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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO ESPECIALIZAÇÃO latu sensu PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO EM BOVINOS PRINCIPAIS DOENÇAS INFECCIOSAS (BACTERIANAS E PROTOZOÁRIAS) QUE COMPROMETEM A REPRODUÇÃO DOS BOVINOS Vivian Maia Silveira Rio de Janeiro, out. 2006 VIVIAN MAIA SILVEIRA Aluna do Curso de Especialização latu sensu Produção e Reprodução em Bovinos PRINCIPAIS DOENÇAS INFECCIOSAS (BACTERIANAS E PROTOZOÁRIAS) QUE COMPROMETEM A REPRODUÇÃO DOS BOVINOS Trabalho monográfico de conclusão do curso de Especialização latu sensu Produção e Reprodução em Bovinos (TCC), apresentado à UCB como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Produção e Reprodução em Bovinos, sob a orientação do Prof. Msc. Athos de Assumpção Pastore. Rio de Janeiro, out. 2006 ii PRINCIPAIS DOENÇAS INFECCIOSAS (BACTERIANAS E PROTOZOÁRIAS) QUE COMPROMETEM A REPRODUÇÃO DOS BOVINOS Elaborado por Vivian Maia Silveira Aluna do Curso de Especialização latu sensu Produção e Reprodução em Bovinos Foi analisado e aprovado com grau: ................................... Piracicaba, ____ de _______________ de ______. ___________________________ Membro ___________________________ Membro ___________________________ Professor Orientador Presidente Rio de Janeiro, out. 2006 iii Dedico este trabalho aos meus pais e meu irmão, pelo apoio e incentivo. iv Agradecimentos A Deus. Meu caminho não foi fácil... Mas, Tu me encheste com esperança, dando-me força e vontade para construir uma nova estrada. E consegui... Muito obrigada por tudo àquilo que fui, que sou e que ainda serei. Aos meus familiares, pois a vitória também é de vocês. Aos professores, pela transmissão de conhecimento e experiência profissional. Ao meu orientador Prof. Athos de Assumpção Pastore, pela ajuda, atenção e amizade. Aos colegas de turma, pela cumplicidade. v “Se as cidades pegarem fogo, restarão os campos. Se os campos se incendiarem, as cidades morrerão de fome” Abraham Lincoln vi RESUMO SILVEIRA, Vivian Maia Principais doenças infecciosas (bacterianas e protozoárias) que comprometem a reprodução dos bovinos. O objetivo deste trabalho é ressaltar a importância das principais doenças infecciosas que comprometem a reprodução, e consequentemente, a produção de bovinos, como a brucelose, leptospirose, campilobacteriose genital bovina, micoplasmose, tricomonose e neosporose, causando grandes perdas econômicas na pecuária brasileira. Foi realizada uma revisão bibliográfica e analisadas publicações atuais com pesquisas recentes, ressaltando a importância da administração com um manejo sanitário eficiente, além da implantação das biotecnologias, para evitar a entrada e disseminação de enfermidades no rebanho. PALAVRAS-CHAVE: doenças infecciosas, manejo sanitário, reprodução, bovinos. ABSTRACT SILVEIRA, Vivian Maia Principal infections diseases (bacterial and protozoarias) that they compromise the reproduction of the bovines. This work goal is to show the importance of principal infections diseases that compromise the reproduction, and so, the bovines production, as Brucella spp., Leptospira spp., Campylobacter fetus spp. venerealis, Mycoplasma spp. and Ureaplasma diversum, Tritrichomonas foetus and Neospora caninum, causing great economic losts in brazilian pecuary. Was realized a bibliographic relecture and analyzed actual publications with new researches, shown the importance of administration to sanitary handling efficiency, beside the biotechnology implantation, to prevent the entrance and dissemination of diseases in the flock. KEY WORDS: infections diseases, sanitary handling, reproduction, bovines. vii SUMÁRIO Epígrafe………………………………………………………………………………….…v Resumo……………………………………………………………………………………vi Introdução………………………………………………………………………………….1 1. Brucelose………………………………………………………………………………3 1.1. Epidemiologia……………………………………………………………...4 1.2. Transmissão……………………………………………………………….5 1.3. Patogenia…………………………………………………………………..7 1.4. Achados Clínicos………………………………………………………….8 1.5. Achados Macroscópicos………………………………………………….9 1.6. Diagnóstico……………………………………………………………….10 1.7. Controle e Erradicação………………………………………………….11 2. Leptospirose…………………………………………………………………………13 2.1. Epidemiologia……………………………………………………………13 2.2. Transmissão……………………………………………………………...14 2.3. Patogenia…………………………………………………………………16 2.4. Achados Clínicos………………………………………………………...16 2.5. Achados Macroscópicos………………………………………………..17 2.6. Diagnóstico……………………………………………………………….18 2.7. Tratamento……………………………………………………………….19 2.8. Prevenção………………………………………………………………..19 3. Campilobacteriose Genital Bovina…………………………………………….21 3.1. Epidemiologia……………………………………………………………21 3.2. Transmissão……………………………………………………………...22 viii 3.3. Patogenia…………………………………………………………………23 3.4. Achados Clínicos………………………………………………………...23 3.5. Achados Macroscópicos………………………………………………..24 3.6. Diagnóstico……………………………………………………………….24 3.7. Tratamento……………………………………………………………….25 3.8. Prevenção………………………………………………………………..25 4. Micoplasmose……………………………………………………………………27 4.1. Epidemiologia……………………………………………………………28 4.2. Transmissão……………………………………………………………...28 4.3. Patogenia…………………………………………………………………29 4.4. Achados Clínicos………………………………………………………...30 4.5. Achados Macroscópicos………………………………………………..31 4.6. Diagnóstico……………………………………………………………….31 4.7. Tratamento……………………………………………………………….32 4.8. Prevenção………………………………………………………………..33 5. Tricomonose……………………………………………………………………..34 5.1. Epidemiologia…………………………………………………………….34 5.2. Transmissão……………………………………………………………...35 5.3. Patogenia…………………………………………………………………35 5.4. Achados Clínicos………………………………………………………...36 5.5. Achados Macroscópicos………………………………………………..36 5.6. Diagnóstico……………………………………………………………….37 5.7. Tratamento……………………………………………………………….37 5.8. Prevenção………………………………………………………………..38 ix 6. Neosporose………………………………………………………………………39 6.1. Epidemiologia…………………………………………………………….39 6.2. Transmissão……………………………………………………………...40 6.3. Patogenia…………………………………………………………………41 6.4. Diagnóstico……………………………………………………………….42 6.5. Prevenção e Controle…………………………………………………...43 Conclusão………………………………………………………………………………..45 Referência Bibliográfica………………………………………………………………...46 Anexos..........…………………………………………………………………………….49 1 INTRODUÇÃO A pecuária brasileira tem um significado econômico e social expressivo na vida nacional, sendo necessário ampliar e consolidar a sua participação no mercado internacional e interno. Com efeito, a tendência inicial em aumentar quantitativamente a produção vai cedendo espaço para a produtividade e a qualidade, atendendo aos padrões de competitividade e exigências atuais, produzindo alimentos inócuos para o consumidor cada vez mais exigente (DUTRA, 2006). Embora seja detentor do maior rebanho comercial de bovinos do mundoe maior exportador de carne bovina, os resultados obtidos pelo país no mercado internacional são significativamente inferiores aos dos nossos principais concorrentes e isto se deve principalmente à condição sanitária do rebanho brasileiro (DUTRA, 2006). O aumento das exportações brasileiras dos produtos de origem animal faz com que o combate das doenças que criam barreiras para a entrada de nossos produtos no mercado internacional seja fortemente intensificado (DIAS, 2005). Essa ampliação vem ocorrendo, principalmente, em relação ao comércio externo brasileiro de genética e produtos finais. Porém, várias doenças ainda podem comprometer essas negociações (CUIDADOS, 1997). Nos casos de falhas na reprodução, normalmente a fêmea é incriminada, mas, principalmente nos casos em que a transmissão da doença se 2 dá através da monta, os machos ocupam um lugar importante no controle dessas doenças (CUIDADOS, 1997). Nos prejuízos econômicos provocados pelo insucesso de cobertura, retorno ao cio ou falha na parição, indicados pela taxa de prenhez e natalidade, as doenças da reprodução possuem um peso importante. Portanto, um controle preventivo dos machos e fêmeas é de fundamental importância para se obter um maior índice de nascimento de bezerros e, conseqüentemente, uma maior rentabilidade na produção (DOENÇAS, 2005). Através de uma revisão bibliográfica, este trabalho apresenta informações e recomendações para o controle de algumas das principais doenças que comprometem a esfera reprodutiva, e consequentemente, a produção dos bovinos no país, como cuidados no manejo, prevenindo a disseminação de moléstias nas propriedades, através de vacinação, quarentena, exames, e o uso de biotecnologias. 