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Prof. Donizete dos Reis Pereira Hidrodinâmica UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA Campus Florestal AGF 351 – Hidráulica, Irrigação e Drenagem Aula teórica 2: 1. Classificação dos condutos hidráulicos Tendo em vista a pressão de funcionamento, os condutos hidráulicos podem ser classificados em: Condutos forçados: São aqueles nos quais a pressão interna é diferente da pressão atmosférica local. - As seções transversais são sempre fechadas e o fluido circulante enche-as completamente. - O movimento pode ser efetuado em qualquer sentido do conduto. Condutos livres: O líquido escoante apresenta superfície livre, na qual atua a pressão atmosférica local. - A seção, não necessariamente, apresenta perímetro fechado. Quando isso ocorre, para satisfazer a condição de superfície livre de pressão, a seção transversal funciona parcialmente cheia. - O movimento se faz no sentido decrescente das cotas topográficas. 2. Classificação do escoamento Permanente: É aquele cujas características (velocidade, pressão, massa específica), em cada seção do conduto, não variam ao longo do tempo. Permanente e uniforme: - Quando a velocidade não varia ao longo do conduto. - Ex: Água escoando por um canal longo, de seção constante e vazão constante. Permanente e não-uniforme: - Quando a velocidade varia ao longo do conduto. - Ex: Água escoando por um conduto de seção crescente e vazão constante. Água escoando na crista de um vertedor de barragem. 2. Classificação do escoamento Variado ou não permanente: É aquele cujas características (velocidade, pressão, massa específica), em cada seção do conduto, variam ao longo do tempo. Ex: Uma onda de cheia em um curso d’água natural. Uma onda de maré. Não permanente e uniforme: - Quando a velocidade não varia ao longo do conduto. Não permanente e não-uniforme: - Quando a velocidade varia ao longo do conduto. 3.Equação da continuidade “Expressa o princípio de conservação de massa” A1 V1 A2 V2 M1 M2 Na condição de escoamento permanente: - A quantidade de massa (M1) que entra na seção 1 do conduto, por unidade de tempo, é igual à quantidade de massa (M2) que sai na seção 2, isto é: M1 = M2 ou ρ1A1V1 = ρ2A2V2 Ai = área da seção transversal “i” do conduto Vi = velocidade média na seção transversal “i” do conduto ρi = massa específica do líquido na seção transversal “i” do conduto 3.Equação da continuidade “Expressa o princípio de conservação de massa” A1 V1 A2 V2 M1 M2 M1 = M2 ou ρ1A1V1 = ρ2A2V2 Considerando o líquido incompressível, ρ1 = ρ2, a equação anterior reduz a: A1V1 = A2V2 (Equação da continuidade ou de conservação de massa) Genericamente: A1V1 = A2V2 = ...... = AnVn 4. Teorema de Bernoulli Energia em um líquido escoante O escoamento se processa de um ponto de maior energia para um ponto de menor energia. Energia Equação Energia por unidade de peso (carga) Posição Cinética Pressão mgZEg 2 2 1 mvEc pVoEp Z mg mgZ Peso Eg g v mg mv Peso Ec 22 1 22 p Vo pVo Peso Ep Posição ou gravitacional (g). 