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Direito penal econômico
autor: tHIaGo BottINo Do aMaraL
ROTEIRO DE CURSO
2010.1
3ª eDIção
Sumário
Direito Penal Econômico
I. InTRODUçãO ...............................................................................................................................................................................6
 Delimitação do conteúdo da disciplina .......................................................................................... 6
 Metodologia................................................................................................................................... 7
 Bibliografia .................................................................................................................................... 7
 Avaliação ........................................................................................................................................ 8
II. BlOCO DE aUlaS .........................................................................................................................................................................9
II.1 – Bloco 01 – conceItos fundamentaIs. .......................................................................................................................................9
aUlaS 01, 02, 03, 04 E 05 – COnCEITOS fUnDamEnTaIS. ................................................................................................................. 11
 Introdução ................................................................................................................................... 11
 A diferenciação do direito penal clássico e do Direito Penal Econômico ....................................... 11
 A questão do bem jurídico ........................................................................................................... 11
 A percepção social dos crimes econômicos ................................................................................... 11
 Adequação e proporcionalidade das penas cominadas para essa classe de delitos ........................... 12
 Independência das instâncias administrativa e penal ..................................................................... 12
 Metodologia................................................................................................................................. 13
II.2 – Bloco 02 – crImes contra o sIstema fInanceIro e contra o mercado de capItaIs. .............................................................15
aUla 06: QUEm PODE PRaTICaR CRImE COnTRa O SISTEma fInanCEIRO naCIOnal? (COnCEITO DE InSTITUIçãO fInanCEIRa E 
alCanCE Da RESPOnSaBIlIDaDE PEnal)....................................................................................................................................... 16
 Introdução ................................................................................................................................... 16
 Caso ............................................................................................................................................. 17
 Jurisprudência .............................................................................................................................. 19
 Bibliografia obrigatória ................................................................................................................. 21
 Bibliografia complementar ........................................................................................................... 21
aUla 07: QUal a DIfEREnça EnTRE gESTãO TEmERáRIa E fRaUDUlEnTa? ...................................................................................... 22
 Introdução ................................................................................................................................... 22
 Caso ............................................................................................................................................. 22
 Jurisprudência .............................................................................................................................. 23
 Bibliografia obrigatória ................................................................................................................. 25
 Bibliografia complementar ........................................................................................................... 25
 Atividade complementar .............................................................................................................. 25
aUla 08: “CaIxa DOIS”, “EmPRéSTImO vEDaDO” E “DESvIO DE fInalIDaDE DE EmPRéSTImO”. .......................................................... 26
 Introdução ................................................................................................................................... 26
 Caso ............................................................................................................................................. 28
 Jurisprudência .............................................................................................................................. 29
 Bibliografia obrigatória ................................................................................................................. 29
 Bibliografia complementar ........................................................................................................... 30
 Atividade complementar .............................................................................................................. 30
aUlaS 09 E 10: a famIgERaDa EvaSãO DE DIvISaS. ....................................................................................................................... 31
 Introdução ................................................................................................................................... 31
 Caso ............................................................................................................................................. 31
 Jurisprudência .............................................................................................................................. 32
 Questões ...................................................................................................................................... 34
 Bibliografia obrigatória ................................................................................................................. 34
 Bibliografia complementar ........................................................................................................... 35
 Atividade complementar .............................................................................................................. 35
aUlaS 11 E 12: ROUBOU mUITO? PREnDE lOgO! a DECRETaçãO DE PRISãO PREvEnTIva Em RazãO Da magnITUDE Da lESãO 
(aRT. 30 Da lEI nº 7.492/1986). .................................................................................................................................................... 36
 Introdução ................................................................................................................................... 36
 Caso ............................................................................................................................................. 37
 Jurisprudência .............................................................................................................................. 38
 Questões ...................................................................................................................................... 39
 Bibliografia obrigatória ................................................................................................................. 40
 Bibliografia complementar ........................................................................................................... 40
 Atividade complementar ..............................................................................................................40
aUla 13: CRImES COnTRa O mERCaDO DE CaPITaIS: manIPUlaçãO DE COTaçõES Em BOlSaS, USO DE InfORmaçãO 
PRIvIlEgIaDa E aTUaçãO IRREgUlaR nO mERCaDO DE CaPITaIS. .................................................................................................. 41
 Introdução ................................................................................................................................... 41
 Caso ............................................................................................................................................. 44
 Bibliografia obrigatória ................................................................................................................. 45
 Bibliografia complementar ........................................................................................................... 46
 Atividade complementar .............................................................................................................. 46
aUlaS 14 E 15: “lavô, Tá nOvO”. O CRImE DE lavagEm DE CaPITaIS. ............................................................................................... 47
 Introdução ................................................................................................................................... 47
 Caso ............................................................................................................................................. 51
 Jurisprudência .............................................................................................................................. 53
 Questões ...................................................................................................................................... 55
 Bibliografia obrigatória ................................................................................................................. 56
 Bibliografia complementar ........................................................................................................... 56
aUla 16: PERDEU, PlayBOy!mEDIDaS aSSECURaTóRIaS PaTRImOnIaIS. ........................................................................................ 57
 Introdução ................................................................................................................................... 57
 Caso ............................................................................................................................................. 58
 Jurisprudência .............................................................................................................................. 59
II.3 – Bloco 03 – crImes contra a ordem trIButárIa e a ordem econômIca. ...............................................................................60
aUla 17: O CRImE DOS RICOS: SOnEgaçãO fISCal E aPROPRIaçãO InDéBITa PREvIDEnCIáRIa. ...................................................... 61
 Introdução ................................................................................................................................... 61
 Caso ............................................................................................................................................. 62
 Jurisprudência .............................................................................................................................. 65
 Questões ...................................................................................................................................... 68
 Bibliografia obrigatória ................................................................................................................. 69
 Atividade complementar .............................................................................................................. 69
aUla 18: COnTRaBanDO E DESCamInhO. ...................................................................................................................................... 71
 Introdução ................................................................................................................................... 71
 Caso ............................................................................................................................................. 71
 Jurisprudência .............................................................................................................................. 74
 Questões ...................................................................................................................................... 77
 Bibliografia obrigatória ................................................................................................................. 77
 Bibliografia complementar ........................................................................................................... 78
 Atividade complementar .............................................................................................................. 78
aUla 19: CaRTEl, DUmPIng E OUTROS “maUS-háBITOS” COmERCIaIS. ............................................................................................ 80
 Introdução ................................................................................................................................... 80
 Caso ............................................................................................................................................. 82
 Jurisprudência .............................................................................................................................. 83
 Bibliografia obrigatória ................................................................................................................. 85
 Bibliografia complementar ........................................................................................................... 85
 Atividade complementar .............................................................................................................. 85
aUla 20: O PREçO DO ESQUECImEnTO – a ExTInçãO Da PUnIBIlIDaDE nOS DElITOS COnTRa a ORDEm TRIBUTáRIa E ECOnômICa. ..... 86
 Introdução ................................................................................................................................... 86
 Jurisprudência .............................................................................................................................. 89
aUla 21: gaSOlIna BaTIzaDa, álCOOl mOlhaDO E OUTROS COmBUSTívEIS alTERnaTIvOS. .......................................................... 90
 Introdução ................................................................................................................................... 90
 Caso ............................................................................................................................................. 91
 Jurisprudência .............................................................................................................................. 92
 Bibliografia obrigatória ................................................................................................................. 93
 Bibliografia complementar ........................................................................................................... 93
II.4 – Bloco 04 – dIsposIções processuaIs. .....................................................................................................................................94
aUla 22 – laDRãO QUE TRaI laDRãO, RECEBE O PERDãO; ISSO é DElaçãO. ..................................................................................... 95
 Introdução ................................................................................................................................... 95
 Caso ............................................................................................................................................. 96
 Jurisprudência ..............................................................................................................................99
 Questões .................................................................................................................................... 100
 Bibliografia obrigatória ............................................................................................................... 100
 Bibliografia complementar ......................................................................................................... 100
aUla 23 – TEm BOI na lInha OU O REgImE COnSTITUCIOnal Da InvIOlaBIlIDaDE DaS COmUnICaçõES. ...................................... 101
 Introdução ................................................................................................................................. 101
 Caso ........................................................................................................................................... 102
 Jurisprudência ............................................................................................................................ 105
 Questões .................................................................................................................................... 107
 Bibliografia obrigatória ............................................................................................................... 107
 Bibliografia complementar ......................................................................................................... 108
aUla 24 – OS nOvOS COmITêS DE SalvaçãO PúBlICa. ................................................................................................................. 109
 Introdução ................................................................................................................................. 109
 Caso ........................................................................................................................................... 110
 Jurisprudência ............................................................................................................................ 111
 Bibliografia obrigatória ............................................................................................................... 113
 Bibliografia complementar ......................................................................................................... 113
aUla 25 – haBEaS CORPUS. ........................................................................................................................................................ 114
 Introdução ................................................................................................................................. 114
 Jurisprudência ............................................................................................................................ 120
 Questões .................................................................................................................................... 122
 Bibliografia obrigatória ............................................................................................................... 122
 Bibliografia complementar ......................................................................................................... 123
aUla 26 – TEORIa gERal DaS nUlIDaDES. ................................................................................................................................... 124
 Introdução ................................................................................................................................. 124
 Caso ........................................................................................................................................... 125
 Jurisprudência ............................................................................................................................ 126
 Questões .................................................................................................................................... 130
 Bibliografia obrigatória ............................................................................................................... 130
 Bibliografia complementar ......................................................................................................... 130
aUla 27 – TEORIa gERal DOS RECURSOS. .................................................................................................................................... 131
 Introdução ................................................................................................................................. 131
 Jurisprudência ............................................................................................................................ 134
 Questões .................................................................................................................................... 136
 Bibliografia obrigatória ............................................................................................................... 137
 Bibliografia complementar ......................................................................................................... 137
6FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
i. introDução
O Direito Penal Econômico costuma ser associado a expressões como “crimes de colari-
nho branco”, “crimes dos engravatados”, “crimes dos endinheirados”, “crimes of the power-
ful”, “white collar criminality”, “criminality of the upper world” etc. 
É possível perceber que todos esses conceitos constroem a definição de Direito Penal 
Econômico a partir do sujeito ativo da conduta incriminada. Com efeito, na maioria dos 
casos, os crimes de sonegação fiscal, evasão de divisas, gestão fraudulenta etc. são praticados 
por pessoas de alto nível sócio-econômico, no exercício de sua atividade profissional. São 
profissionais liberais, empresários, executivos, banqueiros, ocupantes de cargos políticos e 
altos funcionários públicos.
Nesse contexto, a criminalidade econômica foge da idéia de delinqüência como fenô-
meno marginal; na verdade, em muitas situações, os autores desses delitos não são vistos 
como verdadeiros criminosos por eles mesmos, pelo público em geral e nem por outros 
criminosos.
Todavia, um conceito de Direito Penal Econômico construído a partir das características 
do agente que pratica o crime, e não do ato praticado, torna as definições mais sociológicas 
do que jurídicas. 
Sob a perspectiva jurídica, a definição de Direito Penal Econômico é construída a partir 
do bem jurídico protegido, das condutas praticadas e suas finalidades, além das características 
objetivas desses delitos. Dessa forma, é preferível definir o Direito Penal Econômico como 
o ramo do Direito Penal voltado para a identificação e criminalização de condutas pratica-
das nas relações comerciais ou na atividade empresarial, pelos administradores, diretores ou 
sócios, geralmente de forma não violenta e envolvendo fraude ou violação da relação de con-
fiança. Pode-se apontar, ainda, como característica desse tipo de crimes, a atuação de forma 
organizada, sob a forma de empresas lícitas, muitas vezes com caráter supranacional.
Outro traço comum dos crimes econômicos é o caráter supra-individual do bem jurídico 
atingido. Com efeito, quando se fala em crimes contra a ordem econômica, sistema financeiro, 
ou ordem tributária verifica-se que a tutela jurídico-penal está voltada para o funcionamento 
regular desse conjunto de regras que orientam e regulam a atividade econômica, seja do 
Estado, seja do indivíduo (livre iniciativa). 
Em algumas situações, também é alvo de tutela penal o regular funcionamento do mer-
cado empresarial, como ocorre nas hipóteses de abuso de poder econômico, ou ainda a boa-
fé nas relações comerciais, como ocorre nas situações de violação ao direito do consumidor. 
Não obstante, em ambos os casos, é possível vislumbrar nessa tutela penal específica um 
reflexo da proteção à ordemeconômica, ou à economia popular, conceitos mais genéricos.
Delimitação Do conteúDo Da Disciplina
O estudo do Direito Penal Econômico será iniciado pelos conceitos fundamentais que o 
distinguem do Direito Penal Clássico e pelo contexto político, econômico e social em que 
esses crimes estão inseridos para, a partir dessa base de compreensão crítica, passar à análise 
dos tipos penais propriamente ditos.
Dentro da enorme quantidade de leis que prevêem disposições penais ligadas à ativi-
dade empresarial, optou-se por selecionar como objeto de estudo as condutas criminosas 
mais importantes relacionadas com o funcionamento dos sistemas econômico, financeiro 
e tributário. Essa perspectiva permite eleger as leis criminais e as medidas processuais mais 
7FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
freqüentes nos escritórios de advocacia, nas delegacias e nas varas criminais especializadas 
em Direito Penal Econômico.
A partir desse primeiro corte, realizou-se outra seleção, dessa vez para identificar os tipos 
penais cuja definição, aplicação ou persecução ensejam as maiores dificuldades práticas, ou 
ainda as discussões teóricas mais relevantes. Em alguns casos, a lei penal será estudada em 
sua inteireza; em outros casos, serão examinados apenas os crimes mais importantes. Cada 
bloco de aulas examinará um grupo de leis penais – ou de tipos penais – agrupados em razão 
do bem jurídico protegido. 
metoDologia
Cada aula terá como ponto de partida um caso concreto passível de ser entendido e 
discutido com base na bibliografia básica (obra dogmática) e aprofundado a partir dos ele-
mentos contidos na bibliografia específica, suscitando diferentes possibilidades de aplicação 
do direito ao caso concreto. Essa metodologia aposta na capacidade do aluno de graduação 
da FGV Direito Rio de alçar vôos teóricos mais altos para discutir, com profundidade, os 
temas mais palpitantes da atualidade do Direito Penal Econômico. 
O uso de casos concretos e de notícias recentes de jornais a partir de uma perspectiva 
crítica traz a realidade da aplicação do direito para dentro da sala de aula e estimula a par-
ticipação do aluno no processo de aprendizado, criando-se um ambiente de interatividade 
entre aluno e professor e aprimorando sua capacidade de raciocínio lógico-jurídico. O ob-
jetivo dessa metodologia é habilitar o aluno a identificar problemas e resolvê-los de forma 
pragmática, sem deixar de se posicionar criticamente.
BiBliografia
A bibliografia obrigatória é composta por dois livros além de artigos doutrinários va-
riados. Os artigos, escritos por autores nacionais e estrangeiros com destacada produção 
acadêmica e que representam visões distintas sobre a temática do Direito Penal Econô-
mico, ressaltam as questões mais controvertidas da matéria estudada em cada bloco de 
aulas. Os livro indicados de leitura obrigatória são:
– PRADO, Luiz Regis: Direito Penal Econômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2007; e
– SILVA-SANCHEZ, Jesús Maria: A expansão do Direito Penal. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2002.
A bibliografia complementar seguirá o mesmo modelo. Ao final de cada aula que integra 
essa apostila o aluno encontrará a indicação de livros e/ou artigos que permitirão aprofun-
dar o tema discutido em sala ou ampliar as perspectivas de sua compreensão. Além disso, o 
aluno poderá se vales das seguintes obras como leitura complementar:
– BALTAZAR JUNIOR, José Paulo: Crimes Federais. Porto Alegre: Livraria do Advo-
gado, 2006.
– CALLEGARI, André Luís: Direito Penal Econômico e lavagem de dinheiro – aspectos 
criminológicos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.
8FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
– MAZLOUM, Ali: Crimes do colarinho branco. Porto Alegre: Síntese, 1999.
– NUCCI, Guilherme de Souza: Leis Penais EspeciaisComentadas. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2008.
– TORTIMA, José Carlos: Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – uma contri-
buição ao estudo da Lei nº 7.492/86. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000.
avaliação
A avaliação divide-se em atividades obrigatórias e facultativas. As primeiras compreen-
dem duas provas dissertativas individuais sobre o conteúdo discutido em sala de aula e sobre 
a bibliografia obrigatória. As atividades facultativas, sujeitas exclusivamente à avaliação po-
sitiva, são a execução das atividades complementares específicas de cada aula, a apresentação 
oral de casos ou de bibliografia complementar e a elaboração dos Cadernos Colaborativos 
da FGV Direito Rio.
9FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
ii. Bloco De aulas
ii.1 – Bloco 01 – conceitos funDamentais.
As primeiras aulas terão como foco a determinação de um conceito para o termo “direito 
penal econômico” e o exame das características fundamentais que o distinguem do direito 
penal clássico. Um dos aspectos mais importantes desse primeiro bloco é o debate acerca do 
bem jurídico protegido.
Com efeito, esse tipo de crime faz parte de uma nova forma de criminalidade, diferente 
da criminalidade clássica. O crime econômico provoca danos não individualizáveis, irrepa-
ráveis, incontroláveis e cuja percepção social é diferenciada. O objetivo é o lucro econômi-
co, uma vantagem comercial ou a dominação de um mercado. As possibilidades e facilida-
des oferecidas pelo avanço tecnológico ensejam o aparecimento de condutas praticadas em 
grande escala por organizações complexas e de grande potencialidade lesiva. As condutas 
praticadas são de difícil identificação. Em alguns casos, o lucro ilícito é disfarçado e regula-
rizado (“lavado”) no sistema financeiro e demais instâncias formais, adquirindo aparência 
de legalidade, o que dificulta a apuração e punição dos delitos.
A busca desenfreada, feroz e sem escrúpulos de interesses estritamente pessoais – con-
ceito oposto à justiça, que infesta as sociedades ocidentais contemporâneas – é a essência 
da transformação dos crimes de agressão em crimes de fraude e violação de confiança. No 
Brasil – como em outros países em desenvolvimento ou desenvolvidos, cujo traço comum 
seja o modo de produção capitalista – verificam-se ondas sucessivas de “crimes de colarinho 
branco”, cujo custo econômico e social é muito superior ao dos demais crimes.
Os protagonistas dessa nova forma de criminalidade integram uma parcela da socieda-
de que sempre esteve à frente dos processos de integração e desenvolvimento econômico, 
gerando efeitos extremamente danosos à sociedade. Os prejuízos das condutas criminosas 
(mas muitas vezes apenas amorais, não criminosas) são de ordem política e social, além de 
econômica. 
A constatação dos danos supra-individuais é realizada mediante o cotejo entre as con-
dutas praticadas, os fins perseguidos e os efeitos colaterais na sociedade. Como exemplos de 
crimes econômicos, podemos citar as alterações artificiais das condições de mercado, criação 
de monopólios ou oligopólios por meio de práticas que suprimem a livre iniciativa e a exis-
tência da concorrência, apropriação pelos gestores de instituições financeiras dos recursos 
dos investidores individuais, não recolhimento aos cofres públicos das taxas e impostos 
incidentes sobre os lucros obtidos, dentre vários outros exemplos. 
Em todas essas situações, o agente busca atingir a maior rentabilidade possível, em detri-
mento do meio econômico no qual ele está inserido. Nessa tentativa de maximizar ganhos, 
torna-se comum a prática de condutas como infiltração no aparelho governamental (cor-
rupção), uso indevido de informações privilegiadas (interferindo no funcionamento livre da 
economia e na estabilização do valor do bem por meio da oferta e da demanda), criação de 
situações artificiais de risco (criando bolhas especulativas cujo estouro gera perdas para toda 
a economia e diminuição da confiança dos investidores no mercado).
Embora os mercados sejam conhecidamente ambientes de risco, muitosatores parecem 
enxergar no risco e na oportunidade conceitos absolutamente desvinculados de qualquer 
obrigação moral. Ao adotarem estruturas societárias ou empresariais, determinados atores 
econômicos parecem despir-se de qualquer escrúpulo ou racionalidade na tentativa de al-
cançar uma hegemonia econômica.
10FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Esse processo foi definitivamente alavancado por meio do processo de globalização ini-
ciado no final do século XX e ainda mais potencializado no início do século XXI, em gran-
de parte pelas novas oportunidades criadas pelo comércio eletrônico e pela internet, pelo 
surgimento de novos mercados passíveis de “exploração” e “conquista” e devido ao aumento 
de potenciais investidores, os quais estão muitas vezes dispostos a “esquecerem” as “boas 
práticas” negociais desde que obtenham bom retorno financeiro. 
De modo semelhante, grandes conglomerados financeiros elaboram maneiras sofistica-
das – na maioria das situações de forma não criminosa – de se manterem imunes a qualquer 
forma de controle ou imposição de impostos, elegendo domicílios fiscais em que não há 
custos ou esses são mínimos, usufruindo, porém, da estrutura social de países nos quais não 
investe ou de cujo custeio não participa.
A possibilidade de que essa e outras práticas socialmente danosas ocorram, torna óbvia 
a incapacidade do mercado, por si só, de impedir uma espiral de outras violações a regras 
morais – as quais são responsáveis pela confiança e estabilidade das transações econômicas. 
O risco não é imune a um sentido moral, como também não é a economia. Em outras 
palavras, a ordem econômica e financeira do Brasil não pode ser conduzida à margem dos 
demais valores sociais (consubstanciados nos princípios jurídicos) que estruturam o Estado 
brasileiro, exigindo, portanto, regras que estabeleçam com precisão as condutas passíveis 
de punição administrativa e penal. De igual modo, a economia é capaz de conviver com 
mecanismos que obriguem os atores econômicos a agir com transparência, ética e respon-
sabilidade, de modo a preservar a ordem econômica – em sua totalidade – de práticas que 
prejudiquem seu bom funcionamento.
Além da perspectiva jurídica, os alunos irão debater temas como globalização, atividade 
empresarial e direito penal, perspectivas da criminalidade econômica, governança coorpo-
rativa e percepção social dos crimes econômicos. O objetivo é construir um panorama do 
contexto político, econômico e social, no Brasil e no mundo, em que esses crimes estão 
inseridos, sempre buscando fornecer elementos ao aluno para que ele construa uma base 
para compreensão crítica dos crimes estudados.
Trata-se de elemento indispensável para a construção de um raciocínio crítico, já que o 
direito penal econômico está ligado às características sociais, políticas e econômicas do iní-
cio do século XXI: o paradigma societário e econômico atual caracteriza-se pelos processos 
de transformação acelerados, pelas concentrações maciças de capitais e por mercados de alta 
volatilidade. Fatos ocorridos num determinado local têm efeito imediato sobre economias 
distantes de maneira imediata. Esse fenômeno é característica de uma sociedade mundial, 
sem governo mundial nem Estado mundial, como definiu Ulrich Beck. Esse processo glo-
balizador também influencia o sistema de controle penal, punindo condutas a partir do 
risco que representam para uma “estabilidade” financeira. 
Essa visão interdisciplinar dos conceitos fundamentais é relevante ainda porque o direi-
to penal econômico traduz a proximidade entre política econômica e a política criminal, 
colocando questões como a necessidade/utilidade da proteção jurídico-penal da economia, 
ou da imposição aos atores econômicos de menores restrições possíveis em favor do cresci-
mento econômico. 
A abordagem criminológica terá como proposta discutir se deve o legislador regular os 
delitos econômicos com a legislação penal (seja no Código Penal ou em lei especial), ou 
deve configurá-los como infrações administrativas (regulação tributária, fiscal, previdenci-
ária); se a punição para tais delitos deve ser realizada com penas restritivas de liberdade ou 
com penas restritivas de direitos e penas pecuniárias compatíveis com a magnitude da lesão; 
se a punição deve ser imposta às pessoas físicas e às organizações, ou só às primeiras.
11FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aulas 01, 02, 03, 04 e 05 – conceitos funDamentais.
introDução
As aulas iniciais do curso de Direito Penal Econômico, concentradas nesse primeiro blo-
co, são extremamente relevantes porque problematizam questões que serão continuamente 
suscitadas ao longo do estudo dos dispositivos penais e processuais penais constantes dos 
blocos de aulas seguintes. Além de uma rica bibliografia, esse primeiro conjunto de sessões 
privilegiará o debate com os alunos acerca de temas menos dogmáticos e mais criminológi-
cos e sociológicos, tais como:
a Diferenciação Do Direito penal clássico e Do Direito penal econômico
O termo criminalidade do colarinho branco possui diferentes variações (criminality of the 
upper world, Albert Morris: 1935; white collar criminality, Edwin Sutherland: 1949; crime 
dos endinheirados, Mangabeira Unger: 2001), com significados distintos. Dentre as várias 
definições possíveis, está aquela que conceitua o Direito Penal Econômico como o ramo 
do Direito Penal que estuda os crimes ocorridos nas relações comerciais ou na atividade 
empresarial, pelos administradores, diretores ou sócios, geralmente de forma não violenta e 
envolvendo fraude ou violação da relação de confiança, normalmente de forma organizada e 
muitas vezes com caráter supranacional, e estabelecida sob a forma de empresas lícitas.
a questão Do Bem juríDico
Uma característica do Direito Penal Econômico é criminalização de condutas que não 
afetam um bem jurídico individual determinado (como vida, patrimônio, honra), mas con-
ceitos indeterminados e classificados como bens jurídicos supra-individuais (bom funcio-
namento do sistema financeiro nacional, boas condições de concorrência e livre iniciativa 
etc.), à luz das teorias penais contemporâneas. O crime econômico provoca danos não indi-
vidualizáveis, irreparáveis, incontroláveis e cuja percepção social é diferenciada. O objetivo é 
o lucro econômico, uma vantagem comercial ou a dominação de um mercado. As possibili-
dades e facilidades oferecidas pelo avanço tecnológico ensejam o aparecimento de condutas 
praticadas em grande escala por organizações complexas e de grande potencialidade lesiva.
a percepção social Dos crimes econômicos
Esse tópico remete à discussão sobre o ínfimo número de crimes financeiros investiga-
dos, processados e que tenham seus agentes condenados, bem como a forma pela qual a 
sociedade lida com o fenômeno criminógeno nas relações financeiras, econômicas, empresa-
riais e comerciais. Está diretamente relacionado aos mecanismos de seleção da criminalidade 
econômica, ou seja, o processo de filtragem de fatos e agentes, realizados por instituições 
como bancos privados, Banco Central, Polícia Federal, Ministério Público e o Judiciário.
Ademais, não se pode olvidar que a criminalidade econômica foge da idéia de 
delinqüên cia como fenômeno marginal e que os autores desses delitos não são vistos 
12FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
como verdadeiros criminosos por eles mesmos, pelo público em geral e nem por outros 
criminosos.
Por fim, as condutas praticadas são de difícil identificação. Em alguns casos, o lucro ilí-
cito é disfarçado e regularizado (“lavado”) no sistema financeiro e demais instâncias formais, 
adquirindo aparência de legalidade, o que dificulta a apuração e punição dos delitos.
aDequação e proporcionaliDaDe Das penas cominaDas para essa classe 
De Delitos
Aqui, a discussão se põe sobre as penas de prisão (mais ou menos longas),de multa 
(com ou sem caráter confiscatório), à luz das teorias de fundamentação da pena. Desse 
debate surgem questões como: deve o Estado proteger jurídico-penalmente a economia, ou 
deve impor aos atores econômicos as menores restrições possíveis em favor do crescimento 
econômico? Deve o legislador regular os delitos econômicos com a legislação penal (seja 
no Código Penal ou em lei especial), ou deve configurá-los como infrações administrativas 
(regulação tributária, fiscal, previdenciária)? Deve-se impor penas restritivas de liberdade ou 
penas pecuniárias compatíveis com a magnitude da lesão? Deve-se punir as pessoas físicas 
ou as organizações?
inDepenDência Das instâncias aDministrativa e penal
Existem basicamente dois modelos de jurisdição relacionados à interdependência das 
instâncias administrativa e judicial nos países que adotam a separação dos poderes. Deno-
mina-se sistema de jurisdição dual quando há previsão de que dois órgãos se manifestem de 
forma definitiva sobre o Direito, cada qual com suas competências próprias. Esse modelo é 
adotado, por exemplo, na França, onde as decisões da administração pública que são objeto 
de recursos administrativos não são passíveis de serem novamente discutidas no âmbito 
judicial. 
Já o sistema de jurisdição una é aquele segundo o qual cabe apenas ao Poder Judiciário 
a competência de dizer o Direito de forma definitiva. Esse é o modelo adotado no Brasil 
(como se extrai do Art. 5º, XXXV, da Constituição da República: “a lei não excluirá da 
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”) bem como nos Estados Unidos 
da América. Nos EUA, por exemplo, a United States Court of Appeals for the District of 
Columbia Circuit (DC Circuit) é uma corte especializada em rever as decisões das agências 
federais (FCC, EPA, FTC, etc.). De seus julgamentos só cabe recurso à Suprema Corte.
No Brasil, é fora de discussão que o Poder Judiciário pode rever decisões administrativas. 
A Constituição definiu que a lei é o limite do âmbito de atuação do agente administrativo e 
que quem fiscaliza a aplicação da lei pelo Executivo é o Poder Judiciário. 
Porém, em algumas situações, parece razoável que as decisões tomadas por autoridades 
administrativas vinculem o juiz. Quais as situações em que isso ocorre e quais as conseqüên-
cias dessa unicidade no plano econômico? Se é verdade que não se pode modificar o sistema 
de independência das instâncias administrativa e penal, que soluções infraconstitucionais 
podem contribuir para aumentar o grau de segurança jurídica? Qual o reflexo dessa estabi-
lidade jurídica em matéria econômica no planejamento da sociedade?
13FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
metoDologia
Todos esses temas serão abordados, prioritariamente, a partir de discussões sobre a bi-
bliografia indicada e privilegiando a presença de convidados. A cada aula, pretende-se trazer 
um profissional que atue diretamente com os temas referidos, com perspectivas diferencia-
das (advogado, juiz, procurador da república, agente financeiro, um estudioso sob o aspecto 
interdisciplinar etc.) para criar um caldo de cultura que servirá como base crítica para a 
discussão das questões jurídicas aplicadas e estudadas ao longo do curso.
Por fim, ainda dentro do primeiro bloco de aulas, mas já com uma estrutura independen-
te, os alunos serão levados à reflexão sobre a responsabilidade social das empresas, tema ainda 
pouco discutido no mercado empresarial. O estudo do conceito e das técnicas de governança 
coorporativa (o modo como as empresas são “governadas”) remete à discussão sobre os direi-
tos, deveres e, sobretudo, responsabilidades dos acionistas, administradores, conselho fiscal e 
auditores (internos ou externos), no curso da atividade econômica empresarial. 
aula 01
obrigatória
PEREIRA, Flávia Goulart: Os crimes econômicos na sociedade de risco. In Revista 
Brasileira de Ciências Criminais nº 51, São Paulo: RT, 2004.
complementar
FRANCO, Alberto Silva: Globalização e criminalidade dos poderosos. In Temas de 
Direito Penal Econômico. RT, 2000, pp. 235/277.
aula 02
obrigatória
TORON, Alberto Zacharias: Crimes do colarinho branco: os novos perseguidos? In 
Revista Brasileira de Ciências Criminais nº 28, São Paulo: RT, 1999.
KARAN, Maria Lucia: A esquerda punitiva. In Discursos Sediciosos, nº 1. Rio de 
Janeiro: Relume Dumará, 1996, pp. 79/92.
aula 03
obrigatória
SILVA, Eduardo Sanz de Oliveira: Direito Penal preventivo e os crimes de perigo: uma 
apreciação dos critérios de prevenção enquanto antecipação do agir penal no direito. 
In COSTA, José de Faria: Temas de Direito Penal Econômico. Coimbra: Coimbra 
Editora, 2005, pp. 251/283
BITENCOURT, Cezar Roberto: Princípios garantistas e a delinqüência do colarinho 
branco. In Revista Brasileira de Ciências Criminais, nº 11. São Paulo: RT, 1995, pp. 
119/127.
complementar
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge: Direito penal econômico como direito penal de 
perigo. São Paulo: RT, 2006, pp. 159/183.
14FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 04
obrigatória
DIAS, Jorge de Figueiredo: Breves considerações sobre o fundamento, o sentido e a 
aplicação das penas em Direito Penal Econômico. In Temas de Direito Penal Econô-
mico. São Paulo: RT, 2000, pp. 121/135.
D’ÁVILA, Fabio Roberto: Direito Penal e Direito Sancionador – sobre a identidade 
do Direito Penal em tempos de indiferença. in Revista Brasileira de Ciências Crimi-
nais, nº 60. São Paulo: RT, 2006, pp. 09/35.
complementar
RODRIGUES, Anabela Miranda: Contributo para a fundamentação de um discurso 
punitivo em matéria penal fiscal. In Temas de Direito Penal Econômico. São Paulo: 
RT, 2000, pp. 181/191.
aula 04
obrigatória
Habeas Corpus 25.417-SP, julgado pelo Superior Tribunal de Justiça. 
Habeas Corpus nº 13.028-SP, julgado pelo Superior Tribunal de Justiça.
complementar
Sentença proferida no processo nº 2004.34.00.028018-0, da 5ª Vara Federal da Seção 
Judiciária do Distrito Federal.
15FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
ii.2 – Bloco 02 – crimes contra o sistema financeiro e contra o 
mercaDo De capitais.
A primeira lei que tipificou condutas lesivas ao regular funcionamento do sistema fi-
nanceiro nacional (SFN) foi a Lei nº 4.595/1964, instituidora do Conselho Monetário 
Nacional. Os crimes ali previstos foram expressamente revogados pela Lei nº 7.492/1986, 
que ampliou o número de condutas criminosas ligadas à atividade econômica e financeira. 
A Lei nº 7.492/1986, atualmente em vigor, foi objeto de duras críticas desde o momento de 
sua promulgação, sobretudo pelas falhas de técnica legislativa, pelo uso exacerbado de tipos 
penais em branco e pela atribuição de responsabilidade penal objetiva.
Narra Luiz Regis Prado (Direito Penal Econômico, São Paulo: RT, 2004, p. 212) que 
o sistema financeiro nacional “tem por objetivo gerar e intermediar créditos (e empregos), 
estimular investimentos, aperfeiçoar mecanismos de financiamento empresarial, garantir a 
poupança popular e o patrimônio dos investidores, compatibilizar crescimento com estabili-
dade econômica e reduzir desigualdades, assegurando uma boa gestão da política econômico-
financeira do Estado, com vistas ao desenvolvimento equilibrado do País”. O bom funciona-
mento do SFN é, portanto, fundamental para o desenvolvimento das finanças públicas e da 
economia nacional. Com efeito, o art. 192, da Constituição, prevê como objetivos do SFN 
promover o desenvolvimento equilibrado do País e atender aos interesses da coletividade.
Os crimes que atingem e prejudicam o regular funcionamento do SFN têm natureza 
supra-individual e podem repercutir de forma sistêmica na própria estabilidade econômica 
do país. Por essa razão, todas as operações financeiras são rigidamente controladas pelo Es-
tado, com regras destinadas a garantir transparência no funcionamento das instituiçõese, 
por conseguinte, maior segurança dos investimentos e operações realizadas.
Quando se fala em crimes contra o SFN é fundamental ter em mente que a objetividade 
jurídica das condutas incriminadas é o prejuízo ao adequado funcionamento do sistema; 
logo, é tarefa igualmente fundamental entender e definir quais as características desse re-
gular funcionamento. José Paulo Baltazar Junior (Crimes Federais. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado, 2006, p. 259) relaciona como condições para o bom desenvolvimento das 
operações financeiras: “a) confiança nas instituições; b) reforço no cumprimento das regras, 
como aquelas que tratam da manutenção de reservas técnicas; c) transparência dos riscos; 
d) baixos custos de transação; e) fragmentação da propriedade; f ) formação eficiente dos 
preços”.
Por essa razão, condutas que, aparentemente, atingem apenas indivíduos (investidores, 
sócios ou credores), mas que, de modo mais amplo, afetam as bases sobre as quais se estru-
tura o SFN, são consideradas crime pela Lei nº 7.492/1986. Esse mesmo raciocínio conduz 
à conclusão de que as instituições financeiras podem ser a) vítimas dos crimes, quando o 
crime é praticado em detrimento de seu patrimônio, mas afeta o SFN; b) vítima e autor, 
quando um agente responsável pela instituição lesa esta e outras pessoas; e, c) autora, quan-
do esse mesmo agente interno lesa apenas outras pessoas físicas e/ou jurídicas, gerando risco 
para o SFN. 
Como já salientado na introdução, a proposta dessa disciplina é selecionar os temas mais 
relevantes em matéria de crimes contra o SFN e o mercado de capitais, promovendo, nesses 
casos, um exame aprofundado. Nesse contexto, foram eleitos para estudo o conceito de 
instituição financeira e de administrador, os crimes de gestão temerária, gestão fraudulenta, 
contabilidade paralela (caixa dois), empréstimo proibido, evasão de divisas, manipulação de 
cotação de ação em bolsas e uso de informação privilegiada. Além disso, será examinada a 
questão processual da prisão preventiva decorrente da magnitude da lesão causada nos cri-
mes contra o SFN. Ainda nesse bloco, será estudado o crime de lavagem de capitais.
16FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 06: Quem poDe praticar crime contra o sistema financeiro 
nacional? (conceito De instituição financeira e alcance Da 
responsaBiliDaDe penal).
introDução
conceito de instituição financeira (art. 1°, da lei nº 7.492/1986).
O art. 1º da Lei nº 4.595/1964 define que o Sistema Financeiro Nacional, estruturado 
e regulado pela referida Lei, é constituído pelo Conselho Monetário Nacional, pelo Banco 
Central do Brasil, pelo Banco do Brasil S. A., pelo Banco Nacional do Desenvolvimento 
Econômico (BNDES) e pelas demais instituições financeiras públicas e privadas.
O conceito de instituições financeiras também é estabelecido em lei, mais precisamente 
no 1º, da Lei nº 7.492/1986: “Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, 
a pessoa jurídica de direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou 
acessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos fi-
nanceiros (Vetado) de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, 
distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários”. O trecho 
vetado referia-se à gestão de recursos financeiros próprios.
A lei promove ainda a equiparação à instituição financeira da pessoa jurídica “que capte 
ou administre seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou 
recursos de terceiros” e da pessoa física “que exerça quaisquer das atividades referidas neste 
artigo, ainda que de forma eventual”.
A Constituição previu que uma Lei Complementar deverá ser editada para regular o 
SFN. Enquanto não houver essa edição, a estrutura do sistema financeiro decorre das dispo-
sições contidas na Lei nº 4.595/1964, já mencionada, na Lei nº 4.728/1965 (Lei do merca-
do de capitais) e na Lei nº 6.385/1976 (que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e 
cria a Comissão de Valores Mobiliários). Os delitos praticados no âmbito das operações em 
bolsa de valores foram inicialmente estabelecidos pela Lei nº 4.728/1965, posteriormente 
substituídos pela Lei nº 10.303/2001.
Alcance da responsabilidade penal (art. 25, da Lei nº 7.492/1986).
Os crimes contra o SFN são considerados crimes próprios em razão da Lei nº 7.492/1986 
ter definido, em seu art. 25, que são penalmente responsáveis o controlador e os administra-
dores de instituição financeira, assim considerados os diretores e gerentes. O texto original 
previa, ainda, a responsabilidade dos membros de conselho estatutário, mas houve veto na 
promulgação. A Lei equipara o interventor, o liquidante ou o síndico ao administrador. 
Embora se trate de crime próprio, não há impossibilidade de que pessoas não referidas no 
art. 25, da Lei nº 7.492/1986, participem da conduta criminosa.
Os crimes societários em geral, e os praticados em detrimento do SFN em especial, apre-
sentam dificuldade inicial de que se defina a responsabilidade individual de cada diretor ou 
controlador. A falta de conhecimento sobre a real participação de cada pessoa física nos atos 
de gestão da instituição financeira que caracterizam crime, muitas vezes impede que a acu-
sação contenha “a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias”, exigência 
constante do art. 41, do Código de Processo Penal.
Por um lado, a falta de descrição minuciosa do comportamento imputado gera prejuízo 
à defesa do acusado, que não saberá exatamente do que deve se defender, bem como traduz 
17FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
uma responsabilidade objetiva do agente, prática sabidamente vedada em matéria penal. 
Por essa razão, os tribunais têm reconhecido que a exigência de descrição individualizada 
não pode ser desconsiderada no momento da propositura da inicial.
caso
supremo rejeita denúncia do mpf contra o deputado federal eduardo campos
O Supremo Tribunal Federal rejeitou parcialmente hoje (12/11) a denúncia do Minis-
tério Público Federal que responsabilizou o deputado federal Eduardo Henrique Accioly 
Campos (PSB/PE) por suposta emissão fraudulenta de títulos públicos do estado de Per-
nambuco para pagamento de precatórios pendentes. O Plenário rejeitou por unanimidade 
a acusação por prática dos crimes de falsidade ideológica (artigo 299, do Código Penal) e 
contra o Sistema Financeiro Nacional (artigos 5º e 6º da Lei 7492/86). 
A decisão foi aprovada no julgamento do Inquérito 1690. Hoje o procurador-geral da 
República, Cláudio Fonteles, argumentou que “todo o esquema de distribuição dos lucros 
da operação é descrito tanto no relatório do Banco Central, quanto no relatório da intitu-
lada CPI dos Precatórios, instaurada no âmbito do Senado Federal”. Inquiriu ele se “esse 
caso rumorosíssimo na nossa nação”, como descrito, não caracterizaria para o STF “o que 
é necessário para o recebimento de uma denúncia, ou seja, a presença do fumus boni iuris 
(juízo de probabilidade do bom direito)”. 
Em sustentação oral, os advogados de Eduardo Henrique Accioly Campos, de Fábio 
Barreto Nahoum, Mauro Enrico Barreto Nahoum, Ronaldo Ganon e Jairo da Cruz Ferreira 
sustentaram a inépcia da denúncia. Por indicação do relator, ministro Carlos Velloso, o 
Supremo adiou a conclusão do julgamento em relação aos outros envolvidos no processo 
quanto ao crime contra o Sistema Financeiro Nacional.
Em relação ao crime contra o Sistema Financeiro (artigo 7º, inciso 2º da Lei 7492/86), 
o Plenário acompanhou o voto do relator, ministro Carlos Velloso, ao julgar a denúncia 
inepta, por não vincular o ex-secretário de Fazenda do Estado de Pernambuco ao suposto 
ato ilícito atribuído a ele, consistente no registro irregular de títulos estaduais junto ao 
Banco Central.
O STF também rejeitou a denúncia por falsidade ideológica,ao julgar que é preciso 
haver dolo (intenção) específico para que se caracterize sua prática, não sendo crime que 
exista sob a modalidade culposa (sem intenção). Eduardo Campos foi acusado pela inserção 
em documento público de lista de precatórios enviada ao Senado Federal e o Banco Central 
com declaração diversa da que deveria ser escrita. Conforme a denúncia, “apurou-se que o 
valor real dos precatórios totalizaria R$ 26 milhões, e não R$ 480 milhões solicitados”. 
A denúncia diz que o secretário de Fazenda foi o “mentor intelectual da fraude perpe-
trada”, tendo também assinado a declaração que contém a lista de Precatórios “produzida a 
partir de Precatórios já existentes, contudo superavaliados”. 
“Uma coisa me parece certa: Os Precatórios pendentes de pagamento não foram levan-
tados pelo secretário de estado, mas por equipes de diversos órgãos, que teriam cometido as 
erronias e equívocos. Impossível responsabilizar o secretário de estado pela prática do fato”, 
afirmou o ministro Velloso.
“Narra a denúncia que o estado de Pernambuco agindo como instituição financeira 
por equiparação legal (artigo 1º, parágrafo único da lei 7492/86) teria emitido títulos mo-
biliários de forma fraudulenta, incorrendo, portanto, o secretário da Fazenda, nos crimes 
18FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
previstos nos artigos 5º, 6º e 7º, da Lei 7492/86”, observou o relator dando seguimento ao 
seu voto.
O ministro relator, Carlos Velloso, considerou inicialmente que o estado de Pernambuco 
não poderia ser equiparado a instituição financeira para os fins do disposto no artigo 1º, da 
Lei 7492/86, pois a emissão das Letras Financeiras para captação de recursos para o Tesouro 
do Estado não configuraria a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros 
de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, nego-
ciação, intermediação ou administração de valores mobiliários.
“Na estrutura do Direito Penal brasileiro, vige o princípio constitucional da reserva 
legal”, observou o ministro. Para ele somente as pessoas que se enquadram no conceito de 
instituição financeira poderiam responder pelos tipos penais nela estabelecidos. Assim, não 
entendeu ser o estado de Pernambuco uma instituição financeira, e, por conseqüência, o 
secretário de Fazenda não teria praticado os crimes previstos nos artigos 5º, 6º e 7º da Lei 
7.492/86, e rejeitou a denúncia nesta parte.
Finalmente, o MPF atribuiu ao denunciado, Eduardo Campos, a conduta criminosa 
prevista no artigo 89, da Lei nº 8.666/93, por supostamente ter contratado sem licitação 
o Banco Vetor, embora não tivesse notória especialização expressa em lei para dispensar a 
licitação.
A denúncia, para o relator, não estabeleceria o vínculo entre o acusado e o ato ilícito que 
lhe está sendo imputado. Ressaltou que o responsável pelo controle e negociação (contratos, 
compras, pagamentos) das Letras do Tesouro estadual seria o Banco de Pernambuco. E à 
Secretaria da Fazenda estadual caberia apenas oficiar tecnicamente sobre as negociações. O 
relator observou que nesse ponto haveria fato de terceiro, incapaz de responsabilizar o acu-
sado, a menos que houvesse a possibilidade de invocar a responsabilidade penal objetiva. E 
rejeitou nesse ponto a denúncia.
O ministro Carlos Ayres Britto divergiu do relator apenas quanto ao recebimento da 
denúncia com relação à conduta prevista no artigo 89, da Lei de Licitações (Lei 8.666/93). 
Os demais ministros acompanharam o relator.
Histórico
O Inquérito foi instaurado pelo Ministério Público Federal (MPF), em virtude das con-
clusões da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal, que apurou irre-
gularidades relacionadas à autorização, emissão e negociação de Títulos Públicos estaduais 
e municipais em 1995 e 1996. 
A denúncia sustenta que o estado de Pernambuco, agindo como instituição financeira, 
emitiu o valor de R$ 480 milhões de títulos mobiliários, chamados de Letras Financeiras do 
Estado de Pernambuco (LFTEPE), de modo fraudulento para pagamento de precatórios.
O pedido de autorização para a emissão dos títulos foi feito pelo então governador do 
estado Miguel Arraes, tendo participado também do suposto esquema, segundo o MPF, 
o deputado Eduardo Henrique Accioly Campos (PSB/PE), na época secretário da Fazen-
da do estado de Pernambuco, o ex-diretor-presidente do Banco de Pernambuco (Bandepe) 
Wanderley Bejamim de Souza, o ex-diretor de finanças do Bandepe Jorge Luiz Carneiro de 
Carvalho, os economistas Fábio Barreto Nahoum e Mauro Enrico Barreto Nahoum, os ad-
ministradores Ronaldo Ganon e Wagner Batista Ramos, o contador Nivaldo Furtado de Al-
meida, o advogado Miguel Arraes de Alencar e o servidor do Banco Central aposentado Jairo 
da Cruz Ferreira. Com relação ao ex-governador de Pernambuco, a denúncia foi extinta pelo 
relator, ministro Carlos Velloso, em 30 de outubro de 2002, porque o crime prescreveu.
19FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Eles teriam montado um esquema que ia da elaboração de documentos fraudulentos 
apresentados à Assembléia Legislativa de Pernambuco, ao Banco Central e ao Senado Fe-
deral para a autorização da emissão dos títulos, à criação das LFTEPE e sua colocação no 
mercado. Além disso, parte do valor emitido não teria ingressado nos cofres do estado por-
que cerca de 25% dos recursos teriam sido embolsados pelos supostos mentores por meio 
de comissões. Ainda, a lista de precatórios teria sido preparada pelo Banco Vetor, utilizando 
tecnologia de Wagner Ramos, valendo-se de precatórios inexistentes e superavaliados. Ade-
mais, o Banco Vetor teria sido contratado sem licitação.
