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Caio Prado Junior - A Era do Liberalismo

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PRADO JUNIOR, Caio. EVOLUÇÂO AGRÍCOLA – CAP 16
No curso do Século XIX se opera uma verdadeira revolução na distribuição das atividades produtivas no Brasil.
2 fatos a constituem: 
Um, de natureza geográfica: é o deslocamento da primazia econômica das velhas regiões agrícolas do Norte para as mais recentes do Centro-Sul (Rio de Janeiro, partes de Minas Gerais e São Paulo)
Outro é a decadência das lavouras tradicionais do Brasil – da cana-de açúcar, do algodão, do tabaco e o desenvolvimento paralelo e considerável da produção de café.
O Centro-Sul irá progressivamente tomando a dianteira nas atividades econômicas do país. Na segunda metade do século XIX, chega-se a uma inversão de posições: o Norte, estacionário e decadente; o Sul, em pleno florescimento.
A decadência das lavouras tradicionais do Norte se explica pela desfavorável conjuntura internacional. Aparece no século XIX, um substituto para a produção de açúcar: a beterraba. Os países europeus e os Estados Unidos tornam-se, de consumidores de açúcar em produtores e exportadores.
O Brasil estava em desvantagem por uma posição excêntrica e devido ao nível rudimentar de sua produção.
O Norte do Brasil, além da concorrência externa, suporta a concorrência do Sul, que atrai o povoamento com suas terras virgens e frescas.
Entre os fatores que contribuíram para a decadência do Norte é preciso contar também a cessação, em 1850, da corrente de escravos importados da África.
O Sul seria menos atingido, pois estaria em plena fase de progresso e se refará mais rapidamente. Poderá mesmo resolver momentaneamente o eu problema importando escravos do Norte depauperado, agravando ainda mais a situação deste. E recorrerá afinal à imigração europeia, o que o Norte não pode fazer porque nem as condições econômicas, nem o seu clima acentuadamentetropical ofereciam atrativos suficientes para essa nova corrente de colonos.
Mas o que sobretudo favoreceu o Sul em contraste com o Norte foi a cultura do café.
Somente no correr do século XVIII que o café adquire importância nos mercados internacionais, tornando-se então o principal alimento de luxo nos países do Ocidente.
Pelo fato de o século XVIII, ter sido absorvido pela mineração, o Brasil entrará muito tarde para a lista dos grandes produtores.
A libertação e desenvolvimento do mercado norte-americano estimulará a produção brasileira. A produção brasileira de café encontrará nos Estados Unidos um de seus principais mercados; em meados do século, quando o café se torna o grande artigo da exportação brasileira, aquele país absorverá mais de 50% dela. E esta porcentagem ainda crescerá com o tempo.
O cultivo do café encontrou nas Sul condições ideais: além de grandes reservas de terras virgens e inexploradas com solos magníficos, um clima que não lhe podia ser mais favorável: temperaturas amenas, pluviosidade bem distribuída. É no Rio de Janeiro, sobretudo logo depois nas regiões contíguas de Minas Gerais e São Paulo, e finalmente no Espírito Santo (este último com índices já muito menores) que se localiza realmente a riqueza cafeeira do Brasil.
O primeiro grande cenário da lavoura cafeeira no Brasil é o vale do Rio Paraíba. As condições naturais aí são favoráveis: altitudes médias, clima temperado, relevo acidentado, revestimento natural de florestas subtropicais.
O sistema de exploração descuidado e extensivo acaba provocando o esgotamento das reservas naturais e a decadência das atividades produtivas.
Agira-se sem o menor cuidado e resguardo: a mata foi arrasada sem discernimento, plantou-se café sem atenção a outra idéia que um rendimento imediato. A própria distribuição das plantas favorecia a ação da erosão. Em poucos decênios inicia-se a decadência com seu cortejo sinistro: empobrecimento, abandono sucessivo das culturas, rarefação demográfica.
