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Ana Luiza Bittencourt DIREITO CIVIL I – TEORIA GERAL DO DIREITO PRIVADO I Pessoa Jurídica (art. 40 a 69) - Conceito: pessoas jurídicas são unidades de pessoas naturais e/ou patrimônios, que visam a consecução de certos fins, dotadas de personalidade jurídica própria, que visam a consecução de certos fins, sendo assim sujeitos de direitos e obrigações. - Principal característica: atuam na vida jurídica com personalidade distinta da dos indivíduos que a compõem. - Natureza jurídica: existem teorias que negam a existência da pessoa jurídica e outras que afirmam sua existência: ● Teoria negativista: negava a existência concreta das pessoas jurídicas e as vislumbravam apenas como patrimônios sem sujeito. Essa teoria não prospera porque não existe patrimônio sem sujeito. ● Teoria afirmativista: defende a existência real de grupos sociais com interesses próprios > possuem individualidade própria reconhecida pelo Estado e distinta das pessoas que a compõem. - Teoria da ficção: a pessoa jurídica constitui uma criação artificial da lei, um ente fictício, pois só a pessoa natural pode ser sujeito da relação jurídica e titular de direitos subjetivos. - Teoria da realidade: * objetiva = as pessoas jurídicas são organismos sociais com existência e vontade próprios, diversos de deus membros, tendo por fim realizar objetivos sociais (incidiu ao erro ao eliminar a vontade humana). * técnica = entendia ser real a pessoa jurídica, porém dentro de uma realidade técnica, ou seja, distinta das pessoas naturais > existem pessoas jurídicas (constituídas por pessoas naturais) e existem pessoas naturais. * das instituições jurídicas = misto > a personalidade humana deriva do direito e também pode ser concedida a certos entes para realizar fins próprios, a partir do desejo, vontade das pessoas naturais, que lhe deram vida. Ou seja, a pessoa jurídica como uma realidade jurídica, pendente da vontade humana. Classificação das pessoas jurídicas - Quanto à NACIONALIDADE: ● Nacionais: art. 1126/CC: “É nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no país a sede de sua administração.” ● Estrangeiras: a sociedade estrangeira não pode, sem autorização do poder Executivo, funcionar no país, ainda que por estabelecimentos subordinados, mas pode ser acionista de sociedade anônima brasileira (art. 1.134/CC) - Quanto à ESTRUTURA: ● Corporação: grupamento de pessoas ligadas por um sentimento em comum, tendendo a um desiderato único. São pessoas que, percebendo as vantagens do associativismo, buscam alcançar mais facilmente determinado resultado. - Associações: uniões de pessoas naturais, com fins NÃO ECONÔMICOS (sem finalidade lucrativa). Podem e devem ter ganho financeiro, mas o eventual lucro será reaplicado na própria entidade, não podendo haver a partilha entre os sócios. Os estatutos da fundação devem atender ao art. 54/CC. Não existem direitos e obrigações recíprocos entre os associados, e por isso, há igualdade em direitos entre eles. Mas nada impede que o estatuto dê vantagens a alguns. No caso da dissolução da associação, o patrimônio será destinado na forma estatuária (conforme diz seu estatuto) ou, no silêncio, a outra entidade de fins não econômicos similar. - Sociedades: são pessoas jurídicas que almejam o lucro para reparti-lo entre os sócios. Art. 981, do CC: “Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.” Quanto à finalidade, podem ser: * Simples = quando seu objeto não disser respeito a uma atividade típica de empresário. Constituídas, no geral, por profissionais que atuam em uma mesma área ou por prestadores de serviços técnicos (clínicas médicas e dentárias, escritórios de advocacia, instituições de ensino, etc.) Art. 997 ao 1.038 CC. * Empresárias = exercício de atividade mercantil, relacionada com atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens e serviços. Art. 966 a 982 CC.) ● Fundação: constituída por um acervo de bens que recebe personalidade jurídica para a realização de determinados fins (interesse público, natureza social, cultural ou assistencial) > não resulta da união de indivíduos, mas da afetação de um patrimônio, por testamento ou escritura pública. São compostas por dois elementos: patrimônio e fim (estabelecido pelo instituidor e não lucrativo) As fundações podem ser públicas (instituídas pelo Estado, pertencendo seus bens ao patrimônio público, regendo-se pelas normas próprias de direito administrativo) e privadas. Art. 62 a 69, CC. - Quanto à órbita de sua ATUAÇÃO: ● De direito público interno: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; os Municípios; as autarquias (inclusive as associações públicas); as demais entidades de caráter público criadas por lei (inclusive as agências reguladoras). ● De direito público externo: todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público, ex.: ONU, OEA, OIT, Unesco, etc. ● De direito privado: associações; sociedades; fundações; organizações religiosas (união de indivíduos com propósito de culto; não têm fins econômicos – a elas são aplicadas as normas referentes às associações, naquilo que houver compatibilidade); partidos políticos (têm natureza própria – seus fins não se caracterizam em econômicos ou não). Pressupostos existenciais da pessoa jurídica - Requisitos para que uma pessoa jurídica exista: ● vontade humana criadora (intenção de criar uma entidade distinta da de seus membros); ● observância das condições legais para a sua instituição (elaboração do ato constitutivo > estatuto ou contrato social + registro do ato constitutivo no órgão competente). ● licitude de seu