3 1. BRUCELOSE A brucelose bovina é uma doença infecciosa dos animais e do homem (zoonoze), de relevância mundial, causada por Brucella abortus. É uma importante causa de abortos, acompanhada algumas vezes de infertilidade temporária ou permanente, causando grandes perdas econômicas (LOBATO & ASSIS, 2006). São reconhecidas hoje as seguintes espécies de brucelas e seus biovares: B. abortus (8 biovares), Brucella melitensis (3 biovares), Brucella suis (5 biovares), Brucella neotomae, Brucella canis, Brucella ovis (LOBATO & ASSIS, 2006). Aproximadamente 85% das infecções são causadas pelo tipo 1 de B. abortus, porém, segundo BLOOD & RADOSTITS (1991), a B. melitensis que causa brucelose em caprinos, é capaz de infectar a maioria das espécies de animais domésticos, e o número de animais infectados na população bovina parece estar aumentando nos países desenvolvidos. A Brucella abortus apresenta características muito interessantes que possibilitaram sua sobrevivência e disseminação ao longo das décadas em que esta doença é combatida. Uma destas características é a sua capacidade de sobreviver e multiplicar no interior de células especializadas em destruir agentes invasores no organismo, tais como os macrófagos (DIAS, 2005). 4 1.1. Epidemiologia A brucelose está amplamente disseminada e tem grande importância econômica em muitos países do mundo, particularmente entre bovinos leiteiros (BLOOD & RADOSTITS, 1991). As taxas de infecção são variáveis de um país para o outro e nas diferentes regiões, em especial em países de grande extensão territorial, tais como o Brasil (LOBATO & ASSIS, 2006). No Brasil, estudos mostram que a brucelose bovina parece estar disseminada por todo o território, com maior ou menor prevalência dependendo da região estudada. Os dados oficiais, publicados no Boletim de Defesa Sanitária Animal, mostram que a prevalência de animais positivos no Brasil se manteve entre 4% e 5% no período entre 1988 e 1998 (CURSO, 2004). Em relação à saúde humana, a doença é importante porque o agente etiológico pode causar a febre ondulante no homem. Em virtude da possibilidade de a infecção ocorrer pela ingestão do leite contaminado, é imprescindível que este seja pasteurizado. Todavia, em muitos casos, a doença é ocupacional, pois acomete fazendeiros, veterinários e açougueiros. O microorganismo pode ser isolado de vários órgãos, além do úbere e do útero, e a manipulação das carcaças de animais infectados pode representar uma exposição arriscada. A importância da enfermidade no ser humano justifica amplamente a sua erradicação. A maioria dos casos ocorre em pessoas que trabalham no processamento industrial de carne, enquanto outras fontes incluem 5 suínos e bovinos domésticos e os produtos lácteos não pasteurizados (BLOOD & RADOSTITS, 1991). As perdas com a produção animal, podem ser de grande importância, principalmente devido à queda na produção de leite nas vacas que abortam. A seqüela comum da infertilidade aumenta o período entre as lactações e, num rebanho infectado, o período médio entre os partos pode ser prolongado por muitos meses. Além dos prejuízos ocasionados pela diminuição da produção de leite, há perda de bezerros e interferência no programa de reprodução (BLOOD & RADOSTITS, 1991). A brucelose é uma enfermidade principalmente de fêmeas adultas e em gestação. As fêmeas não gestantes, machos e animais jovens são também suscetíveis, porém em menor grau. Estimativas mostram ser a brucelose responsável pela diminuição de 25% na produção de leite e de carne e pela redução de 15% na produção de bezerros. Mostram ainda que, em cada cinco vacas infectadas, uma aborta ou torna-se permanentemente estéril (CURSO, 2004). 1.2. Transmissão A infecção ocorre in útero e pode permanecer latente na bezerra no início da vida, que pode apresentar resultados sorológicos negativos, até que ocorra o primeiro parto, para depois, então, começar a abrigar o microrganismo (BLOOD & RADOSTITS, 1991). 6 A principal fonte de infecção é representada pela vaca prenhe, que elimina grandes quantidades do agente por ocasião do aborto ou parto e em todo o período puerperal (até, aproximadamente, 30 dias após o parto), contaminando pastagens, água, alimentos e fômites. Essas bactérias podem permanecer viáveis no meio ambiente por longos períodos, dependendo das condições de umidade, temperatura e sombreamento, ampliando de forma significativa a chance de o agente entrar em contato e infectar um novo indivíduo suscetível (CURSO, 2004). A principal via de infecção do patógeno é o trato gastrointestinal, sendo que a ingestão do material resultante de aborto, parto e descargas uterinas de animais infectados são as principais fontes disseminadoras do agente no rebanho. Depois de ingerida pelo bovino a Brucella abortus se aloja nos linfonodos regionais, sendo então disseminada para todo o organismo via circulação linfática. Sabe-se que, a Brucella abortus possui grande afinidade pela placenta. Nos trofoblastos, encontra condições favoráveis para sua multiplicação, principalmente no final da gestação, fase em que ocorrem os abortos causados pela brucelose (DIAS, 2005). Os touros, de um modo geral, não transmitem mecanicamente a infecção de uma vaca infectada para uma sadia. Os touros acometidos e que eliminam sêmen com o microrganismo provavelmente não transmitem doença, mas a chance da disseminação é muito grande se ele for utilizado para inseminação artificial (BLOOD & RADOSTITS, 1991). Segundo BRASIL (2004), na monta natural, o sêmen é depositado na vagina onde há defesas inespecíficas que dificultam o processo de infecção. 7 Entretanto, um touro infectado não pode ser utilizado como doador de sêmen; issoporque, na inseminação artificial, o sêmen é introduzido diretamente no útero, permitindo a infecção da fêmea com pequenas quantidades do agente, sendo por isso importante via de transmissão e eficiente forma de difusão da enfermidade dos plantéis. A principal forma de entrada da brucelose em uma propriedade é a introdução de animais infectados. Quanto maior a freqüência de introdução de animais, maior o risco de entrada da doença no rebanho. Por essa razão, deve-se evitar introduzir animais cuja condição sanitária é desconhecida. O ideal é que esses animais procedam de rebanhos livres ou, então, que sejam submetidos à rotina diagnóstica que lhes garanta a condição de não infectados (CURSO, 2004). 1.3. Patogenia A replicação inicial de B. abortus ocorre em linfonodos regionais. A bacteriemia é seguida pela colonização dos linfonodos supramamários, glândula mamária e útero gravídico. A infecção uterina ocorre durante o segundo trimestre. Na placenta, as bactérias surgem primeiramente nos fagossomos dos trofoblastos eritrofagocitários. A replicação ocorre no retículo endoplasmático rugoso dos trofoblastos corioalantóicos. A replicação preferencial nos trofoblastos corioalantóicos foi atribuída ao seu conteúdo de eritrol; contudo, as placentas de diversos roedores de laboratório não possuidores de eritrol detectável ainda sustentam a replicação de B. abortus. O microrganismo poderá ocorrer também nas células endoteliais placentárias fetais e lumens capilares, onde estará 8 associado à vasculite e à destruição das vilosidades coriônicas. A inflamação placentária se dissemina ao longo do alantocório, envolvendo cotilédones adicionais com ulceração corioalantóica, necrose dos trofoblastos e endometrite ulcerativa resultantes. A morte fetal resulta da ruptura placentária e endotoxemia. Frequentemente há retenção fetal durante 1 a 3 dias no útero. Numerosas bactérias são eliminadas pelo trato genital por ocasião do parto, mas tal eliminação comumente é interrompida por volta de 3 semanas após o abortamento (SMITH, 1994). O aborto ocorre principalmente nos últimos três meses de gestação e o período de incubação é inversamente proporcional a estágio de desenvolvimento do feto quando ocorre a infecção (BLOOD & RADOSTITS, 1991). Com o desenvolvimento de imunidade celular após o primeiro aborto, há uma diminuição do número e do tamanho das lesões de placentomas nas gestações subseqüentes. Com isso, o aborto torna-se infreqüente, aparecendo outras manifestações da doença, como, por exemplo, a retenção de placenta, a natimortalidade ou o nascimento de bezerros fracos (CURSO, 2004). 