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DIREITO CIVIL III - CONTRATOS

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Princípios
1. Introdução: contrato é um acordo de vontades 
comuns e concordantes, assentado na lei, realizado 
com o objetivo de adquirir, resguardar, transferir, 
conservar, modifi car ou extinguir direitos. O contrato 
cria força vinculante e oferece ao credor o direito de 
ação, para procurar, em juízo, a prestação em es-
pécie ou o seu equivalente.
2. Função social do contrato: A função social do 
contrato serve para limitar a autonomia da vonta-
de, quando essa autonomia estiver em confronto 
com o interesse social e este deva prevalecer (art. 
421 do Código Civil). Essa limitação poderá atingir 
a própria liberdade de não contratar, como ocorre 
nas hipóteses de contrato obrigatório. Enuncia a 
regra do art. 421 que o contrato não deve atentar 
contra o conceito da justiça comutativa, preva-
lecendo os princípios condizentes com a ordem 
pública. Há, portanto, uma conexão direta entre a 
função social que toda propriedade deve cumprir, 
princípio existente na Constituição Federal e esse 
enunciado da lei civil, a permitir a rescisão do con-
trato lesivo, anular a avença celebrada em estado 
de perigo, combater o enriquecimento sem causa 
etc. O legislador atentou, aqui, para a acepção mais 
moderna da função do contrato, que não é a de ex-
clusivamente atender os interesses das partes con-
tratantes, como se ele tivesse existência autônoma, 
fora do mundo que o cerca. Hoje o contrato é visto 
como parte de uma realidade maior e como um 
dos fatores de alteração da realidade social. Essa 
constatação tem, como conseqüência possibilitar 
que terceiros, que não são propriamente partes do 
contrato, possam nele infl uir, em razão de serem 
direta ou indiretamente por ele atingidos. 
3. Princípio da obrigatoriedade: o ordenamento 
jurídico estatui que o acordo estipulado regularmen-
te tem força obrigatória para os que o celebram. A 
autonomia da vontade legitima a manifestação das 
partes, as quais podem livremente estabelecer 
suas vontades e, uma vez estabelecidas, o contrato 
torna-se de observância obrigatória. Os limites da 
autonomia da vontade, entretanto, encontram-se no 
respeito à ordem pública. O negócio jurídico cons-
titui verdadeira lei entre as partes e seu conteúdo 
não poderá ser alterado – nem mesmo judicialmen-
te. Somente poderá ser alterado pelas mesmas 
vontades que constituíram a obrigação, ou seja, por 
ambas as vontades, ou no caso de ocorrência de 
caso fortuito, ou força maior. Todavia admite-se, ex-
cepcionalmente, que o contrato tenha este princípio 
tornado mais fraco, diante do advento de circunstâncias 
que tornem excessivamente oneroso o cumprimento da 
obrigação contratual. 
4. Princípio consensualista: os contratos, não apenas 
obrigatoriamente, devem ser cumpridos, mas, como o 
contrato é uma expressão do acordo de vontade das 
partes, têm igual força cogente. O contrato nasce do 
consenso dos interessados, já que a vontade das partes 
é a entidade geradora. Somente por exceção conserva-
ram-se algumas hipóteses de contratos reais e formais, 
para cuja celebração exige-se a tradição da coisa e a 
observância de certas formalidades.
5. Princípio da boa-fé objetiva: dispõe o Código Civil, 
em seu art. 422 que os contratantes são obrigados a 
guardar, assim, na conclusão do contrato, como em sua 
execução, os princípios da probidade e boa-fé. Esse 
princípio é incidente sobre todas as relações jurídicas 
na sociedade, consubstanciando cláusula geral de ob-
servância obrigatória, que contém um conceito jurídico 
indeterminado, concretizando-se segundo as peculiari-
dades do caso concreto. A boa-fé objetiva não respeita o 
estado mental subjetivo do agente, mas sim ao seu com-
portamento em determinada relação jurídica de coope-
ração. O seu conteúdo é um padrão de conduta, varian-
do de acordo com o tipo de relação existente entre os 
contratantes. Assim, os contratantes deverão agir com 
lealdade e confi ança recíprocas, fornecendo auxílio uns 
aos outros, tratando-se com honestidade na prestação 
de informações e intenções, tanto na formação quanto 
na execução do contrato. O dever jurídico de abstenção 
de prejudicar, notório na boa-fé subjetiva, é transforma-
do na boa-fé objetiva em dever de cooperar. 
6. Autonomia da vontade: é a faculdade que têm as 
pessoas de fi rmar livremente os seus contratos. Existe a 
liberdade de contratar e de não contratar. Esse princípio 
é um tanto relativo, porque, não existe norma genérica 
que imponha a uma pessoa a celebração de contratos, 
a não ser em circunstâncias de extrema excepcionali-
dade. A vida em sociedade exige freqüentemente a 
realização de contratos, que vão desde atos singelos 
(tomar um café) até atos de bem maior complexidade. 
Além disso, a liberdade de contratar implica a escolha 
da pessoa a quem contratar, bem como do tipo de ne-
gócio a efetuar. Mas o poder de ação individual também 
não é absoluto, porque, às vezes, não é possível esco-
lher livremente o outro contratante, como no caso dos 
contratos por adesão ou quando um serviço público é 
prestado sob a forma de monopólio (por exemplo: para 
ter-se energia elétrica em residência, existe apenas a 
possibilidade de contratar com uma única empresa). 
A liberdade de contratar também refl ete o poder de as 
partes fi xarem o conteúdo de cada uma das cláu-
sulas do contrato, de acordo com a vontade delas. 
Porém a lei, normatizando certos contratos, impõe 
aos contratantes a estrutura legal do espécime con-
tratual. Mas isso não impede que as partes também 
fi rmem contratos atípicos, conforme estatui o art. 
425 do Código Civil. 
7. Requisitos de validade dos contratos
O primeiro requisito é a capacidade das partes, que 
devem emitir uma vontade válida. Mas não se re-
quer apenas capacidade genérica, cujas restrições 
constam dos arts. 3º e 4º do Código Civil. É preci-
so que as partes tenham aptidão específi ca para 
contratar, ou seja, que não tenham restrições para 
contratar. Somente assim a parte poderá consentir. 
Quando ao objeto contratual, os requisitos do con-
trato são a sua possibilidade física ou jurídica, sua 
licitude, sua determinação e sua economicidade. 
Ele é impossível quando é insuscetível de realiza-
ção, tanto material quanto juridicamente. Algo pode 
ser materialmente realizável, mas juridicamente 
impossível (por exemplo, comprar dois quilos de 
cocaína para consumo pessoal). O objeto deverá 
ser também determinado ou, ao menos, determiná-
vel, para que a obrigação do devedor tenha sobre 
o que incidir. Igualmente, a prestação deve ser afe-
rível economicamente. Quanto à forma, em regra, 
os contratos são fi rmados pelo simples acordo de 
vontades, independentemente de qualquer maneira 
que essas revistam. Podem ser verbais, por escrito, 
expressos ou mesmo tácitos. Excepcionalmente, 
porém, a lei exige para a efi cácia de alguns contra-
tos a observância de certa forma. 
8. Inefi cácia: contrato inefi caz é aquele que deixa 
de produzir efeitos. A inefi cácia pode ser, além de 
formal ou material, originária ou posterior à forma-
ção do contrato.
 LINK ACADÊMICO 1
Formação do contrato
Trata-se da fi xação exata do momento em que se 
dá o acordo das vontades. A declaração poderá ser 
expressa, por qualquer meio, ou tácita, quando a lei 
não exigir expressa, conforme o art. 432 do Código. 
A proposta e a aceitação são requisitos essenciais 
da formação do contrato e, acerca dessas, existirá 
a discussão sobre a força obrigatória do contrato, 
sobre o exato momento em que as vontades são 
fi rmadas e, também, sobre o local em que se consi-
derará formado o contrato.
A primeira fase de formação contratual consiste 
DIREITO CIVIL
CONTRATOS
1
nas negociações preliminares, que são conversas 
prévias, diálogos em que surgem os interesses de 
cada uma das partes, tendo em vista o contrato fu-
turo, mas não há vinculação das pessoas. Emboralhe falte obrigatoriedade, pode surgir responsabili-
dade civil para os que participam das negociações 
preliminares. O fundamento do dever de reparação 
é o ilícito genérico. Outro momento da formação do 
contrato é a proposta, que já traz força vinculante 
(Código Civil, art. 427), não para as partes, uma vez 
que, ainda neste momento, não há um contrato, 
mas, para aquele que a faz, denomina-se policitan-
te. Trata-se de uma manifestação de vontade, diri-
gida por uma pessoa à outra, esperando que esta 
última a aceite. A proposta deve ser séria e precisa, 
contendo as linhas estruturais do negócio em vista, 
para que o contrato possa considerar-se perfeito, 
da manifestação singela e até simbólica daquele 
a quem é dirigida. A proposta é uma declaração 
unilateral de vontade, por parte do proponente e 
apresentará força vinculante por parte do policitan-
te, a não ser que o contrário estiver especifi cado 
nos termos da própria proposta ou resulte da na-
tureza do negócio ou das circunstâncias do caso, 
conforme os arts. 427 e 428 do Código Civil. Como 
se nota a proposta é, portanto, um negócio jurídico 
receptício, que deve precisar todos os elementos 
do negócio proposto. O proponente (ou policitan-
te) não deverá revogar sua proposta por um certo 
prazo de tempo, a partir do momento em que a fi -
zer, sob pena de ressarcir perdas e danos. Essa 
obrigação subsiste mesmo em havendo incapaci-
dade superveniente ou morte do policitante antes 
da aceitação, a não ser que diversa tenha sido sua 
intenção ao realizar a proposta. Os arts. 427 e 428, 
I a IV, estabelecem alguns casos, todavia, em que 
a proposta deixará de ser obrigatória. 
O Código Civil disciplinou em seu art. 429 a oferta 
ao público, estabelecendo que é obrigatória quando 
contiver os requisitos essenciais ao contrato, salvo 
se o contrário resultar das circunstâncias ou dos 
usos. Feita a proposta, que constitui em si mesma 
um negócio jurídico, o policitante estará vinculado 
a ela. Reconhece, pois, a lei alguns casos em que 
a proposta deixa de ser obrigatória: a) se a falta de 
obrigatoriedade resulta de seus próprios termos; b) 
ou da natureza do negócio; c) ou das circunstân-
cias do caso (Código Civil, art. 427).
