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PROCESSO PENAL - AULA 08 (24/05/12) Continuação Provas: 03) Ônus da Prova - Conceito: Trata-se do encargo que recai sobre as partes de provar a veracidade das afirmações por elas formuladas ao longo do processo, resultando de sua inatividade uma situação de desvantagem perante o direito. - A doutrina divide o ônus da prova em duas espécies: ônus da prova objetivo e subjetivo. - O ônus da prova subjetivo é aquele que recai sobre as partes. - O ônus da prova objetivo é uma regra de julgamento a ser aplicada pelo juiz caso permaneça em dúvida por ocasião da sentença. O juiz não pode deixar de julgar um caso porque está na dúvida. Esta regra de julgamento que o juiz deve aplicar é o in dubio pro reo. 03.1) Distribuição do ônus da prova no processo penal - Existem duas correntes sobre o assunto: I) Corrente majoritária: Ônus da prova da Acusação Ônus da prova da Defesa Existência do fato típico. Ex: matar alguém; subtrair para si coisa alheia móvel. OBS: A ilicitude a culpabilidade seriam presumidas. Eventual causa excludente da ilicitude. Autoria e participação Eventual causa excludente da culpabilidade Existência do Nexo Causal Eventual causa extintiva da punibilidade Dolo* e Culpa Existência de Álibi * Alguns autores afirmam que o dolo é presumido, mas não é correto. A comprovação do dolo pode ser feita através dos dados objetivo do caso concreto. Ex: Dar dois tiros na perna tem o dolo de lesão corporal, enquanto descarregar uma arma na direção da vítima tem dolo de homicídio. - Quanto ao ônus da prova por parte da acusação, quanto ao grau de convencimento do juiz para que seja produzido um decreto condenatório, há necessidade de um juízo de certeza. - Em relação ao ônus da prova por parte da defesa, quanto ao grau de convencimento do juiz, basta que produza um juízo de fundada dúvida. II) Corrente Minoritária: - Por força do princípio da presunção de inocência, o ônus da prova no Processo Penal é exclusivo da acusação. - Pergunta: Tem como o promotor provar que não existiu a legítima defesa? R: Sim. Basta provar que os elementos que compõem a legítima defesa não estão presentes. 04) Sistemas de Valoração da Prova: 04.1) Sistema da Íntima Convicção: - Também é conhecido como Sistema da Certeza Moral do Juiz. - Por conta deste sistema, o juiz é livre para valorar as provas. Porém, não é obrigado a fundamentar seu convencimento. Daí porque o magistrado pode se valer de provas que não estão nos autos do processo. - A adoção deste sistema, pelo menos em regra, não é adotado pelo CPP, afinal a própria CF afirma que as decisões devem ser fundamentadas. - Quanto ao conselho de sentença no júri, quanto aos jurados vigora a Íntima Convicção. O Juiz Presidente não é atingido por este sistema, devendo fundamentar sua decisão, apesar de fazer parte do Júri. 04.2) Sistema da Prova Tarifada - Também é chamado de Sistema da Prova Legal, ou Sistema da Certeza Moral do Legislador. - De acordo com este sistema, os meios de prova têm valor probatório previamente fixados pelo legislador, cabendo ao Juiz tão somente fazer a somatória das provas. - O valor probatório é fixado em abstrato e previamente fixado pelo legislador. - Este sistema é falho, porque o depoimento de duas testemunhas nunca tem o mesmo valor. - Em regra, este sistema não é adotado pelo CPP. - Há doutrinadores que dizem que, em situações excepcionais, é possível visualizar alguns resquícios deste sistema no CPP. Ex: Crimes materiais que deixam vestígios (CPP, art. 158 – impõe o exame de corpo de delito); Prova quanto ao estado das pessoas. Neste caso, o CPP impõe que serão observadas as restrições da Lei Civil. OBS: Se por acaso houver o desaparecimento dos vestígios, a prova testemunhal/documental poderá suprir a ausência do exame direto (art. 167, CPP). OBS: Quanto ao estado das pessoas, no caso da comprovação da idade do menor de 14 anos, deve-se utilizar da certidão de nascimento. Quanto à morte do acusado (causa extintiva da punibilidade), a morte é comprovada com a certidão de óbito (art. 62, CPP). OBS: A menoridade descrita na Súmula 74 do STJ é aquela do menor de 21 anos e maior de 18 anos. Esta pessoa tem a prescrição correndo pela metade e atenuantes aplicadas. 04.3) Sistema da Persuasão Racional do Juiz - Também chamado de Sistema do Livre Convencimento Motivado. - De acordo com este sistema, o Juiz tem ampla liberdade na valoração das provas constantes do processo, às quais têm, em abstrato, o mesmo valor, mas é obrigado a fundamentar seu convencimento. - Estas provas, pelo menos em abstrato, devem ter o mesmo valor. - No entanto, não se pode dar poder a alguém sem se dar algum tipo de controle. Diante disso, é obrigatória a fundamentação, funcionando como importante fator de controle da atividade judicante. - A fundamentação também funciona como mecanismo de legitimidade do judiciário perante a sociedade. - Este sistema é o adotado pela CF, no art. 93, IX e pelo CPP, no art. 155, caput. 