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Artigo Cultura de resistência a Umbanda em Oeiras

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Cultura de resistência – traços da cultura africana em Oeiras-PI: a Umbanda[1: Artigo solicitado pela professora Débora, como método avaliativo referente à 3ª nota da disciplina Historia da África e Ásia, tendo por objetivo relacionar aspectos africanos presentes na cidade de Oeiras-PI.]
 Udeilson de Sousa Brito [2: Graduando em Licenciatura Plena em História – Bloco V da Universidade Estadual do Piauí – Uespi - Campus Professor Possidônio Queiroz.]
Resumo:
Este artigo aborda a religiosidade afro-brasileira, especificamente a Umbanda, na cidade de Oeiras, buscando identificar, nas suas práticas rituais, as origens africanas, como também, como caráter de resistência, a incorporação através do sincretismo, de santos predominantemente católicos. Como uma cultura de resistência, essas religiões adaptaram-se e reinventaram-se no Brasil, tendo em vista o novo contexto social no qual estavam agora inseridas: o regime escravista. Essas práticas religiosas enfrentaram muitas adversidades como o preconceito, a perseguição e a imposição da religião dominante, ou seja, a religião católica, e todo um aparato criado para definir as religiões africanas e afro-brasileiras como inferiores. A igreja católica visava minar as outras práticas religiosas, impondo-lhes a sua doutrinação às quais os africanos e também os indígenas deveriam se integrar. Em Oeiras, em consequência da marcante presença de escravos, essas manifestações da cultura africana como a umbanda também se fizeram presentes. Nesta cidade, a umbanda foi vítima de preconceito e perseguições por parte da Igreja Católica e das instituições jurídicas do governo, porém, resistiu e se institucionalizou, como é o caso do terreiro/tenda do senhor Chico Sena e, aos poucos vem quebrando o preconceito e o estereótipo que a circunda, vulgarmente chamada de “macumba”.
Palavras Chaves: umbanda, sincretismo, Oeiras, Chico Sena.
Introdução
O ser humano, desde a antiguidade busca no transcendente as explicações para os fenômenos que estão além da sua compreensão. Daí surgiu a religião, instituição formada para fornecer essas explicações e servir como elo de ligação do mundo material para o mundo espiritual. 
Cada civilização tende a criar sua própria religião, tendo em vista que os fenômenos considerados inexplicáveis aos olhos de uma sociedade pode não ser o mesmo de uma outra. Com isso, criou-se também o que chamamos de politeísmo, onde há um Deus ara explicar e aplacar cada fenômeno.
Na África, por sua heterogeneidade de povos, há também uma heterogeneidade de crenças religiosas. Cada região cultua um tipo de divindade, com rituais e propósitos diferentes, onde talvez isso fosse uma das causas das rivalidades existentes entre diversas tribos.
A presença do negro africano no Brasil contribuiu decisivamente para a sua formação e seus traços culturais permanecem até os dias atuais. Essa contribuição não foi somente em função do seu trabalho, mas também pela sua cultura, aliás, pelas suas culturas, fator devido à heterogeneidade já citada. 
No Brasil, essa gama cultural se mesclou e teve que reinventar-se e adaptar-se ao novo quadro em que estavam inseridos: o regime escravista. Essa adaptação foi uma forma de resistência, na qual os escravos conseguiram preservar suas raízes culturais.
Entretanto, não foi apenas com o trabalho que os negros contribuíram para que o Brasil chegasse a ser o que é atualmente. Na cultura que aqui se formava, eles replasmaram os seus padrões culturais de acordo com as necessidades que surgiam. Com isto, se autopreservaram, em grande parte, da opressão do sistema escravista. (MOURA, Clóvis, 1994. p.7).
