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Ap.1.Lit.Bras.Mod.e.Tend.Cont..2s2015.Ant.Sem.e.Mod.atualiz.12.8.15

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2015 
Org. Prof. Roberto Samuel Sanches 
UNISO – Universidade de Sorocaba 
Curso de Letras 
APOSTILA 1 – 2s2015 
Ilustr. Abaporu. Tarsila do Amaral. 1928 
Literatura Brasileira: Modernismo e Tendências 
Contemporâneas – 1. Modernismo 
UNISO – Letras – Literatura Brasileira: Modernismo e Tendências Contemporâneas. - Apostila 1 - Modernismo - Org. Prof. Roberto Samuel Sanches 
2 
 
Literatura Brasileira: Modernismo e Tendências Contemporâneas 
Apostila 1 – Modernismo - Curso de Letras. 2s2015 –. 
 atualiz 12.8.2015 Organiz. Prof. Roberto Samuel Sanches 
 
O modernismo. Vanguardas: futurismo; cubismo; expressionismo; dadaísmo 
A Semana de Arte Moderna de São Paulo 
1a. fase do Modernismo: verde-amarelismo e anta; antropofagia: 
Oswald de Andrade 
Mário de Andrade 
Manuel Bandeira 
Menotti del Picchia 
Guilherme de Almeida 
Raul Bopp 
Cassiano Ricardo 
Alcântara Machado 
 
2ª.fase do Modernismo: o romance de 30 
Rachel de Queiroz 
Graciliano Ramos 
José Lins do Rego 
1.O modernismo. Vanguardas: 
Um pouco antes da Semana de Arte Moderna, que ocorreu no Brasil em 1922, temos várias 
correntes artísticas (ou “ismos”), chamadas correntes de vanguarda, que ocorrem na Europa e 
que influenciam os nossos artistas do início do século XX. 
1.1 Futurismo (arte em movimento): tem seu início com a publicação do Manifesto Futurista, 
do italiano Marinetti (Filippo Tommasio Marinetti), publicado no jornal parisiense Le 
Figaro, em 1909, que define o perfil ideológico do movimento. É uma verdadeira 
revolução literária, propondo: destruição da sintaxe e a disposição das palavras em 
liberdade; emprego dos verbos no infinitivo, objetivando a substantivação da linguagem; 
abolição dos adjetivos e dos advérbios; uso de substantivo duplo, em lugar do substantivo 
acompanhado de adjetivo (por ex.: praça-funil, mulher-golfo); abolição da pontuação, que 
seria substituída por sinais da matemática (+, -, ., :, =, >,<) e pelos sinais musicais ; 
destruição do eu psicologizante. 
Nem todas essas propostas se firmaram na literatura, mas o verso livre foi uma das 
maiores contribuições do futurismo e do cubismo para as correntes contemporâneas. Esse 
movimento também encontrou ecos na pintura e na escultura. Nas pinturas futuristas é 
comum a presença de elementos que sugerem a velocidade e a mecanização da vida 
moderna. 
Na literatura, dentre outros, encontramos ecos do futurismo na produção do norte- 
americano Walt Whitman, no poeta português Fernando Pessoa e nos poetas brasileiros 
Mário de Andrade e Oswald de Andrade. 
Vejamos um exemplo em Fernando Pessoa, com um trecho do poema 
 
Ode Triunfal: 
À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica 
Tenho febre e escrevo. 
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, 
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. 
 
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! 
UNISO – Letras – Literatura Brasileira: Modernismo e Tendências Contemporâneas. - Apostila 1 - Modernismo - Org. Prof. Roberto Samuel Sanches 
3 
 
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! 
Em fúria dentro e fora de mim, 
Por todos os meus nervos dissecados fora, 
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! 
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, 
De vos ouvir demasiadamente perto, 
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso 
De expressão de todas as minhas sensações, 
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! 
(...) 
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! 
Ser completo como uma máquina! 
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo! 
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, 
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento 
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões 
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável! 
(...) 
Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas, 
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas, 
Rio multicolor anônimo e onde eu me posso banhar como quereria! 
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto! 
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro, 
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam, 
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto 
E os gestos que faz quando ninguém pode ver! 
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva, 
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome 
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos 
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas 
Nas ruas cheias de encontrões! 
 
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma, 
Que emprega palavrões como palavras usuais, 
Cujos filhos roubam às portas das mercearias 
(...) 
 
Eia! eia! eia! 
Eia eletricidade, nervos doentes em Matéria! 
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente! 
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez! 
Eia todo o passado dentro do presente! 
Eia todo o futuro dentro de nós! eia! 
Eia! eia! eia! 
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita! 
Eia! eia! eia!-hô-ô-ô! 
Nem sei que existo para dentro, Giro, rodeio, engenho-me. 
Engatam-me em todos os comboios. 
Içam-me em todos os cais. 
Giro dentro das hélices de todos os navios. 
Eia! eia-hô eia! 
Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade! 
 
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa! 
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia! 
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4 
 
 
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá! 
 
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá! 
Hé-lá! He-hô Ho-o-o-o-o! 
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z! 
 
Ah não ser eu toda a gente e toda a parte! 
Londres -6-1914 
 (PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.pp. 306/307) 
Vocab.: passento: diz-se de qualquer substância que é facilmente embebida em líquido. 
 pândega: brincadeira, folgança, folia. Pândego: amigo ou partidário de folgança, de folia. 
 
 
Algumas pinturas do período do Futurismo: 
 
 
 Giacomo.Balla. Dia de um trabalhador. 1904.Futurismo 
 
 
 
Giacomo Balla. Poste de iluminação. 1909. Inspirado no manifesto futurista de Marinetti. 
Essa pintura sobrepõe a modernidade da luz elétrica (lâmpada) ao romantismo da lua. 
 
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5 
 
Umberto Boccioni.Fábricas em Porta Romana.1909.Futurismo 
 
 Umberto.Boccioni A cidade se levanta.1910..Futur. 
Sobre os pintores futuristas: http://hatfuturismo.blogspot.com/2008/05/principais-pintores-futuristas-e.html 
1.2 Cubismo: 
O movimento cubista valoriza as formas geométricas; teve início na França, em 1907, com 
o quadro Les demoiselles d’ Avignon, do pintor espanhol Pablo Picasso. Em torno de 
Picasso e do poeta francês Apollinaire formou-se um grupo de artistas que cultivava as 
técnicas cubistas até o término da primeira guerra mundial, em 1918. 
Os pintores cubistas opõem-se à objetividade e à linearidade da arte renascentista e 
realista. Buscando novasexperiências com a perspectiva, procuram decompor os 
objetos representando-os em diferentes planos geométricos e ângulos retos, em espaços 
múltiplos e descontínuos, que se interceptam e se sucedem, de tal forma que o 
espectador, com o seu olhar, possa remontá-los e ter uma visão do todo, de face e de perfil, 
como se tivesse dado uma volta em torno deles. Outra técnica introduzida pelos cubistas é a 
colagem, que consiste em montar a obra a partir de diferentes materiais, como figuras de 
revistas, jornais, madeira, etc. 
Na literatura, essas técnicas da pintura correspondem à fragmentação da realidade, à 
superposição e simultaneidade de planos, por exemplo, reunião de assuntos 
aparentemente sem nexo, mistura de assuntos, espaços e tempos diferentes. O poeta 
Apollinaire realizou, com base na disposição espacial e gráfica do poema, experiências 
que despertaram grande interesse. No Brasil, nas décadas de 1950-60, essa técnica 
influenciaria o surgimento do Concretismo. Na literatura vemos as características: 
ilogismo, humor, anti-intelectualismo, instantaneísmo, linguagem predominantemente 
nominal. Os principais pintores cubistas europeus foram: Picasso, Léger, Braque, Gris e 
Delaunay; os principais escritores cubistas europeus foram: Apollinaire e Blaise Cendrars. 
(CEREJA, 2009.pp.401,402) 
 
 
 
Picasso. Les demoiselles d’ Avignon. (1907) 
[as mulheres da esquerda identificam-se com a cultura 
 ibérica e as da direita demonstram influência da arte negra, 
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que o pintor vinha pesquisando] 
 
 
 Picasso. Busto de mulher com chapéu azul. (1944). 
Cubismo mesclado com o exagero expressionista 
 
 
 
 
Picasso.Guernica.1937.retrata as atrocidades da Guerra Civil Espanhola. 
Hitler bombardeia a cidade de Guernica.Espanha
 
 http://www.infoescola.com/pintura/guernica/ 
 
 Vicente.do.Rego.Monteiro.Goleiro.s.d.Cubismo 
 
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 Vicente do Rego Monteiro. Mulher sentada. sd 
 
 
Na literatura as influências cubistas são notadas, por exemplo, em poemas de Oswald de 
Andrade, quando vemos a presença de elementos como a fragmentação da realidade, o 
predomínio de substantivos e flashes cinematográficos. 
 
