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Texto de Citações BADINTER, Elisabeth. Um Amor conquistado: o mito do amor materno

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Texto de Citações - "Um amor conquistado - o mito do amor materno" de Élisabeth Badinter
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BADINTER, Elisabeth. Um Amor conquistado: o mito do amor materno. Elisabeth Badinter; tradução de Waltensir Dutra. — Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
O amor materno X natureza feminina
O amor materno é apenas um sentimento humano. E como todo sentimento, é incerto, frágil e imperfeito. Contrariamente aos preconceitos, ele talvez não esteja profundamente inscrito na natureza feminina. Observando-se a evolução das atitudes maternas, constata-se que o interesse e a dedicação à criança se manifestam ou não se manifestam. A ternura existe ou não existe. (BADINTER, 1985)
	
A INFLUÊNCIA QUE A INFÂNCIA EXERCE NO DECORRER DA VIDA (pode falar isso quando for falar do condicionamento que a menina sofre, pelo que ela passou antes da gravidez
A desgraça é que as opiniões adquiridas na infância são as que marcam mais profundamente o homem. É preciso nada menos do que toda uma vida para eliminar esses maus hábitos. Mesmo assim, poucos o conseguem. Em sua maioria, os homens estão condenados, pela falta de caráter e de inteligência, a permanecer presos à sua infância. Que ascese não foi necessária ao próprio Descartes, quantas angústias não teve de enfrentar para livrar-se de seus maus hábitos e de sua infância! (BADINTER, 1985)
A CRIANÇA-ESTORVO
Os cuidados, a atenção e a fadiga que um bebê representa no lar nem sempre parecem agradar aos pais. E estes, em diversos meios sociais, não têm êxito, segundo a expressão de Shorter, "no teste do sacrifício"17, o mais claro símbolo do que entendemos hoje por amor dos pais e, mais precisamente, por amor materno. (BADINTER, 1985)
A EMANCIPAÇÃO DAS MULHERES x O NÃO ABANDONO DA MATERNIDADE E DO CASAMENTO 
Ao procurar definir-se como ser autônomo, a mulher devia fatalmente experimentar uma vontade de emancipação e de poder. Os homens, a sociedade, não puderam impedir o primeiro ato, mas souberam, com grande habilidade, opor-se ao segundo e reconduzir a mulher ao papel que jamais devia ter abandonado: o de mães. Além disso, recuperarão a esposa. (BADINTER, 1985)
De acordo com Badinter (1985) as mulheres do século XVIII já haviam “compreendido que era principalmente do seu corpo que decorria sua escravidão. Quando o homem o usufrui, possui ao mesmo tempo a mulher inteira, seja ela sua esposa ou sua amante”. 
EM DEFESA DA CRIANÇA
Foram necessários nada menos de três discursos diferentes para que as mulheres voltassem a conhecer as doçuras do amor materno e para que seus filhos tivessem maiores possibilidades de sobrevivência: um alarmante discurso econômico, dirigido apenas aos homens esclarecidos, um discurso filosófico comum aos dois sexos e, por fim, um terceiro discurso, dirigido exclusivamente às mulheres. (BADINTER, 1985)
O DISCURSO ECONÔMICO 
Ela se transforma num investimento lucrativo para o Estado, que seria tolice e "imprevidência" negligenciar. Essa nova visão do ser humano em termos de mão-de-obra, lucro e riqueza, é a expressão do capitalismo nascente. Quando Chamousset (mais do que Colbert, que só via o interesse do Estado) fala de "lucro do Estado",27 fala em nome das classes dominantes e de sua expressão estatal. (BADINTER, 1985)
O médico de família
A nova mãe, que se sente responsável pela saúde do filho, não oculta sua ansiedade e pede mais conselhos e ajuda ao médico. A presença desse novo personagem no seio da família se faz sentir cada vez mais no século XIX. As obras de Gilibert, Raulin ou Buchan já não bastam para acalmar a angústia materna. Quer-se poder consultar a autoridade a domicílio. Os médicos aproveitaram a ocasião e concluíram tacitamente uma "aliança privilegiada"22 com a mãe. Adquiriram rapidamente uma considerável importância no seio da família e fizeram da mãe a sua interlocutora, sua assistente, sua enfermeira e sua executiva. (BADINTER, 1985)
O novo modelo de mãe passa muito mais tempo com seu filho
A nova mãe passa portanto muito mais tempo com o filho do que a sua própria mãe passara com ela. E é bem o fator "tempo" que melhor marca a distância entre duas gerações de mulheres. As antigas mal "tomavam conhecimento" da prole, e consagravam o essencial de seu tempo a si mesmas. As novas vivem constantemente junto dos filhos. (BADINTER, 1985)
A maternidade e a condição de pobreza
