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1 Seja Bem Vindo! Curso Desenvolvimento Sustentável Carga horária: 60hs 2 Dicas importantes • Nunca se esqueça de que o objetivo central é aprender o conteúdo, e não apenas terminar o curso. Qualquer um termina, só os determinados aprendem! • Leia cada trecho do conteúdo com atenção redobrada, não se deixando dominar pela pressa. • Explore profundamente as ilustrações explicativas disponíveis, pois saiba que elas têm uma função bem mais importante que embelezar o texto, são fundamentais para exemplificar e melhorar o entendimento sobre o conteúdo. • Saiba que quanto mais aprofundaste seus conhecimentos mais se diferenciará dos demais alunos dos cursos. Todos têm acesso aos mesmos cursos, mas o aproveitamento que cada aluno faz do seu momento de aprendizagem diferencia os “alunos certificados” dos “alunos capacitados”. • Busque complementar sua formação fora do ambiente virtual onde faz o curso, buscando novas informações e leituras extras, e quando necessário procurando executar atividades práticas que não são possíveis de serem feitas durante o curso. • Entenda que a aprendizagem não se faz apenas no momento em que está realizando o curso, mas sim durante todo o dia-a- dia. Ficar atento às coisas que estão à sua volta permite encontrar elementos para reforçar aquilo que foi aprendido. • Critique o que está aprendendo, verificando sempre a aplicação do conteúdo no dia-a-dia. O aprendizado só tem sentido quando pode efetivamente ser colocado em prática. 3 Conteúdo Conceitos Básicos Ambiente Ambiente e Abordagem Sistêmica Ambiente e Desenvolvimento Ambiente e Educação Ambiental Ambiente e Participação Meio Ambiente Físico ou Natural Atmosfera Solo Água Flora e Fauna Minerais Energia O Desenvolvimento Sustentável Declaração do Rio A Agenda 21 A declaração de princípios relativos às florestas O convênio marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática Convênio sobre diversidade biológica - CDB A conferência Habitat II (1996) A 2ª Cupula da Terra + 5 (1997) 4 Outros Protocolos, Conferências e Cúpulas Atuações das ONGs Os desafios do Desenvolvimento Sustentável Problemática ambiental global Mudança Climática e Efeito Estufa Consequências do aquecimento global no planeta O esgotamento da camada de ozônio Perda da Biodiversidade Degradação do solo e desflorestamento Chuva Ácida A névoa fotoquímica Produção e consumo Ambiente no Brasil Principais problemas ambientais no Brasil Políticas ambientais, programas e legislação Atribuições e competências Relação de entidades ambientalistas Bibliografia/Links Recomendados 5 Conceitos Básicos Como ponto de partida para esta jornada de estudos em formação ambiental, é necessário estabelecer o cenário onde estarão estruturados os conhecimentos oferecidos ao longo do curso. Assim, nesta disciplina de introdução serão abordados conceitos e marcos de referência internacionais e nacionais - históricos e ambientais - como apoio ao desenvolvimento de nossas atividades nos próximos meses de estudo. O primeiro conceito que trazemos à reflexão é Ambiente ou Meio Ambiente. Um pouco de história... Uma discussão recorrente a respeito do termo meio ambiente é a suposta redundância que existe entre ambos os termos: a palavra meio significa o mesmo que ambiente. O motivo desta reiteração obedece razões históricas, já que, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Estocolmo, 1972), a imprecisão semântica das traduções do inglês acabou por gerar o termo meio ambiente como de uso comum, em vez de se utilizar somente um deles (ou meio ou ambiente). Mas, o que é ambiente? Todos nós, certamente, possuímos uma definição de ambiente (ou meio ambiente) que vem sendo construída a partir de leituras, conversas, vivências ou mesmo no exercício de nossas atividades profissionais. Será que existe um conceito certo ou um conceito errado de ambiente? Com essa questão iniciaremos nosso processo de reflexão conjunta nesta disciplina. Iniciamos esse caminho a partir da construção de relações conceituais entre cinco elementos com alto grau de interdependência: 6 - Ambiente; - Ambiente e Abordagem Sistêmica; - Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; - Ambiente e Educação Ambiental; - Ambiente e Participação. Neste momento inicial, mantenha atenção redobrada sobre esses primeiros conceitos, pois cada um irá requisitar e complementar o entendimento dos outros conceitos estudados. O importante será exercitar a capacidade de compreender e analisar as questões ambientais de maneira integrada e relacional permitindo que, na hora de atuar sobre elas com os conhecimentos técnicos trazidos pelo Curso, esteja amadurecida uma forma renovada de realizar essa aplicação. Ambiente O conceito de ambiente, ou meio ambiente, está em constante processo de construção. É possível encontrarmos diferentes definições para esse termo que, de acordo com o momento de sua elaboração, ora o restringe, ora o amplia. Segundo a FEEMA (1990) e o IBAMA (1994), existem diversas definições de meio ambiente. Estas estão apresentadas no quadro a seguir, organizadas cronologicamente, para que você possa perceber como esse conceito vem se desenvolvendo ao longo do tempo. 7 Observando este quadro de construção conceitual, percebe-se que a inclusão das relações entre os efeitos das ações humanas e a degradação da natureza é relativamente recente. Antes dos anos 1960, a definição de ambiente ou estava mais próxima das observações das ciências biológicas ou físicas (ecossistemas, ambiente natural etc.), ou então das ciências humanas (ambiente cultural, social etc.). Não estava estabelecida a relação entre ambos! Foi somente a partir de meados da década de 60 do século XX que se iniciaram, oficialmente, discussões mais amplas que buscavam integrar os "ambientes" físicos aos sociais. Esse movimento foi potencializado pela tomada de consciência e pela conseqüente tentativa de reversão dos graves efeitos que as ações da sociedade contemporânea imprimiram sobre o planeta. Compreende-se, desta forma, por que refletir sobre o conceito de ambiente é importante, uma vez que está por trás dessa definição a forma na qual se propõem as ações ou se verificam seus impactos ou resultados concretos. Da mesma forma que o conceito se constrói teoricamente, também influencia as ações formais da sociedade. Um exemplo claro disto pode ser observado na inserção paulatina da definição de ambiente nos textos de Leis Federais, Estaduais e Municipais, conforme apresentados pela FEEMA (1990) e pelo IBAMA (1994). • Decreto-Lei nº 134, de 16/06/1975 - Estado do Rio de Janeiro: "considera-se meio ambiente todas as águas interiores ou costeiras, superficiais e subterrâneas, o ar e o solo". • Art. 3º, Lei 6938, de 31/08/1981 - Brasil: "Meio ambiente - o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permitam proteger e normalizar a vida em todas suas formas". • Art. 2º, Lei nº 33, de 12/02/1981 - República de Cuba: "É o sistema de elementos abióticos e socioeconômicoscom os quais 8 o homem interage à medida que ele se adapta, transformando-o e utilizando-o para satisfazer suas necessidades". • Environmental Quality Act, 1981 - Estado da Califórnia (USA): "as condições físicas existentes em uma área, incluindo o solo, a água, o ar, os minerais, a flora, a fauna, o ruído e os elementos de significado histórico e estético". • Decreto-Lei nº 28.687 de 11/02/1982 - Estado da Bahia: "Considera-se ambiente tudo o que envolve e condiciona o homem, constituindo seu mundo e dando suporte material a sua vida biopsicossocial [...] São considerados sob esta denominação, para efeito deste regulamento, o ar, a atmosfera, o clima, o solo e o subsolo, as águas interiores e costeiras, superficiais e subterrâneas e o mar territorial, bem como a paisagem, a fauna, a flora e outros fatores condicionantes da salubridade física e social da população". Destaca-se ainda o art. 225, capítulo VI da Constituição Brasileira de 1988, que trata do estabelecimento de direitos e deveres do Estado e dos cidadãos no que tange ao meio ambiente: "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à saudável qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações". Começamos a perceber que o amadurecimento do tema tornou mais complexa a definição de ambiente. A razão disso é que esse é um processo que articula, simultaneamente, estudos teóricos e aprendizados práticos que renovam os conhecimentos e produzem novas possibilidades de entendimento do tema. Alguns autores contemporâneos oferecem abordagens complexas de ambiente, incluindo variáveis que contemplam não só seus elementos, mas também os processos gerados a partir de seus relacionamentos. Por exemplo: para Medina (1985), o ambiente é gerado e construído ao longo do processo histórico de ocupação de um território, por uma determinada sociedade, em um espaço de tempo concreto. Surge como a síntese histórica das relações entre a sociedade e a natureza. 