Outra região viera já substituir aquela área tão próspera e agora fadada ao aniquilamento. A do oeste da província de São Paulo, centralizando-se em Campinas e estendendo-se até Ribeirão Preto.
Embora, plantado com o mesmo descuido, os cafezais da nova região sofrerão menos da ação dos agentes naturais, pois a declividade menor do terreno oferecerá maior proteção ao solo. A topografia regular favorece também as comunicações e os transportes. A essas vantagens vem juntar-se ainda a superior fertilidade da terra (chamada “terra roxa”).
Outro efeito do deslocamento para oeste das lavouras cafeeiras é que a orientação geográfica do oeste paulista não é para o Rio de Janeiro, mas para São Paulo, e através dela, para o porto de Santos. Será o primeiro passo para a concorrência entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
A “onda verde” de cafezais de Campinas a Ribeirão Preto formará o núcleo produtor do melhor e mais abundante café brasileiro. O “café de Ribeirão Preto” se torna mundialmente famoso.
Em matéria de organização, a lavoura cafeeira seguiu os moldes tradicionais e clássicos da agricultura do país: a exploração em larga escala, tipo “plantação” (a plantation dos economistas ingleses), fundada na grande propriedade monocultural trabalhada por escravos negros, substituídos mais tarde por trabalhadores assalariados.
Além das plantações, a fazenda conta com diferentes instalações e dependências que fazem dela um conjunto complexo, vultoso e em grande parte autossuficiente. É a repetição do que já se observara nos engenhos de açúcar. A residência do proprietário, a senzala dos escravosou “colônias” de trabalhadores livres, agrupamento de casinholas em geral alinhadas ao longo de uma rua e dando o aspecto de uma pequena aldeia, as cocheiras, estrebarias e oficinas diversas de carpintaria, ferreiro, etc. 
Exatamente como o engenho de açúcar, a fazenda de café é um mundo em miniatura quase independente e isolado do exterior, e vivendo inteiramente para a produção do seu gênero.
O café deu origem, cronologicamente, à última das três grandes aristocracias do país, depois dos senhores de engenho e dos grandes mineradores, os fazendeiros de café se tornaram a elite social brasileira. E em consequência, na política também. O grande papel de São Paulo foi conquistado no cenário político à custa do café.
Depois de 1821 a exportação brasileira em milhares de sacas de 60 kg foi, por decênios, a seguinte: 
1821-30 ........ 3.178 
1831-40 ........ 10.430 
1841-50 ........ 18.367 
1851-60 ........ 27.339
1861-70 ........ 29.103
1871-80 ........ 32.509
1881-90 ........ 51.631
PRADO JUNIOR, Caio. CAP. 17 – NOVO EQUILÍBRIO ECONÔMICO
O considerável desenvolvimento da lavoura cafeeira contará como primeiro fator no reajustamento da vida econômica do Brasil, tão abalada desde a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro e a emancipação política do país. 
Comércio Exterior do Brasil 
 Exportação/Importação Exportação/Importação
Decênios Contos de Réis £ 1.000 Ouro 
1821-1830........ 243.263 265.164 39.097 42.504 
1831-1840........ 348.258 385.742 45.205 54.291 
1841-1850........ 487.540 540.944 54.680 60.999 
1851-1860........ 900.534 1.016.686 102.007 115.280 
1861-1870........ 1.537.175 1.347.514 149.433 131.866 
1871-1880........ 1.963.718 1.621.251 199.685 164.929 
1881-1890........ 2.411.006 2.102.297 220.725 192.361 
1891-1900........ 7.349.258 6.397.324 291.017 252.817 
Isto permitiu o aparelhamento técnicodo país, inteiramente dependente, nesse terreno, do estrangeiro: estradas de ferro e outros meios de comunicação e transportes, mecanização das indústrias rurais, instalação de algumas primeiras manufaturas, etc. O Brasil tomará pela primeira vez conhecimento do que fosse o progresso moderno e uma certa riqueza e bem-estar material.
