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A PRESCRIÇÃO e sua decretação DE OFÍCIO na JUSTIÇA do TRABALHO [Victor Hugo]

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A Prescrição e sua decretação de ofício na Justiça do Trabalho Victor Hugo Nazário Stuchi 
 
 
Scientia FAER, Olímpia - SP, Ano 1, Volume 1, 2º Semestre. 2009 82 
 
A Prescrição e sua decretação de ofício na Justiça do Trabalho 
 
 
Victor Hugo Nazário Stuchi1 
 
 
 
Resumo: Este trabalho é uma reflexão sobre a possibilidade de aplicação de ofício da prescrição no 
processo do trabalho, analisando, para tanto, as regras específicas do processo civil e a sua 
compatibilidade com o processo do trabalho. 
 
 
Palavras-chave: Prescrição; Decretação de ofício; Justiça do trabalho. 
 
 
 
Introdução 
 
Todos os acontecimentos que causam, direta ou indiretamente, efeitos no 
mundo jurídico são considerados fatos jurídicos. Essa concepção admite a 
ocorrência de fatos naturais, nos quais não há qualquer interferência da vontade 
humana, bem como a ocorrência de fatos humanos, que dependem, exclusivamente, 
da vontade do homem. 
Desta forma o vento, a chuva, a neve, o terremoto, o furacão, o nascimento 
de uma criança, a publicação de um livro são todos fatos que, de alguma forma, 
interferem na vida do homem. Os fatos naturais – vento, chuva, neve, terremoto, 
furacão, dentre muitos outros – podem ou não ser considerados como fatos 
jurídicos, dependendo da consequência jurídica que sua ocorrência apresentar, 
como a chuva forte que causa uma enchente e inunda casas ou o terremoto que 
destrói uma cidade. Esses dois exemplos apresentam consequências jurídicas. A 
diferença existente entre eles é a interferência humana na sua ocorrência. 
 
1
 Mestre em Direito do Trabalho e Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 
Professor Assistente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Professor Regente da Universidade de 
Mogi das Cruzes, da Faculdade Cantareira e do Curso Dogma. Advogado Trabalhista. 
A Prescrição e sua decretação de ofício na Justiça do Trabalho Victor Hugo Nazário Stuchi 
 
 
Scientia FAER, Olímpia - SP, Ano 1, Volume 1, 2º Semestre. 2009 83 
 
Os fatos jurídicos stricto sensu são acontecimentos que produzem efeitos 
jurídicos ao criar, modificar ou extinguir direitos, mas independem da vontade 
humana (DINIZ, 2005, p. 373). Maria Helena Diniz classifica os fatos jurídicos stricto 
sensu como ordinários e extraordinários. São: 
 
1) Ordinários, como morte, nascimento, maioridade, menoridade, aluvião, avulsão, 
álveo abandonado, decurso do tempo que juridicamente se apresente sob a forma de 
prazo – intervalo entre dois termos (dies a quo e dies ad quem), o inicial e o final, pois 
o termo é o momento no qual se produz, se exerce ou se extingue determinado 
direito, de usucapião; de prescrição e de decadência. 
2) Extraordinários ou irresistíveis, como o caso fortuito e a força maior, que se 
caracterizam pela presença de dois requisitos: o objetivo, que se configura na 
inevitabilidade do evento, o subjetivo, que é a ausência de culpa na produção do 
acontecimento. [...] (DINIZ, 2005, p. 374). 
 
Um dos mais importantes fatos jurídicos stricto sensu é o decurso do tempo, 
especialmente em relação à prescrição, uma vez que tal decurso influencia 
sobremaneira as relações jurídicas – aquisição e extinção de direitos (DINIZ, 2005, 
p. 375). 
O direito de uma pessoa, quando violado, pode ser restituído pela entrega da 
prestação jurisdicional, que será exercida após a utilização do direito de ação. Caso 
o titular do direito não busque a prestação jurisdicional e deixe escoar um tempo 
superior ao estabelecido por lei, seu direito de ação será afetado pela prescrição, ou 
seja, ocorrerá a perda do direito de ação em razão do decurso do tempo, como uma 
forma de limitação ao exercício do direito e de punição pela inércia do titular do 
direito. 
 
