Buscar

16.04.15 Doenças Infecciosas Raiva

Prévia do material em texto

Doenças Infecciosas – Raiva
Paulo Henrique da Silva Barbosa
Medicina Veterinária – UFRRJ
Doença infecto contagiosa aguda que é transmitida de forma direta ou indireta, quase sempre fatal, caracterizada por sinais nervosos ora representados por agressividade, ora por paresia e paralisia que na grande maioria das vezes culmina com morte do paciente. Os sinais clínicos duram, em média, cerca de 7 dias.
Não adianta fazer o tratamento soro + vacina quando o paciente começa a apresentar sintomas, deve-se buscar outro tratamento. Professor deu exemplo de um tratamento experimental que realizaram numa menina dos EUA que sofreu mordida de um morcego e foi tratada com antivirais e outras substâncias de um protocolo feito pelo CDC de Atlanta.
Dependendo do tipo de hospedeiro, o período que o animal vai apresentar os sintomas é variável. Os carnívoros, por exemplo, apresentam um maior período de agressividade. Isso vai depender do local em que o vírus se replica. Os carnívoros tem uma região chamada hipocampo responsável pelo comportamento do animal que é mais desenvolvida que herbívoros. Quando o vírus se replica nessa região, altera o comportamento do animal fazendo com que manifeste agressividade. Nos herbívoros observa-se um período de agressividade muito menor, as vezes nem nota, pode ser durante minutos, horas.
Importância
Prejuízo econômico por perda de animais, social por se tratar de uma das mais importantes zoonoses em função da grande distribuição do agente e dos mecanismos de transmissão simples, o que faz com que haja grande possibilidade de ocorrência de acidentes.
A raiva representa cerca de 50% dos diagnósticos laboratoriais das encefalopatias.
Existe uma taxa de subnotificação muito grande porque as vezes o animal vem a óbito com sinais muito característicos e o proprietário diz “ah, morreu de raiva, isso é claro” e não envia material para análise.
Diagnóstico Diferencial
Intoxicações (Alimentos, produtos químicos)
Botulismo
Herpesvirus-5
Aujeszky
Tétano
Babesiose Cerebral – aumento do volume das hemácias que acabam entupindo capilares cerebrais formando trombos, tendo grandes áreas hemorrágicas ou, as vezes cianose dessas áreas, provocando lesão cerebral.
Poliencefalomalacia
Listeriose
Tumores
Tuberculose
Vaca louca
Agente
Família: Rhabdoviridae;
Gênero: Lyssavirus;
RNA-Vírus;
Envelopado; 
Grande;
Forma de projétil - Tem uma proteína matriz envolvida por um envolope que dá rigidez à estrutura viral. Essa estrutura vai se conformar como um projétil;
Inclusão intracitoplasmática eosinofílica específica (corpúsculo de Negri);
Existem outros vírus da mesma família e gênero do vírus da raiva porém de sorotipos diferentes do sorotipo 1 que causa a raiva. A vacina é feita a partir do sorotipo 1 e, portanto, não é eficaz contra a doença causada pelos outros sorotipos.
No Brasil existem 5 variantes do vírus rábico, onde há diferenças na sua composição molecular, porém produzem a mesma doença. O ciclo de transmissão urbana é muito associado as variantes 1 e 2 de cão. A variante 3 (Desmodus rotundus) é muito observada na raiva dos herbívoros e circula em colônias de morcegos, principalmente hematófagos. Isso é bom para saber sobre o ciclo de transmissão. Se um potro morreu de raiva e, através da identificação molecular, identificou-se um vírus variante 2, sabe-se que aquele vírus não veio de um morcego e sim de um cão ou gato, por exemplo. Isso é importante para as formas de controle da doença.
Sensibilidade
Solventes Orgânicos: Detergentes; Álcool; Formol; Éter; Clorofórmio; Cresol; Fenol;
Agentes Químicos: Radiação UV e temperatura (calor)
Espécies Sensíveis
Mamíferos (principalmente). Em geral, todos os animais de sangue quentes.
Ciclos de Transmissão
Ciclo urbano: Vírus de variante 2 onde cães e gatos transmitem entre si, para o ser humano, para animais de produção e até pela troca de vírus com alguns animais silvestres. Hoje a raiva urbana é considerada controlada. 