O desenvolvimento da lavoura cafeeira terá outra consequência: reforça a estrutura tradicional da economia, voltada inteiramente para a produção intensiva de uns poucos gêneros destinados à exportação. Com ela se reforçarão os diferentes elementos econômicos a ela ligados: a grande propriedade monocultural trabalhada por escravos.
Contribuiu também para a reestabilização o restabelecimento de relações normais com a Inglaterra, que voltará a concorrer, com suas atividades e capitais, estimulando as forças do país: construir-se-ão estradas de ferro, montar-se-ão indústrias, aparelhar-se-ão portos marítimos. As finanças se equilibram e será possível manter em dia os pagamentos exteriores.
A abolição do tráfico teve como consequência a redução das importações (as importações de escravos andavam na época em nível igual ao montante das demais importações. Era como se estas se reduzissem subitamente à metade do que eram anteriormente, o que constitui, é claro, um grande desafogo para as finanças do país.
Finalmente mais um fator virá contribuir para o reajustamento econômico e financeiro do Brasil: a modificação de sua política tarifária, o que se verifica em 1844. As taxas de importação serão sensivelmente elevadas, fixando-se em torno de 30%, o dobro das anteriores.
Isto proporcionará algumas oportunidades à indústria indígena que começa a sair do marasmo em que se encontrava. Depois de 1860, aparecem as primeiras manufaturas de certo vulto. 
Apesar dessa estabilidade aparente, as contradições do sistema, atenuadas não tardarão a provocar novos desajustamentos e outros conflitos. Entre eles, destaca-se em primeiro plano o referente à questão servil.
PRADO JUNIOR, Caio. CAP 18 – A Decadência do trabalho servil e sua abolição.
Apesar das fortes causas que contra ela atuavam, o problema da escravidão propriamente e da sua manutenção conserva-se, durante a primeira metade do século, em segundo plano; a questão paralela do tráfico, absorverá todas as atenções, e é nela que se centraliza a luta.
A questão volta por vezes à baila tanto na imprensa como no Parlamento, onde em 1831 é apresentado um projeto de abolição da escravidão de que, entretanto, a Câmara recusou tomar conhecimento. 
O que se encontra na imprensa, nas demais publicações da época, no Parlamento não corresponde certamente, à importância que o problema escravista efetivamente representava aos olhos dos contemporâneos. Não devemos esquecer o temor que despertava a presença dessa massa imensa de escravos que permeava a sociedade brasileira por todos os seus poros.
Já em 1852 aparecem no Parlamento vários projetos abolicionistas, visando à liberdade dos nascituros e à obrigatoriedade da alforria dos escravos pelos quais se oferecesse o respectivo preço.
Mas nos anos que se seguem a maturação do problema se precipita. Os efeitos da suspensão do tráfico começam logo a se fazer sentir. Cessara bruscamente e sem nenhum substituto equivalente, a mais forte corrente de povoamento do país. A lavoura se ressentirá da falta de braços. Estava-se com a progressão da cultura do café em um momento de franca expansão das forças produtivas, e o crescimento vegetativo da classe trabalhadora não podia atender às necessidades crescentes.
O efeito dessa situação será o de desviar os escravos para as regiões mais prósperas em prejuízo de outras; a mão-obra do Norte começará a afluir para o Sul.
Em 1854, aparece um projeto de lei proibitiva do tráfico interprovincial de escravos. A idéia não teve andamento, mas se substituiu, por taxas locais impostas sobre a saída de escravos. Essa situação desfavorável criada para o Norte será uma das causas que farão amadurecer lá mais rapidamente as idéias emancipacionistas.
Era preciso uma solução mais ampla e radical. Ela será procurada na imigração europeia. A corrente imigratória se intensifica depois de 1850 e veremos coexistir nas lavouras de café, trabalhadores escravos e europeus livres.
