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1 Métodos de Interpretação Hermenêutica Especial 2 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Os bons comunicadores empregam uma variedade de dispositivos para ilustração, esclarecimento, ênfase e manutenção do interesse do auditório. Os escritores e oradores bíblicos também usaram esses recursos. Alguns de seus métodos comuns incluem: - Símiles: - Metáforas: - Provérbios: - Parábolas; e - Alegorias. Todos os métodos acima são vistos como figuras de linguagem. Além desses acima precisamos também conhecer Prosa e Poesia, Tipos, Profecia e Milagres. 3 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Símile É uma comparação expressa. É o típico emprego das expressões: semelhante ou como. A ênfase é dada sobre algum ponto de similaridade entre as duas idéias expressas. O Sujeito e a coisa com a qual está sendo comparada são mantidos separados para uma melhor compreensão. "Mas, a quem compararei esta geração? É semelhante aos meninos que, sentados nas praças, clamam aos seus companheiros". Mateus 11.16 4 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Metáfora É uma comparação não expressa: ela não usa as palavras semelhante ou como. O sujeito e a coisa com a qual é comparada estão entrelaçados. Apesar da comparação entre o sujeito e a coisa se identificarem como uma só, o autor não quer que sejam vistos como literais. Na metáfora um objeto é assemelhado ao outro, afirmando ser o outro ou falando de si mesmo como se fosse o outro. É o típico emprego das expressões dos verbos. Ser e Estar. "Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte". Mateus 5.14 5 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Outras formas de metáforas são utilizadas como: - Antropopatismo: atribui a Deus, emoções, paixões e desejos humanos. "E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção." Efésios 4.30 - Antropomorfismo: atribui a Deus membros corporais e atividades físicas. "Eis que o salário que fraudulentamente retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama, e os clamores dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos." Tiago 5.4 Há muita metáfora na descrição de como será o céu no livro de Apocalipse como ruas de ouro, fogo que não se apaga e etc. 6 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Provérbios Segundo Walter C. Kaiser, os provérbios são "ditos concisos, breves, com um pouco de estimulante e uma pitadinha de sal também". De forma geral têm um único ponto de comparação ou princípio de verdade para comunicar um único pensamento ou comparação que o autor tinha em mente. Por isso passam toda a verdade de um tempo em poucas palavras. "Disse-lhes Jesus. Sem dúvida me direis este provérbio. Médico, cura-te a ti mesmo; Tudo o que ouvimos teres feito em Cafarnaum, faze-o também aqui na tua terra." Lucas 4.23 Os Provérbios de Salomão instruem ao homem como viver em termos específicos práticos e significativos. Pv 31.14 Portanto, os provérbios (à semelhança dos símiles e das metáforas) geralmente comunicam um único pensamento ou comparação que o autor tinha em mente. 7 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Parábolas O vocábulo parábola (piαραβαλλω) significa colocar algo ao lado de outra coisa e compará-lo. É uma comparação, uma símile ampliada. A comparação é desenvolvida através de uma narrativa entre dois fatos para explicar o que é desconhecido, conhecido e escondido, sempre visando um fim prático. Era um método comum no Oriente. A parábola exige, somente, corresponder no seu todo com a verdade central que se pretende ensinar. Através desta historieta contada é fornecida uma lição de moral, mostrando assim, através de um fato real, concreto e vivido, a sua surpreendente tendência. Toda parábola contém o significado expresso, seja no início, no meio ou no fim. Mas para entendê-la é preciso conhecer todo o contexto envolvido. Não se pode entendê-la só tentando descobrir os detalhes existentes ou atribuindo-lhes alguns. Enfim, é uma historieta narrada que fornece uma lição moral. Ex: 2Sm 12.1-7; Mateus 13.10-15; Marcos 4.11, 12; Lucas 8.9,10 As mesmas parábolas que traziam discernimento aos crentes fiéis, não tinham significado algum para os que endureciam o coração contra a verdade. 8 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Alegorias É uma metáfora ampliada, onde a comparação não vem expressa e todo o mais se entrelaça: a história e seu significado, a história e a sua aplicação e traz em seu conteúdo a própria interpretação. É um uso figurativo, com narrativa fictícia e a aplicação de alguma história ou fato que se admite. Geralmente tem diversos pontos de comparação, não necessariamente concentrados ao redor de um núcleo. Um bom exemplo é a interpretação de Efésios 6.10-17, analisando cada peça da armadura do cristão descrita como algo para a vida prática, tendo como finalidade deixá-lo totalmente armado. 