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Strongyloides stercoralis MORFOLOGIA: Femea partenogenética parasita: Possui corpo cilíndrico com aspecto filiforme longo, extremidade anterior arredondada e posterior afilada. Apresenta cutícula fina e transparente, levemente estriada no sentido transversal em toda a extensão do corpo. A fêmea, que coloca de 30 a 40 ovos por dia, é ovovivípara, pois elimina na mucosa intestinal o ovo já larvado; a larva rabditoide, que é frequentemente libertada ainda no interior do hospedeiro, toma-se a forma evolutiva de fundamental importância no diagnóstico. Femea de vida livre ou estercoral: Possui aspecto fusiforme, com extremidade anterior arredondada e posterior afilada. Macho de vida livre: Possui aspecto fusiforme, com extremidade anterior arredondada e posterior recurvada ventralmente. Boca com três lábios, esôfago tipo rabditoide, seguido de intestino terminando em cloaca. Apresenta dois pequenos espículos, auxiliares na cópula, que se deslocam sustentados por uma estrutura quitinizada denominada gubernáculo. Ovos: São elípticos, de parede fina e transparente, praticamente idênticos aos dos ancilostomídeos. Excepcional- mente, os ovos podem ser observados nas fezes de indivíduos com diarreia grave ou após utilização de laxantes. Larvas rabditoides: O esôfago, que é do tipo rabditoide, dá origem ao nome das larvas. As originárias das fêmeas parasita são praticamente indistinguíveis das originadas das fêmeas de vida livre. Apresentam vestíbulo bucal curto, cuja profundidade é sempre inferior ao diâmetro da larva, característica que a diferencia das larvas rabditoides de ancilostomídeos em que o vestíbulo bucal é alongado e sua profundidade é igual ao diâmetro do corpo. Terminam em cauda pontiaguda. Larvas filarioides: O esôfago, que é do tipo filarióide, dá origem ao nome das larvas. Este é longo, correspondendo a metade do comprimento da larva. Apresentam vestíbulo bucal curto e intestino terminando em ânus, um pouco distante da extremidade posterior. A porção anterior é ligeiramente afilada e a posterior afina-se gradualmente terminando em duas pontas, conhecida com cauda entalhada, que a diferencia das larvas filarióides de ancilostomídeos, que é pontiaguda. Esta é a forma infectante do parasito (L3) capaz, portanto, de penetrar pela pele ou pelas mucosas; além de serem vistas no meio ambiente, também podem evoluir no interior do hospedeiro, ocasionando os casos de autoinfecção interna. HABITAT: As femeas partenogenéticas em seu hábitat normal localizam-se na parede do intestino, mergulhadas nas criptas da mucosa duodenal, principalmente nas glândulas de Lieber-kühn e na porção superior do jejuno, onde fazem as posturas. Nas formas graves, são encontradas da porção pilórica do estômago até o intestino grosso. CICLO BIOLOGICO: As larvas rabditoides eliminadas nas fezes do indivíduo parasitado podem seguir dois ciclos: o direto, ou partenogenético, e o indireto, sexuado ou de vida livre, ambos monoxênicos. Isto ocorre devido a constituição genética das fêmeas partenogenéticas, parasitas que são triploides (3n) e podem produzir, simultaneamente, três tipos de ovos, dando origem a três tipos de larvas rabditoides: 1) larvas rabditoides triploides (3n) que se transformam em larvas filarióides triploides infectantes, completando o ciclo direto; 2) larvas rabditoides diploides (2n) que originam as femeas de vida livre; e 3) larvas rabditoides haploides (1n) que evoluem para macho de vida livre, estas duas últimas completam um ciclo indireto. A fase dos ciclos que se passa no solo exige condições semelhantes as do ancilostomídeos: solo arenoso, umidade alta, temperatura entre 25 e 30°C e ausência de luz solar direta. No ciclo direto as larvas rabditoides no solo ou sobre a pele da região perineal, após 24 a 72 horas, se transformam em larvas filarióides infectantes. No ciclo indireto as larvas rabditoides sofrem quatro transformações no solo e após 18 a 24 horas, produzem femeas e machos de vida livre. Os ovos originados do acasalamento das formas adultas de vida livre serão triploides, e as larvas rabditoides evoluem para larvas filarióides (3n) infectantes. Os ciclos