Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Autorização do serviço público: ato unilateral, discricionário e precário. Para José dos Santos Carvalho Filho não há autorização de serviço público. Já para Hely Lopes Meirelles é possível somente a autorização em casos emergenciais. Enquanto que Maria Sylvia Zanella di Pietro aceita a autorização somente na hipótese de produção de energia elétrica para o próprio autorizatário (lei n. 9074/95). Ainda, Carvalho Filho refere a existência da autorização da prestação de serviço de transporte público de estudantes, serviço esse reservado ao município. É uma situação limítrofe, havendo discussão sobre sua definição. Em relação à responsabilidade do concessionário/permissionário, este assume todos os riscos do negócio, como qualquer empresário. Ao prestar serviço público, responde objetivamente por eventuais prejuízos causados (art. 37, § 6º, da CF/88). Entretanto, deve-se mencionar o julgamento do STF (RE 262.651), o qual decidiu que a responsabilidade objetiva só existe perante o usuário do serviço. É necessário que se acompanhe tal questão, pois não foi definido o entendimento do STF nesse sentido, não se podendo falar, ainda, em jurisprudência consolidada. Concessões Especiais (lei n. 11.079/04) – Parceria Público-Privada (PPP): é uma tentativa de atrair a iniciativa privada para prestação de serviços que seriam economicamente inviáveis ao Estado prestar sozinho. Nesse caso, quem paga a tarifa é o Estado. Apresentam-se duas modalidades (art. 2º): I. Concessão patrocinada: é remunerada por tarifa e pelo poder público, de modo a tornar viável tal prestação de serviço. É um contratado prestando serviço público, remunerado por tarifa e verbas públicas. II. Concessão Administrativa (art. 2º): não há participação do usuário, caso contrário, quem pagará será o poder público. Exemplo: penitenciárias: quem usa o serviço é um particular (preso), mas quem paga é o Estado, sendo administrado por particulares. Requisitos para a PPP: • É possível somente para obra + serviço; • Não é possível para fornecimento de mão de obra e equipamentos; • É impossível para orçamentos menores de R$ 20 milhões; • É impossível para prazos menores de 5 anos. Observação: há quem diga que o valor estabelecido para as PPPs é inviável para os municípios. Em razão disso, questiona-se a constitucionalidade de tal imposição. A vantagem dessa modalidade é que o Estado não desembolsa grande monta. A remuneração é feita em longo prazo. Ainda, há compartilhamento com o particular dos riscos. A dificuldade é que o contrato é de longo prazo, havendo dúvida sobre a sustentabilidade financeira do Estado, até o fim desse contrato. Outrossim, o Estado é conhecido como mal pagador, o que dificulta a atração da iniciativa privada. Dinâmica da Parceria Público-Privada: faz-se licitação, na modalidade concorrência, mas com a inversão de fases e com lances verbais. Depois da licitação, o vencedor deverá criar uma sociedade (sociedade anônima, com capital aberto ou fechado ou com propósito específico – SPE), ou seja, uma pessoa jurídica exclusiva para cumprir tal contrato, a fim de destacar patrimônio da pessoa jurídica, resguardando a PPP. O Estado pode ser acionista minoritária da SPE. Ainda existe aqui a possibilidade de se resolver as controvérsias pela arbitragem (utilizada somente para direitos disponíveis). É constitucional essa medida? • Para Carvalho Filho: sim, em função do princípio da consensualidade da Administração (posição dominante); • Para Celso Antônio Bandeira de Mello: direito público indisponível, devendo ser judicializada a controvérsia. Ademais disso, há um fundo do Estado, uma garantia para a iniciativa privada atuar na PPP. Essa garantia é utilizada em caso de inadimplemento do Estado. Muito embora seja um fundo capitalizado pela União, este pode ser utilizado pelos estados, DF e municípios. É uma forma que a União encontrou para estimular a aplicação das PPPs. Convênios: é um ajuste bilateral de mútua colaboração. As partes têm os mesmos objetivos. Exemplo: fiscalização ambiental realizada pelo estado e município; ONG. Cuidado: não confundir contrato com convênios. Aqui não há pagamento, e sim repasse de recursos, o qual está submetido à prestação de contas, se houver tal repasse, pois há convênios, sem a transferência de pecúnia. Pode ser denunciado a qualquer tempo, não admitindo cláusula de permanência obrigatória, nem punição. O artigo 116 da lei 8666/93 – aplica-se aos convênios, no que couber. Em razão disso, surge a discussão sobre a necessidade ou não de licitação. De modo geral, a doutrina entende não ser necessária a licitação, exigindo-se somente a explicação da realização do convênio. Intervenção do Estado na propriedade privada: I. Poder de polícia: inicialmente, deve-se desvincular a ideia da atividade policial, e sim da fiscalização. Genericamente, a atuação do poder de polícia ocorre no momento que o Estado interfere na órbita dos interesses dos particulares, impondo condições para o exercício de determinados direitos, em nome do interesse público. Exemplo: art. 78 do CTN. • Regime jurídico do exercício do poder de polícia: a doutrina afirma que tal exercício é exclusivo do direito público. Entretanto, o STJ entende que há uma divisão do exercício do poder de polícia. São eles: A. Legislação: por exemplo, estabelecendo normas para obtenção da CNH; B. Consentimento: emissão da CNH; C. Fiscalização: instalação dos “pardais” nas estradas; D. Sanção: aplicação de multa e demais penalidades a quem descumpre as regras impostas. Observação: somente os atos relativos ao consentimento e à fiscalização são delegáveis, pois os demais (legislação e sanção) derivam do poder impositivo do Estado. Vide ADI 1717 – STF. Regime jurídico do exercício do poder de polícia: é exercido por qualquer um dos entes públicos afetos a determinadas matérias (competências