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UNIDADE I – ALGUNS MOVIMENTOS POLÍTICOS-CRIMINAIS CONTEMPORÂNEOS 1. Movimento Lei e Ordem (homens bons x Homens maus) Esse movimento visa separar os “homens bons” dos “homens maus”. Para os “homens bons” todas as garantias, para os “homens maus”, nenhuma proteção jurídica. Este movimento admite a possibilidade da pena de morte. Milita pela criação de leis mais severas e rigorosas. Esta severidade é seletiva, seleciona-se o “inimigo” (principalmente afro-americanos) e os puni severamente sem lhes dar defesa. Esse movimento não dá a resposta para a sociedade. Prisão não melhora ninguém. Esse movimento não condiz com o Estado Democrático de Direito. 2. Abolicionismo (extinção da pena de prisão): Abolicionismo significa abolição do sistema jurídico penal; propõe a Justiça Restaurativa com a vitimização. Parte do princípio de que, se o Estado gasta custos para prender, julgar e punir uma pessoa e mesmo assim, depois que a pessoa é solta, ela volta a cometer crimes, então o custo pecuniário não valeu a pena. O movimento abolicionista defende que é melhor não ter prendido, investir os custos em outras coisas e aplicar uma pena alternativa (?). O abolicionismo começou após a 2ª GM. 3. Garantismo Penal (Estado Democrático de Direito): Mais evoluído, o Garantismo Penal, defendido por Luigi Ferrajoli, que escreveu o livro “Direito e razão: garatismo penal”. Este movimento é mais justo pois traz garantia a todos, medidas alternativas para crimes mais brandos. Utiliza-se de acordos, convenções, mediações para resolver e pacificar conflitos. Ferrajoli enfrenta os problemas atinentes a pena, ao delito e ao processo, utilizando um esquema de interrogações caracterizado por: “por que, quando e como punir”; “por que, quando e como proibir”; “por que, quando e como julgar”. Como uma espécie de resposta, o autor apresenta dez axiomas, os quais são denominados “axiomas garantistas”. Desse movimento decorre um movimento moderno chamado de “Direito Penal Mínimo”, que busca a equidade, a justiça no julgamento. DIREITO PENAL 1. Conceito: Conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções correspondentes - penas e medidas de segurança, bem como, valores e princípios que orientam aplicação das Leis. (Cezar Bitencourt) 2. Finalidade: Cezar Roberto Bitencourt afirma que as finalidades do Direito Penal são: 1. Tornar possível a convivência humana, ganhando aplicação prática nos casos ocorrentes, observando rigorosos princípios de justiça; 2. Prevenir crimes estabelecidos (normas positivas) e prever sanções; 3. Proteger bens jurídicos: Dignidade da pessoa humana, a vida, o patrimônio, a boa-fé pública, etc. 3. Características do Direito Penal: “Diz-se que o Direito Penal é uma ciência cultural e normativa (...) O Direito Penal positivo é valorativo, finalista e sancionador (...) a) Ciência Cultural e normativa: estudar e avaliar as normas e sua aplicação. Ex.: Policial só pode entrar em residência com mandato durante o dia. Mas quando começa o dia? b) Valorativo: A partir do momento que valoro a vida, a liberdade, a liberdade sexual, a integridade física etc., a norma e a sanção variam de acordo com o delito cometido. c) Finalista: O Direito Penal é uma ciência finalista por que tem a finalidade de defender os bens essenciais (bens jurídicos). d) Sancionador: É a consequência de um fato típico no âmbito penal. A consequência da conduta delituosa é a sanção (detenção, reclusão e multa). 4. Sanção X Pena: diferenças: Sanções: são medidas estabelecidas como consequência da desobediência a um imperativo legal (abstratamente prevista); Pena: aferida e decretada sob condições de julgamentos perante o poder judiciário; vai depender das características do crime cometido, histórico do agente, etc. (decorre da sanção) (dosimetria). Observação¹: Tudo que não for crime hediondo e nem infração de menor potencial ofensivo, será considerado crime comum. a) Crime hediondo: são crimes que merecem maior reprovação por parte do Estado – Lei 8.072/90. b) Crimes de menor potencial ofensivo: crimes com até 02 anos de detenção - Lei 9.099/95. Observação²: Tortura, tráfico de drogas e terrorismo NÃO são considerados crimes hediondos, mas são equiparados a este. UNIDADE II – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO PENAL Conceito de princípios: são categoria lógica e, tanto quanto possível, universal, muito embora não possamos esquecer que, antes de tudo, quando incorporados a um sistema jurídico-constitucional-positivo, refletem a própria estrutura ideológica do Estado, como tal, representativa dos valores consagrados por uma determinada sociedade. (Ivo Dantas). 1. Princípio da Legalidade: O princípio é trazido na Constituição Federal (CF), em seu artigo 5o, inciso XXXIX – “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. (Quase igual ao art. 1º do Código Penal – CP). Quer dizer que tudo o que não é expressamente proibido é lícito diante do Direito Penal. Observação: Legalidade Formal é a obediência aos trâmites procedimentais previstos pela Constituição para que determinado diploma legal possa vir a fazer parte de nosso ordenamento jurídico; Legalidade Material é a adoção de um modelo penal garantista. 2. Princípio da Irretroatividade: inciso LX da CF determina que “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o agente”. A regra, portanto, é a irretroatividade. A retroatividade é exceção só admitida para beneficiar o agente. Daí ninguém poder ser punido por cometer um fato que, à época, era tido como um indiferente penal. 3. Princípio da Individualização da Pena: a) voltado ao legislativo: inciso XLVI, do art. 5o, da CF: “a lei regulará a individualização da pena (pena a cada delito) e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; perda de bens; multa; prestação social alternativa; suspensão ou interdição de direitos”; b) voltado ao judiciário: aplicação da pena, em ponderar cada caso em sua individualização, na qual o julgador deve atentar às determinações contidas no artigo 59 do Código Penal (circunstâncias judiciais); c) voltada à Vara de Execuções: individualização na fase de execução penal, de acordo com o artigo 5o, da Lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal). Observar por exemplo se o condenado tem bom comportamento, trabalha, estuda, terá sua pena abreviada, ou o contrário, se o preso não colaborar. 4. Princípio da Responsabilidade Pessoal ou Princípio da Pessoalidade da Pena ou Princípio da Intranscendência da Pena: somente a pessoa do condenado é que terá que se submeter à sanção que lhe foi aplicada pelo Estado - inciso XLV do artigo 5o, da CF/88. 5. Princípio da Intervenção Mínima: O Direito Penal deve intervir minimamente na vida das pessoas, só será usado nos casos de ataques muito graves aos bens jurídicos mais importantes. As perturbações mais leves do ordenamento jurídico são objeto de outros ramos do Direito. (Ultima ratio) Observação: Princípio da fragmentariedade: é corolário do princípio acima, quer dizer que o Dir. Penal cuidará apenas de um fragmento, ou seja, os bens jurídicos importantes. Ex.: vida, dignidade sexual, etc. 6. Principio da Adequação Social: apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal, não será considerada típica se for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem social da vida historicamente condicionada. (Exemplo: furar a orelha não é lesão corporal). 7. Princípio da Insignificância:princípio da insignificância tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal. Não considera o ato praticado como um crime, por isso, sua aplicação resulta na absolvição do réu (mínima ofensividade da conduta do agente (sem violência) + nenhuma periculosidade social da ação (não repercute na sociedade) + reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento (ausência de reincidência) + inexpressividade da lesão jurídica provocada (baixo valor/análise do valor do bem para a vítima, geralmente, até 1 salário mínimo). 8. Princípio da Culpabilidade: extraído do princípio da dignidade da pessoa humana (não tem expressa previsão). Conceito contrário à responsabilidade objetiva: O Dir. Penal é contrário a resp. objetiva. Vale-se da resp. subjetiva, onde se infere a culpa ou o dolo. Fundamento da pena: como justificativa para aplicação da pena, para configurar o crime. Que se desdobra em três: Imputabilidade; Potencial consciência de ilicitude e; Exigibilidade de conduta diversa. Elemento de medição de pena: culpabilidade como reprovabilidade, como censura. Quanto mais reprovável a conduta, maior a pena. Observação: O princípio da culpabilidade "impõe a subjetividade da responsabilidade penal. Não cabe, em direito penal, uma responsabilidade objetiva, derivada tão-só de uma associação causal entre a conduta e um resultado de lesão ou perigo para um bem jurídico (Nilo Batista) 09. Princípio do ne bis in idem: os sentenciados não poderão ser submetidos a novos processos em relação aos mesmos fatos (ninguém será punido duas vezes pelo mesmo fato). (Pacto de San José da Costa Rica) dispõe em seu artigo 8, nº 4) 10. Princípio da Presunção de inocência: art. 5º, inc. LVII, nos seguintes termos: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Observação: Súmula n. 444 do STJ: "É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base". 