1.4. Achados Clínicos Os achados clínicos dependem do estado de imunidade do rebanho. Em um rebanho de vacas prenhes, não vacinadas e altamente suscetíveis, a característica principal da doença é o aborto após o quinto mês de gestação. Nas gestações subseqüentes, o feto em geral chega a termo, embora possa ocorrer 9 um segundo ou até terceiro aborto na mesma vaca (BLOOD & RADOSTITS, 1991). Entretanto, segundo CURSO (2004), em decorrência do desenvolvimento da imunidade celular, é pouco freqüente na segunda gestação após a infecção, e muito raro nas subseqüentes. A retenção de placenta e a metrite são as seqüelas comuns do aborto. As infecções mistas costumam ser a causa de metrites, que podem ser agudas, com septicemia seguida de morte, ou crônicas, levando à esterilidade (BLOOD & RADOSTITS, 1991). Nos touros, podem-se infectar as vesículas seminais, ampolas, testículos e epidídimos; portanto, os microrganismos encontram-se no sêmen. Podem-se mostrar aglutininas no plasma seminal de touros infectados. Também podem ocorrer abscessos testiculares. Em alguns bovinos, as infecções de longa duração podem resultar em artrites (MERCK, 2001). Os aspectos clínicos da brucelose são principalmente a queda da produção de leite, aumento da contagem de células somáticas no leite e redução de fertilidade. Uma característica que merece ser comentada é que nas regiões onde a brucelose é enzoótica, as vacas com mais de cinco anos de idade podem apresentar higromas (inflamação com produção de exsudato) nas articulações (DIAS, 2005). 1.5. Achados Macroscópicos Observam-se útero gestante com presença de exsudato fétido, amarelo-amarronzado e debris necróticos; placenta com placentomas necróticos 10 e/ou hemorrágicos, com cotilédones friáveis e de coloração amarelado e recobertos por exsudato amarronzado de odor fétido; fetos abortados edematosos, contendo líquido avermelhado no tecido subcutâneo e com ocorrência de pneumonia; nos touros orquite necrótica caracterizada por áreas de focais ou difusas de necrose com coloração amarelada e friável e as vezes calcificada (LOBATO & ASSIS, 2006). 1.6. Diagnóstico O diagnóstico da brucelose pode ser feito pela identificação do agente por métodos diretos, ou pela detecção de anticorpos contra B. abortus por métodos indiretos (CURSO, 2004). A escolha dos métodos sorológicos precisa levar em consideração o custo, o tamanho e as características da população sob vigilância, a situação epidemiológica da doença, a sensibilidade e a especificidade dos testes; e a utilização de vacinas (CURSO, 2004). A padronização dos métodos de diagnóstico é um dos importantes pontos instituídos pelo Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT). Como testes de rotina são aprovados os testes do antígeno acidificado tamponado (AAT) e o teste do anel em leite (TAL); como testes confirmatórios são aprovados o teste do 2-Mercaptoetanol (2-ME) e a fixação de complemento (FC). Os testes instituídos pelo PNCEBT são métodos sorológicos e a coleta de sangue para a sorologia apresenta um nível de risco inferior que a coleta de material para o diagnóstico direto. Para a coleta de 11 sangue recomenda-se utilizar tubos siliconizados, com vácuo e sem anticoagulante. Após a coleta, para que ocorra a coagulação, os tubos devem permanecer em temperatura ambiente e abrigados da luz solar, por aproximadamente uma hora. Após este período, os tubos podem ser colocados sob refrigeração. Posteriormente, o soro deve ser colocado em um frasco identificado e mantido sob refrigeração ou congelado (DIAS, 2005). Os programas de controle e erradicação utilizam testes em série, buscando adequar às características do exame, praticidade, custo e o estágio do programa de controle. Os testes de triagem geralmente são testes de alta sensibilidade. A sensibilidade de um teste é a probabilidade de um animal infectado ser classificado como positivo no teste. Desta forma, é possível ter uma visão geral do estado do rebanho com o teste inicial de triagem. Posteriormente, deve-se realizar uma prova confirmatória nos animais que apresentaram resultados positivos, evitando com isso, resultados falso-positivos do exame de triagem. Para que isso seja possível, as provas confirmatórias devem ser de alta especificidade. Especificidade é a probabilidade de um animal não infectado ser classificado como negativo no teste (DIAS, 2005). 1.7. Controle e Erradicação O controle da brucelose apóia-se basicamente em ações de vacinação massal de fêmeas, e diagnóstico e sacrifício dos animais positivos. São também muito importantes as medidas complementares, que visam diminuir a dose de desafio – caso ocorra a exposição – bem como é importante o controle 12 de trânsito para os animais de reprodução. Programas de desinfecção e utilização de piquetes de parição são iniciativas simples que trazem comoresultado a diminuição da quantidade de brucelas vivas presentes no ambiente. Isso representa diminuir a dose de desafio, o que, por sua vez, significa aumentar os índices de proteção da vacina e diminuir a chance de a bactéria infectar um novo suscetível (CURSO, 2004). Em resumo, inicialmente deve-se baixar a prevalência com um bom programa de vacinação e, ir aumentando as ações de diagnóstico para a obtenção de propriedades livres (CURSO, 2004). - Vacina B19: Utilização obrigatória em bezerras de três a oito meses de idade. Nas raças com puberdade precoce, como algumas raças européias, recomenda-se que as bezerras sejam vacinadas até os seis meses de idade. Esta prática visa minimizar a interferência no diagnóstico sorológico já na idade adulta. Destaca-se que a vacina não tem efeito curativo, não alterando o curso da doença em animais infectados. É sempre bom relembrar que os machos não devem ser vacinados (DIAS, 2005). - Vacina RB51 : Vacina aprovada pelo PNCEBT para utilização em animais com idade acima de oito meses de idade. É uma boa opção para rebanhos que possuam fêmeas adultas não vacinadas, ou nos casos de surtos da doença. Assim como a B19, a RB51 não tem efeito curativo, não deve ser utilizada nos machos e deve-se utilizar material de proteção ao manusear a vacina (DIAS, 2005). 13 2. LEPTOSPIROSE A leptospirose é uma doença de distribuição mundial, comum aos homens e aos animais domésticos. A leptospirose bovina é uma doença de grande importância, afetando profundamente os aspectos da produção, principalmente pela redução na produção de leite e baixa fertilidade, bem como àqueles relacionados à saúde pública. É causada pela espiroqueta Leptospira que, mediante afinidade antigênica e análise de DNA, está distribuída em mais de 200 sorovariedades (DIAS, 2001). Leptospira hardjo é o principal sorovar associado ao abortamento leptospiral bovino, embora também tenham sido relatados isolamentos de Leptospira pomona, L. canicola, L. icterohaemorrhagiae, L. grippotyphosa, e L. szwajizak (SMITH, 1994). 2.1. Epidemiologia Um estudo realizado por MADRUGA et al (1982), no estado de Mato Grosso do Sul revelaram uma prevalência de 74,3%, sendo que os sorotipos mais freqüentes foram L. hardjo, L. sejroe e L. wolffi. Embora a taxa de mortalidade seja baixa (5%) nos bovinos, a taxa de morbidade geralmente é alta, de acordo com as determinações clínicas e sorológicas, podendo atingir 100% dos animais contactantes. Em bezerros, a taxa de mortalidade é muito mais alta do que nos bovinos adultos. Uma alta taxa de 14 abortos (até de 30%) e perda da produção de leite são as maiores causas de perda, mas as mortes em bezerros também podem ser significativas (BLOOD & RADOSTITS, 1991). A transferência passiva de anticorpos para bezerros recém nascidos ocorre pelo colostro e os anticorpos persistem nos bezerros por dois a seis meses. Como medida da perda causada pela L. interrogans sorovariante hardjo em gado de corte, a percentagem de vacas sorologicamente positivas foi relacionada a proporção do rebanho que tem falha de lactação; há uma perda significativamente maior nas vacas reagentes. O alto índice de soroprevalência para a L. interrogans sorovariante pomona está relacionado à baixa umidade relativa, um tipo particular de solo e a presença de porcos selvagens. Para a L. interrogans sorovariante hardjo, os determinantes etiológicos são uma série particular de tipos de solo e a presença de outros bovinos (BLOOD & RADOSTITS, 1991). 