O próximo momento da formação do contrato é a 
aceitação. Somente quando o oblato torna-se acei-
tante e conjuga a sua vontade com a do proponen-
te, a oferta se transforma em contrato. Aceitação 
é, portanto, a manifestação de vontade expressa 
ou tácita por parte do destinatário em relação a 
uma proposta específi ca, feita dentro do prazo e 
aderindo a todos os termos da oferta, o que tor-
na o contrato defi nitivamente concluído desde 
que chegue, em tempo hábil, ao conhecimento do 
proponente. Não há, salvo nos contratos formais, 
requisito especial para a aceitação. A aceitação 
tácita ocorre quando, não chegando a tempo a 
recusa, o negócio for daqueles em que não seja 
costume a aceitação expressa ou o proponente a 
tiver dispensado (art. 432 do CC). Para que se dê 
o contrato, a aceitação tem de ser oportuna, sob 
pena de já não encontrar proposta fi rme: quando 
feita fora do prazo, ou contendo modifi cações, ou 
restrições aos termos da proposta, não gera contrato, 
mas importa nova proposta (Código Civil, art. 431) que 
o primitivo proponente, à sua vez, tem o direito de acei-
tar ou de não aceitar.
Dando o aceitante a resposta em tempo oportuno, o 
contrato estará perfeito. Se a proposta negocial for entre 
presentes, poder-se-á estipular ou não um prazo para 
a aceitação. Se não houver prazo, a aceitação deverá 
ser manifestada imediatamente e, se houver prazo, é 
preciso que se dê dentro desse limite. Se o contrato for 
entre ausentes, existindo prazo, este deverá ser obser-
vado; mas é possível que a resposta chegue tarde ao 
proponente, por circunstância imprevista e estranha à 
vontade de seu emitente. Neste caso, o proponente tem 
o dever de comunicar o fato, imediatamente, ao aceitan-
te, sob pena de responder por perdas e danos (Código 
Civil, art. 430). No entanto, se o ofertante não estipulou 
qualquer prazo, a aceitação deverá ser manifestada em 
tempo sufi ciente para chegar a resposta ao conheci-
mento do proponente.
Admite, ainda, a lei a retratação do aceitante, desde 
que chegue antes desta ou simultaneamente com ela 
ao conhecimento do proponente (Código Civil, artigo 
433). É lugar de celebração do contrato aquele em que 
o impulso inicial teve origem, reputando-se celebrado 
no lugar em que for proposto (Código Civil, art. 435). 
Se houver contratantes residentes em países diversos, 
a Lei de Introdução ao Código Civil estabelece que a 
obrigação resultante do contrato reputa-se concluída no 
lugar em que residir o proponente (art. 9º, § 2º).
 LINK ACADÊMICO 2
Relatividade 
dos contratos
1. Contratos em favor de terceiro: ocorre quando uma 
pessoa (estipulante) convenciona com outra (promiten-
te) uma obrigação, em que a prestação será cumprida 
em favor de outra pessoa (benefi ciário). No momento da 
formação contratual, a manifestação de vontade esta-
belece-se entre o estipulante e o promitente. O consen-
timento do benefi ciário não é necessário à constituição 
do contrato, e, por conseguinte, à criação de vantagens 
em seu proveito. Mas não se pode, todavia, negar ao 
terceiro a faculdade de recusar a estipulação em seu 
favor, expressa ou tacitamente. Para a formação da es-
tipulação em favor de terceiro exigem-se os requisitos 
necessários à validade dos contratos em geral - subjeti-
vos, objetivos e formais. Cumpre observar, porém, que, 
se o terceiro é momentaneamente indeterminado, mas 
passível de identifi cação (determinável), o ato é válido. 
1.1. Efeitos do contrato em favor de terceiro: se o 
promitente fi ca obrigado a prestar algo a um terceiro, 
mesmo assim continua obrigado em relação ao esti-
pulante, que conserva o direito de exigir o cumprimen-
to do contrato (Código Civil, art. 436). Pode, ainda, o 
estipulante substituir o terceiro designado no contrato, 
independentemente de consentimento do promitente, 
que deverá cumprir a determinação recebida. Basta, 
para isso, a declaração unilateral de vontade por ato 
inter vivos ou causa mortis (Código Civil, art. 438). Na 
fase de execução contratual, o terceiro assume as ve-
zes do credor e, por isso, poderá exigir a obrigação. 
Embora não seja parte na formação do contrato, pode 
intervir nele com a sua anuência e, então, é sujeito às 
condições normais do contrato (Código Civil, art. 436, 
parágrafo único), enquanto o estipulante o mantiver sem 
inovações. Formado o contrato entre estipulante e 
promitente para benefi ciar o terceiro, fi ca o primei-
ro com o poder de substituí-lo. Cabe-lhe, também, 
a faculdade de exonerar o promitente, salvo se o 
terceiro fi car com o poder de exigir a prestação (Có-
digo Civil, art. 437), valendo a aceitação do terceiro 
para consolidar o direito, tornando-o irrevogável e 
defi nitivo. O que estipula em favor de terceiro pode 
exigir o cumprimento da obrigação (art. 436 do CC). 
2. Promessa de fato de terceiro: é um negócio 
jurídico que tem por objeto a prestação de um fato a 
ser cumprido por outra pessoa, não participante des-
se negócio. Não nasce nenhuma obrigação para o 
terceiro enquanto ele não der o seu consentimento. 
Pode-se prometer a prestação de fato do terceiro, 
mas obviamente não se pode obrigá-lo a executar 
a prestação prometida. No primeiro momento (for-
mação), o devedor primário ajusta uma obrigação 
com o credor, de quem se torna devedor. O objeto 
da sua obrigação é conseguir que o terceiro con-
sinta em tornar-se devedor de certa prestação. É 
devedor de uma prestação própria, a qual consiste 
em obter o consentimento do terceiro. Sua inexe-
cução sujeita-o a perdas e danos (Código Civil, art. 
439). O parágrafo único desse artigo contém uma 
exceção à regra do dever de indenizar, porparte do 
promitente, em caso de recusa por parte do tercei-
ro de executar a obrigação. Quando o promitente 
se obrigar a fato de terceiro que seja seu cônjuge, 
consubstanciado em ato que, para a sua validade e 
efi cácia, dependa da autorização do cônjuge, não 
será obrigado a indenizar o credor, caso tal inde-
nização, em razão do regime de bens existentes 
entre os cônjuges venha a afetar o patrimônio do 
cônjuge que não consentiu em se obrigar. O Código 
dispõe, ainda, em seu art. 440, que na hipótese de 
o terceiro anuir em prestar em favor do credor, ou 
seja, assumir a obrigação prometida, o promitente, 
por já ter cumprido a sua obrigação, fi ca exonerado 
e não responde perante o credor caso haja inadim-
plemento do terceiro que veio a se obrigar.
3. Contrato com pessoa a declarar: o Código Civil 
brasileiro cuida dessa tipologia contratual nos seus 
arts. 467 a 471. Nesse contrato, as partes contra-
tantes estão defi nidas e identifi cadas. O que resta é 
a pessoa designada a ocupar o lugar de sujeito da 
relação jurídica assim criada (Código Civil, art. 467). 
Um dos contratantes reserva-se a faculdade de in-
dicar a pessoa que adquirirá, em momento futuro, 
os direitos e assumirá as obrigações respectivas. 
A indicação da pessoa deve ser feita no prazo es-
tipulado ou , em sua falta, no de cinco dias, para o 
efeito de declarar se aceita a estipulação (art. 468). 
Em face de pronunciamento positivo, o terceiro in-
dicado, toma o lugar da parte contratante. O pará-
grafo único do art. 468 institui que a aceitação se 
dará obrigatoriamente com a mesma forma prevista 
para a celebração inicial do contrato. Uma vez ma-
nifestada, considera-se que, ao adquirir os direitos 
e assumir as obrigações, a pessoa esteve presente 
como parte contratante desde a data do contrato, 
conforme estabelece o art. 469 do Código Civil. Se 
o nomeado aceita na forma e nas condições esta-
belecidas nos arts.468 e 469, adquire os direitos e 
assume as obrigações. Substitui, na titularidade das 
2
relações jurídicas, o contratante que o indicou. Se 
não aceita, nem por isso o contrato perde sua efi -
cácia. Continua válido, subsistindo apenas entre os 
contraentes originários (art. 470, I), se não houver 
indicação de pessoa teoricamente nomeada ou se 
o nomeado se recusar ao cumprimento do contrato. 
O mesmo ocorrerá se, no prazo estipulado ou legal, 
não for feita a indicação, assim como se a pessoa 
nomeada era insolvente, independentemente de o 
outro contratante conhecer ou não a insolvência no 
momento da indicação (art. 470, II, e 471).
 LINK ACADÊMICO 3
Vícios Redibitórios
Vício redibitório é o defeito oculto contido na coisa 
objeto de contrato comutativo, tornando-a imprópria 
ao uso a que se destina ou lhe prejudicando sen-
sivelmente o valor, conforme o art. 441 do Código 
Civil. 
Recebida a coisa que contenha vício ou defeito 
oculto, pode o comprador rejeitá-la, redibindo o 
contrato. Não é obrigado a manter o negócio e con-
servar a coisa que não se preste à sua fi nalidade ou 
esteja depreciada. E, dessa forma, ambas as partes 
voltam ao “statu quo ante”. O comprador devolverá 
o bem ou o colocará à disposição do vendedor. E 
este terá de restituir o preço, mais as despesas do 
contrato. 
Pode acontecer que a coisa, embora portadora do 
vício oculto, ainda tenha utilidade para o adquirente, 
mas não seja de seu interesse nem de sua conve-
niência. Sendo assim, o adquirente pode recusá-la, 
devolvendo-a ao alienante por via da ação redibi-
tória. Em tal caso, faculta-lhe a lei outra ação, a 
estimatória ou de abatimento de preço (actio aes-
timatoria ou quanti minoris), pela qual o adquirente, 
conservando a coisa defeituosa, reclama seja o seu 
preço reduzido naquilo em que o defeito oculto a 
depreciou, para que não o pague por inteiro ou, se 
já o tiver feito, para que obtenha restituição parcial 
do despendido (art. 442). Esse direito do adquirente 
está sujeito a um prazo de decadência, que varia 
conforme se trate de coisa imóvel (um ano, art. 