Os acusados foram denunciados pelos crimes de falsidade ideológica (artigo 299, pará-
grafo único, do Código Penal), afronta ao sistema financeiro nacional (artigo 6º, da Lei nº 
7.492/86), registro irregular de título público (artigo 7º, inciso II, da Lei 7.492/86), apro-
priação indébita dos valores obtidos com a venda dos títulos (artigo 5º, da Lei nº 7.492/86) 
e dispensa irregular de licitação (artigo 89, da Lei 8.666/93). A denúncia chegou ao STF em 
virtude da prerrogativa de foro do deputado Eduardo Henrique Accioly Campos.
Brasília, segunda-feira, 13 de novembro de 2006 – 13:30h 
Fonte: http://www.stf.gov.br/noticias/imprensa/ultimas/ler.asp?CODIGO=73311&tip
=UN&param=
jurispruDência
EMENTA:1. AÇÃO PENAL. Denúncia. Deficiência. Omissão dos comportamentos 
típicos que teriam concretizado a participação dos réus nos fatos criminosos descritos. Sa-
crifício do contraditório e da ampla defesa. Ofensa a garantias constitucionais do devido 
processo legal (due process of law). Nulidade absoluta e insanável. Superveniência da senten-
ça condenatória. Irrelevância. Preclusão temporal inocorrente. Conhecimento da argüição 
em HC. Aplicação do art. 5º, incs. LIV e LV, da CF. Votos vencidos. A denúncia que, eivada 
de narração deficiente ou insuficiente, dificulte ou impeça o pleno exercício dos poderes da 
defesa, é causa de nulidade absoluta e insanável do processo e da sentença condenatória e, 
como tal, não é coberta por preclusão. 2. AÇÃO PENAL. Delitos contra o sistema financeiro 
nacional. Crimes ditos societários. Tipos previstos nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/90 e art. 
22 da Lei nº 7.492/86. Denúncia genérica. Peça que omite a descrição de comportamentos 
típicos e sua atribuição a autor individualizado, na qualidade de administrador de empresas. 
Inadmissibilidade. Imputação à pessoa jurídica. Caso de responsabilidade penal objetiva. 
Inépcia reconhecida. Processo anulado a partir da denúncia, inclusive. HC concedido para 
esse fim Extensão da ordem ao co-réu. Inteligência do art. 5º, incs. XLV e XLVI, da CF, dos 
arts. 13, 18, 20 e 26 do CP e 25 da Lei 7.492/86. Aplicação do art. 41 do CPP. Precedentes. 
No caso de crime contra o sistema financeiro nacional ou de outro dito “crimesocietário”, é 
inepta a denúncia genérica, que omite descrição de comportamento típico e sua atribuição 
a autor individualizado, na condição de diretor ou administrador de empresa.
STF. RHC 85658/ES. Relator Ministro Cezar Peluso. 1ª Turma. Julgamento: 
21/06/2005. Publicação: 12/08/2005.
EMENTA: Recurso Ordinário em habeas corpus. 2. Crime contra o Sistema Financeiro 
Nacional. 3. As entidades de fundo de pensão estão incluídas no Sistema Financeiro Nacio-
nal. 4. Fraude cometida contra entidade previdenciária. 5. Aplicação da Lei no 7.492/86. 6. 
Competência da Justiça Federal. 7. Ordem denegada. 
STF. RHC 85094/SP. Relator Ministro Gilmar Mendes. 2ª Turma. Julgamento: 
15/02/2005. Publicação: 08/04/2005.
20FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
EMENTA: Penal. Competência. Crime contra a ordem financeira nacional. Art. 109, 
VI, da Constituição Federal. Lei nº 7.492/86.
- A competência da Justiça Federal para o processo e julgamento dos crimes contra o 
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira circunscreve-se aos casos previstos na 
Lei nº 7492/86, não podendo ser ampliada para abranger crimes que, embora afetem a 
economia ou o sistema financeiro, não estão nela previstos.
- A atividade fraudulenta de captação e aplicação de recursos de particulares, com pro-
messa de rendimentos superiores aos oferecidos pelas instituições financeiras legalizadas e 
atuantes no mercado, não consubstancia operação financeira, afetando, somente, o patri-
mônio das vítimas.
- Conflito conhecido. Competência do Juízo Estadual, o suscitado.
STJ. CC 23123/RS. Relator Ministro Vicente Leal. 3ª Seção. Julgamento: 10/03/1999. 
Publicação: 12/04/1999.
EMENTA: Direito Penal. Crime contra o sistema financeiro. Responsabilidade penal 
objetiva. Princípio nullum crimen sine culpa. Trancamento da ação penal.
1. A interpretação do artigo 25 da Lei nº 7.492/86, que o vê como norma de presunção 
absoluta de responsabilidade penal, é infringente da Constituição da República e do direito 
penal em vigor, enquanto readmite a proscrita responsabilidade penal objetiva e infringe o 
princípio nullum crimen sine culpa.
2. Habeas corpus concedido para trancamento da ação penal.
STJ. HC 9031/SP. Relator Ministro Hamilton Carvalhido. 6ª Turma. Unânime. Julga-
mento: 02/09/1999. Publicação: 13/12/1999.
EMENTA: Recurso Especial. Penal. Divergência jurisprudencial não caracterizada. Au-
sência de identidade fática. Não conhecimento. Artigo 25 da lei nº 7.492/86. Responsa-
bilidade criminal dos membros do conselho de administração de instituição financeira. 
Provimento. 
1. O recurso especial fundado na alínea “c” do inciso III do artigo 105 da Constituição 
Federal requisita, em qualquer caso, tenham os acórdãos – recorrido e paradigma – conferi-
do interpretação discrepante a dispositivo de lei federal sobre uma mesma base fática.
2. A disposição final da norma inserta no artigo 25 da Lei nº 7.492/86 – “assim con-
siderados os diretores, gerentes” – contrariamente ao entendimento que, à força de uma 
interpretação estritamente formal de dispositivos isolados de diplomas legais diversos, fun-
dou o acórdão impugnado, longe de excluir os integrantes dos Conselhos de Administração 
das instituições financeiras, integra-os no elenco dos penalmente responsáveis, sempre que 
exerçam atribuições, em natureza, de direção ou gerência.
3. Tal interpretação, estritamente formal, que se deve recusar, esbarra na própria letra 
do inciso VI do artigo 142 da Lei nº 6.404/76, também adequada aos denominados atos 
complexos de gestão, enquanto requisitam a participação de mais de um órgão na formação 
de seu conteúdo.
4. Fosse do acórdão impugnado a melhor positivação do direito, da norma do artigo 25 
da Lei nº 7.492/86, teria sido excluída a expressão “administradores de instituição finan-
ceira”.
5. Recurso especial provido.
STJ. Resp nº 265.075/SP. Relator Ministro Hamilton Carvalhido. 6ª Turma. Julgamen-
to: 25/08/2004. Publicação: 22/11/2004.
21FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
BiBliografia oBrigatória
PRADO, Luiz Regis: Direito Penal Econômico. São Paulo: RT, 2004, pp. 168/171.
COMPARATO, Fabio Konder: Crime contra a ordem econômica. In Revista dos 
Tribunais, nº 734/573. RT, 1996.
BiBliografia complementar
TÓRTIMA, José Carlos: Crimes contra o sistema financeiro nacional – uma con-
tribuição ao estudo da Lei nº 7.492/86. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, pp 
29/35.
BALTAZAR JUNIOR, José Paulo: Crimes Federais. Porto Alegre: Livraria do Advo-
gado, 2006, pp. 261/273.
22FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 07: Qual a Diferença entre gestão temerária e frauDulenta?
introDução
A lei não explicita o que seria as condutas de “gestão fraudulenta” ou “gestão temerária”. 
Não cumpre, portanto, a exigência da taxatividade e precisão empírica da conduta. Ao invés 
de descrever o comportamento proibido – como faz, por exemplo, no crime de estelionato 
“Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou manten-
do alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento” – a lei 
apenas fornece o nomen juris de um comportamento proibido.
Por essa razão, o art. 4º e seu parágrafo único da Lei nº 7.492/1986 sempre tiveram 
sua constitucionalidade contestada. Não obstante a vagueza absoluta com que descreve o 
crime, os Tribunais têm reconhecido validade aos dispositivos, preenchendo-os por meio 
de conceitos doutrinários, ou pela própria produção jurisprudencial. A partir desses ele-
mentos, é possível definir a gestão fraudulenta como a prática de atos de gestão que envol-
vam qualquer espécie de fraude, ardil, embuste, falcatrua ou desfalque. Exemplo de gestão 
fraudulenta é a falsificação de balanços com objetivo de enganar investidores, auditores ou 
autoridades encarregadas da fiscalização, simulando uma falsa situação de saúde financeira 
da instituição. Já a gestão temerária significa a prática de atos sem as cautelas que seriam 
razoáveis ou necessárias. Caracterizam gestão temerária práticas impetuosas, imponderadas, 
irresponsáveis ou afoitas.
Atente-se, desde logo, para o fato de que não há modalidade culposa nos crimes contra 
o SFN. A irresponsabilidade da gestão temerária não se confunde com a imprudência, im-
perícia ou a negligência que caracterizam o elemento culposo. O agente deve compreender, 
de forma clara, a temeridade de seu comportamento e o risco que sua conduta gera para o 
bom funcionamento do SFN.
Ao usar o termo gestão, o legislador quis definir uma conduta habitual. Assim, um 
administrador que realize um investimento mais arrojado ou ousado não terá incorrido no 
crime de gestão temerária, exigindo-se uma prática habitual de impetuosidade na gestão da 
instituição. Da mesma forma, a adoção contínua ou usual de posturas aventureiras ou arris-
cadas na gestão do negócio caracterizam a conduta temerária, ainda que não decorra prejuí-
zo das mesmas. Com efeito, tanto a conduta fraudulenta como a temerária não exigem que 
haja prejuízo financeiro ou ganho de vantagem financeira indevida pelo agente criminoso. 
Se conduta gera risco para o bom funcionamento do SFN, está caracterizado o crime.
Segue daí que a prática isolada de determinados atos poderá ser punida de forma au-
tônoma, enquanto sua prática contínua será considerada gestão fraudulenta ou temerária. 
São exemplos desses atos os crimes previstos nos artigos 7º, 9º, 10, entre outros, da Lei nº 
7.492/1986. Dentre os autores mais estudados, apenas Rodolfo Tigre Maia considera que os 
crimes do art. 4º e seu parágrafo único são crimes habituais impróprios, ou acidentalmente 
habituais, em que uma única ação tem relevância para configurar o tipo (MAIA, Rodolfo 
Tigre: Dos crimes contra o sistema financeiro nacional. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 58). 
Trata-se de entendimento minoritário.
caso
MPprocessa 12 do Banco Rural por gestão temerária – Kátia Rabello, presidente da 
instituição, é acusada de emprestar dinheiro sem garantias a Marcos Valério. 
23FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
O Ministério Público Federal em Minas ofereceu ontem denúncia à Justiça contra a 
presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e contra integrantes e ex-integrantes da dire-
toria-executiva da instituição, no total de 12 pessoas, por gestão temerária de instituição 
financeira. É a chamada Lei do Colarinho Branco.
Segundo o MPF, os denunciados exerceram as suas atividades, entre 2003 e 2005, “em 
desacordo com as normas de boa gestão e segurança operacional a que estão legalmente 
obrigados na direção de uma instituição financeira”. A acusação formal aponta irregularida-
des na concessão de vultosos empréstimos, “sem observância aos princípios da seletividade, 
garantia e liquidez”.
Dentre as operações analisadas, estão os empréstimos contraídos no Rural pelo PT, 
pela SMPB Comunicação e Graffiti Participações, empresas de Marcos Valério, acusado 
de operar o mensalão – pagamento de propina a parlamentares aliados em troca de apoio 
ao governo no Congresso. Empréstimos tomados no Rural e no BMG – no valor original 
de R$ 55 milhões, entre 2003 e 2004, por meio de empresas de Valério, foram indicados 
pelo empresário e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares como a origem do caixa 2 pe-
tista e do dinheiro dado a aliados. As contas e aplicações bancárias de Valério e seus sócios 
na SMPB – Cristiano de Mello Paz e Ramon Cardoso – já foram bloqueadas pela Justiça 
mineira em pelo menos duas ações de execução movidas pelo Rural. As decisões não têm 
efeito prático, pois o Supremo Tribunal Federal (STF) já havia determinado o bloqueio 
dos seus bens.
O Rural divulgou nota alegando que não foi informado da acusação. “Ao que tudo indi-
ca, trata-se de simples conseqüência processual no âmbito do Ministério Público sobre ope-
rações de amplo conhecimento, já absorvidas patrimonialmente pelo Banco Rural”, disse. 
“O Banco Rural confia que, ao final, ficará demonstrada a inexistência de irregularidades.”
Fonte: O Estado de São Paulo, Quarta-feira, 9 agosto de 2006. Por: Eduardo Kattah 
http://txt.estado.com.br/editorias/2006/08/09/pol-1.93.11.20060809.9.1.xml
jurispruDência
EMENTA: 1. Habeas Corpus. Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei no 
7.492, de 1986). Crime societário. 
2. Alegada inépcia da denúncia, por ausência de indicação da conduta individualizada 
dos acusados. 
3. Mudança de orientação jurisprudencial, que, no caso de crimes societários, entendia 
ser apta a denúncia que não individualizasse as condutas de cada indiciado, bastando a indi-
cação de que os acusados fossem de algum modo responsáveis pela condução da sociedade 
comercial sob a qual foram supostamente praticados os delitos. Precedentes: HC no 86.294-
SP, 2a Turma, por maioria, de minha relatoria, DJ de 03.02.2006; HC no 85.579-MA, 2a 
Turma, unânime, de minha relatoria, DJ de 24.05.2005; HC no 80.812-PA, 2a Turma, por 
maioria, de minha relatoria p/ o acórdão, DJ de 05.03.2004; HC no 73.903-CE, 2a Turma, 
unânime, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de 25.04.1997; e HC no 74.791-RJ, 1a Turma, 
unânime, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 09.05.1997. 
4. Necessidade de individualização das respectivas condutas dos indiciados. 
5. Observância dos princípios do devido processo legal (CF, art. 5o, LIV), da ampla 
defesa, contraditório (CF, art. 5o, LV) e da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1o, III). 
Precedentes: HC no 73.590-SP, 1a Turma, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 
13.12.1996; e HC no 70.763-DF, 1a Turma, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 
23.09.1994. 
24FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
6. No caso concreto, a denúncia é inepta porque não pormenorizou, de modo adequado 
e suficiente, a conduta do paciente. 
7. Habeas corpus deferido.
STF. HC 86879/SP. Relator originário Ministro Joaquim Barbosa. Relator p/ Acórdão 
Ministro Gilmar Mendes. 2ª Turma. Julgamento: 21/02/2006. Publicação: 16/06/2006.
EMENTA: Processual penal. Habeas corpus. Trancamento de ação penal. Gestão Frau-
dulenta. Crime de mera conduta. Presença de suficientes indícios de materialidade e autoria 
relativos aos fatos narrados na peça acusatória. Ordem denegada.
1. Não há que se falar em inconstitucionalidade do tipo previsto no art. 4º da Lei nº 
7.492/86, considerando ser o referido ilícito de mera conduta, ou seja, aquele que descreve 
apenas o comportamento do agente sem levar em consideração o resultado da ação.
2. Não se pode declarar a inépcia da denúncia que descreve fatos penalmente típicos e 
aponta, como no caso em exame, a conduta dos acusados de forma devidamente individua-
lizada, oferecendo todas as condições para o pleno exercício do direito de defesa.
3. A falta de justa causa para a ação penal só pode ser declarada quando, de pronto, sem 
necessidade de dilação probatória, evidenciar-se a atipicidade do fato, a ausência de indícios 
de autoria capazes de sustentar a acusação ou, ainda, a existência de causa de extinção da 
punibilidade.
4. Ordem denegada.
STJ. HC 38385/RS. Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima. 5ª Turma. Julgamento: 
15/02/2005. Publicação: 21/03/2005.
EMENTA: 1. Prescrição: não consumação: gestão temerária de instituição financeira: 
cuidando-se de crime habitual, conta-se o prazo da prescrição da data da prática do último 
ato delituoso (C. Penal, art. 111, III). 2. Embora a reiteração se tenha iniciado e, assim, 
configurado o delito habitual em junho de 1994, os atos posteriores não constituem mero 
exaurimento, mas também atos executórios que, juntamente com os demais, formam delito 
único. 
STF. HC 87987/RS. Relator Ministro Sepúlveda Pertence. 1ª Turma. Maioria. Julga-
mento: 09/05/2006. Publicação 23/06/2006 PP-00054.
EMENTA: Competência penal: Critérios de determinação: Prevenção, conexão teleoló-
gica e conexão instrumental: Pressupostos. 
1. O apelo ao critério da prevenção pressupõe concurso entre infrações conexas, que, se 
isoladamente consideradas, determinaria, cada uma, a competência de foro diverso: logo, 
se todos os crimes imputados ao agente se consumaram em uma mesma circunscrição terri-
torial, não se pode cogitar da prevenção da competência do foro de outra circunscrição em 
que só teriam ocorrido atos preparatórios. 
2. Conexão teleológica entre a gestão fraudulenta de instituição financeira, consumada 
em São Paulo, sede da empresa, e operações temerárias na bolsa de valores do Rio de Janeiro, 
constitutivas de crime contra a economia popular, atribuídas ao mesmo agente. Conseqüen-
te prevalência do foro federal paulista, em cujo território se deu a infração mais grave, para 
o processo e julgamento de ambas (c. Pr. Pen., art. 78, II, a). 
3. A conexão probatória pressupõe vinculo objetivo entre crimes diversos, de tal modo 
que a prova de uma ou de qualquer de suas circunstancias elementares influa na prova da 
outra. 
4. A verificação da conexão probatória não basta o simples juízo de conveniência da reu-
nião de processo sobre crimes distintos: e preciso que entre elas haja vinculo objetivo – que 
25FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
se insinua por entre as infrações em si mesmas (Xavier de Albuquerque) –, de tal modo que 
a prova de uma influa na da outra (c. Pr. Pen., art. 76, III). Portanto, não se reconhece co-
nexão entre infrações penais paralelas, embora consistentes em idênticas operações na bolsa 
de valores, mas imputadas a grupos distintos, entre os quais não se afirma a existência de 
relação negocial ou comparsaria. 
STF. HC 67769/SP. Relator originário Ministro Celso de Mello. Relator p/ Acór-
dão Ministro Sepúlveda Pertence. 1ª Turma. Maioria. Julgamento: 28/11/1989. Publica-
ção 11/09/1992 PP-14715.
BiBliografia oBrigatória
PRADO, Luiz Regis: Direito Penal Econômico.São Paulo: RT, 2007, pp. 179/187.
Denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal sobre gestão fraudulenta.
BiBliografia complementar
GOMES, Abel Fernandes: Aspectos do tipo penal do art. 4º da Lei nº 7.492/86. In 
GOMES, Abel Fernandes e GAMA, Guilherme Calmon N. da: Temas de Direito 
Penal e Processual Penal. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, pp. 
ativiDaDe complementar
1 – Pesquisar doutrina e jurisprudência sobre comportamentos que caracterizam condu-
tas de gestão fraudulenta, trazendo decisões que veiculem ao menos dois conceitos diferen-
tes e apresentando em sala, no dia da aula. Valor 0,5 ponto.
2 – Pesquisar doutrina e jurisprudência sobre comportamentos que caracterizam condu-
tas de gestão temerária, trazendo decisões que veiculem ao menos dois conceitos diferentes 
e apresentando em sala, no dia da aula. Valor 0,5 ponto.
26FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 08: “caixa Dois”, “empréstimo veDaDo” e “Desvio De finaliDaDe 
De empréstimo”.
introDução
contabilidade paralela
As instituições financeiras devem manter rigorosa escrituração de todas suas operações. 
Não é incomum, entretanto, que determinadas operações sejam escrituradas de forma para-
lela ao controle oficial. A movimentação de uma contabilidade paralela geralmente se presta 
para acobertar condutas criminosas como a sonegação fiscal. Por exemplo, uma instituição 
financeira recebe um determinado valor cujo pagamento não será informado a nenhuma 
autoridade monetária e deixa de registrá-lo na contabilidade oficial a fim de que não incida 
pagamento de imposto sobre o valor recebido. 
A manutenção de uma escrita extra-oficial também pode servir para realizar pagamentos 
de despesas que não podem ser comprovadas, para realizar remessas ou operações cuja exis-
tência se quer esconder, ou ainda para desviar valores prejudicando acionistas minoritários.
Apesar das várias potencialidades lesivas dessa conduta, o crime é considerado por alguns 
autores como de mera conduta, ou seja, prescinde de qualquer prejuízo patrimonial ou 
vantagem ilícita. A redação original do projeto previa expressamente a existência do ele-
mento normativo “com o fim de obter vantagem indevida”, a qual, uma vez vetada, reforça 
tratar-se esse delito de crime de perigo, não se exigindo qualquer resultado material lesivo a 
um bem jurídico determinado, seguindo a lógica de que determinados comportamentos do 
gestor da instituição financeira são perigosos de per si. 
A manutenção da contabilidade paralela é crime exclusivamente no âmbito das insti-
tuições financeiras, já que a Lei nº 7.492/1986 trata dessas instituições e o art. 11 nada 
menciona sobre outras empresas ou pessoas jurídicas que não sejam instituições financeiras 
(como partidos políticos, por exemplo). Por conseguinte, uma empresa comercial ou indus-
trial que mantiver ou movimentar valores sem qualquer registro formal não estará sujeita 
às penas do art. 11. Entretanto, se dessa prática decorrer supressão ou redução de tributo, 
haverá incidência do crime de sonegação fiscal. Da mesma forma, caso a empresa venha a 
manter ou movimentar recursos em desacordo com a legislação por meio de software com 
essa finalidade, haverá a incidência do art. 2º, V, da Lei nº 8.137/1990 (“utilizar ou divulgar 
programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária 
possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública”).
empréstimo vedado
Esse tipo penal criminaliza o empréstimo tomado pelo gestor em sua própria instituição 
financeira. A proibição se estende para outras pessoas (cônjuges, ascendentes, descendentes, 
etc.) e para as instituições cujo controle seja exercido direta ou indiretamente por alguma 
daquelas pessoas.
A apropriação dos bens e valores da instituição financeira pelo gestor, ou o uso de tais 
bens em benefício próprio coloca em risco o bom funcionamento da instituição. Assim, se 
um diretor recebe um empréstimo da empresa em que trabalha, em condições muito mais 
vantajosas do que as existentes no mercado, os demais investidores ficarão prejudicados, seja 
porque deixarão de obter rendimento (caso esse empréstimo fosse feito em condições de 
27FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
mercado ganhariam mais), seja porque a empresa deixará de se comportar como negociante 
(interessada no maior ganho possível) assumindo uma postura de entidade beneficiente no 
que tange aos seus gestores. 
Ademais, tal conduta pode se prestar a promover fraudes na gestão da empresa (como 
no caso do gestor que concede vultoso empréstimo a si próprio, sem exigir garantias para 
tanto, promovendo verdadeira transferência de patrimônio da empresa para si próprio), 
desestabilizando o mercado e minando a confiança das pessoas no funcionamento das ins-
tituições financeiras.
Essa espécie de conduta já era tipificada no art. 177, 1º, III, do Código Penal, rela-
tivamente às sociedades por ações (“III – o diretor ou o gerente que toma empréstimo à 
sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres sociais, sem 
prévia autorização da assembléia geral”). Posteriormente, a Lei nº 4.595/1964, ao tratar 
das instituições financeiras, também criminalizou a concessão de empréstimos ou adian-
tamentos da instituição aos diretores, membros de conselho (consultivo, administrativo, 
fiscal etc.), bem como seus cônjuges ou parentes até o 2° grau (Art. 34 – É vedado às 
instituições financeiras conceder empréstimos ou adiantamentos: I – A seus diretores e 
membros dos conselhos consultivos ou administrativo, fiscais e semelhantes, bem como 
aos respectivos cônjuges; II – Aos parentes, até o 2º grau, das pessoas a que se refere o 
inciso anterior; (...)). Em ambos os casos a pena cominada é de um a quatro anos de re-
clusão e multa.