1. A prescrição 
 
O direito, dentre as suas várias acepções, é visto como um conjunto de 
normas que regula a sociedade, buscando, por meio dessas normas, estabelecer um 
ideal de justiça a ser aplicado a todos, de forma igualitária. 
Até o homem se organizar em sociedade, período em que não possuía 
qualquer regra de conduta, suas questões eram resolvidas por intermédio da força. 
A ocorrência de um conflito de interesses era solucionada pelos próprios integrantes 
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Scientia FAER, Olímpia - SP, Ano 1, Volume 1, 2º Semestre. 2009 84 
 
do conflito, sendo vencedor aquele que demonstrava ter maior poder sobre o outro. 
Imperava a lei do mais forte. 
Com a organização do homem em sociedade, ele passa a ser regido por 
normas que regulam a sua conduta social. Agora não é mais a força que impera, e 
sim um poder superior legitimado. Este poder se revestiu, na história da 
humanidade, das mais diversas formas, mas sempre teve uma forma de organização 
superior que impunha a consequência da norma em caso de descumprimento, ou 
seja, a sanção. 
Os conflitos sociais, agora regulados pelo Estado através de normas 
coercitivas e até sancionatórias, são também solucionados por ele próprio. Quando o 
Estado chama para si a responsabilidade de solucionar os conflitos entre os 
homens, ele assume uma dupla função. Tem o poder de apresentar uma solução de 
acordo com as normas que ele mesmo estabelece e tem também o dever de 
entregar essa solução, ao menos, aos integrantes do conflito. 
Com isso, o Estado passa a exercer o que conhecemos por jurisdição, ou 
seja, o poder-dever de dizer o direito, apresentando ao jurisdicionado (membro da 
sociedade) uma solução para o seu conflito, que nada mais é do que a entrega da 
prestação jurisdicional. 
Esse entrega da prestação jurisdicional encontra guarida em nosso 
ordenamento jurídico através do direito de ação, constitucionalmente garantido. Tal 
direito, para ser livremente exercido, pressupõe o preenchimento de determinados 
requisitos. Além dos requisitos, existem outras situações relacionadas. Uma delas é 
a possibilidade da extinção da pretensão, ou seja, uma forma de limitar o objeto 
discutido, sem que isso resvale no direito de ação. Essa limitação se dá com o 
instituto da prescrição. 
 
1.1 Origem da prescrição 
 
De origem latina (praescriptio), a palavra “prescrição” é formada pelas 
palavras prae (antes) e scribere (escrever). Segundo essa análise etimológica, a 
prescrição “é o que se escreve antes, uma parte da fórmula que se antepõe à 
mesma para limitar-lhe o conteúdo, quer a favor do demandante, quer do 
demandado.” (BATALHA, 1998, p. 31). 
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O instituto da prescrição é visto, historicamente, como uma forma reguladora 
relacionada com o decurso do tempo. No Direito Romano, garantia-se ao possuidor 
que defendesse sua posse, pelo simples decurso do tempo, a transformação da 
posse em propriedade. 
Como o passar do tempo, o Direito distinguiu 
 
duas espécies de efeitos do decurso do tempo sobre as relações jurídicas, tratando 
de modo diverso a prescrição aquisitiva ou usucapião, instituto próprio do direito das 
coisas, e a prescrição liberatória ou extintiva também denominada simplesmente 
prescrição. (WALD, 2003, p. 226). 
 
Assim, a prescrição passou a relacionar-se com a limitação da pretensão 
jurisdicional pelo decurso do tempo. Nossa legislação pátria trata da prescrição 
como a extinção da pretensão. Um direito violado faz nascer para o seu titular a 
pretensão. A mesma é extinta pela prescrição, ou seja, pelo decurso de um prazo. 
Assim, a prescrição éa perda da pretensão pela inércia do titular no prazo que a lei 
considera ideal para o exercício do direito de ação. 
Como bem nos ensina Maria Helena Diniz, a prescrição é um instituto que 
 
foi criado como medida de ordem pública para proporcionar segurança às relações 
jurídicas, [...] comprometidas diante da instabilidade oriunda do fato de se possibilitar 
o exercício da ação por prazo determinado. (DINIZ, 1989, p.194). 
 
Desta forma, “a base da prescrição é a inércia do titular do direito durante um 
certo prazo, que é fixado por lei e cujo decurso importa na perda da ação judicial 
própria.” (WALD, 2003, p. 227). 
 