445 do Código Civil) ou de coisa móvel (30 dias, 
art. 445). Trata-se mesmo de decadência, porque o 
direito é condicionado ao exercício dentro de prazo 
legal e, por essa razão, não pode ser interrompido. 
O Código determinou expressamente no art. 446 
que os prazos para a invocação de vício redibitório 
não correm na constância de cláusula de garantia. 
O início da contagem do prazo para o exercício da 
redibição dá-se a partir do fi m da garantia, não im-
portando o momento em que o vício se apresentou. 
Esse prazo é, portanto, um reforço e chega mesmo 
a ser mais do que a responsabilidade pelo vício 
oculto, porque abrange a segurança de bom fun-
cionamento.
 LINK ACADÊMICO 4
Evicção
1. Evicção: é a perda da coisa, por força da sen-
tença judicial, que atribui essa mesma coisa a uma 
outra pessoa, por ela ter direito anterior ao contrato 
estabelecido. Não se trata, como nos vícios redibi-
tórios, de defeito da coisa, mas sim de defeito no 
próprio direito.
2. Evicção parcial: em sendo a evicção parcial, mas 
considerável, abre-se ao adquirente uma alternativa: re-
solução do contrato ou restituição parcial do preço. Na 
primeira hipótese, tudo se passa como se fosse evicção 
total, com a diferença apenas de que o adquirente lhe 
devolve a parte remanescente do bem. Na segunda, 
optando pela conservação da coisa e abatimento do 
preço, o adquirente tem direito a que o alienante lhe 
restitua parte do preço, correspondente ao desfalque 
sofrido (Código Civil, artigo 455). Manda a lei (Código 
Civil, parágrafo único do art. 450) que a importância do 
desfalque seja calculada na proporção do valor dela ao 
tempo em que se evenceu.
 LINK ACADÊMICO 5
Extinção dos contratos
1. Resilição contratual: é dissolução do vínculo con-
tratual, mediante atuação das mesmas vontades que 
o criou, por ato lícito das partes. Pode ser bilateral 
ou unilateral. Resilição bilateral ou distrato, como o 
art. 472 do Código denomina essa fi gura jurídica, é 
a declaração de vontade das partes contratantes, no 
sentido oposto ao que havia gerado o vínculo. Deve 
ser realizada pela mesma forma exigida por lei para 
contratar. Resilição unilateral é a extinção promovida 
pela denúncia de uma das partes. A lei determina a 
atração da forma (Código Civil, artigo 472), estabele-
cendo que se faça pela mesma forma exigida pela lei 
para contratar. A forma do distrato não deve necessa-
riamente obedecer à que foi adotada no contrato, mas, 
sim, a que a lei exige. Dessa forma, se um contrato de 
compra e venda que tem por objeto um bem móvel foi 
celebrado por instrumento público, ele poderá se extin-
guir por distrato celebrado por instrumento particular.
A resilição unilateral constitui-se exceção. Um dos efei-
tos do princípio da obrigatoriedade do contrato é, pre-
cisamente, a alienação da liberdade dos contratantes: 
nenhum deles, pode romper o vínculo, em princípio, 
sem a anuência do outro. Por tal motivo é que o art. 
473 do Código, somente em casos excepcionais, ad-
mite que um contrato cesse pela manifestação de von-
tade de apenas uma das partes. O comodato, o man-
dato, o depósito, pela sua própria natureza, admitem a 
resilição unilateral. Os contratos de execução continu-
ada, quando ajustados por prazo indeterminado, com-
portam a cessação mediante um instituto denominado 
denúncia, que é a vontade de rescindir o contrato sem 
motivo, expressada por um dos contratantes. Assim 
ocorre no fornecimento continuado de mercadorias 
ou em alguns tipos de locação. O parágrafo único do 
art. 473 do Código determina que, de acordo com a 
natureza do contrato, se uma das partes houver feito 
investimentos consideráveis para a sua execução, a 
denúncia unilateral só produzirá efeito depois de trans-
corrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos 
investimentos. Caberá ao juiz determinar,com a ajuda 
da perícia técnica se necessário, o prazo em que fi ca 
suspenso o direito de a parte resilir unilateralmente o 
contrato, sem qualquer motivação específi ca. O crité-
rio legal é o de proporcionar à parte, prejudicada pela 
resilição unilateral, a obtenção do objetivo previsto no 
contrato, de acordo com a sua natureza e dos investi-
mentos realizados.
2. Resolução contratual: é a dissolução do contrato em 
conseqüência de ter alguma falta de uma das partes em 
relação ao cumprimento de sua obrigação. Assim, a 
outra parte, lesada pelo inadimplemento, pode re-
querer a resolução do contrato com perdas e danos 
(Código Civil, art. 475). O art. 474 do Código, aliás, 
dispõe que a condição resolutiva tácita depende de 
interpelação judicial, com fi xação de prazo para que 
a parte faltosa efetue a prestação que lhe compete, 
sob pena de resolver-se o contrato e, somente após 
esse prazo, é que poderá ser pleiteada a resolução. 
Pronunciado o rompimento do vínculo contratual, 
estendem-se os efeitos do ato desfeito, com sujeição 
do inadimplente ao princípio da reparação, que,na 
forma da regra comum, deve compreender o dano 
emergente e o lucro cessante. Isso ocorre quando 
houver cláusula resolutiva tácita no contrato. Haven-
do cláusula expressa e deixando o contratante de 
cumprir a obrigação na forma e no tempo ajustado, 
resolve-se o contrato automaticamente, sem neces-
sidade de interpelação do faltoso (Código Civil, arts. 
474 e 128).
3. “Exceptio non adimpleti contractus”: é a de-
fesa oponível pelo contratante demandado contra o 
co-contratante inadimplente, alegando que o deman-
dado se recusa à sua prestação, por não ter aquele 
que reclama dado cumprimento à parte que lhe cabe 
(Código Civil, art. 476). O Código, em seu art. 477, 
outorgou ao contratante que tiver de fazer a sua 
prestação em primeiro lugar o direito de recusá-la 
se, depois de concluído o contrato, sobrevier ao ou-
tro contratante alteração nas condições econômicas, 
capaz de comprometer ou tornar duvidosa a presta-
ção a que se obrigou. É claro que a medida é excep-
cional, pois que, ajustadas prestações combinadas, 
não justifi ca a recusa pelo fato de não haver ainda 
prestado o outro. Desde que saiba ou tenha razões 
plausíveis de presumir (protesto de título, pedido de 
moratória ou de concordata etc.), que a diminuição 
patrimonial do outro faça duvidar da contraprestação 
esperada, cessará o pagamento ou reterá a execu-
ção, até que se lhe dê a solução devida ou a garantia 
sufi ciente de que será efetivada no momento oportu-
no. Não há predeterminação de garantia, podendo 
ser de qualquer natureza, real ou fi dejussória. Mas 
é necessário que se trate de garantia bastante. Uma 
vez prestada essa, a exceção caduca e a prestação 
suspensa deverá ser cumprida. 
4. Resolução por onerosidade excessiva: se hou-
ver ocorrido modifi cação profunda nas condições 
objetivas da execução contratual, em relação às 
existentes no momento da celebração, imprevisíveis 
naquele momento e geradoras de onerosidade ex-
cessiva para um dos contratantes, proporcionando 
ao outro um lucro desarrazoado, cabe ao prejudi-
cado insurgir-se e recusar a prestação. É mister a 
ocorrência de um acontecimento extraordinário, que 
tenha modifi cado o ambiente objetivo, de forma que 
o cumprimento do contrato implique, em si mesmo, 
o enriquecimento de um e empobrecimento do outro. 
Para que se possa invocar a resolução por onerosi-
dade excessiva é necessário que ocorram requisitos 
de apuração certa, explicitados no art. 478 do Código 
Civil: a) vigência de um contrato de execução diferi-
da ou continuada; b) alteração radical das condições 
econômicas objetivas no momento da execução, em 
confronto com o ambiente objetivo no da celebração; 
3
c) onerosidade excessiva para um dos contratantes 
e benefício exagerado para o outro; d) imprevisibili-
dade daquela modifi cação. Nunca haverá lugar para 
a aplicação da teoria da imprevisão naqueles casos 
em que a onerosidade excessiva provém de aconte-
cimento normal e não do imprevisto, como ainda nos 
contratos aleatórios, em que o ganho e a perda não 
podem estar sujeitos a um valor predeterminado.
 LINK ACADÊMICO 6
Compra e venda
1. Introdução: o contrato de compra e venda é 
defi nido pelo artigo 481 do Código Civil. Trata-se 
de um contrato em que uma pessoa (denominada 
vendedor) se obriga a transferir à outra (comprador) 
o domínio de uma coisa corpórea ou incorpórea, 
mediante o pagamento de certo preço em dinheiro, 
existindo igualmente a possibilidade de o paga-
mento dar-se a partir de um valor fi duciário corres-
pondente. A compra e venda não opera, segundo 
o nosso Código, a transmissão do domínio (art. 
1.268, CC). Existem obrigações recíprocas para 
cada uma das partes: para o vendedor, a obrigação 
é transferir o domínio da coisa. Já para o compra-
dor, a principal obrigação consiste na entrega do 
preço. O contrato de compra e venda confere às 
partes nele envolvidas um direito pessoal gerador 
da transferência do domínio. Os efeitos produzidos 
restringem-se, assim, à esfera meramente obriga-
cional, sem que ocorra a transferência de poderes 
de proprietário. Portanto é necessária a ocorrência 
de um procedimento complementar capaz de pos-
sibilitar ao comprador um modo de adquirir a pro-
priedade, qual seja, a tradição (entrega). Portanto 
pode-se dizer que o contrato, por si só, é inábil 
para gerar a translação da propriedade, embora 
seja sua uma causa determinante. É preciso rea-
lizar atos cujo efeito translatício a lei reconhece: a 
tradição da coisa, se se tratar de móvel ou a ins-
crição do título aquisitivo no registro, se for imóvel 
o seu objeto (arts. 1.245 e 1.246, CC). Além dessa 
observação, que é básica, nota-se que o contrato 
de compra e venda pode ter, por objeto, bens de 
toda natureza: corpóreos, compreendendo imóveis, 
móveis, semoventes, como ainda os incorpóreos. 
