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RELAÇÃO DE TRABALHO e a Nova COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

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Relação de Trabalho e a Nova Competência da Justiça do Trabalho 
A partir da Emenda Constitucional nº 45/04, que alterou o artigo 114 da Constituição Federal, a competência processual da Justiça do Trabalho foi sobremaneira ampliada(1). Dos incisos do referido artigo 114, da CF ("Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar..."), os que mais causaram celeuma na doutrina trabalhista foram o VI (“as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho”) e o IX (“outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.”). Quanto ao primeiro, a maior divergência dizia respeito às indenizações por danos materiais e morais oriundas de acidente ou doença do trabalho.
Essa matéria já está pacificada nos Tribunais Superiores, sendo, indiscutivelmente, do juiz do trabalho a competência processual para conhecer desse tipo de demanda. Permanece, contudo, significativa divergência quanto ao inciso IX. Isso porque, dada a abrangência semântica da expressão relação de trabalho, muitos entendem que toda e qualquer prestação de serviço estaria inserida na nova competência processual da Justiça do Trabalho. Para essa primeira corrente, não somente as demandas que tratem de relação jurídica entre empregado e empregador pertenceriam à esfera de competência da Justiça do Trabalho, mas, também, a do trabalhador autônomo, por exemplo. Para outra corrente de pensamento, contudo, essa amplitude de competência depende de expressa previsão legal. Reconheça-se que o dispositivo constitucional em questão é claro quanto a essa exigência; ressalvamos, todavia, as hipóteses não recepcionadas pela Carta Magna (Teoria da Recepção Constitucional). 
Terceira corrente, a par da exigência, ou não, de previsão legal para a espécie, entende que a expressão "relação de trabalho", embora compreenda outras relações jurídicas, além da empregatícia, encontra certas limitações, de tal sorte que nem toda relação de trabalho, sentido estrito, caberia na nova competência do juiz do trabalho (a prestação de serviço com característica de relação de consumo seria o maior exemplo dessa limitação).
Para os objetivos deste artigo vamos considerar a terceira corrente (entendimento, aliás, a que nos filiamos).
Pois bem, o problema a ser enfrentado diz respeito ao significado da expressão relação de trabalho. Sob o ponto de vista estritamente jurídico, sempre gerou certa confusão: tanto era compreendida como sinônimo de relação de emprego quanto significava relação de trabalho em sentido amplo, abrangendo, nessa última hipótese, diversos tipos de prestação de serviços. 
A doutrina muito já debateu a respeito e, atualmente, entende-se, de forma majoritária, que relação de trabalho deve ser interpretada em seu sentido amplo. De tal sorte que relação de trabalho é gênero, relação de emprego é espécie. Também são espécies dessa relação jurídica o trabalho eventual, o avulso, o autônomo, etc.
Enfim, no gênero relação de trabalho enquadra-se infinidade de relações jurídicas de prestação de serviços, ou contrato de atividade. Mas, a questão que se coloca é: toda prestação de serviços se enquadraria no gênero em questão? Nesse ponto, doutrina e jurisprudência vêm apresentando certa divergência. É o caso, por exemplo, das relações de consumo, dividindo-se os entendimentos a respeito. 
 
NOTAS
(1)  Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: 
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;
III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; 
IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; 
V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; 
VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; 
VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; 
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; 
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. 
(...)
Relação de Trabalho e a Nova Competência da Justiça do Trabalho: Aspectos Positivos e Negativos - I
	
	
Dando continuidade aos estudos sobre a nova competência da Justiça do Trabalho, em face da alteração do artigo 114, da Constituição Federal, pela Emenda Constitucional nº 45/2004, tendo em vista, especialmente, a relação de trabalho, sentido amplo, cumpre analisarmos aspectos positivos e  negativos dessa nova tarefa conferida ao juiz do trabalho. Recomendamos, a propósito, consulta aos artigos anteriores desta série:  a) Relação de Trabalho e a Nova Competência da Justiça do Trabalho;  b) Nova Competência do Juiz do Trabalho: outras controvérsias decorrentes da Relação de Trabalho. Requisitos de validade; e c) Relação de Trabalho. Classificação. Como se sabe, há sempre prós e contras em todos os atos da vida (afinal, toda moeda tem duas faces). Com a nova competência da Justiça do Trabalho, ampliada sobremaneira a partir da referida EC nº 45, não seria diferente. 
