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w o Q. l (Q co «5.0 .2o (e <*-> C4 *-S S 3 ™ -o OQ flj .. .. c w RS +•• *-c w o ~ 0) (0 Q. P W •— S o>o ® *•S ow 2 Q C4 CL A concepção construtivista do processo de ensino-aprendizagem No capítulo anterior, analisamos alguns dos conceitos que estabelecem as bases sobre a forma como entendemos e abordamos os aspectos das relações e das comunicações na nossa intervenção na escola; neste capítulo, tentaremos explicar as bases teóricas das quais partimos e nas quais nos aprofundamos constantemente para tratar, entender e analisar os aspectos mais relacionados com a aprendizagem dos conteúdos escolares. De fato, a separação entre os aspectos de aprendizagem, no sentido mais estrito, e a educação global do indivíduo não ocorrem nunca na realidade, mas pensamos que, aqui, podem ser úteis e esclarecedoras, já que as fontes teóricas que nos inspiram num aspecto e no outro são diferentes. Geralmente, os investigadores e teóricos da aprendizagem que seguem uma abordagem construtivista não se aprofundam em aspectos afetivos e de relacionamento; isso não impede que, normalmente, pensem que os dois aspectos são igualmente importantes e que os considerem em seus trabalhos. A nossa intervenção, como já foi dito, é realizada dentro da escola. A escola é a instituição que tem o objetivo de "educar" os alunos, transmitindo-lhes e ensinando-lhes conteúdos determinados, entendidos de uma forma ampla como conceitos, fatos, procedimentos, atitudes, valores e normas (Coll, 1986). A escola tem uma missão muito difícil, que é concretizada num plano de ação com objetivos claramente definidos e com um controle social e administrativo importante, que zela para que estes objetivos sejam atingidos. Evidentemente, nós, que estamos intervindo dentro da escola, precisamos conhecer e compartilhar do seu objetivo básico, que é o de educar. Precisamos, também, cooperar para que os alunos alcancem os objetivos estabelecidos. Assim, precisamos intervir e tentar promover modificações nos processos de ensino-aprendizagem, de forma a possibilitar que determinados alunos aprendam e melhorem o seu desenvolvimento pessoal e social para que a escola considere, cada vez mais, as abordagens e pesquisas de psicólogos e pedagogos sobre os processos e mecanismos usados pelas crianças, quando estão aprendendo conteúdos determinados. Para explicar e entender melhor como ocorre a aprendizagem e ir, portanto, aprofundando- se na forma como se deveria ensinar, adotamos e nos situamos num paradigma construtivista, segundo o qual pensamos que: "O sujeito participa ativamente na construção da realidade... e o conhecimento que possuímos do mundo exterior é, sem dúvida, uma mistura das suas propriedades 'reais' e das nossas contribuições no ato do conhecimento" (Coll, 1979, p. 65). Do ponto de vista construtivista da evolução e da aprendizagem dos seres, humanos, defende-se que o indivíduo participa ativamente na construção da realidade de que conhece e que cada modificação ou avanço que realiza no seu desenvolvimento pressupõe uma mudança na estrutura e organização dos seus conhecimentos. Segundo esse ponto de vista, quando uma pessoa enfrenta algumas situações específicas, a sua resposta, reação ou aprendizagem dependerá, obviamente, das características dessa situação, mas será determinada também, em grande parte, pelas suas características pessoais e pela organização dos seus conhecimentos. Toda pessoa que intervém na escola, no que se refere à aprendizagem dos alunos, adota, de forma mais ou menos clara e mais ou menos coerente, uma explicação sobre como se aprende e, consequentemente, sobre como deve ser planejado o ensino para que este processo seja mais fácil e consistente. Mesmo sabendo que poderíamos ser alvo de críticas pelo fato de nos referir a um único marco explicativo que pareceria uma abordagem simplista, consideramos que a abrangência e a flexibilidade do marco escolhido justificam a nossa opção. Dadas estas justificativas, tentaremos explicar e ilustrar os conceitos-chave que partem deste marco teórico e que são de grande utilidade em nossa área da psicopedagogia. Inicialmente, falaremos das relações que existem entre aprendizagem e desenvolvimento e da zona de desenvolvimento proximal; depois analisaremos as situações de ensino-aprendizagem e os diferentes conceitos úteis para a sua interpretação: atividade auto-estruturante, aprendizagem significativa e condições necessárias para realizá-la, conhecimentos prévios, memória compreensiva e funcionalidade da aprendizagem. Finalmente, analisaremos a interação professor- aluno dentro do processo