11. Princípio do in dubio pro reo: existindo dúvida na interpretação da lei ou na capitulação do fato, adota-se aquela que for mais favorável ao réu. 12. Princípio da Humanidade ou Limitação das Penas (Dignidade da Pessoa Humana): As penas não poderão ter caráter de vingança. Preceitua no inciso XLVII de seu art. 5º, XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis. UNIDADE III - CIÊNCIAS BASILARES 1. Criminologia: ocupa-se das circunstâncias humanas e sociais relacionadas com o surgimento, a prática e a maneira de evitar o crime, assim como o tratamento dos criminosos. 2. Política Criminal: objetiva analisar criticamente o Direito para ajustá-lo aos ideais jurídicos-penais de justiça. Busca interpretar os dados fornecidos pela criminologia, estabelecendo critérios para o controle da criminalidade. 3. Medicina Legal: É aquela que através de perícias verifica-se a extensão e a natureza dos danos causados (necropsia) (corpo de delito, por exemplo) 4. Criminalística: É a técnica que resulta da aplicação de várias ciências à investigação criminal, visando à elucidação dos crimes e a identificação do autor ou autores; análise da cena do crime 5. Psiquiatria Forense: Consiste na psicologia aplicada aos personagens do processo penal, bem como na utilização de meios em busca da verdade; visa apurar a capacidade mental do réu (se imputável ou inimputável – art. 26 do CP) CIÊNCIAS PENAIS NÃO-NORMATIVA (ocupam no todo ou em parte do crime) NORMATIVA (jurídicas) - Direito Penal - Dir. Processual Penal (realiza o DP) - Dir. Execução Penal (executa o DP) Criminologia - Psicologia Forense - Criminalística - Medicina Legal UNIDADE IV - NORMA PENAL 1. Fontes da Lei Penal a) Fontes Materiais: As fontes materiais são também conhecidas como fontes de produção ou fontes substanciais, pois dizem respeito à gênese, à elaboração, à criação do Direito Penal. Nesse sentido, a única fonte material do Direito Penal é o Estado, órgão responsável pela sua criação, através da competência legislativa exclusiva atribuída à União pelo art. 22, I, da Constituição Federal. b) Fontes Formais: As fontes formais dizem respeito à exteriorização, à forma pela qual o Direito Penal se faz conhecido. Assim, podem elas ser: - Imediatas ou diretas: A fonte direita do Direito Penal é a lei penal. - Mediatas ou indireta (influenciam na elaboração das leis; se devem ser criadas ou revogadas): As fontes mediatas são o costume e os princípios gerais de direito. Observação: Lei penal é diferente de norma penal (norma penal é o comportamento que é aceito socialmente; não é regra escrita, mas antes, regra social proibitiva, tida como normal. Lei penal é a materialização da norma feita pelo legislador, 2. Características do Direito Penal - Imperativa: é imposta a todos independentemente de sua vontade. - Geral: A norma penal se dirige a todos em igual situação. - Impessoal: sendo elaborada para punir acontecimentos futuros e não para punir pessoa determinada. - Exclusiva: Somente a lei penal pode prever crimes e penas criminais. 3. Norma Penal em branco São normas imperfeitas, incompletas. Para ser executada depende do complemento de outras normas jurídicas ou de futura expedição de certos atos administrativos. Existem duas espécies de normas penais em branco: sentido amplo (homogênia): são aquelas em que o complemento provém da mesma fonte formal na norma incriminadora, ou seja, o órgão encarregado de formular o complemento é o mesmo órgão elaborador da norma penal em branco. As fontes são as mesmas. Exemplos: arts. 178 e 184 do Código Penal. sentido estrito (heterogência): são aquela cujo complemento está contido em outra regra jurídica procedente de outra instância legislativa. Exemplos: arts. 269 do Código Penal e 33 da Lei n. 11.343/06. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL Interpretar é tentar buscar o efetivo alcance da norma. 1. Espécies de interpretação: A interpretação pode ser distinguida: a) quanto ao órgão (sujeito) de que emana: - Autêntica: realizada pelo próprio texto legal (julgador) - Doutrinária: realizada pelos estudiosos do Direito, os quais, comentando sobre a lei que se pretende interpretar, emitem opiniões pessoais. - Jurisprudencial: realizada pelos aplicadores do Direito, ou seja, pelos juízes de primeiro grau e magistrados que compõem os tribunais. b) quanto aos meios empregados: - Literal (ou gramatical): se preocupa, simplesmente, em saber o real e efetivo significado das palavras. - Teleológica: busca alcançar a finalidade da lei, aquilo ao qual ela se destina regular. - Lógico: busca-se o raciocínio lógico. 2. Interpretação analógica X Analogia Não se pode confundir analogia com interpretação analógica ou extensiva. A analogia é técnica de integração, vale dizer, recurso de que se vale o operador do direito diante de uma lacuna no ordenamento jurídico. Já a interpretação analógica, objetiva desvendar o sentido e o alcance da norma, para então definir-lhe, com certeza, a sua extensão. A norma existe em abstrato no ordenamento, sendo o método interpretativo é necessário apenas para precisar-lhe os contornos. (UNIDADE V ?) CONCURSO (OU CONFLITO) APARENTE DE NORMAS PENAIS Quando, para determinado fato, aparentemente, existem duas ou mais normas que poderãosobre ele incidir. Dessa forma existem alguns princípios para solucionar esse conflito, tais como Princípio da especialidade: em Este princípio determina que haverá a prevalência da norma especial sobre a geral, evitando o bis in idem (repetição sobre o mesmo fato), e pode ser estabelecido in abstracto, enquanto os outros princípios exigem o confronto in concreto das leis que definem o mesmo fato. Princípio da absorção: a norma definidora de um crime constitui meio necessário ou fase normal de preparação ou execução de outro crime, ou seja, há consunção quando o fato previsto em determinada norma é compreendido em outra, mais abrangente, aplicando-se somente esta. A norma-fim envolve o fato previsto por outra (norma-meio). Nesse sentido, o crime consumado absorve o crime tentado, o crime de perigo é absorvido pelo crime de dano. Princípio da subsidiariedade: Há relação de primariedade e subsidiariedade entre duas normas quando descrevem graus de violação de um mesmo bem jurídico. No caso, a norma subsidiária é afastada pela aplicabilidade da norma principal. Para se constatar a relação primariedade-subsidiariedade deve-se analisar o fato in concreto. A subsidiariedade pode ser tácita ou expressa. LEI PENAL NO TEMPO Regra Geral – tempus regit actum – o tempo rege o ato – Art. 4º do CP Assim, a lei não pode alcançar fatos ocorridos anteriormente ao início de sua vigência, nem ser aplicada àqueles ocorridos após sua revogação. A lei penal se aplica em seu tempo. Ou seja, a lei penal é votada de acordo com as existências das normas e, é publicada para, aí, começar a valer. 1. Tempo do Crime (art. 4º CP) O Código Penal adotou a teoria da atividade, conforme se verifica no seu art. 4°, assim redigido: Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Para essa teoria, o que importa é o momento da conduta, comissiva ou omissiva, mesmo que o resultado dela se distancie no tempo. Observações: - novatio legis in pejus (renovação da lei em prejuízo): vem uma lei pior, por exemplo, com pena mais grave – nunca pode retroagir para alcançar algum crime cometido antes – art. 1º CP - novatio legis incriminadora (renovação da lei com novo crime): a lei não pode retroagir para condenar um fato que antes não era crime – art. 1º CP - novatio legis in melius (renovação da lei em melhor): a lei sempre retroage para favorecer o réu – art. 2º CP - Abolitio criminis (abolição do crime): quando uma nova lei revoga a conduta anterior como crime (deixa de ser crime uma determinada conduta); deve retroagir para atingir a todos que foram condenados por ela – art. 2º e 107,III do CP. Mas vale lembrar que cessa todos os efeitos penais da sentença condenatória (já que é uma norma do direito penal), permanecendo, contudo, seus efeitos civis (por exemplo, de indenizar). 