4. Teorema de Bernoulli Energia em um líquido escoante Representação gráfica: z g vp E 2 2 4. Teorema de Bernoulli Representação gráfica: equação de Bernoulli aplicada aos fluidos ideais 2 2 22 1 2 11 21 22 z g vp z g vp EE Linha Piezométrica Linha de Carga 4. Teorema de Bernoulli Representação gráfica: equação de Bernoulli aplicada aos fluidos reais hfEEhfEE 2121 hfz g vp z g vp 2 2 22 1 2 11 22 Para que se desloque da seção 1 para a seção 2 , irá consumir energia para vencer as resistências ao escoamento entre as seções 1 e 2. Portanto, a carga total em 2 será menor do que em 1, e essa diferença é a energia dissipada sob forma de calor. Como a energia calorífica não tem qualquer utilidade no escoamento do líquido, diz-se que essa parcela é a perda de carga ou de energia, simbolizada comumente por hf. Cálculo da perda de carga Exemplo 1. Qual a perda de carga para vencer as resistências ao escoamento em um trecho do conduto de 100 mm instalado conforme figura abaixo. A pressão na seção 1 é de 0,2 MPa e na 2, igual a 0,15 MPa. A velocidade média do escoamento é de 1,5 m s-1. Plano de referência Z2 =17 m D =100 mm Z1 =18 m 2 1 Solução Aplicando o teorema de Bernoulli aos pontos 1 e 2 do conduto, teremos: p1 g + v1 2 2g + z1 = p2 g + v2 2 2g + z2 +hf Cálculo da perda de carga Solução: Aplicando o teorema de Bernoulli aos pontos 1 e 2 do conduto, teremos: hfz g vp z g vp 2 2 22 1 2 11 22 g v g v 22 2 2 2 1 hf 17 000.10 000.150 18 000.10 000.200 em que: p1 =0,2 MPa = 200.000 Pa = 200.000 N m -2 p2 =0,15 MPa = 150.000 Pa = 150.000 N m -2 Como D é constante, então v1 = v2 ou = 10.000 N m-3 ou 20 + 18 = 15 + 17 + hf Portanto, hf = 6 m.c.a •Plano de referência •Z2 =17 m •D =100 mm •Z1 =18 m •2 •1 Regimes de escoamento Corte representativo do esquema experimental de Reynolds, mostrando o líquido contraste em regime laminar (a) e em turbulento (b). Regimes de escoamento Corte representativo do esquema experimental de Reynolds, mostrando o líquido contraste em regime laminar (a) e em turbulento (b). Com suas experiências, Reynolds distinguiu, inicialmente, duas velocidades: Velocidade crítica superior: É aquela na qual ocorre a passagem do regime laminar para o turbulento. Velocidade crítica inferior: É aquela na qual ocorre a passagem do regime turbulento para o laminar. Número de Reynolds: υ Dv R e Regimes de escoamento Os regimes de escoamento são caracterizados pelos limites: se Re 2.000 regime laminar se Re 4.000 regime turbulento se 2.000 Re 4.000 zona de transição No regime laminar a perda de carga independe da rugosidade das paredes (atrito externo), dependendo somente do atrito interno (viscosidade). No regime turbulento a perda de carga depende dos dois tipos de atritos. J = hf L Tipos de Perdas de Cargas: Perda de Carga Contínua (hf): - É aquela que acontece em um trecho retilíneo de um conduto. Perda de Carga Localizada ou Acidental (ha): - É aquela que ocorre em peças colocadas ao longo de um conduto. Perda de Carga Unitária (J): - É a perda de carga contínua que ocorre por unidade de comprimento da tubulação. 5. Cálculo dos condutos forçados Perda de carga contínua Estudando o comportamento dos fluidos em escoamento, Darcy (Hidráulico Suíço) e outros, concluíram que a perda de carga contínua era: - Diretamente proporcional ao comprimento do conduto; - Proporcional a uma potência da velocidade; - Inversamente proporcional a uma potência do diâmetro; - Função da natureza das paredes, no caso do regime turbulento; - Independenteda pressão sob a qual o líquido escoa; - Independente da posição da tubulação e do sentido de escoamento. Cálculo da Perda de Carga Contínua: Hazen -Williams: J = perda de carga que ocorre em um metro de canalização retilínea (m m-1). Q = a vazão escoada (m3 s-1) D = diâmetro interno da canalização (m). C = coeficiente que depende da natureza das paredes (Tabela 2) 87,485,1 85,1641,10 DC Q J 85,1 87,4 641,10 C Q D L hf Cálculo da Perda de Carga Contínua: Hazen -Williams: J = 10,641Q1,85 C1,85D4,87 hf =10,641 L D4,87 Q C æ è ç ö ø ÷ 1,85 v = velocidade média do escoamento (m s-1). 