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8] Função materna e sistema familiar

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quarta-feira, 6 de novembro de 2013
DIÁRIO DE AULA
FUNÇÃO MATERNA
Bebê sozinho não existe, já afirmava Winnicott. Com essas palavras ele enfatizava que não poderia haver bebê sem mãe, afinal o ser humano recém-nascido é completamente desaparelhado à sobrevivência, necessitando absolutamente de um terceiro que lhe cuide e atenda às suas necessidades, inclusive as mais primárias e elementares. A pessoa que assim o faz é aquela que exerce não somente o papel materno, mas a função materna. Para fins de simplificação, chamemos essa pessoa de MÃE.
A função materna não apenas possibilita a sobrevivência do lactante, mas igualmente é essencial para a organização psíquica da criança pequena em formação. É a partir dessa relação primária que o sujeito humano partirá, posteriormente, para se lançar no mundo. Notável, pois, a importância fundamental da mãe nos primeiros instantes constitutivos do funcionamento mental e sua influência vida a fora. 
O melhor exercício materno (mãe suficientemente boa) é aquele em que a mãe saber dosar o amor que ele sente pelo filho com as necessidades deste ter seus limites, bem como ajustar e harmonizar seus desejos de proteger o filho pequeno e de libertá-lo gradualmente à medida que ele cresce rumo à independência e à autonomia. Podemos até dizer que o desenvolvimento humano é uma caminhar da excessiva proximidade com a mãe e o desligar-se desta. Separar-se da mãe não significa abandonar de fato a mãe, mas sim psicologicamente não mais necessitar tanto dela.
A função materna é uma função de holding (vide conceito winnicottiano), que corresponde ao amparo que se dá ao bebê, tanto fisicamente quanto psicologicamente. O dar o colo é mais do que amparar a criança junto ao seio. É proteger, como uma espécie de para-raios, a mente vulnerável e rudimentar infantil dos inúmeros estímulos geradores de ansiedade e inquietação. 
A relação matricial humana (mãe-filho) é, ou deveria ser, um ambiente psicologicamente acolhedor para o bebê. Mas, para que tal aconteça, é necessário uma mãe emocionalmente equilibrada e estável. Uma mãe não comprometida narcisicamente, isto é, que não necessite de seu filho para preservar sua autoestima. Uma mãe comprometida pela depressão, por exemplo, gerará desequilíbrio a esta relação materna-filial e não conseguirá corresponder ao seu papel de ambiente acolhedor. Assim ocorrendo não teríamos somente prejuízos marcantes ao desenvolvimento psicológico infantil, mas também neurofisiológico. Ambos déficits tendem a gerar repercussões a médio e a longo prazo. Vide artigo EFEITOS DA DEPRESSÃO MATERNA NO DESENVOLVIMENTO NEUROBIOLÓGICO E PSICOLÓGICO DA CRIANÇA, de Maria da Graça Motta, Aldo Lucion e Gisele Manfro:http://www.scielo.br/pdf/rprs/v27n2/v27n2a07.pdf
Os meses e anos iniciais de vida do ser humano compõem um período sensível e crítico ao desenvolvimento do mesmo. É neste período inicial que iremos adquirir nossas primeiras informações afetivas, cognitivas e sociais. Como descreve o supramencionado artigo “em humanos, a privação materna pode ocorrer mesmo sem a intenção da mãe de prejudicar o bebê, como, por exemplo, em decorrência da depressão pós-parto (DPP). A DPP pode favorecer a ocorrência tanto de abuso quanto de negligência principalmente quando  os  sintomas depressivos forem persistentes. As mães deprimidas mais frequentemente mantêm um padrão de comportamento intrusivo ou retirado (ausente emocionalmente) , danoso para a criança”.
Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, muito contribuiu para o entendimento da dinâmica relacional mãe e filho. Dentro da perspectiva winnicottiana todo ser humano traz consigo um inato potencial ao crescimento e muito dependerá do ambiente que poderá ser facilitador ou dificultador ao amadurecimento. Possíveis dificuldades da mãe (que para um recém-nascido é o ambiente) geram atrapalhos ao processo de amadurecimento rumo a futura autonomia. O olhar psicológico da mãe é fundamental e uma mãe suficientemente boa olha seu filho como algo diferente dela (em termos narcisistas, é claro).