constitucionais). Questões limítrofes • Vide súmula n. 645 – STF: fixação de horários do comércio em geral; • RE 240.406 – STF: os municípios não poderiam editar leis sobre segurança aos bancos; • AgRg no Resp. 143 9312/PR: permissão de serviços mortuários; • 1366410/AL – STJ: possibilidade do PROCON multar empresas públicas federais no caso CEF; • Resp. 1.326138 - Fiscalização ambiental: os quatro entes públicos podem atuar. Modos de atuação do poder de polícia: � Todo o exercício dos direitos é condicionado pelo Estado, por meio dos atos normativos, atos (regras amplas) concretos (dirigidas a pessoas físicas). � Enquanto o poder de polícia condiciona o exercício de direitos, a lei restringe ou dá direitos, pois é norma geral, abstrata, obrigatória e inovadora. � Os atos concretos, como os atos normativos, são atos de determinação ou consentimento. Exemplo: alvará de funcionamento e expedição de CNH; � A atividade de polícia não pode aniquilar direitos, com o fundamento de fiscaliza-los. Características do poder de polícia: podem ser tanto vinculados, como discricionários. Recordando: � Ato discricionário: há uma margem de liberalidade ao administrador para que se verifique a conveniência e oportunidade, com a finalidade de atender o interesse público, nos limites da lei. � Ato vinculado: atendidos os pressupostos legais, o administrador não tem margem de liberdade para agir ou não. Exemplo: emissão de CNH, se preencher os requisitos, obtem-se o direito subjetivo para tanto; � Autoexecutoridade: exercita o poder de polícia de forma independente, ou seja, não depende dos demais poderes para atuar. Exemplo: aplicação da multa. Sanções do poder de polícia: O poder de polícia deve ser exercido em observação ao princípio da proporcionalidade, ou seja, os meiosdevem ser os menos gravosos possíveis para se alcançar o fim almejado (STF, RE 135.540-7). Outrossim, a sanção aplicada deve estar prevista em lei. Não se confunde com as medidas de polícia, que são os atos do poder de polícia, sem caráter punitivo. Ademais, a sanção do poder de polícia deve seguir nos moldes do devido processo legal. Em razão disso, as multas de trânsito são precedidas de notificação de infração, conforme a súmula n. 312 do STJ. Prescrição (art. 1º, § 2º da lei 9873/99): prazo de cinco anos, contados da data em que foi praticado o ato ou da cessação do ato infracional. Se for crime, o prazo prescricional obedecerá aos ditames penais. Intervenção do Estado na propriedade privada: Atualmente, o artigo 5º, XXIII da CF/88 garante a propriedade, desde que essa atenda a função social. Dessa forma, não há direito de propriedade ilimitada e absoluta. A intervenção estatal à propriedade objetiva regular tal direito, de modo a compatibiliza-lo ao interesse público e com os direitos de propriedade dos demais cidadãos, abrangendo a obrigação de fazer ou não fazer. O artigo 128 do CC/02 detalha a função social. Em relação à competência, todos os entes públicos podem intervir na propriedade privada, de acordo com suas respectivas competências previstas constitucionalmente. Espécies de Intervenção: I. Limitações administrativas: são determinações gerais, por meio das quais o poder público legisla e condiciona o exercício do direito dos proprietários indeterminados, impondo obrigações positivas ou negativas, visando ao interesse geral. Em regra, não são indenizáveis. São instituídas por lei ou ato administrativo. Exemplo: o plano diretor municipal é uma coleção de limitações administrativas. A limitação administrativa contorna o direito individual, por isso ela não é indenizável, salvo em caso de abuso ou ilegalidade, por parte da administração pública. Esquematizando: • Limitação administrativa: restrições gerais: I. Proprietários indeterminados II. Em nome do interesse público geral III. Não indenizáveis II. Servidão administrativa: é um direito real que sujeita a um bem particular específico serviente, em benefício de um bem público ou serviço público específico (dominante), em nome do interesse público específico. É, em regra, indenizável. Pode ser instituída por acordo ou sentença judicial. Assim, sendo um direito real sobre coisa alheia, a servidão administrativa transfere do serviente para o dominante algumas prerrogativas da propriedade afetada pela servidão, por isso, indenizáveis. O direito do serviente será cortado e transferido ao poder público, objetivando ao atendimento do interesse público específico. Mediante a presente servidão, o serviente permitirá a transição de um serviço público. Por exemplo, em caso de instalação de rede elétrica, o serviente pode deixar o gado pastar na região da servidão, mas não poderá plantar naquele lugar, advindo a indenização. Em relação à possibilidade de se instituir a servidão por lei, por mais que seja majoritária a posição no sentido de tal possibilidade, esta questão não é pacificada. O Código das Águas estabelece que as margens dos rios navegáveis são de livre trânsito, para fins de policiamento. Alguns autores entendem ser uma servidão administrativa, assim como os imóveis localizados próximos aos aeroportos. Já Carvalho Filho, por exemplo, entende que os aludidos casos tratam-se de limitações administrativas, pelo caráter geral e a impossibilidade de indenização nas referidas situações. A servidão administrativa é constituída por regime público, no cartório competente, lavrada a escritura pública na matrícula do imóvel, por se tratar de direito real. Para tanto, já deve ter havido o acordo entre as partes. Caso contrário, o Estado ajuizará ação de constituição de servidão, que segue o mesmo rito da desapropriação. Concluindo, a servidão administrativa é uma restrição que constitui um direito real sobre coisa alheia específica, em favor de um interesse, de um bem público ou serviço público específico, em nome de um interesse público específico. Em regra é indenizável.
Compartilhar