Dentre a vasta bagagem cultural que os africanos traziam estavam as práticas religiosas. Isso, eles traziam na alma, visto que não lhes era permitido trazer bagagem alguma. Mesmo essa cultura, vinha escondida, pois antes de embarcarem nos porões dos navios negreiros, eles eram obrigados a darem voltas em torno de uma árvore conhecida como “árvore do esquecimento” acreditando-se que com isso eles perderiam a memória e estariam desprovidos de qualquer vontade de se rebelarem. Isso foi esplendidamente exposto por Renato Barbieri no documentário “Atlântico negro, na rota dos orixás”.
As religiões africanas encontraram forte repressão por parte da classe dominante e principalmente da religião católica, tida como a religião oficial, que tentou minar as manifestações religiosas dos negros e impor a estes os dogmas do catolicismo. A preservação das raízes africanas destas religiões deu-se como uma forma de resistência que, ao mesmo tempo era uma forma de matar a saudade da pátria, como também uma maneira de amenizar os tormentos sofridos na condição de escravos.
As manifestações religiosas africanas em solo brasileiro, por desempenharem papel de resistência social, encontraram entraves não somente na fé católica, mas, nas mais variadas esferas.
Toda uma literatura, por essas razões, foi arquitetada no sentido de mostrar que as religiões africanas, e posteriormente as afro-brasileiras, são inferiores, no máximo consentidas por munificência dos senhores, durante a escravidão, e dos aparelhos de poder das classes dominantes, após a abolição. (MOURA, Clóvis, 1994. p. 35).
Coube então aos negros, adaptarem-se, criarem mecanismos de defesa da sua cultura contra a classe dominante opressora. Dessa forma deu-se o sincretismo religioso, porém, neste caso, ao invés de predominar a origem da religião católica, prevaleceu as origens das religiões africanas.
A umbanda surgiu como inovação, é uma espécie de adaptação dos encontros culturais religiosas da África e Brasil.	Nasce da mistura das religiões da África, incorporando os deuses africanos com espíritos dos ancestrais. Traz ainda traços da religião católica, como por exemplo, a associação de santos católicos com os orixás africanos. Essa associação dos santos católicos na umbanda acaba camuflando seus orixás e dessa forma, proteger-se das perseguições.
Adentrar nesse mundo da religião umbandista é uma maneira de reconhecer a sua importância na formação do povo brasileiro, cujas origens permeiam a história da escravidão tornando-se assim um patrimônio imaterial brasileiro.
Na cidade de Oeiras, conforme afirma Tânia Maria Pires Brandão a presença de escravos foi marcante, característica de todas as regiões do Brasil no período colonial, pois qualquer atividade considerada degradante era fundamentalmente exercida por escravos, assim a população livre, mesmo não sendo predominantemente branca, se negava a exercer tais atividades. Nessa sociedade escravista, possuir um escravo era uma forma de ostentar prestígio e poder, portanto, muitas pessoas empregaram recursos para adquirirem escravos.
Até o final dos anos setecentistas, observa-se que a posse dos escravos foi generalizada, incluindo-se entre os proprietários a Coroa portuguesa, o clero, pessoas ricas e pobres, pretas, brancas, mestiços e até escravos. Não se limitava, portanto, a determinado grupo social, deixando transparecer o quanto a escravidão havia se impregnado e se consolidado na sociedade piauiense. (BRANDÃO, Tânia, 1999. p. 151).
Com os escravos veio a herança cultural de origem africana desta cidade, como é o caso dos terreiros de umbanda. Resulta também, a carga preconceituosa que carrega essa religião, visto que os colonos trouxeram também a tradição do cristianismo como a religião oficial.
Em sua monografia, Jankesya Frreira de Macedo explicita bem quando assinala que a situação dos umbandistas de Oeiras não foi diferente dos das demais regiões, pois foram vítimas de muitas opressões. Jankesya aponta uma peculiaridade da cidade de Oeiras a qual foi estigmatizada como a capital da fé. Da fé católica. Com isso, acentua-se mais ainda a carga de preconceito acerca da umbanda, que por ser afro-brasileira é associada pejorativamente à magia negra e é vulgarmente chamada de e macumba.