	
	
Há quem veja com extremo otimismo esse alargamento, considerando a anterior competência processual trabalhista, que se limitava às demandas envolvendo relação jurídica entre empregado e empregador (com poucas exceções), como "reducionista". Por outro lado, vozes de peso encaram com parcimônia essa nova competência, notadamente no que diz respeito à relação de trabalho, sentido amplo, que, talvez, possa introduzir no âmbito da Justiça Especializada flagrante desprestígio do Direito do Trabalho. Oportuno lembrar que a ampliação da competência processual trabalhista não se limitou à relação de trabalho, conforme art. 114, IX, da Constituição Federal. Deveras, atualmente, o juiz do trabalho é competente para conhecer de demandas bem diferentes daquelas que, tradicionalmente, lhe eram remetidas.Joe Ernando Deszuta(1) apresenta, a partir da alteração do artigo 114, da Constituição Federal, interessante quadro comparativo entre a competência trabalhista originária e a atual(2). 
Desse modo, além da competência originária (demandas entre empregado e empregador, nos termos do artigo 114, I, da CF), que, obviamente, permanece incólume, fica assim definida a competência trabalhista: 
Competência anterior (inalterada) 
V - Conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista ressalvado o disposto no art. 102, I, o, da CF;
VIII – A execução de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, II, da CF, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;
Ampliação da Competência anterior
II - As ações que envolvam exercício de direito de greve;
IV - Mandado de segurança e "habeas corpus";
Acréscimo de competência
III - Ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;
IV - ...e "habeas data", quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;
VI - As ações por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho(3);
VI – As ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho.
Obs.: inclui-se nessa última hipótese, claro, a previsão do inciso IX, do art. 114, da CF, “outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei”, objeto principal desta série de estudos.
Somando tudo isso à atribuição originária da Justiça do Trabalho (competência para conhecer de demandas entre empregado e empregador), bem como a outras matérias extravagantesque já faziam parte da competência anterior, constata-se que realmente é muito ampla a nova tarefa do juiz do trabalho. 
E não é só! Além das matérias contratuais típicas, pertinentes à relação empregatícia, conforme previsão da CLT e Legislação Complementar, existem muitas outras que, também, já pertenciam à competência trabalhista anterior(4):
Levantamento do FGTS (Súmula 176, do TST);
Vínculo de emprego anterior à instituição de regime jurídico estatutário, mesmo depois da sentença (OJs nº 138 e 249, da SDI-I, do TST); 
Dano moral (OJ 327, da SDI-I, do TST); 
Trabalhador avulso (art. 652, V, da CLT); 
Trabalhador temporário (art. 19, da Lei 6.019/74); 
Pequenas empreitadas (art. 652, “a”, III, da CLT; pequeno operário ou artífice; exemplo: pedreiro que presta serviços a residências); aprendiz (art. 428, da CLT); 
Há, também, a “competência reflexa”: 
PIS (Programa de Integração Social); 
Seguro-Desemprego (Lei 7.890/90); 
Descontos Previdenciários e Fiscais (Lei 10.035/00); 
Complementação de Aposentadoria (jurisprudência);
Afora, como destaca o mesmo autor(5), situações controvertidas (objeto de divergência jurisprudencial), como, por exemplo, dano material e moral no âmbito pré-contratual e, também, no pós-contratual.
Por outro lado, a ampliação de competência denota, aparentemente, aumento de poder da Justiça do Trabalho, mas, nesse caso, é possível que ocorra o contrário: o aumento de serviço –que, reconheça-se, é colossal– levaria a verdadeiro colapso processual.
Qual teria sido a razão que levou o legislador a ampliar de maneira tão significativa a competência da Justiça do Trabalho? Considerando que a relação de trabalho, em sentido amplo, representa o maior contingente de ações que poderão vir(5) parar nas mãos do juiz do trabalho, haveria algum motivo sociológico a fundamentar tal remanejamento de competência, ou seria apenas obra de “política legislativa”? Há outro interesse subjacente nesse intento? É o que continuaremos a estudar no artigo seguinte: Relação de Trabalho e a Nova Competência da Justiça do Trabalho: Aspectos Positivos e Negativos – II (veja também: Relação de Trabalho e Nova Competência Processual Trabalhista: Direito Material Aplicável) 
NOTAS
(1) Nova competência da Justiça do Trabalho em face da Emenda Constitucional nº 45 – art. 114, IV, da Constituição Federal – Outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. In ARAÚJO, Francisco Rossal de, Coordenador. Jurisdição e competência da Justiça do Trabalho. – São Paulo : LTR, 2006, p. 177.