9 Para Sauvé (1997), a complexidade das inter-relações se expressa através da explicitação de diferentes ambientes: - ambiente-natureza - refere-se ao entorno original, puro, do qual a espécie humana se afastou ao privilegiar as atividades antrópicas que têm provocado sua deterioração; - ambiente-recurso - refere-se ao ambiente como base material dos processos de desenvolvimento; - ambiente-problema - refere-se ao ambiente ameaçado, deteriorado pela contaminação, pela erosão ou pelo seu uso excessivo; - ambiente-meio de vida - refere-se ao ambiente da vida cotidiana, na escola, no lar, no trabalho. Incorpora, portanto, elementos socioculturais, tecnológicos e históricos; - ambiente-biosfera - refere-se ao ambiente como uma nave espacial - Planeta Terra, assim como ao conceito de Gaia (Lovelock), que partem da tomada de consciência quanto à finitude do ecossistema planetário como lugar de origem no qual encontram unidade os seres e as coisas; - ambiente comunitário - refere-se ao ambiente como entorno de uma coletividade humana; meio de vida compartilhado com seus componentes naturais e antrópicos. Já para Leff (2001), o ambiente é conceituado como uma "visão das relações complexas e sinérgicas gerada pela articulação dos processos de ordem física, biológica, termodinâmica, econômica, política e cultural". Embora atualmente haja grande possibilidade de variação, em quantidade e qualidade, de definições para meio ambiente, elas estão diretamente relacionadas ao processo de transformação do pensamento na sociedade contemporânea. Destacamos que, mesmo com grande variedade, há em todos os conceitos a presença inter-relacionada de três elementos comuns: - a natureza (com sua diversidade física e biológica); - a sociedade (com sua diversidade social, cultural, econômica e política); - suas dinâmicas de articulação (tanto as relações entre os elementos da natureza entre si e os da sociedade, como também as relações entre natureza e sociedade). 10 Esses devem ser os principais elementos a serem observados e compreendidos nas considerações que fizermos sobre o ambiente. Deverão estar sempre em evidência, durante todos os momentos do nosso estudo e de nossa ação profissional, para que seja possível elaborar um conceito dinâmico de AMBIENTE, em que devemos perguntar: Qual a natureza, qual a sociedade e quais são os inter-relacionamentos que validam os processos que estamos analisando? Nos próximos tópicos iremos enriquecer esse conceito de ambiente a partir de uma perspectiva complexa, em que estaremos relacionando o ambiente com diferentes conceitos complementares. Ambiente e Abordagem Sistêmica A inserção de elementos da abordagem sistêmica é responsável por grande parte das alterações conceituais apresentadas para meio ambiente, nos últimos 50 anos. Assim, os conceitos sobre meio ambiente, trabalhados no item anterior, podem ser melhor 11 entendidos quando compreendemos o meio ambiente como um sistema. Para isso, é necessário, primeiro, estabelecer o que é sistema. O termo sistema é utilizado por todos nós, quase que intuitivamente, quando buscamos nos referir às várias categorias de organizações ou grupos de elementos inter-relacionados: sistema solar, sistema nervoso, sistema organizacional, ecossistema, sistema econômico, sistema de comunicação etc., ou seja, sempre que pretendemos enfatizar interrelacionamento, organização e interdependência, entre vários elementos que compõem um grupo ou conjunto avaliado. A base conceitual de sistemas foi formulada inicialmente por Bertalanffy, ainda na década de 30, precisamente em 1937, para oferecer um conjunto de novas explicações e metodologias que pudessem dar conta dos problemas ligados à dinâmica dos sistemas vivos na natureza. Um pouco de história... "Essa idéia [a Teoria Geral dos Sistemas], remonta há muito tempo. Apresentei-a pela primeira vez em 1937 [...] entretanto, nessa ocasião, a teoria tinha má reputação em biologia e tive medo [...] Por isso, deixei meusrascunhos na gaveta e foi somente depois da guerra que apareceram minhas primeiras publicações sobre oassunto [surpreendentemente] verificou-se ter havido uma mudança no clima intelectual [...] Mais ainda, umgrande número de cientistas tinha seguido linhas semelhantes de pensamento [...] Assim, a Teoria Geral dosSistemas não estava isolada [...] mas correspondia a uma tendência do pensamento moderno". (BERTALANFFY, 1973) Segundo Bertalanffy (1973), os motivos que o levaram a desenvolver a Teoria Geral dos Sistemas estabeleceram-se a partir da observação da inadequação do postulado do reducionismo da física teórica (o princípio segundo o qual a biologia e as ciências sociais e do comportamento deviam ser tratadas de acordo com o paradigma da física e, finalmente, 12 reduzidas a conceitos de entidades do nível físico), para tratar os novos problemas específicos das outras ciências. "A inclusão das ciências biológicas, sociais e do comportamento junto à moderna tecnologia exige generalizações de conceitos básicos da ciência. Isto implica novas categorias do pensamento científico, em comparação com as exigências da física tradicional, e os modelos introduzidos com esta finalidade são de natureza interdisciplinar."(BERTALANFFY, 1973). Mas o que é um sistema? "Por definição, um sistema compõe-se de partes, ou elementos, inter- relacionados. Isso acontece com todos os sistemas mecânicos, biológicos e sociais. Todos os sistemas têm, pelo menos, dois elementos em inter-relação. Num sistema, o todo não é apenas a soma das partes; o próprio sistemapode ser explicado apenas como totalidade." (KAST & ROSENWEIG, 1976). Na concepção de Bertalanffy (1973), um sistema apresenta as seguintes características gerais: • um todo sinergético, maior que a soma de suas partes - assim, para compreender um sistema não basta considerar as partes "funcionando" isoladamente. Estas devem ser observadas a partir de suas relações (umas com as outras e com o próprio sistema); • um modelo de transformação - considera-se, assim, que um sistema é uma estrutura dinâmica que está em constante processo de transformação; • um conjunto de partes em constante interação, com ênfase na interdependência - considera-se, assim, que um sistema possui interação entre suas partes constituintes e estas têm características de interdependência; • uma permanente relação de interdependência com o ambiente externo, influenciando e sendo influenciado, com capacidade de crescimento, mudança e adaptação ao ambiente externo - considera-se, assim, que um sistema também não pode ser observado de forma isolada, sem compreender suas relações com seu ambiente externo. 13 Essa capacidade de interação entre Ambientes Externo e Interno representa uma das principais características dos sistemas. Segundo Gondolo (1999), eles podem ser fechados, quando não há troca com o meio externo ou abertos, quando existem fluxos contínuos de energia, matéria e informação com o ambiente externo. O sistema fechado é aquele dentro do qual circula energia, mas que por si só não mantém trocas de energia ou matéria com o meio. Por exemplo, poderíamos imaginar uma reação química que se passa dentro de um contêiner totalmente vedado. Também poderíamos citar como outro sistema, não tão fechado assim, um motor de um carro que, para funcionar, precisa de combustível, mas que não é por si capaz de extraí-lo do meio. Uma vez abastecido e bem articuladas as partes, o carro tem certo grau de autonomia de funcionamento; porém, não havendo input de combustível, acabará o output de energia e o motor "morrerá". Os sistemas abertos são, portanto, sistemas que dependem do ambiente externo. Dele, recebem elementos, os transformam mediante seus processos internos e devolvem novos elementos ao meio externo. Os sistemas abertos necessitam de entradas (ou inputs) para se manterem em funcionamento, uma vez que recebe deste ambiente "matéria-prima" (matéria, energia e informação), para desenvolver seu processo interno. Relacionando esses conceitos iniciais, podemos caracterizar o Meio Ambiente como um sistema aberto, que desenvolve seus processos internos em constante interação e interdependência com o ambiente externo. 14 Destaca-se, porém, que as bases conceituais sobre sistemas estão apoiadas sobre modelos teóricos que vêm se desenvolvendo ao longo dos últimos 50 anos. Neste sentido, as teorias sobre a complexidade, presentes em diversos campos da ciência, têm enriquecido o enfoque sistêmico para muito além do que Bertalanffy formulou inicialmente (NOVO, 1996). O que chamamos de sistemas complexos ampliam e agregam novos conhecimentos sobre a dinâmica dos sistemas, incluindose questões ligadas aos processos de irreversibilidade, de incertezas, do caos e da ordem e desordem. Nessa perspectiva, Garcia (1986) aponta que "o sistema não está definido, mas é possível ser definido. Uma definição adequada só pode surgir em cada caso particular ou durante o transcurso da própria pesquisa/investigação". Pergunta-se então: quais são os elementos da teoria dos sistemas que permitem estabelecermos uma postura sistêmica em nossos estudos, análises e trabalhos práticos? Novo (1996) apresenta alguns elementos que irão nos auxiliar a estabelecer esta postura: • As relações entre o todo e as partes: sabendo-se que um sistema compõe-se de partes, podemos pensar em desmembrá- lo para analisá-las em separado. Porém, devemos lembrar que estas partes só adquirem seu verdadeiro sentido quando integradas ao TODO do sistema, que se configura, justamente, pelo conjunto criado pelas inter-relações de suas partes. 