54,063,2279,0 JCDQ 54,063,0355,0 JCDv Ferro fundido e aço galvanizado: e Plásticos e cobre: 25,1 75,1 00092,0 D v J 75,4 75,1 001404,0 D Q J Flamant: 75,4 75,1 000826,0 D Q J Darcy-Weisbach ou Equação Universal: Tanto para regime turbulento quanto laminar. A todos os diâmetros de canalizações. 52 28 gD fQ J f é um coeficiente que depende do material (rugosidade), do diâmetro do conduto e do regime de escoamento. f é tabelado ou determinado no diagrama de Moody. gD fv J 2 2 Diagrama de Moody: Cálculo da perda de carga localizada: Fórmula de Borda-Belanger: é a perda de carga causada por uma peça especial (m) K é um coeficiente que depende de cada peça e diâmetro (Tabela 5) O Valor de K depende o regime de escoamento. Para escoamento plenamente turbulento (Re 50.000), o valor de K para as peças especiais é praticamente constante, e são os valores encontrados nas tabelas e ábacos. Dh=K v2 2g Método dos comprimentos virtuais: A perda de carga que ocorre em uma peça especial pode ser equivalente à perda que ocorre ao longo de uma canalização retilínea de comprimento Lf . Pergunta-se: - Que comprimento de uma canalização provocaria a mesma perda Para saber basta igualar a equação de perda de carga localizada, com a de perda de carga contínua. Portanto: hf = f v2 D2g L fDh=K v2 2 g Método dos comprimentos virtuais: f v2 D2g L f = K v2 2g L f = K f D Como hf deve-se igualar a Δh, ou seja: Na Tabela 6 são apresentados alguns valores de Lf Método dos diâmetros equivalentes: Este método é uma particularidade do anterior. De acordo com a equação anterior, o comprimento fictício depende do diâmetro e da relação Por conseguinte, o comprimento fictício poderá ser expresso em um número de diâmetros: L f = K f D L f = n D f K n = representa o comprimento fictício de cada peça, expressa em número de diâmetros (Tabela 7) Problemas práticos Nos problemas de condutos forçados, são quatro os elementos hidráulicos: Q - vazão v - velocidade de escoamento J - perda de carga unitária D - diâmetro da canalização Na solução dos problemas têm-se disponíveis duas equações: Q= A1v1 = A2v2 = ... = Anvn J = b Qm Dn (Eq. da Continuidade) (Eq. Genérica da perda de carga) Tipos de problemas Tipo Elementos conhecidos Elementos incógnitos 1 D e J Q e V 2 D e V Q e J 3 D e Q V e J 4 J e V Q e D 5 V e Q D e J 6 J e Q D e V Tabela 8 - Valores de velocidades médias recomendados em projetos de condução de água. Características da condução Faixa de valores recomendados Água com material em suspensão v 0,60 m s-1 Instalações de recalque 0,55 v 2,40 m s-1 Faixa mais usual 1,00 v 2,00 m s-1 EXEMPLO 3. Dimensionar um conduto forçado em ferro fundido novo que deverá escoar a vazão de 30 L s-1 com perda de carga máxima de 0,002 m m-1. Solução: Ferro fundido novo Q = 30 L s-1 = 0,03 m3 s-1 J = 0,002 m m-1 Qual o valor de D? A) Utilizando a fórmula de Hazen-Willians Ferro fundido novo : C = 130 (Tabela 02) A) Utilizando a fórmula de Hazen-Willians Obs: O diâmetro calculado (D = 241 mm) está entre os diâmetros comerciais de 200 e 250 mm. 200 mm → maior perda de carga ou menor vazão. 250 mm → menor perda de carga ou maior vazão . 