9 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Conforme podemos ver no esquema abaixo. Pode-se conceber o provérbio como uma parábola ou uma alegoria comprimida, às vezes possuindo as características de ambas. 10 Hermenêutica Geral e Especial Onde se entrelaçam Interpretando Parábolas, Alegorias e Tipos As parábolas e alegorias eram usadas para esclarecer ou acentuar uma verdade que estava sendo discutida numa situação histórica específica. Princípios para Interpretação - Análise Histórico-Cultural e Contextual; Lc 20.9-18 - Análise Léxico-Sintática e Paralelismo; - Análise Teológica. Mt 19.23,24 Em se tratando da interpretação de parábolas e alegorias diferem em um ponto principal: a parábola possui um foco, um núcleo, e os detalhes são significativos apenas enquanto se relacionam com esse núcleo; a alegoria geralmente tem diversos pontos de comparação, não necessariamente concentrados ao redor de um núcleo. Ex.: Mt 13.31,32; Ef 6 11 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Prosa e Poesia Na prosa e na poesia encontra-se muito paralelismo, isto é, duas linhas ou membros do mesmo período, na maior parte. Significa que as coisas correspondem às coisas e as palavras às palavras. - Paralelismo Sinonímico. quando a mesma idéia é repetida em palavras diferentes. A 2ª linha de uma estrofe repete o conteúdo da 1ª com palavras diferentes. Ex. Jó 5.6; Salmo 24.2; 103.10; Provérbio 6.2; - Paralelismo Antitético. quando a idéia da 2a linha é contrária à da 1ª. Ex. Salmo 37.21; Provérbio 14.13; - Paralelismo Sintético, construtivo ou epitético. quando a 2ª linha vai além da 1ª, completando ou explicando-a. Ex. Salmo 14.2; - Paralelismo Correspondente, quando a 1ª linha corresponde à 3ª e a 2ª à 4ª. Ex. Salmo 27.1; - Paralelismo Cumulativo, quando apresenta uma série de idéias cumulativas e, algumas vezes, conduz a um clímax. Ex. Salmo 1.1; Isaías 55.6,7. 12 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Tipos As idéias básicas expressas por tipos e seus sinônimos são os conceitos de parecença, semelhança e similaridade. Os tipos são parecidos com os símbolos e assemelham-se a estes. Os símbolos servem de sinais de algo que representam, sem necessariamente serem semelhantes em qualquer respeito. Já os tipos assemelham-se de uma ou mais forma às coisas que prefiguram. São prefigurações, por isso sempre apontam para o futuro e sempre precedem historicamente ao seu antítipo. A tipologia busca o vínculo entre as pessoas, eventos históricos ou coisas dentro da história da salvação. Repousa sobre uma compreensão objetiva e da narrativa histórica, por isso não se assemelha a alegoria, Ex. João 3.14,15. Os tipos contêm três características básicas. há um pontonotável de semelhança ou analogia entre o tipo e seu antítipo, Romanos 5.14-19 - Adão e Cristo; há evidência de que a coisa tipificada representa o tipo que Deus indicou, embora tal afirmação não precisa ser declarada formalmente; há a prefiguração de alguma coisa futura, Ex. o NT é o antítipo do AT. 13 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Os tipos podem ser divididos em 5 classes. 1. Pessoas típicas. aquelas cujas vidas demonstram um importante princípio ou verdade da redenção, Ex. Romanos 5.14 - pecado/salvação; 2. Eventos típicos. possuem uma relação analógica com algum evento posterior. Ex. Mateus 2.17,18 nos dias de Raquel a matança dos filhos é uma tragédia local; Jeremias 31.15 nos dias de Jeremias é uma tragédia nacional; (o ponto em comum é a angústia demonstrada em face de uma perda pessoal e querida); 3. Instituições típicas. são práticas que prefiguram eventos posteriores da salvação, Ex. Levítico 17.11 com I Pedro 1.19 (o sangue dos cordeiros e o de Jesus Cristo); 4. Cargos ou ofícios típicos. Moisés como profeta e Cristo também; Melquisedeque como sacerdote e Cristo também (Hebreus 5.6); 5. Ações típicas. são ações ou atitudes tomadas por pessoas que prefiguram algo que acontecerá, Ex. Marcos 14.22 Cristo comendo o pão e falando sobre o seu corpo na cruz. 14 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Profecia Apesar de haver várias opiniões sobre a sua interpretação, a profecia refere-se a três coisas. prediz eventos futuros; revela fatos ocultos quanto ao presente; ministra instrução, consolo e