15 Esse princípio estabelece o caráter de interdependência entre as PARTES e o TODO. A compreensão deste caráter nos ajuda a observar que os problemas que afetam os sistemas naturais (poluição da água, do ar e do solo, escassez de recursos etc.) não podem ser interpretados sem a devida conexão com o que acontece nos sistemas sociais, econômicos, entre outros. Os ambientes interno e externo de um sistema aberto possuem forte grau de interação e interdependência. • Emergência e restrições do sistema: compreender qualquer conjunto como um sistema pressupõe considerar que ele pode ser maior e menor que as partes que o constituem. Maior que as partes, por causa da emergência, ou seja, os resultados das interações das partes que permitem o estabelecimento de um "produto novo", que não pode ser observado em separado na análise das partes. E menor que as partes, quando o sistema impõe limites ou restrições às partes, que passam a não poder realizar "plenamente" suas potencialidades. Como exemplo, Novo (1996) cita o dizer popular "A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro". Neste caso, o "sistema social", em sua totalidade, impõe limites a cada pessoa como parte ou componente dele mesmo, de forma que o indivíduo isolado nem sempre pode pôr em prática toda sua potencialidade. • Relações entre sistema e entorno (sistemas abertos): como já abordado anteriormente, os sistemas abertos estão em constante processo de intercâmbio (matéria, energia e informação) com o entorno, além de necessitarem dele para semanterem em funcionamento. Essa característica de interdependência com o entorno não possibilita aos sistemas abertos um estado de estabilidade e de permanência estático, sendo necessário incorporar noções de ordem e desordem para explicar a realidade sistêmica como um processo dinâmico. • Equilíbrio dos sistemas: um sistema aberto é uma unidade dinâmica, que se transforma ao longo do tempo. Para compreender esse processo, é necessário que conheçamos quais são os mecanismos internos utilizados pelo sistema para manter seu equilíbrio dinâmico através dos constantes intercâmbios de matéria, energia e informação com seu entorno. O conceito de equilíbrio dinâmico incorpora a idéia de mudança: uma mudança temporária que, por sua vez, incorpora os 16 conceitos de evolução e de mudança espacial, que têm a ver com a idéia de estrutura. Segundo Garcia (1986), para estudarmos os sistemas complexos, devemos observar os seguintes componentes: Limites: estabelecem a definição das "fronteiras" físicas dos sistemas que vamos estudar ou observar (o interno e o externo). Destaca-se que esta definição não restringe somente o limite físico do sistema, mas também as relações que estarão sendo analisadas. Elementos: para determinar os subsistemas (elementos) de um sistema complexo, é fundamental definir as escalas espaciais e temporárias que serão consideradas. Estrutura: um grande número de propriedades de um sistema é determinado por sua estrutura, e não por seus elementos, em que as propriedades dos elementos determinam as suas relações, e estas, sua estrutura. Observa-se que os mesmos elementos podem, sob determinadas circunstâncias, estabelecer diferentes estruturas. • Retroalimentação: os mecanismos de retroalimentação (feed- back) são aqueles que permitem ao sistema ser realimentado pela informação gerada por ele mesmo. Podem ser de três tipos: - Positiva: são considerados sistemas explosivos, pois os efeitos das causas iniciais aumentam a variação do sistema em relação ao seu ponto de equilíbrio; - Negativa: em que a informação gerada permite ao sistemaalterar-se para restabelecer seu equilíbrio; e 17 - Regulação antecipatória: são informações que, embora atuem de acordo com o comportamento presente do sistema, apresentam um sentido de futuro. "Quando trabalhamos com sistemas submetidos a flutuações, como os sistemas vivos, os experimentos queplanejamos e as possíveis soluções que traçamos, ante os problemas, não podem estar estabelecidos comocertezas absolutas, mas sim em termos de probabilidades, de modo que a incerteza, o acaso, sejamreconhecidos como elementos da própria vida". (NOVO, 1996) • Adaptação e inovação: um dos objetivos dos sistemas vivos é manter-se em estado de estabilidade. Para atingir talobjetivo, os sistemas desenvolvem processos de adaptação, que buscam conduzi-lo de novo à estabilidade inicial. Nos sistemas abertos, esses processos são muito importantes para a manutenção da integridade do sistema, em virtude do alto grau de interdependência com as alterações de seu entorno. Em alguns casos, quando as alterações são muito intensas, provocam mudanças que podem alterar o próprio sistema. Neste caso, há a inovação no sistema. Ambiente e Desenvolvimento A preocupação com a deterioração ambiental, que se manifestou aos finais da década de 1970, trouxe implícita uma violenta crítica ao conceito de desenvolvimento dominante, no qual prevaleciam aspectos econômicos, em particular a idéia de crescimento. Nesta perspectiva, o crescimento/desenvolvimento era negativo, havia adquirido um caráter cancerígeno, e a sobrevivência da espécie humana e do planeta requeria que os crescimentos explosivos, tanto o populacional como o da economia, deviam terminar. Difundiu-se, assim, a expressão "crescimento zero", de claro caráter malthusiano (1). 18 O malthusianismo sustenta que a população aumenta em proporção geométrica, enquanto os recursos disponíveis para a subsistência crescem apenas em proporção aritmética. A população aumenta, portanto, até mais além do limite de subsistência, fenômeno que apenas o próprio ser humano, a guerra e as enfermidades podem conter. Então, para o malthusianismo, a possibilidade de aumento sustentado da população encontra um limite no caráter finito dos recursos disponíveis. Ante esta teoria, outras propuseram uma visão do conceito de desenvolvimento que explicitasse explícitas suas múltiplas dimensões, entre elas a ambiental. A polêmica do desenvolvimento Conforme mencionado, os anos sessenta e setenta foram testemunhas de uma crítica cruel ao desenvolvimento (crescimento) visto por alguns como primeira causa da deterioração ambiental. No entanto, a década de 1980 presenciou o esgotamento e o retrocesso do bem-estar de uma grande parte da Humanidade. A falta de crescimento econômico impediu o desenvolvimento e se traduziu em maior pobreza, causando, além disso, uma maior pressão sobre o sistema natural, última fonte de subsistência, assim como de recursos para o desenvolvimento. Em meados dos anos 80, promoveu-se o conceito de desenvolvimento em escala humana, construído sobre uma interessante proposta de Max-Neef, Elizalde e outros (1986). Esse desenvolvimento se sustenta "na satisfação das necessidades humanas fundamentais, na geração de níveis crescentes de autodependência e na articulação orgânica dos seres humanos com a natureza e com a tecnologia, dos processos globais com os comportamentos locais, do pessoal com o social, do planejamento com a autonomia, e da sociedade civil com o Estado". Junto a esse conceito, trabalhou-se também o de pobreza, passando da noção clássica e estritamente econômica (que se refere à situação das pessoas que se encontram abaixo de determinado nível de renda) a uma noção ampla que abrange a ausência de satisfação de necessidades humanas fundamentais: pobreza de subsistência (por alimentação e abrigo insuficientes); de proteção (por sistemas de 19 saúde ineficientes, por violência, carreira armamentista, etc.); de afeto (devido ao autoritarismo, à opressão, às relações de exploração do ambiente natural, etc.); de entendimento (pela baixa qualidade da educação); de participação (pela marginalização e pela discriminação das mulheres, das crianças e das minorias); de identidade (pela imposição de valores alheios a culturas locais e nacionais, pela emigração forçada, pelo exílio político, etc.); e assim sucessivamente. Posteriormente, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, difundiu o conceito de desenvolvimento humano, definido como o processo de ampliação da gama de opções para as pessoas, oferecendo-lhes maiores oportunidades de educação, atenção médica, rendas e emprego, e abrangendo o espectro total de opções humanas, do entorno físico em boas condições a liberdades econômicas e políticas. O "índice de desenvolvimento humano" - IDH - combina indicadores de esperança de vida, educação, e rendas. O PNUD sugeriu um índice de liberdade humana e política (ILH) para avaliar a situação em matéria de direitos humanos, índice que foi posteriormente revogado por desacordo de alguns países. Em todo caso, estamos de acordo com Bifani (1997), quando afirma que hoje, em função das diversas perspectivas sob as quais pode ser analisado o conceito de desenvolvimento é difícil de definir. No entanto, poder-se-ia afirmar que sempre está associado ao aumento do bem-estar individual e coletivo. Embora esse aspecto tenda a ser medido exclusivamente pelas magnitudes econômicas, é cada vez mais evidente a importância que se atribui às outras dimensões, como o acesso à educação e ao emprego, à saúde e à segurança social ou a uma série de valores tais como a justiça social, a eqüidade econômica, a ausência de discriminação racial, religiosa ou de outra natureza, a liberdade política e ideológica, a democracia, a segurança e o respeito aos direitos humanos, e a qualidade e a preservação do meio ambiente. No entanto, a problemática do desenvolvimento geralmente é considerada como econômica e política e a tarefa de alcançalo tem sido responsabilidade de economistas e políticos. Entre estes tem sido freqüente considerar que a industrialização é o meio através do qual é possível obter níveis superiores de 20 desenvolvimento ou, em outros termos, aceita-se comumente que as sociedades desenvolvidas