250 mm: Tecnicamente recomendado, mas de maior custo. Observação: considerando que a água escoará a uma temperatura de 20 oC, o número de Reynolds será: Como o diâmetro calculado é superior a 50 mm e o regime de escoamento é plenamente turbulento, então o uso da fórmula de Hazen-Williams é correto. B) Utilizando a fórmula de Flamant Ferro fundido novo: Análise: Idem caso anterior C) Utilizando a fórmula de Darcy-Weisbach No cálculo da rugosidade relativa e do número de Reynolds precisamos conhecer “D”, o qual consiste na incógnita do nosso problema. Para usarmos o diagrama de Moody, precisamos da rugosidade relativa e do número de Reynolds. Da tabela 4: “e” varia de 0,26 a 1 mm. Por segurança, usaremos o valor de e = 1mm. D = 8 fQ2 p 2gJ é ë ê ù û ú 1 5 J = 8 fQ2 p 2gD5 Desta forma resolveremos o problema por tentativa e erro, assumindo, inicialmente, D = 150 mm: Rugosidade relativa: Velocidade: Número de Reynolds: e D = 1 150 = 0,0067 v = 4Q pD2 = 4(0,03) p (0,152 ) =1, 70ms -1 Re = vD u = (1, 70)(0,15) 1,011´10-6 = 252225 f =0,032 Aplicando-se a equação de Darcy-Weisbach Como este valor é diferente do valor assumido inicialmente (D =150 mm), devemos refazer os cálculos utilizando-se o diâmetro comercial mais próximo, isto é: D = 250 mm mmmD 260260,0 )002,0)(81,9( )03,0)(032,0(8 5 1 2 2 Desta forma para D = 250 mm: Nova rugosidade relativa: Nova velocidade: Novo número de Reynolds: e D = 1 250 = 0,004 v = 4Q pD2 = 4(0,03) p (0,252 ) = 0,61ms -1 Re = vD u = (0,61)(0,25) 1,011´10-6 =150840 f =0,029 Aplicando-se novamente a equação de Darcy- Weisbach Neste caso, o valor calculado na segunda tentativa (255 mm) já está bem próximo do valor comercial (250 mm). Portanto, o diâmetro deverá ser de 250 mm. D = 8(0,029)(0,032 ) p 2(9,81)(0,002) = 0,255m = 255mm Obs: Os valores dos diâmetros calculados usando as três equações foram bem próximos, uma vez que as restrições ao uso das equações de Hazen-Williams e Flamant foram atendidas. Exemplo 6. Calcular a perda de carga total em um trecho de uma canalização de alumínio, que conduz 20 L s-1, numa extensão de 1200 m. O diâmetro da canalização é 150 mm e ao longo do trecho têm-se as seguintes peças especiais, com seus respectivos números: Peça especial Número de peças Curva de 90º 2 Cotovelo de 90º 3 Curva de 45º 2 Curva de 30º 2 Válvula de retenção 2 Registros de gaveta 2 Medidor venturi 1 Resolução no quadro Peça especial Número de peças K n K Curva de 90º 2 0,4 0,8 Cotovelo de 90º 3 0,9 2,7 Curva de 45º 2 0,2 0,4 Curva de 30º 2 0,2 0,4 Válvula de retenção 2 2,5 5 Registros de gaveta 2 0,2 0,4 Medidor venturi 1 2,5 2,5 ΣK 12,2 Somatório de K para utilização de Borda-BelangerSomatório de Lf para utilização do método dos comprimentos virtuais Peça especial Número de peças Lf n Lf Curva de 90º 2 2,5 5 Cotovelo de 90º 3 4,3 12,9 Curva de 45º 2 1,1 2,2 Curva de 30º 2 1,1 2,2 Válvula de retenção 2 13 26 Registros de gaveta 2 1,1 2,2 Medidor venturi 1 13 13 ΣLf 63,5 Somatório de nd para utilização do método dos diâmetros equivalentes Peça especial Número de peças nd n nd Curva de 90º 2 30 60 Cotovelo de 90º 3 45 135 Curva de 45º 2 15 30 Curva de 30º 2 15 30 Válvula de retenção 2 100 200 Registros de gaveta 2 8 16 Medidor venturi 1 100 100 Σnd 571 Exemplo 4a. De um reservatório de nível constante parte uma canalização de 200 mm de diâmetro, de ferro fundido, com extensão de 1600 m. A cota do nível da água no reservatório é de 650 m e a outra extremidade do conduto, que descarrega na atmosfera, é de 595 m. Determinar a vazão escoada. Exemplo 4b. Resolver o problema anterior considerando a necessidade de se ter uma pressão de 30 mca na extremidade inferior da adutora, necessária para fazer funcionar uma linha de aspersão, conforme mostra a figura abaixo. Perguntas?
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