Examinando sua moradia, compreende-se que a atenção materna é um luxo que as mulheres pobres não se podem permitir. Na maioria dos casos, sua casa se limita a uma única peça onde se amontoam três gerações. [...] O filho continua sendo um fardo pesado, de que ela tem muitas vezes vontade de se livrar, primeiro entregando-o à ama, e mais tarde, quando cresce, mandando-o embora. (BADINTER, 1985)
O mito do amor materno
As mulheres de boa vontade assumiram com entusiasmo essa nova responsabilidade, como o atesta o prodigioso número de livros sobre a educação escritos por mulheres. Tomou-se consciência de que a mãe não tem apenas uma função "animal", competindo-lhe também o dever de formar um bom cristão, um bom cidadão, um homem, enfim, que encontre o melhor lugar possível no seio da sociedade. O que é novo é o fato de ser ela considerada a mais indicada para assumir esses encargos. É a "natureza", diz-se, que lhe atribui tais deveres. (BADINTER, 1985)
Graças à psicanálise, a mãe será promovida a "grande responsável" pela felicidade de seu rebento. Missão terrível, que acaba de definir seu papel. Sem dúvida, esses encargos sucessivos que sobre ela foram lançados fizeram-se acompanhar de uma promoção da imagem da mãe. Essa promoção, porém, dissimulava uma dupla armadilha, que será por vezes vivida como uma alienação. (BADINTER, 1985)
O DISCURSO MORALIZADOR
De acordo com Badinter (1985) " ‘Complemento’ do homem, a mulher é uma criatura essencialmente relativa. Ela é o que o homem não é, para formar com de, e sob suas ordens, o todo da humanidade. Émile é forte e imperioso, Sophie será fraca, tímida e submissa”.
Badinter (1985) salienta que o homem é [...] a finalidade absoluta da mulher. A natureza feminina é, propriamente falando, "alienada" pelo e para o homem. Sua essência, sua finalidade, sua função são relativas ao homem. A mulher é feita não para si mesma, mas ‘para agradar ao homem.. para ser subjugada por ele... para lhe ser agradável4... para ceder e para suportar até mesmo a sua injustiça’ Logo, essa mulher será uma mãe, pronta a viver pelo e para o filho. (BADINTER, 1985)
A menina educada desde criança para ser mãe
A maternidade é um atributo tão essencial da substância feminina quanto a conjugalidade, ter-se-á tomado o cuidado de preparar a jovem Sophie para a sua futura condição: um caráter doce num corpo robusto. A futura mãe não poderia ser voluntariosa, orgulhosa, enérgica ou egoísta. Em nenhum caso ela deve se aborrecer ou mostrar a menor impaciência, pois a mãe rousseauniana ignora o princípio do prazer e a agressividade. É preciso, portanto, preparar a jovem para ser essa doce mãe de sonho, que amamenta e educa os filhos. (BADINTER, 1985)
É a mãe quem se encarregará do adestramento da menina
É a mãe quem se encarregará do adestramento da menina e que lhe ensinará que ‘a dependência é um estado natural às mulheres’. Ela a habituará a interromper suas brincadeiras sem protestar e a mudar seus planos para se submeter aos de outrem. Desse bom hábito resultará uma docilidade de que as mulheres têm necessidade durante toda a sua vida, pois não deixam jamais de estar sujeitas aos homens... (BADINTER, 1985)
A mulher como dona de casa 
A mulher, por sua vez, deve limitar-se ao governo doméstico, não se imiscuir no que ocorre fora, manter-se fechada em casa. E de maneira brutal, quando afirma: ‘a verdadeira mãe de família, longe de ser uma mulher de sociedade, não será menos reclusa em sua casa do que a religiosa em seu claustro’. A frase põe a nu o fundo do pensamento de Jean-Jacques,que conheceu tal posteridade: a boa mãe é semelhante a boa religiosa ou se esforçará por sê-lo. Mais um passo, e terá direito ao título de ‘santa’. (BADINTER, 1985)
O ideal feminino
Badinter (1985) chama a atenção para “as analogias entre a mãe e a freira, a casa e o convento, dizem muito sobre o ideal feminino de Rousseau. Sacrifício e reclusão são as suas condições. Fora desse modelo não há salvação para as mulheres”.
Badinter (1985) destaca que o papel da “ mulher é acima de tudo[ser] esposa e mãe”
A naturalização da personalidade feminina voltada para ser mãe
Feita para sofrer e gostando disso, a mulher não pode encontrar melhor ocasião de exercer seus dons do que na maternidade. O papel de esposa, muito necessário, não bastará à plena realização de sua feminilidade. Para que uma mulher cumpra a sua vocação, é preciso que seja mãe, não como outrora, de maneira esporádica e irregular, mas constantemente, vinte quatro horas por dia. (BADINTER, 1985)
O que é a maternidade? 