 
 
Hípica 
 
Saltos records 
Cavalos da Penha 
Correm jóqueis de Higienópolis 
Os magnatas 
As meninas 
E a orquestra toca 
Chá 
Na sala de cocktails. 
 
 (ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p.129) 
 
Na poesia pau-brasil, de Oswald de Andrade, vemos o uso da técnica de recorte e colagem, dos poemas-piada e 
sua recusa de sentimentalismo piegas: 
 
PAU-BRASIL 
 
Escapulário 
 
No Pão de Açúcar 
De Cada Dia 
Dai-nos Senhor 
A Poesia 
De Cada Dia 
 
A transação 
 
O fazendeiro criara filhos 
Escravos escravas 
Nos terreiros de pitangas e jabuticabas 
Mas um dia trocou 
O ouro da carne preta e musculosa 
As gabirobas e os coqueiros 
Os monjolos e os bois 
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Por terras imaginárias 
Onde nasceria a lavoura verde do café 
 
Relicário 
 
No baile da Corte 
Foi o Conde d’Eu quem disse 
Pra Dona Benvinda 
Que farinha de Suruí 
Pinga de Parati 
Fumo de Baependi 
É comê bebê pitá e caí 
 
Ditirambo 
 
Meu amor me ensinou a ser simples 
Como um largo de igreja 
Onde não há nem um sino 
Nem um lápis 
Nem uma sensualidade 
 
Traituba 
 
O sobrado parecia uma igreja 
Currais 
E uma e outra árvore 
Para amarrar os bois 
O pomar de toda fruta 
E a passarinhada 
Juá na roça de milho 
Carros de fumo puxados por 12 bois 
Codorna tucano perdiz araponga 
Jacu nhambu juriti 
(Pau-Brasil, Au Sans Pareil, Paris,1925) 
(CANDIDO,Antonio. Presença da Lit.Brasileira – III.São Paulo:Difusão Europeia do Livro, 1968.pp.80,81) 
 
Vejamos a presença de flashes cinematográficos, a superposição e simultaneidade de planos neste 
poema de Blaise Cendrars: 
 
Rio de Janeiro 
 
Uma luz deslumbrante inunda a atmosfera 
Uma luz tão colorida e tão fluida que os objetos toca 
Os rochedos cor-de-rosa 
O farol branco que os domina 
As cores do semáforo parecem liquefeitas 
E eis que agora eu sei o nome das montanhas que rodeiam essa baía maravilhosa 
O Gigante deitado 
A Gávea 
O Bico de Papagaio 
O Corcovado 
O Pão de Açúcar que os companheiros de Jean de Léry chamavam de Pote de Manteiga 
E as estranhas agulhas da Serra dos Órgãos 
Bom dia Vocês 
(CENDRARS, Blaise. Etc...Etc... (Um livro 100% Brasileiro). São Paulo: Perspectiva, 1977) 
 
 
 
1.3 Expressionismo: liberdade de expressão do mundo interior 
Advém de um grupo de pintores que eram chamados de expressionistas na Alemanha e fauvistas na França. O 
objetivo desse grupo era combater o impressionismo. Curiosamente, era a tendência da qual eles provinham. 
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O expressionismo, portanto, era uma corrente da pintura que valorizava a expressão, isto é, era uma arte sensorial 
e subjetiva quanto ao modo de captação da realidade. Na relação entre o artista impressionista e a realidade, o 
movimento de criação vai do mundo exterior para o mundo interior. No expressionismo ocorre o oposto: o 
movimento de criação parte da subjetividade do artista, do seu mundo interior, em direção ao mundo exterior. 
Assim, a obra de arte é reflexo direto de seu mundo interior e toda a atenção é dada à expressão, isto é, ao modo 
como forma e conteúdo livremente se unem para dar vazão às sensações do artista no momento da criação. 
Edvard Munch (norueguês) Karl Johan ao anoitecer. 1892. expression. 
 Edvard Munch.norueguês.O grito.1893.expressionismo 
Poema que se relaciona ao quadro O grito, de Edvard Munch 
 
O Grito 
Estava andando pela estrada com dois amigos 
O sol se pondo com um céu vermelho sangue 
Senti uma brisa de melancolia e parei 
Paralisado, morto de cansaço… 
… meus amigos continuaram andando - eu continuei parado 
tremendo de ansiedade, senti o tremendo Grito da natureza 
 Edvard Munch 
 
Entre os principais fundamentos do Expressionismo, podemos encontrar: 
 A arte não é imitação, mas criação subjetiva, livre. A arte é expressão dos sentimentos. 
 A razão é objeto de descrédito. 
 A realidade que circunda o artista é horrível e, por isso, ele a deforma ou a elimina, criando a 
arte abstrata. 
 A arte é criada sem obstáculos convencionais, o que representa um repúdio à repressão social. 
 A intimidade e a vivência da dor derivam do sentido trágico da vida e causam uma deformação 
significativa, torturada. 
 A arte se desvincula do conceito de belo e feio e torna-se uma forma de contestação. 
 
Na literatura, o expressionismo apresenta as seguintes características: 
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Linguagem fragmentada, elíptica, constituída por frases nominais (basicamente aglomerados de substantivos e 
adjetivos) às vezes até sem sujeito; despreocupação quanto à organização do texto em estrofes, ao emprego de 
rimas ou à musicalidade; combate à fome, à inércia e aos valores do mundo burguês. 
Artistas ligados ao expressionismo: 
Na pintura, temos os principais artistas expressionistas: Kandinski, Paul Klee, Chagall, Munch. Na 
arquitetura: Erich Mendelsohn. Na literatura: August Stramm, Kasimir Edschmid e, mais tarde, Herman 
Hesse e Thomas Mann. No teatro, Kayser e Brecht (fase inicial). Na música: Shoemberg. No cinema, 
Wiene. 
Vejamos um fragmento do poema expressionista O meu tempo, do poeta alemão Wilheim Klem: 
Cantos e metrópoles, lavinas febris, 
Terras descoradas, polos sem glória, 
Miséria, heróis e mulheres da escória, 
Sobrolhos espectrais, tumulto de carris. 
 
Soam ventoinhas em nuvens perdidas. 
Os livros são bruxas. Povos desconexos. 
A alma reduz-se a mínimos complexos. 
A arte está morta. As horas reduzidas. 
 
(Carris: sulcos deixados pelas rodas dos 
carros. Obs.: no dicionário Aurélio, consta 
apenas Lavina- cidade americana do 
estado de Montana )
No Brasil, os principais pintores que tiveram influência significativa do expressionismo foram: Anita 
Malfatti, Lasar Segall, Osvaldo Goeldi, Cândido Portinari. 
 ANITA MALFATTI – 1989-1964 (com 30 anos de idade) 
 
Anita Malfatti. O homem de sete cores.1915-1916. Carvão e pastel-express. 
 
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Anita Malfatti. O farol. 1917.expr. 
 
Anita Malfatti. A ventania.1915-1917.expr 
 
 
Anita Malfatti. O homem amarelo.1915-16.expr. 
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Anita Malfatti. A estudante russa.1915-16.expr. 
 
 
Anita Malfatti. Retrato de Mário de Andrade. 1921-22 
LASAR SEGALL (nasc.Lituânia/est.Alemanha/Brasil): 
 
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CÂNDIDO PORTINARI: (1903-Brodósqui-MG-1962) – produziu mais de 5000 obras: 
 Retirantes.1944. C.Portinari. 
(faz parte do acervo do MASP) 
 
Cândido Portinari. Mestiço. 
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Cândido Portinari.Criança morta.1944 
 
 
Cândido Portinari. O lavrador de café. 
 
Cândido Portinari. Painéis na ONU. Guerra e Paz.1956. 140m2 cada 
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 Cândido Portinari.A neta Denise com carneiro branco.1961 
1.4 Dadaísmo – a antiarte 
É considerado o movimento artístico mais contestador da época. Surgiu em 1916, em Zurique, de um grupo de 
artistas que se reunia no Cabaret Voltaire que decide comunicar ao mundo suas inquietações, seu 
descontentamento, sua repulsa às atrocidades da I Guerra Mundial. A forma como o nome do movimento é dado: 
Tristan Tzara coloca uma espátula no dicionário Petit Larousse fechado e lê a primeira palavra que lhe salta aos 
olhos: DADA. O que quer dizer dada? Não tem sentido claro. É uma palavra tão vaga e imprecisa que pode 
significar, ao mesmo tempo, rabo de vaca sagrada, ama de leite, cavalo de pau ou mesmo uma palavra que parece 
ter saído da boca de um bebê: mama, papa, baba, dada. 
Profundamente niilistas (negativistas) , os dadaístas se propunham a varrer, a limpar o horizonte dos 
convencionalismos estéticos. Tudo acompanhado de um humor delirante, diante do qual a lógica não se mantinha 
mais de pé. Uma rebelião absoluta contra todas as formas de organização social, a fim de se libertarem de todas 
as heranças históricas. No seu primeiro manifesto apresentado em 1916, dentre outros, apresentam os seguintes 
princípios: 
Denúncia do quadro europeu das fraquezas; recusa do universo racionalista burguês; desmistificação da arte: a 
arte não é séria; nós escarramos na humanidade. 
Nessa época André Breton e Louis Aragon fundam a revista Littérature, em 1918, em Paris. Salvador Dali 
pronunciava conferências na Sorbonne com o pé direito dentro de um balde cheio de leite de jumenta. Marcel 
Duchamp batalha para expor a sua Fountain: um urinol masculino semelhante ao que ainda hoje é utilizado em 
muitos banheiros públicos masculinos. Com isto ele inventa a técnica dos ready made, que consiste em retirar um 
objeto de uso corrente de seu ambiente normal, para criar máquinas impossíveis de utilização inconcebível. 
Duchamp expôs também uma reprodução da Mona Lisa, decorada com um bigode e um jogo obsceno de palavras. 
 
