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Resenha Gill

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Stephen Gill e David Law - The Global Political Economy
	O capítulo intitulado Marxismo e o Sistema Global, presente no livro The Global Political Economy: perspectives, problems and policies, de autoria de Stephen Gill e David Law, apresenta a tradicão marxista como rica e variada, focando em algumas ideias da economia capitalista mundial e as relações entre os distintos tipos de Estados capitalistas. Com esse propósito em mente os autores analizam, em termos de tipos-ideais, as três escolas: o marxismo clássico de Lenin, Bukharin, Hilferding e Luxemburg, antes da revolução Russa de 1917; a dependência e as escolas de sistema global que tomam forma a partir dos anos 1950; e o materialismo transnacional histórico de autores como Hymer e Cox.
	A característica central da tradicão marxista é que a economia política é percebida "as of historically specific nature, with sucessive and possibly overlapping epochs of development" (GILL; LAW, p. 54, 1998), essas etapas do desenvolvimento (comunismo primitivo, feudalismo, capitalismo e comunismo) são definidas em termos de modos de produção e cada uma tem suas típicas relações de classe. O que leva a mudança de uma etapa para a outra é a sua superioridade produtiva, que para ocorrer e se sustentar requer mudanças em instituições políticas e sociais.
	Quanto especificamente à etapa do capitalismo, os maxistas buscaram identificar seus estágios: capitalismo mercantil (séc. XVI ao XVIII), capitalismo industrial nascente (fins do séc. XVII à metade do séc. XIX), estágio imperialista ou de monopólio (fins do séc. XIX até o séc. XIX) e super-imperialismo ou capitalismo avançado/tardio (desde 1945). O modo capitalista é caracterizado pelo surgimento de duas classes: os capitalistas e os operários cujos interesses são fundamentalmente opostos.
	O Estado, na visão marxista tradicional, age direta ou indiretamente em favor dos interesses da classe dominante, desse modo o Estado é um instrumento "for managing the affairs of the ruling class or bourgeoisie" (GILL; LAW, p. 56, 1998). Para Lenin o mais alto estágio do capitalismo era o imperialismo, e somente depois deste se faria a transição para o socialismo.
	Para alguns autores como Lenin e Bukharin a rivalidade entre Estados era algo comum no capitalismo, e raro no socialismo, assim, "whilst the capitalists of the world were bound to exist in a contradictory world of competition and conflict, the workers of the world were seen as, at least theoretically, able to unite" (GILL; LAW, p. 59, 1998). Deste modo, a bandeira vermelha seria o símbolo internacional pela aliança pacífica do proletariado.
	Para Lenin a revolução aconteceria em algum lugar da Europa, porém em razão do fracasso da Revoluçao Russa de se espalhar para o resto do continente, o autor se voltou para a Índia e a China. Ao decorrer do séc. XX os trabalhadores ocidentais se tornaram mais conscientes do gap no padrão de vida entre os trabalhadores na Ásia, América Latina e África. Esse gap não foi cogitado por autores como Lenin, por exemplo, que argumentava que havia uma tendência à equalização da condição econômica entre o centro/núcleo e a periferia. Há alguns autores como Fernando Henrique Cardoso que buscam em suas teses explicar o impacto sistêmico da dependência estrutural na periferia, no caso deste autor, ele argumenta que pode haver entre os países da periferia alguns que tenham um 'desenvolvimento dependente' e associado proveniente de um relacionamento complexo entre o Estado, o capital local e o capital internacional. No entanto, a condição estrutural de dependência continua existindo e a inserção da periferia no jogo político econômico internacional acaba por dar vantagens ao capital do centro em razão do da periferia. A condição estrutural de dependência também pode ser percebida em termos culturais, acontecendo quando ideias, gostos e mesmo linguagens ocidentais são absorvidas por países menos desenvolvidos, que passam então a copiar o estilo de vida do núcleo.
	Enquanto marxistas clássicos focam suas teses entre os Estados centrais, os dependentistas e os autores que argumentam pelo sistema global, tendem a assumir que há entre esses Estados um grau significativo de cooperação. O que distingue os escritores do Sistema Global dos escritores dependentistas é sua preocupação com a dinâmica histórica e com um mais abrangente conjunto de categorias que possibilitam uma explicação mais detalhada dos processos e padrões de mudança. Ambas vertentes são deterministas (identificam um conjunto pre-determinado de estruturas).