Ciclo Silvestre: Muito característico no norte e nordeste. Raposa, cachorro do mato, mico, sagui. Esses animais normalmente são tirados filhotes da natureza e levados para casa das pessoas. O vírus pode ficar mais de 1 ano e meio em encubação em algumas espécies silvestres.
Ciclo Aéreo: Principalmente representado pelo morcego hematófago (Desmodus rotundus). As outras espécies hematófagas se alimentam de aves que são resistentes e então, essas espécies não representam grande importância para a transmissão da raiva. O Desmodus é responsável pelo ciclo de transmissão nos animais de produção. Pode sugar cães e gatos, animais silvestres, homem, etc. Estão sempre em busca de alimento, seja em qual espécie for. Morcego também é responsável pela transmissão ao homem.
O morcego também adoece e morre pela raiva, porém ele fica mais tempo com o vírus no organismo e podendo transmití-lo, por isso ele é um bom transmissor. Morcegos doentes que caem podem ser fontes de transmissão para outros animais que vão se alimentar ou brincar (gatos) com esses animais doentes.
Transmissão
O vírus é eliminado pela saliva. 
Mordedura
Lambedura de mucosa (animais no cio)
Arranhadura profunda
Aerossóis (inalação) – situações muito específicas como manipulação viral em laboratório, o que é raro devido à sua manipulação em capelas com fluxo de ar. Cavernas com densidade muito grandes de morcegos (fezes).
Transporte de tecido infectado
Patogenia
Não importa a porta de entrada, o vírus se replica nessa porta de entrada. Ele utiliza receptores de acetil coA para entrar na célula como células musculares e de neurônios. O vírus começa a aumentar massa viral até chegar na extremidade nervosa através de terminações nervosas das placas motoras até chegar ao SNC. Periferia – Coluna – SNC. Isso caracteriza a migração centrípeta do vírus da raiva, que vai da periferia até o sistema nervoso central. O vírus se replica no SNC e faz migração de volta para a periferia, onde começa a se espalhar pelo organismo. Todo tecido que apresentar tecido nervoso e muscular apresentará o vírus rábico. Vírus está presente na córnea, na pele, pulmões, coração, rins, etc. A migração centrífuga do SNC para as vísceras faz com que o vírus ganhe as glândulas salivares onde os vírus se replicam muito bem nas células acinosas das glândulas, ou seja, as células que secretam saliva. O vírus fica então contido na saliva. 
O vírus infecta o hipocampo, alterando o comportamento do animal. Toda essa alteração neurológica provoca uma hipersensibilidade sensorial no animal, então o animal fica muito sensível aos estímulos externos visuais, auditivos, táteis, etc, o que o incomoda e faz com que o animal ataque. Ao atacar, com o vírus saindo na saliva, faz-se então funcionar o mecanismo de transmissão, a perpetuação do vírus. 
Herbívoros: Na grande maioria das vezes são hospedeiros terminais. As fontes de infecção e transmissores são carnívoros. O herbívoro não é transmissor naturalmente mas, por exemplo, uma vaca com paralisia e dificuldade de deglutir, o proprietário enfia a mão dentro da boca do animal pensando que está entalada com caroço de manga e acaba sendo ferido pelos dentes do animal, o que pode transmitir o vírus. 
Período de Incubação
 Varia de grupo para grupo. 
Carnívoros: Em média 20 – 40 dias
Homem: Em média 20 - 40
Herbívoros: Em média 30 – 60
Silvestres: Muito variável.
O que pode fazer variar também é o local de mordedura. Mordedura na cabeça/pescoço é muito mais severa e grave do que mordedura na perna devido à proximidade com o SNC, facilitando a migração do vírus. Ponta de dedos também é grave devido a presença de terminais nervosos. Quantidade de vírus inoculado – é uma arranhadura simples, superficial? É arranhadura profunda? Mordedura superficial, dilacerante? De acordo com o tipo de acidente. Gravidade da lesão.
Raiva – Dois Tipos de Formas Clínicas
Forma Furiosa: CarnívorosForma Paralítica: Herbívoros
Evolução de Sintomas
A sintomatologia é muito variável.