são aquelas que têm experimentado mudanças estruturais que as têm levado de uma economia predominantemente agrária a outra na qual as atividades dinâmicas e dominantes são as fabris e de serviços. Então, a partir dos finais da década de sessenta é enfatizada a dimensão social do desenvolvimento e fala-se de desenvolvimento econômico e social. Contudo, é um fato evidente que a maioria das interpretações tende a privilegiar um conceito de desenvolvimento no qual se destaca a idéia de crescimento econômico, medido pela expansão do produto nacional bruto. Esse enfoque, que tem dominado a ação política e a gestão econômica, parecia não haver permitido alcançar plenamente seus objetivos. A frustração, a impaciência e o desespero manifestam-se abertamente, aumentando a inquietação social, embora por motivos diferentes, em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os primeiros parecem não alcançar nunca o horizonte denominado "qualidade de vida", em favor do qual sacrificam muitas vezes sua própria liberdade como pessoas, quando não sua saúde, agredida constante e sutilmente através dos numerosos e excessivamente processados alimentos que consomem. Quanto aos países em desenvolvimento, tampouco alcançam seu horizonte, neste caso o de uma existência digna, pois vêem como as cifras macroeconômicas deixam-lhes sempre em uma posição marginal. Neste contexto de desenvolvimento, situa-se o conceito de sustentabilidade, que reconhece as condições ecológicas,sociais e culturais para manter um crescimento econômico, que não se dá sozinho. Não se pode, portanto, dissociar a sustentabilidade físico-natural da socioeconômica, já que os dois tipos de ambiente estariam no mesmo sistema global. O conceito de sustentabilidade tem duas vertentes principais: a referente ao ambiente físico-natural e a referente ao ambiente socioeconômico. 21 Sustentabilidade e recursos Os recursos a serem realmente considerados quando se aplica o conceito de sustentabilidade são aqueles que, sendo renováveis, podem-se esgotar caso sejam explorados num ritmo superior ao de sua renovação. Seu uso sustentado é regido pelas leis da ecologia, e quando esses recursos são explorados num ritmo excessivo, sofrem perturbações que impedem sua renovação (por exemplo, a impossibilidade de recarga de um aqüífero) e os convertem em recursos não renováveis. Os recursos não renováveis, tanto para prover materiais quanto como fonte de energia, por existirem em quantidades finitas, estabelecem problemas relacionados com o esgotamento dos próprios recursos, a eliminação direta de comunidades e ecossistemas, a perda de recursos culturais (por exemplo, as jazidas arqueológicas) no processo de extração, e os efeitos indiretos da exploração, como a contaminação produzida nos trabalhos de transporte e na transformação do produto base em produto útil. Em todo caso, a sustentabilidade não é aplicável a esses recursos. Se combinamos os aspectos teóricos da sustentabilidade ecológica com as conclusões da Conferência do Rio de Janeiro em 1992, é possível fazer uma síntese dos principais problemas que apresenta a gestão sustentável em nível mundial. Porém, em todo caso, a raiz do problema não é outra senão a capacidade de carga da biosfera, em relação ao aumento da população, tanto em número como em taxa de consumo per capita. O cálculo dos limites de pressão que pode suportar o planeta é um problema de ecologia, difícil de resolver, tal como evidencia o Relatório sobre os Limites do Crescimento do Clube de Roma, que destaca o caráter sociológico, econômico, político, cultural, ético, e até religioso da questão. Com efeito, enquanto o controle do crescimento das populações animais e vegetais se faz por mecanismos puramente biológicos, na população humana atual esses mecanismos atuam apenas em casos extremos, tendo sido substituídos por mecanismos socioculturais. Em resposta ao documento do Clube de Roma, a Fundação Bariloche, com um grupo de especialistas, elaborou o estudo "Catástrofe ou Nova Sociedade? Um Modelo Mundial Latino- 22 americano", no qual se estabelece um conjunto de políticas que, se aplicadas, poderiam permitir à Humanidade alcançar níveis adequados de bem-estar em um prazo de um pouco mais de uma geração. E sublinha que os obstáculos que se opõem ao desenvolvimento harmônico da humanidade não são físicos ou econômicos, em sentido estrito, mas essencialmente sociopolíticos. Os problemas mais estritamente ecológicos da sustentabilidade estariam para alguns representados pelo desflorestamento e suas seqüelas, como a seca, a erosão e a desertificação, o perigo de degradação dos ecossistemas mais frágeis (áreas úmidas e montanhosas, costeiras, ilhas) e a diminuição da diversidade biológica. Enfim, hoje todo o mundo, aparentemente, está de acordo em que o atual modelo econômico não se pode manter de forma indefinida, sendo necessário estabelecer um novo modelo que não esteja baseado exclusivamente na expansão e no crescimento econômico e que respeite as margens de tolerância do sistema planetário. Chegamos, assim, ao conceito de desenvolvimento sustentável, cujo uso e significado foi consolidado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento como a "capacidade de atender necessidades atuais sem comprometer as das gerações futuras", explicitando seu conteúdo e pondo-o em conexão com políticas socioeconômicas de caráter internacional, cristalizadas nos debates e nos acordos da Conferência do Rio, em 1992. Outras definições, mais atuais, aprofundam o conceito ao referirem-se a ele como "um tipo de desenvolvimento orientado a garantir a satisfação das necessidades fundamentais da população e elevar sua qualidade de vida, através do controle racional dos recursos naturais, propiciando sua conservação, recuperação, melhoria e usos adequados, por meio de processos participativos e de esforços locais e regionais, de modo que tanto esta geração como as futuras tenham a possibilidade de desfrutá- los com equilíbrio físico e psicológico, sobre bases éticas e de eqüidade, garantindo a vida em todas suas manifestações e a sobrevivência da espécie humana". 23 Estamos de acordo, contudo, de que o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade não são, propriamente, um conceito, mas um metaconceito, ou seja, um conceito que, por sua, vez gera todo um campo de reflexão e conhecimento (em permanente evolução) sobre si mesmo, cuja principal característica é o aparente consenso que provoca em todo o mundo, embora não isento de uma visão crítica. O ambiente social O ambiente social compreende os seres humanos e suas atividades, as quais têm como ponto de partida o aproveitamento dos recursos naturais. Considera-se aqui todo tipo de infra- estruturas (edificações, maquinaria e equipamentos) e, geralmente, tudo o que seja resultado da invenção da humanidade (ciência, tecnologia). Compreende também o comportamento dos seres humanos para com seus semelhantes e com a natureza, incluindo aspectos positivos (criatividade, preservação do ambiente) e negativos (destruição, poluição ambiental). "O homem é ao mesmo tempo obra e operário do meio que o rodeia, o qual lhe proporciona sustento material e lhe oferece a oportunidade de se desenvolver intelectual, moral, social e espiritualmente. Na longa e tortuosa evolução da raça humana neste planeta, tem-se chegado a uma etapa em que, graças à rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o homem tem adquirido o poder de transformar, de inumeráveis formas e em uma escala sem precedentes, tudo que o rodeia. Os dois aspectos do meio ambiente, o natural e o social, são essenciais para o bem-estar do homem e para a satisfação dos direitos humanos, inclusive o direito à vida" (Declaração sobre o Meio Humano, Item 1, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Humano, Estocolmo, 1972). Ante essa afirmação, há que se considerar também outro aspecto importante: o aumento da população mundial, que crescerá 40% nos próximos vinte e cinco anos, até alcançar os 8.300 milhões em 2025, dos quais grande parte viverá nos países em desenvolvimento. 