objetivo. Surgimento da pessoa jurídica - A pessoa natural surge a partir do nascimento com vida. Da mesma forma, a pessoa jurídica também possui um ciclo de existência. - A pessoa jurídica surge com a inscrição do ato constitutivo ou do contrato social no registro competente (junta comercial para as sociedades mercantis em geral e cartório de registro civil de pessoas jurídicas para as fundações, associações e sociedades civis). Em algumas hipóteses, exige-se ainda a autorização do Poder Executivo para o seu funcionamento. - Art. 46. Sociedades irregulares ou de fato - Sem o registro do ato constitutivo a pessoa jurídica é considerada irregular > mera associação ou sociedade de fato, sem personalidade jurídica, ou seja, é uma mera relação contratual disciplinada pelo estatuto ou contrato social. - São chamadas de não personificadas. - A aquisição de direitos é uma consequência da norma e a imposição de deveres sempre existe, então essas sociedades irregulares não podem acionar seus membros, nem terceiros, mas podem ser acionadas pela responsabilização de seus atos. Ex.: duas pessoas possuem uma sociedade irregular que mexe com buffet. Se elas contratam um terceiro para serem responsáveis pelas bebidas e esse terceiro não cumpre o contrato, então não tem como a sociedade irregular tratar disso por ser irregular. Mas, caso a situação fosse o contrário (a sociedade irregular que fez algo errado com terceiro) então ela deve se responsabilizar por seus atos. Capacidade e representação da pessoa jurídica - A pessoa jurídica pode gozar de direitos patrimoniais, obrigacionais, sucessórios (caso alguém tenha deixado um testamento) e direitos da personalidade (art. 52). - Para o exercício de seus direitos, tem capacidade jurídica especial seu representante legal. Na ausência de previsão específica, qualquer dos sócios representará a pessoa jurídica. O art. 12 do CPC define a representação, ativa e passiva, das pessoas jurídicas de direito público. Domicílio da pessoa jurídica - O domicílio da pessoa jurídica é a sua sede, indicada em seuestatuto, contrato social ou ato constitutivo equivalente. É o seu domicílio especial. - O art. 75, CC define: “Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é: I – da União, o Distrito Federal; II – dos Estados e Territórios, as respectivas capitais; III – do Município, o lugar onde funcione a administração municipal; IV – das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos”. - Quanto às pessoas jurídicas de direito privado, a sua sede jurídica pode ser natural, legal ou convencional: ● Natural: domicílio decorrente do funcionamento da diretoria ou administração da pessoa jurídica, bem como suas respectivas filiais (art. 75, §1º). ● Legal: decorre de expressa previsão da norma jurídica (art. 75, §2º). ● Convencional: estabelecido no ato constitutivo, regularmente registrado. - Faculta-se o reconhecimento da pluralidade de domicílios da pessoa jurídica para facilitar a propositura de ações judiciais contra elas, permitindo que a vítima a aciona onde travou relações jurídicas. Súmula 363 do STF: “A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência ou estabelecimento em que praticou o ato”. Responsabilidade civil e penal da pessoa jurídica - Responsabilidade civil: os representantes das pessoas jurídicas respondem com seu patrimônio. - Responsabilidade penal: as sanções penais se destinam exclusivamente às pessoas físicas e as sanções administrativas às pessoas jurídicas. Art. 3º da Lei 9605/98. Desconsideração da personalidade jurídica (art. 50, CC; e art. 28, CDC) - A desconsideração é feita em duas hipóteses no caso de ABUSO: pode consistir em DESVIO DA FINALIDADE ou em CONFUSÃO PATRIMONIAL. - No primeiro caso, desvirtuou-se o objetivo social, para se perseguirem fins não previstos contratualmente ou proibidos por lei. No segundo, perde-se a identificação dos patrimônios que são dos sócios ou da pessoa jurídica (pois houve a mistura). - A teoria da desconsideração da personalidade jurídica permite que o juiz, em casos de fraude e de má-fé, desconsidere o princípio de que as pessoas jurídicas têm personalidade distinta da de seus membros e autorize a penhora de bens particulares dos sócios. - O afastamento da personalidade jurídica é temporário, perdurando até que os credores se satisfaçam no patrimônio pessoal dos sócios infratores, verdadeiros responsáveis pelos ilícitos praticados. Ressarcidos os prejuízos, sem prejuízo da simultânea responsabilização administrativa e criminal dos envolvidos, a empresa, por força do próprio princípio da continuidade, poderá, desde que apresente condições jurídicas e estruturais, voltar a funcionar. - Em caráter de excepcional gravidade, poderá ocorrer a DESPERSONALIZAÇÃO. Há então a extinção compulsória, pela via judicial, da personalidade jurídica. - Despersonalização = extinção da personalidade jurídica. - Desconsideração = suspensão temporária. Extinção da pessoa jurídica A extinção poderá ocorrer de forma: • Convencional = deliberada entre os próprios integrantes da pessoa jurídica, respeitando o estatuto ou o contrato social. • Administrativa = resulta da cassação da autorização de funcionamento, exigida por determinadas sociedades se constituírem e funcionarem. Se praticam atos opostos a seus fins, ou nocivos ao bem coletivo, a administração pública pode extinguir a pessoa jurídica. • Judicial = observada uma das hipóteses de dissolução previstas em lei ou no estatuto, o juiz, por iniciativa de qualquer um dos sócios, poderá, por sentença, determinar a sua extinção.
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