Importante ressaltar que a tradição, como instituto 
capaz de consagrar o objetivo principal do contrato 
de compra e venda, destina sua aplicação somente 
se à coisa for móvel. Assim sendo, diante de um 
contrato dessa espécie em que seu objeto seja um 
bem imóvel, cabe a menção de que a transferência 
da sua propriedade somente se dará com o compe-
tente registro do bem junto ao Cartório de Registro 
de Imóveis.
A lei considera esse contrato obrigatório e perfeito, 
desde que as partes acordem no objeto e no preço 
(Código Civil, art.482). Se ocorrer uma condição, 
esta se fará presente na elaboração do vínculo, 
suspendendo os efeitos do consentimento mani-
festado ou resolvendo o contrato, conforme seja 
suspensiva ou resolutiva. 
É preciso que o objeto exista, ao menos em princí-
pio, pois a inexistência do objeto implica, em tese, 
prejuízo à formação do contrato, já que este, forço-
samente, precisa ter sobre o que incidir. Venda de 
coisa inexistente é nula. Isso não signifi ca, entretan-
to, que somente possa haver contrato que verse sobre 
coisa já conhecida e caracterizada no momento da ce-
lebração. O contrato poderá incidir sobre coisa futura, o 
qual fi ca defi nido como condicional, que se resolve caso 
a coisa não tenha existência, mas que se reputa perfei-
to, desde a data da celebração, com o implemento da 
condição. Ou, então, fi ca identifi cado como contrato ale-
atório, válido como negócio jurídico e, devido ao preço, 
ainda que nada venha a existir (Código Civil, art. 458), 
pois, nesse caso, é objeto da venda a expectativa e não, 
por si só, a coisa ou sua transferência. O art. 483 do 
Código admite expressamente que a compra e a venda 
possa ter por objeto coisa atual ou futura, dispondo que, 
nesse último caso, o contrato fi ca sem efeito, se o objeto 
não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de 
concluir contrato aleatório.
Gerando uma obrigação de dar, o contrato decompra e 
venda terá de incidir sobre uma coisa caracterizada por 
seus elementos identifi cadores. O seu objeto necessa-
riamente deverá ser determinado. Isso não quer dizer 
que deverá ser rigorosa a determinação e no momento 
exato do ajuste: se a coisa for determinável, isto é, sus-
cetível de individualização no momento da execução, o 
contrato tem condições de existência. 
Nessa qualidade da coisa interfere a venda sob amostra, 
protótipo ou modelo, que é aquela em que o vendedor 
exibe ao comprador uma pequena porção da coisa, ou 
seu protótipo, ou modelo, assegurando-lhe que o objeto 
a ser entregue deva ter as suas qualidades (Código Ci-
vil, art.484). É uma espécie de determinação, por via de 
confronto com a amostra, protótipo ou modelo exibido. 
Conferindo-o e verifi cando-o, o comprador, no momento 
da entrega, tem a faculdade de rejeitá-la, se não guar-
dar exata correspondência com a amostra. O parágrafo 
único do art.484 faz ainda prevalecer a amostra, o pro-
tótipo ou o modelo sobre a descrição que tiver sido feita 
sobre o objeto, no contrato, caso exista diferença entre 
eles, optando claramente por proteger o comprador, na 
certeza de que a visualização da amostra, do protótipo 
ou do modelo, é elemento fundamental na formação da 
vontade na fase da celebração do contrato.
Ademais, para que haja compra e venda, a coisa há de 
ser disponível ou estar no comércio. Em caso contrário, 
não haverá compra e venda, porque a sua inalienabili-
dade impossibilita a transmissão ao comprador. A indis-
ponibilidade pode ser natural, quando a coisa é insusce-
tível de apropriação; legal, quando a coisa está fora do 
comércio por imposição da lei; e voluntária, quando re-
sulta de uma declaração de vontade por ato entre vivos 
(doação) ou “causa mortis” (testamento). Sempre que a 
coisa for inalienável, o contrato de compra e venda não 
pode tê-la por objeto, sob pena de inefi cácia. E não bas-
ta que a coisa seja disponível. É preciso que ela possa 
ser transferida ao comprador. Se a coisa já pertencer ao 
comprador, não poderá ser vendida a ele; e, se perten-
cer não ao vendedor, mas a terceiro, a venda também 
não se concretiza.
1.1. Características:
a) Bilateralidade: esta é caracterizada por conta da 
criação de obrigações para os contratantes, os quais, 
em caráter posterior, serão credores e devedores; b) 
Onerosidade: nesse caso, a onerosidade implica a 
característica de ambos os contratantes auferirem van-
tagens de cunho patrimonial. Vale ressaltar que deve 
haver um equilíbrio envolvendo tais vantagens; c) Co-
mutatividade: esta advém da existência de um objeti-
vo certo e seguro na realização do contrato, como se 
percebe na grande maioria dos contratos no Direito 
Civil; d) Aleatoriedade: nessa característica, o ob-
jeto do contrato encontra-se vinculado à ocorrência 
de um evento futuro e incerto, em que não se pode 
antecipar o seu montante. Exemplo: alienação de 
coisa futura em que um dos contratantes toma para 
si o risco, caso nada venha a ser produzido, embo-
ra permaneça o dever do pagamento. Vide artigos 
458 e 459, do Código Civil; e) Consensualidade e 
Solenidade: em casos como os contratos consen-
suais em que, através do mútuo consentimento de 
ambos os contratantes, temos o aperfeiçoamento 
do contrato. Por sua vez, a solenidade descreve 
a necessidade de o contrato de compra e venda 
possuir uma forma específi ca por força de lei, para 
gerar seus efeitos. Tal solenidade é constatada na 
aquisição de imóveis em que a escritura pública 
mostra-se necessária. Vide arts. 108 e 215 do Có-
digo Civil; f) Translatividade do domínio: nesse 
caso, o contrato de compra e venda passa a as-
sumir um importante papel, como sendo um título 
hábil para a aquisição do domínio, o qual se aper-
feiçoa somente com a tradição ou registro do bem, 
este último no caso de bens imóveis.
1.2. Elementos constitutivos: 
a) Consentimento: é preciso capacidade genéri-
ca para praticar os atos da vida civil. Os absoluta 
ou relativamente incapazes só poderão contratar 
devidamente representados ou assistidos pelos re-
presentantes legais, sob pena de nulidade ou anu-
labilidade do negócio; a pessoa também precisará 
de legitimação para contratar, por isso há restrições 
quanto às pessoas casadas, que necessitam da 
anuência do cônjuge para a compra e venda de 
imóveis (exceto no regime de separação total de 
bens), b) Preço: constitui importante elemento des-
se tipo de contrato, sendo que o mesmo deve ser 
estabelecido em dinheiro, sob pena de estabelecer-
se um contrato de troca e não de compra e venda. 
A fi xação do preço, porém, pode ocorrer por parte 
de terceiro, além da fi xação baseada no próprio 
mercado ou bolsa, de acordo com os artigos 485 
e 486, do Código Civil. Contudo, tal fi xação pode 
não se dar por puro arbítrio de uma das partes, não 
se alcançando nesse caso, o equilíbrio almejado no 
contrato de compra e venda. Não querendo ou não 
podendo os contratantes determinar o preço, é lícito 
convencionar sua fi xação por um terceiro (Código 
Civil, art. 485) que não é propriamente um avalia-
dor da coisa, porém um árbitro escolhido pelos in-
teressados, os quais não têm o direito de repudiar 
a sua deliberação, mas têm o dever de acatar sua 
estimativa. Também será válida a venda, se dei-
xado o preço à taxa do mercado ou da Bolsa, de 
um certo dia e lugar (Código Civil, art. 486). Se a 
cotação variar no mesmo dia escolhido, tomar-se-á 
por base na média nessa data, caso as partes não 
tenham convencionado de forma diversa, por apli-
cação analógica do parágrafo único do art.488 do 
Código. São acessórios do preço as despesas que 
se têm de fazer para a realização e execução do 
contrato. Em princípio, deixa-se ao sabor da von-
tade dos interessados. Na sua falta, competem ao 
comprador as despesas de escritura e registro e, 
ao vendedor, as da tradição (Código Civil, art. 490). 
A ausência de estipulação do preço nem sempre 
leva à inexistência do contrato de compra e venda 
4
por falta de um dos seus elementos essenciais. O 
art. 488 do Código admite a interpretação do con-
trato de compra e venda sem preço ou de qualquer 
critério para a sua fi xação, como se as partes se 
tivessem sujeitado ao preço corrente nas vendas 
habituais do vendedor; 
c) Coisa: é o principal elemento desse tipo de 
contrato, também chamada de res, sendo caracte-
rizado como objeto individuado da compra e venda, 
a qual pode recair sobre todas as coisas que não 
estejam fora do comércio, além de serem dotadas 
da possibilidade de apropriação e de serem legal-
mente alienáveis, conforme acima já aludido.
1.3. Conseqüências jurídicas: existe o dever atri-
buído ao vendedor de efetuar a entrega da coisa, 
acrescida de todos os seus acessórios. Tal entrega, 
no entanto, implica não somente a tradição da coisa 
vendida, como também o domínio do bem, inclusi-
ve com a competente conservação do mesmo até 
a data de sua efetiva entrega. Importante ressalva 
deve ser feita no tocante a esta entrega, acompa-
nhada do respectivo pagamento do preço ajustado. 
Nesse sentido, caso o pagamento seja estipulado 
a prazo e, antes dele, ocorrer a insolvência do 
adquirente da mercadoria, o vendedor pode não 
efetuar a entrega do bem, até que seu preço seja 
devidamente quitado. Cabe ainda ao vendedor, por 
conta de eventuais transtornos sofridos, exigir que 
o adquirente preste caução do bem, como forma de 
garantia do contrato anteriormente fi rmado.
A legislação impõe ao vendedor o dever de garantia 
em relação ao produto (coisa, bem), fornecido ao 
adquirente, principalmente diante da existência de 
certos vícios tais como os redibitórios e os aparen-
tes. É do vendedor a responsabilidade oriunda dos 
riscos e despesas, uma vez que, até o momento 
em que se efetiva a tradição (no caso de bens mó-
veis), ou a transcrição (bens imóveis), o bemainda 
permanece em seu poder. Sendo assim, ocorrendo 
a deterioração, ao comprador é possibilitada a re-
solução do contrato, aceitação da coisa no estado 
em que a mesma se encontrar, com o respectivo 
abatimento no preço (culpa do alienante) e pode-
rá, ainda, pleitear, em juízo, uma indenização por 
perdas e danos.