24 Em dezembro de 2005, a população mundial alcançou a cifra de 6500 milhões de pessoas. Toda essa população se encontra numa terça parte da superfície do planeta, concentrada nos continentes onde se utiliza cada vez menos cuidadosamente os recursos oferecidos pelo meio natural. O mau uso dos recursos naturais se traduz em uma crescente deterioração que se apresenta sob forma de contaminação da atmosfera por emanações gasosas, de destruição progressiva da camada de ozônio que protege a Terra da influência prejudicial das radiações ultravioletas, de poluição sonora provocada por todo tipo de ruídos desagradáveis, de contaminação da água doce e marinha por dejetos tanto industriais quanto domésticos, de contaminação dos solos por lixos, produtos agroquímicos e resíduos industriais e, finalmente, de destruição progressiva da natureza em desacordo com a ecologia, por atividades tais como o desflorestamento massivo, a exploração dos lençóis freáticos (cuja conseqüência é a má drenagem e a salinização dos solos), a caça indiscriminada e a superpesca (que provoca a extinção deespécies valiosas e a ruptura de ciclos ecológicos), o mau manejo dos solos (cuja conseqüência é a erosão), bem como o uso de terras agrícolas para outros fins, tais como a fabricação de materiais de construção e a urbanização. São problemas também do meio ambiente os de ordem social, que se encontram relacionados com a falta de um planejamento no uso dos espaços e na construção de moradias inadequadas, a falta de educação em todo âmbito (que se traduz em ignorância) e os problemas de saúde e salubridade. _____________________ 1 Thomas Robert Malthus. (Inglaterra, 1766-1834). Economista. Em 1798, publicou de forma anônima sua primeira contribuição destacada no campo da economia política com o título "Ensaio sobre o princípio da população" que, na edição de 1803, já convertido em um verdadeiro tratado sobre os limites do crescimento demográfico, titulou-se "Resumos sobre os efeitos passados e presente relativos à felicidade da humanidade". Outras obras suas são, "Princípios de economia política" (1820) e "A medida do valor" (1823). Malthus escrevia principalmente 25 tendo em vista os problemas do desemprego e aos apuros econômicos na Inglaterra da primeira Revolução Industrial. No século XIX, o colonialismo e a abertura de novas áreas de terra cultivável impediram o agravamento dessa situação. Ambiente e Educação Ambiental Até este momento, estudamos os conceitos de Meio Ambiente, Sistemas e Desenvolvimento Sustentável. Tratamos de reformas conceituais que se processaram ao longo da última metade do século XX. Tais reformas se produziram a partir de transformações ambientais, sociais, tecnológicas, econômicas, políticas e culturais, que, por estarem inter-relacionadas, demandam novas necessidades instrumentais em cada uma dessas dimensões da sociedade humana. É dentro deste contexto de intensa transformação que é imputada à Educação Ambiental um grande desafio, consolidado a partir da Conferência de Estocolmo (1972), quando a educação ambiental converte-se numa recomendação imprescindível para execução de projetos na área. Nesse mesmo ano de 1972 é criado o Plano das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), entre cujas tarefas figuram a informação, a educação e a capacitação orientadas com preferência a pessoas com responsabilidades de gestão sobre o meio ambiente. "É indispensável o trabalho de educação em questões ambientais, dirigido tanto às gerações jovens quanto aos adultos, e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiado, para ampliar as bases de uma opinião bem informada e de uma conduta de indivíduos, de empresas e de coletividade, inspirada no sentido de sua responsabilidade em relação à proteção e à melhoria do meio em todas as dimensões humanas." (Estocolmo, 1972) Vale ressaltar, ainda, que antes desse movimento, em 1971, a UNESCO havia iniciado o Programa Homem e Biosfera (MAB) com o fim de prover os conhecimentos científicos e pessoal qualificado com vistas a um manejo racional dos recursos. O programa representou um novo enfoque de pesquisa e ação, dirigido a melhorar as relações do ser humano com seu ambiente, sublinhando a conveniência de se "desenvolver um programa interdisciplinar de pesquisa que atribua especial importância ao método ecológico no estudo das relações entre o homem e o meio" (UNESCO, 1971). 26 Para Medina (1997), esse novo compromisso colocado para a educação não desafia somente o desenvolvimento metodológico das teorias pedagógicas. Diz respeito também ao estabelecimento e à inclusão de novas abordagens éticas e conceituais à base estrutural das metodologias. Ou seja, não compromete somente as atividades de professores (em escolas ou cursos), ou de currículos acadêmicos, mas envolve também os cidadãos e os seus cotidianos, estejam eles desenvolvendo atividades pedagógicas, técnicas, sociais, comunitárias etc., em um projeto coletivo para criar um Ambiente mais equilibrado dentro da perspectiva do Desenvolvimento Sustentável. Compreender a Educação Ambiental, dentro de um quadro conceitual mais amplo, não exclui a necessidade de se envolver profissionais e metodologias para ações nas escolas e outras atividades de educação formal. Ao contrário, deixa claro a importância e a necessidade de se investir nesta área do conhecimento, a partir do desenvolvimento de novos processos de ensino-aprendizagem que integrem disciplinas e saberes dentro de uma nova ótica solidária. "...para assegurar a efetividade desse direito (meio ambiente ecologicamente equilibrado) cabe ao Poder Público: promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para preservação do meio ambiente". (Constituição Federal, Artigo 225 1º) "Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências, voltados para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sustentabilidade." (Lei Federal Nº9795 de 27/04/99 - Dispõe sobre educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental. CAPÍTULO I, ART.1º) Por outro lado, abre-se o campo da educação não formal, em que os desafios se estendem aos programas de educação ambiental que são realizados em diversas atividades que possuem como foco a temática ambiental (trabalhos técnicos e sociais, auditorias, programas dentro de empresas etc.). Também nesses 27 casos, há necessidade de desenvolvimento metodológico específico e de formação de pessoas para qualificar os resultados, uma vez que em tais programas estão envolvidas pessoas que difundem informações e conhecimentos e estabelecem novas perspectivas de ação. No quadro a seguir, Medina (1997) procura sintetizar um conjunto de suporte que poderá nos auxiliar na compreensão desse conceito em uma dimensão mais complexa. Nos processos de gestão ambiental (urbana ou rural) há, também, uma enorme possibilidade de relacionar ações de melhoria da qualidade ambiental com as de condições de vida da população, com a aplicação de ações ligadas ao desenvolvimento sustentável. Aqui, ações de Educação Ambiental podem ser diretamente inseridas no planejamento e na gestão ambiental local, não apenas como um elemento de melhoria da qualidade do ambiente, mas também como um processo de qualificação social que amplia processos ambientais envolvidos na região e ainda intensifica a consciência da sociedade para gerir com mais prudência seus recursos naturais, econômicos e sociais. 28 A implantação de qualquer forma de gestão ambiental apóia-se necessariamente na educação ambiental, que deve ser dirigida a todos os setores, a todas as pessoas de todas as idades. Essa participação requer o apoio de processos formativos que não apenas tornem viável a participação popular nas atividades, mas que proporcionem elementos para o aperfeiçoamento das possibilidades dessa participação, ao fornecerem novos elementos qualitativos a pessoas e grupos. Uma boa formação ambiental pode ser a base para entender e intervir em âmbito municipal, de modo que se consiga tomar parte ativa e que se possa apresentar opiniões quanto aos conflitos ambientais e participar nas diversas tarefas necessárias à modificação das situações. Ambiente e Participação A participação na temática ambiental pode ser abordada dentro de diferentes dimensões. Sob a ótica do ambiente como sistema, a participação pode ser entendida como a contribuição que cada segmento da sociedade (social, econômico, político, organizacional, científico etc.) pode oferecer, ou ter capacidade de oferecer, para o estabelecimento do equilíbrio ambiental do planeta - equilíbrioeste entendido a partir da interdependência de equilíbrio de cada um de seus próprios componentes. Para percebermos a importância potencial dos processos participativos associados à temática ambiental, devemos observar, com atenção, os resultados destas contribuições e seus avanços na reversão do quadro de degradação global. Essa observação será melhor referenciada através da análise das atividades práticas (locais ou globais), e não apenas pelo desenvolvimento das concepções teóricas sobre o tema. A seguir exemplificamos: "O relatório Geo 2000, que acaba de ser divulgado em Genebra pelo programa Ambiental da ONU, traça um futuro sombrio para o novo milênio. Prevê a destruição das florestas tropicais, a contaminação do ar [...], o esgotamento das fontes de água potável [...] O documento adverte: até agora nenhum programa de defesa ambiental, em escala 29 global, foi levado a sério pela comunidade internacional." (Jornal Diário Catarinense, 21/09/2000). "O livro "Caminhos e aprendizagens: educação ambiental, conservação e desenvolvimento" apresenta 14 projetos desenvolvidos pela WWF, nas cinco regiões do Brasil, espalhados por oito estados, que utilizaram metodologias de educação ambiental, com o apoio de parceiros locais. Os projetos capacitaram 25 educadores na implantação e/ou aprimoramento da educação ambiental. A implantação da metodologia levou dois anos e contou com a participação de pequenas comunidades". (http://www.wwf.org.br, [Lido: 20/11/2000]). "O secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Rasca Rodrigues, e o presidente da Tetra Pak no Brasil, Paulo Nigro, apresentaram nesta quarta-feira (25) um Plano de Ação inédito no Paraná - que será realizado nos próximos dois anos, inicialmente em 22 municípios pólos, e representam 90% da população paranaense - com o objetivo de garantir o escoamento sustentável para a reciclagem das embalagens longa vida no Estado". (Fonte: http://www.bonde.com.br, [Lido: 25/07/2007]). Para integrar nossa análise sobre a dimensão participativa presente no conceito de Meio Ambiente, utilizaremos como critérios os elementos conceituais já apresentados no item Meio ambiente como Sistema (SIERVI, 2000b). São eles: • As relações entre o todo e as partes: a participação possui