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Direito à Vida - Severina

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DIREITO à VIDA E A QUESTÃO DO ABORTO EM FETOS ANENCEFÁLICOS
RESUMO
O presente relatório apresenta uma reflexão do direito à vida confrontado com o dilema do aborto de feto anencéfalo. Partindo da premissa que o início da vida se dá com a concepção, o ordenamento jurídico autoriza a interrupção da evolução da gestação, devido a constatação da anomalia. A geração de um anencéfalo é, para a maioria das mulheres, motivo de muita dor física e emocional, por saber que a chance de o feto morrer durante a gestação é grande e que, em caso contrário, o bebê sobreviverá por pouquíssimo tempo após o parto. Por outro lado, há quem condene o aborto mesmo nesses casos, por considerar que a prática é um crime contra a vida. Assim, o relatório tem por objetivo contrapor as correntes opostas que envolvem as questões colocadas em análise, concluindo com o entendimento que privilegia o direito à vida em sua amplitude, sem desconsiderar o princípio da dignidade da pessoa humana.
Palavras chave: Aborto. Anencefalia. Legalização. Direito. Vida. 
INTRODUÇÃO
A anencefalia é uma má formação comum, na qual é possível ser diagnosticada durante a gestação. Acerca do fato, a legalização da interrupção da gestação, vigora no Brasil desde 2012. O aborto em fetos anencéfalos ainda chamado de antecipação terapêutica do parto, é um assunto controverso, que faz jus a uma apreciação profunda, levando em consideração as questões éticas, morais, religiosas e jurídicas que envolvem o problema, para que não se viole direitos e garantias fundamentais. 
Tratando-se de um estado democrático de direito, as opiniões divergentes seguirão travadas, e até mesmo no âmbito jurídico o assunto é alvo de contestações. Em qualquer país, mesmo naqueles com pensamento mais flexível, o aborto é certeza de polêmica. Discussões relacionadas a lei e a moral, que envolvidas na permissão ou proibição, traz alguns pensamentos inconciliáveis. 
Inicia-se então uma reflexão a respeito da legalização do aborto de fetos anecéfalos e a divergência em questão. Expõe-se o amparo ao aborto em razão da anencefalia, conforme o documentário “Uma História Severina”, e em contrapartida, é exposto a defesa do direito de à vida, segundo o documentário “Vitória de Cristo”.
O AMPARO AO ABORTO EM FETOS ANENCEFÁLICOS 
Infelizmente, o documentário titulado “Uma História Severina”, narra o sofrimento de uma mulher grávida, que no quarto mês de gestação, foi inteirada da constatação do feto anencéfalo. Rosivaldo e Severina, os pais da criança constatada com a anomalia, são pessoas humildes do sertão de Pernambuco e juntos decidiram não levar a gestação até o fim, pelo qual tratou de litigiar o aborto, quando se viu envolvida numa disputa judicial e religiosa, que impedia as pessoas nessas condições de praticar o triste fim. 
Aponta-se assim, uma dúvida ética: até que ponto é legítimo que o Estado, para atender as convicções religiosas, possa obrigar uma mulher a levar adiante uma gestação, condenada à fatalidade e à dor irreparável? Até que ponto é justo obrigar pessoas humildes a essa jornada de dor, a fim do dever religioso cumprido? Diante a negação dos anestesistas do SUS de aliviar a dor física de Severina, seria procedente essa recusa diante a situação, como se já não lhe bastasse a dor que levará na alma pelo resto da vida?
Este é o tema chave da discussão, uma vez que pontos de vista religiosos, legislativos e filosóficos entram em conflito. Colidem o princípio do direito à vida, que é garantido ao nascituro pela Constituição Federal e o direito à autonomia, à liberdade, à privacidade, ao determinar a gestante o direito de dispor de seu próprio corpo. 
Nisto, é defendido até aqui, a interrupção da gestação de feto anencéfalo, pois é uma forma de não mais prolongar o sofrimento e risco à saúde da gestante. Impor uma mulher que carregue em seu ventre durante nove meses, um feto que não irá resistir, ou ao menos sobreviver a um segundo de vida, constitui sim uma violação ao direito à liberdade, que é também garantindo constitucionalmente. Ainda assim, não se pode esquecer que o Direito como ciência deve andar junto com a Medicina, esta sim, tem a função mais importante que é a preservação da vida humana, no caso, da gestante.
A PRESERVAÇÃO DO DIREITO À VIDA DESDE SUA CONCEPÇÃO
Por outro lado, é equivocada e precipitada a argumentação no sentido de que a interrupção da gestação por anencefalia seria considerar um feto patológico menos digno de viver que um feto saudável. Não se nega o direito à vida do feto desde sua concepção, conforme descrito no artigo 2º do Código Civil. Tais fundamentos comprovam o direito à vida, como relatado no documentário “Vitória de Cristo”, que conta sobre a decisão dos pais ao continuar a gestação de um feto anencéfalo, que levaria o nome Vitória Croxato. 