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Na Literatura, o Dadaísmo caracteriza-se pela agressividade, pela improvisação, pela desordem, pela 
rejeição a todo tipo de racionalização e equilíbrio, pela livre associação de palavras (técnica da escrita 
automática que seria mais tarde aproveitada também pelo Surrealismo) e pela invenção de palavras 
com base na exploração apenas do seu significante. Um exemplo é o poema fonético Die Schlacht (A 
batalha), de Ludwig Kassak: 
 
Berr... bum,bumbum,bum... 
Ssi...bum, papapa bum, bumm 
Zazzau...Dum, bum, bumbumbum 
Prä, prä, prä... Ra, hä-hä,AA... 
Hahol... 
 
Dentre os escritores dadaístas temos Tristan Tzara e André Breton que se desentenderam. Tzara 
insistia em manter a linha original do movimento e Breton, rompendo com o Dadaísmo, abandonou o 
grupo e criou o movimento surrealista, uma das principais correntes artísticas do século XX. 
 
 
 
 
 
 
Roda de Bicicleta. 1913.Marcel 
Duchamp.Museu de Arte Moderna 
de Nova Iorque 
 
Fonte. Marcel Duchamp. 1917(urinol 
invertido) 
 
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17 
 
Para fazer um poema dadaísta 
(Tristan Tzara) 
 
Pegue um jornal. 
Pegue a tesoura. 
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. 
Recorte o artigo. 
 
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. 
Agite suavemente. 
Tire em seguida cada pedaço um após o outro. 
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. 
O poema se parecerá com você. 
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público. 
 
(apud.CEREJA,2009.p.452) 
 
Dentre os artistas brasileiros, que tiveram trabalhos com influência dadaísta, 
encontramos: 
Mário de Andrade – desvairismo – corrente que apresentou no prefácio de Paulicéia 
Desvairada 
Artes plásticas: Ligia Clark– bichos, esculturas de ferro montadas com dobradiças que 
propiciam uma manipulação por parte do espectador 
Hélio Oiticica – Apocalipopoteose – o nome da exposição (em 1968- Rio de Janeiro) está 
impregnado de ressonância dadaísta. 
Vejamos um pequeno trecho do Prefácio Interessantíssimo de Mário de Andrade, para comprovar o 
dadaísmo presente ( a continuidade do texto veremos quando estudarmos Mário de Andrade): 
Está fundado o Desvairismo. 
Este prefácio, apesar de interessante, inútil. 
Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me aceita são inúteis amos. Os curiosos terão prazer em 
descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para quem me rejeita trabalho perdido explicar o que, 
antes de ler, já não aceitou. 
Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só 
para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste Prefácio Interessantíssimo. 
(...) 
Vejamos algumas obras de Lígia Clark, para percebermos um pouco dessa teoria na prática: 
 Lygia Clark Plano 5.Lygia Clark (1957) 
Lygia Clark 
 
Pintora, escultora, auto-intitulou-se não-artista. Nasceu em Belo Horizonte, 1920. Em 1947 inicia-se na arte no Rio de Janeiro, sob 
orientação de Burle Marx. Em 1952, viaja a Paris e lá estuda com Léger e outros. Expõe em Paris e no Ministério de Educação e 
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18 
 
Saúde, no Rio de Janeiro. Em 1954 integra o Grupo Frente. De 1954 a 58 desenvolve uma pintura de extração construtivista, 
restrita ao uso do branco e preto em tinta industrial. No ano de 1957, participa da I Exposição Nacional de Arte Concreta, no 
Ministério de Educação e Cultura no Rio de Janeiro. Em 1959, assina o Manifesto Neoconcreto. Desdobra gradualmente o plano 
em articulações tridimensionais, Casulos e Trepantes, onde vai se insinuando a participação do espectador. Participa da Exposição 
Neoconcreta no MAM - Rio. Em 1960, cria os Bichos, estruturas móveis de placas de metal que convidam à manipulação e a Obra-
mole, pedaços de borracha laminada entrelaçados. A partir de meados da década de 60, prefere a poética do corpo apresentando 
proposições sensoriais e enfatizando a efemeridade do ato como única realidade existencial . De 1970 a 75 reside em Paris. Como 
professora na Sorbonne propõe exercícios de sensibilização, buscando a expressão gestual de conteúdos reprimidos e a liberação 
da imaginação criativa. No período de 1978 a 85 usa Objetos Relacionais com fins terapêuticos. Falece no Rio de Janeiro, em 1988. 
Texto base: http://www.artbr.com.br/casa/biografias/clark/ 
 
 
Lygia Clark.Escada.1961 
 
 Objeto articulado da série Bichos. 1960 
O Dentro é o Fora . Lygia Clark (1963) 
 
Hélio Oiticica. (Rio de Janeiro-RJ-1937/1980) 
Artista performático, pintor e escultor. Inicia, com o irmão César Oiticica, estudos de pintura e desenho com Ivan Serpa no Museu 
de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, em 1954. Participa do Grupo Frente e, passa a integrar o Grupo Neoconcreto. 
Abandona os trabalhos bidimensionais e cria relevos espaciais, bólides, capas, estandartes, tendas e penetráveis. Participa de 
inúmeras manifestações. Em 1968, realiza no Aterro do Flamengo a manifestação coletiva Apocalipopótese, da qual fazem parte 
seus Parangolés e os Ovos, de Lygia Pape. Em 1969, realiza na Whitechapel Gallery, em Londres, o que chama de Whitechapel 
Experience, apresentando o projeto Éden. Vive em Nova York na maior parte da década de 1970, período no qual é bolsista da 
Fundação Guggenheim e participa da mostra Information, no Museum of Modern Art - MoMA. Retorna ao Brasil em 1978. Após 
seu falecimento, é criado, em 1981, no Rio de Janeiro o Projeto Hélio Oiticica, destinado a preservar sua obra. Em 2009 um 
incêndio na residência de César Oiticica, destrói parte do acervo de Hélio Oiticica. 
 
Helio tinha caráter experimental e inovador. Seus experimentos pressupõem ativa participação do público, acompanhados de 
elaborações teóricas, comumente com a utilização de textos, comentários e poemas. 
 
Com as Invenções, de 1959, o artista marca o início da transição da tela para o espaço ambiental, o que ocorre nesse ano com os 
Bilaterais - chapas monocromáticas pintadas com têmpera ou óleo e suspensas por fios de nylon - e os Relevos Espaciais, suas 
primeiras obras tridimensionais. Nessa época produz textos sobre seu trabalho, sobre a arte construtiva e as experiências de Lygia 
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Clark. Embora não tenha participado da 1ª Exposição Neoconcreta nem assinado o Manifesto Neoconcreto, em 1960 participa da 
2ª Exposição Neoconcreta no Rio de Janeiro e pensa sua produção em relação à Teoria do Não-Objeto, de Ferreira Gullar. 
 
Em 1961 constrói uma maquete de seu primeiro labirinto, o Projeto Cães de Caça, onde se utiliza do Poema Enterrado, de Ferreira 
Gullar e o Teatro Integral, de Reynaldo Jardim. Posteriormente colabora com a Escola de Samba Mangueira, do Rio de Janeiro, 
montando o projeto Parangolés, em que utilizando-se de estandartes, tendas, capas de vestir e outras vestimentas, funde 
elementos de cor, dança, poesia e música. A partir disso, desenvolve outras manifestações ambientais, dentre elas as obras 
Tropicália, 1967; Apocalipopótese, 1968 e Éden, 1969. É depois dessa época que Caetano Veloso se utiliza do termo Tropicália para 
uma de suas músicas e que acaba motivando um movimento artístico. São inúmeras as suas proposições abertas para a 
participação de vivências individuais e coletivas em suas obras, em que a escultura, pintura, música, literatura, encontram-se no 
mesmo espaço, interligando-se. Em 1980, ano de sua morte, ainda continuava atuando com suas propostas artísticas. 
 