2.2. Transmissão Como é comum na maioria das doenças infecciosas, a dinâmica da infecção está diretamente relacionada às condições epidemiológicas e, no caso da leptospirose, depende principalmente dos fatores climáticos, da população de animais silvestres e da população bovina suscetível (MADRUGA, 1982). A fonte de infecção geralmente é um animal infectado que contamina o pasto, bebendo água e se alimentando, pela urina infectada, por 15 fetos abortados e corrimentos uterinos infectados. Um feto viável infectado pode transportar a infecção por um tempo prolongado como sete semanas após o nascimento. O sêmen de um touro infectado pode albergar leptospiras e a transmissão de tal touro para novilhas pelo coito e por inseminação artificial foi observada (BLOOD & RADOSTITS, 1991). Na leptospirose, os machos e fêmeas são igualmente suscetíveis. Os roedores são portadores assintomáticos da doença, sendo importantes veiculadores da doença em áreas livres (DIAS, 2001). A entrada do microrganismo no corpo ocorre mais provavelmente por abrasões cutâneas ou na mucosa. A transmissão transplacentária não é comum, mas a infecção neonatal, provavelmente contraída in útero, foi registrada. A contaminação do ambiente e a capacidade do microrganismo de sobreviver por longos períodos sob condições favoráveis de umidade leva à alta incidência da doença em pastos intensamente irrigados, em áreas com elevadas precipitações pluviométricas e climas temperados (BLOOD & RADOSTITS, 1991). Anticorpos de L. interrogans sorovariante hardjo possuem uma alta prevalência em áreas chuvosa, mas a L. interrogans sorovariante pomona é muito mais comum em áreas com baixas precipitações pluviométricas (BLOOD & RADOSTITS, 1991). Os tecidos abortados são infecciosos para pessoas, devendo ser manipulados com cuidado (SMITH, 1994). 16 2.3. Patogenia Nos bovinos, alguns surtos com quadros agudos estão associados à infecção pelos sorotipos produtores de hemolisina, causando nefrite intersticial, como pomona, grippotyphosa, icterohaemorrhagiae e autumnalis, ao contrário do sorotipo hardjo, cuja infecção geralmente leva a quadros subclínicos causando, todavia, abortos. A L. hardjo causa abortamentos entre os 4 meses de gestação até o termo. Já a L. pomona, causa o abortamento nos últimos 3 meses de gestação (DIAS, 2001). Segundo BLOOD & RADOSTITS (1991), a L. hardjo é capaz de crescer só no útero prenhe e na glândula mamária lactante, de forma que produz septicemia e então mastite e/ou aborto. 2.4. Achados Clínicos A leptospirose em bovinos pode aparecer como formas: aguda, subaguda ou crônica e geralmente é causada pela L. interrogans sorovariante pomona ou hardjo (BLOOD & RADOSTITS, 1991). Os bezerros podem apresentar febre súbita (40,5 a 41°C), anorexia e dispnéia e, no caso das infecções pelo sorovar pomona, também icterícia que diminui rapidamente e é seguida por anemia e hemoglobinúria, que raramente dura mais que 48 a 72 horas. A morbidade e a mortalidade são mais altas nos bezerros do que nos bovinos adultos (MERCK, 2001). 17 As infecções enzoóticas pelo sorovar hardjo, que geralmente resultam em produção láctea anormal, ficam mais óbvias nos bovinos leiteiros do que nos de corte. Os sinais, em geral, restringem-se a diminuição na produção láctea e na produção de bezerros; não há crise hemolítica. O leite fica espesso, amarelo e sanguinolento; ele pode conter coágulos, embora existam poucas evidências de inflamação mamária. A produção láctea retorna ao normal em 10 a 14 dias, mesmo na ausência de tratamento. Os abortos e natimortos, comuns nas infecções pelo sorovar pomona e esporádicos nas infecções pelo sorovar hardjo geralmente ocorrem 3 a 10 semanas depois da infecção inicial. Os abortos são mais comuns durante o terceiro trimestre. Os bezerros criados por vacas anteriormente infectadas ficam protegidos por anticorpos colostrais por até 6 meses (MERCK, 2001). 2.5. Achados MacroscópicosNa forma aguda, ficam proeminentes anemia, icterícia, hemoglobinúria e hemorragias submucosas. Os rins incham, com hemorragias petequiais e equimóticas multifocais, que ficam pálidas com o tempo. O fígado pode inchar, com áreas diminutas de necrose focal. Nos casos fulminantes, observam-se petéquias nos outros órgãos; no entanto, nas infecções mais prevalentes pelo sorovar hardjo, as lesões se restringem primariamente aos rins (MERCK, 2001). O feto abortado está comumente autolisado, ictérico e edematoso. Também pode estar evidenciado pneumonia e placentite (SMITH, 1994). 18 2.6. Diagnóstico O diagnóstico positivo de leptospirose em um animal individualmente é quase sempre difícil por causa da variação na natureza da doença, da rapidez com que o microrganismo morre em espécimes uma vez colhidos e de seu aspecto transitório nos vários tecidos (BLOOD & RADOSTITS, 1991). Em estudos realizados no país (MADRUGA et al, 1982; DIAS, 2001), o meio diagnóstico mais comumente utilizado é o sorológico de leptospirose pelo teste de soroaglutinação microscópica, identificando além dos animais reagentes, os diferentes sorotipos da Leptospira. As alterações macroscópicas no leite, na ausência de uma inflamação mamária, sugerem leptospirose. De modo semelhante, a eliminação de brucelose, campilobacteriose e tricomoníase como causas de surtos de abortos sugere leptospirose (MERCK, 2001). As formas aguda e subaguda precisam ser diferenciadas de babesiose, anaplasmose, envenenamento por nabo e couve, hemoglobinúria pós- parto, hemoglobinúria bacilar e anemia hemolítica aguda que ocorre em bezerros após a ingestão de grandes quantidades de água (BLOOD & RADOSTITS, 1991). É importante o diagnóstico laboratorial para a identificação dos sorovares que estão sendo responsáveis pela infecção do rebanho, no sentido de se optar por uma vacina para o controle do sorovar identificado, causando uma proteção específica (CUIDADOS, 1997). 19 2.7. Tratamento São descritos o uso de estreptomicina (BLOOD & RADOSTITS, 1991; SMITH, 1994) e de oxitetracilcinas (MERCK, 2001; SMITH, 1994), com êxito se administradas cedo, visando impedir a disseminação da leptospirose entre os animais. O manejo dos rebanhos infectados merece uma consideração especial. Quando se diagnostica leptospirose em vacas de corte prenhes durante a fase epizoótica inicial, podem-se evitar abortos adicionais por meio de vacinação imediata do rebanho inteiro e tratamento simultâneo de todos os animais com antibióticos apropriados. A antibiótico reduz o número de leptospiras nos rins e nos outros tecidos, pelo menos durante o tratamento, e proporciona uma medida de proteção até que se induza a imunidade por vacinação. Nos rebanhos leiteiros, geralmente só se tratam com antibióticos os animais doentes, pois se deve considerar a perda de leite comercializável depois do tratamento (MERCK, 2001). 2.8. Prevenção Segundo DIAS (2001), destaca-se para o controle desta doença uma série de medidas profiláticas, dentre elas: vacinação sistemática de todos os animais do plantes com bacterinas contendo os sorotipos predominantes na região, com intervalos de 6 a 12 meses (de acordo com a recomendação do técnico ou fabricante); controle dos roedores; evitar o contato de suínos e água 20 contaminada; colocação de cercas ao redor de águas paradas e lamacentas; adoção de medidas higiênico-sanitárias das instalações; fetos abortados e placentas deverão ser removidos dos piquetes/instalação; utilização de quarentena e exames laboratoriais para animais recém-adquiridos antes de sua introdução; utilização de touros e semens livres da doença; e tratamento de animais portadores, visando impedir a disseminação entre os animais. 21 3. CAMPILOBACTERIOSE GENITAL BOVINA A campilobacteriose genital bovina é uma doença venérea dos bovinos caracterizada, primariamente, por morte embrionária inicial, infertilidade, estação de parto prolongada e, ocasionalmente, aborto (MERCK, 2001). É causada pela bactéria Campylobacter fetus subsp. venerealis, agente que assume grande importância à pecuária de corte ao interferir no intervalo entre partos, índice reprodutivo de um rebanho que se reflete diretamente na viabilidade de produção. As perdas econômicas decorrentes da doença são representadas por descarte e necessidade de reposição de animais inférteis (as fêmeas repetidoras de cio, que abortam constantemente e os touros contaminados), custo do sêmen, queda na produção de bezerros devido à reabsorção embrionária e abortamentos e, principalmente, grande redução na produção de leite pelo alongamento do intervalo entre partos (PELLEGRIN, 2002). 