direto e indireto se completam pela penetração ativa das larvas L3 na pele ou mucosa oral, esofágica ou gástrica do hospedeiro. Estas larvas secretam melanoproteases, que as auxiliam, tanto na penetração quanto na migração através dos tecidos. Algumas morrem no local, mas o ciclo continua pelas larvas que atingem a circulação venosa e linfática e através destes vasos seguem para o coração e pulmões. Chegam aos capilares pulmonares, onde se transformam em L4, atravessam a membrana alveolar e, através de migração pela árvore brônquica, chegam a faringe. Podem ser expelidas pela expectoração, que provocam, ou serem deglutidas, atingindo o intestino delgado, onde se transformam em femeas partenogenéticas. Os ovos são depositados na mucosa intestinal e as larvas alcançam a luz intestinal. TRANSMISSAO: Hetero ou primo-infecção: Larvas filarióides infectantes (L3) penetram usualmente através da pele ou, ocasionalmente, através das mucosas, principalmente da boca e do esôfago. Em condições naturais, a infecção percutânea se realiza de modo idêntico ao dos ancilostomídeos. Autoinfecção externa ou exógena: Larvas rabditoides presentes na região perianal de indivíduos infectados transformam-se em larvas filarióides infectantes e aí penetram completando o ciclo direto. Autoinfecção interna ou endógena: Larvas rabditoides, ainda na luz intestinal de indivíduos infectados, transformam-se em larvas filarióides, que penetram na mucosa intestinal (íleo ou cólon). Esse mecanismo pode cronificar a doença por vários meses ou anos. Em casos raros, nesse tipo de autoinfecção, podem ser encontradas fêmeas partenogenéticas nos pulmões. A autoinfecção interna pode acelerar-se, provocando a elevação do número de parasitos no intestino e nos pulmões (localizações próprias das larvas), fenômeno conhecido como hiperinfecção; ou disseminar por vários órgãos do paciente, conhecido como forma disseminada. IMUNIDADE: A interação entre S. stercoralis e o hospedeiro humano é complexa devido a sua capacidade intrínseca de reprodução, existindo em indivíduos infectados três possibilidades de evolução: a erradicação da infecção, a cronicidade decorrente da autoinfecção e a de hiperinfecção ou disseminação. A longa permanência do parasito no hospedeiro humano (cronicidade) e a contínua passagem da larva filarióide através dos tecidos resultam em uma incessante exposição sistêmica aos antígenos parasitários. A maioria dos indivíduos desenvolve anticorpos das classes IgG, IgA, IgM e IgE específicos. Os anticorpos IgG são os mais frequente- mente detectados, permanecendo positivos por longo tempo, após a cura terapêutica. O ciclo do parasito sugere também que ele pode estimular a resposta local e sistêmica mediada por anticorpos IgA. O mecanismo efetor da IgA está relacionado com a modulação da eliminação das larvas pelo decréscimo da fecundidade da fêmea e da viabilidade dos ovos. As infecções graves têm sido associadas a imunossupressão, especialmente quando há comprometimento da imunidade mediada por células Th2. PATOGENIA, PATOLOGIA E SINTOMATOLOGIA: Indivíduos portadores de pequeno número de parasitos no intestino geralmente são assintomáticos ou oligossintomáticos, mas isso não significa ausência de ação patogênica e de lesões. Formas graves, as vezes fatais, relacionam-se com fatores extrínsecos, principalmente pela carga parasitária adquirida e com fatores intrínsecos (subalimentação com carência de proteínas provocando enterite; ocorrência de diarreia evômitos facilitando os mecanismos de autoinfecção; alcoolismo crônico, infecções parasitárias e bacterianas associadas; comprometimento da resposta imunitária natural ou adquirida, intervenções cirúrgicas gastroduodenais e outras cirurgias que utilizam anestesia geral, pois facilitam a estase bronco pulmonar). As principais alterações na estrongiloidíase são devidas a ação mecânica, traumática, irritativa, tóxica e antigênica decorrente não só das fêmeas partenogenéticas, mas também das larvas e dos ovos. Cutânea: Em geral é discreta, ocorrendo nos pontos de penetração das larvas infectantes, tanto na pele como nas mucosas, com reação celular apenas em tomo das larvas mortas que não conseguiram