Texto base: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=2020 
Se quiser saber mais sobre o Poema Enterrado, de Ferreira Gullar, veja no endereço: http://ardotempo.blogs.sapo.pt/382107.html 
E se quiser ver o vídeo em que F.Gullar trata do assunto: http://bezerraguimaraes.blogspot.com.br/2010/10/o-poema-enterrado-valeu-uma-febre-
de.html 
 
Hélio Oiticica. Penetráveis: http://www.youtube.com/watch?v=_vI7lk_0xPc 
 
 
Helio Oiticica. Parangolés: 
Helio Oiticica. Pintura sem tela. 
Intertextualidade: 
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20 
 
O mundo de Lygia Clark: http://lygiaclarkterceirob.blogspot.com.br/ 
A obra de Lygia Clark e a de Oiticica contribuindo para a moda de vestuário: 
http://fashionnotebook.wordpress.com/2009/06/23/julia-valle/ 
Observe-se a intertextualidade: No que a literatura, a escultura e a dança podem ter em comum. Num seminário 
realizado pelo SESC, discute-se a modernidade/contemporaneidade de Helio Oiticica/ Lígia Clark e a dança butô. 
Mesmo tendo sido criada tão distante, no Japão, perto de 1960, poderiam ter traços comuns: A Revolta da Carne – 
Diálogos: Brasil/Japão: 
http://www.colheradacultural.com.br/print.news.php?register=20090801233336.000&section=5&type=M 
Outras fontes e pesquisa: http://www.infoescola.com/biografias/lygia-clark/ 
 
1.5 O surrealismo – o combate à razão 
O movimento surrealista teve início na França com a publicação do Manifesto Surrealista (1924) de 
André Breton, que tinha sido psicanalista eprocurava unir arte e psicanálise. Diversos pintores 
aderiram ao movimento surrealista que teve duas linhas de atuação no seu início: as experiências 
criadoras automáticas e o imaginário extraído do sonho. 
Freud, na psicanálise e Bergson, na Filosofia, já haviam destacado a importância do mundo interior do 
ser humano, as zonas desconhecidas ou pouco conhecidas da mente humana. Encaravam o inconsciente, 
o subconsciente e a intuição como fontes inesgotáveis e superiores de conhecimento do homem, pondo 
em segundo plano o pensamento sensível, racional e consciente. 
O automatismo artístico consiste em extravasar sem nenhum controle da razão ou do pensamento os 
impulsos criadores do subconsciente. O artista, ao proceder assim, põe na tela ou no papel seus desejos 
interiores profundos, sem se importar com coerência, significados, adequação, etc. Na literatura, esse 
procedimento recebeu o nome de escrita automática. (CEREJA, 2009,p.405) 
O sonho, como manifestação oculta da mente, entra no universo da arte. Os surrealistas buscam uma 
arte livre da razão, procurando trazer as imagens do inconsciente e do subconsciente para a tela, para 
a literatura, como se o artista estivesse sonhando acordado. 
Portanto, são frequentes o ilogismo, o devaneio, o sonho, a loucura, a hipnose, o humor negro, as 
imagens surpreendentes, o impacto do inusitado, a livre expressão dos impulsos, etc. 
Na literatura, podemos encontrar André Breton e Louis Aragon; no teatro Antonin Artaud; nas artes 
plásticas Salvador Dalí, Max Ernst, Joan Miró; no cinema o cineasta espanhol Luis Buñuel é a maior 
expressão. Ele criou, com Salvador Dalí, o roteiro dos primeiros filmes surrealistas, dentre eles O cão 
andaluz e Idade de Ouro, em 1929. 
O fato de o surrelismo rejeitar o mundo burguês, racional, mercantil e moralista facilitou para que vários 
de seus seguidores tivessem ligação com o comunismo. Eles acreditavam que para alcançar os objetivos 
do movimento: amor, liberdade e poesia, era necessária uma transformação radical da sociedade. 
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21 
 
 Salvador Dali. 
 
 
 
No Brasil, vários escritores foram influenciados pelas ideias surrealistas, como Mário de Andrade, 
Oswald de Andrade, Murilo Mendes e Jorge de Lima. 
Por exemplo, algumas das características surrealistas, como o ilogismo, o absurdo, as imagens 
surpreendentes, a atmosfera onírica, podem ser observadas nestes poemas de Murilo Mendes: 
Pré-história 
Mamãe vestida de rendas 
Tocava piano no caos 
Uma noite abriu as asas 
Cansada de tanto som, 
Equilibrou-se no azul, 
De tonta não mais olhou 
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Para mim, para ninguém! 
Cai no álbum de retratos. 
 
Descanso 
1 
Brinco facilmente com as esfinges, 
Com o oráculo, a sibila e o turbilhão. 
Também as costureiras me comovem 
E o trabalhador que voltando da oficina 
Senta-se à soleira da porta 
Enquanto os filhos fazem uma roda e cantam: 
“Eu sou pobre, pobre, pobre...” 
 
2 
Vejo as horas numa camélia. 
Pintei um quadro no escuro. 
 
(CANDIDO,1968.pp.188 e192) 
Bibliografia Modernismo Vanguardas: 
CANDIDO, Antonio. Presença da Lit.Brasileira – III.São Paulo:Difusão Européia do Livro, 1968. 
RODRIGUES, A.Medina e outros. Antologia da Literatura Brasileira. O modernismo.v.II. 
 São Paulo: Marco, 1979. 
http://www.infoescola.com/pintura/guernica/ 
Obs.: O filme Poucas Cinzas, de Paul Morrison, retrata um pouco da vida de Salvador Dali, Federico Garcia Lorca e Luis Buñuel. 
 