3.1. Epidemiologia A campilobacteriose é uma doença de distribuição mundial. Entrou no cenário da pecuária nacional em 1956 (PELLEGRIN, 2002). Campylobacter fetus subsp. venerealis, é microrganismo onipresente. A transmissão venérea de touros infectados para novilhas se aproxima dos 100%. É menos provável que as vacas sofram infertilidade, comparativamente às novilhas, porque as vacas formam imunidade. Raramente a 22 percentagem de abortos excederá os 10% (SMITH, 1994). Segundo PELLEGRIN (2002), a taxa de prenhez das fêmeas infectadas pode estar em torno de 20%, e o aborto ocorre em torno do 5° mês de gestação. Segundo STYNEN & NETA (2006), a doença tem sido relatada em vários Estados do país, com freqüências que variam de 3,5% a 66,9%. A campilobacteriose genital bovina é uma doença de apresentação geralmente subclínica e pouco perceptível no rebanho, principalmente se não há um bom controle zootécnico, pois muitas vezes as repetições de cio não são observadas, e quando se suspeita da doença no rebanho as perdas já são grandes (STYNEN & NETA, 2006). 3.2. Transmissão A entrada da campilobacteriose em um rebanho quase sempre ocorre pela aquisição e introdução de animais infectados, geralmente touros. O touro infectado transmite o C. fetus subsp. venerealis às fêmeas susceptíveis, e vice-versa, durante o coito. Além da transmissão venérea, a doença pode ser transmitida por sêmen contaminado, e de forma mecânica, pela atividade homossexual de touros confinados em alta densidade (STYNEN & NETA, 2006). Segundo PELLEGRIN (2002), uma prática muito comum na pecuária leiteira nacional, que representa um potencial risco para a transmissão da campilobacteriose genital bovina em rebanhos onde se utiliza a inseminação é o chamado touro de repasse, que serve quase a totalidade de fêmeas que retornam ao cio depois da 2ª ou 3ª inseminação. 23 A fêmea pode também permanecer portadora, por deficiência da resposta imune ou por variação antigênica da amostra infectante, não conseguem eliminar o agente da vagina, tornado-se portadoras e disseminadoras da doença. A maioria das fêmeas consegue eliminar a infecção após três cios sem cobertura (STYNEN & NETA, 2006). 3.3. Patogenia Aproximadamente uma semana após a infecção vaginal, o microrganismo se estabelece no útero, causando endometrite mucopurulenta, que persiste por 3 a 4 meses. A infecção intra-uterina impede a concepção ou provoca a morte embrionária, e as novilhas infectadas tipicamente retornam ao estro por volta de quarenta dias após. Menos comumente, ocorrem abortamentos até 8 meses após a gestação (SMITH, 1994). 3.4. Achados Clínicos As vacas permanecem sistemicamente normais, mas ocorre um grau variávelde endometrite mucopurulenta que causa morte embrionária precoce, fases luteais prolongadas, ciclos estrais irregulares, repetição de acasalamento e, como resultado disso, períodos de parto prolongados e abortos esporádicos (MERCK, 2001). Além disso podem causar infertilidade temporária ou permanente em algumas vacas (STYNEN & NETA, 2006). 24 Os touros permanecem assintomáticos e produzem sêmen normal (MERCK, 2001). 3.5. Achados Macroscópicos Segundo SMITH (1994), a autólise é mínima e os pulmões do feto a termo podem estar parcialmente insuflados. Desidratação, serosite fibrinosa e placentite necrosante podem estar macroscopicamente evidentes. 3.6. Diagnóstico O diagnóstico baseia-se na demonstração ou isolamento do microrganismo. Para o diagnóstico da campilobacteriose genital bovina realizado em nosso país têm sido utilizados basicamente dois métodos: o isolamento e IFD (imunofluorescência direta), prioritariamente para diagnóstico individual de touros infectados. Para a detecção de fêmeas infectadas pelo C. fetus, alguns laboratórios de diagnóstico também utilizam a mucoaglutinação que detecta aglutininas anti-C. fetus em muco vaginal, muito utilizado para diagnóstico de rebanhos, não servindo para detectar individualmente portadores (PELLEGRIN, 2002). Para todos os métodos, a sensibilidade do diagnóstico está diretamente relacionada ao método e freqüência de coleta e principalmente ao acondicionamento e transporte do material, sendo que coletas repetidas no mesmo animal diminuem a probabilidade de um resultado falso-negativo, 25 enfatizando o repouso sexual dos touros antes e durante o intervalo entre as coletas e a freqüência das coletas (PELLEGRIN, 2002). 3.7. Tratamento Segundo SMITH (1994), as vacas infectadas comumente recuperam-se espontaneamente dentro de 5 meses, resistindo à reinfecção. A recuperação é acelerada por infusões intra-uterinas de estreptomicina e penicilina. A infertilidade poderá ser permanente, se a endometrite ou a salpingite forem graves. A infecção também pode ser eliminada nos touros por meio de um tratamento com estreptomicina juntamente com estreptomicina em suspensão de base oleosa aplicados no pênis, por 3 dias consecutivos (MERCK, 2001). Porém, segundo PELLEGRIN (2002), o tratamento para a campilobacteriose genital bovina não tem sido utilizado com muita freqüência. Trabalhos recentes recomendam a utilização do ipronidazole associado à penicilina procaína, o dimetridazole, a triplaflavina e acriflavina. 3.8. Prevenção As principais formas de controle da campilobacteriose genital bovina são: a utilização da inseminação artificial, a segregação dos animais jovens livres da doença e a introdução de um programa de vacinação. Lembrando que a utilização do touro de repasse retirará os efeitos benéficos da inseminação 26 artificial no controle da doença, contribuindo para a manutenção da doença no rebanho (STYNEN & NETA, 2006). Outra estratégia utilizada com a finalidade de eliminar a infecção pelo C. fetus subsp. venerealis do rebanho é o repouso sexual das fêmeas por 3- 4 ciclos. Isso possibilita que o sistema imune tenha tempos de produzir anticorpos específicos antes de nova infecção, entretanto, algumas fêmeas portadoras podem manter a infecção por vários meses, não sendo um método muito eficaz (PELLEGRIN, 2002). A vacinação tem se mostrado muito eficaz na prevenção das repetições de cio e dos abortos causados pelo C. fetus subsp. venerealis. A literatura mostra que em fêmeas infectadas, a vacinação possui também um caráter curativo, proporcionando assim um melhor controle da doença (STYNEN & NETA, 2006). Segundo MERCK (2001), os touros devem ser vacinados pela mesma razão (ou seja, para tratamento bem como para profilaxia), mas devem receber o dobro da dose utilizada para as vacas, com um intervalo de 3 semanas, mas STYNEN & NETA (2006) afirmam que a vacinação em touros como forma preventiva e curativa ainda é controversa. Todos os animais do rebanho em idade reprodutiva devem ser vacinados 30 a 60 dias antes da cobertura. Animais primovacinados, dependendo do tipo de adjuvante utilizado na vacina, devem receber duas doses da vacina com 30 dias de intervalo entre as doses. A revacinação deve ser anual com dose única (STYNEN & NETA, 2006). 27 4. MICOPLASMOSE Estudos recentes tem apresentado resultados indicativos de que as micoplasmoses estão presentes na rotina dos veterinários de campo brasileiros e podem estar acarretando perdas econômicas significativas aos produtores rurais (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004). CARDOSOS & VASCONCELLOS (2004), explicam que as doenças desencadeadas por Mycoplasma spp. e Ureaplasma diversum são conhecidas genericamente por micoplasmoses. Os isolamentos de Mycoplasma do trato genital bovino foram principalmente: Mycoplasma bovigenitalium e M. bovis , sendo que esta última provavelmente é a causa mais importante de abortamento (SMITH, 1994). Os fatores mais importantes que desencadeiam perdas econômicas devido à presença de micoplasmas e ureaplasmas em propriedades agropecuárias são: diminuição do número de gestações, ocorrência de perdas fetais ou partos prematuros com conseqüente diminuição do número de serviços por animal, perdas na qualidade do sêmen e aumento dos custos com veterinários e drogas para tratamento das infecções (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004). 28 4.1. Epidemiologia Mycoplasma spp. é microrganismo onipresente, mas os abortamentos micoplásmicos na são comumente documentados (SMITH, 1994). As micoplasmoses resultam em quadro sintomatológico semelhante a brucelose, leptospirose, campilobacteriose e tricomoníase (mais frequentemente associadas à distúrbios reprodutivos), além de constar da Lista B da OIE como doenças suscetíveis de serem transmitidas pela inseminação artificial (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004). A Mycoplasma bovis foi isolada pela primeira vez no Brasil em 1978 por Rossini, no Estado de São Paulo, entretanto a Ureaplasma diversum teve seu registro bem mais recente no Brasil, por Cardoso em 1997 (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004). 