ensino-aprendizagem dos pontos de vista cognitivo e afetivo. Para começar, veremos que aprendizagem e desenvolvimento não são duas coisas idênticas nem tampouco separadas e independentes. Entre os dois processos, há muitas relações complexas que provocam determinações e influências mútuas. Não é possível pensar em processos evolutivos endógenos e universais nem, por outro lado, em processos de aprendizagem extrínsecos; cada indivíduo desenvolve-se e adquire determinadas capacidades cognitivas "universais" por meio da sua utilização e adaptação a situações diversas e pessoais. O nível de desenvolvimento de cada aluno deve informar, mas não deíerrminar os objetivos educativos planejados para ele. Segundo Vygotsky: "A aprendizagem dirigida aos níveis evolutivos que já foram atingidos torna-se eficaz do ponto de vista do desenvolvimento total da criança. Este tipo de ensino não aspira a um novo estágio no processo evolutivo; ele vai à reboque nesse processo" (Vygotsky, citado por Riviere, 1984, p. 53). Esta ideia, com a qual concordamos plenamente, foi a que nos fez usar e elaborar instrumentos de diagnóstico que não informem somente o nível de desenvolvimento atua! da criança, mas que nos possibilitem ver como ela enfrenta determinadas situações de aprendizagem, quais os processos que segue no momento de realizar determinadas tarefas e quais os recursos que lhe são úteis para desenvolver determinadas atividadesj^ara procurar e pensarem estratégias de ensino adequadas a essa criança em particular não é suficiente saber qual é o seu estágio evolutivo, mas ver o que ela é capaz de fazer com a ajuda de outras pessoas ou recursos. Nesse sentido, Vygotsky traz uma nova visão ao definira zo^na de desenvolvimento proximal como a dhstanciã entre o nível atual de desenvolvimento do aluno, determinado pela capacidade de resolver um problema sozinho, e o desenvolvimento potencial, determinado pela resolução de um problema ma guiado por um adulto ou com a colaboração de um colega mais capacitado (Riviere, A.,1984). Esta afirmação confere uma grande importância à ajuda, guia e orientação do professor durante as atividades escolares. Tanto o professor como outros colegas mais competentes são autênticos agentes do desenvolvimento e da aprendizagem que, de fato, ocorre, porque a criança vive em grupos e em interação e pode, desta forma, aprender com os outros por meio do relacionamento, da observação e da ajuda oferecida por eles. Nesse sentido, sentimo-nos pouco ou mesmo nada deterministas e pensamos, que na observação da forma como uma criança age e se relaciona, existe sempre a possibilidade de encontrar e planejar estratégias adequadas e pertinentes que a ajudem a avançar no seu nível de conhecimento e competência. Temos tido a oportunidade de constatar, por exemplo, que um aluno que não conseguia aprender melhorou muito o seu rendimento quando o professor ofereceu-lhe mais ajuda e recursos para que ele aprendesse. Devemos, então, observar as suas próprias produções já terminadas e tentar melhorá-las, após terem sido analisadas. Para outra criança, por exemplo, o fato de ter a possibilidade de solicitar o auxílio frequente e fácil do professor para solucionar a suas dúvidas, enquanto realiza um trabalho determinado, tem levado à superação da sua insegurança inicial, tornando-amuito mais capaz e autónoma. Muitas vezes, a autêntica individualização do ensino passa por este tipo de estratégias que os professores, psicólogos e psicopedagogos experimentam e aplicam. Em muitos casos, não é necessário estabelecer objetivos, conteúdos e atividades específicas e diferenciadas, mas sim saber oferecer maior ajuda e apoio, para que o aluno consiga entender e relacionar aquilo que estão lhe ensinando com o que ele já sabe. Outra explicação importante que deriva desta concepção interativa e social da aprendizagem e do desenvolvimento tem sido para nós o fato escolher situações interativas e reais, para observar e tentar entender os fatores que influem no fato de que um aluno não aprenda. Não se trata, como já foi dito, de fazer somente uma avaliação do nível evolutivo e de aprendizagem nesse momento específico, mas, sim, de pesquisar sobre a sua zona de desenvolvimento proximal: ver o que ele errou e por que, qual a orientação ou sugestão que o ajudaria a entender determinados conteúdos, qual o colega que tem mostrado eficiência na hora de ajudá-lo, etc. E vem daí a importância da observação dentro da sala de aula, quando o aluno se encontra diante de uma tarefa concreta, interagindo com seus colegas e professores. Essa realidade proporcionará mais informações sobre qual o tipo de ajuda que seria mais