Durante a gestação, a mãe recebeu o diagnóstico que considerava sua filha incompatível com a vida extrauterina. Mas a mãe decidiu continuar aquela gestação. Vitória nasceu e resistiu, o que passou a ser questionado ao longo do seu crescimento, a sua sobrevivência inesperada e todas suas reações e expressões. Mas mesmo superando expectativas, Vitória veio a falecer dois anos depois. É importante ressaltar que apesar da baixa expectativa de vida, não se deve limitar os direitos dessas crianças.
A Constituição Federal em seu artigo 5º, trata dos “Direitos e Garantias Fundamentais”, declara que: todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza garantindo o direito à vida, independentemente de qualquer má formação, e esse direito deve ser protegido pela lei desde o momento da concepção. Considera-se também, o sofrimento físico e psíquico da mulher, pois além das alterações hormonais, a gestante também sofre quando busca junto ao judiciário o direito de poder interromper a gestação, o que demanda certo tempo, quase sempre excessivo, sacrificando seu direito fundamental e agredindo de alguma forma sua integridade e dignidade. 
Ante tais ponderações, quaisquer que sejam, defende-se aqui o respeito e direito a vida que está sendo gerada. Portanto, é pertinente questionar: Qual a importância para a sociedade de apreciar a interrupção da vida, ao se desligar daquela? Quais reflexos jurídicos podem trazer a legalização dessa prática abortiva, na vida em sociedade? É um assunto de respostas complexas, mas com a posição contrária a interrupção da vida, por considerar um princípio injustificável. A vida é soberana e não pode ser abreviada, deve ser protegida e poupada, e que tudo deve ser feito para sua continuidade e preservação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Impedir uma mulher de interromper a gestação de um feto incompatível com a vida, se ela assim o desejar, é condená-la à tortura. Assim como também seria tortura obrigar uma mulher a interromper essa mesma gestação se ela desejar levá-la até o fim. Até mesmo os tribunais não são unanimes em suas decisões. Os meios encontrados em nosso ordenamento jurídico não têm sido suficientes para dar a convicção necessária a nossas autoridades sobre a posição a ser tomada e o que deve ser relevante e considerado. 
Independentemente de qualquer posição, não se discute que tal parecer traz o direito das mulheres desprovidas de recursos financeiros de dispor de uma gestação incerta, visto que as mulheres que possuem recursos financeiros têm a opção de continuar com a gestação de um feto anencéfalo devido e melhor condição de custeio dessa criança pós nascimento, caso ela venha sobreviver. Esta é uma verdade incômoda, mas que deve ser ponderada. Trata-se de uma aplicação do princípio de igualdade e oportunidades do exercício de um direito.
Tendo em vista os aspectos abordados, defendemos que quaisquer seja a posição, entre a mulher que optou por interromper a gestação e aquela que preferiu mantê-la, que se encontre diante da mesma tragédia e fizeram escolhas diferentes, ambas devem ser respeitadas na sua decisão, seja ela qual for. Nenhuma mulher deve ser obrigada a abortar ou continuar com a gestação, mesmo sabendo das consequênciasentre uma decisão e outra, sua vontade também deve ser respeitada. O Congresso Nacional decreta em seu artigo 1º: ''É isenta de ilicitude a interrupção da gravidez em caso de gestante portadora de feto anencéfalo. Ademais é considerável complacente que a decisão seja tomada pela mãe. Em face de qualquer decisão, as gestantes poderão exercer o seu direito subjetivo estando asseguradas e amparadas pela lei.
REFERÊNCIAS
VERDI, Roberta. Aborto de Feto Anencéfalo: A Inconstitucionalidade da Legalização e o Resgate da Dignidade da Pessoa Humana. Revista Páginas de Direito, Porto Alegre, ano 8, nº 855, 02 de dezembro de 2008. Disponível em: <http://www.tex.pro.br/home/artigos/58-artigos-dez-2008/5795-aborto-de-feto-anencefalo-a-inconstitucionalidade-da-legalizacao-e-o-resgate-da-dignidade-da-pessoa-humana> Acesso em: 07 set. 2015
SOUSA, Stephanie Correa Serejo. A descriminalização do aborto de feto anencéfalo e a dignidade da gestante. Web Artigos Páginas de Direito, 26 de março de 2014. Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/a-descriminalizacao-do-aborto-de-feto-anencefalo-e-a-dignidade-da-gestante/119805/> Acesso em: 07 set. 2015

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