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TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 1 O Direito Quando se vê uma mãe bater com violência em, seu filho, diz-se que isso não é direito. Quando se surpreende um ladrão em pleno furto, fala-se que ele está agindo contra as leis. Quando se assalta um banco, também se diz que não se está agindo em conformidade com o direito. Mas também, para muitos, a atividade bancária de emprestar a juros não é considerada correta, e, para outros, fundar um banco é um ato de muito mais roubo do que assaltar um banco. Não é justo, para alguns, que um mendigo roube pão. Mas não é justo, para muitos outros, que o mendigo não tenha um pão. Para alguns o direito é inspirado em livros tido como sagrados, como a Bíblia. Para outros, o direito é puramente técnico, e se restringiria a um conjunto de leis emanadas do Estado. Perante tantas coisas que são denominadas ou não por direito, e perante outras em relação às quais se atribui um caráter justo ou injusto, há uma grande dificuldade para identificar aquilo que se chama, especificamente, por direito. Para entendermos o fenômeno jurídico, é preciso, acima de tudo, utilizar-se da ferramenta da história. Sem ela, as definições sobre o direito são vagas e sem lastro concreto. Durante muito tempo, chamou-se por direito aquilo que os homens chamariam hoje por religião, ou mesmo por política. Quem dirá que os Dez Mandamentos da Bíblia são um monumento jurídico? Mas quem poderá dizer que são um conjunto de normas só religiosas e não jurídicas? Na verdade, em sociedades do passado, como a hebreia, não há algo que especificamente seja chamado por direito e que seja totalmente distinto da religião, por exemplo. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 2 Somente quando se chegou aos tempos modernos – quando começou a separação teórica entre direito, política e religião, por exemplo – é que foi possível entender que não houve, naqueles tempos passados, um direito tomado de modo específico. Mas essa indistinção dos tempos passados não foi algo que aconteceu apenas com o direito. Entre a moral e a religião também se deu o mesmo. O Iluminismo, um movimento filosófico do século XVIII, demonstrou que seria possível compreender a moral independentemente da religião. Para os iluministas, poderia haver uma moral racional válida para todos os homens, universal e superior, independente da religião de cada qual. Mas para os povos do passado essa separação seria muito difícil. Moral e religião estavam misturadas. Só os tempos modernos, devido a certas condições e estruturas sociais, como a organização capitalista, deram especificidade à religião, à moral, à política, à economia e também ao direito. Assim sendo, é o presente que nos ajuda a entender as dificuldades do passado. Se hoje o jurista considera o direito a partir das normas jurídicas estatais, com uma série de ferramentas, temas e consequências próprias (“dever ser”), no passado tudo isso poderia ser objeto da religião, sem que houvesse uma delimitação dos campos específicos. Comparado ao passado, o direito ganha especificidade apenas no capitalismo, a partir da Idade Moderna. Se no passado o direito era inespecífico, misturado à moral e à religião, no presente ele se revela algo distinto, um fenômeno singularizado. Mas, mesmo assim, a questão ainda permanece, posta agora em outro patamar, mais profundo. Se é somente nos tempos modernos que o direito passa a ser um fenômeno específico, então o que identifica em si o direito de nosso tempo, a fim de que seja distinguido de todos os demais fenômenos sociais? TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 3 Pois bem. Nos dias atuais, aos olhos do homem comum, o Direito é lei e ordem, isto é, um conjunto de regras obrigatórias que garantem a convivência social graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros. O Direito corresponde à exigência essencial e indeclinável de uma convivência ordenada, pois nenhuma sociedade poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de direção e solidariedade. Um velho brocardo latino fazendo referência a isso dizia: Ubi societas, ibi ius; ubi ius, ibi societas (onde está a sociedade, está o Direito; onde está o Direito, está a sociedade). O Direito é um fato ou fenômeno social; não existe senão em sociedade e não pode ser concebido fora dela, o Direito é uma coisa de homem para homem, de ser humano para ser humano. Se houvesse apenas um ser humano na Terra, não haveria sentido haver regras jurídicas, pois não haveria direitos alheios que pudessem ser violados. O escritor inglês DANIEL DEFOE expôs bem tal questão na obra “A Vida e as Estranhas Aventuras de Robinson Crusoé”. É uma disciplina essencialmente dinâmica, não se podendo conceber um direito estático. Se a sociedade muda, o Direito deve acompanhar essa mudança. Com muita razão GEORGES RIPERT afirmava que “Quando o Direito ignora a realidade, a realidade se vinga ignorando o Direito”. O Direito está presente em todos os momentos da nossa vida (desde a concepção no útero materno) e nos acompanha até mesmo após a morte (art. 2º, art. 12, parágrafo único e artigo 20, parágrafo único, do CC). Ainda assim, muitas vezes não damos conta da presença do Direito em nossa jornada ou, por outro lado, não há interesse em pensar o Direito. KARL ENGISCH chegou a firmar que: “Quem se proponha familiarizar o principiante ou o leigo com a Ciência do Direito (jurisprudência) e o pensamento TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 4 jurídico, ao tentá-lo vê-se a braços com uma série de dificuldades e dúvidas que não encontraria noutros domínios científicos. Quando o jurista, situado no círculo das ciências do espírito e da cultura, entre as quais se encontra a jurisprudência, olha ao derredor, tem de constatar, angustiado e com inveja, que a maioria delas pode contar extra muros com um interesse, uma compreensão e uma confiança muito maiores do que precisamente a sua ciência. Especialmente as ciências (teorias) da linguagem, da literatura, da arte, da música e da religião fascinam os leigos devotados a assuntos de cultura numa medida muito maior do que a ciência do Direito, se bem que esta, não só quanto à matéria mas ainda metodologicamente, tenha com aquelas estreitos laços de parentesco. (...) Sem grandes hesitações se depositará um livro de arqueologia ou de história da literatura sobre a mesa dos presentes, mas a custo se fará o mesmo com um livro jurídico, ainda que este não exija da parte do leitor conhecimentos especiais. As usuais introduções à ciência jurídica, com raras exceções, apenas parecem ter algum interesse para o jurista principiante, mas já não para o leigo. (...) As razões deste desinteresse do leigo pelo Direito e pena ciência jurídica são fáceis de descobrir. Todavia, trata-se de algo muito estranho. Com efeito, a custo qualquer outro domínio cultural importará mais ao homem do que o Direito. Há na verdade pessoas que podem viver sem uma ligação íntima com a poesia, com a arte, com a música. Há, também, na expressão de Max Weber, pessoas ‘religiosamente amusicais’. Mas não há ninguém que não viva sob o Direito e que não seja por ele constantemente afetado e dirigido. O homem nasce e cresce no meio da comunidade e - à parte os casos anormais – jamais se separa dela. Logo, inevitavelmente, afeta-nos e diz-nos respeito. (...) Por que, pois, tão pouca abertura de espírito para o Direito e a jurisprudência?” CARLOS ARI SUNDFELD procura responder às questões levantadas por ENGISCH ao observar que “O cientistado direito vive seu dilema. Se compõe uma obra para expor idéias sobre o justo ou o injusto, o bom e o mau, conquista TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 5 simpatia, mas frauda seus leitores, porque não faz ciência do direito, mas filosofia da justiça. Se apenas descreve o funcionamento dos mecanismos de que se compõe o sistema jurídico, ou se expõe certo sistema jurídico positivo (o brasileiro, o francês...), cumpre adequadamente sua função, mas seu trabalho perde charme mundano.” Pluralismo e Monismo Jurídico O Direito abrange um conjunto de disciplinas e regras, divide-se em duas grandes classes: Direito Público e Direito Privado. As relações que se referem ao Estado e traduzem o predomínio do interesse coletivo são chamadas relações públicas ou de Direito Público, por conseguinte, as relações que interessam ao indivíduo enquanto particular dizem respeito ao Direito Privado. Há em cada comportamento humano, a presença, embora indireta, do fenômeno jurídico: o Direito está pelo menos pressuposto em cada ação do homem que se relacione com outro homem. Para alguns há uma categoria intermediária, um terceiro gênero, denominado direito misto ou direito difuso (ambiental, trabalho, consumidor etc.). Preferimos, porém, manter a divisão clássica, que remonta ao Direito Romano, na pessoa do jurista Ulpiano, pioneiro a discorrer sobre tal divisão. MODELOS TEÓRICOS: Dogmática e Zetética Há duas possibilidades de proceder à investigação de um problema jurídico: acentuando o enfoque dogmático ou acentuando o enfoque zetético. Os dois enfoques não se excluem, estão correlacionados, mas o predomínio de um deles revela consequências diferentes. O enfoque dogmático não questiona os dogmas (normas) diante de um problema, pois considera que a sua solução já esteja previamente conferida ou pressuposta TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 6 no sistema de normas, implicando um conhecimento prático capaz de atender às necessidades do profissional do Direito no desempenho imediato de suas funções. O enfoque zetético problematiza as normas que ficam abertas à dúvida e à crítica, demonstrando um conhecimento teórico, sem compromisso com a necessidade imediata do profissional do Direito. Sob o enfoque zetético, as normas comportam pesquisas de ordem sociológica, antropológica, filosófica, histórica etc. O pesquisador (jurista) preocupa-se em ampliar as dimensões do fenômeno, sem limita-se aos problemas relativos às decisões dos conflitos. Pode encaminhar sua investigação para os fatores reais do poder que regem uma comunidade, as bases econômicas e os reflexos na vida social, o levantamento dos valores que orientam a ordem constitucional, uma crítica ideológica do atual estágio dos diversos ramos do direito: penal, empresarial, civil, tributário etc. A investigação zetética, além de fornecer uma resposta para determinado tema, cuida mais de problematizá-lo. Assim ocorre com os temas enunciados de forma mais genérica, p. ex., a questão do preconceito, da liberdade de imprensa, da função social da propriedade, dos direitos humanos etc. Assim acontece, também, com temas enunciados de forma mais especificam, como a reprodução humana in vitro, contrato de gestação, eutanásia, casamento de pessoas do mesmo sexo, esterilização de pedófilos, comércio de órgãos humanos, greve de funcionários públicos, política de ações afirmativas etc. Em uma investigação dogmática, as normas são pontos de partida que não podem ser negados. O sistema de normas acarreta uma limitação à atividade do jurista. As normas são, contudo, expressas em palavras, e estas são sempre vagas e ambíguas, fato que exige interpretação. As normas são um produto abstrato e as TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 7 regras de interpretação (dogmas que dizem como devem ser entendidas as normas) são também produtos abstratos. Tem-se, desse modo, uma dupla abstração que consiste em isolar normas e regras de seus condicionamentos zetéticos (sociológicos, antropológicos, econômicos, políticos, históricos, filosóficos etc.). Essa dupla abstração provoca o distanciamento entre Direito e realidade social. A dogmática depende do princípio da inegabilidade dos pontos de partida, mas não se reduz a ele. Ao interpretar a norma (texto), o jurista cria condições para se libertar dos pontos de partida, porque é possível extrair de uma mesma norma vários significados. O ato interpretativo, que acompanha a resposta ou a decisão, dificilmente reproduz o sentido imediato da norma, geralmente lhe confere um sentido mais abrangente ou adverso. A resposta ou a decisão, embora possa parecer, não se enclausura totalmente nas normas. Assim, a dogmática jurídica, em vez de ser considerada uma prisão para o espírito, permite o aumento da liberdade no trato com a experiência normativa. A dogmática não se exaure na afirmação do dogma estabelecido, mas interpreta sua própria vinculação. O conhecimento dogmático dos juristas, embora dependa dos dogmas, gira em torno de incertezas. Essas incertezas são justamente aquelas que, aparentemente, foram eliminadas pelos dogmas. Assim, diante da incerteza sobre a possibilidade de casamento de pessoas do mesmo sexo, o Poder Judiciário editou uma decisão reconhecendo tal direito. Coube, nesse sentido, ao saber dogmático, retomar a incerteza primitiva, indagando, por exemplo: “o que é família?”. O mesmo vale para outras incertezas, tais como: aborto, eutanásia, mudança de sexo etc. O jurista retoma a incerteza primitiva e cria alternativas para a decisão dos conflitos com um mínimo de perturbação social. Para a zetética, os temas mencionados provocam a seguinte pergunta: “em nossa sociedade, esses temas se constituíram como fatos ou problemas sociais?”. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 8 Surgem perguntas sobre as experiências sociais, culturais, políticas, históricas que permitiram o surgimento dos próprios temas. Se para a dogmática a norma, que trata do casamento, constitui ponto de partida de uma construção teórica com vistas à decisão de conflitos, para a zetética o ponto de partida é a construção dessa noção, que se apresenta como um dado e como portadora de uma realidade objetiva. Embora o jurista seja um especialista em questões dogmáticas (práticas), é também um especialista em questões zetéticas (teóricas), posto que, diante da alta complexidade do mundo contemporâneo imprimiu à vida social, não há como isolar os problemas jurídicos dos seus aspectos sociológicos, antropológicos, econômicos, políticos, filosóficos, históricos etc. Sobre o tema, TÉRCIO SAMPAIO FERRAZ JR. cita a seguinte anedota: “Sócrates estava à porta de sua casa, quando passa um homem correndo e atrás dele um grupo de soldados. Um dos soldados então grita: ‘agarre esse sujeito, ele é um ladrão!’ Ao que responde Sócrates: ‘o que você entende por ladrão?’.” Há, nessa história, dois enfoques: a) o do soldado (dogmático) – que parte da premissa de que o significado de ladrão é uma questão já definida, uma resposta já dada, indubitável e inquestionável, sendo seu problema tão somente sendo seu problema agarrá-lo; b) a de Sócrates (zetético) – para quem a premissa é duvidosa e merece questionamento prévio. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 9 Os dois enfoques estão relacionados, mas as conseqüências são diferentes. Um, ao partir de uma solução já dada e pressuposta, está preocupado com um problema de ação, de como agir.Outro, ao partir de uma interrogação, está preocupado com um problema especulativo, de questionamento global e progressivamente infinito das premissas. Direito e Moral - Distinção Ambos têm pontos de contato e pontos de dessemelhança: têm eles uma comum base ética, uma idêntica origem, a consciência social. Ambos constituem normas de comportamento. Sobre a Moral, pertinente a leitura da d’O Anel de Giges. Trata-se de uma alegoria narrada por Platão, no Livro II, de “A República”. “Giges era um pastor que servia em casa do que era então soberano da Lídia. Devido a uma grande tempestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se uma fenda no local onde ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver tal coisa, desceu por lá e contemplou, entre outras maravilhas que para aí fantasiam, um cavalo de bronze, oco, com umas aberturas, espreitando através das quais viu lá dentro um cadáver, aparentemente maior do que um homem, e que não tinha mais nada senão um anel de ouro na mão. Arrancou-lho e saiu. Ora, como os pastores se tivessem reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os meses, o que dizia respeito aos rebanhos, Giges foi lá também, com o seu anel. Estando ele, pois, sentado meio dos outros, deu por acaso uma volta ao engaste do anel para dentro, em direção à parte interna da mão, e, ao fazer isso, tornou-se invisível para os que estavam ao lado, os quais falavam dele como se tivesse ido embora. Admirado, passou de novo a mão pelo anel e virou para fora o engaste. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 10 Assim que o fez, tornou-se visível. Tendo observado estes fatos, experimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e verificou que, se voltasse o engaste para dentro, se tornava invisível; se o voltasse para fora, ficava visível. Assim senhor de si, logo fez com que fosse um dos delegados que iam junto ao rei. Uma vez lá chegado, seduziu a mulher do soberano, e com o auxílio dela, atacou-o e matou-o, e assim se tomou o poder.” Eis um bom teste para testar nossas virtudes. O que faríamos nós se achássemos esse anel? A resposta a tal questão revela muito sobre nós mesmos. No caso do texto, o primeiro fato é que Giges saqueia o túmulo. Depois, o poder o corrompe, ou traz à tona seu lado corrompido e podre. Na questão de saquear e roubar, quem pode dizer que nunca fez? Cometemos este delito quando pegamos um papel, um lápis ou uma caneta do trabalho sem pedir a ninguém, quando podemos fazer algo bem feito e fazemos de qualquer forma. Criticamos governo, patrões etc, mas são eles apenas reflexos de nós mesmos, de tal maneira que é só uma questão de oportunidade e de proporção. Como contribuintes nós sonegamos, como governantes desviamos a verba arrecadada. Como funcionários fazemos corpo mole, não valorizamos o emprego, e como patrões não valorizamos os empregados. Platão diz no final do livro que devemos ser justos, com anel ou sem anel, o que parece claro. O Direito e a Moral regulam atos de seres livres, os homens, tendo um e outra por fim, o bem-estar do indivíduo e da sociedade. O campo da Moral é mais amplo (non omne quod licet honestum est). A Moral abrange os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com seus semelhantes. O Direito é mais restrito, compreende apenas os deveres do homem para com seus semelhantes. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 11 O Direito tem coação, a Moral é incoercível. A principal oposição entre a regra moral e a regra jurídica repousa efetivamente na sanção. A Moral só comporta sanções internas, que notoriamente se apresentam inócuas. O Direito, por sua vez, conta com a sanção para coagir os indivíduos. Sem esse elemento coercitivo, não haveria segurança nem justiça para a vida em sociedade. Visto isso podemos afirmar que o conceito de coação (possibilidade de constranger o indivíduo à observância da norma), torna-se inseparável do Direito. A Moral visa à abstenção do mal e à prática do bem, enquanto o objetivo do Direito é evitar que se lese ou se prejudique a outrem. A Moral se dirige ao momento interno, psíquico, volitivo, à intenção que determina o ato, ao passo que o Direito se dirige ao momento externo, físico, isto é, ao ato exterior. A Moral é unilateral, o Direito, bilateral. O Direito é mais definido, a Moral é mais difusa. Detalhe importante que se percebe é que as normas morais tendem a se converter em normas jurídicas. Poderíamos dizer que “tudo o que é jurídico é moral, mas nem tudo o que é moral é jurídico” (non omne quod licet, honestum est). Não é exato dizer que tudo o que se passa no mundo jurídico seja ditado por motivos de ordem moral. Além disso, existem atos juridicamente lícitos que não o são do ponto de vista moral. Há regras sociais que cumprimos de maneira espontânea, independentemente de haver sanção, são as chamadas normas de aceitação social (ex. se o art. 121 do Código Penal deixar de ser punido, não sairemos cometendo homicídios, porque temos TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 12 consciência da necessidade de respeito à vida alheia). Outras regras existem, que os homens só cumprem em determinadas ocasiões, porque a tal são coagidos, são as chamadas normas de rejeição social (ex. a norma tributária – só pagamos tributos porque tememos a sanção normativa). A Moral é o mundo da conduta espontânea, do comportamento que encontra em si próprio a sua razão de existir. O ato moral implica a adesão do espírito ao conteúdo da regra. Não é possível conceber-se o ato moral forçado, fruto da força ou da coação. Temos, assim, a representação de diversas teorias que tentaram explicar as relações entre o Direito e a Moral: teoria dos círculos concêntricos, teoria dos círculos secantes, teoria dos círculos independentes e teoria do mínimo ético. Teoria dos círculos concêntricos (JEREMY BENTHAM) – A ordem jurídica estaria incluída totalmente no campo da Moral. Os dois círculos seriam concêntricos, com o maior pertencendo à Moral. Daí: a) o campo da Moral é mais amplo que o do Direito e, b) o Direito se subordina à Moral. A validade das leis está condicionada à sua adaptação aos valores morais. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 13 Teoria dos círculos independentes (KELSEN) – Desvincula Direito e Moral. Os dois sistemas são esferas independentes. Para KELSEN a norma é o único elemento essencial ao Direito, cuja validade não depende de conteúdos morais. O Direito, assim, seria o que está positivado na norma. Teoria dos círculos secantes (CLAUDE DU PASQUIER) – Direito e Moral possuem uma faixa de competência comum e, ao mesmo tempo, uma área particular independente. Há assuntos de alçada exclusiva da Moral, como a atitude de gratidão a um benfeitor. De modo igual, há problemas jurídicos estranhos à ordem moral, como, por exemplo, as regras de trânsito, prazos processuais, divisões de competência na Justiça. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 14 Teoria do Mínimo Ético (JELLINEK) – O Direito representa o mínimo de preceitos morais necessários ao bem estar da coletividade. Toda sociedade converte em Direito os valores morais estritamente essenciais à garantia e preservação de suas instituições. Assim, o Direito está implantado, por inteiro, nos domínios da Moral, configurando, assim, a hipótese dos círculos concêntricos. Tal teoria é equivocada. Mais correto seria a figura dos círculos secantes (DU PASQUIER). É no Direito Penale no Direito de Família que a moral faz-se representar mais fortemente. A influência moral nesses dois ramos do Direito é muito grande. Mesmo aqui nesses ramos há normas imorais. Definir, assim, um “mínimo ético” seria absurdo. Necessário, pois, distinguir um campo do Direito que, se não é imoral, é pelo menos amoral, o que leva a representar o Direito e a Moral como dois círculos secantes. Direito e Coação O que distingue o Direito da Moral é a coercibilidade: a Moral é incoercível e o Direito é coercível. Coercibilidade é uma expressão técnica que serve para mostrar a plena compatibilidade que existe entre o Direito e a força. Sobre o tema, pertinente o pensamento de RUDOLF VON IHERING, expressado na obra A LUTA PELO DIREITO: “o direito não é mero pensamento, mas sim força viva. Por isso, a Justiça segura, numa das mãos, a balança, com a qual TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 15 pesa o direito, e na outra a espada, com a qual o defende. A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a espada é a fraqueza do direito. Ambas se completam e o verdadeiro estado de direito só existe onde a força, com a qual a Justiça empunha a espada, usa a mesma destreza com que maneja a balança”. Há 3 posições há respeito da relação entre Direito e força : 1ª) Uma teoria imbuída de eticismo absoluto sustenta que o Direito nada tem a ver com a força, não surgindo, nem se realizando graças à intervenção do poder público; 2ª) Para Ihering o Direito se reduz a “norma+coação”. Segundo essa concepção, poderíamos definir o Direito como sendo a ordenação coercitiva da conduta humana. 3ª) A teoria da coercibilidade diz que o Direito é a ordenação coercível da conduta humana. Podemos distinguir, assim: Sanção – conseqüência desfavorável imputada àquele que descumpre uma norma jurídica. Coerção – ameaça potencial de sofrer sanção (se praticar tal conduta, sofrerá tal conseqüência). Coação – sanção concretizada por conta da violação da norma jurídica (praticou a conduta e, em concreto, sofre a conseqüência). TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 16 Direito e Heteronomia A heteronomia pode ser definida como sendo a validade objetiva e transpessoal das normas jurídicas, as quais se põem acima das pretensões dos sujeitos de uma relação, superando-as na estrutura de um querer irredutível ao querer dos destinatários. Baseia-se na sujeição a um querer alheio (ao contrário da autonomia). KANT foi o primeiro a afirmar ser a Moral autônoma e o Direito heterônomo. O Direito é heterônomo, visto ser posto por terceiros aquilo que somos juridicamente obrigados a cumprir, a partir disto poderíamos afirmar que o Direito é a ordenação heterônoma e coercível da conduta humana. Bilateralidade Atributiva (MIGUEL REALE) Há bilateralidade atributiva quando duas ou mais pessoas se relacionam segundo uma proporção objetiva que as autoriza a pretender ou a fazer garantidamente algo. Bilateralidade atributiva é uma proporção intersubjetiva, em função da qual os sujeitos de uma relação ficam autorizados a pretender, exigir, ou a fazer, garantidamente, algo. Daí a dizer: 1) Sem relação que una duas ou mais pessoas não há Direito (bilateralidade em sentido social, como intersubjetividade); 2) Para que haja Direito é indispensável que a relação entre os dois sujeitos seja objetiva, isto é, insuscetível de ser reduzida, unilateralmente, a qualquer dos sujeitos da relação (bilateralidade em sentido axiológico); 3) Da proporção estabelecida deve resultar a atribuição garantida de uma pretensão ou ação, que podem se limitar aos sujeitos da relação ou estender-se a terceiros (atributividade). TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 17 Em suma, a bilateralidade atributiva é uma das características essenciais da norma jurídica, que a separa da norma moral. Consiste no fato da norma jurídica possuir, sempre, dois lados: de um, atribui um direito subjetivo; de outro, um dever jurídico correspondente. Assim, em uma relação jurídica há sempre um sujeito ativo, portador do direito subjetivo, e um sujeito passivo, possuindo o correspondente dever. Por isso, fala-se em uma relação de interdependência entre direitos e deveres no Direito, sendo essa bilateralidade uma "proporção intersubjetiva", isto é, está divido proporcionalmente o mesmo quantum de direito e dever entre os sujeitos de uma relação jurídica. MUNDO DO DIREITO X MUNDO DA NATUREZA HANS KELSEN, criador da Teoria Pura do Direito, explicou com brilhantismo a diferença entre as leis da natureza e as normas jurídicas, valendo-se do dualismo de KANT entre o “ser” (sein) e o “dever ser” (söllen). Discorrendo sobre o tema, CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO leciona que “O mundo do direito difere profundamente do mundo natural. O mundo normativo tem a sua existência própria, diversa do mundo natural, desligada dele, como um modo de ser e de existir próprio, diverso do mundo natural. (...) No mundo natural, se soltarmos um cigarro, ele inelutavelmente cairá, em razão da lei da gravidade, que enuncia relações que decorrem, efetivamente, da natureza das coisas. (...) No mundo do direito as coisas não se processam assim. Os homens constroem, livremente, situações hipotéticas e enlaçam a esse antecedente um certo conseqüente. Figuram uma relação entre um antecedente, que é livremente construído pelos homens, e um conseqüente, também livremente instituído pelos homens. (...) Por isso os sistemas jurídicos podem variar. Um dado sistema pode impor que é obrigatório o voto. O enlaçamento entre essas duas relações é feito TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 18 pela vontade do legislador. Ele relaciona antecedentes com conseqüentes. No mundo