2. Ultratividade e Retroatividade A ultratividade e a retroatividade da lei penal serão realizadas, sempre, em benefício do agente, e nunca em seu prejuízo, e pressupõem, necessariamente, sucessão de leis no tempo (regulando fatos ocorridos durante sua vigência, mesmo depois de ter sido revogada, ou de retroagir no tempo, a fim de regular situações ocorridas anteriormente à sua vigência). - Retroatividade: aplica-se uma norma a fato ocorrido antes do início da EXCEÇÃO vigência de uma nova lei; (Pois a regra é o tempo) -Ultratividade: aplica-se a norma após sua revogação (leis temporárias) LEI PENAL NO ESPAÇO TERRITORIALIDADE 1. Conceito de território (art. 5º CP) O território abrange todo o espaço onde impera a soberania do Estado brasileiro (terrestre, marítimo e aéreo) “Território abrange o solo (e subsolo) sem solução de continuidade e com limites reconhecidos, as águas interiores, o mar territorial, a plataforma continental e o espaço aéreo” (Mirabete) Princípio da territorialidade: Regra geral: aplica-se a lei penal brasileira aos fatos puníveis praticados no território nacional, independentemente da nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico lesado. Artigo 5º, CPB – exceto as convenções, tratados e regras de Direito Internacional. Princípio da personalidade: Aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente, pouco importando o local em que o crime foi praticado. Personalidade ativa: caso em que se considera somente a nacionalidade do autor do delito (art. 7º, II, b, do CPB); Personalidade passiva: nesta hipótese importa somente se a vítima do delito é nacional (art. 7º, § 3º, do CPB). Princípio real, de defesa ou de proteção: protege-se, assim, determinados bens jurídicos que o Estado Considera fundamentais (artigo 7º, I do CPB.). Princípio da universalidade: Princípio característico da cooperação penal internacional, porque permite a punição, por todos os Estado, de todos os crimes que forem objeto de tratados e de convenções internacionais (Artigo 7º, II, a, do CPB). Observação: Princípio da personalidade ativa compensa o princípio da não extradição de nacionais – art. 5º, LI da CF-88. Atenção: o território ocupado por embaixada estrangeira no Brasil é território brasileiro. Atenção: o território ocupado por embaixada estrangeira no Brasil é território brasileiro. Imunidade diplomática: é uma garantia de que o embaixador só poderá ser processado em seu país de origem. 2. Teoria Temperada (art. 5º CP) O art. 5º, caput, do CP determina a aplicação da lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. É a regra da territorialidade. O CP adota a territorialidade temperada: o Estado, mesmo sendo soberano, em determinadas situações, pode abrir mão da aplicação de sua legislação, em virtude de convenções, tratados e regras de direito internacional, tal como previsto do caput do artigo referido. Exemplo: Cônsul com imunidade penal 3. Lugar do Crime (art. 6º CP) Adota-se a teoria da ubiquidade ou teoria mista: Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou a omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Cuidado para não confundir: o tempo do crime é a teoria da atividade. O lugar do crime é a teoria da ubiquidade. EXTRATERRITORIALIDADE (art. 7º CP) Aplicação da lei brasileira às infrações penais cometidas além de nossas fronteiras, em países estrangeiros. 1. Tipos de extraterritorialidade A extraterritorialidade pode ser: a) incondicionada: possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos ocorridos no estrangeiro, sem que, para tanto, seja necessário o concurso de qualquer condição. (art. 7º, I e §1º do CP). Em qualquer das hipóteses do inciso I do art. 7º do CP, o agente será punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. Em caso de condenação, segue a regra do art. 8º do CP. a) condicionada: traz condições para aplicação da lei brasileira para crimes cometidos no estrangeiro (art. 7º, II e §2º do CP) 2. Princípios adotados no art. 7º do CP - Real, da defesa ou da proteção (art. 7º, I, a): protege-se, assim, determinados bens jurídicos que o Estado Considera fundamentais; - Universalidade ou da justiça universal (art. 7º, II, a): Princípio característico da cooperação penal internacional, porque permite a punição, por todos os Estado, de todos os crimes que forem objeto de tratados e de convenções internacionais;- Personalidade ativa ou Nacionalidade (art. 7º, II, b): Aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente, pouco importando o local em que o crime foi praticado; - Representação ou da Bandeira (art. 7º, II, b): Princípio subsidiário, e, quando houver deficiência legislativa ou desinteresse de quem deveria reprimir, aplica-se a lei do Estado em que está registrada a embarcação ou aeronave ou cuja bandeira ostenta aos delitos praticados em seu interior; - Personalidade passiva (art. 7º, §3º): nesta hipótese importa somente se a vítima do delito é nacional PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO (art. 8º CP) A regra trazida pelo art. 8º do CP evita a dupla punição do agente pelo mesmo fato (aplicação do princípio do ne bis in idem). Nos casos de extraterritorialidade condicionada, sendo a pena cumprida no estrangeiro fica o Brasil isento de interesse quanto à punição o infrator. Já nos casos de extraterritorialidade incondicionada, ingressando o agente no país, estará sujeito à punição, independentemente de ter sido ou não condenado no exterior. No entanto, se a pena cumprida no exterior for idêntica à aplicada no Brasil, haverá compensação; sendo diversas, a pena fixada no Brasil será atenuada. APLICAÇÃO DA LEI ESTRANGEIRA (art. 9º CP) O art. 9º do CP cuida da eficácia da sentença estrangeira OBSERVAÇÕES GERAIS 1. Imunidades diplomáticas e de chefes de governos estrangeiros (o diplomático responderá pelo crime no seu país): O tratamento especial a representantes diplomáticos e a chefes de governos estrangeiros, no tocante a atos ilícitos por eles praticados, é medida aceita desde longa data pelo direito internacional, em respeito ao Estado representado, e também pela necessidade de garantir meios suficientes para o perfeito desempenho de seus misteres por tais pessoas. As imunidades se fundam no princípio da reciprocidade, ou seja, o Brasil concede imunidade aos agentes dos países que também conferem iguais privilégios aos nossos representantes. Não há violação ao princípio da isonomia, eis que a imunidade não é pessoal, mas funcional. Leva-se em conta a relevância da função pública exercida pelo representante estrangeiro (teoria do interesse da função). 2. Sede de Embaixada A sede da embaixada estrangeira no Brasil é território brasileiro para fins penais, entanto, lhe é dada certos privilégios nas relações com as autoridades brasileiras, estas não podem ser objeto de busca sem autorização do embaixador ou de quem é de direito. Se o delito é cometido na sede brasileira, é aplicada ao autor da ação a lei penal brasileira, exceto se esse goza de imunidade diplomática. 3. Extradição (entregar a outro país, um indivíduo que se encontre refugiado, para ser julgado ou cumprir pena): A CF/88, no art. 5º, LI, traz a proibição de extradição de brasileiros: “o brasileiro nato, quaisquer que sejam as circunstâncias e a natureza do delito, não pode ser extraditado, pelo Brasil, a pedido de Governo estrangeiro”. CONTAGEM DE PRAZO (art. 10 CP) Deve ser calculado entre dois termos, o inicial (a quo) e o final (ad quem): inclui-se o dia do começo, e conta-se dia a dia (1, 2, 3...) FRAÇÕES DE DIA e FRAÇÕES DO DINHEIRO (art. 11 CP) Tanto a frações de dias (1, hora, 2 horas...), quanto de dinheiro para efeito de multa (0,50 centavos....) são desprezados. Só se considera números inteiros. UNIDADE VI - TEORIA DO CRIME Crime é uno e indivisível 1. Infração penal A infração penal refere-se de forma abrangente aos crimes/delitos e às contravenções penais como espécies. Existe diferença entre crime e contravenção: o legislador adotou um critério no art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal. A contravenções penais são as chamadas delitos-anões, geralmente as infrações menos graves, ou seja, aquelas que ofendam bens jurídicos não tão importantes como aqueles protegidos quando se cria a figura típica de um delito. 2. Conceito de CRIME 2.1 Conceito formal: crime é toda conduta que infrinja/colida contra a lei penal editada pelo Estado. Ou seja, conduta contrária ao Direito e que a lei atribui pena 2.2 Conceito material: crime como aquela conduta que viola os bens jurídicos mais importantes. Ou seja, é toda ação ou omissão que lesa ou expõe a perigo de lesão um bem jurídico ou interesse individual ou coletivo. 