Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO FACULDADE DE DIREITO “LAUDO DE CAMARGO” Teoria Geral do Processo I JURISDIÇÃO RIBEIRÃO PRETO – 2014 Discente: Júlio César Ribeiro Docente: Nilson de Assis Serraglia Código: 761093 Disciplina: Teoria Geral do Processo I Curso: Direito Período: Matutino Sala: 35/B 1. Conceito A palavra jurisdição é de origem latina, deriva de: júris (direito) + dictionis (ação de dizer). E, este “dizer o direito”, representa três elementos básicos do Estado, são eles: Poder, Função e Atividade. A jurisdição é uma das funções do Estado, mediante a qual atribui o poder a uma autoridade para fazer cumprir determinada categoria de leis e punir quem as infrinja, buscando a pacificação social, em determinada área ou competência dentro do território que se exerce este poder. Essa pacificação é realizada mediante a atuação da vontade do direito objetivo que rege o caso apresentado em concreto para ser solucionado; e o Estado desempenha essa função sempre mediante o processo, seja expressando imperativamente o preceito (através de sentença de mérito), seja realizando no mundo das coisas o que o preceito estabelece (através da execução forçada). Já dissemos que a jurisdição é uma função do Estado e seu monopólio. Além disso, podemos dizer que a jurisdição é, ao mesmo tempo, poder, função e atividade. Como poder, a jurisdição é a manifestação do poder estatal, conceituado como capacidade de decidir imperativamente e impor decisões. Como função, expressa o encargo que têm os órgãos estatais de promover a pacificação de conflitos interindividuais, mediante a realização do direito justo e através do processo. E, como atividade, a jurisdição é entendida como o complexo de atos ao juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a função que a lei lhe comete. Esses três atributos somente transparecem legitimamente através do processo devidamente estruturado (devido processo legal). No âmbito do processo civil, é a função de resolver os conflitos que a ela sejam dirigidos, seja por pessoas naturais, jurídicas ou entes despersonalizados (espólio), em substituição a estes segundo as possibilidades normalizadoras do Direito. 2. Características Uma das principais características da jurisdição é a existência da lide, ou seja, um conflito. Se não há lide como poderia o Judiciário dizer de quem é o direito. Afinal, é a existência do conflito de interesses que leva o interessado a dirigir-se ao juiz e pedir-lhe uma solução. Entretanto, deve-se registrar que há quem entenda que o controle abstrato da constitucionalidade das leis, as ações preventivas, as ações constitutivas necessárias e a jurisdição voluntária são, a rigor, jurisdição, sendo que nestes casos, não necessariamente exista uma lide. Outra característica é a inércia, ou melhor, para que o juiz possa “dizer de quem é o direito” é preciso provocá-lo. Quanto à inércia, costuma-se afirmar que a jurisdição é inerte, pois, segundo algumas teorias, não existe o exercício espontâneo da atividade jurisdicional. No entanto, modernamente, ao magistrado são atribuídos amplos poderes de direção do processo, tais como a possibilidade de determinar, sem provocação, a produção dos meios de prova e de dar tutela sem pedido expresso pela parte. Assim, embora permaneça a inércia como característica da jurisdição para a maioria da doutrina, esta, para efeitos práticos, fica restrita à instauração de processo e a determinação do objeto litigioso, sendo mais adequado, tecnicamente, tratá-la a como um princípio inerente a jurisdição. Uma terceira característica é a imutabilidade, uma vez proferida a sentença e não havendo mais recurso, a sentença será definitiva, ou seja, não pode mais ser revistos ou modificados. Como dispõe nossa Carta Magna “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (art, 5º, inc. XXXVI). Assim, a “coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos de uma sentença”. E por fim, o caráter substitutivo que consiste na substituição das partes no litígio pelo Estado-juiz: é “uma atividade substitutiva porque se exerce em substituição à atividade das partes”. Assim, característica da substitutividade, consiste na substituição da vontade das partes, pela “vontade” da norma jurídica aplicada no caso concreto. O Estado substitui as atividades daqueles que estão envolvidos no conflito trazido à apreciação. 3. Princípios A Jurisdição, é entendida como a função do poder estatal de cessar os conflitos interindividuais, é concebida por alguns princípios inerentes ao seu exercício, estes sendo expressos em lei ou não, emanam da Constituição Federal. Aos quais seguem: Inércia; Investidura; Aderência ao território; Inevitabilidade; Indelegabilidade; Inafastabilidade e Juiz natural. 1) Princípio da inércia: Levando em consideração a imparcialidade do juiz, em respeito à justa composição da lide, não cabe ao julgador a iniciativa de agir de ofício, pois, a ação somente deve ser provocada por alguma das partes interessadas em solucionar o litígio em apreciação. 