Ainda dentro da perspectiva winnicottiana somos inicialmente uma não-integração (o ego ainda não está integrado). Nesta não-integração necessitará de uma mãe/ambiente que funcione como continente às suas angústias e ansiedades várias. As respostas empáticas geradas pela mãe, segundo Winnicott, muito dependerá de sua condição em exercer uma “preocupação materna primária” (vida conceito). E é a partir dessa capacidade de a mãe se identificar com seu filho que ela também poderá exercer com maior eficiência o holding, principalmente devido a sua maior sensibilidade para com as demandas do infante.
Antes de uma criança nascer ela já existe. Existe na mente consciente e/ou inconsciente dos pais. Antes de uma mãe vir a ser mãe, ela foi primeiramente um filho(a). Embora não nos lembremos nosso psiquismo e nosso cérebro registram a imagem (imago) do bebê que um dia fomos, assim como registra a imagem (imago) da mãe que tivemos e da relação que um dia tivemos entre ela e nós. E não somente a vaga ideia (registro mnêmico) do filho que já fomos e da mãe que já tivemos, mas também da mãe e do filho idealizados. Ferida nascisistas na infância da mãe de hoje ressoam por detrás e além dos sentimentos e gestos maternos.
Evidente, mais uma vez, que não conseguiríamos em um curto espaço de um blog explicitar a profundidade de uma relação tão primordial como esta. Alguns textos complementares podem nos ajudar, tais como:
- UMA CRIANÇA EM BUSCA DE UMA JANELA: FUNÇÃO MATERNA E TRAUMA (http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1415-71282006000100003&script=sci_arttext)
- O DISCURSO PARENTAL E SUA RELAÇÃO COM A INSCRIÇÃO DA CRIANÇA NO UNIVERSO SIMBÓLICO DOS PAIS(http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-98932004000300006&script=sci_arttext)
- AMOR E ÓDIO – A AMBIVALÊNCIA DA MÃE, editora Companhia de Freud.
- A SOMBRA DA MÃE, editora Livraria Martins Fontes.
________________________
PS: e tudo que você possa ter acesso dentro da perspectiva winnicottiana. Pesquisar, pois...
Joaquim Cesário de  Mello
Para acompanharmos o ritmo da sala de aula, publicamos logo abaixo post sobre SISTEMA FAMILIAR
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
DIÁRIO DE AULA
A FAMÍLIA COMO UM SISTEMA
Desde o início da disciplina enfatizamos que a definição de família não é única, devido sua pluralidade de formas ao longo da história e das várias culturais sociais humanas. Pode-se até dizer que o que de fato existe são vinculações afetivas e íntimas que geram o sentimento de pertença. Tais vínculos geram laços entre as pessoas envolvidas, sejam eles consanguíneos, por afinidade (aliança), jurídicos e/ou afetivos. Mesmo sendo o conceito de família polissêmico trabalhamos até agora com uma definição eleita: a de que a família é “um grupo de pessoas, ligadas por laços de parentesco, que se incumbe da criação da prole e do atendimento de certas outras necessidades humanas”. Esta definição nos proporcionou trabalhar alguns fundamentais aspectos da psicodinâmica familiar.
Agora nos cabe entender a família como um sistema em funcionamento. A ideia de sistema compreende um conjunto de elementos interativamente unidos que compõe um todo integral. Bertalanffy, pai da Teoria Geral dos Sistemas, que em sua complexidade um sistema é um conjunto de subsistemas (elementos) que têm relações entre si o meio e que interagem em busca de um resultado final. E aqui vemos, também, a lógica gestáltica: o todo é maior que a soma das partes. 
Bertalanffy dividiu os sistemas entre fechados e abertos. Um sistema fechado é aquele que não interage com o meio e, assim, progressivamente desintegra-se e morre. Já um sistema aberto troca matéria com o ambiente. Os organismos vivos são eles sistemas abertos.
