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Pessoas Jurídicas: Conceito e Classificação

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LIVRO I
DAS PESSOAS
TÍTULO II
DAS PESSOAS JURÍDICAS
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
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		 PESSOAS JURÍDICAS
	Consistem as pessoas jurídicas num conjunto de pessoas ou de bens, dotado de personalidade jurídica própria e constituído na forma da lei, para a consecução de fins comuns. 
	São entidades a que a lei confere personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações. A sua principal característica é a de que atuam na vida jurídica com personalidade diversa da dos indivíduos que as compõem.
	Diz a teoria da realidade técnica, que foi adotada por nossa lei, que a personificação dos grupos sociais é um expediente de ordem técnica, sendo a forma encontrada pelo direito para reconhecer a existência de grupos de indivíduos, que se unem na busca de fins determinados.
			 REQUISITOS
	São quatro os requisitos para a constituição da pessoa jurídica: a) Vontade humana criadora; b) Elaboração do ato constitutivo; c) Registro do ato constitutivo no órgão competente; d) Licitude de seu objetivo. 
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	A vontade é a intenção de criar uma entidade para consecução de fins comuns ( affectio societatis ).
	O ato constitutivo é o requisito formal, sempre escrito, denominando-se estatuto para as associações; contrato social para as sociedades simples ou empresárias; escritura pública ou testamento para as fundações.
	O registro, que dá personalidade é nova entidade ( art. 45 do CC. ), será feito em registro público regulado por lei.
	A liceidade de seus fins é fundamental, não podendo ser constituída pessoa jurídica que tenha fins ilícitos. A prática de objetivos ilícitos ou nocivos constitui causa de extinção da pessoa jurídica, nos termos do art. 69 do CC. 
 COMEÇO DA EXISTÊNCIA LEGAL
	A personalidade da pessoa jurídica só começa com o registro de seus atos constitutivos. Sem o registro a pessoa jurídica, na verdade, ainda não nasceu, juridicamente falando. As que não forem registradas são chamadas sociedades irregulares ou de fato e não têm personalidade jurídica. 
			
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	As associações, sociedades simples e fundações são registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, regulado nos arts. 114 e seguintes da Lei de Registro Públicos.
	As sociedades empresárias são registradas na Junta Comercial, que mantém o Registro Público de Empresas Mercantis.
	Algumas pessoas jurídicas, antes do registro, precisam ainda obter especial autorização do Governo Federal. É o caso, por exemplo, das empresas estrangeiras, agências de seguros, instituições financeiras, empresas jornalísticas, etc.
	Art. 45 – Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
	
	As sociedades de fato ou irregulares não têm personalidade jurídica, estando reguladas nos arts. 986 a 990 do CC. Todos os sócios respondem pelas dívidas da sociedade.
	
 	
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	Existem também certos grupos sociais sem personalidade jurídica, mas que a lei processual permite agirem em Juízo. Eles têm representação processual, embora não sejam considerados pessoas jurídicas.
	É o caso da família; da massa falida ( acervo de bens do falido, representada no processo de falência pelo Síndico ); da herança jacente e vacante ( bens da pessoa falecida sem herdeiros ); do espólio ( complexo de direitos e obrigações do falecido, representado no inventário pelo inventariante ); do condomínio edilício ( representado em Juízo pelo seu síndico ).
	 CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS
	Elas se classificam sob vários critérios:
	1) Quanto à nacionalidade, podem ser nacionais ou estrangeiras. 
	As nacionais são as organizadas de conformidade com a lei brasileira, com sede no Brasil ( art. 1.126 a 1.133 do CC. ). As estrangeiras precisam de autorização do Governo Federal para atuar no país ( arts. 1.134 a 1.1141 do CC. )
	
 
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	2) Quanto à estrutura interna, são as corporações e as fundações.
	As corporações ( associações e sociedade ) são conjuntos de pessoas, com objetivos internos, dos sócios. Seu patrimônio é dos sócios, para realização de seus fins. Seus órgãos são dominantes da pessoa jurídica.
		