05) Prova Ilegal - O direito à prova não tem natureza absoluta. Ele deve coexistir com outros direitos. - A vedação da prova ilegal visa: preservar direitos e garantias fundamentais; e inibir práticas probatórias ilegais. - A inibição de práticas probatórias ilegais é um fator de estímulo às práticas probatórias legais. Não adianta torturar o criminoso, pois se sabe que isso não será admitido como prova. 05.1) Provas Ilícitas e Ilegítimas - São espécies do gênero Prova Ilegal Provas Obtidas por Meios Ilícitos Provas Obtidas por Meios Ilegítimos - É obtida mediante violação a regras de direito material. Ex: confissão mediante tortura*, violação de domicílio, interceptação telefônica (sem autorização judicial). Violação a regras de direito processual. Ex: Exibição de vídeo/objetos aos jurados, que não estão nos autos do processo (art. 479, CPP). Quanto ao Momento: Em regra, é produzida em momento anterior ou concomitante ao processo, mas sempre externamente a este. Quanto ao Momento: Em regra, é produzida no curso do processo (endoprocessual). Quanto a Conseqüência: Se juntada aos autos do processo, esta prova ilícita deve ser objeto de desentranhamento (retirada dos autos). A doutrina chama de Direito de Exclusão**. Quanto a Conseqüência: A prova ilegítima esta sujeita ao reconhecimento de sua nulidade*** *OBS: Interrogatório duro é aquele que dura vários dias, que se prolonga no tempo, no qual não se deixa a pessoa dormir. Foi utilizado em Guantánamo. Este é um tipo de tortura psicológica. ** O art. 157, § 3º, CPP afirma que deve haver uma decisão reconhecendo a ilicitude da prova. Mas este parágrafo não diz qual será esta decisão. Esta decisão deve ser proferida o quanto antes possível, e o ideal é que ela ocorra através de uma decisão interlocutória. O instrumento adequado para impugnar esta decisão é o Recurso em Sentido Estrito (art. 581, XIII, CPP). Mas se o juiz concluir que a prova é ilícita somente no momento da sentença, é possível que o reconhecimento da ilicitude só seja proferida em sentença condenatória/absolutória. Neste segundo caso, o recurso adequado é a Apelação. ** O art. 157, § 3º, CPP ainda afirma que, quando preclusa esta decisão (não couber mais recurso), a prova ilícita que fora desentranhada deverá ser inutilizada. Esta é uma novidade trazida pela L. 11.690/08. Antes, a prova era guardada no próprio cartório. Inutilizada é ser destruída. Há duas ressalvas para a inutilização da prova: 1ª) Quando a prova pertencer licitamente a alguém; 2ª) Quando a prova ilícita consistir no corpo de delito em relação àquele que praticou um crime para obtê-la. OBS: O que é a Descontaminação do Julgado? R: O juiz que tiver contato com a prova ilícita não poderá proferir sentença. Estava prevista no O art. 157, § 4º, CPP. Ele foi vetado pelo Presidente. Por isso, o ordenamento não prevê esta descontaminação de maneira expressa. *** Atenção à nova redação do art. 157, caput, CPP. Há uma discussão na doutrina, havendo duas correntes:Corrente minoritária: Como o art. 157, caput, CPP não faz qualquer distinção quanto à espécie de norma legal, doravante a prova ilícita estará presente quando houver violação a normas legais de direito material ou de direito processual (LFG). Corrente Majoritária: O art. 157, caput, CPP deve ser objeto de interpretação restritiva no sentido de que prova ilícita é aquela obtida com violação a normas constitucionais ou legais de direito material. 05.2) Prova Ilícita por Derivação - São os meios probatórios que, não obstante validamente produzidos em momento posterior, encontram-se afetados pelo vício da ilicitude originária, que a eles se transmite em virtude do nexo causal. - Ex: Caso Bruno, em que o delegado resolveu achar o cadáver. Para tanto, tortura o Bruno para saber o local do cadáver. Bruno confessa o crime e indica o lugar. Então, chegou-se ao cadáver mediante uma prova ilícita obtida por tortura. - Esta teoria surgiu nos EUA, com o precedente Silverthorne Lumber CO VS. EUA (1920) e também no caso Nardone VS. EUA (1939). Nesta última ela ganhou o nome de Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada. - Esta teoria é adotada pelo STF, desde o HC 73.351 (1999). - Com o advento da Lei 11.690/08 a teoria dos Frutos da Árvore Envenenada passou a ser lei: art. 157, §1º, CPP.
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