	Os autores dependentistas em sua maioria focam suas esperanças em possíveis revoluções socialistas no Terceiro Mundo. Estes autores argumentam que a rota de desenvolvimento nacional capitalista seguido pelo modelo japonês no séc. XIX não é mais praticável, deste modo, o socialismo se consagra como "the only path to 'auto-centric' (or independent)" (GILL; LAW, p.62, 1998).
	Os marxistas clássicos baseam-se no intrumentalismo para argumentar suas teses. Os marxistas contemporâneos, por outro lado, tiram sua inspiração dos trabalhos de Antonio Gramsci . O marxismo gramsciano é pouco desenvolvido, mas ganha cada vez mais atenção de autores que buscam ir além do determinismo e economicismo das teorias de marxismo clássico.
	Algo em que todos os autores radicais concordam é que além da explicação sobre a economia política global, eles pretendem mudá-la. Estes autores só se distinguem quanto a quais mudanças devem ocorrer, quando, quais repercussões essas mudanças podem ter e como movimentos e partidos dos trabalhadores podem influenciá-las. A grande questão de longividade do capitalismo e transição para o socialismo e posteriormente para o comunismo é problemática. Enquanto os autores clássicos acreditavam que a revolução aconteceria nos países centrais, outros marxistas, vêem o capitalismo como uma instiuiçao ainda que ao mesmo tempo que é forte, também engloba mudanças características, tornando-se mais flexível transnacional e institucionalmente. Os autores dependentistas situam-se no meio desses dois extremos apresentados acima, argumentando que a mudança revolucionária é mais provável de acontecer na periferia.
	O capítulo intitulado Key Concepts: Power, Structure and Hegemony busca compreender estes elementos-chave. O texto traz uma distinção entre 'power resources' e 'power over', e dá como exemplo de power over a intervenção militar dos EUA em Grenada (1983) que levou à mudança do sistema político da ilha.
	Os autores argumentam que o 'active power' pode ter formas variadas através do uso de sanções negativas ou positivas, sanções estas que podem implicar em coerção, manipulação ou detenção. Isto posto, os Gill e Law se propõem a diferenciar as três dimensões de poder: poder ostensivo (quando um ator ou agente faz com que outro ator ou agente modifique seu comportamento de modo a satisfazê-lo), poder dissimulado (quando um ator ou agente tem um poder menos óbvio e menos ativo sob o outro) e poder estrutural (aquela forma de poder que pode envolver aspectos materiais e normativos fazendo com que se criem padrões de incentivos e constrangimentos).
	Gill e Law apresentam neste capítulo dois conceitos de hegemonia, o conceito realista e o conceito Gramsciano. O conceito realista está diretamente relacionado à ideia de balança de poder e distribuição dos recursos internacionais de poder entre os Estados, enquanto que o segundo conceito - o gramsciano - tenta explicar a natureza e possibilidade de ordem no mundo capitalista pós-hegemonia (e o faz a partir da noção de racionalidade auto-interessada dos Estados e outros atores que ascenderam no contexto da interdependência complexa, quando a cooperação se torna necessária e racional). Pode-se dizer que esta explicação é proveniente de uma mistura de concepções liberais e realistas. Um terceiro conceito - ligado à teoria Marxista-Gramsciana - trata dos interesses de classes interligados, muitas vezes transnacionais.
	Para uma melhor e mais precisa compreensão da diferençaentre os conceitos distintos de hegemonia pode-se associá-los com as três dimensões de poder: a primeira associada com a explicação, dada pela teoria realista, de ordem, particularmente a explicação fornecida pela Teoria da Estabilidade Hegemônica, para esta dimensão a hegemonia pode ser compreendida como uma combinação de dominância e dominância ativa (quando e 'se' necessário). A Hegemonia Gramsciana, por outro lado é compreendida a partir da análise de poder estrutural e comportamental. Esta análise realça o papel da cultura e das ideias como formadores de preferências e constrange percepções sobre o que é possível. A Hegemonia abrange uma ideia de classe sobre as classes, e não somente uma ideia de nação sobre as nações.

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