1.2. A aplicação da prescrição no ordenamento jurídico pátrio 
 
A prescrição, na definição de Clóvis Beviláqua, “é a perda da ação atribuída a 
um direito, e de toda a sua capacidade defensiva, em conseqüência do não-uso 
delas, durante um determinado especo de tempo.” (1980, p. 286). 
Como podemos notar, a prescrição não é forma de tolher o direito, mas sim 
de impedir a ação, que é utilizada como forma de pleitear o direito. “O direito 
incorpora-se ao patrimônio do indivíduo. Com a prescrição o que perece é o 
exercício desse direito.” (VENOSA, 2006, p. 572). 
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Entretanto, para a ocorrência da prescrição, é necessário que os seus 
requisitos estejam simultaneamente presentes: 
 
1. a existência de ação exercitável; 2. a inércia do titular da ação pelo seu não-
exercício; 3. a continuidade dessa inércia por certo tempo; 4. ausência de fato ou ato 
impeditivo, suspensivo ou interruptivo do curso da prescrição. (LEAL, 1978, p. 11). 
 
Uma prática utilizada para a aplicação da prescrição era, até o advento da Lei 
nº 11.280/06, a manifestação expressa pela parte interessada, entregando, por 
consequência, ao órgão julgador, a análise dos requisitos e do cabimento da 
prescrição. 
Além da declaração da prescrição pelo juiz, vinculada à manifestação da 
parte interessada, havia duas hipóteses de decretação de ofício da prescrição: (i) 
para favorecer o absolutamente incapaz (art. 194 do CC) e (ii) quando a questão 
versasse sobre direitos patrimoniais disponíveis (art. 219, §5º do CPC). Nessas duas 
hipóteses, era facultado ao juiz decretar a prescrição de ofício. Assim, a prescrição 
não era objeto de decretação obrigatória pelo juiz, cabendo à parte interessada nos 
seus efeitos a alegação, que poderia ser feita em qualquer grau de jurisdição. 
A alteração trazida no art. 219, §5º do CPC pela Lei n.º 11.280/2006 ensejou 
uma mudança na dinâmica da prescrição. O texto do referido dispositivo legal 
passou a ser: “o juiz pronunciará, de ofício, a prescrição”. A possibilidade de 
alegação em qualquer grau de jurisdição se manteve. No entanto, instituiu-se um 
poder-dever ao magistrado para decretar a prescrição. Importante observar que a lei 
não estabeleceu qualquer condicionante entre o pronunciamento de ofício pelo 
magistrado e a alegação pela parte interessada. Com isso, podemos concluir que o 
magistrado deverá, sempre que constatar a sua ocorrência, decretar a prescrição de 
ofício, sob pena de infringir dispositivo legal. 
Além da alteração da dinâmica da prescrição, vemos uma alteração no tipo de 
norma que regula a prescrição. Até a Lei 11.280/2006, a prescrição não era 
considerada uma norma de ordem pública, e, para sua aplicação, a lei determinava 
ou a manifestação da parte interessada, ou o juiz, no exercício de uma faculdade, 
declarar de ofício a prescrição, para favorecer o absolutamente incapaz ou na 
hipótese de discussão de direitos patrimoniais disponíveis. 
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Com o advento da Lei n.º 11.280/2006, a prescrição passou a ser tratada, 
retomando a sua essência, como uma norma de ordem pública, ou seja, cogente, de 
aplicação obrigatória, equivalendo-se à decadência. 
Dessa forma, o juiz, ao verificar a ocorrência da prescrição, deverá, no 
exercício de um poder-dever estabelecido pela norma, decretar a prescrição, 
podendo incorrer em afronta ao princípio da legalidade, ao efetuar um julgamento 
contra legem. 
 