Herbívoro: Começa com alteração de comportamento. Animais perdem noção de hierarquia (cabeceiras). Ficam no meio do pasto, não vão para a ordenha, ração. Vocalização. Cabeçadas, chifradas. Priapismo (exposição peniana involuntária). Contrações vulvárias. Vacas urinam em forma de jato e, na raiva, pode ocorrer micção intermitente. Abanando orelhas, lambendo focinho, bruxismo, abanando cauda. Depois o animal começa a apresentar sinais locomotores. Arrastar pinças de casco no chão – desgaste. Animal tropeça. Não consegue ficar em estação, fica “dançando/balançando”. Animal fica caindo, chega um hora que não consegue levantar mais e fica em decúbito esternal. Além da paralisia ascendente, começa a apresentar também, em função da paralisia da musculatura das vísceras, timpanismo (pois o intestino não tem mais motilidade e as fezes ficam paradas, as bactérias fermentam, há produção de gás, água absorvida, e observa-se produção de fecalomas), fecalomas, bexiga cheia, alterações em trato digestivo e urinário. Animal começa a apresentar problemas para deglutir.
A raiva é vulgarmente chamada de hidrofobia pois o animal não consegue deglutir pois sente dor. O animal tem sede. Pessoas chegam a convulsionar só de olhar para água por ser um fator extremamente excitante.
O Animal, em decúbito esternal, cabeça virada para o flanco, opistótono, animal faz movimento de pedalagem na tentativa de levantar. Evolui para paresia, total paralisia e acaba morrendo por parada/bloqueio de centros respiratórios do cérebro, o animal morre de parada cardio respiratória. 
Cão e Gato: Basicamente tudo e igual. Procuram lugar escondido, não atendem chamadas do dono, guloseimas. Procuram locais silenciosos. Qualquer estímulo ele agride para que pare o estímulo. Também apresenta paralisia dos locomotores. Acaba morrendo de parada cardio respiratória. Salivação excessiva.
Prognóstico
O clínico deve considerar como 100% letal.
Profilaxia
É a medida mais importante em veterinária:
Vacinação: Inativada. 
Primeira dose com 90 – 120 dias (faz reforço após 30 dias – herbívoros);
Reforço Anual;
OBS: Herbívoros que forem muito desafiados (muitos morcegos) devem ter reforço semestral.
Controle do Transmissor – Uso de produtos anticoagulantes nos animais (Vampiricide). Passa na pasta em cima dos ferimentos e quando o morcego voltar para morder o mesmo animal, na mesma ferida, ingere a pasta que tem produto anticoagulante e começa a ter hemorragias internas nas articulações, grandes massas musculares e, com dor, ele não sai para buscar alimento. Se o morcego fica 24h sem se alimentar, ele morre. Essa pasta é boa para gado de leite, cavalos, que são animais mais acessíveis. Para gado de corte tem produto tópico de uso na linha lombar que fica dissolvido no pelo do animal por 15 dias. Quando o morcego pousar e caminhar em direção onde vai morder, ele se suja e no abrigo vai se lamber e se intoxicar. Isso cabe ao produtor.
Ao serviço oficial cabe a captura de morcegos para controle. Passa a pasta no dorso dos morcegos e libera. Ao voltar pro abrigo vai lamber e ser lambido, onde vários serão intoxicados. É a mesma pasta utilizada pelo produtor.
Método seletivo direto e indireto. A varfarina e a pasta só vão atingir morcegos hematófagos pois os morcegos não se misturam dentro do abrigo. Se utilizar no corpo do animal, só o morcego hematófago entrará em contato com o corpo do animal.
Controle de Animais Errantes
Cuidados com a Vacina:
- Qualidade da vacina;
- Transporte;
- Armazenamento;
- Aplicação (Temperatura. Seringa x Pistola) – Não deve-se vacinar animais de produção com pistola de aftosa pois há perda de vacina.
Diagnóstico Laboratorial
Imunoflorescência direta.
In print de tecido nervoso numa lâmina.
Os corpúsculo de Negri são visualizados em microscópio UV.
Prova biológica:
Inoculação intracerebral em camundongos. 
7 – 10 dias os camundongos começam a morrer.
Faz-se imunoflorescência do tecido nervoso deles.

Continue navegando