adequado. As situações de ensino-aprendizagem Para que uma criança aprenda de uma forma não-mecânica nem meramente imitativa, é necessário que ela assimile, selecione, processe, interprete e relacione aquelas atividades e conteúdos que lhe são apresentados, através de uma atividade auto-estruturante que a obrigue a revisar os seus esquemas e estruturas prévias em relação a esses conteúdos, dando-lhes um nível mais alto de estruturação, complexidade, detalhe ou clareza. O aluno, para aprender, precisa realizar um importante trabalho cognitivo, de análise e revisão dos seus conhecimentos, a fim de fazer com que os novos conhecimentos que adquire se tornem realmente significativos e lhe propiciem mu nível mais elevado de competência. De qualquer forma, o fato de dar destaque à importância da atividade singular e individual do aluno, para realizar novas aprendizagens não significa que ele possa fazê-lo somente em interação com determinados objetos de conhecimento. E, insistindo novamente no mesmo ponto, acreditamos que a influência do professor e da sua intervenção pedagógica é o que faz da atividade do aluno uma atividade auto-estruturante ou não, e tenha, com isto, um maior ou menor impacto sobre a aprendizagem escolar (Coll, 1985). Assim, concordamos com esse autor quando define os processos de ensino-aprendizagem como processos com interações complexas e variadas entre, pelo menos, três elementos: o aluno, os conteúdos de aprendizagem e o professor. O fato de considerá-lo desta forma significa que outorgamos a mesma importância e relevância à interação entre a atividade cognitiva da criança e determinados objetos de conhecimento e, por outro lado, à interação mais afetiva e comunicativa (mas também cognitiva) entre o aluno e o professor. "O aluno aprende um conteúdo qualquer: um conceito, a explicação de um fenómeno físico ou social, o procedimento para resolver um determinado tipo de problema, uma norma de comportamento, um valor que deve ser respeitado, etc, quando é capaz, de_£iribuir-lt)e_um significado. De fato, estritamente, o aluno também pode aprender estes conteúdos sem atribuir-lhes significado algum; é o que ocorre quando eles são aprendidos de uma forma puramente memorizada sendo capaz de repeti-los ou usá-los mecanicamente sem entender nada do que está dizendo ou fazendo." (Coll, 1988, p.134) Quando aprende, o aluno constrói significados, e isso ocorrerá quando ele for capaz de estabelecer relações substantivas e não arbitrárias entre aquilo que aprende e o que já conhece. Segundo as teses construtivistas de Piaget, construímos significados relacionando e interagindo o novo conteúdo aos esquemas de compreensão da realidade que já possuíamos. Deprende-se, daqui, a importância e a necessidade — para a intervenção educativa e psicopedagógica — de pesquisar, avaliar e conhecer quais são os conhecimentos e esquemas prévios que os alunos possuem no referente a determinados conteúdos, antes de ensiná-los. A avaliação inicial assume, assim, uma grande importância para a prática educativa e para nós, psicopedagogos. Também é necessário investigar a organização e a funcionalidade dos conhecimentos prévios pertinentes aos conteúdos que serão aprendidos, assim como a competência intelectual ou o nível de desenvolvimento da criança. Ausubel e seus colaboradores afirmam que para que, um aluno possa adquirir conhecimentos significativos, é necessário que o conteúdo que se deseja ensinar-lhe seja potencialmente significativo e que o aluno possua uma atitude favorável para aprender significativamente (Coll, 1988). Um conteúdo será potencialmente significativo se tiver duas condições: deve sê-lo do ponto de vista lógico (significação lógica), o que depende da estrutura interna do conteúdo e da forma como será apresentado ao aluno e, por outro lado, que seja também potencialmente significativo do ponto de vista psicológico, no sentido de que o aluno possua conhecimentos prévios pertinentes, para ser capaz de integrá-lo e relacioná-lo com seus conhecimentos e experiências anteriores. Nesse sentido, temos comprovado a grande diferença de rendimento que pôde ser observada entre diversos alunos, após haverem realizado as mesmas atividades de aprendizagem. Por exemplo, as crianças que na sua experiência familiar e fora da escola, têm tido contato, conhecem e têm visto fazer uso com frequência da linguagem escrita, aprendem muito mais fácil e significativamente esses conteúdos do que outras que não têm tido experiências nesse sentido, principalmente se na escola não se tentou compensar estas diferenças iniciais. Com muita frequência, esquece-se o grande papel e a importância