Esta iniciativa fracassará e fica confirmado pela experiência a incompatibilidade das duas formas de trabalho; esse será um dos mais importantes fatores do crescente descrédito da escravidão.
Outra circunstância que acentua os caracteres negativos da escravidão é o início da indústria manufatureira no país. Nela não se empregarão trabalhadores servis, a não ser para tarefas secundárias.
A ineficiência do escravo para os serviços delicados e complexos da manufatura logo será percebida; sem contar a vantagem financeira maior que representa na indústria o pagamento de salários em vez do preço de escravos. (O escravo significava empate de capital, enquanto o assalariado fornece o sobre trabalho sem risco algum. Nesse sentido, o capitalismo podendo dispensar a escravidão, a exclui. É o que se deu com o advento da indústria moderna).
A partir de 1860, a pressão dos acontecimentos já é bastante forte para provocar uma larga tomada de posições. O problema é posto em foco, menos no Parlamento que fora dele. Começa a surgir um grande número de escritos de toda ordem: livros, folhetos, artigos de imprensa e outras publicações. 
Procuram-se meios de chegar a uma solução conciliatória que harmonize os interesses em jogo e traga a extinção gradual e suave da escravidão, sem choque graves e comprometedores do equilíbrio econômico e social do país. A liberdade dos nascituros será uma dessas soluções. Em torno disso se centralizam os debates
A posição internacional do Brasil, depois de 1865 será com Cuba o único país da civilização ocidental a admiti-la.
O Brasil se empenhara em 1865, com a Argente e o Uruguai, na guerra contra o Paraguai; e isso servirá de pretexto para adiar o debate. Mas não impede a radicalização cada vez maior da opinião pública.
O imperador organiza em 1868 um ministério fortemente conservador e francamente escravocrata, cujo primeiro ato é dissolver uma Câmara já excessivamente libertadora. Este fato provocará a polarização das forças conservadoras e reformistas.
A pressão se torna particularmente forte ao terminar a guerra do Paraguai.
A lei dos nascituros nada produzirá de concreto, e servira apenas para atenuar a intensidade da pressãoemancipacionista. Ela estabelecera para os filhos de escravos, até a sua maioridade, um regime de tutela exercida pelo proprietário dos pais. A lei não resultou senão numa manobra que bloqueou mais que favoreceu a evolução do problema escravista no Brasil.
As contradições inerentes à escravidão chegam ao auge da crise em 1880, quando retorna ao primeiro plano das preocupações do país. Não se tratará mais de soluções parciais e preparatórias: a abolição irrestrita, sem condições e imediata, inscreve-=se na ordem do dia, acompanhados mais ou menos passivamente pela opinião pública. 
Em 1880 fundam-se duas sociedades abolicionistas e organizam reuniões conferencias, banquetes e agitam a opinião pública. 
Em setembro de 1885 outra lei concedeu liberdade aos escravos maiores de 60 anos: uma estrondosa gargalhada repercutirá pelo país.
Neste mesmo ano é chamado ao governo o grupo político mais intransigentemente escravista, que sem reservas descobre suas armas contra o abolicionismo. A luta agora era de vida ou morte.
Amplia-se a agitação popular e dessa vez é entre os escravos que ela se desencadeia. O abandono das fazendas se torna diuturno; os abolicionistas, organizados, estimulam e protegem as fugas. Estava quebrada a disciplina das senzalas. As próprias forças armadas convocadas para restabelecerem a ordem se recusavam a intervir. 
Nestas condições o vulto que o movimento tornado incontrolável adquirira, punha o país na iminência da mais completa desordem. Insistir na questão seria leva-la para o terreno da violência declarada e aberta.Em 13 de maio de 1888, a Assembléia Geral, abrindo suas sessões, vota em poucos dias com quase unanimidade a lei Áurea, que duma penada punha termo à escravidão no Brasil.