4.2. Transmissão A transmissão pode ocorrer através do uso de sêmen contaminado nos processos de inseminação artificial e transferência de embriões, e uma contaminação maciça do sêmen congelado pode afetar a fertilidade, pois nesses métodos os microrganismos patogênicos não tem que atravessar a mucosa vaginal ou cervical, que agem como barreiras para bactérias, sendo introduzidos diretamente no útero. A transmissão placentária de Mycoplasma já foi descrita (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004). 29 A transmissão venérea poderá ser a via natural da infecção (SMITH, 1994), onde touros infectados disseminam os agentes através da monta natural. As vias de eliminação de micoplasmas e ureaplasmas são secreções orgânicas, especialmente sêmen, mucos prepucial e vaginal, secreção conjuntival e leite (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004), e ainda através da urina (DOENÇAS, 2005). 4.3. Patogenia As micoplasmoses ocorrem predominantemente na cavidade oral, tratos respiratório e urogenital de várias espécies animais e de humanos. Um dos mecanismos de patogenicidade de micoplasmas e ureaplasmas é o alto grau de especificidade e capacidade de aderência às células do hospedeiro, modificam rapidamente a natureza e estrutura dos componentes de sua membrana de superfície, característica esta, que lhes confere resistência à tentativa dedestruição pelos sistemas de defesa do hospedeiro com preferência pelas células que revestem as cavidades serosas, articulações e membranas dos sistemas respiratório digestivo e urogenital. Segundo CARDOSO & VASCONCELLOS (2004), além desta característica de resistência, sabe-se que o exsudato fibrinoso presente nas infecções os protege da ação dos anticorpos e das drogas antimicrobianas, permitindo a instalação e manutenção da doença, que muitas vezes torna-se crônica. DIAS (2002), explica que a virulência da cepa do Ureaplasma diversum, o grau de resistência do animal e o número de prévias exposições ao 30 organismo determinam a probabilidade da ocorrência da enfermidade. As novilhas em fase reprodutiva são os animais com maior risco de contraírem a infecção. A infecção natural com o Ureaplasma não confere proteção contra possíveis reinfecções, por isso mesmo, após a eliminação deste microrganismo do útero, podem ocorrer infecções subseqüentes. A aderência dos microrganismos interfere na espermatogênese, transporte espermático, capacitação e fecundação. Além disso, espermatozóides podem atuar como vetores na transmissão dos agentes, já que os antibióticos rotineiramente utilizados nas centrais de inseminação não agem sobre micoplasmas e ureaplasmas (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004). 4.4. Achados Clínicos Mycoplasma bovis é reconhecido patógeno e causa endometrite, salpingite, ooforite, abortamento e vesiculite seminal, além de ser importante agente de mastite, artrite e pneumonia. Em novilhas inseminadas com sêmen contaminado pelo agente foram observados episódios de repetição de cio (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004). Mycoplasma bovigenitalium causa infertilidade, endometrite necrosante, vesiculite seminal e problemas na motilidade espermática. Nas fêmeas as infecções genitais são caracterizadas por vulvovaginite granular, com descarga vaginal mucopurulenta, podendo ou não apresentar infertilidade. Mastite e abortamento também são relatados (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004). 31 Ureaplasma diversum está associado à infertilidade com repetição de cio, à vulvite granular com descarga mucopurulenta, à endometrite, à salpingite, ao aborto e ao nascimento prematuro. Na vulvite granular os nódulos aparecem na vulva de um a cinco dias após a infecção, e persistem por vários meses. No início, são cinzas ou avermelhados com um a dois milímetros de diâmetro, e, com o tempo, tornam-se pequenos e translúcidos. Observa-se ainda hiperemia na vulva. Os casos de aborto ocorrem principalmente no terço final de gestação (DIAS, 2002). 4.5. Achados Macroscópicos Nos casos de aborto são evidenciados placentite crônica e pneumonia no feto (DIAS, 2002). Segundo SMITH (1994), pode-se observar espessamento das membranas placentárias com focos de hemorragia e exsudato fibrinoso nas infecções por Ureaplasma diversum. 4.6. Diagnóstico Os métodos diagnóstico mais utilizados para a detecção de Mycoplasma spp. e U. diversum são as técnicas de isolamento e identificação sorológica das estirpes isoladas (Imunoperoxidase, Imunofluorescência e ELISA), no entanto, são demorados, de difícil padronização e dispendiosos. As técnicas moleculares, como o PCR, tem sido um grande avanço, pois além de detectarem estirpes inviáveis para o isolamento, requerem pequenas quantidades de DNA 32 presentes na amostra clínica a ser analisada e em menor tempo (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004). O isolamento pode ser feito através do trato genital, leite, placenta ou feto abortado (SMITH, 1994). 4.7. Tratamento Diferentes combinações de antibióticos foram testadas, e a associação de lincomicina, espectinomicina, tilosina e gentamicina adicionados ao sêmen fresco e também a diluidores tendo o leite não glicerinado como base, em gema de ovo, foi capaz de controlar M. bovis, M. bovigenitalium e Ureaplasma spp (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004). DIAS (2002), relata o uso de infusão intrauterina após inseminação (IPI), nos casos de Ureaplasma diversum. Este tratamento busca melhorar as condições do ambiente uterino. O tratamento deve ser realizado 24 horas após a inseminação, e os antibióticos não irritantes de escolha são a tetraciclina e a gentamicina (1 grama/infusão). Casos crônicos, com lesões do endométrio e oviduto, podem não responder ao tratamento devido ao caráter irreversível das lesões. Em touros, foi relatado descanso sexual e lavados prepuciais, com a intenção de diminuir a possibilidade de transmissão de micoplasmas e ureaplasmas e de melhorar as condições de fertilidade, entretanto não é conhecido um tratamento efetivo para eliminar o estado de portador em touros (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004). 33 4.8. Prevenção A ausência de recursos imunoprofiláticos efetivos contra as micoplasmoses genitais, determina que o controle destas enfermidades dependa de medidas de higiene e de procedimento sanitários, incluindo-se a segregação de animais infectados, uso de pipetas e ou de preservativos de inseminação duplos (CARDOSO & VASCONCELLOS, 2004), além de minimizar o contato com a vulva durante a inseminação artificial, transferência de embriões e nas infusões intrauterinas (DIAS, 2002). 34 5. TRICOMONOSE A tricomonose é uma infecção venérea de bovinos, causada pelo protozoário flagelado Tritrichomonas foetus (SMITH,1994). Seu habitat é o trato genital de bovinos sendo transmitido do macho para a fêmea através da monta ou pelo uso de sêmen contaminado, tendo como principais manifestações clínicas a repetição de cios a intervalos irregulares e o aborto, com maior freqüência até os cinco meses de gestação (PELLEGRIN & LEITE, 2003). Sua distribuição é, provavelmente, mundial (MERCK, 2001). 5.1. Epidemiologia O touro é o portador assintomático, não sofrendo a infecção nem adquirindo naturalmente imunidade contra a mesma. Os touros mais velhos tem maior risco de adquirirem a doença e manterem-se portadores permanentes uma vez que com a idade, aumenta a profundidade das criptas prepuciais, local na mucosa onde o parasito tem o seu nicho ecológico (PELLEGRIN & LEITE, 2003). Quando se acasalam vacas naturalmente com touros infectados, 30 a 90% delas se infectam, sugerindo que existem diferenças de cepas. Também pode existir variação na suscetibilidade racial à tricomonose (MERCK, 2001). A maioria das fêmeas infectadas podem assim permanecer por 95 dias até 300 dias com o parasita e nesse período continuar transmitindo o T. foetus aos touros pelos quais forem cobertas. No entanto, há registros de fêmeas 35 que mantém o parasita durante toda a prenhez, com o nascimento de bezerros normais (PELLEGRIN & LEITE, 2003). Segundo BLOOD & RADOSTITS (1991), a taxa de abortos causados pelo T. foetus é moderada, de 5 a 30 %. 