 
MODERNISMO BRASILEIRO 
 
A VANGUARDA BRASILEIRA 
Considera-se que o início oficial do Modernismo Brasileiro é em 1922, com a Semana de Arte Moderna . 
Porém, desde a década de 1910 já vinham ocorrendo manifestações artísticas de um grupo que formava 
a vanguarda modernista brasileira, entre eles estavam os escritores Mário de Andrade, Oswald de 
Andrade, Ronald de Carvalho, Manuel Bandeira, Juó Bananere (pseudônimo de Alexandre Marcondes 
Machado) e dos pintores Anita Malfatti e Di Cavalcanti. 
Outros fatos precederam a Semana de Arte Moderna dentre eles: a criação da revista de artes O 
Pirralho, dirigida por Oswald de Andrade e Emílio de Menezes, em 1911; a exposição de obras do pintor 
russo Lasar Segall, em 1913; a participação do brasileiro Ronald de Carvalho, em 1915, na fundação da 
revista Orpheu (que deu início ao Modernismo em Portugal); a publicação, em 1917, de várias obras de 
poesia, entre elas, Há uma gota de sangue em cada poema, de Mário de Andrade ( que utilizou o 
pseudônimo de Mário Sobral), e A cinza das horas, de Manuel Bandeira. 
Nesse contexto, o fato considerado mais importante foi a exposição da pintora paulista Anita Malfatti, 
realizada em 1917, que provocou uma forte reação do escritor e crítico do jornal O Estado de S.Paulo, 
Monteiro Lobato, que após visitá-la escreveu violenta crítica intitulada Paranoia ou mistificação? 
Vejamos esse artigo: 
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte 
pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos 
clássicos dos grandes mestres. Quem trilha por esta senda, se tem gênio, é Praxíteles na Grécia, é Rafael na Itália, é 
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Rembrandt na Holanda, é Rubens na Flandres, é Reynolds na Inglaterra, é Leubach na Alemanha, é Iorn na Suécia, é 
Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento, vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em 
torno daqueles sóis imorredouros. A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza, e interpretam-
na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura 
excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação, 
bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-
se logo nas trevas do esquecimento. Embora eles se deem como novos precursores duma arte a vir, nada é mais velho 
do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranoia e com a mistificação. De há muito já que a estudam os 
psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas dos 
manicômios. A única diferença reside em que nos manicômios esta arte é sincera, produto ilógico de cérebros 
transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas, zabumbadas pela imprensa e 
absorvidas por americanos malucos, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo mistificação pura. 
 Todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude. 
As medidas de proporção e equilíbrio, na forma ou na cor, decorrem do que chamamos sentir. Quando as sensações 
do mundo externo transformam-se em impressões cerebrais, nós "sentimos"; para que sintamos de maneira diversa, 
cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja 
em "pane" por virtude de alguma grave lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer normalmenteno homem, 
através da porta comum dos cinco sentidos, um artista diante de um gato não poderá "sentir" senão um gato, e é falsa 
a "interpretação" que do bichano fizer um "totó", um escaravelho, um amontoado de cubos transparentes. 
 Estas considerações são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para 
uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia. Essa artista possui um talento 
vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida para má direção, se notam tantas e tão preciosas 
qualidades latentes. Percebe-se de qualquer daqueles quadrinhos como a sua autora é independente, como é original, 
como é inventiva, em que alto grau possui um sem-número de qualidades inatas e adquiridas das mais fecundas para 
construir uma sólida individualidade artística. Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, 
penetrou nos domínios dum impressionismo discutibilíssimo, e põe todo o seu talento a serviço duma nova espécie de 
caricatura. 
 Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte 
caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora penetrado. Caricatura da cor, caricatura da 
forma - caricatura que não visa, como a primitiva, ressaltar uma ideia cômica, mas sim desnortear, aparvalhar o 
espectador. A fisionomia de quem sai de uma dessas exposições é das mais sugestivas. Nenhuma impressão de 
prazer, ou de beleza, denunciam as caras; em todas, porém, se lê o desapontamento de quem está incerto, duvidoso de 
si próprio e dos outros, incapaz de raciocinar, e muito desconfiado de que o mistificam habilmente. Outros, certos 
críticos sobretudo, aproveitam a vaza para épater les bourgeois. Teorizam aquilo com grande dispêndio de palavrório 
técnico, descobrem nas telas intenções e subintenções inacessíveis ao vulgo, justificam-nas com a independência de 
interpretação do artista e concluem que o público é uma cavalgadura e eles, os entendidos, um pugilo genial de 
iniciados da Estética Oculta. No fundo, riem-se uns dos outros, o artista do crítico, o crítico do pintor, e o público de 
ambos. 
 Há de ter essa artista ouvido numerosos elogios à sua nova atitude estética. Há de irritar-lhe os ouvidos, como 
descortês impertinência, esta voz sincera que vem quebrar a harmonia de um coro de lisonjas. Entretanto, se refletir 
um bocado, verá que a lisonja mata e a sinceridade salva. O verdadeiro amigo de um artista não é aquele que o 
entontece de louvores e sim o que lhe dá uma opinião sincera, embora dura, e lhe traduz chãmente, sem reservas, o 
que todos pensam dele por detrás. Os homens têm o vezo de não tomar a sério as mulheres. Essa é a razão de lhes 
darem sempre amabilidades quando pedem opiniões. Tal cavalheirismo é falso, e sobre falso, nocivo. Quantos 
talentos de primeira água se não transviaram arrastados por maus caminhos pelo elogio incondicional e mentiroso? Se 
víssemos na Sra. Malfatti apenas "uma moça que pinta", como há centenas por aí, sem denunciar centelha de talento, 
calar-nos-íamos, ou talvez lhe déssemos meia dúzia desses adjetivos "bombons", que a crítica açucarada tem sempre 
à mão em se tratando de moças. Julgamo-la, porém, merecedora da alta homenagem que é tomar a sério o seu talento 
dando a respeito da sua arte uma opinião sinceríssima, e valiosa pelo fato de ser o reflexo da opinião do público 
sensato, dos críticos, dos amadores, dos artistas seus colegas e... dos seus apologistas. 
 Dos seus apologistas sim, porque também eles pensam deste modo... por trás. 
Paranoia ou mistificação? : http://www.artelivre.net/html/literatura/al_literatura_paranoia_ou_mistificacao.htm 
ÉPATER LES BOURGEOIS - Expressão francesa que pode ser traduzida de forma livre por “chocar os burgueses”, atitude literária que encontramos 
sobretudo a partir da segunda metade do século XIX, quando os poetas decadentistas declararam guerra às convenções da sociedade burguesa, no 
que foram seguidos pelo novo impulso do romance naturalista e realista, a partir de Flaubert e Zola. A expressão é geralmente atribuída a 
Baudelaire, que a tomou como um programa de vida e da própria literatura, que devia apontar a mira a todos os burgueses ricos, conservadores e 
acomodados. O modus vivendi que propunham em alternativa era a boêmia e o culto da arte sem os atavios burgueses. Os movimentos de 
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vanguarda do século XX —dada, futurismo e surrealismo, em especial — seguiram o mesmo programa, desafiando os gostos literários estabelecidos. 
In: http://www.edtl.com.pt/?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=988&Itemid=2 
tutti quanti: todo mundo 
Dentre os autores que estavam escrevendo no contexto de São Paulo, encontramos uma figura bastante interessante, o 
Juó Bananére: 
Juó Bananére 
Alexandre Marcondes Machado, que assinava com o pseudônimo Juó Bananère, foi um poeta paulista que 
escrevia no patois (forma de linguagem local) falado pela colônia italiana que morava em São Paulo, principalmente 
no Brás, Bela Vista, Bom Retiro e outros cantos da cidade, na década de 1920. Seus escritos no dialeto macarrônico 
(em mais de um sentido) foram publicados no periódico O Pirralho e depois reunidos no livro La divina increnca, 
onde aparecem muitas paródias de textos de autores brasileiros. 
Abaixo, alguns dos textos que retirei da edição de 1925. Na capa do seu livro La Divina Increnca, aparece: Juó 
Bananére. Candidato á Gademia Baolista de Letras. 
Círgolo Viziozo 
 Prú Maxado di Assizi 
O Hermeze um di aparlô: 
 - Se io éra aquilla rosa Che está pindurada 
Nu gabello da mia anamurada, 
Uh! Che brutta cavaco! 
 
I o gaxorigno pigô di dizê: 
- Se io fossi o Piedadô, 
Era molto maise bô! 
 
Ma o Garonello disse tambê 
Triste come um giaburú: 
- Che bô si io fosse o Dudú! 
 (BANANERE. 1925, p.5) 
 
MIGNA TERRA 
 
Migna terra tê parmeras, 
Che canta inzima o sabiá. 
As aves che stó aqui, 
També tuttos sabi gorgeá. 
 
A abobora celestia tambê, 
Che tê lá na migna terra, 
Tê moltos millió di strella 
Che non tê na Ingraterra. 
 
Os rios lá sô maise grandi 
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Dus rio di tuttas naçó; 
I os matto si perdi di vista, 
Nu meio da imensidó. 
 
Na migna terra tê parmeras 
Dove ganta a galligna dangola; 
Na migna terra tê o Vap’relli, 
Chi só anda di gartolla. 
 (BANANERE,1925,p.8) 
 
 
Amore co amore si paga 
 Pra Migna Anamurada 
 
Xiguê, xigaste! Vigna afatigada i triste 
I triste i afatigada io vigna; 
Tu tigna a arma povolada di sogno, 
I a arma povolada di sogno io tigna. 
 
Ti ame, m’amasti! Bunitigno io era 
I tu tambê era bunitigna; 
Tu tigna uma garigna di fera 
E io di fera tigna uma garigna. 
 
Una veiz ti begiê a linda mó, 
I a migna tambê vucê begió. 
Vucê mi apisô nu pé, e io non pise no da signora. 
 
Moltos abbraccio mi deu vucê, 
Moltos abbraccio io tambê ti dê. 
U fora vucê mi deu, e io tambê ti dê u fóra. 
 (BANANERE,1925,p.11) 
 
 
 
Os meus Otto annoO Chi sodades che io tegno 
D'aquillo gustoso tempigno, 
Ch'io stava o tempo intirigno 
Brincando c'oas mulecada. 
Che brutta insgugliambaçó, 
Che troça, che bringadêra, 
Imbaxo das bananêra, 
Na sombra dus bambuzá. 
 
Che sbornia, che pagodêra, 
Che pandiga che arrelía, 
a genti sempre afazia 
No largo d'Abaxo o Piques. 
Passava os dia i as notte 
Brincando di scondi-scondi, 
I atrepáno nus bondi, 
Bulino c'os conduttore. 
 
Deitava sempre di notte, 
i alivantava cidigno. 
Uguali d'un passarigno, 
Allegro i cuntento da vita. 
Bibia un caffè ligêro, 
Pigava a penna i o tintêro 
Iva curréno p'ra scuóla. 
Na scuóla io non ligava! 
nunga prestava tençó, 
Né nunga sapia a liçó. 
O professore, furioso, 
C'oa vadiação ch'io faceva, 
Mi dava discompostura; 
Ma io era garadura 
I non ligava p'ra elli. 
Inveiz di afazê a liçó, 
Passava a aula intirigna, 
Fazéno i giogáno boligna 
Ingoppa a gabeza dos ôtro. 
O professore gridava, 
Mi dava un puxó de oreglio, 
I mi butava di gioeglio 
Inzima d'un grão di milio. 
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Di tardi xigava in gaza, 
Comia come un danato, 
Puxava u rabbo du gatto, 
Giudiava du gaxorigno, 
Bulia co'a guzignêra, 
Brigava c'oa migna ermã; 
I migna mái p'rá cabá, 
Mi dava una brutta sova. 
Na rua, na visinhança, 
Io era mesmo un castigo! 
Ninguê puteva commigo! 
Bulia con chi passava, 
Quebrava tuttas vidraça, 
I giunto co Bascualino 
Rubava nus botteghino, 
A aranxia pera du Rio. 
Vivia amuntado nus muro, 
Trepado nas larangiêra; 
I sempre ista bringadêra 
Cabava n'un brutto tombo. 
Mas io éra incorrigive, 
I logo nu otro dia, 
Ricominciava a relia, 
Gaía traveis di novo! 
A migna gaza vivia 
Xiigna di genti, assim!!... 
Che iva dá parti di mim. 
Sembrava c'un gabinetto 
Di quexa i regramaçó. 
Mei páio, pobre goitado, 
Vivia atrapagliado 
P'ra si livrá dos quexozo. 
I assi di relia in relia, 
Passê tutta infança migna, 
A migna infança intirigna. 
Che tempo mais gotuba, 
Che brutta insgugliambaçó, 
Che troça, che bringadêra, 
Imbaxo das bananêra, 
Na sombra dus bambuzá! 
 