1.2. A aplicação da prescrição no Processo do Trabalho 
 
A Constituição Federal prevê, em seu art. 7º, XXIX, a prescrição do direito de 
ação quanto a créditos resultantes das relações de trabalho em 5 (cinco) anos para 
os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois 2 (dois) anos após a extinção 
do contrato de trabalho. Nessa linha, surgem duas espécies de prescrição. A 
primeira é a chamada prescrição parcial e a segunda, prescrição total. 
A prescrição parcial é de 5 (cinco) anos e ocorre no curso da relação de 
emprego. Assim, o empregado que se vê lesado em algum direito em decorrência da 
omissão do empregador ao deixar de adimplir as obrigações inerentes ao contrato 
de trabalho tem o prazo prescricional de 5 (cinco) anos para pleitear judicialmente 
esse direito. 
O contrato de trabalho tem por característica essencial a continuidade das 
relações de trabalho. Há, no contrato de trabalho, prestações recíprocas sucessivas, 
ou seja, prestações que se sucedem no tempo. Além disso, o contrato de trabalho é 
celebrado, em regra, para durar de forma indeterminada no tempo. Com base 
nesses conceitos, vemos que a prescrição parcial é constantemente prorrogada no 
tempo. Todos os direitos que excederem os últimos 5 (cinco) anos do contrato de 
trabalho são, automaticamente, afetados pela prescrição parcial. 
A segunda forma é a prescrição total. Por meio dessa forma de prescrição, o 
legislador constituinte, no artigo 7º, XXIX, CF, estabeleceu um prazo de 2 (dois) 
anos após a extinção do contrato de trabalho como o prazo limite para o trabalhador 
propor a ação. 
O início de contagem do prazo da prescrição total se dá com a extinção do 
vínculo empregatício. Já a prescrição parcial, que teve sua contagem iniciada antes 
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do término da relação de emprego, não se vê limitada pela prescrição total. Na 
verdade, com a extinção do vínculo de emprego, inicia-se a contagem da prescrição 
total sem que isso afete ou interrompa a contagem da prescrição parcial. 
Importante observar que a extinção do contrato de trabalho não reduz a 
prescrição de cinco para 2 (dois) anos. Entretanto, com a extinção do contrato de 
trabalho, o empregado vê o prazo para pleitear os seus direitos, ou ajuizar sua 
reclamação trabalhista, ser reduzido para 2 (dois) anos, sem deixar de considerar a 
prescrição parcial de 5 (cinco). 
Assim, o empregado que ajuizar sua ação no último dia da prescrição total, 
após quase 2 (dois) anos do término do contrato de trabalho, poderá pleitear direitos 
dos últimos 5 (cinco anos), incluindo os dois anos da prescrição total. 
 
2. Da aplicabilidade do art. 219, §5º ao processo do trabalho 
 
O art. 769 da CLT dispõe, expressamente, que: “Nos casos omissos, o direito 
processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto 
naquilo em que for incompatível com as normas desse Título”. 
A omissão tratada pelo art. 769 da CLT nada mais é do que a ausência de 
disposição legal sobre o assunto. Já a incompatibilidade com as normas da CLT tem 
estreita relação, por expressa disposição legal, com o Processo Judicial do Trabalho, 
tratado no Título X da CLT. 
Oinstituto da prescrição é tratado, no âmbito do Processo do Trabalho em 
dois momentos: (i) Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 7º, 
XXIX; e (ii) Consolidação das Leis do Trabalho, em seu art. 11. No entanto, a 
legislação trabalhista é omissa sobre a iniciativa para declaração dos efeitos da 
prescrição, pois nossa Carta Magna e nosso diploma consolidado apenas 
estabelecem o prazo prescricional. 
Diante da omissão existente no campo da Prescrição, os dispositivos do 
Código Civil e Código de Processo Civil anteriores à Lei nº 11.280/06, que previam a 
necessidade de arguição, pela parte interessada, da prescrição, bem como as 
possibilidades de decretação de ofício pelo Juiz, eram aplicados subsidiariamente no 
Processo do Trabalho. 
A Prescrição e sua decretação de ofício na Justiça do Trabalho Victor Hugo Nazário Stuchi 
 