A Lei nº 7.492/1986 buscou definir outros tipos de comportamento que criassem o 
mesmo tipo de risco, ampliando as condutas incriminadas. Todavia, a péssima técnica le-
gislativa empregada na redação do art. 17 (falha que permeia toda a Lei dos crimes contra o 
SFN), tornou-se um problema para sua aplicação. Vejamos o tipo penal:
Art. 17. Tomar ou receber, qualquer das pessoas mencionadas no art. 25 desta lei, direta 
ou indiretamente, empréstimo ou adiantamento, ou deferi-lo a controlador, a administrador, 
a membro de conselho estatutário, aos respectivos cônjuges, aos ascendentes ou descendentes, 
a parentes na linha colateral até o 2º grau, consangüíneos ou afins, ou a sociedade cujo con-
trole seja por ela exercido, direta ou indiretamente, ou por qualquer dessas pessoas:
Como ampliação das condutas já incriminadas, podemos destacar: a) o acréscimo do 
verbo “deferir” aos já conhecidos “tomar ou receber”; e b) a equiparação de parentes con-
sangüíneos e afins (enteados, cunhados etc.). São condutas equiparadas, ainda, conceder ou 
receber adiantamento de qualquer espécie de pagamento naquelas condições, e promover 
distribuição ou receber lucros de maneira disfarçada.
A péssima redação do art. 17 é um caso à parte. Além dos empréstimos às pessoas físicas, 
a lei proíbe os empréstimos às empresas controladas por qualquer dos parentes nominados, 
bem como por uma entidade misteriosa denominada “ela”. Leia-se mais uma vez o artigo, 
dessa vez com grifos nossos:
Art. 17. Tomar ou receber, qualquer das pessoas mencionadas no art. 25 desta lei, direta 
ou indiretamente, empréstimo ou adiantamento, ou deferi-lo a controlador, a administrador, 
a membro de conselho estatutário, aos respectivos cônjuges, aos ascendentes ou descendentes, 
a parentes na linha colateral até o 2º grau, consangüíneos ou afins, ou a sociedade cujo con-
trole seja por ela exercido, direta ou indiretamente, ou por qualquer dessas pessoas:
Duas hipóteses apresentam-se ao intérprete: 1) preencher o tipo legal, violando os prin-
cípios da proibição de analogia in malampartem, da taxatividade da lei penal e da reserva 
28FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
legal (todos manifestações da segurança jurídica); ou, 2) considerar que esse tipo penal é 
incapaz de servir de base à punição do gestor de uma instituição que toma empréstimo de 
outra, ainda que haja uma relação de controle entre tais instituições.
A conduta, ainda assim, poderia ser punida com base no já referido art. 34, da Lei n° 
4.595/1964, já que além dos incisos I e II, constam ainda como empréstimos proibidos 
aqueles concedidos “III – Às pessoas físicas ou jurídicas que participem de seu capital, com 
mais de 10% (dez por cento), salvo autorização específica do Banco Central da República 
do Brasil, em cada caso, quando se tratar de operações lastreadas por efeitos comerciais re-
sultantes de transações de compra e venda ou penhor de mercadorias, em limites que forem 
fixados pelo Conselho Monetário Nacional, em caráter geral; IV – às pessoas jurídicas de 
cujo capital participem, com mais de 10% (dez por cento); V – às pessoas jurídicas de cujo 
capital participem com mais de 10% (dez por cento), quaisquer dos diretores ou adminis-
tradores da própria instituição financeira, bem como seus cônjuges e respectivos parentes, 
até o 2º grau”. Afinal, embora o art. 17, da Lei n° 7.492/1986 tenha substituído o art. 34, 
da Lei n° 4.595/1964, não há revogação expressa, tendo sido utilizada a expressão genérica 
“revogam-se as disposições em contrário”.
caso
colarinho branco – Dono do Banco santos é indiciado pela polícia federal
Edemar Cid Ferreira, ex-dono do banco Santos foi indiciado nesta quinta-feira (16/6), 
pela Polícia Federal, por crime de colarinho branco, que inclui lavagem de dinheiro, forma-
ção de quadrilha, evasão de divisas, prestação de falsas informações e contabilidade paralela 
(caixa dois).
Também foi indiciado, Ricardo Ferreira, sobrinho de Cid Ferreira, que trabalhava na 
corretora Santo, e outras 18 pessoas envolvidas na quebra do banco. A PF interrogou no 
total, mais de 100 pessoas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O ex-dono do Banco Santos permaneceu no prédio da PF por cerca de meia hora e se 
recusou a responder às perguntas do delegado Ricardo Saad, da Delegacia de Repressão e 
Crimes Financeiros.
O Estado de S. Paulo ouviu o advogado de Cid Ferreira, Arnaldo Malheiros Filho. O 
advogado afirmou que seu cliente não se pronunciará enquanto não tiver conhecimento das 
acusações. A defesa ainda não teve acesso ao inquérito.
Início do caso
O processo de intervenção no Banco Santos começou em maio de 2004. A decisão foi 
tomada tendo em vista que os ativos da instituição não cobrem 50% das dívidas com os 
credores do banco. Pela Lei 6.024, o Banco Central, nesses casos, tem de fazer a liquidação 
da instituição.
Outro motivo que levou à liquidação foi o insucesso das negociações entre os credores 
do banco para viabilizar uma solução que permitisse sua reabertura. De acordo com o BC, 
o Banco Santos tinha em fevereiro um passivo a descoberto de R$ 2,236 bilhões. No início 
do processo de intervenção, o BC estimava que esse passivo a descoberto fosse de aproxima-
damente R$ 703 milhões.
Os correntistas e investidores da instituição, entre eles várias prefeituras, fundos de pen-
são e empresas, têm poucas chances de reaver seus depósitos, já que o controlador do banco 
não tem ativos suficientes para cobrir o débito.
29FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Desde dezembro, a consultoria Valora, contratada por Edemar Cid Ferreira, tentava cos-
turar um acordo entre o controlador e os credores. Com a liquidação, o Ministério Público 
Federal em São Paulo deve propor uma ação de responsabilidade sobre a quebra do banco. 
Ferreira poderá ser responsabilizado criminalmente.
Desde a intervenção, descobriu-se uma série de irregularidades, Várias operações obs-
curas de concessão de empréstimos a empresas em dificuldades financeiras no Brasil foram 
feitas em troca de compra de papéis e investimentos nas empresas sediadas em paraísos 
fiscais. Descobriu-se também que os bens mais valiosos do banqueiro, como sua mansão no 
bairro do Morumbi, avaliada em R$ 50 milhões, estavam em nome de empresas situadas 
em paraísos fiscais.
Na maioria das empresas, a mulher do banqueiro, Márcia Cid Ferreira, aparece como a 
principal executiva. Pouco antes de o BC intervir em seu banco, Ferreira iniciou uma am-
biciosa operação para transformá-lo num banco de varejo.
Fonte: Revista Consultor Jurídico, 17 de junho de 2005
http://conjur.estadao.com.br/static/text/35572,1
jurispruDência
EMENTA: Decisão – Inquérito – Ausência de indícios de crime – Manifestação do 
Ministério Público – Arquivamento. 1. Após transcrever depoimentos, o Ministério Público 
ressalta: Como se conclui, não há elementos que comprovem a existência do apontado Cai-
xa-2. Significa, o Caixa-2, uma contabilidade paralela, com desvio de verbas regularmente 
recebidas, que deixam de ser lançadas na contabilidade oficial. Embora cognominando as 
apontadas irregularidades como Caixa-2, o próprio denunciante esclareceu que desejava 
se referir a que o denunciado vinha fazendo campanha eleitoral cara e que, certamente, 
estaria recebendo financiamento de empreiteiras ou outros fornecedores da Prefeitura. As 
imputações são algo vagas, cumprindo salientar aqui que os gastos de campanha eleitoral 
estão sujeitos à fiscalização da própria Justiça Eleitoral. Não há no caso qualquer prova de 
possíveis crimes – contabilidade paralela, com desvio de recursos públicos ou recebimento 
de vantagem em razão da função – motivo pelo qual peço o arquivamento do Inquérito 
(folhas 98 e 99). 2. A manifestação do titular da ação penal, tendo em conta encontrar-se a 
peça subscrita pelo Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Haroldo Ferraz da Nóbrega, 
com o “aprovo” do Procurador-Geral, Dr. Geraldo Brindeiro, surge irrecusável. 3. Arquive-
se este inquérito. 4. Publique-se. 
STF. Inq 1173/PR. Relator Ministro Marco Aurélio. Decisão monocrática. Julgamento: 
01/11/2000. Publicação: 28/11/2000 PP 00042.
BiBliografia oBrigatória
PRADO, Luiz Regis: Direito Penal Econômico. São Paulo: RT, 2007, pp. 209/211 e 
228/235 e 242/243.
BATISTA, Nilo: Empréstimos Ilícitos na Lei 7.492/86. In Temas de Direito Penal 
Econômico. São Paulo: RT, 2000.
MALHEIROS FILHO, Arnaldo:Crime contra o Sistema Financeiro: as “triangu-
lações” e a “doutrina da estrada de Santos”. In Revista do Advogado nº 10, pp. 
30/39.
30FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
BiBliografia complementar
TÓRTIMA, José Carlos: Crimes contra o sistema financeiro nacional – uma contri-
buição ao estudo da Lei nº 7.492/86. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, pp 95/98 
e 119/127.
BALTAZAR JUNIOR, José Paulo: Crimes Federais. Porto Alegre: Livraria do Advo-
gado, 2006, pp. 295/297 e 301/304.
BALTAZAR JR., José Paulo: Breves considerações sobre o ‘caixa dois’ na lei dos crimes 
contra o sistema financeiro. Revista CEJ nº 10. CEJ, 2000.
ativiDaDe complementar
1 – Redigir uma decisão enfrentando as questões trazidas pelo texto de apoio (trecho de 
um habeas corpus) que será distribuído em sala no dia da aula.
31FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aulas 09 e 10: a famigeraDa evasão De Divisas.
introDução
Há duas modalidades do crime de evasão de divisas. A primeira, prevista no caput do 
art. 22, da Lei nº 7.492/1986, está consubstanciada na saída de divisas do país mediante 
operação de câmbio não autorizada. Por sua vez, o parágrafo único prevê como formas 
equiparadas do crime: a) a saída de moeda ou divisa para o exterior, a qualquer título; e, 
b) a manutenção de depósito no exterior, não declarado à repartição federal competente. 
Mais uma vez a péssima técnica legislativa empregada na Lei nº 7.492/1986 se fez presente, 
misturando em um único tipo penal condutas absolutamentediferentes.
O bom funcionamento do SFN é afetado quando as operações cambiais são realizadas à 
revelia do Banco Central, sobretudo porque o controle e o equilíbrio das reservas cambiais 
são essenciais para a estabilidade econômica.
Como veremos nos artigos doutrinários que compõem essa aula, os intérpretes da Lei 
nº 7.492/1986 enfrentam questões complicadas. Há diversas situações em que o numerário 
não deixa o país e mesmo assim o crime resta configurado (evasão de divisas sem saída física 
dos valores) e casos em que há saída de valores em desacordo com norma de autorização, 
mas não se pode falar em evasão de divisas. 
As hipóteses mais espinhosas para o aplicador da norma penal são aquelas que envolvem 
operações de importação e exportação, cujos contratos de câmbio não são honrados ou são 
fraudulentos. Haveria evasão de divisas na conduta do exportador que não internaliza o di-
nheiro recebido pelas mercadorias exportadas, ou seja, é possível equiparar a saída de divisas 
da sua “não-entrada” no SFN? 
caso
operação farol Da colina – pf abre inquérito contra 3.500 por evasão de divisas
A Polícia Federal vai abrir inquérito contra 3.500 pessoas e empresas suspeitas de fazer 
remessas ilegais para os Estados Unidos entre 1999 e 2002. Os alvos das investigações são 
políticos, empresários, artistas, jogadores de futebol e servidores públicos. 
Na lista estão o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity (suspeito também de cone-
xões com o “valerioduto”), a apresentadora Xuxa Meneguel e o jogador Romário. Também 
há parlamentares citados; no caso deles, a PF terá de pedir autorização do Supremo Tribunal 
Federal para abrir inquérito. 
Os acusados fizeram remessas que variaram entre US$ 30 mil a mais de US$ 20 milhões, 
através de uma espécie de sistema financeiro clandestino, que movimentou mais de US$ 
20 bilhões entre 1997 e 2002. As operações empregaram doleiros que administravam 40 
subcontas da Beacon Hill, uma superconta aberta pelo guatemalteco Anibal Contreras no 
JP Morgan, de Nova York. As subcontas eram administradas por cem doleiros brasileiros. 
rastreamento durou 13 meses
Na Operação Farol da Colina, deflagrada no dia 17 de agosto do ano passado, a PF pren-
deu 70 dos 123 maiores doleiros do país, supostamente envolvidos com as remessas ilegais. A 
32FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
partir daí, a PF e a Receita Federal começaram a identificar as 8.500 pessoas e empresas clien-
tes destes doleiros. Para facilitar o trabalho, a PF concentrou as investigações só nos autores de 
remessas acima de US$ 30 mil. A Receita está atuando sobre aqueles que enviaram dinheiro a 
partir de 1999. Os crimes fiscais anteriores a esta data estão prescritos. 
A Receita também preparou uma lista de 200 servidores que recorreram a doleiros para 
mandar dinheiro para o exterior. A suspeita é que vários deles fizeram remessas incompatí-
veis com rendimentos declarados. A PF também deverá abrir inquérito contra esse grupo. 
maioria dos suspeitos é de são paulo
Os investigados são suspeitos de evasão de divisas, sonegação fiscal e lavagem de dinhei-
ro e serão chamados para depor ao longo desse mês. Boa parte dos suspeitos já está sendo 
chamada para dar explicações à Receita e pagar multas e impostos devidos. As ordens para 
abertura de inquérito partiram da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros da PF, em 
Brasília, encarregada da investigação iniciada com a Operação Farol da Colina (tradução de 
Beacon Hill). 
A divisão pediu a abertura de 2.200 inquéritos em São Paulo, 720 no Rio de Janeiro e 
300 em Minas Gerais. Também foram requisitadas investigações no Amazonas, em outros 
estados e no Distrito Federal. 
a maior lavanderia do mundo
A Beacon Hill foi desativada em 2002, depois de uma devastadora investigação da Pro-
motoria Pública de Nova York contra o crime organizado nos EUA. A superconta foi inves-
tigada pela CPI do Banestado e é apontada por autoridades brasileiras e americanas como a 
maior lavanderia de dinheiro do mundo. 
Pelo sistema dólar-cabo, o interessado em remeter dinheiro para o exterior repassa os 
recursos para um doleiro no Brasil. No mesmo dia, o doleiro faz um depósito correspon-
dente na conta indicada pelo interessado no exterior. Em geral, as contas dos doleiros nos 
Estados Unidos eram abastecidas por dólares que brasileiros queriam mandar para o Brasil 
sem passar pelos canais oficiais. 
Fonte: Diário vermelho. 1º de outubro de 2005.
http://www.vermelho.org.br/diario/2005/1001/1001_farolcolina.asp
jurispruDência
EMENTA: Criminal. RHC. Crime contra o sistema financeiro nacional. Lei 7.492/86. 
Art. 6º e 22. Efetuar operação de câmbio não-autorizada e induzir em erro repartição pú-
blica por sonegar informação da operação. Trancamento da ação. Inépcia da denúncia. De-
ficiência da peça e prejuízo à defesa não-demonstrados. Ausência de justa causa não eviden-
ciada. Tipicidade. Matéria decidida na esfera administrativa. Independência das instâncias. 
Recurso desprovido.
I. Eventual inépcia da denúncia só pode ser acolhida quando demonstrada inequívoca 
deficiência a impedir a compreensão da acusação e em flagrante prejuízo à defesa do réu.
II. A falta de justa causa para a ação penal só pode ser reconhecida quando, de pronto, 
sem a necessidade de exame valorativo do conjunto fático ou probatório, evidencia-se a ati-
picidade do fato, a ausência de indícios a fundamentarem a acusação ou, ainda, a extinção 
da punibilidade, os quais devem ser demonstrados de plano.
33FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
III. As pessoas jurídicas que realizam operações de câmbio equiparam-se, pelo art. 1º, 
inc. I, da Lei nº 7.492/86, e para os efeitos da lei, às instituições financeiras.
IV. O delito do art. 22 da Lei nº 7.492/86 configura crime comum e sujeita todo agente 
que faça operação de câmbio não autorizada, visando à evasão de divisas.
V. A evasão não pressupõe, necessariamente, a saída física do numerário, consistindo, de 
fato, no prejuízo às reservas cambiais brasileiras, independentemente de estar entrando ou 
saindo o dinheiro do País.
VI. A declaração de nulidade do procedimento administrativo – que não caracterizou 
ausência de responsabilidade, não implica no reconhecimento da inexistência de fato típico, 
tendo em vista a independência das instâncias administrativa, civil e penal.
VII. É descabida a alegada ocorrência da excludente do exercício regular de um direito 
se evidenciado que o paciente não poderia desconhecer as regras do procedimento de co-
mercialização da moeda.
VIII. Recurso desprovido.
STJ. RHC 9281/PR. Relator Ministro Gilson Dipp. Quinta Turma. Julgamento 
13/09/2000. Publicação 30/10/2000.
EMENTA: Criminal. HC. Crimes contra o sistema financeiro nacional. Inépcia da de-
núncia verificada em relação ao crime de evasão de divisas. Adequação da exordial no to-
cante ao delito de manutenção de depósito não declarado no exterior. Ordem parcialmente 
concecida.
I. Hipótese na qual o paciente foi denunciado pela suposta prática de crimes contra o 
sistema financeiro nacional, nas modalidades de evasão de moeda ou divisa do país, sem 
autorização legal e manutenção de depósitos não declarados no exterior.
II. A inexistência absoluta de elementos hábeis a descrever a relação entre a suposta 
evasão de divisas e a conduta do réu ofende o princípio constitucional da ampla defesa, 
tornando inepta a denúncia.
III. Apesar de descritas em um mesmo dispositivo legal – o parágrafo único do art. 22 da 
Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – a evasão de divisas e a manutenção 
de depósitos não declarados no exterior são condutas diversas, cada uma delas demandando 
descrição diferenciada pelo Órgão Acusador, que deve relatar, individualmente, seus fatos e 
circunstâncias próprios.
IV. Inexistindo censura quanto à denúncia no tocante à descrição dos fatosreferentes 
à prática de manutenção de depósitos não declarados no exterior e sobressaindo que o pa-
ciente dele se defendeu durante toda a instrução, revelando, assim, a adequação da inicial 
ministerial, neste ponto, o pedido de nulidade da ação penal deve prosperar somente no 
tocante ao crime de evasão de divisas, cuja inépcia da exordial acusatória se verifica.
V. Averiguada a independência de narrativa das condutas imputadas ao paciente, e cons-
tatada a inépcia da peça acusatória somente quanto a uma delas, nada obsta o trancamento 
parcial da denúncia. Precedentes da Turma.
VI. Writ que deve ser parcialmente concedido para reformar o acórdão recorrido e a 
sentença por ele confirmada, para excluir a condenação pela prática do crime de evasão de 
divisas, permanecendo, a condenação pelo crime de manutenção de depósito não declarado 
à repartição federal competente, sem prejuízo de que outra denúncia seja oferecida quanto 
o delito de evasão de divisas.
VII. Ordem parcialmente concedida, nos termos do voto do relator.
STJ – HC 48969/DF. Relator Ministro Gilson Dipp. 5ª Turma. Unânime. Julgamento: 
17/10/2006. Publicação: 13.11.2006 p. 276.
34FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
EMENTA: Administrativo. Entrada de moeda estrangeira no país. Apreensão pelo fisco. 
Impossibilidade. Violação ao art. 22, parágrafo único, da lei n. 7.492/86. Não ocorrência.
1. O art. 17 do Decreto n. 42.820/57 autoriza a entrada de moeda estrangeira no país.
2. A mera conduta de ingressar no território nacional com moeda estrangeira não confi-
gura o delito a que se refere o art. 22, parágrafo único, da Lei n. 7.492/86.
3. Recurso não-provido.
STJ. Resp 189144/PR. Relator Ministro João Otávio de Noronha. 2ª Turma. Unânime. 
Julgamento: 17/02/2005. Publicação: 21.03.2005 p. 302.
EMENTA : Recurso Especial. Penal. Crime contra o Sistema Financeiro Nacional. Ope-
ração de câmbio. Autorização do BACEN viciada. Utilização de documentação falsa. Eva-
são de divisas. Incidência do art. 22 da lei n.º 7.492/86.
1. A operação de câmbio submetida ao BACEN, e que foi autorizada, nunca existiu. Os 
documentos apresentados para ilustrar uma pretensa transação comercial de importação 
eram falsos.
2. Por outro lado, concretizou-se, sim, uma transferência de divisas para fora do País 
(quase quatro milhões de dólares americanos) completamente desprovida de legalidade, 
porquanto não estava vinculada a qualquer operação de câmbio regularmente autorizada. 
Incidência do art. 22 da Lei n.º 7.492/86.
3. Recurso conhecido e provido.
STJ. Resp 411522/SP. Relatora Ministra Laurita Vaz 5ª Turma. Unânime. Julgamento: 
09/03/2004. Publicação: 15.03.2004 p. 291.
questões
11° Concurso de Juiz Federal Substituto da 4º Região (2004)
Assinalar a alternativa correta.
Alfredo, cidadão brasileiro, residente em São Paulo, após adquirir cem mil dólares 
norte-americanos em Curitiba-PR no “câmbio paralelo”, viaja para o Paraguai, via Foz 
do Iguaçu, para depositar o dinheiro em um banco sediado em um “paraíso fiscal”, 
mas com agência naquele país vizinho, integrante do Mercosul. Alfredo é preso na 
Ponte da Amizade, quando tentava cruzar a fronteira entre o Brasil e o Paraguai, sem, 
no entanto, declarar às autoridades a existência do dinheiro que portava.
a) Alfredo cometeu apenas o crime de manter depósitos não declarados à repartição 
federal competente, na forma tentada.
b) Alfredo cometeu o crime de evasão de divisas na forma tentada, porque a moeda 
não chegou a sair do Brasil.
c) Alfredo não cometeu o crime de evasão de divisas, porque a moeda não saiu do País.
d) Alfredo consumou o crime de evasão de divisas, mesmo que a moeda não tenha 
saído do Brasil.
BiBliografia oBrigatória
PRADO, Luiz Regis: Direito Penal Econômico. São Paulo: RT, 2007, pp. 247/252.
BATISTA, Nilo: Consumação e tentativa no crime de evasão de divisas. In Estudos 
criminais em homenagem a Evandro Lins e Silva. São Paulo: Método, 2001.
35FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
NUNES, Ricardo Pieri: Evasão de divisas? In Revista Brasileira de Ciências Criminais, 
n° 62. São Paulo: RT, 2006, pp. 134/177.
BiBliografia complementar
SCHMIDT, Andrei Zenker e FELDENS, Luciano: O crime de evasão de divisas: a 
tutela penal do Sistema Financeiro Nacional na perspectiva da política cambial bra-
sileira. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.
BALTAZAR JUNIOR, José Paulo: Crimes Federais. Porto Alegre: Livraria do Advo-
gado, 2006, pp. 322/328.
TORTIMA, José Carlos e TÓRTIMA, Fernanda Lara: Evasão de divisas – uma Críti-
ca ao conceito territorial de saída de divisas. Lumen Juris, 2006.
ativiDaDe complementar
1. Pesquisar doutrina e jurisprudência sobre o momento consumativo das diferentes 
modalidades do crime de evasão de divisas, apresentando em sala, no dia da aula. 
Valor 0,5 ponto.
2. Pesquisar doutrina e jurisprudência sobre criminalização, na forma do tipo penal de 
evasão de divisas, do comportamento de não introduzir no Brasil o recurso obtido 
no exterior, apresentando em sala, no dia da aula. Valor 0,5 ponto.
36FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aulas 11 e 12: rouBou muito? prenDe logo! a Decretação De prisão 
preventiva em razão Da magnituDe Da lesão (art. 30 Da lei 
nº 7.492/1986).
introDução
A teoria geral do processo classifica os provimentos judiciais em cognitivo, executório 
e cautelar. O processo de conhecimento destina-se à resolução do litígio que é apresentado 
ao juiz. Nele, as partes apresentam suas postulações e produzem prova de suas alegações, 
buscando influir no convencimento do juiz, o qual, ao final proferirá a sentença, julgando 
procedente ou improcedente a demanda. O processo de execução visa dar efetividade, no 
mundo dos fatos, à sentença que julgou o processo de conhecimento. Finalmente, o provi-
mento cautelar tem por objeto a adoção de medidas urgentes e provisórias que garantam a 
utilidade da sentença que será proferida no processo de conhecimento. 
O provimento cautelar terá, portanto, sempre relação de instrumentalidade com o pro-
cesso principal, podendo ser exarado no próprio feito ou em processo autônomo. Trata-se 
de uma medida judicial deferida contra uma das partes em juízo de cognição sumária. Even-
tualmente, ao final, a sentença poderá ser proferida em favor da parte que sofreu restrições 
em decorrência da medida cautelar deferida no curso do processo. 
A grande maioria dos crimes tipificados na legislação brasileira é punido com penas 
privativas de liberdade. Para aplicar a pena de prisão é necessária a existência de uma con-a pena de prisão é necessária a existência de uma con-
denação definitiva, proferida após o devido processo legal. No entanto, a prisão poderá ser 
utilizada pelo Estado sem a natureza de pena, mas como uma medida cautelar. 
Considerando que a liberdade dos indivíduos é a regra e a prisão uma exceção, a lei 
prevê de forma taxativa as hipóteses em que a liberdade individual de um indivíduo ainda 
não considerado culpado poderá ser suprimida. Os pressupostos cautelares são o periculum 
libertatis e fumus comissi delicti, significando, respectivamente, o perigo na liberdade do 
indivíduo e a presença de indícios (fumaça) da prática do crime.
A prisão preventiva é a mais importante e mais largamente utilizada forma de prisão ins-
trumental do direito brasileiro. O dispositivo legal que prevê esse tipo de prisão é também 
bastante claro no que tange à natureza cautelar desse tipo de restrição à liberdade de locomo-
ção. A preventiva poderá ser decretada tanto na fase de investigação como durante a instrução 
criminal e seus pressupostos estão presentes no artigo 312 do Código de Processo Penal, in 
verbis: “Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantida da ordem pública, 
da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da 
lei penal, quandohouver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria”.
O primeiro conceito de periculum libertatis, apreendido da expressão “garantia da ordem 
pública” é também um dos mais criticados por sua vagueza. Muitas vezes a ordem pública 
é confundida com clamor público, quando na realidade são coisas absolutamente distintas. 
Um fato que afeta a ordem pública deve, necessariamente, criar uma sensação de intranqüi-
lidade na população, um abalo na confiança de que o governo será capaz de manter a ordem 
e o funcionamento normal de suas vidas.
A confusão de ordem pública com clamor público é comum em casos de grande reper-
cussão. Os meios de comunicação exploram o poder de alavancagem de vendas ou de au-
diência de grandes escândalos públicos e, às vezes, transformam indícios de irregularidades 
em provas irrefutáveis de crimes. Quando esse tipo de notícia envolve políticos ou órgãos 
públicos (já vistos com desconfiança pela população), é muito comum a criação de um 
clamor público pedindo a imediata prisão dos suspeitos. No entanto, um desvio de verbas 
37FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
num órgão público não tem o condão de intimidar a população ou abalar a ordem, sobretu-
do se o responsável for afastado do cargo, o que impediria uma possível repetição do crime. 
Trata-se, no mais das vezes, de um desejo de punição imediata, o qual é incompatível com a 
ordem jurídica brasileira e com a ordem jurídica de qualquer democracia constitucional que 
garanta aos seus cidadãos a presunção de inocência como garantia fundamental. 
As mesmas observações aplicam-se ao conceito de ordem econômica. Uma coisa é o risco 
causado ao equilíbrio da ordem econômica por práticas que afetem o funcionamento nor-
mal do mercado, outra bem diferente é a indignação das pessoas com a notícia de um crime. 
Afinal, a lei não prevê (e nem poderia) como critério para restrição da liberdade individual 
a “indignação popular, medida a partir dos meios de comunicação”. A lei 7.492/1986, que 
tipifica os crimes contra o sistema financeiro nacional, prevê que os suspeitos da prática dos 
crimes ali previstos poderão ser preventivamente presos, sem prejuízo do disposto no art. 
312, também em razão da “magnitude da lesão causada”. 
Trata-se de previsão em flagrante contradição com o fundamento cautelar da prisão, 
bem como com o princípio da presunção de inocência, pois condiciona a restrição da li-
berdade a aspectos que dizem respeito ao próprio mérito da causa. Nas hipóteses de crimes 
envolvendo grandes somas de dinheiro, muito mais eficientes serão as medidas constritivas 
de patrimônio (como, por exemplo, o bloqueio de ativos financeiros).
Ademais, a decretação de uma prisão cautelar em situações em que não estão presentes os 
requisitos cautelares se presta como simulacro de segurança, explora o desejo da população 
de que o sistema financeiro funcione com segurança e de que suspeitos sejam presos. Ocor-
re que essa prisão que não garante a segurança nas operações financeiras, a qual só advém 
de uma rigorosa e competente fiscalização das instituições financeiras, tarefa muitas vezes 
cumprida de modo displicente pelas autoridades monetárias.
caso
stj nega habeas corpus a nicolau – por 3 votos contra 1, a 6ª turma do stj decidiu que 
ele deve permanecer preso
O juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto fracassou na tentativa de se livrar da prisão 
por meio de habeas corpus no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Por 3 votos contra 1, a 6ª 
turma do STJ decidiu que ele deve permanecer preso. 
Pesou na decisão o receio dos ministros de que a eventual libertação colocasse a opinião 
pública contra o Poder Judiciário e comprometesse a credibilidade da Justiça, por se tratar 
de um juiz, ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. 
Para justificar esse receio, o relator do recurso, ministro Fernando Gonçalves, disse que 
“o Judiciário não pode nem deve ficar alheio aos fatos” e que precisa deixar de ser “expec-
tador inerte”. 
O único voto favorável a Nicolau foi do ministro Fontes de Alencar. Os outros três 
ministros que participaram do julgamento consideraram que o relaxamento da ordem de 
prisão representaria ameaça à ordem pública. Também votaram a mantê-lo na prisão os 
ministros Vicente Leal e Hamilton Carvalhido. 
Nicolau teve a prisão preventiva decretada no final de abril pelo juiz da 1ª Vara Federal 
de São Paulo, Casem Mazloum, e ficou sete meses foragido. Desde a última sexta-feira, está 
preso no prédio da carceragem da Polícia Federal em Higienópolis (região central de São 
Paulo). 
38FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
O seu advogado, Alberto Zacharias Toron, entrou com o habeas corpus no STJ em se-
tembro último, quando o cliente ainda estava foragido. Na época, o relator negou pedido 
de liminar. Ontem foi julgado no mérito. 
Os principais argumentos apresentados por ele são: cerceamento do direito de defesa, 
competência do próprio STJ e não da primeira instância para processar criminalmente o 
juiz aposentado e ilegalidade da prisão preventiva. 
O relator afirmou que a prisão preventiva havia sido decretada corretamente com base 
na ameaça de perturbação da ordem pública e ponderou que a “magnitude da lesão”, ou 
seja, o volume do recurso desviado justificava a prisão preventiva. 
Fernando Gonçalves citou, em dois momentos, a suspeita de envolvimento de “altos 
elementos da República” e foi o primeiro a fazer considerações sobre o risco de a eventual 
libertação abalar a imagem da Justiça. 
“A garantia da ordem pública não se resume a evitar que outros crimes ocorram (com a 
prisão preventiva). É também resguardar a credibilidade das instituições públicas”. 
O ministro Fontes de Alencar, que votou pela libertação de Nicolau, considerou que a 
prisão representaria condenação prévia, o que fere o princípio da Constituição pelo qual 
qualquer pessoa é considerada inocente até que haja sentença condenatória de caráter de-
finitivo. 
A prisão preventiva é admitida em situações específicas. Ela pode ser decretada, por 
exemplo, se o réu estiver dificultando a investigação ou se a sua liberdade representar amea-
ça à ordem pública, mas não é permitida como instrumento de condenação prévia.
Diário de Cuiabá – Edição nº 9808 13/12/2000 
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=33133&edicao=9808&anterior=1
jurispruDência
EMENTA: Criminal. HC. Quadrilha. Falsificação de selo ou sinal público. Crimes 
contra a ordem tributária e sistema financeiro nacional. Prisão preventiva. Observância 
do princípio da presunção de inocência ou da não culpabilidade. Interpretação restritiva 
dos requisitos. Ausência de concreta fundamentação. Gravidade dos delitos. Circunstâncias 
subsumidas no tipo. Prova da materialidade e
Autoria. Motivação inidônea a respaldar a custódia. Magnitude da lesão. Falta de vín-
culo com os requisitos cautelares. Necessidade da custódia não demonstrada. Condições 
pessoais favoráveis. ordem concedida.
I. A prisão preventiva é medida excepcional e deve ser decretada apenas quando devi-
damente amparada pelos requisitos legais, em observância ao princípio constitucional da 
presunção de inocência ou da não culpabilidade, sob pena de antecipar a reprimenda a ser 
cumprida quando da condenação.
II. Cabe ao Julgador, ao avaliar a necessidade de decretação da custódia cautelar, inter-
pretar restritivamente os pressupostos do art. 312 do Código de Processo Penal, fazendo-se 
mister a
configuração empírica dos referidos requisitos.
III. O juízo valorativo sobre a gravidade genérica dos delitos imputados ao paciente, 
bem como a existência de prova da autoria e materialidade dos crimes, não constituem fun-
damentação idônea a autorizar a prisão para garantia da ordem pública, se desvinculados de 
qualquer fator concreto.
IV. Aspectos que devem permanecer alheios à avaliação dos pressupostosda prisão pre-
ventiva.
39FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
V. As afirmações a respeito da gravidade do delito trazem aspectos já subsumidos no 
próprio tipo penal.
VI. O art. 30 da Lei 7.492/86, ao mencionar a magnitude da lesão supostamente causa-
da pela prática, em tese, criminosa, não dispensa, para a imposição da custódia cautelar, os 
requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal.
VII. A existência de indícios de autoria e prova da materialidade e a gravidade do crime 
não são dotadas de cautelaridade, motivo pelo qual não configuram o requisito “garantia da 
ordem pública”, como já anteriormente ressaltado.
VIII. A magnitude da lesão, por si só e sem vínculo com os requisitos do art. 312 da Lei 
Processual Adjetiva, não é capaz de respaldar a custódia cautelar.
IX. Precedentes do STF e do STJ.
X. Condições pessoais favoráveis, mesmo não sendo garantidoras de eventual direito à 
liberdade provisória, devem ser devidamente valoradas, quando não demonstrada a presen-
ça de requisitos que justifiquem a medida constritiva excepcional.
XI. Deve ser cassado o acórdão recorrido, bem como o decreto prisional, para revogar 
a prisão preventiva do paciente, determinando-se a imediata expedição de alvará de soltura 
em seu favor, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo de que venha a ser decre-
tada novamente a custódia, com base em fundamentação concreta.
XII. Ordem concedida, nos termos do voto do Relator.
STJ. HC 47712/RJ. Relator Ministro Gilson Dipp. 5ª Turma. Unânime. Julgamento: 
13/12/2005. Publicação: 01/02/2006 p. 584.
EMENTA: Habeas Corpus. Prisão preventiva. Crime contra o sistema financeiro. La-
vagem de dinheiro. Quadrilha. Operação “farol da colina”. Magnitude da lesão. Autoria e 
indícios demonstrados. Pretensão de revogação. Requisitos da custódia atendidos. Proteção 
da ordem pública e econômica e da instrução.
I – A prisão se mostra justificada quando o julgador demonstra os indícios e a autoria, 
bem assim, a necessidade de proteção da ordem pública e econômica, tendo em vista a mag-
nitude da lesão ao sistema financeiro.
II – O temor relativo à fuga deve receber, em certos casos que envolvem pessoas de 
considerável poder econômico, influência não só da ação direta do acusado, mas da experi-
ência de outros casos e, principalmente, das dificuldades presentes em se fazer cumprir uma 
ordem de prisão em situações de grande vulto. 
III – Ordem denegada.
STJ. HC 40818/RJ. Relator Ministro José Arnaldo da Fonseca. 5ª Turma. Unânime. 
Julgamento: 17/03/2005. Publicação: 11.04.2005 p. 350.
questões
TRF-2 – 9º Concurso para Juiz Federal Substituto – 1ª Prova Escrita – 47ª Questão
Depois de longa investigação policial, descobre-se que o diretor Y de um banco privado 
havia informado falsamente a um jornalista que a instituição financeira oficial X, que es-
tava para ser privatizada, tinha um passivo a descoberto na ordem de R$ 600.000.000,00 
(seiscentos milhões de reais). Em decorrência desta notícia, a cotação das propostas de 
sua compra no pregão sofre um deságio na ordem de 40% do valor real. Diante disso, o 
MPF denuncia-o pelo crime do art. 3º da Lei 7.492/86 e pede ao Juiz Federal sua prisão 
preventiva. Atendendo ao pedido do MPF o juiz assim despacha: “Verifico da promo-
ção do MPF que efetivamente estão presentes os elementos referidos no art. 30 da lei 
40FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
7.492/86. Por isso, decreto a prisão preventiva do acusado Y”. Inconformado com a 
decisão, o patrono do acusado impetra em seu favor habeas corpus, argumentando que 
a prisão era ilegal. Explique sucintamente se a prisão é legal ou ilegal.
8º Concurso Público para Provimento de Cargos de Juiz Federal Substituto da 5ª Região
Marque “c” (certo) ou “e” (errado) para a assertiva abaixo
Considere que um indivíduo seja acusado de praticar crime contra o Sistema Financeiro 
Nacional (SFN). Nesse caso, poderá ser decretada a prisão preventiva desse indivíduo em 
razão da magnitude da lesão causada, se, havendo prova da existência do crime e indícios 
suficientes de autoria, restar demonstrado que a liberdade do acusado poderá comprometer 
a segurança do SFN. ( ) 
BiBliografia oBrigatória
Habeas Corpus nº 80.717, julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
Habeas Corpus nº 80.719, julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
BiBliografia complementar
DELMANTO JUNIOR, Roberto: As modalidades de prisão provisória e seu prazo de 
duração, 2ª ed., Renovar, RJ, 2001, pp. 50/76.
SANGUINÉ, Odone. A inconstitucionalidade do clamor público como fundamen-
to da prisão preventiva. In Boletim IBCCRIM. São Paulo, n. 107, p. 29-31, out. 
2001.
ativiDaDe complementar
1. Pesquisar conceito de garantia da ordem pública na jurisprudência do STJ e STF, 
trazendo ao menos três definições distintas e apresentando em sala, no dia da aula. 
Valor 1,0 ponto. 
2. Pesquisar conceito de garantia da ordem econômica na jurisprudência do STJ e STF, 
trazendo ao menos três definições distintas e apresentando em sala, no dia da aula. 
Valor 1,0 ponto.
41FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 13: crimes contra o mercaDo De capitais: manipulação De 
cotações em Bolsas, uso De informação privilegiaDa e 
atuação irregular no mercaDo De capitais.
introDução
Bolsa de valores
As bolsas de valores são instituições administradoras de mercados. Atualmente, as bolsas 
brasileiras são empresas constituídas sob a forma de S.A. (antigamente eram associações 
civis sem fins lucrativos). Seu objetivo é reunir as corretoras e proporcionar a negociação de 
títulos e valores mobiliários. Para tanto, a bolsa de valores viabiliza e organiza o local onde 
ocorrerão as transações com os valores mobiliários, chamado pregão. As bolsas são, portan-
to, locais onde se compram e se vendem as ações de companhias. 
A corretora de valores é uma instituição financeira credenciada pelo Banco Central e 
pela CVM para, entre outras atividades, negociar valores mobiliários. As corretoras atuam 
nas bolsas de valores às quais pertencem. Uma corretora passa a integrar a bolsa de valores 
quando adquire títulos da sociedade, adquirindo o direito, por conseguinte, de negociar os 
títulos no pregão. Os investidores particulares que desejarem adquirir ou vender ações ou 
outros títulos deverão fazê-lo por meio de uma corretora associada. As corretoras de valores 
agem como intermediárias na compra e venda de ações, cobrando uma taxa de 2% do valor 
da operação realizada. 
A compra e venda de ações funciona como um leilão, em que os interessados em vender 
determinados títulos os oferecem a todas as demais corretoras. Normalmente, as bolsas de 
valores proporcionam sistemas informatizados que os corretores operam para realizar os 
negócios. Em razão do fluxo de oferta e procura de cada ação, obtém-se o preço de mer-
cado de determinado papel. Além da oferta/procura por determinada ação, outros fatores 
influenciam a forma pela qual ocorre o processo de valorização ou desvalorização de uma 
ação, como por exemplo: as expectativas com relação ao futuro da empresa emissora da 
ação (se historicamente determinada empresa vem crescendo, suas ações tornam-se mais 
valorizadas), o desempenho financeiro em um determinado exercício (a divulgação do 
balanço da empresa com dados favoráveis é fator que eleva o preço das ações, e vice-versa), 
além de outros episódios que possam influenciar o desempenho da empresa emissora da 
ação (fusão de companhias, mudanças tecnológicas, enfraquecimento de empresas concor-
rentes etc.).
Além de seu papel básico, que é promover e facilitar a negociação de ações de compa-
nhias, as bolsas de valores têm funções de interesse público, como fiscalizar os serviços rea-
lizados pelas corretoras que as compõem, promover a divulgação constante de informações 
sobre as empresas e sobre os negócios que se realizam na bolsa, bem comogarantir os negó-
cios ali realizados. Essa última função é fruto da manutenção de um fundo de garantia cuja 
finalidade é assegurar aos investidores o ressarcimento de prejuízos (até o limite existente no 
fundo). As perdas compensadas pelo fundo de garantia são apenas aquelas decorrentes de 
erros ou fraudes realizadas pelas corretoras integrantes da bolsa ou algum de seus emprega-
dos, relativamente às ordens de compra ou venda de títulos negociados na bolsa.
42FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
ações
As ações são títulos nominativos negociáveis que representam a menor fração do capital 
social de uma sociedade anônima ou companhia. Quando um investidor adquire ações de 
uma empresa torna-se co-proprietário, participando dos seus resultados e da sua gestão, 
conforme as características do título que possui. Basicamente, as ações são ordinárias (ON) 
ou preferenciais (PN), e sua diferença fundamental é o fato das ações do primeiro tipo 
concederem o direito de voto nas assembléias da empresa, ao passo que as do segundo tipo 
não concedem tal direito ou o restringem. As ações preferenciais, todavia, tem esse nome 
porque detêm preferência no recebimento de resultados. Uma empresa pode criar espécies 
diferentes de ações ordinárias ou preferenciais, criando classes diferentes de ações, desde que 
não altere essas características fundamentais. As ações podem ser convertidas em dinheiro, 
a qualquer tempo, pela negociação na bolsa de valores.
Além das ações, as bolsas de valores negociam outros tipos de títulos e valores mobiliários, 
como debêntures (títulos emitidos pelas empresas e vendidos aos investidores, que recebem 
juros sobre o valor investido ao final de um prazo estabelecido na emissão, quando a empresa 
irá realizar a recompra das debêntures, funcionando como uma espécie de empréstimo; as 
debêntures podem, entretanto, serem convertidas em ações se assim optar o investidor, con-
forme as regras de emissão), bônus de subscrição (são títulos que dão direito de comprar ações 
novas, que serão emitidas pelas empresas por meio de aumento de capital, sem que se exija a 
prévia autorização da assembléia geral dos acionistas) e partes beneficiárias (título que concede 
participação nos lucros anuais, limitada a um décimo dos lucros da empresa).
Para negociar ações em bolsa, é preciso que a empresa seja uma sociedade anônima de 
capital aberto. A abertura do capital por meio do lançamento de ações em bolsa permite 
que uma empresa adquira mais sócios, que contribuirão com investimento na sociedade, 
permitindo a expansão dos negócios em razão da capitalização promovida. É uma forma 
de captação de recursos para a empresa. Quando a empresa faz emissões de ações, diz que 
foi feita uma oferta no Mercado Primário da bolsa. Já o mercado secundário é aquele em 
que o investidor desfaz das ações para reaver o seu dinheiro. Além de se financiar, a emissão 
de ações em bolsa oferece a possibilidade do empresário de obter mais liquidez em seu pa-
trimônio, podendo vender parte de suas ações quando precisar de dinheiro e recomprá-las 
posteriormente. As empresas de capital fechado são aquelas em que a compra de ações não 
está disponível a qualquer pessoa.
comissão de valores mobiliários
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma entidade autárquica vinculada ao 
Ministério da Fazenda, criada pela Lei nº 6.385/1976. É composta por um presidente e 
quatro diretores, todos nomeados pelo presidente da República, dentre pessoas de ilibada 
reputação e reconhecida competência em matéria de mercado de capitais. A CVM tem 
como atribuição fiscalizar permanentemente as atividades e os serviços do mercado de va-
lores mobiliários e as companhias abertas, sem prejuízo da competência de fiscalização das 
bolsas de valores com relação aos seus membros e aos valores mobiliários nelas negociados. 
A CVM é responsável pela supervisão da organização, funcionamento e operações das bol-
sas de valores, zelando pelo bom funcionamento do sistema de mercado de capitais.
Os poderes de fiscalização da CVM permitem examinar registros contábeis, livros ou do-
cumentos das companhias abertas, das sociedades de investimento, dos consultores e analis-
tas de valores mobiliários, dos auditores independentes e ainda de outras pessoas quaisquer, 
naturais ou jurídicas, que participem do mercado, ou de negócios no mercado, quando 
43FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
houver suspeita fundada de fraude ou manipulação, destinada a criar condições artificiais de 
demanda, oferta ou preço dos valores mobiliários. De modo a prevenir ou corrigir situações 
anormais do mercado, a CVM tem ainda poder de suspender a negociação de determinado 
valor mobiliário ou decretar o recesso de bolsa de valores e proibir a prática de determinados 
atos considerados prejudiciais ao funcionamento regular do mercado. 
Caso constate infração das regras administrativas, a CVM poderá instaurar inquérito 
administrativo, no qual será assegurada ampla defesa, e, ao final, impor as seguintes penali-
dades: advertência; multa; suspensão do exercício de cargo de administrador de companhia 
aberta ou de entidade do sistema de distribuição de valores; inabilitação para o exercício 
dos cargos referidos no inciso anterior; suspensão e cassação da autorização ou registro para 
o exercício das atividades de mercado. Se o inquérito constatar a prática de crime de ação 
pública, a Comissão de Valores Mobiliários oficiará ao Ministério Público, para a proposi-
tura da ação penal.
crimes
A Lei nº 6.385/1976, que criou a CVM e dispôs sobre o mercado de capitais, não previu 
nenhum crime específico praticado no desenvolvimento dessa atividade econômica, falha 
que só foi suprida com a edição da Lei nº 10.303/2001 que, ao ensejo de alterar diversos 
dispositivos da Lei nº 6.385/1976, acrescentou o capítulo “dos crimes contra o mercado de 
capitais”, criando três figuras típicas: manipulação de cotações em bolsas, uso de informação 
privilegiada e atuação irregular no mercado de capitais.
Essa última conduta, cuja pena cominada varia de seis meses a dois anos, a menor dos 
três crimes, nada mais é do que uma forma agravada e específica da contravenção penal de 
Exercício Ilegal de Profissão ou Atividade (“Art. 47 – Exercer profissão ou atividade econô-
mica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado 
o seu exercício: Pena – prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa”, Lei 
de Contravenções Penais, Decreto-Lei nº 3.688/1941), como já ocorre com o crime de 
exercício irregular da medicina (art. 282, do Código Penal). 
O crime de manipulação do mercado de capitais, por sua vez, constitui a conduta mais 
grave dos crimes criados pela Lei nº 11.303/2001, com pena cominada de um a oito anos, e 
tem por objetivo punir quem gera risco para o bom funcionamento do mercado de capitais. 