Artigo 1º. É declarada extinta a escravidão no Brasil.
Artigo 2º. Revogam-se as disposições em contrário.
“Quanta luta, quanto heroísmo também para arrancar estas duas frases tão simples, mas tão eloquentes ao mesmo tempo, do reacionário e escravocrata Império brasileiro!” (PRADO JUNIOR, 2008:182).
CAPÍTULO 19 – IMIGRAÇÃO E COLONIZAÇÃO.
O povoamento brasileiro se realizara até o séc. XIX à mercê do afluxo espontâneo de colonos brancos (portugueses na sua grande maioria e quase totalidade), da importação de escravos africanos, e pela incorporação de indígenas.
A imigração de trabalhadores braçais de origem europeia é provocada e estimulada por uma política oficial e deliberada de povoamento, ou pela iniciativa privada de particulares interessados na obtenção de mão-de obra. A imigração e colonização tinham nesses casos objetivos políticos e militares: foi o caso de alguns setores fronteiriços da colônia que a metrópole desejava ver ocupados e defendidos contra a concorrência espanhola. É o que se deu em Santa Catarina e Rio Grande do Sul e em menor escala no Extremo-norte, no Pará.
Somente após 1808 que sua finalidade se trona própria e exclusivamente demográfica e se amplia muito.
Durante a permanência do soberano português e de seu governo no Rio de Janeiro, seguir-se-á com relação ao Brasil uma nova política, cheia de contradições, mas suficiente para revolucionar o antigo sistema colonial puro.
Uma das dificuldades com que os dirigentes portugueses tiveram para a reorganização do Brasil era a necessidade de reconstituir as forças armadas, importante num momento como aquele de graves dificuldades internacionais: o território metropolitano ocupado pelo inimigo, ameaças pesando sobre os demais domínios lusitanos, as rotas marítimas para o comercio português parcialmente interrompidas, a soberania da nação entregue à Inglaterra.
Coisa semelhante se passará com relação à segurança interna. O soberano, a corte seu séquito numeroso de fidalgos e funcionários, ligados ao reduzido núcleo da classe dominante de colonos brancos, nunca se sentirão suficientemente tranquilos e seguros em meio dessa massa de escravos, libertos e similares que formava o corpo da população do país e na qual tinham de recrutar suas forças armadas. 
Estas circunstancias tornam indispensável uma nova política de povoamento. Sobre o tráfico africano pesava ainda a ameaça de extinção o que provocava necessidade de braços para lavoura.
Os governos que se seguem depois da partida do Rei continuarão a tarefa empreendida.
O problema da imigração europeia oferecia grandes dificuldades. Contra ela atuavam vários fatores: o clima tropical desfavorável a colonos europeus, a organização social e econômica pouco atraente, o regime político vigente, onde a liberdade civil era inexistente para a massa da população, restrições de ordem religiosa que embaraçavam a imigração dos países protestantes da Europa, que eram justamente aqueles 	que forne3ciam então os maiores contingentes imigratórios. A Alemanha em particular.
Formas de povoamento:
Distribuição de terra aos colonos em pequenos lotes agrupados em núcleos autônomos (colonização tradicional)
Fixação dos colonos nas próprias fazendas e grandes lavouras, trabalhando como subordinados e num regime de parceria (partir de meados da década de 1840)
Nicolau Campos Vergueiro foi o idealizador do novo sistema. Aos poucos foram evidenciando-se seus inconvenientes. 
Os proprietários conservam os escravos trabalhando ao lado de colonos e não tinham com estes a consideração devida à sua qualidade de trabalhadores livres.
O recrutamento de colonos na Europa se fazia sem maior cuidado; os agentes dele incumbidos não tinham outra preocupação que o número e aceitavam qualquer candidato, sem indagar da sua prestabilidade para o trabalho pesado de uma agricultura tropical. Os fazendeiros, depois de longa espera recebiam turmas de trabalhadores imprestáveis que se tinham prendido por contratos que agora tinham que cumprir!