(2) Os algarismos romanos correspondem aos incisos do artigo 114 da Constituição Federal.
(3) A jurisprudência é pacífica em admitir competência do juiz do trabalho para conhecer de danos materiais e morais decorrentes de acidentes e doenças do trabalho. O mesmo já não se diz para demandas entre o servidor público estatutário e a Administração Pública, pois está suspensa, “ad referendum”, a interpretação do inciso I do artigo 114, da CF, que as inclua na competência trabalhista, por força da liminar concedida na ADI n. 3.395, proposta pela AJUFE – Associação dos Juízes Federais do Brasil. [Cf. Carlos Henrique Bezerra Leite. Curso de Direito Processual do Trabalho – Ed. LTr – 4ª Ed. São Paulo – 2006, pág. 191]. Ações relativas ao servidor público empregado pertencem à competência do juiz do trabalho.
(4) Ibidem, p. 190.
(5) Ibidem, p. 193 e seguintes. 
(6) Sim, “poderão”, já que inciso IX, do art. 114, da CF, traz a expressão “…na forma da lei”; mas, há controvérsias…
Imagem: obra (Pros and Cons) do artista surrealista russo Vladimir Kush, cujo trabalho, na Internet, é muito confundido com o de Salvador Dali. Apreciamos muito a obra de Kush (e dos surrealistas em geral, além dos futuristas e abstracionistas). 
Relação de Trabalho e a Nova Competência da Justiça do Trabalho: Aspectos Positivos e Negativos - II
Como verificamos no artigo anterior (Relação de Trabalho e a Nova Competência da Justiça do Trabalho: Aspectos Positivos e Negativos – I), a ampliação de competência da Justiça do Trabalho poderia ser traduzida como algo positivo, mas, ao contrário, diante do inquestionável aumento de serviço, pode se consubstanciar em desprestígio dos direitos empregatícios; estes que, amiúde, são motivo de ataques ideológicos, como se fossem culpados por todas as mazelas econômicas do país. Diante do excesso de encargos que os direitos celetistas causariam aos empregadores, o melhor a fazer é eliminá-los, afastá-los do mundo jurídico, quando menos, relegá-los a segundo plano. 
O Brasil, como insistem alguns, está na contramão da desregulamentação trabalhista. Deixemos, pois, que sindicatos e empregadores cuidem disso, que regulem as condições de trabalho, afastando do Estado essa atribuição. Ademais, como dizem por aí, estaríamos vivendo a Era do fim do emprego, pelo que, então, o Direito do Trabalho e o respectivo ramo do Poder Judiciário não teriam a mesma importância de outrora. Críticos pisam e repisam na tese de que não existiria mais emprego. O emprego acabou, há muito trabalho, bradam alguns, o que já estaria muito bom e com isso devemos nos conformar. Por essa razão, talvez seja desnecessário ao Estado direcionar recursos para uma Justiça que cuida de apenas um tipo de relação contratual, notadamente a que já estaria, praticamente, em extinção…
Ora, a solução foi empurrar para a Justiça do Trabalho toda e qualquer demanda que, direta ou indiretamente, tivesse algum resquício de contrato de atividade (talvez, para justificar o verdadeiro intento dessa empreitada…). Esse, o maior problema da ampliação da competência em questão. Deveras, as novas atribuições do juiz do trabalho, especialmente no tocante à relação de trabalho, em sentido amplo, conforme já estudamos nesta série, poderão levar, intencionalmente, ou não, à flagrante desprestígio do Direito do Trabalho, como bem assevera Mauricio Godinho Delgado[2]:
“Há, em síntese, no texto reformado do art. 114 uma face inegavelmente positiva (incisos II e seguintes), que enfatiza a concentração neste ramo judicial especializado da competência de natureza empregatícia, seja a nuclear (lides entre empregadores e empregados), sejam as inúmeras conexas a tal relação jurídica. Há, entretanto, no mesmo texto, em seu inciso I, uma (pouco) sutil face negativa, que, sem dúvida – intencionalmente ou não – incorpora a tradicional cultura de desprestígio ao Direito do Trabalho, que tem caracterizado os excludentes Estado e sociedade brasileiros.”