2.3 Conceito analítico: O crime é fato ou ação típica, ilícita e culpável. Crime Fato Típico - conduta (dolosa/culposa; omissiva/comissiva) - resultado - Nexo de causalidade - tipicidade Antijurídico (ilícito) - Estado de necessidade - legítima defesa - estrito cumprimento do dever legal - exercício regular do direito Culpável - imputabilidade - potencial consciência de ilicitude - exigibilidade de conduta diversa 1º ELEMENTO DO CONCEITO DE CRIME: FATO TÍPICO Juízo de adequação positiva entre a conduta e o modelo legal do crime, ou seja, adequação de conduta praticada pelo agente na norma penal; ELEMENTOS DO FATO TÍPICO Conduta (dolosa ou culposa; omissiva ou comissiva) + nexo causal + resultado + tipicidade A) CONDUTA Ação ou omissão humana (Não se fala em conduta de pessoa jurídica no sentido de imputar a esta a prática de alguma infração penal), consciente e voluntária (própria vontade e consciência), dolosa ou culposa, dirigida a uma finalidade. a.1 Tipos de conduta A conduta pode ser: a) comissiva: fazer (olhar “positivo”). O agente direciona sua conduta a uma finalidade ilícita. b) omissivo: deixar de fazer (olhar “negativo”). Abstenção da atividade juridicamente exigida. Pode ser: - omissivo próprio, puros ou simples (são os que objetivamente são descritos com uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico); - impróprio, comissivos por omissão ou omissivos qualificados (somente as pessoas referidas no §2º do art. 13 CP podem praticá-los, uma vez que para elas existe um dever especial de proteção.) A conduta também pode ser: a) dolosa: quando o agente quer diretamente o resultado ou assume o risco de produzi-lo. b) culposa: quando dá causa ao resultado em virtude de sua imprudência, imperícia ou negligência. A regra é de que todo crime seja doloso. Somente se pune a conduta culposa quando houver previsão legal expressa (escrita) nesse sentido, conforme determina o parágrafo único do art. 18 CP. Observação¹: Ausência de conduta (ausência de voluntariedade) - Se não houver vontade dirigida a uma finalidade qualquer, não se pode falar em conduta, logo não há crime. Ex.: Atos reflexos: São aqueles originários de estímulos dirigidos diretamente ao sistema nervoso, sem qualquer intervenção da vontade. Encaixa aqui o espirro, a tosse, o reflexo de uma batida no cotovelo. Coação física irresistível: a pessoa não tem escolha, ela não consegue evitar o dano por algum tipo de coação física (aqui não cabe escolha da vítima por pior que seja). O sujeito é mero instrumento, por sobre ele operar força física irresistível, em um agir de outra pessoa, impedindo que o sujeito tenha qualquer participação com manifestação de vontade naquela ação. Um exemplo é o caso de alguém empurrado em uma piscina, atingindo um terceiro. À essa pessoa empurrada não se pode imputar o delito, apesar de ser o corpo dela que causou a lesão,pois o movimento do corpo dela não decorreu de sua vontade, mas de uma força maior irresistível externa. Se não há conduta humana, não há crime. Também vale para o exemplo de alguém ser impossibilitado de fazer a ação que evitaria o ilícito. Assim, sua omissão, nesse caso, é fruto de força maior – ele foi impedido de agir – não havendo conduta humana e, logo, crime. Estado de inconsciência: Quando o sujeito está em estado de inconsciência e pratica uma conduta humana, podemos afirmar que essa conduta não é consciente. Logo, não é conduta humana, pois não envolve vontade e consciência de atingir o fim. O sonambulismo – medicamente comprovado – é uma excludente de conduta. Não se deve confundir o agir sob forte emoção do momento com excludente de inconsciência. Observação²: No caso de embriaguez completa, desde que não seja proveniente de caso fortuito ou de força maior (alguém tenha forçado a beber, por exemplo) , embora não tenha o agente se embriagado com o fim de praticar qualquer infração penal, mesmo que não possua a menor consciência daquilo que faz, ainda assim será responsabilizado pelos seus atos conforme art. 28, II do CP. Na verdade, o agente é responsabilizado pelos resultados ocorridos em virtude do ato de querer, voluntariamente, embriagar-se, ou mesmo em razão de ter, culposamente, chegado ao estado de embriaguez (actio libera in causa). a.2 Dolo e Culpa Dolo – art. 18, I CP Conceito: É a vontade e consciência (não quer dizer que o agente conheça o tipo penal ao qual se amolda sua conduta, pois, não se pode alegar desconhecimento da lei), de realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador. Teorias: Existem 4 teorias a respeito do dolo: a) teoria da vontade: dolo seria tão somente a vontade livre e consciente de querer praticar a infração penal, isto é, de querer levar a efeito a conduta prevista no tipo penal. b) teoria do assentimento: o agente não quer o resultado diretamente, mas o entende como possível e o aceita. c) teoria da representação: toda vez que o agente tiver tão somente a previsão do resultado como possível e, ainda assim, decidir pela continuidade de sua conduta. d) teoria da probabilidade: trabalha com dados estatísticos. Pela redação do art. 18, 1, CP o Código Penal adotou as teorias da vontade e do assentimento. Espécies: Costuma-se distinguir o dolo em: a) Dolo direto (dolo por excelência): quando o agente quer, efetivamente, cometer a conduta descrita no tipo, dirigindo-a finalisticamente à produção do resultado por ele pretendido inicialmente, conforme art. 18, 1 CP (primeira parte). O dolo direto pode ser classificado em: dolo direito de primeiro grau: o dolo direito em relação ao fim proposto e aos meios escolhidos é classificado como de primeiro grau; dolo direito de segundo grau: e em relação aos efeitos colaterais, representados como necessários, é classificado como de segundo grau. (ex.: terrorista que explode um avião com vários passageiros visando matar um, em relação à vítima visada, o dolo foi de primeiro grau, em relação às demais vítimas, o dolo foi de segundo grau). b) Dolo indireto quando o agente assume o risco de produzir o resultado, conforme previsto no art. 18, I CP (segunda parte). Pode ser: alternativo: apresenta-se quando o aspecto volitivo (vontade) do agente se encontra direcionado, de maneira alternativa, seja em relação ao resultado ou em relação à pessoa contra a qual o crime é cometido. Quando a alternatividade do dolo disser respeito ao resultado, fala-se em alternatividade objetiva. Ex.: o agente efetua disparos contra a vítima querendo feri-la ou mata-la. Quando a alternatividade referir à pessoa a contra qual o agente dirige sua conduta, a alternatividade será subjetiva. Ex.: aquele em que um agente, a certa distância, efetua disparos com sua arma de fogo contra duas pessoas, querendo matar uma ou outra. eventual: o agente, embora não querendo diretamente praticar a infração penal, não se abstém de agir e, com isso, assume o risco de produzir o resultado que por ele já havia sido previsto e aceito. O sujeito representa o resultado como de produção provável e, embora não queira produzi-lo, continua agindo e admitindo a sua eventual produção. Exemplo: O agente quer ferir (lesão corporal), mas aceita a possibilidade de um homicídio acontecer. Observação: o dolo eventual não se presume, tem que ter um elemento a mais. c) dolo de dano: o agente quer produzir um dano; d) dolo de perigo: o agente quer produzir um perigo (por exemplo, art. 130 CP) e) dolo genérico: quando o tipo penal se limita a descrever a conduta, sem indicação de qualquer finalidade especial do agente; f) dolo específico: além de querer a conduta e o resultado, o agente tem em mente um fim especial, mencionado no tipo (exemplo, art. 141, parágrafo único, CP – lucro) g) dolo geral: O dolo geral ou erro sucessivo ocorre quando o agente, supondo já ter alcançado um resultado por ele visado, pratica nova ação que efetivamente o provoca. Ou seja, depois do primeiro ato, o agente imagina já ter atingido o resultado desejado, que, no entanto, somente ocorre com a prática dos demais atos. Eu acho que matei uma pessoa envenenada, jogo o corpo na água, mas na verdade a pessoa morre afogada. Observação: - O erro de tipo (exemplo, o caçador vai caçar e atira no companheiro achando que era um animal na floresta) afasta o dolo, pois em tais casos, não atua com vontade e consciência de praticar a infração penal. - dolo eventual (“tanto faz”; “seja como for, eu farei”) é diferente de culpa consciente (“vai dar tudo certo”; “não vai acontecer nada”) Culpa – art. 18, II CP Conceito: a conduta humana voluntária (ação ou omissão) que produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado (Mirabete). Elementos: a) conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva; b) inobservância de um dever objetivo de cuidado (negligência, imprudência ou imperícia); c) o resultado lesivo não querido (involuntário), tampouco assumido, pelo agente; d) nexo de causalidade entre a conduta do agente que deixa de observar o seu dever de cuidado e o resultado lesivo dela advindo; e) previsibilidade; j) tipicidade. Imprudência, imperícia e negligência: a) imprudência: prática de um ato perigoso sem os cuidados que o caso requer; b) imperícia: inaptidão, momentânea ou não, do agente para o exercício de arte, profissão ou ofício. Diz-se que a imperícia está ligada, basicamente, à atividade profissional do agente. c) negligência: deixar de fazer aquilo que a diligência normal impunha. Não se precaveu. Espécies de culpa: a) culpa consciente (culpa com previsão): é aquela em que o agente, embora prevendo o resultado, não deixa de praticar a conduta acreditando, sinceramente, que este resultado não venha a ocorrer. b) culpa inconsciente (culpa sem previsão): o resultado não é previsto pelo agente, embora previsível. c) culpa imprópria (culpa por extensão, por assimilação, por equiparação): são as hipóteses em que o agente, em virtude de erro evitável pelas circunstâncias, dá causa dolosamente a um resultado, mas responde como se tivesse praticado um delito culposo. (crime doloso em que se aplica a pena de crime culposo) – art. 20, §1º, segunda parte. Em outras palavras, ocorre a culpa imprópria quando o agente, embora tendo agido com dolo, nos casos de erro vencível, nas descriminantes putativas, responde por um crime culposo.Observação: - Não se pode falar em presunção de culpa em Direito Penal. - Não se pode falar, em geral, em tentativa no caso de culpa (apenas de dolo). Mas, parte da doutrina aceita a possibilidade