Alarma-se a opinião pública na Europa, em particular na Alemanha em em Portugal, donde provinha então a maior parte da imigração para o Brasil, com a sorte aqui reservada para seus compatriotas emigrados. A emigração parta o Brasil chega a ser proibida na Alemanha em 1859 e a portuguesa diminuirá mais de 50%.
Interrompe-se assim novamente o fornecimento de trabalhadores europeus para as fazendas.
A situação voltará a tornar-se aguda em 1870, em virtude sobretudo do considerável incremento da lavoura cafeeira no decênio anterior. É então que a escravidão recebe seus primeiros grandes golpes que fazem prenunciar sua extinção; isso constituirá um forte estímulo para medidas de fomento à imigração.
A situação internacional é favorável: de um lado os Estados Unidos iniciam uma política de restrições da imigração, doutro lado entrava em cena a emigração da Itália, como resultado das perturbações políticas e sociais por que atravessava.
O italiano se adaptará melhor e mais facilmente que o alemão e outras correntes imigratórias. Além disso o italiano é um trabalhador mais rústico e menos exigente. A imigração italiana, escassa até 1875, sobre para 7.000 indivíduos em 1876, e 13.000 em 1877. Daí por diante a imigração italiana conservará sempre o primeiro lugar.
A imigração toma nessa fase novo rumo:Abandona-se o sistema de parceria adotado anteriormente, e os trabalhadores serão fixados nas fazendas como simples assalariados; isto é, a sua remuneração deixará de ser feita com a divisão do produto, passando a realizar-se com o pagamento de salários.
Em vez de preceder à vinda do imigrante com contratos já assinados na Europa, o governo tomará o assunto a seu cargo, limitando-se a fazer propaganda nos países imigratórios e pagando o transporte do imigrante até o Brasil
	
Esse processo de recrutamento e fixação dos imigrantes passou a ser denominado “imigração subvencionada”, reservando-se o nome de “colonização” ao primitivo sistema de localização dos imigrantes em pequenas propriedades agrupadas em núcleos.
A “imigração” tem a preferência dos maiores interessados: os proprietários necessitados de braços. 
O plano da “colonização” tinha perspectivas mais amplas. Seus partidários argumentavam que o principal era incrementar o povoamento do país para em seguida atender a questão de braços para a grande lavoura. Mas nada puderam contra o interesse poderoso dos proprietários necessitados de braços e que precisavam de uma solução imediata.
O sistema de “colonização” terá mais sucesso no Extremo-Sul do país (Rio Grande, santa Catarina, Paraná). Encontrara aí o interesse e o estímulo dos governos locais das províncias que fomentará com o povoamento as atividades econômicas e as rendas públicas.
No conjunto a “imigração” (no sentido restrito dado à palavra) superará sempre, de muito, a “colonização”. Os proprietários, já com dificuldades muito maiores de mão-de-obra, e contando cada vez menos com outros recursos além do imigrante europeu, procurarão ter com ele mais considerações e trata-lo de acordo com sua condição de homem livre.
O abandono do sistema de parceria e a adoção do salário afastou uma das principais causas de atritos e desentendimentos; um salário fixo, em regra por tarefa e estabelecido por normas e praxes gerais, eliminou qualquer margem para dúvidas.
A maior parte das fazendas de café, instaladas depois de 1880, contará sobretudo e quase unicamente com trabalhadores livres.
1886 – 30.000 imigrantes
1887 – 50.000 imigrantes
1888 – 133.000.
Daí por diante a imigração conservar-se-á sempre num nível médio anual largamente superior a 100.000.
CAP 20 - EVOLUÇÃO ECONÔMICA DO IMPÉRIO
A partir de 1850 passa a haver um fundo mais sólido para um progresso efetivo para o Brasil. Inaugurava-se num novo plano que desconhecera no passado e nascia para a vida moderna de atividades financeiras.Um incipiente capitalismo dava aqui seus primeiros passos.