A punição do agente que manipula artificialmente as ações é importante para dar confiança 
ao investidor de que os riscos a que está sujeito são os riscos normais do mercado. A especu-
lação fraudulenta e a manipulação de ações simulam um risco elevado para derrubar o preço 
dos papéis, permitindo ao manipulador adquiri-las por preço inferior ao seu real valor, a 
fim de revendê-las pelo preço mais alto depois de normalizado o mercado. Essa conduta, 
embora gere prejuízos para o investidor individual, atinge o próprio funcionamento equi-
librado do mercado, afetando um bem jurídico supra-individual, como sói acontecer nos 
crimes econômicos.
A lei peca ao mencionar como condutas proibidas a realização de operações simuladas 
ou a execução de outras manobras fraudulentas, já que se abre uma possibilidade – sa-
bidamente perigosa – que caiba ao intérprete definir quais as condutas fraudulentas que 
merecerão ser apenadas como manipulação de mercado. Em todo caso, é possível afirmar 
que deve haverfraude para que se possa falar em crime de manipulação de mercado. Um 
operador que gere esse mesmo efeito no mercado (provocando nos demais investidores a 
venda de ações valiosas por preço inferior, para que o operador as compre barato e as re-
venda pelo preço real, mais valioso) sem lançar mão de fraude, não poderá ser considerado 
criminoso.
44FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Por fim, o crime de uso de informação privilegiada visa a punir a violação de confiança 
que uma instituição que opera em bolsas deposita em seus funcionários. Aqui, o bem jurí-
dico “bom funcionamento do mercado de capitais” é mais remotamente protegido do que 
o valor ético que deve existir nas relações profissionais, bem como os interesses patrimoniais 
de vários investidores que podem ser prejudicados na aquisição ou venda de ações por uma 
pessoa ou grupo que detenha informação que irá influenciar nos preços de mercado.
caso
cvm e sec investigam informação privilegiada na oferta pela perdigão
SÃO PAULO – Era para ter sido o negócio do ano no mercado de capitais brasileiro. A 
maior empresa do setor de alimentos no país apresentou aos acionistas da principal concor-
rente uma oferta pública que criaria um peso pesado no mercado global. Decorridos dois 
meses, começam a emergir sinais de que a oferta da Sadia pelas ações da Perdigão, além do 
desgaste para a companhia, em função da recusa imediata e inamovível da Perdigão, ainda 
gerou negociações com informações privilegiadas, longe das vistas dos pequenos acionistas.
A Sadia desistiu da oferta, mas as principais autoridades de fiscalização do mercado de 
capitais no Brasil e nos Estados Unidos estão investigando suspeita de “insider trading” em 
negociações com ações da Perdigão.
Surpreendendo o mercado, o conselho de administração da Sadia comunicou ontem ter 
aceito carta de renúncia do diretor financeiro e de relações com investidores, Luiz Gonzaga 
Murat. O novo diretor é Elson Teixeira Júnior, que dirigia a área de relações com investido-
res da Whirlpool desde a aquisição da Embraco. O advogado da Sadia e sócio do escritório 
Tozzini, Freire, Mauro Guizeline, disse “não ter informação” se o ex-diretor foi alvo da fis-
calização. Afirmou que a carta foi apresentada há uma semana e que Murat vai dedicar-se a 
projetos pessoais. Procurado ontem, Murat não foi localizado. Mas a direção da companhia 
fez questão de ressaltar ontem que a saída de Murat não tem relação com as investigações 
que estão sendo conduzidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 
A autarquia investiga operações da corretora Coinvalores, que comprou ações da Perdi-
gão nos dias 12, 13 e 14 de julho. Foram compradas 1 milhão e 900 ações ao preço médio 
de R$ 21,57. Depois do anúncio feito no domingo, 16 de julho, a OPA (oferta pública 
para aquisição de ações) da Perdigão, a corretora vendeu entre os dias 17 e 19 de julho 
1,014 milhão de ações, ao preço médio de R$ 26,03. Estima-se um ganho de cerca de R$ 
5 milhões na operação.
Excluído o período entre 12 e 19 de julho, o volume negociado em ações da Perdigão 
por essa corretora é quase zero. Mas entre 12 e 14 de julho ela respondeu por 42%, 43% e 
34% do total negociado na Bolsa, e entre os dias 17 e 19, por cerca de 20%. 
É difícil acreditar em golpe de sorte no mercado de capitais, onde o que conta não é 
premonição, mas a boa informação. Mais difícil ainda quando há uma coincidência como 
esta: um dos sócios da Coinvalores é Fernando da Silva Telles, genro do maior acionista da 
Sadia, Osório Furlan, pai de sua esposa, Leila Furlan da Silva Telles, e de Luiz Fernando 
Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Osório é do conselho 
da Sadia e seu grupo familiar controla cerca de 16% do capital ordinário.
O movimento totalmente atípico com ações da Perdigão foi entendido pela direção da 
Sadia como vazamento de sua operação. Por isso, o presidente executivo, Walter Fontana, 
se viu forçado a antecipar para o domingo, 16 de julho, a comunicação ao mercado de que 
45FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
a Sadia pretendia comprar a Perdigão. Este comunicado, como contou Fontana à época, 
estava previsto para a terça-feira, 18 de julho, mas, no fim de semana, ele acabou convo-
cando o conselho e antecipou o anúncio com receio de que o vazamento pudesse atrapa-
lhar seus planos para a companhia. O problema é que, ao fazer isso, ficou sem tempo para 
uma comunicação prévia à direção da Perdigão e a seus principais acionistas, os fundos de 
pensão. Em conseqüência, a operação arquitetada por Fontana como oferta amigável virou 
uma oferta hostil. Não foi a única razão para a rejeição da OPA, mas com certeza a forma 
atabalhoada e precipitada como os acionistas e board de Perdigão souberam das intenções 
da Sadia contribuiu para criar clima desfavorável à operação. 
O sócio da Coinvalores Fernando da Silva Telles confirmou ontem a investigação da 
CVM sobre as operações da corretora. Afirmou que “as operações foram feitas por dois 
grandes clientes pessoa física, que operam pesado”. Segundo Telles, que é conselheiro da 
Bovespa, tanto a CVM quanto a bolsa analisaram as operações e certificaram-se de que não 
há dinheiro próprio ou da corretora envolvido. “Está comprovado que não tenho ligações a 
operação”, disse o sócio da corretora. Ele disse que não estava no país nos três dias em que 
as operações foram fechadas e que não sabia das ordens de compra. A CVM não comenta 
investigações de “insider trading” . Mas o curto período desde a abertura das investigações 
torna difícil que algum investigado já tenha sido inocentado, segundo fontes. Os processos 
da CVM costumam ser bem mais longos.
O advogado da Sadia diz que foi a própria companhia que informou à CVM, no dia 
4 de agosto, as operações suspeitas com ações da Perdigão, tão logo teve conhecimento de 
planilha com operações da Coinvalores que circulava pelo mercado. 
Mas não foi só isso. Diretores da Sadia e assessores financeiros e legais receberam da SEC 
questionários sobre o conhecimento da oferta. A SEC indaga se a pessoa sabia da oferta 
antes de 16 de julho, e por quem e em que data e hora tomou conhecimento, se informou 
a alguém, dentro ou fora da Sadia, se tinha conhecimento de plano para revisar ou retirar a 
OPA antes desses eventos em 20 e 21 de julho – no dia 20 a Sadia elevou o preço oferecido 
pelas ações da Perdigão. 
Por fim, a SEC pergunta se os envolvidos na oferta tiveram contato com as seguintes 
empresas e pessoas entre 7 de abril a 14 de julho: Santander International, BBM Bank Ltd, 
Bulltick LLC, DIbston International Ltd., Gartmore Fund Managers, Gartmore Invest-
ment Management, HSBC Asset Mgt Europe, HSBC Private Bank Suisse, HSBC Republic 
Bank Suisse, Marcelo Cuoto Moyses, Northern Trust Company e Penta Administradora 
General. Estas instituições negociaram ADS (American Depositary Shares) da Perdigão, 
listados na Bolsa de Nova York, sinal de que a operação da Coinvalores na Bovespa pode ter 
sido a parte menos relevante do vazamento.
Fonte: Valor Econômico 10/10/2006. Por:Tatiana Bautzer.
http://www.valoronline.com.br/valoronline/Geral/empresas/
CVM+e+SEC+investigam+informacao+privilegiada+na+oferta+pela+
Perdigao,,,2,3941875.html
BiBliografia oBrigatória
TORTIMA, José Carlos: Crime contra o mercado de capitais. In Discursos sediciosos, 
nº 12. Rio de Janeiro: Revan, 2002, pp. 59/64.
46FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
BiBliografia complementar
CASTELLAR, João Carlos: Insider trading e os novos crimes corporativos. Rio de 
Janeiro, Lumen Juris, 2008.
ALMEIDA, Marta Cruz de: O dever de defesa do mercado: Conteúdo e função. 
anotação a sentença do Tribunal de Pequena Instância Criminal de Lisboa. Dis-
ponível em: http://www.cmvm.pt/NR/rdonlyres/21E2FA7E-FEF9-4423-ABA0-
F8727990BC0B/2008/Jurisprudencia_anotada.pdf
VEIGA, Alexandre Brandão da: Crimede manipulação de mercado. Comentário de 
acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/
crsfn/doutrina/ portugal/Coment%C3%A1rio%20ao%20AC%C3%93RD%C3
%83O%20RL%202-11-99.pdf
ativiDaDe complementar
1. Pesquisar a legislação e os atos normativos da CVM que disciplinam a comunicação 
de atos ilícitos descobertos no curso da atividade fiscalizatória e reguladora dessa 
autarquia, apresentando em sala, no dia da aula. Valor 0,5 ponto.
47FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aulas 14 e 15: “lavô, tá novo”. o crime De lavagem De capitais.
introDução
contexto histórico
Com a internacionalização do crime organizado, especialmente do tráfico de drogas, 
em meados da década de 1980, foi percebida a necessidade de mudar a forma de combater 
a criminalidade: não bastava prender os criminosos, já que, em uma estrutura organizada, 
eles eram rapidamente substituídos por outros na cadeia de comando da organização. Era 
necessário estrangular as fontes de recursos dessas organizações. Surge o combate à lavagem 
de dinheiro.
Como as autoridades não tinham como identificar esses recursos, foi necessário engajar 
os bancos nesse esforço. Posteriormente, diversos outros setores e profissionais, denomina-
dos entidades ou setores obrigados, foram sendo incluídos como parceiros do Estado nesta 
luta.
São definidos, então, dois aspectos basilares do sistema de combate à lavagem de di-
nheiro: o princípio do “conheça o seu cliente” e as Comunicações de Operações Suspeitas 
(COS).
Os setores obrigados passaram a ter que conhecer os clientes com quem realizavam seus 
negócios, de maneira a identificar a origem dos seus recursos e a comunicar às autoridades 
(Polícia e Ministério Público) as movimentações que considerassem suspeitas.
Isso tudo foi refletido na Convenção de Viena contra o Tráfico de Entorpecentes e Subs-
tâncias Psicotrópicas, de 1988” (in Ministério da Fazenda. Conselho de Controle de Ati-
vidades Financeiras. Relatório de atividades 2005. https://www.fazenda.gov.br/coaf-portu-
gues/download-RelAtividades2005.pdf )
Como se depreende do relatório anual do COAF, a criminalização da lavagem de dinhei-
ro no ordenamento jurídico brasileiro, assim como a edição do crime de tortura, ocorreu 
após o compromisso firmado pelo Brasil no âmbito internacional, por meio de uma con-
venção, de tipificação e repressão dessa conduta. Com efeito, desde a Convenção de Viena 
(também chamada de Convenção contra o tráfico ilícito de entorpecentes e de substâncias 
psicotrópicas), firmada pelo Brasil em 1991 (Decreto legislativo nº 162, de 1991), já se co-
gitava na identificação e criminalização dos agentes que atuassem convertendo bens ilícitos 
em bens aparentemente lícitos.
A terminologia adotada no Brasil é muito similar àquela utilizada em outros países, 
onde se fala de blanqueo de capitales, money laundering, blanchiment d’argent, geldwashing e 
riciclaggio di denaro sporco. A lei brasileira, entretanto, não menciona exatamente as palavras 
“dinheiro” ou “capital”, optando por referir à lavagem de bens, direitos ou valores o que 
confere maior abrangência ao conceito de lavagem.
lavagem de dinheiro
O crime de lavagem de capitais consiste na conduta de quem oculta ou dissimula a ori-
gem de bens, direitos ou valores provenientes de crime. Haverá lavagem de capitais ainda 
na ocultação, localização, movimentação, propriedade ou origem desses valores ou ainda 
na conduta de quem, sabendo serem tais valores produto de crime, os transforma em ati-
vos lícitos, os negocia, movimenta, guarda ou transfere, ou mesmo os utiliza na atividade 
econômica ou financeira. Por fim, a lei também criminaliza como lavagem a participação 
48FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
em grupo, associação ou escritório cuja atividade principal ou secundária é dirigida para a 
prática desses crimes.
O processo de lavagem de capitais conhece três momentos distintos, também chamados 
de “fases da lavagem”: o da ocultação, o da dissimulação (ou lavagem propriamente dita) e 
o da transmutação dos valores ilícitos em lícitos. A ocultação, também chamada de “fase de 
colocação” ou placement, corresponde às ações dos criminosos que visam a afastar de si os 
valores ilicitamente obtidos, geralmente aplicando-os em estabelecimentos que lidam com 
grande volume de dinheiro, sejam eles empreendimentos tradicionais (restaurantes, hotéis, 
bares, bingos), ou mesmo instituições financeiras (bancos, casas de câmbio, corretoras de 
ações). Quando utilizam instituições financeiras – que sofrem constante fiscalização e cuja 
movimentação de valores acima de determinado patamar é passível de comunicação às au-
toridades do Estado – os criminosos realizam o fracionamento de depósitos em uma mesma 
conta, de modo a iludir os instrumentos de controle. Também é comum a aquisição de bens 
(carros, imóveis, aviões) com o dinheiro proveniente do crime, de modo a facilitar as fases 
seguintes da lavagem.
A fase de dissimulação – também chamada de escurecimento, mascaração, layering, em-
pilage ou lavagem propriamente dita – corresponde ao acobertamento da operação de colo-
cação e à ruptura definitiva dos laços que unem o dinheiro ilícito aos seus titulares por meio 
de diversas operações financeiras sucessivas, muitas vezes variadas, se superpõe, impedindo 
que se restabeleça o vínculo desde sua origem. Tais operações geralmente envolvem institui-
ções financeiras nacionais e internacionais, notadamente os paraísos fiscais (assim chamados 
os Estados em que o sigilo das informações bancárias é fortemente resguardado), revelando 
uma construção complexa e sofisticada. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, 
essa fase tornou-se mais rápida e mais fácil de ser implementada. Quanto maior o número de 
operações para acobertar a origem criminosa do capital, maior será seu “grau de pureza”.
Por fim, temos a fase de integração (ou recycling), quando os ativos ilícitos, já com 
sua origem criminosa encoberta, são transformados em valores aparentemente lícitos. Essa 
transformação ocorre por meio da criação, aquisição ou investimento dos valores em empre-
sas lícitas de modo que os negócios dessas empresas apresentem resultados legítimos.
Bem jurídico
Como visto ao longo desse curso, a preocupação da doutrina em identificar o bem jurí-
dico protegido pela norma incriminadora é função essencial para a análise da legitimidade e 
constitucionalidade da lei penal. Com efeito, o exercício do jus puniendi tem como seu mais 
importante vetor de legitimação a proteção dos bens jurídicos. Todavia, o que se percebe 
no crime de lavagem de capitais é a utilização do direito penal para proteger bens jurídicos 
já tutelados por outras normas penais. Em outras palavras, ao punir a transformação dos 
recursos ilícitos obtidos no tráfico de drogas em capital lícito, reforça-se a punição daquela 
conduta. Outra corrente sustenta que o bem jurídico protegido pela lavagem de capitais é a 
administração da justiça, porquanto a ocultação do produto do crime prejudicaria sua recu-
peração, dificultando a ação da Justiça. Há ainda quem veja o bom funcionamento da ordem 
econômica e do sistema financeiro nacional como os bens jurídicos lesados pela lavagem de 
capitais, na medida em que a mistura de ativos lícitos e ilícitos prejudicaria o desempenho 
econômico nacional (comprometendo a confiança do investidor e dificultando a captação de 
valores no exterior). Por fim, parte da doutrina considera que o branqueamento de capitais 
é crime pluriofensivo.
49FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
crime antecedente
A Lei 9.613/1998, que tipificou o crime de lavagem de dinheiro no Brasil, estabeleceu 
uma condição extremamente interessante para a caracterização do tipo penal. Somente será 
considerada criminosa a lavagem de bens direitos ou valores obtidos mediante a prática de 
determinados delitos,a saber: tráfico de drogas, terrorismo e seu financiamento, contraban-
do ou tráfico de armas (inclusive munição e material destinado a sua produção), extorsão 
mediante seqüestro, contra a administração pública, de particular contra administração pú-
blica estrangeira, contra o sistema financeiro nacional e, qualquer que seja o crime praticado 
por organização criminosa. A relação é taxativa e não pode ser interpretada extensivamente 
para incluir outros crimes (princípios da taxatividade e legalidade).
A relação apresenta defeitos evidentes. Em primeiro lugar, destaca-se a inexistência do 
“crime de terrorismo” na legislação brasileiro, bem como a ausência de definição legal do 
que seja uma “organização criminosa”. Em segundo lugar, é possível criticar a absoluta falta 
de razoabilidade na enumeração das condutas previstas na medida em que inclui o descami-
nho, mas exclui a sonegação fiscal e a apropriação indébita de verba previdenciária, embora 
sejam todos crimes tributários de contornos praticamente idênticos; que inclui delitos leves 
e infrações de menor potencial ofensivo (artigos 321, 324 e 326, todos do Código Penal), 
mas não crimes graves como o tráfico de pessoas (art. 231, CP) e a falsificação de moeda 
(art. 289, CP) entre outros.
O art. 2º da Lei 9.613/1998 dispõe que o processo e o julgamento do crime de lavagem 
de dinheiro independem do processo e julgamento dos crimes antecedentes, o que deter-
minados autores chamam de “princípio da autonomia”. Trata-se, em nosso sentir, de verda-
deiro absurdo jurídico. Com efeito, se a existência da lavagem de dinheiro depende da pro-
veniência ilícita qualificada dos valores (apenas valores ilícitos decorrentes de determinados 
crimes) como abdicar da efetiva demonstração dessa origem ilícita? A insegurança jurídica 
é imensa. Além de prescindir do julgamento do crime antecedente, a lei diz ser dispensável 
o próprio processo, o que dá margem para que se imagine a seguinte situação: determinado 
indivíduo pode ser condenado pela lavagem de bens oriundos do tráfico de drogas sem 
nunca ter sido de qualquer forma acusado de praticar tráfico de drogas, concorrer para sua 
prática ou auxiliar sua execução.
José Paulo Baltazar Junior conceitua a lavagem de capitais – corretamente, segundo nos 
parece – como um delito acessório, parasitário ou derivado, assim como o crime de recepta-
ção. Por conseguinte, é inolvidável que a imputação de lavagem de dinheiro só pode existir 
se houver conexão dessa com o crime antecedente – e mesmos os autores que festejam o 
“princípio da autonomia” não divergem dessa constatação. Porém, a constatação a que se 
chega é que só há duas possibilidades de afirmar essa conexão: 1) permitir que ela derive 
da “pura criação mental da acusação”; 2) exigir que exista elementos mínimos de prova da 
materialidade e autoria e, nesse caso, impõe-se a existência de uma ação penal, ambas in-
compatíveis com a posição hoje majoritária na interpretação da legislação.
organismos e mecanismos de prevenção à lavagem de dinheiro no Brasil. 
coaF
O conselho de controle de atividades financeiras (COAF) foi criado pela Lei nº 
9.613/1998 no âmbito do Ministério da Fazenda e tem por finalidade disciplinar, receber, 
examinar e identificar ocorrências suspeitas de atividade ilícitas relacionada à lavagem de 
dinheiro. 
50FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
A centralização das “Comunicações de Operações Suspeitas”, assim consideradas aquelas 
que são previamente relacionadas na legislação e nas resoluções do COAF, é a função prin-
cipal do COAF. Uma vez recebidas, tais informações ficam registradas por tempo indeter-
minado no seu sistema de informações, o SISCOAF. 
Além de reunir informações sobre instituições já submetidas à fiscalização de outros ór-
gãos (Sistema Financeiro/Bacen; Seguros/SUSEP; Bolsas/CVM; Fundos de Pensão/SPC), 
o COAF regula os setores que não possuem órgão supervisor próprio, tais como bingos, 
imobiliárias (controlando a compra e venda de imóveis), empresas de fomento mercantil 
(factoring), joalherias e lojas que comercializem pedras, metais preciosos, objetos de arte e 
antiguidades e, ainda, o segmento de loterias e sorteios.
O COAF não tem poderes de investigação e não tem acesso às contas ou investimentos 
das pessoas. Trata-se de um órgão de prevenção e não de repressão, cuja finalidade é auxiliar 
as autoridades nos casos de investigação de crimes financeiros. O COAF edita resoluções 
obrigando determinadas entidades e instituições a fornecerem informações consideradas re-
levantes (por exemplo, qualquer transação imobiliária de valor superior a R$ 100.000,00), 
formando um banco de dados que permite agilidade de resposta e flexibilidade no inter-
câmbio de informações com autoridades brasileiras e do exterior. Essa comunicação deverá 
ser realizada sem que as entidades obrigadas comuniquem aos interessados (tipping off). 
Isso ocorre para evitar que esses mudem de instituição, dificultando seu rastreamento, ou 
retirem os recursos do sistema financeiro.
O COAF é composto por um presidente nomeado pelo presidente da República e oito 
conselheiros escolhidos dentre os servidores públicos integrantes dos seguintes órgãos: Ban-
co Central do Brasil; Comissão de Valores Mobiliários; Superintendência de Seguros Priva-
dos; Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional; Secretaria da Receita Federal; Subsecretaria 
de Inteligência da Casa Militar da Presidência da República; Departamento de Polícia Fe-
deral; Ministério das Relações Exteriores. Esses conselheiros são nomeados pelo ministro da 
Fazenda, após indicação dos ministros aos quais seus órgãos de origem estão vinculados. 
O COAF produz, anualmente, um relatório contendo os resultados de suas ações no 
combate ao crime de lavagem de dinheiro (www.fazenda.gov.br/coaf ), na qual se destaca a 
participação em grupos internacionais envolvidos no combate à lavagem de dinheiro. 
drci
O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), 
criado em fevereiro de 2004, está subordinado ao Ministério da Justiça e tem como objetivo 
fundamental definir políticas eficazes e eficientes para o combate à lavagem de dinheiro. 
Por meio da articulação entre diferentes órgãos do governo e da sociedade, o DRCI busca 
repatriar os ativos enviados ao exterior de forma ilícita e os valores oriundos de atividades 
criminosas. Além disso, o DRCI é responsável pela negociação de acordos internacionais de 
cooperação jurídica internacional, tanto em matéria penal quanto em matéria civil e pela e 
coordenação da cooperação jurídica internacional. 
encla
A Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro (Encla) foi criada no âmbito 
do Ministério da Justiça, no ano de 2003, e visa a estimular e articular a atuação conjunta 
entre os órgãos do Governo, do Judiciário e do Ministério Público. A ENCLA compreende 
encontros para a definição de metas consideradas imprescindíveis para o combate à lavagem 
de dinheiro, bem como a identificação dos órgãos responsáveis pela realização dessas metas. 
A ENCLA também objetiva a maior integração entre os diversos órgãos voltados ao comba-
te da lavagem de capitais, cuja atuação é distinta, embora convergente, como por exemplo 
51FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
o COAF, o Departamento de Combate a Ilícitos Cambiais e Financeiros no Banco Central 
(DCICF), o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional 
(DRCI) do Ministério da Justiça. 
A avaliação das metas definidas na ENCLA, bem como a análise de novas propostas de 
combate ao crime de lavagem de capitais é atribuição do Gabinete de Gestão Integrada de 
Prevenção e Combate à Lavagem de Dinheiro (GGI–LD).