que as famílias e o contexto social podem ter, quando se trata de estabelecer atividades e conteúdos de uma forma mais global e significativa; referimo-nos, por exemplo, a oferecerem possibilidades às crianças de relacionar, comentar, associar fatos que aprendem fora da escola aos conteúdos que lhes são transmitidos na mesma, manterem os pais informados e sensibilizados no que se refere a aprendizagens mais suscetíveis de serem favorecidas na vida fora da escola, etc. A nossa intervenção precisa contribuir para ampliar a visão que, às vezes, tem-se da criança que aprende na escola, considerando a globalização do seu pensamento e buscando recursos, para que o aprendizado que realiza se torne mais significativo e integrado. Desta forma, o professor pode ir avançando na compreensão dos diferentes níveis prévios de conhecimento dos alunos e programar novos conteúdos organizados de forma a que eles possam relacioná-los e integrá-los aos seus esquemas de conhecimento. Outra condição, já mencionada, para que o aluno aprenda de urna forma significativa, é que ele tenha uma atitude positiva para querer dar significado àquilo que aprende, que esteja motivado e interessado em integrá-lo às suas redes de conhecimento. O papel da família e a forma como considera o fato de aprender é muito importante e condiciona, em parte, essa atitude. Naqueles casos nos quais esta atitude positiva não existe, o professor pode fomentá-la, estimulando a criança e sugerindo-lhe situações que a motivem e despertem o seu interesse. Nesses casos, frequentemente, nós também temos influência como especialistas consultados e tentamos sensibilizar pais e alunos sobre a importância de trabalhar essas atitudes e de procurar estabelecer pequenos acordos ou compromissos entre todos (professor, aluno, pais, psicopedagogo, etc.), que ajudem a melhorar a situação. Quando um aluno tem uma aprendizagem significativa e não meramente mecânica,significa também que memorizará esse conhecimento de uma forma compreensiva (memorização compreensiva) e o integrará ao seu aprendizado, para usá-lo e recordá-lo no momento em que ele seja necessário, para atuarou para adquirir outros conhecimentos novos. Fala-se, então, segundo Coll (Coll, 1986), da funcionalidade das aprendizagens realizadas, no sentido de que podem ser usadas, total ou parcialmente, quando as circunstâncias o exigirem para resolver problemas, enfrentar situações ou, então, para aprender e integrar novos conteúdos. Interação professor/aluno Como é possível deduzir do exposto anteriormente neste capítulo, damos uma grande importância à interação e à relação que se estabelecem entre o aluno e o professor, quando precisam aprender e ensinar, respectivamente, tanto do ponto de vista cognitivo como afetivo e de relacionamento. Do ponto de vista cognitivo, já explicamos o papel de orientação e de ajuda que deve ser cumprido pelo professor de forma a possibilitar aos alunos a aprendizagem de determinados conteúdos. Já dissemos que o fato de conceder muita importância à atividade auto-estruturante não implica defender um ensino que se limite a colocar os alunos em contato com os conteúdos de aprendizagem para que descubram, inventem ou construam, por si mesmos, os significados pertinentes. Consideramos que o professor desempenha um papel indiscutível de educador, que organiza e estabelece atividades e situações para que sejam realizadas pelos alunos de uma forma significativa, ou seja, trabalhos que levem em consideração seus conhecimentos prévios e que despertem o seu interesse em aprender significativamente. O grau de orientação e ajuda do professor dependerá da competência ou dificuldade do aluno diante das tarefas propostas: quanto maiores forem as dificuldades para realizara tarefa de uma forma autónoma, maior será a necessidade de guiar, dirigir e apoiar o processo de aprendizagem que realiza e pode ocorrer que seja necessário procurar metodologias de ensino mais estruturadas e direcionadas. Analisando os últimos estudos e investigações sobre a interação professor/aluno, Coll explica que se pode supor que: "Alguns dos fatores que explicam a função educativa das relações interpessoais nos primeiros anos de vida possuem um certo paralelismo com a interação professor-aluno: proporcionam um contexto significativo para a execução das tarefas escolares no qual o aluno pode "inserir" as suas aiuações e construir interpretações coerentes; adequar o nível de ajuda ou orientação em nível de competência dos alunos, avaliar constantemente as atividades para conseguir um ajuste ótimo da intervenção pedagógica, etc." (Coll, 1985, p.67). Por isso, é necessária uma