de tentativa nos crimes culposos, quando da ocorrência da chamada culpa imprópria, pois o agente atua com dolo, mas responde pela o culpa. B) NEXO (RELAÇÃO) DE CAUSALIDADE (Art. 13, caput do CP) Elo material que se estabelece entre a conduta do agente e o resultado naturalístico, por meio do qual é possível dizer se aquela deu causa a este ou não. Une a conduta praticada pelo agente ao resultado por ela produzido. É a relação de causa-efeito existente entre a conduta de quem praticou o fato e o resultado dela decorrente. É imprescindível aos crimes materiais (que modifica de alguma forma, o mundo exterior). Teoria: Equivalência dos antecedentes causais é a adotada pelo CP (considera-se causa a ação ou a omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Isso significa que todos os fatos que antecedem o resultado se equivalem, desde que indispensáveis à sua ocorrência) – conditio sine qua non. Concausa: é a convergência de uma causa externa à vontade do autor da conduta, influindo na produção do resultado por ele desejado e posicionando-se paralelamente ao seu comportamento, comissivo ou omissivo. Espécies: a) absolutamente independentes (art. 13, caput, CP): É aquela causa que teria acontecido, vindo a produzir o resultado, mesmo se não tivesse havido qualquer conduta por parte do agente. Podem ser: 1. Preexistentes: ocorre antes da conduta do agente. Ex.: A dispara contra o peito de B e este vem a falecer, não em virtude do disparo, mas em virtude de ter ingerido veneno para se suicidar. B morreu envenenado. Como não podemos considerar a conduta de A como a causadora do evento morte, A somente responderá por seu dolo, ou seja, como não conseguiu alcançar o resultado em virtude de acontecimento alheio à sua vontade, responderá por tentativa de homicídio; 2. Concomitantes: ocorre simultaneamente à conduta do agente. Ex.: A e B, sem saberem um a intenção do outro, desejam matar C e atiram contra ele no exato momento. Se ambos os disparos o atingem, mas somente o de A vem a atingir seu coração, fazendo-o falecer, enquanto o de B atinge C no braço, B responderá por tentativa de homicídio (responde pelo dolo) e A responde por homicídio; 3. Supervenientes: a causa ocorre posteriormente à conduta do agente, e com ela não guarda relação de dependência alguma. Ex.: A atira em B e o atinge no peito. Logo após o tiro, o prédio no qual se encontravam vem a desabar. B morre em virtude do desabamento, e não em virtude do tiro. A responderá somente por seu dolo, por tentativa de homicídio. Se usarmos o método hipotético de eliminação de Thyrén, suprimindo a conduta de A, e mesmo assim verificarmos que o resultado ocorreria, a conduta de A não foi causadora do resultado. Conclusão: Quando o resultado naturalístico ocorrer em virtude da existência de qualquer uma das causas absolutamente independentes (preexistentes, concomitantes e supervenientes) não poderá ele ser atribuído ao agente, que responderá tão somente pelo seu dolo. b) relativamente independentes (art. 13, §1º, CP): a causa que somente tem a possibilidade de produzir o resultado se for conjugada com a conduta do agente. Podem ser: 1. Preexistentes: já existia antes do comportamento do agente e, quando com ele conjugada numa relação de complexidade, produz o resultado. Ex.: A quer matar B e, sabendo ser B hemofílico, nele desfere um golpe de faca em região não letal. B é levado ao hospital e, embora a facada não o pudesse matar se não fosse hemofílico, morre em decorrência das complicações trazidas pela doença. Se o agente queria matar = homicídio doloso. Se o agente queria lesionar = lesão corporal seguida de morte. Se o agente desconhecia a doença e não queria matar, não responde por tentativa de homicídio, mas por lesão corporal simples (não por lesão corporal seguida de morte porque o resultado morte não estava dentro de seu campo de previsibilidade); 2. Concomitantes: é a causa que, ocorrendo numa relação de simultaneidade com a conduta doa gente, conjugada com a mesma é também considerada produtora do resultado. Ex.: A e B querem matar C e, cada um deles ministra quantidade insuficiente de veneno ao mesmo tempo. C vem a falecer envenenado. Embora suprimindo a conduta de A e, depois, de B, o resultado não se produza, as condutas se somaram para produzir o resultado. Assim, tanto A quanto B responderão por homicídio doloso qualificado. Não há coautoria, pois não há vínculo subjetivo entre os autores, mas autoria colateral. 3. Supervenientes: ocorre posteriormente à conduta do agente e com ela tem ligação. O código diz, no §1o do artigo 13, que essas causas só excluem a imputação do agente quando, por si sós, produziriam o resultado. Ex. clássico: A atira em B e este, vindo a ser socorrido, morre em razão de a ambulância ter colidido com um trem. Se retirarmos o disparo, a vítima não estaria na ambulância. Se retirarmos o acidente, mesmo se a vítima falecesse, o resultado não teria ocorrido COMO OCORREU. • o significado da expressão “por si só” – quando a lei penal diz que “a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado”, quer dizer que só aqueles resultados que se encontrarem como um desdobramento natural da ação, ou seja, estiverem na linha de desdobramento físico da mesma, é que poderão ser imputados ao agente. A expressão “por si só” tem a finalidade de excluir a linha de desdobramento físico, fazendo com que o agente somente responda pelos atos já praticados. Se o resultado estiver na linha de desdobramento natural da conduta inicial do agente, este deverá por ele responder. Caso contrário, o agente somente responderá pelo seu dolo. Conclusão: As causas relativamente independentes preexistentes e concomitantes fazem com que o agente sempre responda pelo resultado. Para isso, é preciso que essas causas tenham entrado na sua esfera de conhecimento, pois, caso contrário, seria responsabilidade penal objetiva ou responsabilidade penal sem culpa (o que não é aceito pelo CP). Já as causas supervenientes relativamente independentes: o resultado somente poderá ser imputado ao agente se estiver na mesma linha de desdobramento natural da ação; caso contrário, o agente só responderá pelo seu dolo. Omissão como causa do resultado: Omissão é a conduta de não agir (inércia do agente diante de um fato). Nem toda omissão é jurídico-penalmente relevante. Porém, se identificada a obrigação legal (exemplo, art. 13, §2º CP) a omissão do agente terá relevo para o Direito Penal e poderá ser considerada produtora do resultado. C) RESULTADO É a consequência provocada pela conduta do agente, ou seja, aquilo produzido por uma conduta dolosa ou culposa do homem. Espécies: Em Direito Penal, o resultado pode ser naturalístico ou jurídico: a) Resultado Jurídico (ou normativo): é a lesão ou exposição a perigo de lesão do bem jurídico tutelado pela lei penal. É a agressão do valor ou interesse protegido pela norma; b) Resultado naturalístico (ou material): é a modificação no mundo exterior provocada pela conduta do agente. D) TIPICIDADE Tipicidade quer dizer a adequação perfeita da conduta praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto na lei penal (ao tipo penal incriminador) a) Tipicidade formal(adequação do comportamento humano ao tipo penal): A adequação da conduta do agente ao modelo abstrato previsto na lei penal (tipo) faz surgir a tipicidade formal ou legal. Essa adequação deve ser perfeita, pois, caso contrário, o fato será considerado formalmente atípico. b) Tipicidade material (relevância da lesão causada na norma): A tipicidade material é a conduta que provoca uma lesão ou ameaça de lesão intolerável ao bem jurídico protegido (condições mínimas de convivência). Excluem a tipicidade material: a) princípio da lesividade (é a materialmente atípica a conduta que não provoca sequer ameaça de lesão ao bem jurídico); b) princípio da insignificância: é materialmente atípica a conduta que provoca uma lesão irrelevante ao bem jurídico; c) princípio da adequação social (é materialmente atípica a conduta que é socialmente adequada. exemplo: furar a orelha de um bebê); d) princípio da alteridade (é materialmente atípica a conduta que não lesa bens jurídicos de terceiros, como por exemplo, o suicídio, a prostituição, a autolesão, destruição de coisa própria). c) Tipicidade Conglobante (criada por Zaffaroni): A tipicidade conglobante surge quando comprovado, no caso concreto, que a conduta praticada pelo agente é considerada antinormativa, isto é, contrária à norma penal, e não imposta ou fomentada por ela, bem como ofensiva a bens de relevo para o Direito Penal (tipicidade material). Concluindo, para que se possa falar em tipicidade penal é preciso: tipicidade formal + tipicidade conglobante (antinormatividade + tipicidade material). Só assim o fato poderá ser considerado penalmente típico. 