Existe, ainda, a possibilidade de o devedor (alienan-
te) tomar para si os frutos ou os melhoramentos ob-
tidos com os acessórios da coisa vendida antes da 
tradição do respectivo bem. Quando a venda recair 
sobre uma universalidade de bens, o vendedor será 
responsável por defeito oculto referente ao conjunto 
de coisas, não ocorrendo a possibilidade de se res-
ponsabilizar de forma individual.
Por parte do comprador, a este cabe o direito de 
recusar a coisa vendida mediante amostra, por não 
ter sido a mesma entregue nas condições prome-
tidas no contrato. Nos contratos que envolvam a 
aquisição de terras, ressalta-se o direito do adqui-
rente de exigir uma complementação da área, obje-
to do contrato, nos casos em que se constatar uma 
falta de correspondência entre a área encontrada 
pelo possível comprador e as dimensões realmente 
apresentadas. Ocorrendo tal fato, a atitude a ser 
praticada pelo comprador, consistirá em pleitear a 
rescisão do negócio ou o abatimento do preço.
Importante conseqüência jurídica pode ser mencio-
nada no que corresponde à exoneração do adqui-
rente de imóvel, que exibir certidão negativa de débito 
fi scal, vinculado ao bem adquirido. Nesse aspecto, apre-
sentado tal documento, o imóvel estará desobrigado 
para sua conseqüente comercialização. Por fi m, temos 
como nulidade de pleno direito quando, nos contratos de 
compra e venda de bens móveis ou imóveis, são fi xadas 
cláusulas que vinculem o pagamento de prestações, 
acarretando uma relação de consumo. Sendo assim, 
ao se estabelecer cláusulas que impliquem a perda total 
das prestações pagas em benefício do credor, caracteri-
zada estará a nulidade anteriormente mencionada.
1.3.1. Promessa de compra e venda: pode ser bila-
teral ou unilateral. Gera uma obrigação de fazer, que 
se executa mediante a outorga do contrato defi nitivo. A 
prestação a que as partes estão obrigadas é o fato da 
realização da compra e venda. Pode assumir tanto a for-
ma pública como a particular, conforme expressamente 
admite o art. 462 do Código. Uma das partes contratan-
tes poderá propor a execução coativa ao contrato de 
promessa de compra e venda, permitida por lei, inde-
pendentemente da forma utilizada pelas partes no con-
trato preliminar (art. 464 do Código). No nosso direito, a 
promessa unilateral de comprar é lícita e possível, mas 
pouco usada. A promessa de vender, por ter suscitado 
numerosos problemas, é mais rica de soluções, não es-
tando os princípios que compõem a sua teoria perfeita-
mente discutidos. É o caso da opção. A opção pratica-se 
na vida mercantil, quando um comerciante ou fornece-
dor se compromete a vender mercadoria a uma pessoa 
determinada, mediante preço assentado em base fi xada 
e dentro de certo prazo. O que constitui a tônica desse 
negócio jurídico é a criação, para o promitente, de uma 
obrigação (de comprar ou de vender), enquanto a outra 
parte fi ca com a liberdade de contratar. O Código inseriu 
no parágrafo único do seu art. 513 um prazo máximo de 
decadência dentro do qual pode vigorar o direito de pre-
ferência, que é de 180 (cento e oitenta) dias, se a coisa 
for móvel, e 2 (dois) anos, se imóvel, contados da data 
do contrato de compra e venda. Diante dessa nova regra 
legal, que tem a natureza de norma cogente, o compra-
dor está livre para revender o bem, sem observar o di-
reito de preferência do vendedor, uma vez transcorridos 
esses prazos, conforme a natureza do objeto.
A promessa bilateral de compra e venda pode ser irre-
tratável ou sujeita a arrependimento. Quando irretratável 
e constar de registro público, gera direito real. Há impli-
cações de natureza fi scal, acompanhando a promessa 
irretratável, como foi o caso de recolhimento do imposto 
sobre o lucro imobiliário. Fica sempre ressalvada aos 
contratantes a faculdade de se arrependerem, mediante 
as condições estipuladas, como seja a perda do sinal, o 
pagamento da remuneração pela utilização da coisa ou 
a perda das prestações pagas a título de indenização 
pelo uso etc. Sendo irretratável e constando de regis-
tro público, dá nascimento ao direito real e submete o 
promitente vendedor à execução coativa (Código Civil, 
arts.463 e 464), obrigando o juiz a outorgar a escritura 
defi nitiva, sob pena de valer a sentença como suprimen-
to do ato não realizado.
Mediante promessa de compra e venda, em que não 
se pactuou arrependimento, celebrada por instrumento 
público ou particular e registrada no Cartório de Registro 
de Imóveis, o promitente comprador adquire direito real 
à aquisição do imóvel, confome dispõe o art. 1.417 do 
CC. Ademais, o promitente comprador, titular de direito 
real, poderá exigir do promitente vendedor ou de tercei-
ros, a quem os direitos deste forem concedidos, a outor-
ga da escritura defi nitiva de compra e venda, con-
forme o que se dispuser no instrumento preliminar. 
E, se houver recusa, poderá requerer ao Judiciário 
a adjudicação do imóvel (art. 1.418, CC). 
1.4. Cláusulas especiais no contrato de compra 
e venda
1.4.1. Retrovenda: é a cláusula em que o vende-
dor se reserva o direito de reaver, em certo prazo, o 
imóvel anteriormente alienado, restituindo ao com-
prador o preço recebido, acrescido das despesas 
por ele realizadas durante o período de resgate 
ocorrendo, para tanto, uma necessidade de expres-
sa previsão por escrito. Se “B”, em função de difi cul-
dades fi nanceiras, não querendo perder seu imóvel, 
vende o mesmo para “C” estabelecendo, por escrito 
em contrato, que irá comprar o imóvel novamente 
transcorrido certo período de tempo, restituindo o 
preço inicialmente pago, acrescido das despesas 
feitas pelo comprador do mesmo. Seu objeto é tão-
somente a venda imobiliária. O vendedor tem a fa-
culdade de retrato por prazo de decadência limitado 
a três anos (Código Civil, art.505), improrrogáveis, 
a bem da segurança da propriedade, que seria afe-
tada, caso pudesse estipular por prazo prolongado 
e, mais ainda, se por tempo indeterminado. Dentro 
do prazo, pode a coisa ser resgatada, cabendo a 
ação respectiva ao próprio vendedor e aos seus 
herdeiros, legatários ou condôminos (Código Civil, 
art.507). Se duas ou mais pessoas tiverem o direito 
de recobrar a mesma coisa, e só uma o exercer, 
poderá o comprador intimar as outras para que ma-
nifestem o seu acordo e, se não o houver, não fi ca o 
adquirente obrigado a admitir o retrato parcial: ou o 
interessado entra com a importância global e resga-
ta a integralidade do imóvel, ou caducará o direito 
de todos (Código Civil, art.508). A ação pode ser 
intentada contra o comprador ou seus herdeiros, 
bem como contra o terceiro adquirente, ainda que 
este ignore a cláusula de retrovenda (Código Civil, 
art. 507), porque esta integra a própria alienação, 
imprimindo-lhe o caráter condicional. O comprador 
recebe de volta o preço que pagou, acrescido das 
despesas feitas. Tem direito, ainda, a ser reembol-
sado das quantias que tiver empregado no imóvel 
com autorização escrita do vendedor, bem como, 
mesmo sem autorização, as que tiver desembol-
sado para a realização de benfeitorias necessárias 
(Código Civil, art. 505). O vendedor somente read-
quire o domínio e a posse do objeto da retrovenda 
com o pagamento do valor integral devido ao com-
prador (Código Civil, art.506).
1.4.2. Venda a contento: é aquela que se realiza 
sob a condição de só se tornar perfeita e obrigató-
ria, após declaração do comprador, de que a coisa 
lhe é agradável, de que ela o contenta. O negócio 
apenas se consuma a critério do comprador, inde-
pendentemente daqualidade da coisa. Qualquer 
que seja o seu objeto, o contrato de compra e 
venda comporta esta cláusula, que abrange muito 
especialmente a compra de gêneros que se costu-
mam experimentar antes de aceitos (Código Civil, 
art. 509). Em nenhuma hipótese pode ser presu-
mida, devendo ser expressa. O Código de 2002 
inseriu em seu art.510 uma regra prevendo que a 
venda sujeita a prova presume-se feita sob condi-
ção suspensiva de que a coisa tenha as qualidades 
asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o 
5
fi m a que se destina. Enquanto não ocorrer a mani-
festação concordante do adquirente, mesmo diante 
da presença da tradição, o domínio permanece com 
o alienante, o qual fi ca responsável também pelas 
perdas que, porventura, tenham ocorrido em rela-
ção ao objeto. Não tendo sido adquirido o domínio 
pelo comprador, antes da ocorrência da condição, é 
caracterizado como um mero comodatário, sendo 
que suas obrigações no contrato equiparam-se às 
de um comodatário, nos termos do artigo 511, do 
Código Civil. Não havendo prazo estipulado para a 
declaração do comprador, o vendedor terá o direito 
de intimá-lo, judicial ou extrajudicialmente, para que 
o faça em prazo improrrogável (art. 512, CC).