exortação em linguagem forte. Para diferenciar a profecia da literatura apocalíptica é preciso ter muito cuidado porque é preciso saber quais os princípios hermenêuticos utilizados, quando se deve utilizar o sentido literal ou simbólico na interpretação, se toda vez que a palavra é empregada significa a mesma coisa (universalidade), se todas as declarações proféticas são condicionais ou não e se tem significado único ou múltiplo. Ex: em Mateus 26.34,35 Jesus prediz que Pedro o negaria antes do galo cantar. Literal x Simbólico. Determinar quando deve ser interpretado literalmente e quando simbolicamente. Alguns interpretes preferem o método analógico. Neste método as declarações são interpretadas literalmente depois são traduzidas para o equivalente hodierno. O problema é saber se uma palavra deve ser interpretada literal ou simbolicamente não é resposta fácil. O contexto e seus usos históricos das palavras são os melhores guias gerais a tomadas de decisões concernentes ao seu uso dentro de determinadas passagens. 15 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Milagres Bauer diz que o milagre é um evento sensível em que se verifica a irrupção (ato de irromper. Invasão súbita e impetuosa) de Deus na história dos homens. O milagre não é um sagrado em si, mas um sinal que aponta para ele e que por isso se distingue da aparição, na qual o próprio sagrado mostra-se em seu mistério. Ele encontra o seu sentido no caráter de sinal e deve ser entendido como um fenômeno inexplicável dentro de um processo natural, ultrapassando-o e sendo atribuído a algo divino, neste caso, a Deus. O milagre não tem um valor absoluto em si mesmo, por isso só é compreendido dentro do contexto. O mais importante não é o acontecimento miraculoso e sim, a mensagem que o envolve. Os milagres sempre beneficiam a alguém e ensinam aos demais. Então, os milagres contidos nos evangelhos precisam ser compreendidos desta forma. Pois se Cristo é o centro dos evangelhos, os milagres precisam ser vistos à luz da sua pessoa. Jesus realizou milagres que demonstraram o seu poder sobre certas doenças (lepra, paralisia, febre), poderes da natureza, demônios, doenças sexuais, cegueira e morte. Nota-se que os milagres estão ligados a qualquer necessidade humana definida e são realizados para alívio de qualquer emergência. 16 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Milagres Todos os atos de Jesus ensinavam algo ao povo, seus milagres demonstravam a sua divindade e a importância da fé que o povo deveria ter. Da mesma forma que Jesus utilizava as parábolas para ensinar, utilizava os milagres. Em Lucas 7.18-23 há uma narração de quatro milagres realizados por Jesus Cristo, só para responder uma pergunta de João Batista. Ao serem analisados pela crítica literária e de linguagem vê-se que os milagres não passam de um mal-entendido do texto ou de um enfeite no mesmo. Na literatura helenística também havia narrativas referentes a expulsões de demônios, curas, ressurreição de mortos, apaziguamentos de tempestades e milagres com vinho. Dentro deste contexto Jesus precisava ser superior a todo tipo de manifestação divina existente na época. Alguns milagres já eram comentados como sendo uma história da época. Há uma história de Apolônio de Tiana que narra a ressurreição de uma jovem noiva e que através dos detalhes há uma semelhança na ressurreição do jovem de Naim em Lucas 7.11-17. Conta-se que Vespasiano curou um cego usando a saliva como em Marcos 8.22-26. Há também a história de um homem que ao ser curado levou consigo o seu leito igual a Marcos 2.11,12. Também é conhecido no mito e no culto a Dionísio o milagre de transformação da água em vinho. 17 Hermenêutica Especial Métodos Literários Especiais Milagres O povo do Antigo Oriente sempre gostou de grandes números e eventos incomuns. Muita coisa que para hoje é sobrenatural era comum aos antigos. M. Dibelius mostra que há dois tipos de narrativas de milagres nos evangelhos. os históricos que colocam no centro o aspecto interno do processo; os que se interessam pela elaboração do milagre. Por isso divide as histórias e milagres em dois grupos. paradigmas que são as narrativas usadas como argumentos e as novelas que são reconduzidas a narradores ou mestres. Apesar dos milagres serem realizados nos meios palestinenses, eles têm um conteúdo e caráter helenísticos. Os milagres de expulsão dos demônios demonstram a Basiléia Tôu Teôu, isto é, o reino de Deus como superior ao do Panteão Greco-romano da época, principalmente na questão dos cultos já existentes.
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