2º ELEMENTO DO CONCEITO DE CRIME: ANTIJURIDICIDADE (ILÍCITO) É a relação de antagonismo, de contrariedade entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico. Causas legais de exclusão da ilicitude (arts. 23 a 25 do CP): Afastam a ilicitude da conduta praticada pelo agente, fazendo, assim, com que o fato por ele cometido seja considerado lícito: A) ESTADO DE NECESSIDADE (art. 24 do CP) Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Ambos os bens em conflito estão amparados pelo ordenamento jurídico (um prevalecerá sobre o outro – princípio da ponderação dos bens). É preciso que os requisitos do art. 24 estejam presentes: 1. requisitos objetivos: (perigo atual e eminente; bem cujo sacrifício não era razoável exigir; situação não provocada pela vontade do agente; inexistência do dever de enfrentar o perigo); 2. requisitos subjetivos: (consciência de que praticou o fato com intuito de salvar o bem) Observação: - estado de necessidade justificante: o CP optou pelo estado de necessidade justificante (aquele que tem por finalidade eliminar a ilicitude. O fato seria típico, mas lícito e, portanto, não há como falar em crime) - estado de necessidade próprio ou de terceiro: permite a lei que o agente pratique o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio. - Estado de necessidade defensivo e agressivo: Diz-se defensivo quando a conduta do agente dirige-se diretamente ao produtor da situação de perigo, a fim de eliminá-la. Agressivo seria quando a conduta do necessitado viesse a sacrificar bens de um inocente, não provocador da situação de perigo. - Causa de justificação (é preciso que o agente tenha conhecimento de que atua ou, no mínimo, acredite que atua, nessa condição): para a justificação no estado de necessidade (justificante), o autor deverá ter a vontade de defesa ou de salvamento (elemento subjetivo). - Estado de necessidade putativa (situação de perigo, que ensejaria ao agente agir amparado pela causa de justificação do estado de necessidade, ocorra somente na sua imaginação): art. 20, §1º CP – invencível o erro do agente, deverá ser considerado isento de pena; vencível o erro, será responsabilizado com as penas correspondentes a um crime culposo, se previsto em lei. B) LEGÍTIMA DEFESA (art. 25 CP) É dada aos cidadãos a possibilidade de, em determinadas situações, agir em sua própria defesa. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou eminente, a direito seu ou de outrem. A regra é de que todos os bens sejam passíveis de defesa pelo ofendido, à exceção daqueles considerados comunitários, desde que, para a sua defesa, o agente não tenha tempo suficiente ou não possa procurar o necessário amparo das autoridades constituídas para tanto. Espécies: 1. autêntica ou real: (Existe, realmente, uma agressão injusta que pode ser repelida pela vítima, atendendo aos limites legais); 2. putativa: (situação de agressão é imaginária, previstas no §1º, art. 20 do CP). É preciso que os requisitos do art. 25 estejam presentes: 1. requisitos objetivos: (injusta agressão; atual ou iminente; direito seu ou de outrem); 2. requisitos subjetivos: (animus defendendi – consciência de que praticou o fato típico mas com intuito de defender a si ou a terceira pessoa) Observação: - injusta agressão: ameaça de lesão de um bem juridicamente protegidos, proveniente de uma conduta humana; não é preciso que a conduta praticada seja criminosa para que possa ser reputada como injusta; bem de valor irrisório também pode ser protegido pela legítima defesa. - agressão injusta X provocação injusta: somente a agressão injusta abre a possibilidade ao agredido de se defender legitimamente nos limites legais, o mesmo não acontecendo com aquele que reage a uma provocação, pois responderá pelo seu dolo, não havendo exclusão da ilicitude de sua conduta. - Legítima defesa própria ou de terceiros: há possibilidades do agente não só defender-se a si mesmo, como também de intervir na defesa de terceira pessoa, mesmo que esta última não lhe seja próxima, como nos casos de amizade e parentesco. - Legítima defesa recíproca: autêntica X autêntica não é possível; putativa X autêntica é possível; - provocar situação para criar legítima defesa: não é permitida - meios necessários: sempre os menos gravosos dentre os meios possíveis - agressão iminente: é a certeza de que irá acontecer quase que imediatamente, de modo que nos impeça, também, de buscar auxílio junto aos aparelhos repressores formalmente instituídos (Estado), pois não dará tempo. C) ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL O próprio nome já conceitua. É preciso que haja um dever legal imposto ao agente, dever este que, em geral, é dirigido àqueles que fazem parte da Administração Pública, tais como os policiais, bombeiros e oficiais de justiça. Exige-se a presença dos elementos: - objetivos: (dever legal; cumprimento a esse dever se dê nos exatos termos impostos pela lei, não podendo em nada ultrapassá-los) e, - subjetivos: (o agente tem consciência de que praticou a conduta típica, mas acreditando que cumpria um dever imposto pela lei). Observação: -Causa de justificação: exige que o agente tenha consciência de que age sob essa causa de justificação. Em outras palavras, é preciso que o agente que praticou a conduta típica tenha atuado querendo praticá-la, mas com a consciência de que cumpria um dever imposto pela lei. D) EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO Exercício de uma prerrogativa conferida pelo ordenamento jurídico.Esse “direito” pode surgir de situações expressas nas regulamentações legais em sentido amplo, ou até mesmo dos costumes (norma codificada e consuetudinária). Exige-se a presença dos elementos: - objetivos (atuação efetiva no exercício regular de direitos) e - subjetivos (conhecimento do direito e a vontade de exercitá-lo). Observação: - estrito cumprimento do dever legal X exercício regular de direito: O primeiro é voltado aos agentes públicos, no desempenho de suas atividades, interferindo na esfera privada dos cidadãos para assegurar o cumprimento da lei. O segundo compreende ações do cidadão comum autorizadas pela existência de direito definido em lei e condicionadas à regularidade do seu exercício. Causa supralegal de exclusão da ilicitude: Também afasta a ilicitude da conduta praticada pelo agente, fazendo, assim, com que o fato por ele cometido seja considerado lícito: a) Consentimento do ofendido: O fato é típico, mas não será antijurídico em virtude do consentimento do ofendido. Ex.: o caso daquele que permite que alguém lhe faça uma tatuagem. Existe, em tese, a figura da lesão corporal, uma vez que ofende a integridade física daquele que deseja tatuar o corpo. Para que o consentimento seja válido, obrigatoriamente deverão estar presentes certos requisitos: 1) que o ofendido tenha capacidade para consentir; 2) que o bem sobre o qual recaia a conduta do agente seja disponível e; 3) que o consentimento tenha sido dado anteriormente ou pelo menos numa relação de simultaneidade à conduta do agente. 3º ELEMENTO DO CONCEITO DE CRIME: CULPÁVEL (CULPABILIDADE) Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente. Elementos da culpabilidade na concepção finalista: A. IMPUTABILIDADE Para que o agente possa ser responsabilizado pelo fato típico e ilícito por ele cometido é preciso que seja imputável. A imputabilidade é a possibilidade de se atribuir, imputar o fato típico e ilícito ao agente. A imputabilidade é a regra; a inimputabilidade a exceção. > 18 imputável = Fato criminal < 18 inimputável = Ato infracional análogo ao fato criminal Também é inimputável os que têm doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado. semi-imputável: relativa capacidade de conhecer a ilicitude do fato = redução da pena. B. POTENCIAL CONHECIMENTO DA ILICITUDE: Há a ilicitude, porém, o agente age com erro. O erro de proibição exclui a atual consciência da ilicitude. Há dois tipos de erros de proibição: 1) Inevitável ou escusável: o agente não tinha como conhecer a ilicitude do fato. Isento da pena. 2) Evitável ou inescusável: embora o agente desconhecesse que o fato era ilícito, ele tinha condições de saber. Não ficará isento da pena, porém, terá direito a uma redução desta. C. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA A possibilidade que tinha o agente de, no momento da ação ou da omissão, agir de acordo com o direito, considerando-se a sua particular condição de pessoa humana. Essa possibilidade de agir conforme o direito variará de pessoa para pessoa, não se podendo conceber um “padrão” de culpabilidade. As pessoas são diferentes uma das outras. Algumas inteligentes, outras com capacidade limitada; algumas abastadas, outras miseráveis; algumas instruídas, outras incapazes de copiar o seu próprio nome. Essas particulares condições é que deverão ser aferidas quando da análise da exigibilidade de outra conduta como critério de aferição ou de exclusão da culpabilidade, isto é, sobre o juízo de censura, de reprovabilidade que recai sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente. CAPÍTULO VII - ITER CRIMINIS Conceito: iter criminis ou “caminho do crime”, que significa o conjunto de etapas que se sucedem, cronologicamente, no desenvolvimento do delito. A ação é composta por duas fases: interna e externa. Na fase interna, o agente antecipa e representa mentalmente o resultado, escolhe os meios necessários a serem utilizados no cometimento da infração, bem como considera os efeitos concomitantes que resultarão dos meios por ele escolhidos, e em seguida exterioriza sua conduta, colocando em prática tudo aquilo que por ele fora elucubrado. O iter criminis, assim, é composto pelas seguintes fases: Fase interna: a) Cogitação: é aquela fase do iter criminis que se passa na mente do agente. Aqui ele define a infração penal que deseja praticar, representando e antecipando mentalmente o resultado. Planejamento interno do crime, na consciência do autor. Não geram dano a nenhum bem jurídico, não é punível, sem exceção; nem perigo de dano. Fase externa: b) Preparação (atos preparatórios): Uma vez selecionada a infração penal que deseja cometer, o agente começa a se preparar com o fim de obter êxito em sua empreitada criminosa. Seleciona os meios aptos a chegar ao resultado por ele pretendido, procura o lugar mais apropriado à realização de seus atos. Não são puníveis, exceto nos casos de quando o ato preparatório já é um crime autônomo. Então ele é punível. Ex.: compra de arma; associação criminosa (art. 288, CP); possuir apetrechos para fabricar moedas falsas (art. 291, CP). c) Execução: depois da cogitação e da preparação, o agente dá início à execução do crime. Atos de execução são os dirigidos diretamente à prática do crime. A execução começa quando ocorre dano ou perigo de dano ao bem jurídico. Quando, efetivamente, ingressa na fase dos atos de execução, duas situações podem ocorrer: O agente consuma a infração penal por ele pretendida inicialmente ou; Em virtude de circunstâncias alheias à sua vontade, a infração não chega a consumar-se, restando, portanto, tentada. Ex.: no início da violação ou dano da integridade física; no caso de furto, o início da execução é quando há perigo de dano ao patrimônio. d) Consumação: finalmente, o momento culminante da conduta delituosa verifica-se quando atinge a consumação, que ocorre quando no crime, se reúnem todos os elementos de sua definição legal (art. 14, I, CP). Obs¹.: Exaurimento: É a fase que se situa após a consumação do delito, esgotando-o plenamente. Ocorre somente em determinadas infrações penais. Na maioria dos casos no mesmo instante que o crime se consuma ele se exaure. Ex.: art. 156 CP (furto de coisa comum) (216 – assédio sexual?); Nesse caso o crime não se consuma com o ato sexual, mas sim, a consumação se dá com o constrangimento. O exaurimento sim seria o ato sexual. Então a consumação nem sempre resulta em exaurimento, apesar de o exaurimento ocorrer após a consumação ser a exceção. Obs²: Regra geral é que a cogitação e a preparação não sejam puníveis. Contudo, em determinadas situações, o legislador entendeu por bem punir de forma autônoma algumas condutas que poderiam ser consideradas preparatórias, como nos casos dos crimes de associação criminosa (art. 288) e a posse de instrumentos destinados usualmente à prática de furtos (art. 25 LCP). Ex.: Porte ilegal de arma. Consumação e tentativa 1. Consumação: Diz-se consumado o crime quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal (art. 14, I, CP). A consumação varia de acordo com a infração penal selecionada pelo agente. Podemos desta forma, dizer que ocorre consumação nos crimes: Materiais e culposos: quando se verifica a produção de resultado naturalístico, ou seja, quando há a modificação no mundo exterior. Ex.: homicídio (art. 121,CP). Omissivos próprios: com a abstenção do comportamento imposto ao agente. Ex.: omissão de socorro (art. 135, CP). Mera conduta: com o simples comportamento previsto no tipo, não se exigindo qualquer resultado naturalístico. Ex.: violação de domicílio (art. 150, CP). Formais: com a prática da conduta descrita no núcleo do tipo, independentemente da obtenção do resultado esperado pelo agente, que, caso aconteça, será considerado como mero exaurimento do crime. Ex.: extorsão mediante sequestro (art. 159, CP). Qualificado pelo resultado: com a ocorrência do resultado agravador. Ex.: lesão corporal qualificada pelo resultado aborto (art. 129, §2º, V, CP); lesão corporal seguida de morte (art. 129 §3º, CP). Permanentes: enquanto durar a permanência, uma vez que o crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga, perpetua-se no tempo. Ex.: sequestro e cárcere privado (art. 148, CP). 2. Tentativa: A tentativa é a realização incompleta do tipo penal, do modelo descrito na lei. Na tentativa há prática de ato de execução, mas o sujeito não chega à consumação por circunstâncias alheias a sua vontade. Na tentativa o movimento criminoso para em uma das fases da execução, impedindo o agente de prosseguir no seu desiderato por circunstâncias estranhas ao seu querer. Para que se possa falar em tentativa, é preciso que: a) a conduta seja dolosa, isto é, exista uma vontade livre e consciente de querer praticar determinada infração penal; b) o agente ingresse, obrigatoriamente, na fase dos chamados atos de execução; c) não consiga chegar à consumação do crime, por circunstâncias alheias à sua vontade. Tentativa perfeita: Fala-se em tentativa perfeita, acabada, ou crime falho, quando o agente esgota, segundo o seu entendimento, todos os meios que tinha ao seu alcance a fim de alcançar a consumação da infração penal, que somente não ocorre por circunstâncias alheias à sua vontade. Ex.: descarrega todas as balas que possuía na arma, acertando a vítima ou não, mas que não morre. Tentativa imperfeita: Diz-se imperfeita, ou inacabada, a tentativa em que o agente é interrompido durante a prática dos atos de execução, não chegando, assim, a fazer tudo aquilo que intencionava, visando consumar o delito. Tentativa branca: Fala-se em tentativa branca, ou incruenta, quando o agente, não obstante ter-se utilizado dos meios que tinha ao seu alcance, não consegue atingir a pessoa ou a coisa contra a qual deveria recair sua conduta. Ex.: alguém que atira na vítima, mas erra todos os tiros e não acontece nada com a vítima. Tentativa vermelha: Fala-se em tentativa vermelha, ou cruenta, quando a vítima sofre dano, mas não vem a falecer. Crimes que não admitem a tentativa: Crimes culposos: Não se fala em tentativa de crimes culposos, uma vez que se não há vontade dirigida à prática de uma infração penal não existirá a necessária circunstância alheia, impeditiva da sua vontade de consumação. Não se cogita, não se prepara e não se executa uma ação dirigida a cometer um delito culposo. Crime preterdoloso: Fala-se em preterdolo quando o agente atua com dolo na sua conduta e o resultado agravador advém de culpa. Ou seja, há dolo na conduta e culpa no resultado; dolo no antecedente, culpa no consequente. Os crimes culposos são delitos que, obrigatoriamente, para sua consumação, necessitam de um resultado naturalístico. Se não houver esse resultado, não há falar em crime culposo. E como já dito acima, nos crimes culposos não cabe a tentativa. Crimes omissivos próprios: nessa modalidade de infração penal ou o agente não faz aquilo que a lei determina e consuma a infração, ou atua de acordo com o comando da lei e não pratica qualquer fato típico. Pois a partir do momento em que se omite daquilo que se tinha que fazer, o crime já está consumado por si só, não há fase, portanto, não admite tentativa. Crimes habituais: São delitos em que, para se chegar à consumação, é preciso que o agente pratique, de forma reiterada e habitual, a conduta descrita no tipo. Ex.: casa de prostituição (art. 229, CP), não há tentativa, pois tem que haver habitualidade para chegar à consumação. Ex.: Curandeirismo e charlatanismo. Crimes unissubsistentes: unissubsistentes é o crime no qual a conduta do agente é exaurida num único ato, não se podendo fracionar o iter criminis. Ex.: injúria verbal. Obs.: Não se admite tentativa de contravenção penal, uma vez que a Lei das Contravenções Penais, considerada especial em relação ao Código Penal, dispõe em seu art. 4º, asseverando não ser punível a tentativa da contravenção. Tentativa e aplicação da pena Conforme redação do parágrafo único do art. 14 do CP, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Entende a doutrina que, quanto mais próximo o agente chegar à consumação da infração penal, menor será o percentual de redução; ao contrário, quanto mais distante o agente permanecer da consumação do crime, maior será a redução. Desistência voluntária e arrependimento eficaz 1. Desistência voluntária: O agente interrompe, voluntariamente, os atos de execução, impedindo, por ato seu, a consumação da infração penal, razão pela qual a desistência voluntária também é conhecida por tentativa abandonada. O agente que desiste de prosseguir na execução do crime somente responde pelos atos já praticados, ficando afastada a sua punição pela tentativa da infração penal por ele pretendida inicialmente. É como se a lei, querendo fazer o agente retroceder, interrompendo seus atos de execução, lhe estendesse essa “ponte de ouro”, para que nela pudesse retornar, deixando de prosseguir com seus atos, evitando a consumação da infração penal, cuja execução por ele já havia sido iniciada. Obs¹.: A fim de distinguirmos quando o agente desistiu voluntariamente de quando não chegou a consumar o crime por circunstâncias alheias à sua vontade, devemos aplicar ao caso concreto a chamada fórmula de Frank. Na análise do fato, e de maneira hipotética, se o agente disse a si mesmo “posso prosseguir, mas não quero”, será o caso de desistência voluntária, porque a interrupção da execução ficará a seu critério, uma vez que ainda continuará sendo o senhor de suas decisões; se, ao contrário, o agente disse “quero prosseguir, mas não posso”, estaremos diante de um crime tentado, uma vez que a consumação só não ocorrera em virtude de circunstâncias alheias à vontade do agente. 