natural vigora a lei da causalidade, a relação de causa e efeito: se A for, B será. No mundo do direito vigora a relação de imputação: se A for, B deverá ser”. Tem-se, assim: - Mundo da Natureza: Se A é, B é (sein): relação de causa e efeito. Ex. lei da gravidade - Mundo da Norma: Se A for, B deverá ser (söllen): relação de imputação. Ex. art. 121 do Código Penal Daí afirmar-se que “o Direito é a ciência do dever ser”. As conseqüências normativas são aquelas que o legislador desejou (obviamente obedecendo aos limites constitucionais, o princípio da razoabilidade, os tratados internacionais ratificados pelo Brasil e considerando-se a proteção à dignidade da pessoa humana como seu principal vetor). É a vontade do legislador, p. ex., que atribui ao comportamento “matar alguém”, a conseqüência: “reclusão de 6 a 20 anos” (art. 121, do Código Penal). A diferença entre o “ser” (mundo da natureza) e o “dever ser” (mundo do Direito) nos permite compreender por que a norma jurídica, mesmo desrespeitada, continua existindo. A norma não descreve a realidade, não diz como ela é, mas apenas como deve ser. DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA EROS ROBERTO GRAU afirma que “O Direito não é uma ciência. O Direito é estudado e descrito; é, assim, tomado como objeto de uma ciência, a chamada TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 19 Ciência do Direito. (...) O Direito é normativo. O Direito não descreve; o Direito prescreve. A ciência que o estuda e descreve não é, no entanto, normativa. É, como toda ciência, descritiva. Impõe-se distinguirmos, assim, o Direito e a Ciência do Direito. Esta última descreve – indicando como, porque e quando – aquele.” O Direito, portanto, compõe-se de normas, enquanto a Ciência do Direitocompõe- se de um conjunto de proposições. Ensina, ainda, EROS GRAU: “Proposições jurídicas – esclarece Kelsen, são juízos hipotéticos que enunciam ou traduzem que, de conformidade com o sentido de uma ordem jurídica – nacional ou internacional – dada ao conhecimento jurídico, sob certas condições ou pressupostos fixados por este ordenamento, devem intervir certas conseqüências pelo mesmo ordenamento determinadas. As normas jurídicas, por seu turno, não são juízos, isto é, enunciados sobre um objeto dado ao conhecimento. Elas são antes, de acordo com o seu sentido, mandamentos, e como tais, comandos, imperativos. Mas não são apenas comandos. Em todo o caso, não são – como, por vezes, identificando o Direito como ciência jurídica, se afirma – instruções (ensinamentos). O Direito prescreve, permite, confere poder ou competência – não ensina nada. (...) A ciência jurídica tem por missão conhecer de fora, por assim dizer – o Direito e descrevê-lo com base no seu conhecimento. Os órgãos jurídicos têm – como autoridade jurídica – antes de tudo por missão produzir o Direito para que ele possa então ser conhecido e descrito pela ciência jurídica.” Assim, temos: a) o Direito é composto por normas; a ciência jurídica é composta por proposições; b) o Direito é prescritivo; a ciência jurídica é descritiva; c) o Direito é produzido por um órgão estatal; a ciência jurídica é produzida por cientistas; TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 20 d) a norma jurídica (o Direito) é válida ou inválida; a ciência jurídica é verdadeira ou falsa. CONCEITO DE DIREITO Pode-se dizer que o Direito é a ordenação bilateral atributiva das relações sociais, na medida do bem comum. É próprio do Direito ordenar a conduta de uma maneira bilateral e atributiva, ou seja, estabelecendo relações de exigibilidade segundo uma proporção objetiva. O Direito não visa a ordenar as relações dos indivíduos entre si para a satisfação apenas dos indivíduos, mas, ao contrário, para realizar uma convivência ordenada, o que se traduz na expressão: “bem-comum”. O bem-comum não é a soma dos bens individuais, nem a média do bem de todos; o bem comum é a ordenação daquilo que cada homem pode realizar sem prejuízo do bem alheio, uma composição harmônica do bem de cada um com o bem de todos, tendo como vetor o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF). O jurista CELSO, expoente do período clássico do Direito Romano, definia o direito como a arte do bom e do justo (Ius est ars boni et aequi). Apesar de “romântico”, o conceito não parece acertado nos dias atuais. Direito é a norma das ações humanas (norma agendi) na vida social (facultas agendi) estabelecida por uma organização soberana (justo) e imposta coativamente à observância de todos (sanção). Como afirmava SILAS RODRIGUES GONÇALVES, saudoso professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, “Direito é construção cultural, e é disciplina normativa, heterônoma, da vida exterior e relacional das pessoas, bilateral e imperativo-atributiva, dotada de validade, eficácia e coercibilidade, que tende à TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 21 realização da segurança, equilíbrio e bem-comum, dentro de uma sociedade organizada, através da captação, tradução e aplicação do valor eterno, justiça.” TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO (MIGUEL REALE) Uma análise em profundidade dos diversos sentidos da palavra Direito, MIGUEL REALE vislumbrou que eles correspondem a três aspectos básicos, discerníveis em todo e qualquer momento da vida jurídica: um aspecto normativo (o Direito como ordenamento e sua respectiva ciência); um aspecto fático (o Direito como fato, ou em sua efetividade social e histórica) e um aspecto axiológico (o Direito como valor de Justiça). É a chamada Teoria Tridimensional do Direito, que preconiza que a experiência jurídica (o Direito) surge da dialetização fato + valor + norma. Daí a dizer: 1) Onde quer que haja um fenômeno jurídico, há, sempre e necessariamente um fato subjacente; um valor, que confere determinada significação a esse fato, inclinando ou determinando a ação dos homens no sentido de atingir ou preservar certa finalidade ou objetivo; e uma regra ou norma, que representa a relação ou medida que integra um daqueles elementos ao outro, o fato ao valor; 2) Tais elementos ou fatores (fato, valor, norma) não existem separados um dos outros, mas coexistem numa unidade concreta; 3) Esses elementos ou fatores não só se exigem reciprocamente, mas atuam como elos de um processo, de tal modo que a vida do Direito resulta da integração dinâmica e dialética dos três elementos que a integram. A conjugação proposta por REALE pressupõe uma constante comunicação entre o aspecto fático e o aspecto axiológico, que origina e também se relaciona com o normativo. Esta comunicação é denominada pelo próprio autor como a "dialética de TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 22 implicação-polaridade", ou, "dialética de complementariedade". Esta dialética consiste na percepção de que fatos e valores estão constantemente relacionados na sociedade de maneira irredutível (polaridade) e de mútua dependência (implicação). Esta visão pode ser exemplificada a partir da análise de um simples caso, utilizado pelo próprio MIGUEL REALE. Na legislação sobre títulos de crédito, há previsão para o pagamento de uma letra de câmbio na data de seu vencimento, caso contrário, a mesma está sujeita a protesto e conseqüente cobrança do título pelo credor. Neste caso, podemos identificar uma norma (o próprio dispositivo legislativo que gera as obrigações e direitos no caso), resultante e unificadora da relação entre fatos (a situação da emissão da letra de câmbio, o contexto histórico de necessidades técnicas e jurídicas das transações comerciais, etc.) e valores (o valor da garantia, do crédito, da segurança financeira etc.). Como conseqüência desta teoria, MIGUEL REALE implica seus reflexos na atividade do jurisperito: a análise por parte de advogados e juízes não deve se manter presa a somente uma, ou mesmo duas destas dimensões, devendo estar constantemente vinculada à interpretação do sistema tridimensional como um todo. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 23 Acepções do termo “Direito” (ANDRÉ FRANCO MONTORO) Observando o Direito à luz da realidade dos estudos Jurídicos contemporâneos, pode-se vislumbrar que o termo "direito" comporta, segundo FRANCO MONTORO, pelo menos as seguintes concepções: a) Ciência, correspondente ao conjunto de regras próprias utilizadas pela Ciência do Direito; “O direito é uma ciência social”; b) Norma jurídica, pois objetiva regulamentar o comportamento das pessoas na sociedade por meio de normas editadas pelas autoridades competentes. Ex. “O Direito pune o homicídio”, art. 121, do Código Penal; c) Poder ou prerrogativa, quando se diz que alguém tem a faculdade, o poder de exercer um direito; Ex. “O maior de 16 tem o direito de votar”; “O Estado tem o direito de cobrar tributos”; d) Fato social, quando se verifica a existência de regras vivas existentes no meio social. Ex. “O Direito nasce do fato e ao fato se destina”; e) Justo, aquilo que cada pessoa deve fazer ou deixar de fazer em uma sociedade bem ordenada e justa. Ex. “Fiz tudo direito”; “O salário é direito do trabalhador”. O Direito é um ideal sonhado por certa sociedade e simultaneamente um golpe que enterra esse ideal. É símbolo da ordem social e simultaneamente a bandeira da agitação. O Direito garantea privacidade e a intimidade e, também, ao mesmo tempo, a publicidade e quebra da intimidade. Só por esses exemplos percebe-se o grau de dificuldade que é o manejar do conceito "direito". Talvez por isso a chamada Ciência do Direito tenha acabado por privilegiar um dos sentidos, dentre os vários possíveis. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 24 Como, via de regra, as ciências em geral não têm muita dificuldade na descoberta e fixação de seus objetos, a Ciência do Direito pretende o mesmo. Dessa forma, optou por estudar um dos sentidos possíveis do termo "direito": o de norma jurídica e, especialmente, o de norma jurídica escrita. Assim é que, na atualidade, os cursos de Direito estão voltados quase que totalmente para o estudo da norma jurídica escrita, com método tipicamente dogmático. Mas não parece ter sido uma escolha muito feliz, uma vez que as dificuldades de fixação de sentido que o termo "direito" revela ao investigador, antes de serem um obstáculo, apontam para uma riqueza de significações que merecem estudo aprofundado. Contudo, ao invés de buscar superar o obstáculo, penetrando em sua complexidade fecunda, o cientista do Direito deu uma volta ao largo do problema e levou consigo o sentido mais fácil de ser abordado. Com isso, o que era de humano a impregnar o Direito acabou congelando-se no conceito da norma jurídica escrita e perdendo-se no trabalho analítico de investigador. É preciso resgatar a magnificência da dignidade humana, que é o fundamento último que dá sustentação ao Direito. TEORIA PURA DO DIREITO (HANS KELSEN) KELSEN, em brilhante teoria vislumbrou o Direito como uma ciência pura, despida da influência de qualquer outro ramo do conhecimento das ciências humanas. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 25 Trata-se, em verdade, de verdadeira tentativa de atribuir autonomia ao Direitom, de elevar o direito à altura de uma ciência genuína, aproximando tanto quanto possível os seus resultados dos ideais de toda ciência: objetividade e exatidão. Em sua busca por uma descrição neutra e objetiva do fenômeno jurídico, KELSEN procurou desvencilhar o Direito de todos os elementos que lhe são estranhos, pertencentes a outras ciências como a psicologia, a sociologia, a ética e a teoria política. Sua pureza derivaria, portanto, de seu postulado metodológico fundamental, qual seja, não fazer quaisquer considerações que não sejam estritamente jurídicas, nem tomar nada como objeto de estudo senão as normas jurídicas. KELSEN pretendia construir uma ciência jurídica objetiva e clara, que se abstivesse de julgar segundo quaisquer critérios de justiça as normas que buscava descrever e explicar. KELSEN, em sua obra Teoria Pura do Direito, não buscou criar uma "teoria do direito puro", ou seja, ele não nega a ligação existente entre o direito, a política, a sociologia e outros ramos das ciências sociais, nem tenta eliminar essas relações. Ele simplesmente afirma que a ciência jurídica é ciência autônoma, que não se confunde com política do direito e não deve, portanto, se contaminar por ideologias políticas. A base da Teoria Pura do Direito é a distinção entre o "ser"(sein) e o "dever ser" (söllen). O âmbito do “ser” seria o mundo natural, explicado pelas ciências naturais com base nas premissas de verdadeiro/falso. Este domínio obedeceria ao princípio da causalidade, segundo o qual uma causa conduz a um efeito (quando A é, B é), sendo que o número de elos de uma série causal seria ilimitado. As leis naturais predizem eventos futuros e podem ser confirmadas ou não. Em não sendo aplicáveis, são falsas e devem ser substituídas. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 26 Já o âmbito do “dever ser” diria respeito às normas, enquanto atos de vontade que se dirigem intencionalmente a uma conduta considerada obrigatória tanto pelos indivíduos que põe as regras quanto do ponto de vista de um terceiro interessado, e que vinculam seus destinatários. O dever ser insere-se no domínio das ciências sociais e se explica não com base nas premissas de verdadeiro/falso, mas de válido/inválido. Este domínio obedeceria ao princípio da imputação (quando A for, B deverá ser), sendo que o número de elos de uma série imputativa é necessariamente limitado. As leis jurídicas prescrevem, autorizam ou permitem condutas e admitem um certo grau de não aplicação, ou ineficácia, que não conduz à sua anulação. Segundo a Teoria Pura do Direito, a Ciência Jurídica não pretende, com as proposições jurídicas por ela formuladas, mostrar a conexão causal, mas a conexão de imputação entre os elementos de seu objeto. A conduta humana (ser) só adquire uma significação jurídica quando coincide com uma previsão normativa válida (dever ser). A conduta humana pode se conformar ou contrariar uma norma e, dessa forma, pode ser avaliada como positiva ou negativa. Já as normas são estabelecidas por atos de vontade humana e, por este motivo, os valores através delas constituídos são arbitrários e relativos. Com efeito, outros atos de vontade humana poderiam produzir outras normas, diversas das primeiras e, assim, constituir outros valores. A separação entre "ser" e "dever ser" permite, assim, que a teoria jurídica desenvolvida por KELSEN independa do conteúdo material das normas jurídicas. A separação entre "ser" e "dever ser" não é, todavia, absoluta. Embora Kelsen chame atenção para o fato de que a validade de uma norma, o dever de se conduzir da forma como a norma determina, não pode ser confundida com a eficácia da norma, ou seja, com o fato de que as pessoas efetivamente assim se conduzem, admite que uma ordem coercitiva só pode ser considerada válida quando seja globalmente eficaz. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 27 As normas jurídicas gerais criadas pela via legislativa são normas conscientemente postas, ou seja, estatuídas. Já os atos que constituem o fato legislação são atos produtores de normas, ou também chamados atos instituidores de normas, denotando um sentido subjetivo de dever-ser. Assim, através da constituição, o sentido subjetivo é alçado a uma significação objetiva, o que transforme o fato legislativo como fato produtor do direito. Nada obstante tenha sido o maior jurista do século XX, sua Teoria Pura do Direito é muito criticada. A principal crítica é no sentido de que a teoria, de um lado, traz segurança mas, de outro lado, pode ser fonte de várias injustiças, na medida em que o intérprete fica cerceado à norma jurídica e nada mais, fato que reduziria a função do juiz a um autômato (um robô ou um computador) na aplicação da lei. MODELO TEÓRICO DOMINANTE: POSITIVISMO JURÍDICO O modelo teórico predominante no estudo do Direito é o positivismo jurídico ou normativo. Esse modelo concebe a ciência jurídica como ciência dogmática, pois enxerga seu objeto, o direito posto pelo Estado, como um conjunto compacto de normas que compete ao jurista sistematizar, classificar e interpretar, tendo em vista a decisão de conflitos. Assim, no mundo contemporâneo, o direito aparece como um fenômeno burocratizado e a ciência jurídica como uma tecnologia. HANS KELSEN é o principal teórico do positivismo jurídico. Em sua obra TEORIA PURA DO DIREITO, defende a autonomia da ciência jurídica ao conferir-lhe método e objetos próprios, capazes de assegurar o conhecimento científico do Direito. Para isso, estabelece um princípio metodológico, o princípio da pureza, com o qual pretende reduzir a complexidade do objeto do Direito ao afastar da TEORIA GERAL E HISTÓRIADO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 28 ciência jurídica as ingerências intrusas e perturbadoras, de ordem epistemológica (sociologia, antropologia etc.) e axiológica (moral, ética). Para KELSEN, o objeto da ciência jurídica consiste em normas jurídicas, e a tarefa do jurista consiste em descrever esse objeto mediante proposições. Para KELSEN, o conhecimento jurídico deve ser neutro, e não cabe ao jurista fazer julgamentos ou avaliações sobre as normas. No exercício da sua atividade, o jurista deve afastar tanto as dimensões axiológicas, que implicam proferir juízos de valor a respeito das normas, como as dimensões epistemológicas, que implicam motivações específicas de outras ciências. Essas dimensões comprometeriam a verdade das proposições que o jurista enuncia sobre as normas. Vale dizer, o raciocínio jurídico não deve versar sobre o que é virtuoso o vicioso, justo ou injusto, conveniente ou inconveniente, mas sim sobre o lícito e o ilícito, o válido e o inválido, o eficaz e o ineficaz. Desse modo, é possível que uma norma, visivelmente injusta, quando submetida ao modelo positivista, possa ser considerada válida e eficaz. Fontes do Direito A metáfora "fonte do Direito" é o local de origem do Direito; é, na verdade, já o próprio Direito, mas saído do oculto e revelado ao mundo. Fontes Estatais e Não-Estatais (RIZZATTO NUNES) Fontes estatais: lei e jurisprudência; Fontes não-estatais: costume Jurídico e doutrina. Fontes Estatais Legislação TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 29 Legislação é o conjunto das normas jurídicas emanadas do Estado, através de seus vários órgãos, dentre os quais se realça, com relevo, nesse tema, o Poder Legislativo. A legislação (conjunto de normas jurídicas escritas) é, também, conhecida como "ordenamento Jurídico". A estrutura do ordenamento Jurídico organizado é hierárquica. Por hierarquia legal, entende-se que umas normas são superiores às outras, isto é, algumas normas para serem válidas têm de respeitas