O que ponderamos acima é, claro, visão mais pessimista do que eventualmente tenha levado em conta o legislador para alterar, de maneira tão ampla, a competência trabalhista. Como já salientamos no artigo anterior, “toda moeda tem duas faces”. De fato, grande parte dessa nova competência veio tarde para o âmbito trabalhista. O maior exemplo disso é a competência para conhecer de danos morais e materiais decorrentes da relação de emprego, se bem que a jurisprudência já vinha, há um bom tempo, reconhecendo essa possibilidade. O legislador constitucional nada mais fez do que a reiterar. Por via reflexa, já que a Carta Magna não o tenha dito expressamente, as demandas que tratem de indenização por danos materiais e morais, decorrentes de acidentes e doenças do trabalho, pertencem ao âmbito de competência do juiz do trabalho, como tem reconhecido a jurisprudência majoritária (praticamente, de maneira absoluta). Destaque-se que a ANAMATRA (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho) atuou junto aos Tribunais Superiores, de maneira contundente, para fazer valer a nova competência acidentária[3]. Esta, mais do que as outras remetidas à Justiça do Trabalho, veio para o lugar que sempre lhe pertenceu. Outra parte importante, que, inexoravelmente, se apresenta pertinente, é a competência trabalhista para conhecer de demandas sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores.
Enfim, ao remeter ao juiz do trabalho competênciapara conhecer de ações oriundas da relação de trabalho (representante comercial, trabalho autônomo, etc.), sentido amplo, quer nos parecer tenha cogitado o legislador atender a uma demanda reprimida (estamos nos esforçando para acreditar nessa tese), ou seja, trabalhadores que, embora com a conotação de autônomos, laborem na condição de dependência econômica do contratante, não raro com violação de direitos fundamentais. Nessa linha, a Justiça do Trabalho, mais afeita, teoricamente, às questões sociais, estaria melhor aparelhada para conhecer dessa nova demanda. Esse, portanto, um dos aspectos positivos. Há quem diga, de qualquer forma, que, em razão de o trabalhador autônomo representar a maioria (isso não é verdade), só se justificaria investimento em uma “Justiça Trabalhista” (sentido amplo) juntando em um só ramo do Judiciário todo e qualquer litígio laboral. Mas, será isso mesmo? Que seja, mas, se exteriorizará dessa maneira, que, aparentemente, se pretende positiva? A experiência com questões sociais, característica da Justiça do Trabalho, atenderá às necessidades dessa demanda reprimida? Haverá estrutura (material e humana) suficiente para dar conta da nova seara? Essa, a grande questão. 
Como provam os números, a grande maioria é de empregados e a atual estrutura do Judiciário Trabalhista, por falta de investimento estatal, conquanto esteja "dando lucro" aos cofres públicos, notadamente em face da respectiva arrecadação tributária nas ações trabalhistas, não tem dado conta nem mesmo da tradicional demanda, isto é, dos litígios entre empregado e empregador. O problema é que se costuma confundir “informalidade” com trabalho autônomo, isto é, baseando-se nessa equivocada premissa, entende-se que o maior contingente de trabalhadores, no Brasil, seria de trabalho autônomo, mas, na verdade, trata-se de empregados que laboram “sem carteira assinada”, sem garantia dos direitos previstos na Constituição Federal e na Consolidação das Leis do Trabalho.
De qualquer sorte, o lado manifestamente negativo dessa nova competência é a falta de investimento na estrutura da Justiça do Trabalho, que, reconheça-se, não está preparada, por falta de recursos, para receber a contento as novas demandas que lhe serão remetidas. Assim, não é a questão científico-processual que traria efeito negativo, pois, como dito, a seara social é da essência da Justiça do Trabalho e, quiçá, trabalhadores autônomos dela precisem sobremaneira. O intento subjacente é o que traz preocupação porque, não é de hoje, políticas governamentais têm sido construídas para levar à bancarrota qualquer projeto de Democracia Social. A nova atribuição de competência trabalhista pode enveredar para esse caminho, como diz Mauricio Godinho Delgado[4]:
“No Brasil –onde sequer se havia construído qualquer projeto de Democracia Social, com suas conquistas e garantias em benefício das grandes maiorias populacionais–, a reunião, na década de 1990, do velho padrão cultural excludente aqui hegemônico, com as novas vertentes intelectuais justificadoras de descompromisso social, tudo conduziu a um movimento irreprimível de fustigação e desprestígio do Direito do Trabalho. A Emenda Constitucional do art. 114, infelizmente, expressa isso. O inciso I do novo art. 114, ao retirar o foco competencial da Justiça do Trabalho da relação entre trabalhadores e empregadores (embora esta, obviamente, ali continue encrustada) para a noção genérica e imprecisa de relação de trabalho, incorpora, quase que explicitamente, o estratagema oficial dos anos 90, do fim do emprego e do envelhecimento do Direito do Trabalho. A emenda soa como se o trabalho e o emprego estivesse realmente em extinção, tudo como senha para a derruição do mais sofisticado sistema de garantias e proteções para o indivíduo que labora na dinâmica socioeconômica capitalista, que é o Direito do Trabalho. A perda do foco no emprego –e seu ramo jurídico regulador– retira o coração e a mente da Justiça do Trabalho do seu papel social imprescindível, de contribuir para a construção da justiça social no conjunto do sistema institucional a que pertence. A história demonstra que não se constrói justiça social no âmbito da desigual sociedade capitalista sem um amplo, diversificado, genérico, democrático, porém equilibrado, mecanismo de distribuição de poder e renda, como o Direito do Trabalho." 