	As fundações têm o patrimônio como elemento essencial. Compõem-se de um patrimônio personalizado, destinado a um fim. Seus objetivos são externos, imutáveis, estabelecidos pelo seu Instituidor. Não têm fins lucrativos. Seus órgãos dirigentes são servientes, ou seja, servem a pessoa jurídica.
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	3) Quanto à função ou órbita de atuação, dividem-se em pessoas de direito público e de direito privado.
 
	As primeiras podem ser de direito público externo e de direito público interno.
	As de direito público externo, como diz o art. 42 do CC., são os Estados estrangeiros, ou seja, os países do mundo ( Inglaterra, França, USA, Argentina, etc. ) e todas as demais pessoas regidas pelo Direito Internacional Público ( Santa Sé, ONU, OEA, UNICEF, FAO, etc. )
	As de direito público interno são a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, as autarquias, e as demais entidades de caráter público criadas por lei ( art. 41 do CC. )
	As pessoas jurídicas de direito privado, previstas no art. 44 do CC., são as associações, as sociedades, as fundações, as organizações religiosas e os partidos políticos.
	 
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 AS ASSOCIAÇÕES
		Estão reguladas nos arts. 53 a 61 do Código Civil. 
	Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.
 	Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.
	O que as caracteriza é não terem fins econômicos, nem finalidade lucrativa. Seus objetivos são altruísticos, científicos, artísticos, beneficentes, religiosos, educativos, culturais, políticos, esportivos ou recreativos. Seus estatutos devem conter :
	Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:
 	I - a denominação, os fins e a sede da associação; 
	II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; 
	III - os direitos e deveres dos associados; 
	IV - as fontes de recursos para sua manutenção; 
	V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos
 	Os demais artigos dispõem como elas funcionam, quais são os direitos dos sócios e como se dissolvem.
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 AS SOCIEDADES
	O Código Civil regulou as sociedades nos arts. 981 a 1.141 do Código Civil, no Livro II, da Parte Especial, denominado Direito da Empresa. O que as caracteriza é terem finalidade econômica e lucrativa.
	Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. 
 	Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados.
	Elas podem ser de dois tipos: as simples e as empresárias, nomes que substituiram as antigas sociedade civis e comerciais.
	As sociedades empresárias exercem profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços. São estudadas no Direito Empresarial ( ou Direito Comercial ) a partir do 2º Ano.
	
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 Sociedades Simples
	As sociedades simples são estudadas no Direito Civil e reguladas nos arts. 997 a 1.038 do Código Civil.
	São constituídas em geral, por profissionais que atuam numa mesma área ou por prestadores de serviços técnicos, com fins econômicos ou lucrativos. São, por exemplo, clínicas médicas e dentárias, escritórios de advocacia, instituições de ensino, etc.
	Seu contrato escrito de formaçãodeverá dispor as características da sociedade, na forma do art. 997 do Código Civil.
	Por outro lado, esse contrato deverá ser registrado no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, conforme texto do art. 998 do Código Civil.
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	Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: 
 
	I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; 
	II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; 
	III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; 
	IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; 
	V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; 
	VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; 
	VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; 
	VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. 
 
 	Art. 998. Nos trinta dias subseqüentes à sua constituição, a sociedade deverá requerer a inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede.
 
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 AS FUNDAÇÕES
	Fundações são pessoas jurídicas constituídas por um patrimônio e um fim. Consistem em um acervo de bens, que recebe personalidade jurídica, para a realização de um fim determinado, de interesse público.
	Decorrem da vontade uma pessoa, denominada Instituidor, e seus fins, de natureza religiosa, moral, cultural ou assistencial, são imutáveis.
	Sua criação desdobra-se em quatro fases:
	a) Ato de Dotação ou de Instituição;
	b) Elaboração dos Estatutos;
	c) Aprovação do Ministério Público;
	d) Registro.
	 O Ato de Dotação ou de Instituição é aquele no qual o Instituidor separa bens livres, para a consecução de um fim de interesse público. Esses bens, que podem ser móveis, dinheiro, imóveis, créditos, etc., devem ser aptos a produzir rendas ou serviços que possibilitem a realização do objetivo instituído
 
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	Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. 
 
	Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.
	Os Estatutos podem ser elaborados pelo próprio Instituidor, juntamente com o Ato de Instituição, ou posteriormente, por uma pessoa de sua confiança e por ele designada. Se tais Estatutos não forem elaborados no prazo de 180 dias, o Ministério Público deverá fazê-lo.
	A Aprovação do Ato de Instituição e dos Estatutos será requerida ao representante do Ministério Público do lugar onde a Fundação estiver situada. O Ministério Público fiscalizará sempre a vida da Fundação e deverá aprovar qualquer alteração futura dos estatutos.
	O Registro, que deverá ser feito no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, é que dará finalmente personalidade jurídica à Fundação. As futuras alterações dos Estatutos deverão igualmente ser aprovadas pelo Ministério Público e registradas, não podendo de forma nenhuma modificar os fins estabelecidos pelo Instituidor.
	
 
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 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
	A lei confere personalidade jurídica às pessoas jurídicas para que elas melhor possam atingir seus objetivos. Essa personalidade jurídica, distinta da das pessoas naturais que a compõem, foi concebida pelo Direito para que as pessoas jurídicas pudessem participar do comércio jurídico com individualidade, com patrimônio próprio, para melhor consecução de seus fins.
	No entanto, esse princípio da autonomia patrimonial possibilita que sociedades empresárias sejam utilizadas para a prática de fraudes e abusos de direito contra credores, causando-lhes prejuízos. Pessoas sem escrúpulos têm se utilizado desse princípio para prejudicarem terceiros, escondendo-se, por assim dizer, atrás da pessoa jurídica para proteger seus negócios ilícitos.
	Por causa desses abusos, surgiu em vários países a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, permitindo que os juízes, perante essas situações, desconsiderem a personalidade da pessoa jurídica e alcancem diretamente seus sócios, vinculando seus bens particulares para satisfação das dívidas da sociedade.
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	Nesses casos, mesmo mantendo a pessoa jurídica, sem dissolvê-la ou anulá-la, apenas no tocante àquelas situações, o juiz pode provisoriamente, para cada caso concreto, desconsiderar a personalidade da pessoa jurídica e responsabilizar os sócios desonestos.
	No Brasil, essa teoria já foi prevista no art. 135 do Código Tributário Nacional; no art. 28 do Código de Defesa do Consumidor ( Lei nº 8.078/90 ); no art. 4º da Lei nº 9.605/98, que dispõe sobre atividades lesivas ao meio ambiente, e, finalmente, no art. 50 do Código Civil.
	Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. 
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	A confusão patrimonial referida no art. 50 configura-se quando a sociedade paga dívida do sócio, ou este recebe créditos dela, ou o inverso. O mesmo ocorre quando se descobrem bens de sócio registrados em nome da sociedade, e vice-versa. 
	Essas disposições legais, contudo, devem ser utilizadas com muita cautela, excepcionalmente, somente quando ocorrer abuso de direito ou fraude por parte dos sócios, que estejam com essas manobras prejudicando terceiros.
	 EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA
	
	Assim como as pessoas naturais, as pessoas jurídicas também podem se extinguir, findando sua personalidade jurídica. Os atos de dissolução podem ocorrer de quatro formas diferentes: 
	a) Convencional;
	b) Legal; 
	c) Administrativa;
	 d) Judicial.
	
	
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	a) Convencional
	Está basicamente regulada no art. 1.033 do Código Civil e ocorre quando há acordo entre os sócios.
	b) Legal.
	Ocorre por motivos determinantes da própria lei, como, por exemplo, a decretação da falência, a morte dos sócios, o término do capital, nas sociedades. 
	c) Administrativa.
	Acontece quando as pessoas jurídicas dependem de autorização do Governo para funcionarem e essa é cassada, nos termos do art. 1.125 do Código Civil.
	d) Judicial.
	Quando é dissolvida por Sentença Judicial, nos casos do art. 1.034 e principalmente do art. 69, por terem seus fins se tornado ilícitos, impossíveis ou inúteis.

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