São exemplos das metas do ENCLA 2006: apresentar projeto de apoio à gestão de ativos 
sujeitos a constrição judicial, até final destinação (meta 10); implantar sistema unificadoe 
nacional de cadastramento e alienação de bens, direitos e valores sujeitos a constrição ju-
dicial, até sua final destinação (meta 17); elaborar projeto de lei que tipifique organização 
criminosa (meta 11); elaborar anteprojeto de lei que aperfeiçoe a tipificação dos crimes de 
terrorismo e de financiamento ao terrorismo, conforme recomendações e tratados interna-
cionais (meta 19); criar, no âmbito do Departamento de Polícia Federal, delegacias de re-
pressão de crimes financeiros em todas as superintendências regionais e núcleos nas demais 
delegacias onde houver Varas Federais especializadas no processo e julgamento dos crimes 
contra o Sistema Financeiro e lavagem de dinheiro (meta 23); dentre outras.
caso
o grande irmão – veja como o governo vigia as suas movimentações de dinheiro
No meio do turbilhão de denúncias que desabaram sobre o governo federal está um ór-
gão sem grande visibilidade, mas que parece justificar hoje os motivos para os quais foi cria-
do. Inteligência do sistema brasileiro de combate ao crime organizado, o Coaf — Conselho 
de Controle de Atividades Financeiras, órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, como o 
seu próprio nome diz, acompanha todas as operações financeiras dia-a-dia realizadas no país 
e, pelo valor ou repetição, procura identificar as transações suspeitas.
Embora a legislação que criou o Coaf determine o registro de todas as operações acima 
de R$ 10 mil, no caso das instituições financeiras o órgão tem interesse apenas nas transa-
ções acima de R$ 100 mil. Elas são informadas e acompanhadas diariamente pelo órgão. Ou 
seja, o Coaf sabia há muito tempo sobre as transações das empresas do publicitário Marcos 
Valério e a identidade dos que retiraram quantias superiores a R$ 100 mil nas agências do 
banco Rural em Brasília ou em Belo Horizonte.
Não é para menos que feitas as denúncias, logo apareceram as listagens do Coaf, seja no 
Ministério Público, seja na CPMI dos Correios. Todas as transações acima de R$ 100 mil. 
Para conhecer agora as transações com valores inferiores, a CPMI teve que contar com a 
quebra do sigilo bancário do publicitário e de suas empresas. Mesmo assim, os membros da 
Comissão, investigarão as operações iguais ou acima de R$ 30 mil — valor que se imagina, 
era o patamar mensal do “mensalão”.
O sistema financeiro é a menina dos olhos do Coaf. Mas não é o único informante do 
órgão. Legalmente, empresas de factoring, corretoras de seguros e seguradoras, imobiliárias, 
ourivesarias e loterias estão obrigadas a informar o Coaf sobre operações suspeitas. A sus-
peição pode ser dada por um ganhador contumaz de prêmios da loteria ou pelo comprador 
de um imóvel de R$ 60 mil, por exemplo, que pague em espécie com cheques de diferentes 
procedências.
Criado pela Lei 9.613, de lavagem de dinheiro, o órgão funciona como um tipo de filtro 
de movimentações bancárias de valores que fogem do normal e de transações financeiras 
52FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
operadas por agentes econômicos como bolsas de mercadorias, administradoras de cartões 
de créditos, imobiliárias e factorings.
De acordo com a regulamentação do Coaf, toda transação superior a R$ 10 mil reais 
feita em espécie ou que tiver caráter suspeito deverá ser informada ao órgão. De posse dos 
dados, ele repassa a informação ao Ministério Público e à Polícia Federal que, por sua vez, 
podem pedir a quebra do sigilo bancário ao Judiciário. Só então é que, teoricamente, o 
sigilo pode ser quebrado. O caminho inverso também pode ser feito — os órgãos solicitam 
informações ao Coaf.
Segundo dados disponibilizados no site do Coaf, em 2004, os pedidos de informações 
feitos pelo Ministério Público Federal e pelo Estadual, pelo Departamento da Polícia Fe-
deral, pela Controladoria-Geral da União e por outros órgãos governamentais chegaram a 
798. O número é 97% superior a 2003, quando as entidades, juntas, encaminharam ao 
Coaf 406 pedidos de informação. Quantos desses pedidos foram encaminhados às autori-
dades competentes, no entanto, não se sabe.
Uma tese de mestrado defendida por Gerson Luís Romantini, na Unicamp, em 2003, 
traça um quadro não muito positivo das ações do órgão. De acordo com ele, das mais de 
18 mil notificações de operações suspeitas recebidas pelo Coaf entre 1998 (quando a lei da 
lavagem foi promulgada) e 2002, apenas duas haviam sido encaminhadas à Polícia Federal 
até 31 de novembro de 2002 e nenhuma ao Ministério Público até 29 de agosto de 2002. 
Os números são relativos às instituições de São Paulo, estado que, segundo Romantini, mais 
gera comunicações ao Coaf.
Também segundo dados da tese de Romantini, dessas 18 mil notificações, apenas 666 
resultaram em inquéritos policiais e 149 pessoas foram indiciadas.
Falta de inFormação
Um dos maiores empecilhos à atuação do Coaf seria a dificuldade em obter informações 
junto a instituições como as imobiliárias e factorings, dois dos caminhos mais usados para 
a lavagem de dinheiro. Em seu favor, o Conselho Federal de Corretores de Imóveis alega 
que é impossível comunicar ao órgão toda operação superior a R$ 10 mil — quase nenhum 
imóvel é inferior ao valor — e as imobiliárias não dispõem de tempo nem pessoal para or-
ganizar as transações e encaminhá-las.
Para um grande especialista no assunto, a desculpa é pífia. “Se há a norma, as empresas têm 
de se adequar. Por que elas não informam? Porque não têm conhecimento da obrigação? A pena 
para a omissão é muito maior”. De acordo com a legislação do Coaf, os agentes econômicos que 
não fornecerem dados podem ser condenados até de co-autoria com o suposto crime.
Recentemente, o órgão expediu nova Instrução Normativa sobre o cadastramento das fac-
torings. Nela, está determinado que tais instituições deverão manter seu cadastro atualizado 
no Coaf, comunicar as operações financeiras que tenham sinais de irregularidade e enviar uma 
declaração ao órgão caso não tenham registrado nenhuma movimentação suspeita. O objeti-
vo, segundo especialistas, é tirar a atividade da informalidade e fechar o cerco contra operações 
que possam resultar em crime contra a ordem econômica brasileira.
Também para intensificar o controle de atos ilícitos, foi elaborado o Projeto de Lei 
188/03, do Senado, que tipifica todos os crimes contra o sistema financeiro nacional que 
acarretem em pena superior a dois anos como antecedentes ao da lavagem de dinheiro 
— aqueles considerados como crimes que levam à lavagem. O crime de sonegação fiscal, 
por exemplo, seria tipificado como antecedente.
Outro projeto, de número 209/03, também do Senado, considera como precedentes à la-
vagem os delitos relacionados ao jogo do bicho, aos caça-níqueis, às loterias não autorizadas, ao 
53FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
comércio clandestino de obras de arte, entre outros. Hoje, os crimes antecedentes são o terroris-
mo, o contrabando, tráfico de entorpecentes, seqüestro e contra a administração pública.
De acordo com um advogado especialista em crimes financeiros, o problema é que, a atua-
ção do Coaf não é baseada em legislação a não ser na que o criou. Todas as demais práticas do 
órgão são reguladas por resoluções, decretos e portarias. “Se há vontade de proceder de forma 
diversa ao que prevê a Constituição [que regula os direitos fundamentais, como o que garante 
a privacidade], deveria-se atuar para que ela fosse alterada”, afirma. “O que não dá é para apli-
car normas sabendo que são inconstitucionais”. Apesar de só poder quebrar sigilos com ordem 
judicial, por exemplo, sabe-se, segundo ele, que o órgão muitas vezes age informalmente.
“O Coaf não pode quebrar o sigilo bancário de ninguém, o que só pode ser feito me-
diante autorização judicial”, concorda o advogado Jair Jaloreto Júnior. “E, ao meu ver, é 
assim que ele age, sem violar os direitos fundamentais do cidadão. É um órgão que tem 
funcionado muito bem e representaum grande apoio às CPIs que investigam prática de 
corrupção”.
Fonte: Revista Consultor Jurídico, 23 de julho de 2005. Por Luciana Nanci. http://con-
jur.estadao.com.br/static/text/36516,1
jurispruDência
EMENTA: 1. Extradição. 2. Crimes de falsificação de documento, burla qualificada 
e lavagem de dinheiro. 3. Processamento do pedido de acordo com a Lei nº 6.815/80. 4. 
Atendimento dos requisitos formais. 5. Crime de falsificação de documento que se caracte-
riza como antefato impunível do crime de burla qualificada, não punível isoladamente em 
virtude do princípio da consunção. 6. Documentos falsificados cuja utilidade se exaure no 
auferimento de valores pecuniários, em virtude de estelionato, não enseja o deferimento do 
pedido de extradição. Precedentes. 7. Crime de burla qualificada que atende aos requisitos 
da dupla tipicidade e da inocorrência de prescrição. 8. Crime de lavagem de dinheiro não 
atende ao requisito da dupla tipicidade em virtude da ausência de previsão, à época dos 
fatos, do crime antecedente (estelionato), no rol taxativo do art. 1º da Lei nº 9.613/98. 
9. O regime jurídico do processo de extradição, no direito brasileiro, não admite a análise 
sobre a justiça ou injustiça do processo ou da condenação no Estado Requerente, cabendo 
somente o exame dos pressupostos para a extradição. 10. A condição de brasileiro naturali-
zado, adquirida posteriormente à data dos fatos criminosos, não é óbice ao deferimento da 
extradição (art. 5º, LI, da CF/88).11. Extradição deferida parcialmente.
STF. Ext 968/PT – PORTUGAL. Relator Ministro Gilmar Mendes. Tribunal Pleno. 
Julgamento: 11/05/2006. Publicação: DJ 04-08-2006 PP-00026.
EMENTA: Criminal. Conflito de competência. Procedimento que apura possível ocul-
tação de bens e valores de origem em tese ilícita, situados no exterior. Análise restrita da 
competência para os fatos que começam a ser apurados. Conexão com escândalo dos pre-
catórios. Precariedade de elementos para tal análise. Existência de dinheiro no exterior, sem 
declaração ao fisco. Delito contra a ordem econômica e/ou lavagem de dinheiro. Necessida-
de da devida instrução processual. Ordem econômica em jogo. Lavagem ocorrida em insti-
tuição situada no estrangeiro. Competência da justiça federal. Duplicidade de investigações. 
Prejuízos. Eventual crime afeto à justiça estadual. Súm. Nº 122/STJ. Competência da 8ª 
vara federal. Juízo que já apreciou pedidos de diligências. Prova colhida na justiça estadual. 
Aproveitamento. Precedentes. Conflito conhecido.
I. Para fins de justificação da competência, tem-se como prematuro o exame de eventual 
conexão objetiva entre a ação penal já em andamento na Justiça Federal, que apura as con-
54FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
dutas noticiadas na CPI dos Precatórios, e os fatos a serem investigados no inquérito policial 
requisitado pelo Juízo Estadual, relativos à existência de grandes quantias de dinheiro em 
Jersey, tendo em vista a precariedade de elementos para se afirmar que uma (ou algumas) 
das possíveis infrações a serem investigadas, tenha (m) sido cometida (s) com a intenção 
de facilitar ou ocultar outra (s), ou visando a eventual impunidade ou vantagem em tal 
relacionamento.
II. A competência deve ser verificada pelos fatos até o momento tidos como delituosos, 
relacionados à existência, em tese, de grandes quantias no exterior, pertencentes a brasileiros 
domiciliados no País, sem declaração à Receita Federal do Brasil, que podem configurar, 
em tese, delito contra a Ordem Econômica e/ou contra o Sistema Financeiro Nacional, seja 
pela eventual caracterização de evasão fiscal e/ou lavagem de dinheiro – o que depende da 
devida instrução processual. 
III. Estando em jogo, em princípio, a própria Ordem Econômica Nacional, resta atraí-
da, em um primeiro momento, a Justiça Federal para a apuração das condutas.
IV. Sempre que a lavagem ocorrer em instituição bancária situada no estrangeiro, a com-
petência será da Justiça Federal. 
V. A duplicidade de investigações sobre os mesmos fatos, por autoridades judiciais di-
ferentes, pode vir a acarretar prejuízos para as partes, para a celeridade da apuração, para a 
indispensável colaboração internacional e para a própria verdade real.
VI. Restando eventual crime estadual a ser apurado, o mesmo estará em conexão com 
os delitos federais – o que atrairá a competência da Justiça Federal para o seu julgamento, 
se for o caso. Súm. nº 122/STJ.
VII. Afirma-se a competência do Juízo da 8ª Vara Federal, mesmo abstraindo eventual 
conexão específica com o processo dos precatórios, que se encontra ali tramitando, pois esse 
mesmo Juízo já apreciou pedidos de diligências requeridos pelo Ministério Público Federal 
lá atuante, na hipótese em questão – movimentações financeiras em Jersey.
VIII. Deve ser aproveitada toda a prova produzida na Justiça Estadual, de conformidade 
com o que a legislação recomenda, sendo certo que não se trata de prova colhida por Juiz abso-
lutamente incompetente para fazê-lo, pois este detinha a competência para tanto, à época – eis 
que investigava, regularmente, possível cometimento de delitos afetos, em princípio, à esfera 
estadual, uma vez que a comprovação dos indícios de depósitos em Jérsey ocorreu a posteriori.
IX. A posterior declinação da competência – do Juízo Estadual para o Federal – não tem 
o condão de, por si só, invalidar a prova até então regularmente colhida. Precedentes da 5ª 
Turma.
X. Conflito conhecido para declarar a competência da 8ª Vara Criminal da Seção Ju-
diciária do Estado de São Paulo, o Suscitante, convalidando-se toda a prova já produzida 
regularmente na Justiça Estadual.
(Processo em que se discute a competência para julgamento de crime de evasão de divi-
sas, e que estão entre os acusados os políticos Paulo Maluf e Celso Pitta).
STJ. CC 32861/SP. Relator Ministro Gilson Dipp. 3ª Seção. Julgamento: 10/10/2001. 
Publicação: DJ 19.11.2001 p. 231.
EMENTA: Penal e processual penal. Habeas corpus. Trancamento de inquérito policial. 
Falta de justa causa. Atipicidade da conduta correspondente ao delito de “lavagem de dinhei-
ro”. Falta de comprovação, na atual fase de investigação preliminar, pela prática de um dos 
delitos prévios relacionados na lei 9.613/98. Desnecessidade, para o efeito de integração da 
conduta típica que constitui o delito acessório. Constrangimento ilegal não demonstrado. 
- O trancamento do inquérito policial, pela via estreita do habeas corpus somente é 
possível quando, pela mera exposição dos fatos investigados, constata-se que há imputação 
55FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
de fato penalmente atípico, inexistência de qualquer elemento indiciário demonstrativo da 
autoria do delito ou extinta a punibilidade.
- A alegação de ausência de justa causa para o prosseguimento do inquérito policial só 
pode ser reconhecida quando, sem a necessidade de exame aprofundado e valorativo dos 
fatos, indícios e provas, restar inequivocamente demonstrada, pela impetração, a atipicida-
de flagrante do fato, a ausência de indícios a fundamentarem a investigação, ou, ainda, a 
extinção da punibilidade.
- Não há que se falar em manifesta ausência de tipicidade da conduta correspondente ao 
crime de “lavagem de dinheiro”, ao argumento de que não foi devidamente comprovado, na 
atual fase da investigação preliminar, a prática de algum dos crimes anteriores arrolados no 
elenco taxativo do artigo 1º, da Lei 9.613/98, sendo inexigível que o autor do crime aces-
sório tenha concorrido para a prática do crime principal, desde que tenha conhecimento 
quanto à origem criminosa dos bens ou valores.
- Impedir a possibilidade do Estado-Administração demonstrar a responsabilidade penal do 
acusado implica em cercear o direito-dever do poder público em apurar a verdade sobre os fatos.
Ordem denegada.
STJ. HC 44339/SP. Relator Ministro Paulo Medina. 6ªTurma. Julgamento: 06/10/2005. 
Publicação: DJ 21.11.2005 p. 309.
EMENTA: Lavagem de dinheiro: L. 9.613/98: caracterização. O depósito de cheques de 
terceiro recebidos pelo agente, como produto de concussão, em contas-correntes de pessoas 
jurídicas, às quais contava ele ter acesso, basta a caracterizar a figura de “lavagem de capitais” 
mediante ocultação da origem, da localização e da propriedade dos valores respectivos (L. 
9.613, art. 1º, caput): o tipo não reclama nem êxito definitivo da ocultação, visado pelo 
agente, nem o vulto e a complexidade dos exemplos de requintada “engenharia financeira” 
transnacional, com os quais se ocupa a literatura. 
STF. RHC 80816/SP. Relator Ministro Sepúlveda Pertence. 1ª Turma. Julgamento: 
18/06/2001. Publicação: DJ 18/06/2001.
questões
9º Concurso para Juiz Federal Substituto da 2ª Região – 2ª prova escrita – 3ª Questão:
Um sujeito introduz no país uma tonelada de larvicida de importação proibida, rece-
bendo por tal mercadoria a quantia de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). De posse 
do dinheiro, adquire ações da Petrobrás, as quais são, posteriormente, trocadas por 
um apartamento na Barra da Tijuca, que é registrado em nome de sua mulher. O MPF 
denuncia o importador e sua mulher pelos crimes de contrabando (art. 334 do Código 
Penal) e de lavagem de dinheiro, previsto no art. 1º, I da Lei 9613/98. A denúncia está 
correta? Sim ou não? Justifique. 
10º Concurso para Juiz Federal Substituto da 2ª Região – 2ª prova escrita – 2ª. Questão:
Discorra sobre crime de lavagem de dinheiro e crime antecedente, levando em conta, 
além do texto legal, as posições doutrinárias e jurisprudenciais a respeito.
11° Concurso de Juiz Federal Substituto da 4º Região (2004)
Assinalar a alternativa correta. A Lei nº 9.613/98 incrimina a conduta de “lavagem” ou 
ocultação de bens, direitos e valores, estabelecendo a pena de reclusão de 3 (três) a 10 
(dez) anos e multa para tal infração penal.
56FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
a) A Lei apontada estabelece que apenas os crimes de tráfico de drogas e de armas, 
de extorsão mediante seqüestro, crimes contra a Administração Pública e o sistema 
financeiro nacional, contra a ordem tributária e contra a administração pública es-
trangeira é que podem ser considerados “antecedentes”.
b) A Lei apontada estabelece que apenas os crimes de tráfico de drogas, terrorismo, 
contrabando de armas, extorsão mediante seqüestro, contrabando, crimes contra o 
sistema financeiro nacional, crimes contra a ordem tributária e praticados por orga-
nização criminosa é que podem ser considerados “antecedentes”.
c) A Lei apontada estabelece que apenas determinados crimes, nela especificados, é 
que podem ser considerados “antecedentes” para tipificação do delito em questão.
d) A Lei apontada estabelece que qualquer crime grave pode ser considerado “antece-
dente”.
BiBliografia oBrigatória
VILARDI, Celso Sanchez: O crime de lavagem de dinheiro e o início de sua execução. 
In Revista Brasileira de Ciências Criminais, nº 47. São Paulo: RT, 2004.
BiBliografia complementar
MAIA, Rodolfo Tigre: Lavagem de dinheiro. São Paulo: Malheiros, 2004.
57FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 16: perDeu, playBoy!meDiDas assecuratórias patrimoniais.
introDução
A teoria geral do processo classifica os provimentos judiciais em cognitivo, executório 
e cautelar. O processo de conhecimento destina-se à resolução do litígio que é apresentado 
ao juiz. Nele, as partes apresentam suas postulações e produzem prova de suas alegações, 
buscando influir no convencimento do juiz, o qual, ao final proferirá a sentença, julgando 
procedente ou improcedente a demanda. O processo de execução visa dar efetividade, no 
mundo dos fatos, à sentença que julgou o processo de conhecimento.Medidas coativas de 
caráter constritivo são adotadas contra a parte vencida que não se sujeitar de forma espon-
tânea à decisão judicial. Finalmente, o provimento cautelar tem por objeto a adoção de 
medidas urgentes e provisórias que garantam a utilidade da sentença que será proferida no 
processo de conhecimento. Isso porque a atividade cognitiva desenvolvida no processo de 
conhecimento demanda tempo. É necessário que se assegure ao réu o direito de se defender; 
é imprescindível que as provas sejam produzidas sob o contraditório, dando-se às partes o 
direito de contraprova; terminada a instrução, deve-se conceder às partes oportunidade de 
formularem suas alegações sobre as questões de fato e de direito envolvidas e sobre o con-
junto probatório produzido; proferida, finalmente, a sentença, abre-se a possibilidade de 
impugná-la perante o tribunal, etc. 
O transcurso do tempo pode acabar tornando inócua a sentença que vier a ser proferida 
ao final. Podem ocorrer fatos, atribuíveis ou não à conduta das partes, que causem pereci-
mento do direito sob litígio ou interferência indevida no andamento da lide. O provimen-
to cautelar terá, portanto, sempre relação de instrumentalidade com o processo principal, 
podendo ser exarado no próprio feito ou em processo autônomo. Trata-se de uma medida 
judicial deferida contra uma das partes em juízo de cognição sumária.O juiz ainda não terá 
todos os elementos para saber quem tem razão.Eventualmente, ao final, a sentença poderá 
ser proferida em favor da parte que sofreu restrições em decorrência da medida cautelar 
deferida no curso do processo.Em vista disso, apenas se o risco de perecimento do direito 
estiver demonstrado o juiz deve conceder a tutela cautelar (periculum in mora).E só deve 
fazê-lo se vislumbrar ao menos possibilidade de que a sentença final seja favorável à parte-
beneficiada pela medida (plausibilidade do direito cuja proteção cautelar se requer – fumus 
boni iuris). 
Apesar de a doutrina ressaltar a natureza cautelar de alguns dos meios de prova previstos 
na lei processual penal, entendemos que não há propriamente no deferimento dessas provas 
um provimento cautelar, no sentido explanado acima.Não se trata de assegurar o resultado 
útil do processo. No entanto, como essas provas interferem com direitos fundamentais das 
pessoas investigadas, o juízo de admissibilidade das mesmas deve considerar: 1. a impres-
cindibilidade da medida, ou seja, que não seja possível demonstrar a ocorrência dos fatos 
sem que se lance mão daquelas medidas probatórias.2. a plausibilidade das razões invocadas 
pelos órgãos de persecução penal para solicitarem a produção da prova.
medidas assecuratórias aplicáveis ao crime de lavagem e efeitos da condenação.
O Código de Processo Penal prevê duas medidas assecuratórias (o seqüestro de bens e a 
hipoteca legal) cujo objetivo é garantir que os bens obtidos de forma criminosa não sejam 
perdidos, já que os mesmos serão revertidos para o Estado no caso de condenação, na forma 
58FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
do art. 61, II, b, do Código Penal (efeitos da condenação), ou serão utilizados para reparar 
o dano causado com o crime. Tais medidas estão disciplinadas nos artigos 125 a 144 do 
Código de Processo Penal e podem ser decretadas em qualquer tipo de delito, seja durante 
a fase inquisitorial, seja depois de já instaurado o processo. Enquanto o seqüestro de bens 
compreende tanto bens imóveis como bens móveis (nesse último caso, inclusive numerário 
em espécie), a hipoteca legal recai apenas sobre os imóveis.
Embora o mais comum é que o seqüestro recaia sobre os bens do indiciado ou acusado, 
a lei permite que se realize o seqüestro de bens em nome de terceiros, mas que tenham sido 
adquiridos pelo indiciado ou acusado com os proventos da infração criminosa.
Enquanto nos crimes comuns o seqüestro ou hipoteca deverá ser decretado apenas se 
houver “indícios veementes da proveniência ilícita dos bens” (art. 125, CPP) e não poderá 
exceder 60 dias sem que tenha sido instaurada ação penal, no crime de lavagem a leiexige 
somente “indícios suficientes dos bens objeto dessa lei” (art. 4º, Lei nº 9.613/1998) e auto-
riza a duração do seqüestro por até 120 dias. Existe, ainda, outra diferença relevante entre as 
medidas assecuratórias decretadas nos crimes comuns e no crime de lavagem: a impossibi-
lidade de o juiz conhecer (apreciar) o pedido de restituição dos bens sem que o suspeito ou 
acusado do crime de lavagem compareça pessoalmente em juízo.