atingir o sistema circulatório. Pulmonar: Apresenta intensidade variável, porém presente em todos os indivíduos infectados, caracterizada por tosse com ou sem expectoração, febre, dispneia e crises asmatiformes decorrentes das larvas filarióides e, ocasionalmente, de fêmeas, que aí podem atingir a maturidade, produzindo ovos e larvas rabditoides. A travessia das larvas do interior dos capilares para os alvéolos provoca hemorragia, infiltrado inflamatório constituído de linfócitos e eosinófilos, que podem ser limitados ou, em casos mais graves, provocar broncopneumonia, síndrome de Loeffler, edema pulmonar e insuficiência respiratória. Intestinal: As fêmeas com a finalidade de se fixar ou se alimentar localizam-se principalmente na mucosa do duodeno e jejuno, limitando-se a zona glandular. A presença de fêmeas partenogenéticas, ovos e larvas no intestino delgado ou ocasionalmente no intestino grosso, pode determinar, em ordem crescente de gravidade: a) enterite catarral: os parasitos são visualizados nas criptas glandulares e ocorre uma reação inflamatória leve, caracterizada pelo acúmulo de células que secretam mucina e, portanto, acompanhada de aumento de secreção mucoide, com caráter reversível; b) enterite edematosa: os parasitos são visualizados em todas as túnicas da parede intestinal e ocorre reação inflamatória com edema de submucosa e desaparecimento do relevo mucoso, caracterizado por síndrome de má absorção intestinal; considerado de certa gravida- de, porém de caráter reversível; c) enterite ulcerosa: os parasitos em grande quantidade provocam inflamação com eosinofilia intensa; ulcerações, com invasão bacteriana, que durante a evolução serão substituídas por tecido fibrótico determinando rigidez da mucosa intestinal. Esta lesão é irreversível, sendo considerada forma grave, uma vez que a fibrose pode provocar alterações no peristaltismo, ocasionando o íleo paralítico. Os sintomas mais comuns vão desde dor epigástrica antes das refeições, que melhora com a alimentação e piora com o excesso; diarreia em surtos; náuseas e vômitos, até síndromes disentéricas com esteatorréia, seguidas de desidratação, que podem levar a choque hipovolêmico, se associado a vômitos, emagrecimento e acentuado comprometimento do estado geral do doente, muitas vezes fatal. Disseminada: Observada em pacientes infectados e imunocomprometidos pelas situações citadas ou pela presença de megacólon, diverticulite, íleo paralítico, uso de antidiarreicos e a constipação intestinal, que favorecem a autoinfecção, com grande produção de larvas rabditoides e filarióides no intestino, as quais alcançam a circulação e se disseminam a múltiplos órgãos. Ocorrem dor abdominal, vômitos, diarreia intensa, pneumonia hemorrágica, broncopneumonia bacteriana, insuficiência respiratória, culminando com óbito. DIAGNOSTICO CLINICO: A tríade clássica de diarreia, dor abdominal e urticária é sugestiva e a eosinofilia e os achados radiográficos e sorológicos podem auxiliar na suspeita diagnóstica. A infecção deve ser lembrada em situações de imunossupressão mencionadas anteriormente e ser investigada nos casos em que o paciente será submetido a tratamentos imunossupressores. Recomenda-se o diagnóstico diferencial com ancilostomíase, ascaridíase, giardíase, pneumonia, urticária, colecistite, pancreatite e eosinofilia pulmonar tropical. DIAGNOSTICO LABORATORIAL: Os métodos parasitológicos ou diretos se fundamentam no encontro das formas evolutivas de S. stercoralis. Entre os métodos indiretos, destacam-se os imunológicos, que podem ser utilizados como testes de screening, e quando positivos, realiza-se a pesquisa do parasito. EPIDEMIOLOGIA: Os fatores que influenciam no aparecimento, manutenção e propagação da estrongiloidíase são: presença de fezes de homens ou animais infectados, contaminando o solo; presença de larvas infectantes originárias dos ciclos direto e de vida livre, no solo; solo arenoso ou areno-argiloso, úmido, com ausência de luz solar direta; temperatura entre 25 e 30°C; condições sanitárias inadequadas; hábitos higiênicos inadequados; contato com alimento contaminado por água de irrigação poluída com fezes; não-utilização de calçados.