Ora, a maternidade, tal como concebida no século XIX a partir de Rousseau, é entendida como um sacerdócio, uma experiência feliz que implica também necessariamente dores e sofrimentos. Um real sacrifício de si mesma. Se tanto se insiste nesse aspecto da maternidade, com uma certa benevolência, é sempre para mostrar a adequação perfeita entre a natureza da mulher e a função de mãe. (BADINTER, 1985)
AMPLIAÇÃO DAS RESPONSABILIDADES MATERNAS
Seguros de suas certezas, os ideólogos do século XIX, aproveitaram a teoria da mãe "naturalmente devotada" para estender mais ainda as suas responsabilidades. À função nutritícia, acrescentaram a educação.62 Explicaram às mulheres que elas eram as guardiãs naturais da moral e da religião e que da maneira como educavam os filhos dependia o destino da família e da sociedade. E o povoamento do céu! (BADINTER, 1985)
A mãe ideal
 
Mais uma vez, lembra-se à mulher que a maternidade não consiste apenas em dar à luz os filhos. A função de mestra acrescenta-se à de procriadora, lactante e educadora. É ela quem deve transmitir as primeiras e fundamentais lições da língua materna, da geografia, da história, "que nenhuma outra boca pode dar tão bem quanto a da mãe".95 Enquanto os filhos não vão para o colégio, ela pode se fazer de preceptora, ajudá-los a estudar e iniciá-los no latim. Mais tarde, poderá decidir, juntamente com o marido, sobre a educação do filho. Mais ainda, poderá substituir um marido demasiado ocupado com seus negócios, e combater a influência por vezes nociva da escola. Professora de seu filho, será igualmente sua inspiradora, sua conselheira e sua confidente. (BADINTER, 1985)
uma boa dona-de-casa, uma boa mãe de família x independência
Não se pode ser ao mesmo tempo uma mulher feliz e ambiciosa. As moças dessa época estavam bastante convencidas disso, pois sonhavam apenas em pôr em prática o ideal oficial da justa medida, que fazia da mulher instruída a companheira e a conselheira de seu cônjuge, uma boa dona-de-casa, uma boa mãe de família, ‘tão apta aos cuidados do lar quanto ao manuseio das idéias gerais’. Mesmo que tivessem adquirido a noção de sua independência pessoal, as mulheres buscavam ainda a todo preço conciliá-la com seus deveres familiares. Ora, como estes, e em particular os deveres maternos, não haviam cessado de se ampliar nos últimos cem anos, muitas vezes deve ter sido difícil encontrar o equilíbrio entre a independência e o altruísmo. (BADINTER, 1985)
Da responsabilidade à culpa
Essa imensa responsabilidade que pesou sobre as mulheres teve uma dupla conseqüência.
Se estavam todos de acordo em santificar a mãe admirável, estavam também em fustigar a que fracassava em sua missão sagrada. Da responsabilidade à culpa havia apenas um passo, que levava diretamente à condenação. É por isso que todos os autores que se dirigiram às mães acompanharam suas palavras de homenagens e de ameaças. Durante todo o século XIX, lançaram-se anátemas às mães más. (BADINTER, 1985)
Dedicação total da mulher ao lar, aos filhos e ao marido
Badinter (1985) destaca que "‘as viúvas, as abandonadas e as traídas’ tenham necessidade de trabalhar para sobreviver, mas acrescenta imediatamente que seus filhos são as vítimas dessa dura necessidade. Preconiza, portanto, que a sociedade remunere a mãe para que fique em casa”.
O DECLÍNIO DO PAPEL PATERNO
O aumento considerável das responsabilidades maternas, desde o fim do século XVIII, eclipsou progressivamente a imagem do pai. Sua importância e sua autoridade, tão grandes no século XVII, entram em declínio, pois, assumindo a liderança no seio do lar, a mãe se apoderou de muitas de suas funções. Aparentemente, ninguém se queixa, pois a maioria dos textos justifica totalmente essa situação: o primado da mãe e o recuo do pai. (BADINTER, 1985)
O discurso psicanalítico contribuiu muito para tornar a mãe o personagem central da família. Depois de ter descoberto a existência do inconsciente e mostrado que ele se constituía durante a infância, e mesmo da primeira infância, os psicanalistas adquiriram o hábito de interrogar a mãe, e mesmo de questioná-la, à menor perturbação psíquica da criança. (BADINTER, 1985)

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