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Camarada Claudinei, Pelo menos desde nossa primeira reunião do grupo de pesquisa, venho tentando encontrar uma forma de explicar ao grupo minha relação afetiva com Cíntia, sem causar mal-estar. O problema é que não costumo dar explicações acerca dessa questão para ninguém. O que tinha que dizer para o grupo já disse, mas sei que não é suficiente, nem para o grupo, nem para a Rute, que se sente – com razão – prejudicada, mas não vejo ourtra saída, a não ser mantê-la afastada, por enquanto, das reuniões. Daí, o motivo desse email, na verdade uma carta que gostaria que mantivesse arquivada num bom lugar, porque um dia vou precisar dela. Talvez nem você saiba, mas quem decidiu a separação foi a Rute. Tentei, em vão convencê-la de que seria muito pior pra ela, mas ela estava resolvida, me mandou sair de casa e saí. Depois da conversa, saí em uma semana. Isso era novembro de 2012. Foi minha separação mais difícil pelos bons anos que vivi, pelo carinho e pela criação que dei às duas crianças, pelo bom relacionamento que tenho com quase toda a família. Mas, que seja machismo: homem que é homem, não arrega! Pois bem, em uma semana, negociei – com um preço lá em cima – uma casa e comprei pela CEF, como acho que sabes. Passei o natal e o ano novo em Manaus, e encontrei a Cíntia, que havia acabo de chegar a Manaus. Sobrinha de um amigo meu de infância, começamos a namorar. Era janeiro de 2013. Já a partir do segundo semestre de 2013, a Rute começou a se arrepender e, como você sabe, sempre a tratei muito bem, senão por ser uma pessoa confiável, pelo menos porque lhe devo tudo o que de bom aconteceu comigo, a partir de 2000. Às vezes, a gente deve às pessoas que muitos não dão valor, por não serem intelectuais, ou por não terem dinheiro ou poder, mas são pessoas cujo trabalho é fundamental para que o outro cresça. E isso ela fez, além de ter sempre boas ideias de trabalho. Fato é que minha estima é a mesma de antes, por ela. Em novembro de 2014, como sabes, ela teve aquele AVC devastador e, mesmo contrariando a Cíntia, a levei para tratamento em Campinas, onde, enfim, ela encontrou o tratamento adequado. Mas o fato é que Cíntia e ela não se bicam e, nesse caso, a Cíntia tem razão, porque quando (e mesmo agora), começamos a namorar, eu estava plenamente solteiro. Mas, então, tem um outro lado, só meu. Tenho clareza de que meu relacionamento com a Cíntia é passageiro, particularmente, pela idade. Em breve ela continuará nova e eu estarei velho demais. Isso não tem solução. Então, tenho feito tudo para que a Cíntia, que tem grande potencial técnico e intelectual, possa construir seu futuro, de preferência, produzindo pelas hostes do marxismo. Mas essa é uma decisão dela! Como ademais de todos de nosso grupo. No fundo cada um é livre para ser o que quiser, jamais faremos algo em contrário. Liberdade é tudo, mesmo que às vezes nós sejamos suas vítimas. Por outro lado, a Rute se sente alijada e ando preocupado com isso. Nesse sentido, gostaria que, sempre que pudesse, desse uma força para ela (claro se isso for do seu agrado), convidasse para jantar, ou uma festinha, ou coisa parecida. Queria que, a sós, conversasse isso com a Adriana (ela entenderá) e que, também, se possível, a Adriana a chamasse para esse tipo de conversa informal, que sempre, sabes, é muito bom para o espírito. Por fim, gostaria de confidenciar, o que talvez possa ser uma arrogância minha, não descarto a possibilidade, depois que a Cíntia terminar o mestrado, se a Rute quiser (e temos conversado sobre isso) de retomar minha relação afetiva com ela. Evidentemente, que Cíntia sabe (tenho indicado, ainda que de forma velada) que nossa relação é uma caminha, que está sendo bela, mas não tem muito futuro. Veja: isso deve ser segredo de Estado. Tanto que vou deletar, de todos os lugares esse email e, por isso, quero que guarde bem guardado. Posso confiar? Se você for como aquele assistente do Tancredo Neves, que disse: “doutor, se o senhor não consegue segurar o seu segredo; o senhor quer que eu consiga?”.... hehehe. Abraço fraterno. Porto Velho, 1º de Junho, o mês mais bonito do ano na Amazônia, de 2016. Antônio Carlos Maciel.
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