2. Arrependimento eficaz: O agente, depois de esgotar todos os meios de que dispunha para chegar à consumação da infração penal, arrepende-se e atua em sentido contrário, evitando a produção do resultado inicialmente por ele pretendido. Ex.: joga alguém que não sabe nadar no mar, mas se arrepende e o resgata. Obs².: Na desistência voluntária, o processo de execução do crime ainda está em curso; no arrependimento eficaz, a execução já foi encerrada. Obs³.: Nestes dois institutos a consumação não pode ter ocorrido. Pois embora o agente tenha desistido voluntariamente de prosseguir na execução, ou mesmo depois de tê-la esgotado, atua no sentido de evitar a produção do resultado, se este vier a ocorrer, o agente não será beneficiado com os institutos da desistência voluntária e do arrependimento eficaz. Arrependimento posterior (art. 16, CP) 1. Natureza jurídica: O arrependimento posterior é considerado uma causa geral de diminuição de pena. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída acoisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário, a pena será reduzida de um a dois terços. a) O instituto do arrependimento posterior só é cabível se ocorrer nas seguintes fases: Quando a reparação do dano ou a restituição da coisa é feita ainda na fase extrajudicial, isto é, enquanto estiverem em curso as investigações policiais ou, Mesmo depois de encerrado o inquérito policial, com a sua consequente remessa à justiça, pode o agente, ainda, valer-se do arrependimento posterior, desde que restitua a coisa ou repare o dano por ele causado à vítima até o recebimento da denúncia ou queixa. b) O arrependimento posterior só terá cabimento quando o agente praticar uma infração penal cujo tipo não preveja como seus elementos a violência ou a grave ameaça. c) Não há necessidade, portanto, que o próprio agente tenha tido a ideia de restituir a coisa ou de reparar o dano para se beneficiar com a redução da pena. Pode acontecer que tenha sido convencido por terceira pessoa a restituir a coisa ou a reparar o dano, sendo seu arrependimento considerado para efeitos de redução. Também será beneficiado com o arrependimento posterior aquele que, já tendo sido descoberto pela autoridade policial como o autor do delito de furto, devolve a res furtiva tão somente com a finalidade de beneficiar-se com esse instituto. d) A reparação do dano ou a restituição da coisa devam ser totais, e não somente parciais. Crime impossível (art. 17, CP) Conceito: Crime impossível também é conhecido como tentativa idônea, inadequada ou quase crime. Muitas vezes, após a prática do fato, constata-se que o agente jamais conseguiria consumar o crime, quer pela ineficácia absoluta do meio empregado, quer pela absoluta impropriedade do objeto. a) Absoluta ineficácia do meio: Meio é tudo aquilo utilizado pelo agente capaz de ajudá-lo a produzir o resultado por ele pretendido. O meio pode ser uma faca, um revólver, um taco de golfe, pó de vidro, veneno etc. Meio absolutamente ineficaz é aquele que o agente se vale a fim de cometer a infração penal, mas que, no caso concreto, não possui a mínima aptidão para produzir os efeitos pretendidos. São ex. a utilização de revólver sem munição, confundir açúcar com veneno. Nessas situações, por mais que o agente se esforce na utilização dos meios absolutamente ineficazes, a consumação do crime, como diz a primeira parte do art. 17, se tornará impossível. b) Absoluta impropriedade do objeto: Podemos entender por objeto tudo aquilo contra o qual se dirige a conduta do agente. Objeto é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta do agente. Não se pode matar quem já está morto, não se pode abortar quando não há gravidez etc. Nesse caso, por ser o objeto absolutamente impróprio, não se fala em tentativa. TEORIA OBJETIVA TEMPERADA – os atos praticados pelo agente só são puníveis se os meios e os objetos são relativamente eficazes. Essa teoria foi adotada no Brasil. Obs.: Crime impossível por obra do agente: sujeito provoca o crime e a prisão em flagrante – Súmula 145 STF Crime Putativo: crime imaginário, só existe na cabeça do autor. Ex.: rapaz que transa com adolescente de 16 anos e acha que cometeu pedofilia. Não há crime, pois só é crime de pedofilia quando a criança tem menos de 14 anos. Classificações das infrações penais 1. Doloso, culposo e preterdoloso. a. Doloso: quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo (art.18 I, CP). b. Culposo: quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia (art.18, II do CP). c. Preterdoloso: é o crime cujo resultado total é mais grave do que o pretendido pelo agente. Há uma conjugação de dolo (no antecedente) e de culpa (no subsequente). (a pessoa queria cometer um crimezinho e cometeu um crimezão) 2. Comissivo e omissivo. a. Comissivo: consiste na realização de uma ação positiva visando um resultado tipicamente ilícito, ou seja, no fazer o que a lei proíbe. b. Omissivo (próprio): consiste no fato de o agente deixar de realizar determinada conduta, tendo a obrigação jurídica de fazê-lo; configura-se com a simples abstenção da conduta devida, quando podia e devia realizá-la, independentemente do resultado. c. Omissivo (impróprio): a omissão é o meio através do qual o agente produz o resultado. Nestes crimes, o agente responde não pela omissão simplesmente, mas pelo resultado decorrente desta, a que estava juridicamente obrigado a impedir (art. 13, §2º do CP). Quando a pessoa é considerada garantidora. A pessoa responde pelo crime, mesmo não tendo praticado o ato. Ex.: uma mãe que sai de casa no horário em que o pai estupra a filha, a mãe responde por estupro, ou seja, crime comissivo por omissão, porque ela é garantidora. 3. Instantâneo e permanente. a. Instantâneo: Crime instantâneo é aquele que, quando consumado, encerra-se. A consumação ocorre em determinado momento e não mais se prossegue. No homicídio, por exemplo, o crime é consumado quando da morte da vítima, não importando o tempo decorrido entre a ação e o resultado. Não significa o crime praticado rapidamente, mas significa que uma vez realizados os seus elementos nada mais se poderá fazer para se impedir sua ocorrência. Ex.: homicídio, assalto. b. Permanente: é aquele crime cuja consumação se alonga no tempo, dependente da atividade do agente, que poderá cessar quando este quiser (Cárcere privado, sequestro). Instantâneo de efeitos permanentes: é aquele em que a permanência do efeito não depende do prolongamento da ação do sujeito ativo, ou seja, ocorre quando, consumada a infração em dado momento, os efeitos permanecem, independentemente da vontade do sujeito. Essa diferenciação é importante para a punição e prescrição; em caso de crime permanente, aplica-se a lei mais gravosa, mesmo o crime tendo iniciado com uma lei mais benéfica. No crime instantâneo, o réu é julgado com a lei mais benéfica. 4. Dano e perigo. a. Dano: Crime de dano só se consuma com a efetiva lesão do bem jurídico visado (ex.: lesão à vida, furto). b. Perigo: No crime de perigo, o delito consuma-se com o simples perigo criado para o bem jurídico. O perigo pode ser individual (quando expõe ao risco o interesse de uma só ou de um número determinado de pessoas) ou coletivo (quando ficam expostos ao risco os interesses jurídicos de um número indeterminado de pessoas). Ex.: porte ilegal de arma, dirigir embriagado. Subdividem-se em: concreto (não é presumido, o perigo deverá ser comprovado. Ex. art. 309, Lei 9503/97 – Cód. Trânsito – dirigir sem habilitação ou com ela cassada. Outro exemplo: art. 250, CP – causar incêndio – não é qualquer incêndio, mas aquele que cause perigo concreto à vida, integridade física ou o patrimônio de outrem) e abstrato (perigo presumido. Ex. art. 310, Lei 9503/97 – dar o veículo para alguém embrigado) 5. Mera conduta, material e formal. a. Mera conduta: No crime de mera conduta a lei não exige qualquer resultado naturalístico, contentando-se com a ação ou omissão do agente. Em outras palavras, o crime é classificado como sendo de mera conduta quando não é relevante o resultado material (ex.: violação de domicílio, ato obsceno, omissão de notificação de doença e a maioria das contravenções). b. Material: Crime material é aquele em que há necessidade de um resultado externo à ação, descrito na lei, e que se destaca lógica e cronologicamente da conduta (ex.: homicídio: morte). c. Formal: Crime formal é aquele em que não há necessidade de realização daquilo que é pretendido pelo agente e o
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