1.4.3. Preempção ou preferência: é o negócio em 
que o comprador de uma coisa se obriga para com 
o vendedor a preferi-lo, em igualdade de condições, 
caso venha a vendê-la. A citada defi nição advém 
do artigo 513 do novo Código Civil, que cuida da 
matéria de forma completa. O direito de preferência 
somente se emergirá quando o comprador tiver a 
intenção de revender a coisa comprada. Caso o 
comprador decidir pela conservação da coisa por 
período indefi nido, ninguém poderá convencê-lo do 
contrário. Decidindo o devedor promover a aliena-
ção da coisa, este deverá informar o credor sobre 
a intenção de venda, comunicando ao mesmo as 
condições encontradas para que o credor venha a 
manifestar e exercer o seu propósito envolvendo 
a preempção ou preferência. Por conta do artigo 
515 do CC, o credor deve estar disposto a pagar 
o preço ajustado. Não o fazendo, este perderá o di-
reito de preferência estabelecido com a inserção da 
cláusula em comento. Temos ainda a fi xação, por 
conta da lei (artigo 516), de prazo decadencial para 
exercício do direito de preferência. Vale lembrar que 
este prazo é de 03 dias para coisas móveis e de 60 
dias, para imóveis, contados a partir do momento 
em que o comprador comunica o respectivo ven-
dedor. A preferência reunirá alguns requisitos que 
juridicamente a caracterizam: a) é personalíssima, 
no sentido de que somente pode exercê-la o pró-
prio vendedor, que não o transmite nem por ato inter 
vivos nem causa mortis (Código Civil, art. 520); b) 
somente tem lugar na compra e venda, descaben-
do ajustá-la a qualquer outra espécie de contrato, 
mesmo que próximo da venda, como é a permuta; 
c) o direito de prelação somente pode ser exercido 
na hipótese de pretender o comprador vender a 
própria coisa ou dá-la em pagamento, sendo ilícita 
a sua avença para qualquer outro tipo de venda; d) 
pode ser pactuada para a venda de qualquer bem, 
corpóreo ou incorpóreo, móvel ou imóvel. O Código 
inseriu no parágrafo único do seu art. 513 um prazo 
máximo de decadência dentro do qual pode vigorar 
o direito de preferência, que é de 180 dias, se a coi-
sa for móvel e 2 anos, se imóvel, contados da data 
do contrato de compra e venda.
O exercício da preferência, uma vez pretendida a 
revenda pelo comprador no prazo menor que os 
estabelecidos no parágrafo único do art. 513, está 
subordinado a um prazo de decadência, que pode 
ser fi xado pelo comprador na notifi cação encami-
nhada ao vendedor (art. 516). É evidente que o 
comprador deve conceder ao vendedor um prazo 
razoável para que possa pensar em exercer ou 
não o seu direito de preferência. Em caso de abu-
so, deve o juiz intervir e considerar nula a notifi cação. 
Caso o comprador não fi xe prazo, a lei o estipula: se 
for móvel, três dias e, se imóvel, 60 dias, contados da 
data da notifi cação do vendedor com os termos da ofer-
ta recebida (Código Civil, art. 516). O comprador res-
ponderá por perdas e danos se alienar a coisa sem ter 
dado ao vendedor ciência do preço e das vantagens que 
oferecem pela coisa. O adquirente, se houver agido de 
má-fé, responderá solidariamente. Prevê o Código Civil 
igualmente a retrocessão, que consiste no dever impos-
to ao poder desapropriante oferecer ao desapropriado o 
imóvel, pelo mesmo preço por que o foi, caso não lhe dê 
o destino previsto no decreto expropriatório (art. 519).
Quando o direito de preferência for estipulado a favor de 
dois ou mais indivíduos em comum, só pode ser exer-
cido em relação à coisa no seu todo. Se alguma das 
pessoas a quem ele diga respeito poder ou não exercer 
esse direito, poderão as demais utilizá-lo mesmo assim.
1.4.4. Reserva de domínio: ocorre quando se estipula, 
através de contrato de compra e venda, em regra de 
coisa móvel infungível, que o vendedor reserva para si 
a sua propriedade, até o momento em que se realiza o 
pagamento integral do preço, de acordo com o disposto 
no artigo 521 do CC. A venda, com pacto de reserva 
de domínio, está sujeita à forma escrita e terá de ser 
feita a sua inscrição no registro de títulos e documen-
tos do domicílio do comprador, para ter efi cácia contra 
terceiros (Código Civil, art. 522). Só assim é oponível à 
cláusula contra todos e permitido ao vendedor perseguir 
a própria coisa, de cuja posse despojará o terceiro ad-
quirente, para nela reintegrar-se. O pacto de reserva de 
domínio pode ser estipulado adjeto à compra e venda 
de coisa móvel não fungível, que se individua por ca-
racteres discriminativos próprios (art. 523 do Código). O 
Código somente o admite tendo como objeto bens de 
caracterização perfeita, que possam ser extremados de 
outros congêneres. O conceito, portanto, é o de individu-
alização da coisa. Se esta puder ser feita por qualquer 
modo, pode a coisa ser objeto de venda com reserva de 
domínio. Na dúvida sobre a individuação do bem que 
eventualmente esteja na posse de terceiro, o Código de-
termina que o juiz decida em favor do terceiro adquirente 
de boa-fé.
1.4.5. Venda sobre documento: trata-se de uma cláu-
sula que substitui a tradição da coisa pela entrega de 
um título que a represente, conforme disciplina dos arts. 
529 a 532 do CC. Ajustado o contrato de venda sobre 
documentos, também chamada venda contra documen-
tos (porque o pagamento se faz contra a apresentação 
dos documentos), considera-se cumprida a obrigação 
de entregar o vendedor a coisa vendida (tradição), uma 
vez colocada a documentação nas mãos do comprador 
ou confi ada sua entrega a pessoa física ou jurídica. 
Substituída a tradição real pela tradição fi cta, vigora a 
presunção de que o vendedor se desincumbiu de seu 
dever contratual, competindo ao comprador efetuar o 
pagamento (Código Civil, art. 529). Estando em ordem 
os documentos exigidos pelo contrato ou pelos usos, 
considera-se que a coisa vendida corresponde à des-
crição do contrato e conserva as qualidades nele asse-
guradas. Portanto não lhe cabe recusar o pagamento, 
a pretexto da qualidade ou do defeito da coisa vendida, 
a não ser que já tenha sido comprovado o defeito (pa-
rágrafo único do art. 529). A venda sobre documentos 
opera alteração nos princípios que disciplinam a tradição 
da coisa vendida. Por essa razão, o pagamento deve ser 
efetuado contra a entrega dos documentos. O art. 530 
preferiu dizer na data e no lugar da entrega. Sem 
esta, o comprador pode reter o pagamento. Portan-
to sua efetivação dar-se-á no lugar e no momento 
em que o comprador os receber. É lícita a conven-
ção de lugar diverso. Tem o comprador o arbítrio 
de recusar o pagamento se a documentação não 
estiver em ordem. Procedendo, entretanto, de má-
fé o vendedor, que játem prévia ciência de danos 
sofridos pela coisa vendida, não pode descarregar 
no comprador os riscos da coisa, a pretexto de 
havê-la segurado (art. 531). Pode ocorrer e tornou-
se habitual na vida mercantil que a documentação 
seja entregue por intermédio de instituição fi nancei-
ra. Nesse caso, a operação de venda é geminada 
ao contrato de crédito documentado. Na sua execu-
ção, credenciado pelo comprador, o banco assume 
o encargo de efetuar a entrega da documentação 
ao comprador, obrigando-se a pagar ao vendedor o 
preço, ao lhe serem confi ados os documentos (art. 
532). É uma operação de fi nanciamento, concerta-
da com o comprador. Entregues os documentos ao 
banco, a este cabe verifi car a sua exatidão. Estan-
do corretos, paga-se pelo débito do comprador. O 
vendedor sai do circuito, cabendo ao banco receber 
o preço diretamente do comprador. Não tem o ban-
co o dever de verifi car a coisa vendida nem respon-
de perante o comprador senão pela regularidade do 
documento (art. 532).
 LINK ACADÊMICO 7
Outros contratos
em espécie
1. Troca ou permuta: é o contrato pelo qual as par-
tes se obrigam a dar uma coisa por outra que não 
seja dinheiro. Esse contrato tem diversas caracte-
rísticas comuns em relação aos contratos como um 
todo: bilateralidade, onerosidade, comutatividade, 
translatividade de propriedade (título aquisitivo), ca-
paz de gerar, para cada um dos contratados, a obri-
gação de transferir para o outro o domínio da coisa 
objeto de sua prestação, de forma comercial, sendo 
que, em caráter excepcional, ocorra a necessidade 
de forma solene. É anulável a troca de valores de-
siguais entre ascendentes e descendentes, sem o 
consentimento expresso dos demais descendentes 
e do cônjuge do alienante, salvo se casado no regi-
me da separação absoluta de bens. Cada um dos 
contratantes pagará por metade das despesas com 
o instrumento da troca. E cada um deles concorrerá 
com a metade das despesas, necessárias ao ins-
trumento da troca, compreendendo-se no vocábulo 
despesas todos os gastos, inclusive de natureza 
fi scal (Código Civil, art. 533, I).
2. Doação: é o contrato em que uma pessoa, 
por liberalidade, transfere do seu patrimônio bem 
ou vantagem para o de outra, que os aceita. São 
suas principais características a unilateralidade, 
envolvendo a prestação de uma só das partes, o 
que não ocorre nos contratos bilaterais; gratuidade, 
inspirado no propósito de fazer uma liberalidade; 
consensualidade, aperfeiçoando-se pela conjunção 
das vontades do doador e do donatário; solenidade, 
já que a lei impõe ao contrato de doação a forma 
escrita, a não ser que se trate de bens móveis, de 
pequeno valor, quando a simples tradição mostra-
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se sufi ciente. A aceitação constitui fator para o aper-
feiçoamento do contrato de doação, caracterizado 
pela manifestação de concordância da vontade do 
donatário. Essa aceitação pode ser expressa ou 
tácita, existindo casos em que a mesma ainda é 
considerada como presumida. Essa aceitação pre-
sumida pode ser abordada nos casos abrangendo 
o incapaz ou sua formação pelos pais nos casos do 
nascituro. Não são consideradas doação certas atri-
buições gratuitas que se costumam fazer por oca-
sião de serviços prestados (gorjetas, gratifi cações) 
ou no cumprimento de deveres ou desempenho de 
costumes sociais (esmolas, donativos por ocasião 
de datas festivas ou cerimônias religiosas), não su-
jeitas às normas disciplinares da doação. 
2.1. Requisitos: 
a) Capacidade ativa: a mesma requerida para os 
contratos em geral. Algumas restrições estabeleci-
das para outras espécies não vigoram nesta, como 
é o caso do ascendente que não necessita do 
acordo dos demais para doar a um descendente, 
ao contrário do que ocorre na compra e venda e na 
permuta, presumindo-se adiantamento de legítima 
doação levada a efeito de pai a fi lho ou entre cônju-
ges (Código Civil, artigo 544). O marido e a mulher 
podem doar com outorga recíproca, nos mesmos 
casos e condições de outras alienações de bens. 