o conteúdo, formal e material, da norma jurídica superior. HANS KELSEN vislumbrou o ordenamento jurídico em um esquema piramidal, para demonstrar a chamada “hierarquia vertical” das normas. Tem-se, assim, a chamada “Pirâmide de Kelsen”, que constitui um esquema escalonado de normas jurídicas, onde se verifica uma hierarquia vertical e, acima da própria Constituição Federal, a chamada norma hipotética fundamental (fonte de validade, segundo KELSEN, para todo o ordenamento jurídico e que não se confunde com o Direito Natural). TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 30 A NORMA HIPOTÉTICA FUNDAMENTAL DE HANS KELSEN A partir de uma forte influência do pensamento epistemológico de KANT, HABS KELSEN concebe o ordenamento jurídico como sendo um conjunto hierarquizado de normas jurídicas, que se estruturam de forma escalona e ordenada (a chamada “pirâmide” de KELSEN). No entanto, essa hierarquia não é interminável. Assim, a mais alta norma dessa hierarquia não possui como critério de sua validade uma norma superior, tendo em vista que esta norma é o ponto máximo da hierarquia de um determinado ordenamento jurídico. Como norma mais elevada e fundamento de validade de todas as normas de um ordenamento, ela tem de ser pressuposta, visto que não pode ser posta por uma autoridade, cuja competência teria de se fundar numa norma ainda mais elevada. Sendo assim, esta norma, como sendo pressuposta, é designada por KELSEN como sendo “a normal fundamental”, cuja validade objetiva não pode ser posta em questão. KELSEN oferece um exemplo do conceito de norma fundamental: “devemos obedecer às ordens de Deus; Deus ordenou que obedeçamos às ordens dos nossos pais. Logo, devemos obedecer às ordens de nossos pais”. Conforme esse exemplo, temos a norma “obedecer aos pais” com sua validade objetiva sendo dada pela norma “devemos obedecer à Deus” que, por si, não pode ser objetivamente contestada pro outra norma superior, sendo, neste exemplo, a “norma fundamental”. Nesse sentido, a norma fundamental de um ordenamento jurídico positivo não é nada mais que uma regra fundamental, conforme a qual são produzidas as normas do ordenamento jurídico, a criação da estabilidade fundamental da produção jurídico. Com base em sua Teoria Pura do Direito e sendo esta uma construção teórica inserida no positivismo jurídico, KELSEN não reconhece qualquer regra moral ou lei natural como critério de validade de outra norma positiva, motivo pelo qual rejeita considerações moralistas a respeito da validade da norma fundamental; trata-se assim de uma teoria formal de validade, em que a validade da norma depende de elementos que não levam em consideração o mérito das normas. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 31 Outros juristas também compartilharam com KELSEN a idéia de uma “regra fundamental” nos ordenamentos jurídicos. NORBERTO BOBBIO, em sua obra “Teoria do Ordenamento Jurídico” (na qual este expressamente reconhece que sua teoria é uma complementação ou continuação ao trabalho de KELSEN), reconhece a existência de uma norma fundamental como “fundamento subentendido da legitimidade de todo o sistema”. ALF ROSS também aceita, em sua teoria, a existência de uma norma pressuposta que atribui validade ao sistema normativo. Constituição Federal – norma suprema no ordenamento jurídico brasileiro, fonte de validade para as demais normas, que se lhe são inferiores. Traça critérios genéricos, os quais devem ser observados pelas demais normas. O que contraria a CF não tem obrigatoriedade no cumprimento. Pode ser atacado de forma direta (controle concentrado, art. 103, CF) ou de forma incidental (controle difuso, qualquer órgão do Poder Judiciário). A CF é fruto da atividade do poder constituinte originário, que é inicial, incondicionado e ilimitado, indica sempre uma revolução no ordenamento (veículo da CF). Não estão obrigadas a respeitar direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada, mas nada impede que o faça. Ex. art. 17, do ADCT, da CF. Ocorre, porém, que quando uma nova CF quebrar direitos adquiridos, ela deve dizer expressamente, pois, em seu silêncio, eles são preservados. Ex. Lei 6.969/81, cuja CF de 1988, no silêncio, preservou os direitos adquiridos com base nessa norma. Cumpre ressaltar que não é absolutamente correta a tese de que o poder constituinte originário (aquele que cria uma nova Constituição) não possua limites. Mesmo o poder constituinte deve obediência a postulados lógico-normativos. Como explica VON WRIGHT, não adianta querer editar norma a permitir algo que seja desnecessário ou a determinar que se faça o que é fisicamente impossível. Outro limite dessa natureza carece ser aquele demonstrado pelo “paradoxo da onipotência”. OLAVO AUGUSTO VIANNA ALVES FERREIRA afirma que “mesmo o poder constituinte originário não pode editar normas jurídicas inalteráveis ao TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 32 arbítrio de si próprio. A questão remete ao famoso paradoxo da onipotência: se uma divindade é onipotente, pode então criar uma pedra tão pesada que não possa carregar? Ora, se pode criar tal pedra, mas não carregá-la, não será onipotente; e se não a pode criar, tampouco o será... Por outras palavras, se o poder constituinte é considerado juridicamente ilimitado (onipotente), uma disposição constitucional feita por ele poderia regular qualquer aspecto jurídico, no âmbito do sistema jurídico a que lhe correspondesse, incluindo a ela mesma. Mas se assim fosse, o constituinteoriginário poderia tornar alguma parte da constituição imodificável até por ele próprio? A resposta é logicamente negativa. Por isso, ainda que rejeitada a idéia de que ele esteja vinculado ao direito natural, é de se desmistificar a tese segundo a qual o poder constituinte originário não se sujeita a limites jurídicos”. VANOSSI reconhece a presença de limites extrajurídicos ao poder constituinte originário, tais como: a) limites ideológicos (crenças e/ou valores que operam no âmbito supraestrutural) e b) limites estruturais (que conformam o âmbito social subjacente – a infraestrutura -, como o sistema produtivo, as classes etc.). Emendas à CF – alteram o texto da CF, criando novas normas ou revogando as já existentes. Há limites, matérias que não podem ser objeto de emendas, ex: art. 60, § 4º, I, II, III e IV. Devem respeitar direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada (com exceções, p. ex.: para beneficiar o réu em processo criminal). O Quórum para aprovação das emendas é de, no mínimo, 3/5 dos membros do Congresso Nacional, cuja votação ocorrerá em 2 turnos (art. 60, § 2º, da CF). Lei ordinária – fruto da atividade típica do legislador (legislar). Deve ser aprovada pela maioria simples do Congresso Nacional (voto positivo do primeiro número inteiro superior à metade dos parlamentares presentes. Mas o número dos presentes não pode ser inferior ao primeiro número inteiro superior à metade dos membros da casa – art. 47, CF; ex. 513 membros: devem estar presentes 257; se TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 33 129 votarem, a lei ordinária é aprovada). Em seguida deve ser sancionada ou vetada pelo Presidente da República. A Lei ordinária regulamenta qualquer assunto que não seja de competência privativa de outras autoridades, devendo sempre estar em conformidade com a CF. Lei complementar – distingue-se da lei ordinária pela exigência de quorum de maioria próprio e pela especificidade de suas matérias. O quorum é de maioria absoluta dos deputados e senadores (voto positivo do primeiro número inteiro superior à metade dos membros das Casas Legislativas – art. 69, CF. Ex. 513: com 257 é aprovada). Deve ser sancionada pelo Presidente da República (59, 61, 65, 66 e 69, CF). Limita-se a regulamentar assuntos importantes, indicados na CF: criação de um novo Estado Federal (18, § 3º, CF), fixação do número total de membros da Câmara dos Deputados (45, § 1º). Não há hierarquia entre a Lei Complementar e a Lei Ordinária. Lei delegada – é ato normativo elaborado pelo Presidente da República após específica autorização do Congresso Nacional, por meio de Resolução. Restrições: art. 68, § 1º, CF. Possui a mesma força da lei ordinária. Está em desuso, as últimas foram editadas em 1992. Medidas Provisórias – sucessoras do antigo Decreto-Lei (antes da CF/1988). São atos normativos tomados pelo Poder Executivo (federal, estadual ou municipal), em caso de urgência e relevância, que possuem força de lei formal. Deve ser aprovada pelo Congresso Nacional em até 120 dias após sua edição (sem computar os períodos de recesso parlamentar). O prazo é 60, prorrogável por mais 60. Se for aprovada, converte-se em lei ordinária; se não, perde sua validade. Há limites: art. 62, CF. Governadores e Prefeitos podem lançar mão de medidas provisórias somente se houver autorização na Constituição do Estado (Governador) e na Lei Orgânica do Município (Prefeitos), TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 34 Decretos legislativos – ato normativo emitido pelo Congresso Nacional, não sujeito à sanção do Presidente da República. Regulamenta assuntos de competência exclusiva do Congresso Nacional (art. 49, CF). Ex. autorizar referendo. Resolução – ato normativo emitidos em assuntos de exclusiva competência da Câmara dos Deputados ou do Senado (arts. 51, 52, 155, § 2º, IV e V, da CF) ou do Congresso Nacional (art. 68, § 