Sem contar os grandes empreendimentos como estadas de ferro e empresas de navegação a vapor, instalam-se as primeiras manufaturas de certo vulto; o comércio se expande. Mas é sobretudo na agricultura que se observará esse crescimento da produção brasileira. A lavoura do café contará com uma base financeira e de crédito.
A interrupção mais grave é a guerra do Paraguai (1865-1870). Sairá vitoriosoda guerra, mas muito abatido. No terreno econômico os resultados da vitória serão nulos. O único resultado positivo será assegura a livre navegação dos rios Paraguai e Paraná, importantes para as comunicações com o Mato Grosso, embora sem grande significação econômica. A guerra do Paraguai comprometeu seriamente as finanças do Brasil.
Apesar disso o progresso material do Brasil retoma logo depois um ritmo ascensional rápido e seguro. 
Aparelha-se a vida financeira do país: multiplicação de bancos, de empresas financeiras em geral, companhias de seguros, negócios de bolsa, permitem captar e mobilizar as fontes da acumulação capitalista.
Com as iniciativas privadas colaborará o Estado e o capital estrangeiro (inglês, em particular).
Tudo isso resultará numa completa remodelação material do Brasil: a população cresce para 14 milhões de habitantes. Eleva-se o nível de vida e a acumulação de fortunas. Desenvolvera-se o aparelhamento técnico: estradas de ferro, navegação a vapor, rede telegráfica e cabos submarinos transoceânicos que o ligavam a diferentes partes da Europa e da América.
Em termos relativos, o progresso no período (fim do século XIX) será mais acelerado que em qualquer outro momento posterior.
A indústria têxtil se desenvolve, concentrando-se no Rio de Janeiro, Minas Gerais, centros do Nordeste, Pernambuco e Bahia.
A questão de mão-de-obra nesses centros maiores e onde se localiza a indústria, resolver-se-á facilmente e a baixo preço. A população marginal era numerosa, fruto de um sistema econômico dominado pela grande lavoura trabalhada por escravos. A população livre, mas pobre não encontrava lugar naquele sistema que se reduzia ao binômio “senhore escravo”. A industrialização brasileira permitirá entrosa no trabalho produtivo normal uma categoria importante da população que vivera até aí à margem dele.
Apesar de todas as transformações, faltava o que a indústria fabril e mecanizada exige como condição essencial de vida: um mercado amplo e em contínua expansão, o que as condições sociais e econômicas da grande massa da população brasileira não podiam oferecer.
A economia brasileira estava presa ainda à grande lavoura produtora de gêneros de exportação. Disfarçava-se essa contradição graças ao virtual monopólio, de que gozava o Brasil da produção de um gênero cuja procura nos mercados internacionais não parava de expandir.
Houve também uma grande modificaçãodo equilíbrio demográfico e geoeconômico do país. Do empobrecimento do Nordeste, vão resultar correntes demográficas fortes e constantes que e dali se dirigem demanda de regiões com melhores perspectivas. 
As regiões beneficiadas por essa emigração serão o vale amazônico (extração de borracha), o sul da Bahia (produção do cacau em progresso) e sobretudo São Paulo, o grande pólo de atração.
De menor importância será outro fato demográfico, na segunda metade do século XIX, a colonização estrangeira no Extremo Sul do país; particularmente no Rio Grande, e menos intensamente em santa Catarina e no Paraná. O imigrante não se fixa como assalariado, mas encontra facilidades para aquisição de pequenas propriedades. 
Em vez de grandes lavouras do tipo do café, do açúcar ou do algodão, pequenas culturas e outras atividades de caráter local e destinadas ao abastecimento interno do país: cereais, vinho, produtos de granja, etc.
Um último fato demográfico e geoeconômico é a progressiva ocupação, no Centro-Sul, do vácuo entre Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

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