5.2. Transmissão A transmissão da tricomonose ocorre venereamente por touros infectados a vacas, ou vice-versa (SMITH, 1994). PELLEGRIN & LEITE (2003), explicam que o parasito é transmitido do touro infectado para a fêmea susceptível durante a cópula. A transmissão mecânica durante a inseminação é rara bem como a utilização de sêmen contaminado, ainda que possível. 5.3. Patogenia No touro, a infecção fica confinada a cavidade prepucial e eventualmente ao orifício uretral (PELLEGRIN & LEITE, 2003). O T. foetus coloniza a vagina, cérvix, útero e ovidutos (SMITH, 1994). O T. foetus causa uma vaginite moderada com o aparecimento, eventualmente,de polimorfonucleares, macrófagos, linfócitos e um pequeno número de células plasmáticas. A imunidade da fêmea está baseada na produção 36 de IgA e IgG1, já a partir da 5ª semana, na mucosa vaginal, período em que ocorre a morte e reabsorção embrionária (PELLEGRIN & LEITE, 2003). 5.4. Achados Clínicos A infecção pelo T. foetus no macho é assintomática, não apresentando este nenhuma manifestação clínica da doença, passa desapercebida, pois não apresenta sintomatologia clínica (PELLEGRIN & LEITE, 2003; DOENÇAS, 2005). Nas fêmeas ocorre aborto, infertilidade, morte embrionária, aumento do intervalo entre partos, vaginite endometrite e piometra (inflamação uterina) (DOENÇAS, 2005). PELLEGRIN & LEITE (2003) ainda citam cervicite e feto macerado, e relatam que os abortamentos ocorrem na fase inicial, até os cinco meses. 5.5. Achados Macroscópicos O achado macroscópico mais significativo na infecção por T. foetus é a placentite na fêmea. Não há lesões macroscópicas específicas no feto abortado (SMITH, 1994). 37 5.6. Diagnóstico O diagnóstico da tricomonose bovina baseia-se no isolamento e identificação do T. foetus em lavado prepucial ou esmegma prepucial nos machos, com uma sensibilidade de 80% a 90%, e de muco vaginal nas fêmeas, com uma sensibilidade de 60%, ou em fetos abortados e suas membranas fetais (SMITH, 1994). 5.7. Tratamento O tratamento se justifica principalmente quando são utilizados touros de elevado valor zootécnico, mas não é indicado para grande número de animais ou para uso indiscriminado em um rebanho (PELLEGRIN & LEITE, 2003). O dimetridazol por via oral (PELLEGRIN & LEITE, 2003; SMITH, 1994), é altamente eficaz, porém são necessários 5 dias de tratamento a um elevado custo. Segundo SMITH (1994), este agente provoca anorexia e perda de peso temporária. Foi utilizada uma associação de penicilina procaína por via intramuscular com ipronidazole, em dose única, com uma eficiência de 92,8%, ou dividida em 3 doses, 3 dias consecutivos, com 100% de eficiência (PELLEGRIN & LEITE, 2003). MERCK (2001), mostra que pode eliminar, seguramente, T. foetus do sêmen com o dimetridazol. 38 5.8. Prevenção PELLEGRIN & LEITE (2003) enfatizam que vários métodos podem ser utilizados para o controle da tricomonose em rebanhos, sendo todos baseados na segregação de touros e fêmeas positivos. Descarte periódico de touros com idade acima de 5 anos e introdução de touros jovens testados, efetuar teste (cultura) dos touros duas semanas antes da estação de monta e após seu término, repouso sexual das fêmeas por, no mínimo, três ciclos consecutivos, descarte de touros e fêmeas positivos e fêmeas que falharem na concepção, abortarem ou apresentarem piometra, só adquirir novilhas, evitar utilização de pastagens comuns, pois outros bovinos ali presentes podem estar contaminados, e vacinação (PELLEGRIN & LEITE, 2003). MERCK (2001) ainda cita o isolamento das vacas com mais de 5 meses de prenhez, pois a maior parte delas não se encontrará infectada. A vacinação pode ser uma alternativa complementar para o controle. Os anticorpos produzidos contra T. foetus têm habilidade de inibirem sua aderência, provocarem aglutinação e lise mediada pelo complemento e facilitarem a fagocitose pelos monócitos (PELLEGRIN & LEITE, 2003). 39 6. NEOSPOROSE A neosporose é causada pelo protozoário Neospora caninum, um parasito que tem como hospedeiro definitivo o cão, mas com importante atuação na infecção de bovinos, causando perdas embrionárias, abortamentos e, em menor freqüência, quadros de alterações nervosas (NETA & JUNIOR, 2006). O Neospora caninum é considerado um agente de prioridade de estudo em reprodução animal em todo o mundo, pelos distúrbios reprodutivos que afetam os bovinos (SARTOR et al, 2005). A importância econômica da neosporose era discutida apenas nos rebanhos leiteiros, no entanto devido às perdas causadas na bovinocultura de corte, tem-se debatido o impacto da presença da doença no rebanho para que possam ser buscadas estratégias de controle. As manifestações da doença determinam uma redução direta da produção além do aumento de custos ao produtor, relacionados com diagnóstico, serviço veterinário e medicação. A neosporose embora emergente e ainda pouco conhecida, já figura com relevante impacto econômico para a pecuária de corte (NETA & JUNIOR, 2006). 6.1. Epidemiologia Até a descoberta do Neospora caninum por Dubey em 1988, muitos abortos bovinos permaneceram sem diagnóstico por não estarem associados a outras causas reprodutivas até então conhecidas (NETA & JUNIOR, 2006). 40 ANDREOTTI (2001), explica que anticorpos contra Neospora caninum podem ser encontrados na maioria dos rebanhos, independente do clima e da região geográfica, embora pareçam ser mais proeminentes nos Estados Unidos onde estudos indicam que 60% dos rebanhos de corte e 75% dos rebanhos leiteiros tem pelo menos um animal positivo para anticorpos contra N. caninum, Canadá e em alguns países do oeste europeu. A ocorrência da neosporose pode variar com o tipo de exploração, manejo dos rebanhos e a presença de hospedeiros definitivos. No Brasil estudos mostram uma maior ocorrência de anticorpos em rebanhos leiteiros (35,9%), quando comparados aos de corte (17,9%), mas alguns autores apontam semelhança nas taxas, onde constataram 15,9% em rebanhos leiteiros e 15,5% em rebanhos de corte na mesma região (SARTOR et al, 2005). 6.2. Transmissão A difusão do N. caninum pode ocorrer pela transmissão horizontal,, onde os cães e, mais recentemente, os coiotes foram descobertos como hospedeiros definitivos, sendo os primeiros também hospedeiros intermediários, infectando-se com seus próprios oocistos eliminados pelas fezes. Outra via de transmissão é a vertical, que assume papel primordial na manutenção da doença, pelo fato da maioria das infecções congênitas resultar em bezerros clinicamente normais, porém persistentemente infectados (SARTOR et al, 2005). ANDREOTTI (2001), explica que um grande número de infecções fetais resulta em nascimento de bezerros normais, com infecção latente que é 41 mantida e, consequentemente, passada para os seus futuros fetos. Isso significa que a N. caninum pode ser passada de geração a geração, em bovinos, sem passar pelo hospedeiro definitivo. 6.3. Patogenia Várias espécies (bovinos, caninos, caprinos, ovinos, eqüinos e cervídeos) podem servir como hospedeiro intermediário, com bradizoitos (estágio latente) presentes nos cistos. Ao se alimentar da carcaça do hospedeiro intermediário, o hospedeiro definitivo desenvolve uma infecção intestinal. O parasito, sob reprodução sexuada, reproduz-se no intestino e posteriormente, seus ovos (oocistos) são levados ao ambiente pelas fezes. Após a ingestão dos oocistos esporulados, pelo hospedeiro intermediário, os esporozoitos desencistam-se e invadem os tecidos desenvolvendo uma infecção sistêmica (ANDREOTTI, 2001). O momento da gestação no qual ocorre a infecção afeta o resultado. É mais provável que a infecção aguda que ocorre nos últimos quatro meses produza aborto e a que ocorre nos primeiros cinco meses tenham maior probabilidade de produzir fetos infectados que sobrevivem até o parto. Estudos revelaram que é mais provável que novilhas infectadas abortem seus fetos nos três primeiros meses da prenhez, presumidamente porque a infecção alcança o feto antes de ele poder gerar uma respostaimunológica. A neosporose pode causar abortos esporádicos, endêmicos ou epidêmicos, sendo o risco do aborto maior em animais mais velhos ou ainda após 42 a fase inicial de infecção. Tal risco parece ser mais alto durante a primeira gestação do que nas subseqüentes, mas outros fatores, como doenças concomitantes, estresse e tempo de exposição podem também ser importantes no processo devido à diminuição da resistência à infecção. Novilhas que adquiram a infecção materna, quando soropositivas, apresentam risco de aborto três vezes maior que novilhas soronegativas. Diferentemente das novilhas leiteiras, novilhas de corte podem não manifestar abortos subseqüentes, no entanto, podem apresentar outras manifestações de alterações reprodutivas como infertilidade (NETA & JUNIOR, 2006). 