(BANANERE, 1925.p.33-36)
 
 
BANANERE, Juó. La Divina Increnca. São Paulo: Livraria do Globo. 1925 
Se quiser ler o livro todo eis o endereço: http://bananere.art.br/increnca.html 
 
 
Escadaria na entrada interna do Teatro Municipal de São Paulo fotos Roberto Samuel 
 
A SEMANA DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO 
Idealizada por um grupo de artistas, a Semana de Arte pretendia colocar a cultura brasileira a 
par das correntes de vanguarda do pensamento europeu, ao mesmo tempo em que pregava a 
tomada de consciência da realidade brasileira. 
O Movimento não deve ser visto apenas do ponto de vista artístico, como recomendam os 
historiadores e críticos especializados em história da literatura brasileira, mas também como 
um movimento político e social. O país estava dividido entre o rural e o urbano. Mas o bloco 
urbano não era homogêneo. As principais cidades brasileiras, em particular São Paulo, 
conheciam uma rápida transformação como consequência do processo industrial. A primeira 
Guerra Mundial foi a responsável pelo primeiro surto de industrialização e consequente 
urbanização. O Brasil contava com 3.358 indústrias em 1907. Em 1920, esse número pulou 
para 13.336. Isso significou o surgimento de uma burguesia industrial cada dia mais forte, mas 
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27 
 
marginalizada pela política econômica do governo federal, voltada para a produção e 
exportação do café. 
Ao lado disso, o número de imigrantes europeus crescia consideravelmente, especialmente os 
italianos, distribuindo-se entre as zonas produtoras de café e as zonas urbanas, onde estavam 
as indústrias. De 1903 a 1914, o Brasil recebeu nada menos que 1,5 milhão de imigrantes. Nos 
centros urbanos criou-se uma faixa considerável de população espremida pelos barões do café 
e pela alta burguesia, de um lado, e pelo operariado, de outro. Surge a pequena burguesia, 
formada por funcionários públicos, comerciantes, profissionais liberais e militares, entre outros, 
criando uma massa politicamente "barulhenta" e reivindicatória. 
A falta de homogeneidade no bloco urbano tem origem em alguns aspectos do comportamento 
do operariado. Os imigrantes de origem europeia trazem suas experiências de luta de classes. 
Em geral esses trabalhadores eram anarquistas e suas ações resultavam, quase sempre, em 
greves e tensões sociais de toda sorte, entre 1905 e 1917. Um ano depois, quando ocorreu a 
Revolução Russa, os artigos a esse respeito, na imprensa, tornaram-se cada vez mais comuns. 
O partido comunista foi fundado em 1922. Desde então, ocorreria o declínio da influência 
anarquista no movimento operário. Dessa forma, circulavam pelas ruas da cidade de São 
Paulo, num mesmo espaço, um barão do café, um operário anarquista, um padre, um burguês, 
um nordestino, um professor, um negro, um comerciante, um advogado, um militar, etc., 
formando aquela pauliceia desvairada tão comentada por Mário de Andrade, em sua obra. 
Esse contexto era o ideal para a realização de um evento que mostrasse uma arte inovadora 
para romper com as velhas estruturas literárias vigentes no país. 
Não se sabe bem ao certo de quem partiu a ideia da realização da Semana de Arte Moderna, 
contudo há registro de que Oswald de Andrade prometera para 1922 , que seria o ano do 
centenário da Independência, uma ação dos artistas novos que fizesse valer o Centenário. 
Em verdade, em 1921, o grupo modernista que realizaria a Semana estava organizado e 
amadurecido para o evento, quando chegou da Europa o consagrado escritor e membro da 
Academia Brasileira de Letras, Graça Aranha. Entusiasmado com as vanguardas artísticas que 
conhecera na Europa, Graça Aranha apoiou o grupo paulista, dando-lhes o impulso necessário. 
 
Cartaz da Semana de Arte Moderna Catálogo da Semana de Arte Moderna de São Paulo 
 
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Vitoria. Victor Brecheret.1919/21. Cartaz anunciando o último dia da Semana 
fez parte da Expo de Arte Moderna 
 
Verdadeiramente a Semana de Arte Moderna realizou-se em 3 apresentações no Teatro 
Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, com a participação de 
artistas de São Paulo e Rio de Janeiro. 
Durante a semana toda, o saguão do Teatro Municipal esteve aberto para o público, para a 
exposição de artes plásticas com obras de Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, 
Di Cavalcanti, Harberg, Brecheret, Ferrignac e Antonio Moya. 
Nas noites dos dias 13, 15 e 17 realizaram-se os saraus com apresentação de conferências, 
leitura de poemas, dança e música. 
13 de fevereiro - A primeira noite foi aberta com a conferência de Graça Aranha, intitulada A 
emoção estética na arte moderna, na qual o escritor pré-modernista, em linguagem tradicional 
e acadêmica, manifestou seu apoio à arte moderna. Logo após a sua conferência foram 
apresentados poemas, por Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho, e execução de 
músicas de Ernâni Braga e Villa-Lobos. Também houve uma conferência de Ronald de 
Carvalhoque falou sobre A pintura e a escultura moderna no Brasil 
15 de fevereiro - A segunda noite foi a mais importante e a mais tumultuada das três noites. 
Foi aberta por Menotti del Picchia com uma conferência em que negava a filiação do grupo 
modernista ao futurismo de Marinetti, mas defendia a integração da poesia com os tempos 
modernos, a liberdade de criação e, ao mesmo tempo, a criação de uma arte genuinamente 
brasileira. Quando se iniciou a leitura de poemas e fragmentos de prosa, a plateia teve reações 
ruidosas, ora vaiando, latindo, gritando, ora aplaudindo. Os autores presentes nessa noite 
foram: Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho, Elísio de Carvalho, Oswald de Andrade, 
Renato Almeida, Luís Aranha, Mário de Andrade, Agenor Barbosa, Moacir de Abreu, Rodrigues 
de Almeida e Sérgio Milliet. Manuel Bandeira e Ribeiro Couto, que moravam no Rio de janeiro, 
mandaram poemas para que fossem lidos. No intervalo entre uma e outra parte do programa, 
na escadaria do hall de entrada do teatro, Mário de Andrade fez, em meio a caçoadas e 
ofensas, uma pequena palestra sobre as artes plásticas ali expostas. Vinte anos depois, Mário 
de Andrade definiu esse episódio desta maneira: Como pude fazer uma conferência sobre 
artes plásticas, na escadaria do Teatro, cercado de anônimos que me caçoavam e ofendiam a 
valer?... Depois, na segunda parte do programa, um número de dança de Yvonne Daumerie 
e o concerto de Guiomar Novaes acalmaram os ânimos da plateia. 
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17 de fevereiro - houve concerto de Villa Lobos, muito vaiado porque o compositor e maestro, 
com o pé machucado, entrou usando chinelos, o que foi interpretado por parte da plateia como 
manifestação futurista. 
 