Muitas pessoas veem a umbanda como uma religião que se faz por meio de feitiçarias, práticas diabólicascom magia negra, suponha-se que seja esse o motivo de se for o caso, de alguns umbandistas se camuflarem, e até mesmo simpatizantes ou pessoas que realmente precisem da religião [...]. (MACEDO, Jankesya, 2013).
Um dos primeiros terreiros de umbanda da cidade de Oeiras foi implantado em 1969 pelo senhor Chico Sena. Ele conta que veio a Oeiras no ano de 1968 e que no ano seguinte, instalou seu terreiro atendendo aos conselhos de um amigo.
Ele relata que no seu caso específico, não foi muito perseguido pela polícia, como outras tendas assim o eram, tendo em vista que o mesmo portava toda a documentação exigida para a instalação do seu terreiro. Isto inclusive foi fator preponderante para que outros terreiros buscassem adquirir a documentação.
Sua tenda conta com muitos frequentadores, inclusive de outras cidades, às vezes bem distantes, que vêm participar quinzenalmente das práticas que lá ocorrem. Praticamente todos os frequentadores do terreiro também protestam outra religião, sendo em sua grande maioria católicos. Segundo relatou o senhor Chico Sena, por vezes ele era convidado por um padre que atuou em Oeiras, o padre Davi, para que o mesmo realizasse seu ritual de “tambores” no pátio da Igreja, fato que com a saída deste padre deixou de ser realizado.
Na associação das práticas da umbanda com as práticas das religiões africanas, ele relata as danças, os cânticos e os orixás que são incorporados e adorados por seus seguidores. É também de origem africana as oferendas que estão presentes no terreiro, como água, velas, vasilhas cheias de pipoca colocadas em alguns pontos do terreiro. Ele explica que a pipoca representa a pureza, e que em alguns rituais africanos, os praticantes simulam um banho com pipoca para purificar a alma.
Ele falou ainda que todo esse preconceito acerca das práticas da umbanda, como a possessão, por exemplo, são tentativas de macular a imagem desta religião, pois tanto a igreja católica como as igrejas evangélicas utilizam-se da mesma prática, dentro das suas características. Ele afirma que o espiritismo é um só, e o que variam são as práticas recorrentes, diferentes em cada religião.
Sobre a associação dos santos católicos com os orixás originários da cultura africana ele citou, conforme as imagens que o mesmo utiliza em seu terreiro, as representações destes: 
	Santo católico
	Orixá
	Jesus Cristo
	Oxalá
	Santo Antônio/São Jorge
	Ogum
	São Jerônimo/São João
	Xangô
	Santa Bárbara
	Iansã
	Nossa Senhora da Conceição
	Iemanjá
Diante disto, percebemos uma forte herança africana, no que diz respeito à religiosidade na cidade de Oeiras-PI. Esse aspecto cultural representou nesta cidade, como em todo o território brasileiro, uma cultura de resistência contra a opressão, a perseguição da sua cultura e a imposição dos costumes é hábitos culturais da classe dominante.
Na atualidade, no âmbito da religião, especificamente a umbanda, a intolerância e a perseguição á se cessaram, mas ainda permanece o preconceito velado por algumas pessoas atreladas aos traços mais tradicionais do catolicismo e principalmente pelas religiões evangélicas e protestantes.
“Toda religião tem um único foco, adoração ao Deus único, com suas práticas e rituais diferentes”. (Pai Chico Sena).
REFERENCIAS:
BRANDÃO, Tânya Maria Pires. O escravo na formação social do Piauí: perspectiva histórica do século XVIII / Tanya Maria Pires Brandão; Apresentação de Armando Souto Maior. – Teresina: Editora da Universidade Federal do Piauí, 1999. 
MOURA, Clóvis. História do negro brasileiro. Programa Nacional Biblioteca do Professor, 1994.
 MACEDO, Jankesya Ferreira de. Entre tambores e Batuques: Resistência e Memória da Umbanda em Oeiras-PI. Monografia exigida como trabalho finalidade conclusão de curso . Biblioteca da UESPI – Oeiras, 2013.

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