Pois é, a família é comparativamente um organismo vivo, razão pela qual ela é definida como um sistema aberto. Podemos assim falar sistema intrafamiliar e extrafamiliar. A família, enquanto unidade sistêmica, é base do processo de individuaçãoentre seus membros, ao tempo em que funciona como um coalizador, isto é, processa o espírito de coesão entre seus membro, dando com isto o sentimento de pertencimento. 
Podemos, portanto, posicionar a família como um sistema vivo e ativo, aberto, em constante transformação.
Para que um sistema exista, e para que possa se diferenciar de outros sistemas, é necessário demarcar seus limites, limites esses, em princípio, invisíveis aos olhos. Empírica e concretamente podemos dizer que os limites de uma casa são as paredes e os muros, assim como os limites fronteiriços de um corpo é a pele. E quais, então, são os limites de um sistema familiar. Consideremos, por exemplo, a família nuclear. Em termos bastante teóricos as fronteiras (limites) de um sistema são as regras que definem quem participa deste sistema e como participa. Pensemos, pois, em termos de afetos e intimidade. Há sistemas familiares que você como estrangeiro até frequenta e circula, porém há uma espécie de barreira ou campo de força que não lhe deixa ter intimidade com o mesmo. Chamemos estas barreiras de “fronteiras Inter sistêmicas”.
Dentro de um sistema familiar temos vários subsistemas. Estes subsistemas, por sua vez, se diferenciam e se limitam dos demais subsistemas por “fronteiras intra sistêmicas”. Para que um sistema familiar funcione adequadamente as fronteiras devem ser relativamente permeáveis e nítidas. Quando um sistema familiar é disfuncional existem ou fronteiras rígidas ou difusas. 
Nas famílias em que as fronteiras intra sistêmicas são difusas há pouco ou nenhum espaço para a intimidade e a privacidade de seus membros, razão pela qual chamamos essas famílias de FAMÍLIAS AGLUTINADAS, ou simbióticas. Por outro lado, quando as fronteiras são rígidas há excesso de privacidade, porém pouca ou nenhum troca de intimidade e afetividade. Chamamos essas famílias de FAMÍLIAS CISMÁTICAS, ou fragmentadas. A respeito do assunto vide: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98931996000100007&script=sci_arttext
Os subsistemas familiares de uma família familiar podem ser vários, tipo: subsistema conjugal, subsistema fraterno, subsistema parental, díade mãe-filho, pai-filho, assim como pode haver subsistemas por geração, sexo ou interesse. Outro texto de interesse é A PERSPECTIVA SISTÊMICA PARA A CLÍNICA DA FAMÍLIA, de Liana Costa, que vocês podem elencar através do site http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722010000500008
Devemos deixar destacado que na polaridade INTIMIDADE-INDIVIDUAÇÃO quanto mais rígida uma fronteira sistêmica ou subsistêmica mais no espaço interno sistêmico haverá aglutinação, com excesso de intimidade e carência de individuação e identidade entre seus membros. No oposto: quanto mais forem difusas as fronteiras mais comprometimento e deficiência na intimidade e excesso na individualidade.
Curioso observar em que patologias individuais como esquizofrenia e esquizoidia, por exemplo, é comum encontrarmos um pano de fundo familiar (background) aglutinado. Já em patologia do tipo comportamento antissocial e drogadição, por exemplo, é frequente encontrarmos um background familiar difuso. 
Outros artigos e ensaios que auxiliarão a melhor elucidar a problemática:
http://www.scielo.br/pdf/pe/v8nspe/v8nesa10.pdf
http://www.scielo.br/pdf/csp/v20n3/02.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v37n2/06
E para aqueles que gostam de livros, sugerimos:
A TERAPIA FAMILIAR, Maurízio Andolfi
POR TRÁS DA MÁSCARA FAMILIAR, Maurízio Andolfi e outros
A TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA DE MILÃO, Boscolo e outros
NOVA PERSPECTIVA SISTÊMICA, Denise Duque e outros
Boas Leituras

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