A doação, todavia, do cônjuge adúltero ao seu 
cúmplice é proibida e conseqüentemente anulável 
(Código Civil, art. 550). As doações de um cônjuge 
ao outro não são proibidas. Não serão, contudo, lí-
citas quando contrariarem a índole do regime, como 
ocorre no da comunhão universal, em que não tem 
sentido em razão da comunidade de interesses. É 
possível a doação por mandatário, desde que o 
doador nomeie, no instrumento, o donatário ou dê 
ao procurador a liberdade de escolha de um entre 
os que designar. O menor não pode doar. O tutor 
e o curador não podem doar bens do tutelado ou 
curatelado nem dar a autorização, porque a lei lhes 
confi a a administração dos bens, porém lhes nega a 
sua disposição (Código Civil, art. 1.749, II, e 1.781).
b) Capacidade passiva: existe para todos aque-
les que podem praticar os atos da vida civil e, por 
exceção, justifi cada pelo caráter benéfi co do ato: 
o nascituro (art. 542), embora não possa exprimir 
validamente a vontade; pessoa indeterminada e 
não identifi cada, como é o caso de fi lhos a ainda 
serem tidos por determinado casal (art. 546). Às 
pessoas jurídicas de direito privado é lícito aceitar 
doações. As de direito público, federais, estaduais 
ou municipais poderão aceitá-las na forma e em 
obediência ao critério determinado pelas disposi-
ções especiais.
c) Consentimento: a manifestação convergente 
das vontades do doador e do donatário. O acordo é 
expresso quando o donatário declara, por qualquer 
veículo de manifestação volitiva, que aceita os bens 
ou vantagens ofertados pelo doador. Mas poderá 
ser tácito, quando se pode inferir de uma conduta 
adotada pelo donatário. Será presumido quando 
fi xar o doador ao donatário um prazo (art. 539), 
para que declare se aceita ou não a liberalidade: 
presumir-se-á o consentimento e conseqüentemen-
te a perfeição do contrato, se, dentro nele, não for 
recusada a doação, uma vez que seja esta pura 
e simples; e ao revés, o silêncio fará presumir a 
recusa se for aquela gravada de encargo. Já fi cto é o 
consentimento para a doação ao incapaz. O Código (art. 
543) dispensa a aceitação do absolutamente incapaz 
nas doações puras. 
d) Objeto: não há restrições objetivas à doação. Todo 
bem comercializável pode ser doado: imóveis, móveis 
corpóreos, móveis incorpóreos, universalidades, direitos 
patrimoniais não acessórios. Todavia é proibida a doa-
ção universal, isto é, aquela que compreende a totali-
dade dos bens do doador (art. 548), a não ser que este 
reserve renda sufi ciente para subsistência. É igualmen-
te proibida a doação inofi ciosa (art. 549), ou seja, a de 
bens que excedam a parte que o doador, no momento 
da liberdade, possa dispor em testamento.
2.2. Classifi cação:
1) Doação pura é aquela que envolve a mutação do 
bem no propósito de favorecer o donatário, sem que 
nada lhe seja exigido e sem subordinar-se a qualquer 
condição ou motivação;
2) Doação modal é a que contém imposição de um 
dever ao donatário, o qual tem de cumpri-lo nas mãos 
do próprio doador, na de certa pessoa ou de alguém 
indeterminado. O encargo adere substancialmente ao 
contrato. Se é nulo, contamina a própria doação, salvo 
se, do conjunto de circunstâncias, esta puder conhecer-
se destacada ou independente daquele. 
3) Doação remuneratória é aquela que se efetua com 
o propósito de recompensar serviços recebidos, pelos 
quais o donatário não se tornara credor de uma pres-
tação exigível juridicamente. Na doação remuneratória 
existe uma liberalidade, em recompensa de um favor ou 
serviço, recebido pelo doador.
4) Doação condicional ocorre quando a doação se su-
bordina a uma condição, suspensiva ou resolutiva, em 
decorrência de um fato, mesmo que dependente da von-
tade do donatário, como um casamento, uma viagem, o 
êxito em uma competição esportiva ou intelectual etc.
5) Doaçãoa termo é aquela em que a doação se dá 
com um termo fi nal ou inicial. 
6) Doação de pais a fi lhos e de um cônjuge a outro 
ocorre quando se adianta, mesmo que em parte, direitos da 
sucessão legítima.
7) Doação conjuntiva é aquela feita em comum a mais 
de uma pessoa, sendo distribuída igualmente entre os 
diversos donatários, salvo se o contrário fi cou estabele-
cido em contrato. 
2.3. Efeitos da doação: a doação não transfere, por 
si só, o domínio; faz-se necessária a tradição real para 
os móveis ou inscrição para os imóveis. A doação gera 
efeitos obrigatórios e não reais. Ela é em regra marca-
da, também, pela irrevogabilidade. Feita a doação em 
comum a mais de uma pessoa, presume-se ter o doador 
distribuído entre elas e em partes iguais a coisa doada, 
salvo se, no contrário, resultar do contrato (Código Ci-
vil, art. 551). Se forem os donatários marido e mulher, 
a lei institui uma substituição recíproca, estatuindo que, 
com a morte de um deles, não se passa o bem a seus 
herdeiros, mas subsiste, na totalidade, a doação para o 
cônjuge supérstite, como um direito de acrescer (Códi-
go Civil, parágrafo único do art. 551). Se a doação for 
feita em forma de prestação periódica ao benefi ciado 
(Código Civil, art. 545), constituirá em obrigação que se 
extingue com a morte do benefi ciário ou com a morte do 
donatário. Os herdeiros do doador não são obrigados a 
mantê-la, salvo se o contrário se dispuser. Na falta de 
tal estipulação, considera-se nova doação da parte dos 
sucessores, se estes deliberarem manter a liberalidade. 
O doador pode reservar para si o usufruto vitalício 
ou temporário da coisa doada. Se for universal a 
doação, não prevalecerá sem a reserva de renda. O 
usufruto poderá atingir a totalidade da coisa doada 
ou somente uma parte dela. O doador pode estipu-
lar que os bens doados voltem ao seu patrimônio, 
se o donatário morrer antes dele (Código Civil, art. 
547). Essa cláusula de reversão não pode ser pre-
sumida e não pode ser determinada em benefício 
de outra pessoa. O doador não é sujeito a juros mo-
ratórios e não responde pela evicção ou pelo vício 
redibitório, salvo se tiver expressamente assumido 
os riscos ou, em caso de evicção, a doação tiver 
sido efetivada para casamento com certa e deter-
minada pessoa, (Código Civil, art. 552). Exceção a 
esse último comentário, é disposição contratual em 
sentido diverso. Não deixa de constituir liberalidade 
a doação remuneratória ou a modal naquilo em que 
o valor da coisa doada exceder o valor dos serviços 
remunerados ou o encargo imposto e, como tal, tem 
de ser tratada.
2.4. Invalidade da doação: é nula a doação por 
incapacidade absoluta do doador, por ilicitude ou 
impossibilidade absoluta de objeto, por desobedi-
ência à forma prescrita (instrumento público, para 
os imóveis de valor superior ao equivalente a 30 
salários mínimos; instrumento público ou particular, 
para os móveis; tradição imediata, para as doações 
verbais de pequeno porte). Também é nula a doa-
ção universal sem a reserva de usufruto ou renda 
sufi ciente para a subsistência do doador. Não pode-
rá o doador sublimar a garantia patrimonial devida 
aos seus credores. A lei impõe que o doador res-
guarde as legítimas de seus herdeiros necessários 
(descendentes, ascendentes, cônjuge). Como por 
ato de última vontade não é possível dispor senão 
de metade da herança (Código Civil, art. 1.789), a 
doação não poderá ultrapassar a meação disponí-
vel. A doação feita pelo cônjuge adúltero ao cúm-
plice é anulável. A legitimidade para anular o ato é 
do cônjuge prejudicado ou seus herdeiros necessá-
rios, até dois anos depois de dissolvida a sociedade 
conjugal (Código Civil, art. 550).
2.5. Revogação da doação: como todo negócio 
jurídico, a doação é nula por falta dos pressupos-
tos legais essenciais e é anulável por defeito de 
vontade ou por defeito social. Como todo negócio 
jurídico, a doação resolve-se por uma causa super-
veniente e determinante de sua cessação. 
 A lei se refere às causas específi cas, que são a 
ingratidão do donatário e o descumprimento de en-
cargo. Em qualquer desses casos, não quer a esta-
bilidade econômica manter em estado de pendência 
indefi nida a possibilidade de desfazimento do ato e, 
por isso, fi xa um prazo de decadência ânuo, a con-
tar de quando chegue ao conhecimento do doador 
o fato que a autorizar e de ter sido o donatário o seu 
autor (art. 559). Os dois requisitos para o início da 
contagem do prazo são cumulativos. Se o doador 
tem ciência do fato, mas desconhece a autoria, o 
prazo somente começa a fl uir a partir do momento 
do conhecimento também da autoria do fato pelo 
donatário.
 Não permite a qualquer, mesmo que tenha inte-
resse imediato, promover a revogação, senão ao 
próprio doador, que só ele tem a legitimação res-
pectiva. A ação somente pode ser iniciada contra 
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o donatário, em pessoa. Se, porém, qualquer das 
partes falecer após a propositura da ação (Código 
Civil, art. 560), esta poderá continuar com os her-
deiros do doador contra o donatário, ou com o pri-
meiro contra os herdeiros do segundo, ou com os 
sucessores de um contra os do outro. É, portanto, 
personalíssima, em nosso direito, a faculdade de 
pedir a revogação, ao contrário de outros sistemas.
Em seguimento, desdobrando-os nos dois itens 
seguintes, veremos em que consiste o descumpri-
mento do encargo e a ingratidão.
a) Revogação por descumprimento do encargo: 
pode o doador estipular encargo ao donatário para 
com ele próprio, para com terceiro ou no interesse 
geral. E o donatário, pelo fato de só aceitar a libera-
lidade, obriga-se ao seu cumprimento. A obrigação 
resultante do encargo imposto e aceito é juridica-
mente exigível pelo próprio doador, bem como pelo 
terceiro benefi ciário ou pelo órgão do Ministério Pú-
blico no caso de ser de interesse geral.