6.4. Diagnóstico A neosporose pode ser diagnosticada a partir de caos de aborto. Um teste sorológico positivo indica exposição, mas não necessariamente infecção, e o diagnóstico diferencial para aborto deve incluir diarréia bovina a vírus (BVD), rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), leptospirose e brucelose (ANDREOTTI, 2001). Os métodos mais utilizados para o diagnóstico da neosporose em bovinos são testes sorológicos, como imunofluorescência indireta (IFA) e o teste imunoenzimático (ELISA), que indicam exposição dos animais a Neospora, não significando que os mesmos estejam doentes. Em um estudo realizado por SARTOR et al (2005), optou-se pelo método de ELISA, pelas vantagens oferecidas sobre os outros métodos diagnósticos, entre eles a sensibilidade de 43 até 98%, especificidade de até 100%, menor tempo de execução, precisão e custo do teste. Para confirmar se o aborto foi causado por N. caninum, o parasito deve ser encontrado nos tecidos fetais, através do exame de imunohistoquímica, sendo o mais eficiente e o método preferencial para confirmar o diagnóstico. Pode-se usar também o isolamento e cultura do agente para confirmar a presença de N. caninum no processo patológico, além do PCR (ANDREOTTI, 2001). 6.5.Prevenção e Controle Alguns autores como MERCK (2001), chegam a citar o uso de sulfadiazina, daraprima e clindamicina, com algum êxito no tratamento da neosporose, mas esse tratamento pode ser inviável. Uma alternativa de controle para a interrupção do ciclo de transmissão, é evitar a interação de cães com o rebanho (NETA & JUNIOR, 2006; ANDREOTTI, 2001), a fim de prevenir a contaminação fecal de água, pastagem, recomenda-se o isolamento dos galpões de armazenagem de sal mineral, ração e/ou silagem, pois, muitos relatos demonstram elevadas correlações de abortos, causados pelo Neospora caninum, com contaminação destes produtos. Deve-se estabelecer um programa de monitoramento efetivo para a confirmação da ausência do Neospora caninum, através de exames sorológicos de todas as vacas que abortarem e exames de tecidos fetais e placentários para a confirmação do parasito. Nas propriedades onde já foi diagnosticada a infecção, o monitoramento deve ser realizado no sentido de prevenir abortos e minimizar os 44 riscos de transmissão vertical e horizontal. Com estas medidas a prevalência da infecção pode ser reduzida em longo prazo (NETA & JUNIOR, 2006). Deve-se garantir um bom estado nutricional das vacas prenhes, evitando uma baixa na imunidade natural dos animais, para ajudar a reduzir os riscos de aborto entre os animais contaminados por esse parasito (ANDREOTTI, 2001). O descarte de animais soropositivos pode ser pensado quando o número de animais for baixo. Em rebanhos controlados devem-se introduzir somente animais soronegativos (ANDREOTTI, 2001). Como profilaxia já são disponíveis vacinas comerciais em muitos países inclusive no Brasil que garantem conferir proteção contra abortos causados por Neospora caninum (NETA & JUNIOR, 2006). 45 CONCLUSÃO Nota-se, que em todas essas doenças, a principal falha é na falta de um programa sanitário e manejo reprodutivo bem como aquisição e introdução de animais sem quarentena. As criações extensivas, o pouco uso das biotecnologias tão difundidas como inseminação artificial e transferência de embriões, a falta de programas seguros de vacinação e exames pré-estabelecidos, culminando em um enorme prejuízo financeiro e no baixo crescimento da pecuária nacional. FAVA et al (2003), estudou a implantação de um programa sanitário em um rebanho bovino leiteiro, cujas medidas preventivas consistiram no controle de trânsito de bovinos, inseminação artificial com sêmen livre de patógenos e monitoramento semestral das enfermidades, possibilitando a prevenção de várias doenças no rebanho. Quanto à transmissão destas doenças via inseminação artificial, devo lembrar que segundo BRASIL (2003), todos os animais doadores de sêmen devem ser submetidos a testes diagnósticos e estarem livres de brucelose, tuberculose, campilobacteriose genital bovina, tricomonose e diarréia viral bovina. Esses cuidados podem proporcionar um aumento significativo na produtividade do rebanho bovino brasileiro. 46 Referências Bibliográficas ANDREOTTI, R. Neosporose: um possível problema reprodutivo para o rebanho bovino. Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, Documento 104, mai. 2001. Disponível em: <http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/doc/doc104/index.html > Acesso em: 14 ago. 2006. BLOOD, D.C.; RADOSTITS, O.M. Clínica Veterinária. 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. ISBN 85-277-0198-7. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa n° 48 de 17 de junho de 2003. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/ consultarlegislacao.do?operacao=visualizar&id=2257. Acesso em: 05 out. 2006. CARDOSO, M.V.; VASCONCELLOS, S.A. Importância das Micoplasmoses na Fertilidade de Touros. Arq. Inst. Biol, São Paulo, v.71, n.2, abr./jun. 2004. 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Acesso em: 25 jul. 2006. 49 ANEXOS 50 ANEXO 1 Resumo das principais causas de abortos em vacas 51 RESUMO DAS PRINCIPAIS CAUSAS DE ABORTOS EM VACAS Epidemiologia Exame no Campo Diagnósticos Laboratoriais Doenças Quadro Clínico Taxa de Aborto Época do Aborto Placenta Feto Isolamento do Agente Sorologia Brucelose (B. Abortus) Aborto Elevada até 90% em rebanho suscetível Seis Meses Necrose dos cotilédones. Placenta coriácea, opaca e com edema. Pode haver pneumonia Cultura de estômago do feto, da placenta, dos líquidos uterinos, do leite e do sêmen. Teste de aglutinação do soro e do sangue, teste do anel do leite, teste de aglutinação em placa do leite total e do seu soro, do plasma seminal e do muco vaginal. Tricomoníase (Trichomonas fetus) Infertilidade - retorno ao cio após quatro a cinco meses, aborto e piometra. Moderada, 5% a 30%. Dois a quatro meses Material floculento e claro, líquido seroso no exsudato uterino. Maceração fetal e comumente piometra. Exame ou cultura das gotas que se desprendem do estômago do feto e do exsudato uterino durante um período de 24 horas após o aborto. Teste de aglutinação do muco cervical. Campylobacter fetus Infertilidade, diestro irregular e moderada- mente prolon- gado. Baixa, até 5%, pode ocorrer até 20%. Cinco a seis meses. Semi-opaca e ligeiramente espessada. Petéquias localizadas, ausência de vascularização e edema. Flocos de pus no peritônio visceral. Cultura do estômago do feto, da placenta e do exsudato uterino. Hemaglutinação após o aborto (na terceira semana). Teste de aglutinação do muco cervical 40 dias após o estabelecimento da infecção. Leptospirose (L. interrogans) O aborto pode ocorrer no estágio febril agudo, mais tarde ou não- associado à enfermidade. 25 a 30%. Tardio, seis meses ou mais. Placenta sem vascularização, cotilédones sem tonicidade amarelo escuro, edema gelatinoso escuro entre o alantóide e o âmnio. É comum a morte do feto. Isolamento a partir do líquido pleural, nos rins e no fígado do feto. É melhor o exame direto da urina da vaca. Resultado positivo ao teste de aglutinação sérica 14 a 21 dias após o estágio febril da doença. 52 CONTINUAÇÃO DO QUADRO ANTERIOR Epidemiologia Exame no Campo Diagnósticos Laboratoriais Doenças Quadro Clínico Taxa de Aborto Época do Aborto Placenta Feto Isolamento do Agente Sorologia Micoplasmose (Mycoplasma bovis, Mycoplasma bovigenitalium e Ureaplasma diversum). Infertilidade, endometrite, vulvovaginite granular, vesiculite seminal orquite e epididimite, aborto e nascimento prematuro. --- Terço final da gestação. Placentite crônica Pode haver pneumonia. Isolamento e identificação sorológica, através do trato genital, placenta, leite ou feto abortado. Neosporose (Neospora caninum). Aborto, infertilidade, perda embrionária. --- Cinco a seis meses. Em novilhas nos três primeiros meses. --- --- Isolamento do parasito nos tecidos fetais. Teste sorológico positivo indica exposição, mas não necessariamente infecção. Fonte: Elaborado com base em Blood & Radostits (1991), Dias (2002), Cardoso & Vasconcellos (2004) e Andreotti (2001). A micoplasmose e a neosporose são doenças ainda pouco estudadas detalhadamente, por isso a falta de alguns dados informativos.
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