Conclui o mesmo autor[5]:
“O novo inciso constitucional expressa, ainda, certo preconceito contra as dezenas de milhões de trabalhadores que laboram com elementos da relação de emprego (ainda que não formalmente reconhecidos, todos eles, como empregados): é como se a Emenda n. 45/2004 considerasse injustificável o direcionamento de tamanhos recursos públicos para um segmento do Judiciário basicamente voltado às lides de tais empregados, usualmente das camadas menos favorecidas da população. Nesta linha algo preconceituosa (muito própria à ideologia do descompromisso social dos anos 90, registre-se), seria necessário otimizar a atuação da Justiça do Trabalho, direcionando-a também a grupos sociais integrados de modo distinto ao mercado econômico, sem traços de subordinação aos respectivos tomadores de serviços (profissionais liberais e outros agentes autônomos, por exemplo)."
O maior prejudicado nessa história toda é o trabalhador, porque, atualmente, queremos insistir nesse ponto, a Justiça do Trabalho sequer reúne condições, materiais e humanas, de atender a esse “paciente”, o que, por si só, já produz imensa gama de lides trabalhistas reprimidas, como bem lembra Jorge Luiz Souto Maior[6].
E para encerrar com uma intrigante reflexão sobre o tema ora em estudo, citamos a lição de João Oreste Dalazen[7]: “…pode-se concluir que, malgrado importantes aperfeiçoamentos, persiste insatisfatório, deficiente e lacunoso o disciplinamento normativo constitucional da competência material da Justiça do Trabalho. Não é difícil antever, lastimavelmente, que tal circunstância decerto conspirará contra a desejável celeridade e efetividade do processo do trabalho, bem assim concorrerá para ratificar, uma vez mais, o acerto da afirmativa de Henri de Page: As questões sobre competência são a praga da Justiça.”
NOTAS  
[1] Afinal, trabalhadores chineses prestam serviços, praticamente, a troco de comida, e, nesse desiderato, a China apresenta-se como "A maior economia do mundo". Ora, e nós, brasileiros, estamos reclamando? Essa, a idéia recorrente. O trabalho escravo estaria "justificado" levando-se em conta o “crescimento econômico”. Esquecem-se os críticos de plantão que o trabalho nessas condições não dura muito tempo e só causa instabilidade social, miséria e fome, o que, por conseguinte, gera violência urbana, em última análise guerras entre nações. 
[2] As Duas Faces da Nova Competência da Justiça do Trabalho. In COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves, Coordenadores. Nova competência da Justiça do Trabalho. São Paulo : LTr, 2006, p. 292). 
[3] Sebastião Geraldo de Oliveira, magistrado mineiro, atuou de maneira heróica nessa empreitada, como tivemos a oportunidade de apreender em palestra por ele ministrada, aqui, em São Paulo, Capital, bem como indicação em sua clássica obra: Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3ª ed. São Paulo: LTr, 2007. 
[4] Ibidem, p. 296. 
[5] Ibidem, p. 297. 
[6] Justiça do Trabalho: a Justiça do Trabalhador?. In COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves, Coordenadores. Nova competência da Justiça do Trabalho. São Paulo : LTr, 2006, p. 184). 
[7] A Reforma do Judiciário e os Novos Marcos da Competência Material da Justiça do Trabalho no Brasil. In COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves, Coordenadores. Nova competência da Justiça do Trabalho. São Paulo : LTr, 2006, p. 178).

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