Não se contentando a lei com esta sanção, creden-
cia ainda o doador com a faculdade personalíssima 
de promover, por ação própria, a revogação da li-
beralidade, com fundamento no inadimplemento 
do benefi ciário. Para tanto, é mister que seja o 
donatário constituído em mora, mediante interpela-
ção. Sua situação equivale à de um contratante em 
inadimplemento culposo, que gera uma condição 
resolutiva tácita, equiparável ao que acontece com 
os demais contratos. A doação modal, sem perder 
a natureza própria de liberalidade, aproxima-se dos 
contratos bilateriais (Código Civil, art. 555). 
b) Ingratidão do donatário: pode o doador revo-
gar a doação por ingratidão do donatário, tomada a 
expressão não no seu sentido vulgar, mas em acep-
ção técnica, compreensiva de fatos que traduzam 
atentado do favorecido contra a integridade física 
ou moral do doador. Ao contrário do direito alemão, 
em que a ingratidão consiste em falta grave gene-
ricamente considerada e praticada pelo donatário 
contra o doador ou seus parentes mais próximos, 
no nosso, a lei enumera taxativamente as hipóteses 
- numerus clausus. Tem, pois, esta revogação cará-
ter de pena, e somente cabe nos expressos termos 
da defi nição legal (Código Civil, arts. 557 e 558). 
Os casos especifi cados na norma são os seguintes:
I) Atentado contra a vida do doador, seu cônjuge, 
ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou ir-
mão, ou cometimento de crime de homicídio doloso 
contra eles. Somente a tentativa ou a consumação 
de homicídio doloso o caracteriza, porque a au-
sência da intenção no delito culposo exclui aquela 
deplorável insensibilidade moral que a lei civil quer 
punir. Também não se compreende a falta de cuida-
dos e de assistência. Por outro lado, a absolvição 
do acusado no juízo criminal, por qualquer das es-
cusativas de criminalidade, apagando o delito, ilide 
a ação revocatória, que não poderá mais vingar.
O art. 561 do Código atribui aos herdeiros do doador 
a legitimidade para a ação de revogação, excluindotal legitimidade, no entanto, se o doador tiver per-
doado o donatário antes de falecer. Esse perdão 
tem que ser inequívoco. Não necessita, porém, ser 
reduzido a escrito. A sua prova pode ser efetivada 
por qualquer meio admitido em lei, na medida em 
que não há exigência de forma especial.
II) Ofensa física contra o doador, seu cônjuge, as-
cendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmão. 
Mesmo que não tenha havido atentado contra a vida, 
só a agressão física é sufi ciente para autorizar a revo-
gação. Não exige a lei civil seja o agressor condenado, 
criminalmente. Basta fundamentar a existência de ofen-
sa física devidamente comprovada, a crueldade corporal 
apurada.
III) A injúria e a calúnia contra o doador, seu cônjuge, 
ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmão, 
nos termos em que estes delitos são defi nidos na lei pe-
nal, constituem, à sua vez, fatos autorizadores da revo-
gação, por trazerem atentado contra a integridade moral 
do doador (calúnia, art.138, e injúria, art.140, ambos do 
Código Penal).
IV) Finalmente, a lei considera ingratidão a recusa de 
alimentos ao doador, pressupondo que os reveses da 
vida lhe tenham imposto esta necessidade. Mas, para 
que se confi gure tal hipótese de ingratidão, é mister que 
concorram três requisitos. O primeiro é poder ministrá-
los ao donatário, sem sacrifício da própria subsistência 
e de seus familiares; o segundo é ser devedor deles o 
donatário, por faltarem os parentes mais próximos do 
doador; o terceiro é a recusa do donatário, o que pres-
supõe solicitação, pois não seria razoável a imposição 
da penalidade, na insciência, por parte do obrigado, de 
estar o doador em necessidade.
Proferida a sentença revogadora, produz efeitos “ex 
nunc”, isto é, a partir da data da citação do réu. Até en-
tão, é um possuidor de boa-fé e um proprietário legítimo. 
Tem, portanto, direito aos frutos até aquele momento 
percebidos, respondendo pelos posteriores ou seu 
equivalente. Como conseqüência da sentença, deverá 
restituir em espécie a coisa doada e, se não for possível, 
indenizar, não pelo valor do tempo da doação, nem do 
momento da sentença, porém por um termo médio. Na 
hipótese de o bem objeto da doação tiver sido alienado a 
terceiro antes da citação, não pode o doador reivindicar 
o bem, cabendo-lhe apenas indenização por perdas e 
danos do donatário (Código Civil, art. 563). O objetivo 
aqui é proteger o terceiro de boa-fé.
Não são suscetíveis também de revogação por ingrati-
dão aquelas doações que não são liberalidade pura. Ex-
cluem-se, portanto, (Código Civil, art.564): as remunera-
tórias, porque pressupõem a recompensa de um serviço 
recebido pelo doador; as modais, porque a imposição 
de encargo ao donatário sujeita-o a uma obrigação cujo 
descumprimento traz a revogação como conseqüência 
e, se o cumpre, quita-se com o doador. Não são susce-
tíveis, também, de revogação por ingratidão as doações 
realizadas em cumprimento de obrigação natural.
Mas, em nenhum caso, é lícito renunciar, por antecipa-
ção, à faculdade de revogar a doação por ingratidão do 
donatário, porque se trata de direito instituído com cará-
ter de ordem pública. O doador tem a liberdade de não 
usar dele. Mas não tem a de abrir mão de fazê-lo, por 
antecipação (Código Civil, art. 556).
3. Locação de Coisas: é o contrato pelo qual uma pes-
soa se obriga a ceder temporariamente o uso e o gozo 
de uma coisa não fungível, mediante remuneração. As 
partes são chamadas locador, ou senhorio, ou arrenda-
dor; e locatário, ou inquilino, ou arrendatário. Trata-se 
de um contrato pessoal, bilateral, oneroso, consensual e 
de execução sucessiva. O Código Civil regulou somente 
a locação de coisas que não sejam imóveis regulados 
pela Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91) ou pelo Esta-
tuto da Terra (Lei nº 4.504/64) que não foram por ele 
revogados.
4. Prestação de serviços: é o contrato em que uma 
das partes se obriga para com a outra a fornecer-
lhe a prestação de sua atividade, mediante remune-
ração. Do contrato de prestação de serviços, antes 
conceituador de toda forma de prestação de ativida-
de remunerada, adveio o contrato de trabalho, que 
pressupõe a não-eventualidade, a onerosidade, e 
a subordinação. O direito do trabalho, porém, não 
aboliu a prestação civil de serviços. Ao revés, sub-
sistem ambas as espécies contratuais, com vida 
autônoma. Para a prestação de serviços, regulada 
no Código Civil, foram destinadas as hipóteses resi-
duais, que não caracterizem o contrato de trabalho 
e que não estejam reguladas por leis especiais, tais 
como as que regem a atividade dos funcionários 
públicos (Código Civil, art. 593). 
5. Empreitada: é o acordo no qual uma das partes 
(empreiteiro) se obriga, sem subordinação jurídica 
(senão confi gurará contrato de emprego, regido 
pelo direito do trabalho), a realizar certo trabalho 
para a outra (dono da obra), com material próprio 
ou por este fornecido, mediante remuneração glo-
bal ou proporcional ao trabalho executado.
A lei especifi ca duas espécies de empreitada: a de 
mão-de-obra, na qual o empreiteiro apenas parti-
cipa com o seu trabalho e aquela em que fornece 
também os materiais necessários à sua execução 
(Código Civil, art. 610). No silêncio do contrato, a 
presunção é a de a empreitada ser apenas de mão-
de-obra. 
6. Empréstimo: sob a denominação genérica de 
empréstimo, existem as fi guras contratuais do co-
modato e do mútuo, que exprimem a mesma idéia 
de utilização de coisa alheia acompanhada do de-
ver de restituição, porém se diferenciam pela natu-
reza, pela celebração e pelos seus efeitos. 
6.1. Comodato: é o empréstimo gratuito de coi-
sas não fungíveis (Código Civil, art. 579), ou seja, 
o contrato pelo qual uma pessoa entrega à outra, 
gratuitamente, coisa não fungível, para que a utilize 
e depois restitua. Trata-se de um contrato unilateral, 
porque gera obrigações somente para o comodatá-
rio; gratuito, porque somente o comodatário aufere 
proveitos ou vantagens. Caso seja estipulada retri-
buição ou contraprestação, desfi gura-se esse con-
trato, passando a ser aluguel, caso se estipule em 
dinheiro ou alguma outra forma de contrato atípico; 
real, porque se forma pela tradição da coisa; pode 
não ser essencialmente celebrado em caráter de 
pessoalidade, embora habitualmente traduza um 
favorecimento pessoal. O comodato não exige for-
ma solene da declaração de vontade. No comodato 
apenas o comodatário se benefi cia. Se o comodato 
for, porém, conveniente (como no caso de facilitar 
a conservação da própria coisa), terá condições de 
existência e validade, uma vez que preceda autori-
zação especial do dono ou, se for este incapaz, do 
juiz (Código Civil, art. 580).
No tocante aos requisitos subjetivos deste contrato, 
observa-se que os administradores de bens alheios, 
especialmente de incapazes (tutores e curadores), 
não podem dá-los em comodato. Não é preciso 
que o comodante seja proprietário. Basta que, por 
direito, o mesmo uso que pretende emprestar lhe 
pertença. Poderá ser comodada qualquer coisa não 
fungível, móvel ou imóvel. Coisa fungível não pode 
ser objeto de comodato, e sim de mútuo, porque a 
sua caracterização pelo gênero e pela qualidade é 
incompatível com a restituição em espécie. Excep-
cionalmente, admite-se que, por contrato, as partes 
ajustem a infungibilidade de coisas naturalmente 
fungíveis. O comodatário recebe a coisa tal qual se 
acha, sem que exista para o comodante a obriga-
ção de pô-la em estado de servir, nem de repará-la.
É um contrato temporário, em regra. O comodan-
te tem a faculdade de reclamar a coisa a qualquer 
tempo, se for de duração indeterminada. Ajustado 
o contrato a prazo certo, deve este ser respeitado, 
salvo se o comodante, demonstrando, em juízo, a 
sua necessidade urgente e imprevista, vier a ser 
autorizado a antecipar sua recuperação (Código

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