2) Princípio da investidura: Arrola que a jurisdição só será exercida por aquele que tenha sido investido regularmente na condição e função jurisdicional de julgar, ou seja, o juiz. 3) Princípio da aderência ao território: Está relacionado à limitação da própria soberania nacional ao território do país. Assim como a outros órgãos dos demais poderes constitucionais, cabe aos juízes de uma determinada área limitada de atuação, e este só tem autoridade nos limites territoriais do Estado. O juiz está vinculado também ao princípio da territorialidade da lei processual. 4) Princípio da indelegabilidade: Equivale ao princípio constitucional que veda a delegação de atributos por parte de qualquer dos Poderes. Uma vez estipuladas as atribuições ao Poder Judiciário pela Constituição Federal, não cabe a lei e nem aos seus magistrados delegar suas funções jurisdicionais, tendo em vista que o juiz não as faz em nome próprio, e sim a serviço do Estado. Por isso se diz que o juiz é quem julga a causa, e sua função é exclusiva. 5) Princípio da inevitabilidade: Uma vez que os órgãos jurisdicionais são dotados de uma autoridade e que emanam de uma soberania do poder estatal, estes restringem às partes a uma condição de sujeição perante o Estado-juiz, que independe da vontade de ambas as partes, ou de um eventual pacto onde os conflitantes aceitem ou não as decisões dos processos. Por que, se diz que o cumprimento das decisões judiciais é obrigatório pelas partes. 6) Princípio da inafastabilidade: Consta no art.5º, XXXV da CF, a garantia de acesso de todos ao Poder Judiciário, a quem não pode deixar de apreciar a juízo qualquer pretensão fundada no direito e que venha pedir a resolução dela. Portanto, o juiz depois de acionado tem a obrigação para com os interessados em resolver o litígio. 7) Princípio do juiz natural: Este princípio assegura que ninguém pode ser privado de ser julgado por juiz imparcial e independente, estabelecido pelos dispositivos legais e constitucionais, proibindo dessa maneira pela Constituição Federal os denominados tribunais de exceção, onde se julgam determinadas pessoas ou crimes de uma certa natureza, sem previsão constitucional, como arrola o art.5º, XXXVII. 4. Espécies A jurisdição é substancialmente una e indivisível, porém, a doutrina fala em espécies de jurisdição classificando-as: pelo critério do seu objeto, pelo critério dos organismos judiciais que a exercem, pelo critério da posição hierárquica dos órgãos dotados, pelo critério da fonte do direito com base no qual é proferido o julgamento. * Pelo critério do seu objeto. - Penal = É aquela que trata de conflitos de natureza ou jurisdição penal, é exercida pelos juízes estaduais comuns, pela justiça militar estadual, pela justiça militar federal, pela justiça federal e pela justiça eleitoral. - Civil = É aquela que trata de conflitosde natureza ou de jurisdição civil. É exercida pela justiça estadual, pela justiça federal e pela justiça eleitora. No caso da justiça militar, não se é exercida a jurisdição civil, que em seu sentido estrito, é exercida pelas justiças federais e estaduais. Relacionamento entre jurisdição penal e civil. O ilícito penal não difere em substância do ilícito civil, sendo diferente apenas a sanção que os caracteriza. A ilicitude penal é, ordinariamente, mero agravamento de uma preexistente ilicitude civil, destinado a reforçar as consequências da violação de dados valores, que o Estado faz especial empenho em preservar. * Pelo critério dos organismos judiciais que a exercem. - Especial = Trata-se de uma divisão doutrinária, estabelecida segundo regras de competência presentes na Constituição Federal, a exemplo, temos a Justiça Militar, a Justiça Eleitoral, a Justiça do Trabalho e as Justiça Militares Estaduais. Cuidam estas de processos que tenham por conteúdo lides de determinada natureza. - Comum = Também é dividida doutrinariamente, de acordo com regras constitucionais de competência, a exemplo temos as Justiças Estaduais ordinárias. Processos com lides de quaisquer conteúdos, desde que diversos daqueles pertencentes à jurisdição especial * Pelo critério da posição hierárquica dos órgãos dotados - Superior = A jurisdição exercida pelos órgãos a que cabem recursos contra as decisões proferidas pelos juízes inferiores. - Inferior = A jurisdição exercida por juízes que ordinariamente conhecem do processo desde o seu início - competência originária - trata-se da Justiça Estadual: dos juízes das comarcas estaduais, inclusive da Capital. * Pelo critério da fonte do direito com base no qual é proferido o julgamento - De direito ou de equidade = O artigo 127 do Código de Processo Civil diz que: “o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”. Desta feita, o juiz decide sem as limitações impostas pela precisa regulamentação legal.