2º, CF), não necessita de sanção do Presidente da República. Ex. eleição dos membros do Conselho da República pela Câmara dos Deputados. Decreto regulamentar – são normas elaboradas pelo Presidente da República, com o objetivo de concretizar as leis no sentido formal, providenciando o necessário para sua aplicação (art. 84, IV, CF). Portarias, ordens de serviços, circulares – normas criadas por autoridades do poder executivo para orientar a atividade da administração a execução das leis. Ex. uma portaria do Ministério da Saúde. Instrução – norma emitida por um Ministro de Estado para regulamentar a execução das leis, decretos e regulamentos (art. 87, parágrafo único, II, CF). A Jurisprudência Jurisprudência é o conjunto das decisões uniformes dos tribunais a respeito do mesmo assunto, o modo uniforme e reiterado pelo qual os tribunais se orientam na solução de determinada questão jurídica. É, também, chamada de costume judiciário. Decisão isolada não constitui jurisprudência, embora, em certo tempo, possa influenciar para uma mudança jurisprudencial. O nome técnico de uma decisão isolada proferida por Tribunal é acórdão escoteiro. A jurisprudência sempre TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 35 emana de um órgão colegiado (mais de um julgador), nunca de um órgão singular (ex. juiz de primeira instância). Em nosso sistema os Juízes inferiores não estão vinculados nem às decisões, nem às súmulas dos tribunais. Exceções: Súmulas Vinculantes (art. 103-A, da CF e Lei 11.417/06) e decisão proferida pelo STF em Ação Direta de Inconstitucionalidade e em Ação Declaratória de Constitucionalidade (art. 102, § 2º, CF). Sob o aspecto lógico, o costume e a jurisprudência se equiparam, porquanto ambos são produzidos por indução: casos particulares que podem chegar a um resultado generalizado, aplicável a todos os outros da mesma espécie. Importante: no sistema estrangeiro (EUA e Europa), o termo jurisprudência é sinônimo de “Ciência do Direito”. A jurisprudência, tal qual conhecemos, é conhecida, em tais lugares, sob a epígrafe de “precedente” ou “case”. Fontes Não-Estatais Costume Jurídico Costume Jurídico (NÃO confundir com a jurisprudência, que também é conhecida por costume “judiciário”) é norma jurídica obrigatória, imposta ao setor da realidade que regula, passível de imposição pela autoridade pública e em especial pelo Poder Judiciário. É uma norma "não-escrita", que surge da prática longa, diuturna e reiterada da sociedade. Distingue-se, assim, da lei, de plano, pelo aspecto formal. A lei é escrita; o costume é não escrito. O costume Jurídico tem outra característica importante: é aquilo que a doutrina chama de convicção de obrigatoriedade (opinio necessitatis), ou seja, a prática reiterada, para ter característica de costume Jurídico, deve ser aceita pela comunidade como de cunho obrigatório. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 36 Há obrigatoriedade de cumprimento do costume Jurídico, porém não ficam muito claras as conseqüências caso sua prescrição não seja observada. Isso não significa dizer que não existe sanção, mas sim que esse aspecto é secundário, e, diante das circunstâncias que fazem nascer o costume Jurídico, a sanção acaba ficando vaga. Pode nem haver sanção clara, mas há obrigação de cumprimento, que é característica decorrente da força da sanção, porquanto o não-cumprimento do costume Jurídico pode ser exigido judicialmente, tal qual se faz com a lei. O costume Jurídico surge no e do próprio seio da coletividade. Ele é fruto da prática social individualizada, caso a caso; nasce obrigatório porque as partes envolvidas assim o entendem e se auto-obrigam;provém da convicção interna de cada partícipe de sua objetivação em fatos sociais particulares, que obriga a todos os que neles se envolverem. Formado com essa convicção de obrigatoriedade, pode-se tê-lo como legítimo e atualizado. Aquele que alega o costume tem o ônus de prová-lo ao Juiz (art. 376, do NCPC). A doutrina classifica o costume em 3 espécies: a) Segundo a lei (secundum legem) - quando a lei expressamente determina ou permite a aplicação dele; ex. arts. 113, 165, 597, do CC); b) Na falta da lei (praeter legem) - quando intervém na falta ou omissão da lei. Ele funciona, no caso, preenchendo o ordenamento jurídico, evitando o aparecimento de lacuna ou mesmo integrando eventual lacuna; ex. art. 4º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB); c) Contra a lei (contra legem) - quando contraria o disposto na lei. Não é aceito por parte da doutrina. Existem 2 tipos de costume contra legem: - Desuso (desuetudo) - quando uma lei deixa de ser aplicada, por já não corresponder é realidade e em seu lugar terem surgido regras costumeiras; Ex. o já TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 37 revogado art. 217, do Código Penal, que previa o crime de sedução: “Seduzir mulher virgem, menor de 18 (dezoito) anos e maior de 14 (catorze), e ter com ela conjunção carnal, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança”; - Costume "ab-rogatório" - cria nova regra, apesar da existência da lei vigente (ex. cheque pós-datado, que contraria a Lei 7.357/85, a qual estabelece que o cheque é uma ordem de pagamento “à vista” e não para data futura). Doutrina É o resultado do estudo que pensadores (juristas e filósofos do Direito) fazem a respeito do Direito. Em nossa época, quando a especialização se torna fundamental e a velocidade das transformações está exacerbada, a doutrina assume papel extremamente relevante para o Direito. Já não é possível que o legislador, administrador ou Juiz, mesmo especialista, consiga dar conta do universo de situações existentes, tanto no mundo das normas quanto no da realidade social. A doutrina nesse processo torna-se essencial para aclarar pontos, estabelecer novos parâmetros, descobrir caminhos ainda não pesquisados, apresentar soluções justas, enfim interpretar as normas, pesquisar os fatos e propor alternativas, com vistas a auxiliar a construção sempre necessária e constante do Estado de Direito, com o aperfeiçoamento do sistema Jurídico. Por fim, a doutrina exerce papel fundamental, como auxiliar para entendimento do sistema Jurídico em seus múltiplos e complexos aspectos. A doutrina é fonte do Direito. O fundamento para a aceitação da doutrina como fonte do Direito surge da própria definição que unanimemente se dá para a doutrina: é o conjunto das investigações científicas e dos ensinamentos dos juristas (pensadores do Direito). O pensamento Jurídico dogmático nada mais é do que o conjunto de suas doutrinas, e corresponde ao locus, onde o estudioso e pesquisador do Direito vai aprendê-lo e procurar respostas aos problemas encontrados. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 38 Direito Positivo Direito positivo é o conjunto das normas jurídicas escritas e não-escritas (costume Jurídico), vigentes em determinado território e, também, na órbita internacional na relação entre os Estados, sendo o direito positivo aí aquele estabelecido nos tratados e costumes internacionais. Esse direito positivo pode ser separado em dois elementos: de um lado, o direito objetivo e, de outro, o direito e dever subjetivos. Ambos os elementos compõem um mesmo direito, de tal forma que o primeiro não pode existir sem os segundos e vice-versa. Direito Natural Corresponde a uma idéia de Justiça, algo que não necessita estar positivado, mas está na consciência das pessoas, é o mínimo que deve ser assegurado às pessoas, dada sua condição humana (art. 1º, III, da CF). Direito Objetivo É o conjunto, em si, das normas jurídicas escritas e não-escritas, independentemente do momento de seu exercício e aplicação concreta. O direito objetivo corresponde à norma jurídica em si, enquanto comando que pretende um comportamento. É aquele objetivado independentemente do momento de uso e exercício. O direito positivo é a soma do direito objetivo com o direito e o dever subjetivos. Direito Subjetivo É a prerrogativa colocada pelo direito objetivo, à disposição do sujeito do direito. Essa prerrogativa há de ser entendida como a possibilidade de uso e exercício efetivo do direito, posto à disposição do sujeito. O direito subjetivo é tanto o efetivo exercício do direito objetivo quanto a potencialidade do exercício desse mesmo direito. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 39 O direito subjetivo está já na potência (possibilidade de exercício) e está também no exercício efetivo. Pode haver abuso no exercício do direito subjetivo. Direitos subjetivos não precisam do exercício ou da constatação de sua potencialidade para existirem (embora para se garantirem, por vezes, precisem da utilização de outros direitos subjetivos). É o caso dos direitos subjetivos inerentes à pessoa, tais como o direito à vida, à honra, à imagem etc. São eles direitos subjetivos plenos, de fato, bastando para tanto a existência da pessoa de direito. O direito subjetivo se caracteriza pela potencialidade e pelo efetivo exercício do direito objetivo, podendo o sujeito fazer uso da ameaça desse exercício, que ao ser efetivado não o pode ser de forma abusiva. Alguns direitos subjetivos, no entanto, sendo inatos ao sujeito (por garantia e designação do direito objetivo), independem do exercício, mesmo em potencialidade, para existirem. E, como existem já plenamente, no caso desses direitos subjetivos, não há que se falar em ameaça ou mesmo abuso do direito exercitado. Não se confunda direito subjetivo com o chamado direito-função, que é o exercido por um sujeito em função de outrem. Ex. o pátrio poder, que é exercido pelos pais, em função do direito subjetivo dos filhos. O direito-função é antes dever subjetivo que direito objetivo, visto que tem que ser exercido. É antes obrigação que prerrogativa. Dever Jurídico (ou dever subjetivo) A norma jurídica pode pretender obter ações e comportamentos, o que faz apontando as condutas que devem ser cumpridas, bem como fixando as sanções (punições) a serem aplicadas àqueles que não cumprem as condutas prescritas, ou atingem o ato Jurídico praticado de forma proibida ou não aceita pelas normas jurídicas. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 40 Juntando-se a noção de direito subjetivo com essa noção de obrigação ou dever de cumprir certa conduta, percebe-se que, se, de um lado, tem-se o direito subjetivo, isto é, potencialidade ou exercício de um direito, de outro, tem-se um dever jurídico (ou dever subjetivo), colocado em posição diametralmente oposta. Não há direito subjetivo sem o outro que o tenha de respeitar. O direito subjetivo é, pois, uma expressão do chamado dever jurídico. É um reflexo daquilo que é devido por alguém em virtude de uma regra de direito. Só há dever jurídico quando há possibilidade de violação da regra social. Dever jurídico é a conduta exigida. É imposição que pode decorrer diretamente de uma norma de caráter geral, como a que estabelece a obrigatoriedade do pagamento de impostos, ou, indiretamente, pela ocorrência de certos fatos jurídicos de diferentes espécies: a prática de um ilícito civil, que gera o dever jurídico de indenização; um contrato, pelo qual se contraem obrigações; declaraçãounilateral de vontade, em que se faz uma determinada promessa. Segundo RECASÉNS SICHES “o dever jurídico se baseia pura e exclusivamente na norma vigente”. Consiste, assim, na exigência que o Direito objetivo faz a determinado sujeito para que assuma uma conduta em favor de alguém. Se o direito subjetivo pode ser exercido, mas não de forma ilimitada ou injustificada, sob pena de ser taxado de abusivo, então o que existe junto desse direito subjetivo é, no exato momento em que surge o limite, um dever. O exercício desse direito está limitado por um dever subjetivo. Todo aquele que vai exercitar seu direito subjetivo só o pode fazer até certo ponto. Divisão no Direito Positivo Divisão Geral: Direito Público e Privado TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 41 A separação está estabelecida desde o período clássico do direito romano pelo jurista ULPIANO e tem por função estabelecer dogmaticamente segurança e certeza para a tomada de decisão. A divisão em Público e Privado pode ser feita tendo por critérios os sujeitos envolvidos e a qualidade destes quando estão na relação jurídica; e o Conteúdo normativo e o interesse Jurídico a ele relacionado. Direito público é aquele que reúne as normas jurídicas que têm por matéria o Estado, suas funções e organização, a ordem e a segurança internas, com a tutela do interesse público, tendo em vista a paz social, o que se faz com a elaboração e a distribuição dos serviços públicos, através dos recursos indispensáveis à sua execução. Cuida, também, na ética internacional, das relações entre os Estados. Direito privado é aquele que reúne as normas jurídicas que têm por matéria os particulares e as relações entre eles estabelecidas, cujos interesses são privados, tendo por fim a perspectiva individual. Ramos do Direito Público Interno Direito Constitucional Engloba as normas jurídicas constitucionais, isto é, aquelas pertencentes à Constituição, em toda sua amplitude, dentre as quais se destacam as atinentes à forma e à organização do Estado, ao regime político, à competência e função dos órgãos estatais estabelecidos, aos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos etc. Principais normas – CF e Emendas. Lembremo-nos do fenômeno denominado Bloco de Constitucionalidade, hipótese em que a CF considera com uma norma que se encontra fora de seu texto, com status de norma constitucional (ex. art. 5º, § 3º, da CF). Ex. Decreto 6.949/09, que tornou norma interna a Convenção de Nova York, ratificada pelo Brasil em 2007. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 42 Direito Administrativo Corresponde ao conjunto de normas jurídicas que organizam administrativamente o Estado, fixando os modos, os meios e a forma para a consecução de seus objetivos. Tais normas estruturam e disciplinam as atividades dos órgãos da Administração Pública direta e indireta, as autarquias, as empresas públicas, as entidades paraestatais etc. Referem-se, ainda, ao Poder de Polícia da Administração, o que envolve não só os aspectos de segurança pública, de garantia da integridade física e moral das pessoas e das suas propriedades mas também o de Polícia Administrativa, montado nos vários setores de fiscalização existentes, o controle e a preservação dos bens públicos e as limitações dos direitos sobre bens dos particulares etc. Disciplinam também os serviços públicos e suas permissões e concessões, os critérios de oportunidade dos atos discricionários etc. Enfim, regulam todos os atos e procedimentos administrativos. Principais normas: Lei de Improbidade, Lei de Licitações e Contratos Administrativos, Constituição Federal etc. Direito Tributário Envolve as normas jurídicas voltadas para a arrecadação de tributos, bem como as que cuidam das atividades financeiras do Estado, regulam do suas receitas e despesas. Seus principais instrumentos legais são a própria Constituição Federal, o Código Tributário Nacional e uma série de leis esparsas. Direito Financeiro Compreende o conjunto de normas e princípios que disciplinam a atividade dos órgãos do Poder Judiciário e das pessoas que com eles entram em contato ou que lhes prestam colaboração. É a atividade estatal destinada a conseguir meios para acudir às necessidades públicas, ou seja, são os meios para o Estado TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 43 desempenhar as suas atividades fim. Principais normas: Constituição Federal, Lei de Responsabilidade Fiscal e Lei 4.320/64. Direito Processual Regula o processo judicial, bem como a organização judiciária. Engloba as normas jurídicas que cuidam das regras relativas à ação judicial, isto é, do direito de ver qualquer pretensão sendo analisada e julgada pelo Poder Judiciário. O Direito Processual está dividido por áreas relativas ao direito material, com 3 subdivisões básicas: a) Direito Processual Civil - regula as situações relativas à órbita civil, comercial, fiscal, administrativa, do consumidor etc.; seu principal instrumento é o Novo Código de Processo Civil. b) Direito Processual Penal - regula as situações relativas à órbita penal; seus principais textos legais são o Novo Código de Processo Civil (art. 15, do NCPC), as leis das execuções penais e Lei dos Juizados Especiais Criminais. c) Direito Processual do Trabalho - regula as situações relativas à órbita trabalhista. Serve-se ele, subsidiariamente, para os casos não previstos, do Direito Processual Civil; sua principal base legal é a Consolidação das Leis do Trabalho e o Novo Código de Processo Civil (que possui aplicação subsidiária à CLT, segundo art. 15, do NCPC). Direito Penal Corresponde ao conjunto das normas jurídicas que regulam os crimes e as penas aplicáveis, e as contravenções penais com as correspondentes penas aplicáveis. Seus principais instrumentos legais são o Código Penal e a Lei das Contravenções Penais, acrescidos de diversas leis esparsas. TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José Eduardo Melhen - 1º bimestre - 2016 44 Direito Eleitoral Compõe-se do conjunto das normas jurídicas que disciplinam a escolha dos membros do Poder Executivo e Legislativo. Essas normas estabelecem os critérios e condições para o eleitor votar, para alguém se candidatar, bem como as datas das eleições, as formas das apurações, o número de candidatos a serem eleitos, fixando as bases para a criação e o funcionamento dos partidos políticos etc. Principais normas – CF, LC 64/90, Código Eleitoral, Lei 9.504/97. Direito Previdenciário É o ramo do Direito que engloba as normas jurídicas que cuidam da Previdência Social, através dos seus órgãos (INSS etc.), estabelecendo os benefícios e as formas de sua obtenção (auxílio-doença, auxílio-maternidade etc.), regrando a aposentadoria por tempo de serviço e por invalidez, o direito à pensão na viuvez, as formas de manutenção e custeio do sistema etc. Seu principal instrumento legal é a Consolidação das Leis da Previdência Social e a CF. Direito Econômico É o ramo do Direito que se compõe das normas jurídicas que regulam a produção e a circulação de produtos e serviços, com vistas ao desenvolvimento econômico do País, especialmente no que diz respeito ao controle do mercado interno, na luta e disputa lá estabelecida entre as empresas, bem como nos acertos e arranjos feitos por elas para explorarem o mercado. São normas que regulam monopólios e oligopólios, tentam impedir concorrência desleal etc. Tais normas estão espalhadas em leis esparsas, dentre as quais se destacam a CF, a Lei Antitruste (Lei 8.884/94), a Lei de Economia Popular, a Lei de Livre Concorrência etc.
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