característica de interdependência entre a parte (os participantes) e o TODO (o ambiente natureza-sociedade), podendo-se admitir os subsistemas - indivíduos ou organizações - como parte, e os processos participativos resultantes das interações como TODO; • Emergências e limites: por ser uma atividade essencialmente prática-reflexiva, a participação possui importantes características de emergências, geradas a partir das articulações entre os diferentes participantes (as partes); e também de limites, impostos pela necessidade de respeitar as características particulares dos participantes envolvidos (organizações ou indivíduos); • Relação com o entorno: compreendendo o meio ambiente como um sistema aberto, ou seja, em constante processo de intercâmbio com o meio externo, podemos perceber que as atividades participativas desenvolvidas entre organizações e 30 indivíduos geram as transformações que o sistema passa a oferecer como novo produto à sociedade (novas formas de conceber ou resolver os problemas); • Equilíbrio: o conceito de equilíbrio dinâmico empresta aos processos participativos um caráter de aprendizado, havendo constantes fluxos de matéria, energia e informação que provocam mudanças temporárias (evolução) e espaciais (estrutura) nas organizações, nos indivíduos e nas concepções e resoluções de problemas; • Retroalimentação: diz respeito aos mecanismos de recarga do sistema. São as informações que permitem ao sistema aprender a partir de sua própria prática ou operação; • Adaptação e inovação: os processos participativos, como atividades eminentemente práticas-reflexivas, estão constantemente sujeitos aos processos de adaptação e inovação para garantirem sua estabilidade (dinâmica). Tem-se assistido a um importante movimento em toda sociedade para viabilizar os processos participativos em todos os subsistemas do Meio Ambiente (social, cultural, político, tecnológico, econômico, institucional, entre outros). Esse movimento coletivo - formal e informal - tem resultado no desenvolvimento de um grande número de novas metodologias, instrumentos e mecanismos legais que contribuem para a efetivação da dimensão participativa na dinâmica social contemporânea. 31 Na perspectiva do conceito de Desenvolvimento Sustentável, a participação é o elemento fundamental para garantir a inclusão social, a diversidade de abordagens, o respeito à diversidade cultural, a inclusão de perspectivas sobre relações de gênero, a reflexão entre a geração atual e a futura, entre outros aspectos. As experiências de construção de Agendas 21 locais têm explicitado os limites e as oportunidades que o exercício da prática participativa oferece para o conceito e para que, enfim, sejam atingidos os novos objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Em 1992, realizou-se no Rio de Janeiro a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Cúpula da Terra, convocada pelas Nações Unidas. Nesta reunião adotou-se o Programa de Ação 21, conhecido como Agenda 21 que, entre outras coisas, promove a realização de diversas Agendas 21 nacionais e locais, expressas nos programas de ação pública em favor de um desenvolvimento sustentável no século XXI. O Capítulo 28 da Agenda 21 assinala: "devido ao fato de que muitos dos problemas e soluções tratados na Agenda 21 têm suas raízes em atividades locais, a participação e cooperação de autoridades locais será um fator determinante na realização de seus objetivos". A Agenda 21 Local é, então, um projeto político de desenvolvimento local para o Século XXI e um programa de ações que correspondem a um conjunto de objetivos, princípios e características relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Esta Agenda está estreitamente relacionada ao estabelecimento de um sistema de gestão ambiental municipal e aos planos integrais de gestão ambiental no município, porém amplia e reforça diversos elementos de caráter econômico, social e cultural, visando um município sustentável. Este processo corresponde a um mandato acordado pelas Nações Unidas e pelos governos do mundo, no qual se reconhece o papel- chave das autoridades locais e das comunidades no caminho para o desenvolvimento sustentável. Além disso, com esta proposta pretende-se fortalecer a responsabilidade de todos na redução dos impactos ambientais gerados pelas próprias atividades humanas e pelos efeitos que podem ser produzidos por outras comunidades, de modo que se compartilhem experiências entre os diversos governos locais. 32 Quando dirigimos nosso foco de atenção para a base conceitual da Educação Ambiental encontramos uma dupla possibilidade de abordagem para os processos participativos: • em primeiro lugar, podemos perceber que os processos participativos podem oferecer uma grande contribuição dentro de uma perspectiva ética, metodológica e conceitual, através da potencialização dos trabalhos realizados junto à estrutura formal de educação (a escola), bem como à informal (associações de moradores, empresas, grupos de jovens, entre outros); • por outro lado, destaca-se a importância da Educação Ambiental como geradora de processos participativos. Meio Ambiente Físico ou Natural O estudo do Meio Ambiente Físico ou Natural, de suas dinâmicas próprias e das inter-relações com os demais subsistemas do Meio Ambiente ajuda-nos a compreender a natureza e as dimensões dosimpactos sofridos pelo conjunto de seus elementos. No documento preparatório para a Rio 92, "Nossa própria Agenda sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente" (BID/PNUD, 1991), foi apresentado um quadro sobre a situação ambiental da América 33 Latina. Os critérios utilizados para levantamento do quadro incluíam os seguintes elementos: • amplitude geográfica dos processos ambientais considerados; • volume da população afetada; • volume das atividades econômicas diretamente afetadas; • gravidade dos efeitos sobre a população e atividades econômicas; • a capacidade, atual e potencial, de enfrentar os processos ambientais implicados. Tabela 1.3. Principais temas ambientais para discussão na América Latina e Caribe. 34 Fonte: Adaptado a partir de: Nossa Própria Agenda sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente BIP/PNUD (1991). Pode-se observar que os principais temas apresentados na Tabela 1.3 possuem íntima relação com as ações antrópicas sobre os ecossistemas internacionais (da América Latina) e Globais (generalizados para todo planeta). ANTRÓPICO Relativo à humanidade, à sociedade humana, à ação humana. Termo empregado para qualificar: um dos setores do meio ambiente, o meio antrópico, compreendendo os fatores sociais, econômicos e culturais; um dos subsistemas do sistema ambiental, o subsistema antrópico. (FEEMA, 1990) Para construir um painel de relacionamento entre a Tabela 1.3 e o Meio Ambiente Físico, faremos uma abordagem panorâmica sobre os seguintes assuntos: Clima; Solos; Água; Flora e Fauna; Minerais; Energia e Resíduos. Muitos dos temas ambientais apontados poderão ser identificados em diferentes momentos do texto, explicitando seu interrelacionamento e sua interdependência sistêmica. Fique atento a essas relações durante a leitura. Atmosfera Ao falar do clima, nos referiremos fundamentalmente a um de seus componentes: a atmosfera. A atmosfera é a camada gasosa que envolve a Terra, com altitude estimada superior aos 1.000 km. É composta de grande variedade de gases, dos quais os mais importantes são o oxigênio e o nitrogênio, que, conjuntamente, constituem 91% de seu volume, formando o que conhecemos por "ar". 35 As características físicas e químicas da atmosfera (densidade, pressão e temperatura), tal como hoje a conhecemos, variam em relação à altitude, de modo que se possa subdividi-la em alguns estratos ou camadas bem diferenciadas: troposfera, estratosfera, mesosfera e termosfera (figura 1.8). 36 A poluição atmosférica é um dos problemas ambientais e de saúde humana mais típicos das cidades e das áreas industrializadas. A qualidade do ar depende exclusivamente da quantidade e da natureza das substâncias geradas pela atividade humana, que são os gases tóxicos e as partículas orgânicas e inorgânicas em suspensão (pó e alguns metais, como o chumbo). Grande parte dos problemas ambientais globais que serão tratados posteriormente, tais como o efeito estufa, o esgotamento da camada de ozônio ou a chuva ácida, devem-se na maioria às emissões antropogênicas na atmosfera, derivadas das atividades industriais. Em outubro de 1997, cientistas espanhóis do Instituto Nacional de Técnica Aeroespacial (INTA), em colaboração com cientistas de outros países europeus, publicaram os dados de um recorde histórico no buraco da camada de ozônio do Pólo Norte. 