Vejamos alguns trechos dos textos apresentados durante a Semana: 
Dia 13 de fevereiro de 1922, Graça Aranha - A Emoção Estética na Arte Moderna, trecho: 
 "A remodelação estética no Brasil, iniciada na música de Villa-Lobos, na escultura 
de Brecheret, na pintura de Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, 
e na jovem e ousada poesia, será a libertação da arte dos perigos que a ameaçam do 
inoportuno arcadismo, do academismo e do provincianismo. (...) Uma vibração íntima e 
intensa anima o artista neste mundo paradoxal que é o Universo brasileiro, e ela não se pode 
desenvolver nas formas rijas do arcadismo, que é o sarcófago do passado. Também o 
academismo é a morte pelo frio da arte e da literatura. 
 Ignoro como justificar a função social da Academia. O que se pode afirmar para condená-
la é que ela suscita o estilo acadêmico, constrange a livre inspiração, refreia o jovem e árdego 
talento que deixa de ser independente para se vasar no molde da Academia. É um grande mal 
na renovação estética do Brasil e nenhum benefício trará à língua esse espírito acadêmico, que 
mata ao nascer a originalidade profunda e tumultuária da nossa floresta de vocábulos, frases e 
ideias. Ah! se os nossos escritores não pensassem na Academia, se eles por sua vez a 
matassem em suas almas, que descortino imenso para o magnífico surto do gênio, enfim 
liberto de mais esse terror." (Obra Completa, Vol. II, p. 743). 
árdego: impetuoso, arrebatado, ardente 
http://www.pg.cefetpr.br/coeme/espacoarte/modernismo.htm 
Dia 15 de fevereiro de 1922: 
Discurso de Menotti del Picchia 
 No longo discurso que pronunciou na noite de 15 de fevereiro, Menotti del Picchia dizia: 
 
"Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações obreiras, idealismos, motores, chaminé de fábricas, 
sangue, velocidade, sonho, na nossa Arte! E que o rufo de um automóvel, nos trilhos de dois versos, espante da 
poesia o último deus homérico, que ficou, anacronicamente, a dormir e sonhar, na era do "jazz-band" e do cinema, 
com a flauta dos pastores da Arcádia e os seios divinos de Helena! " 
 Há, nesse parágrafo, evidente influência do futurismo de Marinetti. A exaltação da máquina, da 
vida urbana moderna, da velocidade são elementos que conhecemos quando estudamos essa 
vanguarda. O repúdio ao passado também é típico do futurismo. Já o combate ao Parnasianismo, 
representado no trecho por imagens como "o último deus homérico", "a flauta dos pastores da Arcádia e 
os seios divinos de Helena" foi um dos elementos caracterizadores do Modernismo brasileiro nessa sua 
primeira fase, que vai de 1922 a 1930, e que costuma ser chamada de fase heroica ou de combate. 
 FONTE: INFANTE, Ulisses. Textos: leitura e escritas: literatura, língua e redação, vol 1. SãoPaulo: Scipione, 2000. 
http://www.pg.cefetpr.br/coeme/espacoarte/modernismo.htm 
 
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Mario de Andrade e membros da Semana de 22 
A importância da Semana 
A Semana de Arte Moderna de São Paulo, não teve muito destaque nos jornais da época. Os 
próprios membros participantes não tinham um projeto artístico comum, o que os unia era um 
sentimento de liberdade de criação e o desejo de romper com a cultura tradicional. Portanto foi 
um acontecimento bastante restrito aos meios artísticos principalmente de São Paulo. Aos 
poucos é que a Semana vai ganhando importância histórica. Primeiramente porque 
representou a confluência das várias tendências de renovação que, empenhadas em combater 
a arte tradicional, vinham ocorrendo na cultura brasileira antes de 1922. Mário de Andrade, 20 
anos depois, afirma que O Modernismo no Brasil foi uma ruptura, foi um abandono de 
princípios e técnicas consequentes, foi uma revolta contra o que era a inteligência nacional. 
Aproximando artistas de diferentes áreas – escritores, poetas, pintores, escultores, arquitetos, 
músicos e bailarinos - , a Semana permitiu o intercâmbio de ideias e técnicas, ampliando os 
diversos ramos artísticos e os atualizando em relação ao que se fazia na Europa. 
A Semana contribuiu com reflexos que se fizeram sentir durante a década de 1920, perpassou 
a década de 1930 e têm relação com a arte que se faz até hoje. 
************************************************************************************* 
Na 2ª. noite, entre outros números, Ronald de Carvalho declamou o poema Os Sapos, de 
Manuel Bandeira. Enquanto ele lia, o público gritava em uníssono: Foi! não foi! 
Os Sapos 
Enfunando os papos, 
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos. 
A luz os deslumbra. 
 
Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi à guerra!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 
 
O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro 
É bem martelado. 
 
Vede como primo 
Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Os termos cognatos. 
O meu verso é bom 
Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
Consoantes de apoio. 
 
Vai por cinquenta anos 
Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
A fôrmas a forma. 
 
Clame a saparia 
Em críticas céticas: 
Não há mais poesia, 
Mas há artes poéticas..." 
 
Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 
 
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Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
- “A grande arte é como 
Lavor de joalheiro. 
 
Ou bem de estatuário.Tudo quanto é belo, 
Tudo quanto é vário, 
Canta no martelo". 
 
Outros, sapos-pipas 
(Um mal em si cabe), 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 
 
Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 
 
Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
No perau profundo 
E solitário, é 
 
Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Sapo-cururu 
Da beira do rio... 
( Estrela da Vida Inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 
1970.p.51-2)
 
Voc.: Perau: declive rápido na lateral de um rio. 
 
Exercício: Levando em consideração o poema Os sapos, responder: 
1. Se considerarmos que os poetas modernistas pretendiam utilizar-se de atitudes irônicas, onde 
elas se apresentam nesse poema? 
2. Qual é o movimento literário que é satirizado no poema? 
3. Por quê? 
4. Quais são as principais características formais do poema apresentado? 
5. Qual o estilo que ele representa? 
6. Qual o sentido que representam os sapos no poema? [sapo-boi; sapo-tanoeiro (ou ferreiro); 
sapo-cururu; sapo-pipa] 
7. Quais as principais características do movimento literário satirizado no poema? 
8. Qual dos sapos apresenta, em sua fala, as principais características do movimento literário 
satirizado? 
9. Podemos dizer que há uma crítica sobre o estilo de um autor em especial do movimento 
satirizado? Quem? 
10. Se considerarmos que nesse poema os sapos são metáforas de tendências estéticas da 
literatura brasileira, o que o sapo-cururu poderia estar representando? 
 
Obs.: A minissérie da Globo, Um só coração, é bastante interessante, trazendo muitos referenciais sobre 
a Semana de Arte Moderna e os intelectuais modernistas. Alguns alunos fizeram um trabalho 
selecionando várias cenas que valem a pena: https://www.youtube.com/watch?v=2c2A49c92rw 
 
As fases do modernismo 
O movimento modernista teve duas fases: a primeira foi de 1922 a 1930, e a segunda, de 1930 a 1945. 
Modernismo – 1ª. Fase: 
Participaram desta geração: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Alcântara 
Machado, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho e Raul Bopp. 
A primeira fase do modernismo é também chamada de fase heroica, isto é, a fase da divulgação das 
ideias modernistas em todo o país e de aprofundamento das questões estéticas lançadas pela Semana. 
Esta fase caracterizou-se pelas tentativas de solidificação do movimento renovador e pela divulgação de 
obras e ideias modernistas. De um modo geral os escritores defendiam a reconstrução da cultura 
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brasileira sobre bases nacionais, revisão do nosso passado histórico, de nossas tradições culturais, 
eliminação do complexo de colonizados apegados a valores estrangeiros. Eram defensores de uma 
visão nacionalista, porém crítica, da realidade brasileira. Mário de Andrade chamou esse período de 
orgia intelectual. É um período rico em publicações de obras literárias, revistas e manifestos. Dentre as 
revistas destaca-se Klaxon (1922); Estética (1924); A Revista (1925); Terra Roxa e outras terras (1927); 
Revista de Antropofagia (1928), esta última, porta-voz do movimento Antropofagia, fundado por 
Oswald de Andrade. 
Simultaneamente à publicação dessas revistas, foram lançados vários manifestos e movimentos, dentre 
eles: Pau-Brasil; Verde-Amarelismo; Antropofagia e a Escola da Anta. 
 
 
Pau-Brasil: a poesia de exportação
 
Oswald de Andrade lançou o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, em 1924. Inspirado no nosso primeiro 
produto de exportação, o pau-brasil, defendia a criação de uma poesia brasileira de exportação. 
Demonstrando irreverência e revolta contra a cultura acadêmica e a dominação europeia em nosso país, 
o movimento propunha uma poesia primitivista, construída com base na revisão crítica do passado 
histórico e cultural do Brasil e na aceitação e valorização dos contrastes da realidade e da cultura 
brasileiras. Vejamos um trecho do manifesto comprovando isso: 
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Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. 
Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases 
feitas. Negras de jóquei. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil. 
O manifesto de Oswald propunha a criação de uma língua brasileira ( A língua sem arcaísmo, sem erudição; A 
contribuição milionária de todos os erros ); a síntese, o equilíbrio, a surpresa. 
Verde-Amarelismo e Anta 
O Movimento Verde-Amarelismo surgiu em São Paulo com Menotti del Picchia, Plínio Salgado, 
Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo. Era uma reação contra o nacionalismo defendido no 
manifesto da Poesia Pau-Brasil. Defendiam um nacionalismo ufanista. O grupo alegava que o 
movimento Pau-Brasil era afrancesado. 
Em 1927, tomando por base a anta e o índio tupi como símbolos de nacionalidade primitiva, o grupo 
verde-amarelo transformou-se na Escola da Anta. 
 
