012/03/das-doacoes-entre-ascendentes-e.html - Acesso em: 12/03/2016 ás 14hs30min.
https://jus.com.br/artigos/7032/da-validade-da-doacao-feita-a-netos - Acesso em: 12/03/2016 ás 22hs42min
http://www.oab-sc.org.br/artigos/direito-das-sucessoes-doacao-descendentes-dispensa-colacao/1532 - Acesso em: 13/03/2016 ás 01hs11min
https://jus.com.br/artigos/27775/a-doacao-em-vida-entre-pais-e-filhos-e-a-nulidade-da-renuncia-dos-irmaos-em-favor-de-um-so-dos-herdeiros- Acesso em: 13/03/2016 ás 02hs42min.
VADE MECUM Saraiva 2016, Ed. 21ª – Lei n° 10.406, de 10-01-2002, Código Civil – Artigos 538 – 564.
VADE MECUM Saraiva 2016, Ed. 21ª – Constituição da República Federativa do Brasil – Artigo 227.
VADE MECUM Saraiva 2016, Ed. 21ª – Lei n° 5.869, de 11-01-1973, Código de Processo Civil – Artigos 1.014.

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