37 Segundo esse estudo, durante o inverno europeu de 1995-96, a destruição da camada de ozônio nas regiões árticas alcançou 64% do total em alguns níveis, o que constitui uma cifra realmente alarmante. O nível de destruição da camada de ozônio depende do clima existente, sendo acelerado pela grande quantidade de compostos de cloro e bromo na estratosfera, gerados pela atividade humana. O efeito estufa, causa do aquecimento da Terra e da modificação do clima, é outro dos grandes problemas atmosféricos, tornando- se um tema prioritário a respeito do qual já estão sendo tomadas providências. Os Estados Unidos emitem 25% dos gases causadores de efeito estufa, motivo pelo qual, em 1993, lançou um plano para que no ano 2000 a emissão de "gases estufa" (CO2 principalmente) fosse similar à do ano de 1990. O departamento de Energia dos Estados Unidos anunciou, no entanto, em outubro de 1997, que os "gases estufa" produzidos nesse país simplesmente não haviam diminuído, mas aumentaram 8% desde 1990. A chuva ácida, produzida pela atividade industrial, também inclui- se como uma das ameaças ao meio aéreo. Trata-se da emissão de compostos de enxofre na atmosfera, os quais podem diluir-se no vapor da água, formando pequenas gotas de ácido sulfúrico (H2SO4), provocando a chuva ácida. Esse fenômeno não é um problema localizado, já que essas gotas podem depositar-se sobre solos a muitos quilômetros de distância do ponto em que são originadas. A contaminação dos espaços interiores é um tema específico no estudo da poluição atmosférica. A maior parte da atividade profissional, familiar, social e recreativa que exercemos ocorre dentro de espaços fechados, onde a concentração de substâncias poluentes torna-se maior que em espaços abertos. Neste caso, aos contaminadores clássicos somam-se outros, como os óxidos de nitrogênio e CO2, emitidos pelo gás de cozinha, pelos escapamentos dos automóveis nas garagens, pelas partículas de fuligens provenientes dos veículos automotores, e que se introduzem dentro das casas, pela fumaça dos cigarros, e outras substâncias voláteis que aparecem em produtos de uso doméstico, como tintas e aerossóis. A contaminação por amianto é uma das mais conhecidas, pois esse 38 material era amplamente utilizado na construção até que se comprovou, na década de 60, que as emanações de suas fibras podiam provocar câncer. Solo O solo nos faz pensar imediatamente na cobertura da superfície terrestre. De acordo com o critério científico ou pedológico (do grego pedós = solo), é uma coleção de corpos naturais, que ocupa posições na superfície terrestre, os quais suportam as plantas, e cujas características são decorrentes da ação integrada do clima e da matéria viva sobre o material originário, condicionado pelo relevo, em períodos de tempo. Isto é, o clima e a matéria orgânica (raízes, minhocas e outros organismos, vivos ou em decomposição) atuam modificando os solos através do tempo, decompondo as rochas e transformando a topografia. Não esqueçamos que a superfície do solo não é plana, porém, possui uma série de acidentes que favorece o escoamento ou a retenção da água. Seguindo um critério prático ou edafológico (do grego edafós = solo ou terra como suporte de plantas), o solo é concebido como o meio natural onde se desenvolvem as plantas. Os seres humanos podem fazer variados usos do solo. A atividade agrícola é em si benéfica para o solo; contudo, o prejuízo surge quando práticas inadequadas são realizadas, como o manejo inadequado de água para irrigação, que gera uma má drenagem e processos de salinização (quando os sais se acumulam, chegam a alcançar níveis tóxicos para as plantas). Ainda assim, a falta de manejo adequado dos solos (como as práticas da pecuária ou a eliminação de árvores e arbustos, que se desenvolvem em solos com encostas pronunciadas ou nas margens de um rio) tem como conseqüência a ocorrência de processos erosivos. O aparecimento de fendas em lugares com declividade acentuada, assim como de aluviões, que são produzidos com a ocorrência de chuvas intensas e o assoreamento das margens dos rios, são formas radicais de erosão. Finalmente, o uso de terras agrícolas para outros fins, tais como a fabricação de materiais de construção (tijolos e acabamentos cerâmicos) e a edificação de infra-estrutura (residências,fábricas, 39 edifícios diversos, pavimentação de vias de transporte), é uma das formas mais nocivas de utilização dos solos cultiváveis. O uso inadequado dos solos leva ao surgimento do fenômeno conhecido pelo nome de desertificação. Segundo dados das Nações Unidas, estima-se que a cada ano desertificam-se entre 6 e 7 milhões de hectares, ou seja, uma superfície equivalente ao triplo da ocupada pelo estado de Sergipe /Brasil. Do mesmo modo, uma extensão adicional de 20 milhões de hectares (área equivalente ao Estado do Paraná, Brasil) se empobrece anualmente, até o ponto de se tornar improdutiva para a agricultura e para a pecuária. Água A definição de água é mais difícil do que geralmente se supõe. Aparentemente simples, a água é um dos corpos mais complexos do ponto de vista físico e químico, pois é muito difícil obtê-la em estado puro, além de apresentar um maior número de anomalias em suas constantes físicas. A água é a fonte de toda a vida. Sem água não há vida. Os seres vivos não podem sobreviver sem água. A água é parte integrante dos tecidos animais e vegetais. Existe na biosfera em seus estados líquido (mares, rios, lagos e lagoas), sólido (gelo, neve) e gasoso (vapor de água, nuvens, umidade). É uma bebida elementar, uma fonte de energia, uma necessidade para a agricultura e para a indústria. Todas as grandes civilizações nasceram ao redor da água. Não se conhece nenhuma civilização que tenha se desenvolvido em uma região desprovida de água. Não se conhece nenhuma grande civilização que tenha nascido em uma região desprovida de água. E é por isso que, há milhares de anos, desde que a humanidade foi capaz de representar seus conceitos por símbolos gráficos, tem-se valorizado a água. A água renova-se no mundo dentro de um ciclo, conhecido como ciclo hidrológico. Com o calor produzido pela insolação, a água evapora-se dos mares e das águas continentais, chegando à atmosfera, onde forma nuvens que logo se precipitam (chuva, neve, granizo). Uma vez sobre o continente, parte dessa água 40 escorre superficialmente (rios), enquanto o restante, em maior proporção, infiltra-se (águas subterrâneas) chegando desta forma novamente aos lagos, lagoas e oceanos, nos quais volta a evaporar-se. (figura 1.9) A água exerce uma influência decisiva sobre os seres humanos e os recursos naturais renováveis. Sua dinâmica natural influi sobre solos, plantas e animais, podendo causar deslizamentos e inundações como processos naturais. Porém, a água também tem sua dinâmica afetada pelas atividades humanas, que muitas vezes aceleram esses processos naturais (desmatamento em encostas e nas margens dos rios, processos de urbanização intensa, entre outros). Outro tipo de influência exercida pelas atividades humanas sobre a água é a sua contaminação. Assim, antes de chegar ao solo como chuva, pode ser contaminada com emissões gasosas, procedentes da indústria ou da combustão de veículos automotores; ou, já no solo, pelo lançamento de substâncias 41 tóxicas ou resíduos líquidos ou sólidos, da indústria, da agricultura ou domésticos. A contaminação das águas afeta tanto os animais como as plantas, implicando em grave problema ambiental. Até poucos anos, a água era vista como um bem barato (ou praticamente gratuito) e inesgotável. Atualmente, esta visão teve que ser revista, pois compreendeu-se que, para recuperar a água contaminada, o processo é difícil e oneroso. Uma porcentagem demasiadamente elevada da população mundial não dispõe de água suficiente em quantidade e na qualidade desejada, afetando as necessidades hídricas dos cultivos, a capacidade de sobrevivência e permitindo a proliferação de doenças causadas pelo consumo, por animais e pessoas, de águas não tratadas. Aproximadamente 71% da superfície de nosso planeta é coberta pelos oceanos, os quais estão sofrendo uma constante degradação. A cada ano, são despejados neles mais de 8 milhões de toneladas de petróleo, sendo que, segundo cifras da FAO, 44% dos locais de pesca sofrem processos de exploração intensiva, 16% são explorados em excesso, 10% dos arrecifes de corais se encontram em estado irrecuperável e 30% estão em processo de degradação. A ONU estabeleceu que 1998 seria o Ano Internacional dos Oceanos, visando fazer com que as ações realizadas durante aquele ano sensibilizassem os Governos e os cidadãos para essa problemática. Para diminuir o impacto sobre o meio aquático, deve-se reduzir o despejo de resíduos, tratar as águas contaminadas antes de lançá-las nos cursos dos rios e antes de serem consumidas, além de potencializar as técnicas de captação e armazenamento de água, assim como reduzir o desperdício. Flora e Fauna A flora e a fauna incluem todos os organismos vivos que se desenvolvem na biosfera. A flora é constituída pelo conjunto de espécies ou indivíduos vegetais, silvestres ou cultivados, que vivem ou povoam uma determinada região ou área. Os vegetais ou plantas, como habitualmente são chamados, são formas de vida que se podem agrupar, a princípio, em dois 42 grandes grupos: plantas que têm flores visíveis, ou Fanerógamas (árvores, arbustos, ervas), e plantas sem flores visíveis, ou Criptógamas (samambaias, musgos, fungos, algas e bactérias). Este grupo inclui a totalidade da microflora. Quanto ao meio em que habitam, às dimensões e às formas de vida, os organismos são classificados como integrantes da: flora bacteriana, flora fluvial, flora intestinal, flora nativa ou autóctone, flora silvestre, flora marinha, flora invasora, microflora e macroflora. A flora inclui muitas espécies de valor econômico utilizadas para diversos fins: obtenção de madeira (florestas), pastagens (pastos naturais), medicina (plantas medicinais) etc. A extinção ameaça atualmente aproximadamente 25.000 espécies de plantas. Quanto às florestas, no mundo há dois tipos principais que possuem valor econômico: as florestas homogêneas, compostas por um número limitado e