Antropofagia – a deglutição cultural: 
 
 
Abaporu .Tarsila do Amaral.1928 (obs.: abaporu= antropófago – em tupi) 
 
Em 1928, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul Bopp, revidando com sarcasmo o primitivismo 
xenófobo da Anta, lançam o mais radical de todos os movimentos do período, a Antropofagia. O 
movimento foi inspirado no quadro nomeado Abaporu (antropófago, em tupi) que Tarsila pintou e 
ofereceu a Oswald como presente de aniversário. Partidários de um primitivismo crítico, propunham a 
devoração da cultura estrangeira. O grupo tinha como porta-voz dessas ideias a Revista de 
Antropofagia, da qual participavam também Antônio de Alcântara Machado, Geraldo Costa e outros. 
Contrariamente à xenofobia da Escola da Anta, os antropófagos não negavam a cultura estrangeira, mas 
também não copiavam nem imitavam. Assim como os índios devoravam seus inimigos, acreditando que 
dessa forma assimilariam suas qualidades, os artistas antropófagos propunham a devoração simbólica 
da cultura estrangeira, aproveitando suas inovações artísticas, porém sem a perda da nossa identidade 
cultural. É, portanto, um aprofundamento da ideia da digestão cultural proposta anteriormente no 
manifesto da Poesia Pau-Brasil. ( xenofobia: aversão a coisas e pessoas estrangeiras) 
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Abaixo, alguns trechos do Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade: 
Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. 
 * 
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivos. De todas as religiões. 
De todos os tratados de paz. 
 * 
Tupy, or not tupy, that is the question. 
 * 
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. 
 * 
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. 
 * 
Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitos postos em drama, Freud acabou com o enigma mulher e 
com outros sustos da psicologia impressa. 
 * 
(...) 
Contra o mundo reversível e as ideias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. Oindivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores. 
 * 
Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. 
 * 
(...) 
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de Senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou 
figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses. 
 * 
Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro. 
 Catiti Catiti 
 Imara Notiá 
 Notiá Imara 
 Ipeju 
(...) 
 * 
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem 
prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama. 
Oswald de Andrade 
Em Piratininga 
Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha. 
 
(Apud Antonio Cândido e J.Aderaldo Castello. Presença da Lit. Brasileira III. São Paulo: Difusão Européia.1968) 
 
Veja mais algumas obras de Tarsila do Amaral: 
 
1.A negra.(1923) . Tarsila do Amaral 2. A lua. (1928)Tarsila do Amaral 3 .O ovo.(Urutu) (1928) Tarsila do Amaral 
Veja mais sobre a Antropofagia: 
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=74 
 
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Tarsila do Amaral. Operários. 1933 
 
OSWALD DE ANDRADE ( São Paulo – 1890/1954) 
José Oswald de Sousa Andrade nasceu e morreu em São Paulo. Muito inquieto, desde criança, ligou-se à 
boêmia literária de sua época. Fez curso jurídico espaçado, formando-se em 1919. Em 1911 fundou um semanário 
combativo e humorístico, O Pirralho, onde publicou seus primeiros exercícios, tendo-se tornado um dos maiores 
polemistas da época. No período que antecede a Semana de Arte Moderna de São Paulo, foi uma espécie de 
preparador do Modernismo, sugerindo a ruptura com os velhos padrões, estimulando rebeldias estéticas, agitando 
o meio artístico no sentido de uma mudança, mesmo não sabendo exatamente quais os rumos, mas sentia 
indispensável uma mudança. Ele usou a técnica sincopada, a composição por pequenos blocos, o senso da elipse, o 
dom da anotação rápida e o poder metafórico. Lançou o movimento nativista Pau-Brasil, com um manifesto e um 
livro com o mesmo nome. Posteriormente lança o Movimento Antropófago e fundou a Revista de Antropofagia. 
Depois da revolução de 1930 assumiu uma posição de militante de esquerda, que conservará até quase o fim de sua 
vida. Como redator do jornal O Homem Livre, participou ativamente da luta operária e antifascista dos anos que 
precederam o golpe de Estado de 1937. 
Dentre outros aspectos, em sua obra, analisou a sociedade burguesa de São Paulo, escreveu memórias ligadas à 
teoria antropofágica, como a crise do patriarcalismo, o messianismo, a função das utopias. Em 1945 passa à livre-
docência de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo. 
Ele foi um dos maiores ensaístas e panfletários da literatura brasileira com rara capacidade de tornar sugestiva a 
ideia, pela violência corrosiva das afirmações, o humorismo e o fulgor das palavras. Quebrou as barreiras entre 
poesia e prosa para atingir uma espécie de fonte comum da linguagem artística. Foi um elemento de grande 
importância enquanto agitador e renovador para a formação da literatura brasileira contemporânea. 
Dentre sua obra, encontramos: Romances: Os Condenados (1922); Memórias Sentimentais de João Miramar 
(1924); Estrela de Absinto (1927); Serafim Ponte Grande(1933); A Escada Vermelha (1934); Os Condenados (1941) 
(reunião, com o título geral do primeiro, dos três livros que formavam a Trilogia do Exílio); Marco Zero – I (1943) 
Marco Zero II (1946). Poesia: Pau Brasil (1925); Primeiro Caderno do Aluno Oswald de Andrade (1927); Poesias 
Reunidas (1945). Teatro: O Homem e o Cavalo (1934); Teatro (A morta, O Rei da Vela) (1937). Escreveu também 
ensaios e memórias. 
 
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Canto de Regresso à Pátria 
Minha terra tem palmares 
Onde gorjeia o mar 
Os passarinhos daqui 
Não cantam como os de lá 
 
Minha terra tem mais rosas 
E quase que mais amores 
Minha terra tem mais ouro 
Minha terra tem mais terra 
 
Ouro terra amor e rosas 
Eu quero tudo de lá 
Não permita Deus que eu morra 
Sem que volte para lá 
 
Não permita Deus que eu morra 
Sem que volte pra São Paulo 
Sem que veja a Rua 15 
E o progresso de São Paulo. 
 (Pau-Brasil, Au Sans Pareil, Paris, 1925) 
 
Primeiro Caderno 
Balada do Esplanada 
 A Godofredo 
 
Ontem à noite 
Eu procurei 
Ver se aprendia 
Como é que se fazia 
Uma balada 
Antes d’ir 
Pro meu hotel 
 
É que este 
Coração 
Já se cansou 
De viver só 
E quer então 
Morar contigo 
No Esplanada 
 
Eu qu’iria 
Poder 
Encher 
Este papel 
De versos lindos 
É tão distinto 
Ser menestrel 
 
No futuro 
As gerações 
Que passariam 
Diriam 
É o hotel 
Do menestrel 
Pra m’inspirar 
Abro a janela 
Como um jornal 
Vou fazer 
A balada 
Do Esplanada 
E ficar sendo 
O menestrel 
De meu hotel 
 
Mas não há poesia 
Num hotel 
Mesmo sendo 
‘Splanada 
Ou Grand-Hotel 
 
Há poesia 
Na dor 
Na flor 
No beija-flor 
No elevador 
 
 Oferta 
Quem sabe 
Se algum dia 
Traria 
O elevador 
Até aqui 
O teu amor 
(Apud Antonio Cândido e J.Aderaldo Castello. Presença da Lit. Brasileira III. São Paulo: Difusão Européia.1968) 
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A descoberta 
 
 
Seguimos nosso caminho por este mar de longo 
Até a oitava da Páscoa 
Topamos aves 
E houvemos vista de terra 
os selvagens 
Mostraram-lhes uma galinha 
Quase haviam medo dela 
E não queriam por a mão 
E depois a tomaram como espantados 
primeiro chá 
Depois de dançarem 
Diogo Dias 
Fez o salto real 
as meninas da gare 
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis 
Com cabelos mui pretos pelas espáduas 
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas 
Que de nós as muito bem olharmos 
Não tínhamos nenhuma vergonha. 
 
 
(in Poesias Reunidas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971.) 
 
Pronominais 
 
 
Dê-me um cigarro 
Diz a gramática 
Do professor e do aluno 
E do mulato sabido 
Mas o bom negro e o bom branco 
Da Nação Brasileira 
Dizem todos os dias 
Deixa disso camarada 
Me dá um cigarro 
 
Vício na fala 
 
 
Para dizerem milho dizem mio 
Para melhor dizem mió 
Para pior pió 
Para telha dizem teia 
Para telhado dizem teiado 
E vão fazendo telhados 
 
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O gramático 
 
Os negros discutiam 
Que o cavalo sipantou 
Mas o que mais sabia 
Disse que era 
Sipantarrou. 
 
 MARIO DE ANDRADE (São Paulo - 1893/1945) 
Mário Raul de Morais Andrade, era de família rica e aristocrática de São Paulo. Formou-se no Conservatório

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