prática pedagógica flexível e adaptada às características e conhecimentos dos alunos. Uma prática que não deixe de buscar e usar todos os meios possíveis ao seu alcance (apresentar os conteúdos de forma mais organizada, usar incentivos de atenção e motivação, oferecer modelos para a imitação, ajudar a corrigir os erros, etc.) que possam favorecer o processo de aprendizagem de um aluno que apresente dificuldades em um momento determinado. O professor adquire, de acordo com este ponto de vista, um papel de ajuda e de apoio, realizando intervenções variadas e adaptadas às dificuldades encontradas pelas crianças nas suas tarefas escolares. Isso quer dizer que ojprofessor observa e avalia constantemente o aluno para tentar entender as suas dificuldades e interpretar o motivo dos erros, buscando, dessa forma, oferecer-lhe uma ajuda complementar e mais eficiente. É preciso ter capacidade e, principalmente, aprendizado para observar, escutar e analisar as respostas, erros e atitudes dos alunos. Com tudo o que foi dito, poderia parecer que somos exigentes demais e inclusive ingénuos no que se refere no papel que consideramos possa ser desempenhado pelo professor. Na verdade, a maioria dos professores não teve formação nesse sentido e, normalmente, as condições de infra-estrutura e organização da escola não facilitam uma intervenção pedagógica como a que defendemos. Apesar disso, podemos afirmar que durante estes anos de trabalho e de colaboração com professores, temos observado como muito deles, mesmo não tendo este tipo de formação, de forma intuitiva e graças à sua experiência e sensibilidade, desempenhavam este papel de observadores e intervinham de forma adaptada aos diferentes alunos, para desvendar os seus conhecimentos prévios sobre os assuntos e planejar intervenções adequadas e variadas. Com estes professores, adquirimos ótimas ideias e temos aprendido muito. A educação na diversidade reside basicamente nesse tipo de metodologia: não há alunos "especiais" ou "diferentes", mas aceita-se que todos são indivíduos com histórias, características e conhecimentos diferentes. Sendo realmente aceita esta diversidade, não é válido emitir julgamentos globais e absolutos sobre o aluno, mas devem-se definir e valorizar as diferentes capacidades e os diversos aspectos para direcionar a intervenção para aqueles nos quais ele mostra maior competência e eficiência. Até aqui, falamos dos aspectos cognitivos relacionados com a interação professor/aluno, imersos num processo de ensino-aprendizagem determinado, da importância do papel de orientador e organizador do professor e da necessidade de modificar, revisar ou adaptar a ação educativa em função da observação e avaliação contínua dos processos e resultados da criança, Tão importante quanto saber desempenhar este papel é, do ponto de vista mais afetivo e relacional, o fato de ter e demonstrar confiança nas possibilidades de mudança e de melhoria por parte da criança. Gostaríamos de destacar, apesar de já ser muito conhecida, a importância das expectativas, tanto por parte do professor quanto do aluno, mas, principalmente, neste caso, do professor, porque é o adulto e é a pessoa que deveria controlar e guiar as situações educativas. Temos visto, com muita frequência, o fracasso de crianças devido, unicamente, à falta de segurança pessoal, alimentada de uma forma não-consciente pela atitude de seus pais e/ou professores. Mais adiante, analisaremos os diferentes sistemas em que estão inseridos o aluno e o professor e a influência que estes sistemas exercem na relação que se estabelece na sala de aula. Por enquanto, chamamos a atenção para a grande importância dos primeiros contatos da criança com a sua escola e seus professores e mostramos de que forma as representações mútuas, feitas nessa etapa inicial, terão influência em sua relação posterior e na atitude da criança diante da aprendizagem escolar. Obviamente, nem sempre estas primeiras relações são tão determinantes; se os professores forem flexíveis o suficiente e tentarem fazer avaliações objetivas, terão possibilidade de modificar as suas expectativas e as representações iniciais referentes aos seus alunos. No caso da criança, isto é mais difícil; se iniciar as suas primeiras experiências escolares com insegurança ou sentimentos de fracasso, será muito difícil superá-los, a não ser que a escola e a família tomem, a tempo, consciência da situação e tentem modificá-la de forma conjunta. (BASSEDAS, Eulália & Cols. Intervenção educativa e diagnóstico psicopedagógico. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, 13-21.)
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