uniforme de espécies, que se desenvolvem nas zonas temperadas dos hemisférios Norte e Sul (por exemplo, os bosques de pinheiros que caracterizam o Canadá, a Argentina e o Chile); e as florestas heterogêneas ou tropicais úmidas, compostas por uma variedade de espécies de todo tipo e tamanho (árvores, arbustos, plantas herbáceas etc.), que caracterizam a região equatorial do mundo (por exemplo, a Floresta Amazônica).Estas últimas são as florestas mais vulneráveis por estarem continuamente submetidas a um processo de desmatamento. Esse processo é tão intenso que, segundo estimativas, só na América Latina ocorre a metade do desmatamento realizado em todo o planeta. Sabe-se que, a cada ano, o mundo perde 11,3 milhões de hectares de florestas tropicais. As florestas homogêneas ou temperadas não se livram da degradação, principalmente pelo efeito da chuva ácida. Por outro lado, o desequilíbrio entre a produção e o consumo dos recursos naturais é evidente: um quinto da população mundial (América do Norte, Europa Ocidental, Japão, Austrália, Hong Kong, Cingapura e os Emirados petroleiros do Oriente Médio) consome 80% dos recursos naturais. Entretanto, é nos 14 dos 17 países mais endividados do mundo que se encontram as 43 florestas tropicais. O resultado é um comércio de recursos naturais (sobretudo madeira) que são utilizados para pagar essa dívida. De fato, calcula-se que a subsistência de 300 milhões de pessoas está relacionada com as florestas. As pastagens naturais constituem a mais extensa prática do mundo no aproveitamento dos solos, pois ocupam 30 milhões de km2, ou seja, 23% da superfície de solo da Terra. Mesmo que sua produtividade seja geralmente baixa, mantém, no entanto, a maioria das 3 bilhões de cabeças de gado domundo e, conseqüentemente, a maior parte da produção mundial de carne e leite. Infelizmente, em numerosos lugares, o manejo dos campos não é adequado. Extensas pastagens localizadas no norte da África, no Mediterrâneo e no Oriente Próximo foram degradadas. A pecuária é também um problema nos ecossistemas de montanhas, tais como no Himalaia e nos Andes. A deficiente gestão da atividade de criação de gado e os excessos nos níveis de capacidade de uso permitem que a cobertura herbácea - geralmente pobre, tanto como forragem quanto na qualidade de proteção do solo - seja atacada pelos processos erosivos. Do mesmo modo, muitas espécies de plantas nativas constituem uma fonte de recursos para a saúde. São as denominadas plantas medicinais, utilizadas primordialmente nas zonas rurais através de sistemas médicos tradicionais e que apresentam uma eficácia ou valor terapêutico real ou potencial e, conseqüentemente, um valor econômico indeterminado. A fauna é formada pelo conjunto de animais que povoam ou vivem em uma determinada zona ou região. Em nível global, podemos falar da fauna do planeta Terra e esse conceito, então, abrange todos os animais que existem desde que apareceu a vida na Terra. Pode-se dividir a fauna, a princípio, em dois grandes grupos: os invertebrados, a forma mais primitiva, e os vertebrados, de evolução mais tardia. A principal diferença entre ambos é a presença de um eixo ósseo ou coluna vertebral, que suporta o corpo do animal, nos vertebrados, e que não existe nos invertebrados. 44 Entre os vertebrados, são classificados os peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Este último grupo inclui a espécie humana. Entre os invertebrados, distinguem-se aqueles com membros articulados ou artrópodes (insetos, aracnídeos, crustáceos, miriápodes), os moluscos, equinodermos, cnidários e esponjas. De acordo com o meio onde habitam, a sua dimensão e a forma de vida, temos a fauna silvestre, epifauna, infauna, macrofauna, megafauna, mesofauna, microfauna e pedofauna. A utilidade das espécies de fauna é múltipla, mas principalmente podemos mencionar a domesticação de animais selvagens como fonte de alimentos (carne, ovos, gorduras), de produtos industriais (fibras, lãs, couros, peles, pêlos, corantes) e de produtos úteis para a agricultura (adubos, como o guano produzido por aves marinhas). A extinção ameaça, atualmente, mais de 1.000 espécies de vertebrados. Estas cifras não englobam o inevitável desaparecimento de animais menores - em particular os invertebrados, como os moluscos, os insetos e os corais - cujo ambiente está sendo destruído. A ameaça mais grave para fauna e flora é a degradação do meio ambiente físico através de sua substituição gradual por assentamentos humanos, portos e outras construções; da contaminação com produtos químicos e resíduos sólidos (domésticos, agrícolas e industriais); da extração descontrolada de águas e de recursos naturais; além da pecuária, de atividades pesqueiras e da caça indiscriminada. Devido à superexploração da pesca, atualmente encontram-se consideravelmente esgotadas pelo menos 25 das mais valiosas zonas pesqueiras do mundo. Cinco das oito regiões com maior número de reservas pesqueiras esgotadas são regiões desenvolvidas (Atlântico do Noroeste, Atlântico do Nordeste, Mediterrâneo, Pacífico do Noroeste e Pacífico do Nordeste). No mar peruano, a pesca da anchoveta ocasionou seu colapso entre 1971 e 1978. Seu habitat foi ocupado pela sardinha, pela cavala, pelo bonito e pela merluza. A alteração ecológica trouxe como conseqüência um grave prejuízo econômico e ambiental (a pesca 45 predatória da anchoveta provocou a diminuição da população de aves guanadeiras - aves marinhas). Quanto aos animais terrestres, estes são caçados principalmente para a obtenção de carne e peles. O comércio internacional converteu-se em uma ameaça para muitas espécies, dada a exigência cada vez maior do mercado internacional pelas espécies raras da fauna. Esse abuso ameaça 40% de todas as espécies de vertebrados em vias de extinção, representando o maior perigo que pesa sobre os répteis. Minerais Os minerais são corpos inorgânicos naturais, de composição química e estrutura cristalina definidas. Sua importância é grande por seus diversos usos na indústria. Constituem as matérias- primas ou recursos mais importantes para fabricar as ferramentas da civilização. No total, há na crosta terrestre mais de 2.000 minerais distintos, que apresentam uma deslumbrante variedade de cores, formas e texturas. Os minerais têm sua origem nas rochas, que não são mais que uma mistura complexa de minerais ou que, às vezes, são formadas por um só tipo de mineral. Há minerais metálicos (que são muito consistentes e possuem brilho) e não metálicos (de menor consistência apresentam-se em estado sólido, líquido ou gasoso e não brilham). Uma característica dos minerais é que são esgotáveis, ou seja, uma vez que são explorados não se renovam. O petróleo, o cobre, o ferro, o carvão natural etc., um dia irão esgotar-se. Por este motivo, é necessário utilizá-los com prudência, evitando seu desperdício. Desde os tempos pré-históricos, os seres humanos souberam utilizar os minerais. Já na Idade da Pedra usava-se o sílex; mais tarde, o bronze e o ferro. O carvão natural serviu para o grande avanço industrial do século passado, alimentando as usinas e as máquinas a vapor. O urânio, atualmente, alimenta os reatores atômicos. Mas em todos os tempos os minerais mais "explorados" foram os diamantes e o ouro. 46 A exploração e o uso irracional dos minerais encontram-se associados à poluição. Por exemplo, a eliminação de resíduos das minas resulta em contaminação dos recursos hídricos; e o uso do carvão natural está associado à poluição atmosférica. Entre os principais minerais encontram-se: o carbono (fundamento dos compostos químicos orgânicos, por exemplo o petróleo), o ferro, o cobre, o urânio, o chumbo, o zinco, o alumínio, o ouro e a prata. Energia Constitui o recurso mais misterioso da natureza e está associado ao movimento. Em conjunto com a matéria, forma o mundo, o cosmo. A matéria é a substância; a energia, o móvel da substância, do universo. A matéria pesa, ocupa um lugar, pode ser vista, ouvida, apalpada; a energia não é vista, somente são vistos seus efeitos. Podemos ver cair uma pedra, mas não podemos ver a energia liberada para dar movimento a essa pedra. Podemos ver a lua e comprovar seus movimentos; entretanto, não podemos ver a energia, ou força, que faz com que a lua se mova. Portanto, a energia só pode ser definida em função de seus efeitos, como a capacidade de efetuar um trabalho. A energia manifesta-se de muitas formas em nossa vida diária. Assim temos: - a energia mecânica, que corresponde a de qualquer objeto em movimento; - a energia térmica ou do calor; - a energia radiante, que é a gerada pelo Sol e pelas estrelas, pelas ondas de rádio e por todo tipo de radiações; - a energia química, contida nos alimentos e nos combustíveis, como o petróleo; - a energia elétrica, que corresponde à eletricidade e aos imãs; e - a energia nuclear, que mantém unidas as partículas dos átomos. Uma particularidade da energia é que se pode transformar. Qualquer forma de energia pode ser convertida em outra. Um exemplo é o ciclo hidrológico: a água dos mares ou dos lagos 47 evapora-se e passa para a atmosfera graças ao calor produzido pela energia radiante proveniente do sol. O vapor condensa-se em forma de nuvens e cai como chuva, neve ou granizo nas montanhas. Ao escoar, a água move as turbinas de uma usina hidrelétrica, transformando a energia mecânica em corrente elétrica que, ao ser conduzida pelos
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