 
Scientia FAER, Olímpia - SP, Ano 1, Volume 1, 2º Semestre. 2009 89 
 
Com igual razão, os dispositivos alterados (revogação do art. 194 do CC e 
nova redação do art. 219, §5º do CPC) encontram aplicabilidade no Processo do 
Trabalho, por omissão e por não haver incompatibilidade com o diploma trabalhista 
consolidado. Os poucos argumentos doutrinários contrários, sob a afirmação de que 
a prescrição só pode ser declarada mediante pedido feito pela parte interessada 
como condição de seu acolhimento, não encontram qualquer respaldo legal, 
atentando, inclusive, contra o princípio da legalidade (CF, art. 5º, II). 
O segundo requisito que permite a aplicação subsidiária do Processo Civil ao 
Processo do Trabalho, estabelecido pela CLT, é a compatibilidade do dispositivo a 
ser aplicado com as normas estabelecidas pelo Título X da CLT, ou seja, o Processo 
Judicial do Trabalho. 
Em que pesem os argumentos isolados na doutrina e jurisprudência, de que o 
art. 219, §5º do CPC não se aplica ao processo do trabalho devido à hipossuficiência 
do trabalhador, a questão social ou a dificuldade de acesso não encontram 
fundamento legal e são incompatíveis com o art. 769 da CLT. 
O princípio protetor, basilar da relação de emprego, aplica-se somente às 
relações de direito material. A chamada hipossuficiência do trabalhador em relação a 
seu empregador se dá no âmbito econômico e as conhecidas desigualdades entre 
eles já foram supridas e tuteladas pela legislação trabalhista. 
Ao processo do trabalho não se aplica o princípio protetor. A fragilidade do 
trabalhador, gerada por uma situação desfavorável em relação ao empregador, 
quando existente, limita-se apenas aos fatores econômicos, que já são tutelados 
pelo direito material do trabalho e pela legislação trabalhista, não havendo espaço 
para a proteção suplementar processual. Caso houvesse qualquer privilégio 
processual suplementar em favor do trabalhador, nesse campo, haveria expresso 
desrespeito ao artigo 125, I, do CPC, que exige o tratamento isonômico das partes 
em juízo. 
A conclusão lógica é que o aplicador da lei – o magistrado – deve se valer, de 
forma imparcial, da legislação material, já protetora do trabalhador, sem tender para 
a aplicação de privilégios processuais. 
O art. 769 da CLT, ao dispor sobre a aplicação subsidiária do processo civil 
ao processo do trabalho, vinculou à sua aplicação as normas de ordem pública e o 
A Prescrição e sua decretação de ofício na Justiça do Trabalho Victor Hugo Nazário Stuchi 
 
 
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instituto da prescrição é, sem sombra de dúvida, uma norma de ordem pública, 
sendo vinculada a sua aplicação por parte do magistrado trabalhista. 
 
Conclusões 
 
O decurso natural do tempo gera efeitos no mundo jurídico, especialmente em 
relação à aquisição e extinção de direito. 
O titular de um direito, quando se vê lesionado, tem, em regra, um prazo 
estabelecido por lei para pleitear tal direito. Caso ele deixe esse prazo escoar, será 
alcançado pelo efeito sancionatório da prescrição, ou seja, perderá o direito de ação. 
O instituto da prescrição somente era aplicado com a manifestação expressa 
da parte. Com a alteração do art. 219, §5º do Código de Processo Civil, a 
possibilidade de expressa manifestação da parte em qualquer grau de jurisdição se 
manteve, acrescendo-se o poder-dever do magistrado declarar a prescrição. 
Por ser um dispositivo próprio do processo civil, inicialmente discutiu-se sobre 
a sua aplicação ao processo do trabalho, uma vez que o primeiro é aplicado 
subsidiariamente ao segundo em caso de omissão e compatibilidade. 
Não há dúvida que a regra da declaração de ofício da prescrição é 
plenamente aplicável ao processo do trabalho, uma vez que o diploma trabalhista 
consolidado é omisso e não há qualquer incompatibilidade entre este diploma e o 
Código de Processo Civil. 
Ademais, a declaração de ofício da prescrição, tanto no processo do trabalho, 
quanto no processo civil comum, além de ser imprescindível, por se tratar de norma 
de ordem pública, contribui, sobremaneira, para a efetividade do princípio 
constitucional da razoável duração do processo, da segurança jurídica e da 
economia processual, inviabilizando e até impedindo que atos desnecessários ou 
atentatórios ao regular andamento do processo sejam praticados. 
Assim, não pronunciada a prescrição de ofício pelo Juiz ou Tribunal, fica 
configurada a violação literal do dispositivo de lei em referência, configurando o 
cabimento da ação rescisória. 
 
 
A Prescrição e sua decretação de ofício na Justiça do Trabalho Victor Hugo Nazário Stuchi 
 
 
Scientia FAER, Olímpia - SP, Ano 1, Volume 1, 2º Semestre. 2009 91 
 
Abstract: This paper is a reflection on the possibility of applying the letter of the prescription in the 
labor procedure, and examine, for both the specific rules of civil procedure and its compatibility with 
the labor procedure. 
 
 
Keywords: Prescription; Declaration of office; The labor court. 
 
 
Referências bibliográficas 
 
BATALHA, Wilson de Souza Campos; RODRIGUES NETTO, Sílvia M. L. Batalha de. 
Prescrição e decadência no direito do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 1998. 
 
BEVILÁQUA, Clóvis. Teoria geral do direito civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Rio, 
1980. 
 
DINIZ, Maria Helena. Cursos de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil. 
22. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 
 
LEAL, Antonio Luis Câmara. Da prescrição e da decadência. 3. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 1978. 
 
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil. Parte Geral. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. 
 
WALD, Arnoldo. Direito civil. Introdução e parte geral. São Paulo: Saraiva, 2003.

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