Os bens seqüestrados poderão ser entregues a uma pessoa da escolha do Juízo a fim de 
que esta realize sua administração, prestando contas de forma periódica sobre a situação dos 
bens e sobre os investimentos realizados. Esse administrador terá direito a uma remuneração 
proveniente com o produto dos bens objeto da administração. Por conseguinte, embora a 
lei não o diga, o administrador poderá ser responsabilizado civilmente pelos prejuízos que 
causar no exercício de sua atividade.
caso
malas de reais. igreja universal não consegue reaver dinheiro apreendido.
O Supremo Tribunal Federal indeferiu pedido da Igreja Universal do Reino de Deus 
e do deputado federal e bispo João Batista Ramos da Silva (PFL-SP) para que o dinheiro 
apreendido pela Polícia Federal fosse substituído por imóveis oferecidos como caução. O 
bispo foi detido em julho de 2005, no Aeroporto Internacional de Brasília, quando tentava 
embarcar com sete malas recheadas com R$ 10 milhões, aproximadamente.
A Igreja Universal sustentou que o valor apreendido seria meio indispensável para a ma-
nutenção das atividades religiosas. As investigações visam apurar suposto crime de lavagem 
de dinheiro, contra a ordem tributária e econômica e contra o sistema financeiro nacional, 
previstos nas Leis 9.613/98, 8.137/90 e 7.492/86.
O ministro Ayres Britto, relator do caso, entendeu que a caução de bens imóveis para 
garantir o levantamento do numerário não se enquadra nas hipóteses legais previstas na Lei 
9.613/98 e pelo Código de Processo Penal. O ministro ressaltou que o dinheiro apreendido 
nas malas constituiu a própria materialidade do crime de lavagem de dinheiro. Laudo de 
exame de moeda, realizado pela Polícia Federal, atestou a presença de notas seriadas e de 16 
cédulas falsas.
O relator destacou, ainda, que o pedido em questão “no sentido de que a constrição 
judicial recaia sobre bem imóvel de propriedade da Igreja Universal, edifício-sede da rede 
Record de televisão, não se enquadra em nenhuma das hipóteses legais autorizativas da 
restrição patrimonial”.
59FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Para ele, a apreensão de valores em espécie, como ocorreu no caso, “tem a serventia de 
facilitar o desvendamento da respectiva origem e ainda evitar que este dinheiro vivo entre 
em efetiva circulação retroalimentando assim a suposta ciranda da delitividade”. O dinheiro 
está hoje retido na Caixa Econômica Federal.
Fonte: Revista Consultor Jurídico, 25 de maio de 2006.
http://conjur.estadao.com.br/static/text/44744,1
jurispruDência
EMENTA: Inquérito. Questão de ordem. Apreensão de numerário, transportado em 
malas. Comprovação de notas seriadas e outras falsas. Investigação criminal pela suposta 
prática do crime de lavagem de dinheiro. Lei nº 9.613/98 (lei antilavagem). Pedido de 
levantamento do dinheiro bloqueado, mediante caucionamento de bens imóveis que não 
guardam nenhuma relação com os episódios em apuração. Impossibilidade, à falta de pre-
visão legal. 
Nos termos do art. 4º da Lei Antilavagem, somente podem ser indisponibilizados bens, 
direitos ou valores sob fundada suspeição de guardarem vinculação com o delito de lavagem 
de capitais. Patrimônio diverso, que nem mesmo indiretamente se vincule às infrações re-
feridas na Lei nº 9.613/98, não se expõe a medidas de constrição cautelar, por ausência de 
expressa autorização legal. A precípua finalidade das medidas acautelatórias que se decretam 
em procedimentos penais pela suposta prática dos crimes de lavagem de capitais está em 
inibir a própria continuidade da conduta delitiva, tendo em vista que o crime de lavagem 
de dinheiro consiste em introduzir na economia formal valores, bens ou direitos que pro-
venham, direta ou indiretamente, de crimes antecedentes (incisos I a VIII do art. 1º da Lei 
nº 9.613/98). Daí que a apreensão de valores em espécie tenha a serventia de facilitar o 
desvendamento da respectiva origem e ainda evitar que esse dinheiro em espécie entre em 
efetiva circulação, retroalimentando a suposta ciranda da delitividade. Doutrina. Se o crime 
de lavagem de dinheiro é uma conduta que lesiona as ordens econômica e financeira e que 
prejudica a administração da justiça; se o numerário objeto do crime em foco somente pode 
ser usufruído pela sua inserção no meio circulante; e se a constrição que a Lei Antilavagem 
franqueia é de molde a impedir tal inserção retroalimentadora de ilícitos, além de possi-
bilitar uma mais desembaraçada investigação quanto à procedência das coisas, então é de 
se indeferir a pretendida substituição, por imóveis, do numerário apreendido. Não é de se 
considerar vencido o prazo a que alude o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.613/98, que é de 120 
dias, pois ainda se encontram inconclusas as diligências requeridas pelo Ministério Público 
Federal, em ordem a não se poder iniciar a contagem do lapso temporal. Questão de ordem 
que se resolve pelo indeferimento do pedido de substituição de bens.
STF. Inq-QO 2248/DF. Relator Ministro Carlos Britto. Tribunal Pleno. Julgamento: 
25/05/2006. Publicação DJ 20/10/2006.
60FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
ii.3 – Bloco 03 – crimes contra a orDem triButária 
e a orDem econômica. 
A Constituição, em seu art. 170, define que a ordem econômica tem por fundamentos a 
valorização do trabalho humano e a livre iniciativa e por objetivo assegurar a todos existên-
cia digna, conforme os ditames da justiça social. Esses fundamentos e esse objetivo deverão 
ser realizados a partir de determinados princípios norteadores da atividade econômica, quais 
sejam: soberania nacional; propriedade privada; função social da propriedade; livre concor-
rência; defesa do consumidor; defesa do meio ambiente; redução das desigualdades regio-
nais e sociais; busca do pleno emprego; e tratamento favorecido para as empresas brasileiras 
de capital nacional de pequeno porte. A Constituição assegura, ainda, o livre exercício de 
qualquer atividade econômica.
Dentre os princípios gerais da atividade econômica, a livre concorrência será alvo espe-
cial de tutela penal sob a rubrica “dos crimes contra a ordem econômica”. Outros princípios 
também são tutelados pelo direito penal, como a defesa do consumidor (“crimes contra as 
relações de consumo”), a defesa do meio ambiente (“crimes contra o meio ambiente”) e a 
liberdade de trabalho (“crimes contra a organização do trabalho”). 
A incriminação do abuso do poder econômico encontra apoio na própria Constituição, 
cujo art. 173, §4º (inserto no Título VII, dedicado à Ordem Econômica e Financeira) prevê 
que “A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eli-
minação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros”. O bem protegido por esta Lei 
é a manutenção de um mercado competitivo para que os preços dos bens e serviços perma-
neçam próximos ao ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda, pois em mercados cujas 
práticas não sofrem nenhuma espécie de controle, os preços afastam-se desse equilíbrio, 
ocasionando uma transferência indevida de riqueza do consumidor ao fornecedor.
Tomada de uma perspectiva mais ampla, a ordem econômica representa toda a regu-
lação, organização, produção, circulação, distribuição e consumo de bens econômicos. 
Embora tenha relação direta com a ordem tributária, as relações de consumo, o sistema 
financeiro, o mercado de capitais e outros setores da economia (ou possa compreender 
todos esses grupos de atividadessob o amplo guarda-chuva de sua denominação), a ordem 
econômica, para fins penais, é mais bem representada pela proteção da livre concorrência e 
da livre iniciativa. 
Nesse contexto, os crimes contra a ordem econômica protegem bens jurídicos supra-in-
dividuais, embora também repercutam sobre os indivíduos. Um exemplo é a criminalização 
do abuso de poder econômico para eliminar concorrência ou controlar redes de distribui-
ção, pois ao mesmo tempo em que atingem o direito difuso de um mercado equilibrado 
(violado pela dominação abusiva) atingem o consumidor, que pagará preço artificialmente 
elevado em razão da falta de concorrência no mercado.
Por fim, é importante atentar para a diferença entre a violação da concorrência por 
abuso de poder econômico e a concorrência desleal. Enquanto a primeira tem potencia-
lidade lesiva supra-individual, e coloca em risco o bom funcionamento do mercado, a 
concorrência desleal (crime tipificado na Lei de Propriedade Industrial, no art. 195, da Lei 
nº 9.279/1996) atinge apenas um determinado empresário. Nos crimes contra a ordem 
econômica a lei penal tem por objetivo jurídico impedir condutas que representem riscos 
ou danos para o funcionamento harmônico do sistema econômico, a livre concorrência e 
a livre iniciativa.
61FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 17: o crime Dos ricos: sonegação fiscal e apropriação 
inDéBita previDenciária.
introDução
sonegação fiscal
A sonegação fiscal é o crime tributário par excellence e caracteriza-se justamente pela 
redução ou supressão do pagamento de tributos ao Estado. A Constituição refere-se a três 
tipos de tributos: impostos (valor cobrado para financiar a existência e funções essenciais do 
Estado), taxas (assim considerados os pagamentos específicos pela utilização de um serviço 
determinado, como taxa de lixo, de água etc.) e contribuições (tributos pagos em contrapar-
tida de um serviço realizado). Além dessas modalidades, a Constituição menciona ainda o 
empréstimo compulsório (cobrado exclusivamente pela União para atender a emergências, 
como calamidade pública ou guerra, ou situações de urgência; art. 148, da Constituição) 
e contribuições parafiscais como as sociais, de intervenção no domínio econômico ou de 
interesse de categorias profissionais, como as contribuições sindicais. Qualquer tributo pode 
ser alvo de sonegação, seja ele devido ao ente federal, estadual ou municipal. 
O fenômeno da tributação é antiqüíssimo, remontando à Antiguidade. Já a criminaliza-
ção de sua sonegação, ao menos no Brasil, é bastante recente, surgindo apenas com a edição 
das Leis n° 4.357/1964 (criou o tipo penal de apropriação indébita mediante não repasse 
de imposto de renda retido na fonte, entre outros) e n° 4.729/1965 (que criou o tipo penal 
de sonegação fiscal), esta última posteriormente modificada pela Lei nº 8.137/1990, atual-
mente em vigor.
Muitos cidadãos criticam a alta carga tributária a que são submetidos pela legislação 
brasileira, apontando como fator fundamental os altos índices de sonegação fiscal; com efei-
to, em um sistema tributário onde todos pagam impostos, todos pagarão menos. Diante, 
porém, de um quadro em que a sonegação fiscal retira um percentual relevante dos recursos 
públicos, a administração tende a supertaxar aquelas atividades em que a sonegação é mais 
difícil de se efetivar, como é o caso dos tributos incidentes sobre os salários dos funcioná-
rios públicos e empregados do setor privado. Isso acaba por criar distorções entre os setores 
econômicos e sociais. Por outro lado, o combate à sonegação também depende da raciona-
lização do sistema tributário, com objetivo de facilitar a fiscalização pelo governo, reduzir a 
corrupção e, inclusive, reduzir os custos das empresas.
A questão mais relevante, atualmente, em matéria penal tributária diz respeito à natureza 
do crime (se é crime formal ou material), tendo o Supremo Tribunal Federal modificado 
sua orientação no sentido de considerar tais crimes como infrações materiais. A conseqü-
ência disso é a exigibilidade do término do procedimento administrativo – quando ocorre 
o lançamento definitivo do crédito tributário – para que haja imputação formal de crime 
de sonegação fiscal. É preciso, todavia, discutir os efeitos dessa decisão do STF aos casos 
em andamento e àqueles com trânsito em julgado nos quais se iniciou o processo sem que 
houvesse terminado o procedimento fiscal. A segunda repercussão importante dessa decisão 
do STF opera sobre a prescritibilidade dos crimes fiscais, haja vista que a Corte Suprema 
decidiu que não flui o prazo prescricional enquanto não terminar o procedimento adminis-
trativo; se não há crime, não há que se falar em prescrição. 
 
62FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
apropriação indébita de verba previdenciária
A contribuição previdenciária é composta por duas parcelas calculadas a partir do 
salário pago ao empregado; uma parcela é paga pelo empregador e a outra pelo empre-
gado, cabendo, entretanto, ao empregador, reter o valor (descontando do salário do 
empregado) e repassá-lo ao INSS. A apropriação indébita de verba previdenciária repre-
senta a retenção de parte do salário do empregado pelo empregador, desacompanhada 
do respectivo repasse. 
A conduta de apropriar-se indevidamente de bem alheio é velha figura conhecida do di-
reito penal e caracteriza-se quando o agente tem a posse ou detenção de um bem alheio que, 
uma vez reclamado, não é restituído ao dono legítimo. O crime se compõe dos seguintes 
elementos: a) posse anterior do bem alheio; 2) apropriação do bem; 3) dolo. Na modalidade 
tradicional de apropriação indébita, nunca bastou a impontualidade da restituição; ou seja, 
é medida indispensável que a acusação caracterize o propósito de não restituir o bem, ou de 
dispor dele como se fosse próprio, o chamado animus rem sibi habendi. No caso da apro-
priação indébita de verba previdenciária o agente deve ter consciência de que tem de fazer o 
repasse, bem como deve poder realizar esse repasse e deixar de fazê-lo. Não se exige dolo de 
causar dano à previdência social, nem de fraudar a fiscalização.
Muito se discutiu, entretanto, sobre a posse anterior do bem alheio nos casos de apro-
priação previdenciária. Ao desvincular o pagamento do salário do recolhimento dos impos-
tos devidos (em que se reúnem a parte do empregador e do empregado), muitos empresários 
afirmavam que não havia real retenção de bem alheio, ou real transferência de posse do 
dinheiro. Porém, a tese que prevaleceu nos tribunais foi a de que as operações contábeis não 
são mera ficção, mas traduzem uma realidade. Ao não realizar o pagamento da verba reti-
da, contabilmente, ocorre uma apropriação indevida dos valores. Assim como nos crimes 
de sonegação fiscal, a apropriação indébita de verba previdenciária pode ocorrer mediante 
diferentes condutas, todas relacionadas em lei.
caso
sonegação fiscal cresce e atinge quase 30% das empresas, diz iBpt 
A sonegação fiscal cresceu de 2002 para 2004 entre as empresas, mostrou estudo do 
IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário). De acordo com o estudo, 29,45% 
das empresas pesquisadas em 2004 apresentaram “fortes indícios de sonegação fiscal”. Em 
2002, 27,53% das empresas ouvidas se enquadravam na mesma situação. Nesse período, a 
sonegação subiu 6,97%.
Por setores da economia, o comércio é que o registra o maior número de empresas que 
praticam algum tipo de sonegação: 31,23%. Em seguida, aparece a indústria, com indícios 
de sonegação em 27,02% das empresas. No setor de serviços, os indícios de sonegação apa-
receram em 22,45% das empresas. No entanto, em termos de valores sonegados, a indústria 
é o setor campeão, segundo o IBPT.
Por porte, os indícios de sonegação são maiores nas pequenas empresas (63,66%). Nas 
médias, os indícios são encontrados em 48,94% das empresas. Nas grandes, opercentual foi 
menor: 27,13%. De acordo com o estudo, os tributos mais sonegados são: Imposto de Renda 
(27,02%). ICMS (26,95%), PIS e Cofins (23,43%), CSLL (24,81%), ISS (25,66%), IPI 
(18,85%), INSS (29,47%), entre outros.
63FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
O estudo do IBPT informou ainda que em 2004 o faturamento não declarado pelas 
empresas alcançou a cifra de R$ 1,028 trilhão. Em 2003, a sonegação – estimada pelo valor 
não declarado de faturamento – foi de R$ 748,35 bilhões. Para 2005, o IBPT estima que a 
sonegação vá atingir a marca de R$ 1,112 trilhão.
O IBPT considera indícios de sonegação discrepâncias encontradas no cruzamento do 
valor do faturamento declarado pela empresa no balanço, com sua movimentação bancária 
(medida pelo pagamento de CPMF). Outra forma de verificar se houve sonegação é com-
parar a receita declarada para fins de cobrança do ICMS com a base de cálculo usada para o 
pagamento do PIS e da Cofins. O estudo utilizou como amostra os dados de 7.437 empre-
sas de todos os setores da economia brasileira e de portes diferenciados.
Principais tipos de sonegação ou fraude fiscal. O IBPT elencou ainda em seu estudo os 
principais tipos de sonegação ou fraude fiscal. São eles, segundo o instituto: 
- Venda sem nota; com “meia” nota; com “calçamento” de nota; duplicidade de numeração 
de nota fiscal; “Compra” de notas fiscais; Passivo fictício ou saldo negativo de caixa; Acréscimo 
patrimonial a descoberto (do sócio); Deixar de recolher tributos descontados de terceiros; Sal-
do de caixa elevado; Distribuição disfarçada de lucros; Alienação de bem ou direito ao sócio 
ou pessoa ligada por valor inferior ou superior ao de mercado; Aluguel ou serviços pagos a 
sócio ou pessoa ligada cujos valores excedem aos praticados pelo mercado em situações simi-
lares; Empréstimos a sócios ou pessoas ligadas em condições prejudiciais à empresa, ou com 
vantagens não praticadas normalmente pelo mercado; Multas exorbitantes ou perda de sinal 
de negócio previstas em contrato, não cumprido, com sócios ou pessoas ligadas; Pagamento 
de despesas particulares de sócios; Doações irregulares; Doações efetuadas a entidades não 
habilitadas ou cujo valor do comprovante seja superior ao efetivamente doado.
Fonte: Folha Online 18/08/2005 – 16h19. Por Fabiana Futema
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u99401.shtml
polícia federal prende 60 acusados de fraudar a previdência
Rio de Janeiro – A Polícia Federal (PF) prendeu hoje (19) 60 acusados de envolvimento 
em esquemas de fraudes contra a Previdência Social. Nove pessoas ainda estão sendo pro-
curadas pela polícia.
Entre os presos, está o vereador Carlos Alberto Balbi Moura (PRTB), de Nova 
Friburgo, região serrana do Rio de Janeiro. Ele é acusado cometer fraudes também para 
compra de votos. As prisões fazem parte da operação Anos Dourados, iniciada na madruga-
da desta quinta-feira. A PF agiu cumprindo 69 mandados de prisão temporária, expedidos 
pelo juiz federal de Nova Friburgo, Elmo Gomes de Souza.
A maioria das prisões foi realizada no estado, onde 51 pessoas – inclusive o acusado de 
chefiar a quadrilha, José Carlos Barcelos – foram detidas. Outros oito suspeitos foram pre-
sos no Paraná e um, em Goiás. 
Segundo a polícia, as fraudes funcionavam havia cinco anos e causaram prejuízo estima-
do em R$ 200 milhões ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O esquema tinha 
participação de cerca de 100 pessoas, que simulavam um suposto período de contribuição 
para conseguir o benefício previdenciário. Para isso, os fraudadores usavam nomes de em-
presas, que não estavam necessariamente envolvidas na realização da fraude.
Segundo o procurador da República Jessé Ambrósio, o benefício irregular era concedido 
a partir de informações falsas, incluídas no sistema eletrônico do INSS por meio da Guia 
de Recolhimento do Fundo de Garantia e Informações à Previdência Social (GFIP), que é 
inserida mensalmente por contadores cadastrados no instituto. 
64FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Ambrósio afirma que as fraudes não teriam sido possíveis se não houvesse colaboração 
de funcionários do INSS. “Além de o contador inserir o dado falso, é preciso que o servidor 
ignore uma rotina que o INSS determina, de que sempre que houver dados antigos inseri-
dos, realizar uma pesquisa de documentação que comprove as informações”. 
A operação foi deflagrada pela Força-Tarefa Previdenciária, composta pelo departamen-
to de Polícia Federal, Ministério da Previdência Social e Ministério Público Federal. A Anos 
Dourados mobilizou 420 policiais federais e teve apoio de 20 analistas previdenciários, que 
atuaram no Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Distrito Federal.
O coordenador da Força-Tarefa Previdenciária no Rio de Janeiro, delegado Anderson de 
Andrade Bichara, disse que foram suspensos 1.561 benefícios irregulares que causavam um 
prejuízo mensal de R$ 4 milhões e foram congelados 1.318 pedidos irregulares de aposen-
tadoria que ainda não tinham sido aprovados.
“A maioria dos benefícios era de R$ 2,8 mil, o valor mais alto concedido pelo INSS. A 
quadrilha cobrava de R$ 6 mil a R$ 15 mil para realizar a fraude, geralmente paga com os 
primeiros meses de benefício recebidos”, explicou Bichara. 
Entre os envolvidos estão 41 servidores do INSS que, segundo a polícia, têm mais de 
10 anos de carreira, além de contadores, advogados e agenciadores. Bichara destacou que 
também foi realizada a apreensão dos bens dos acusados e o bloqueio das contas bancárias, 
para garantir o ressarcimento do prejuízo causado aos cofres públicos.
Fonte: Agência Brasil. 19 de Outubro de 2006 – 21h59. Por: Mariana Schreiber.
http://www.agenciabrasi l .gov.br/noticias/2006/10/19/materia.2006-10-
19.9684039362/view
fraude representa quase todo o rombo da previdência
De um total de R$ 146 bi pagos em 2005, por exemplo, R$ 33,5 bi, foram pagos inde-
vidamente. O valor fica próximo do déficit registrado no ano, de R$ 37,5 bi
BRASÍLIA – Grande parte do rombo da Previdência decorre do pagamento ilegal de 
benefícios, segundo relatório de auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). De um 
total de R$ 146 bilhões pagos em 2005, por exemplo, R$ 33,5 bilhões, foram pagos inde-
vidamente. O valor fica próximo do déficit registrado no ano, de R$ 37,5 bilhões, aponta o 
relatório, feito por amostragem de dados obtidos em todos os Estados brasileiros. 
O relatório foi aprovado por unanimidade na quarta-feira. O ministro-relator, Marcos 
Vilaça, ressalta que, de uma amostra de 55.412 benefícios, foram analisados 7.053, sendo 
que 23% apresentaram irregularidades. A mais constante (66,1%) se refere a pagamentos a 
beneficiários mortos. Em seguida, com 22,8%, aparecem pessoas que acumulam benefícios, 
os favorecidos por fraudes na concessão dos benefícios por idade (6,3%) e os que receberam 
valor superior ao teto previdenciário (4,8%). 
O Ministério da Previdência Social, por meio da assessoria de comunicação, evitou qua-
lificar o relatório do TCU. Mas em nota distribuída no início da noite, o Ministério afirmou 
que as conclusões do tribunal só se aplicam ao universo de benefícios selecionados para a 
auditoria – e que o resultado que aponta irregularidades em 23% da amostra não pode ser 
extrapolado aos demais benefícios. “Portanto, os não selecionados (23,545 milhões) não se 
enquadram na hipótese de pagamento indevido”, sustenta o Ministério. 
65FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
medidas
O déficit da Previdência, que deve passar de R$ 42 bilhões neste ano, tem motivado 
uma polêmica entre os que defendem uma nova reforma estrutural para estancá-lo e os que 
sustentam ser possível reduzir o rombo com melhoria da gestão do sistema. O TCU não 
entra no mérito dessa discussão. 
Com base no relatório, o Tribunal determinou ao Instituto Nacional do Seguro Social 
(INSS) queadote uma série de medidas para vedar os pagamentos irregulares. Entre elas , 
suspender e ressarcir a União dos valores pagos indevidamente e intensificar a fiscalização. 
De acordo com Vilaça, os auditores cruzaram dados do INSS e dos cadastros de eleitores do 
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da Receita Federal e os registros de óbitos no Ministério 
da Previdência Social. (...) 
73 benefícios acumulados
A auditoria identificou 14 pessoas que têm 10 ou mais benefícios em seu nome. A recor-
dista da relação, Magda dos Santos Lucena, tem 73 benefícios. No total, foram encontradas 
1.076 pessoas com quatro ou mais benefícios acumulados. Na base de dados da Previdência 
foram encontrados ainda 27.696 números de CPF que acumulam três ou mais benefícios e 
3,4 milhões com o CPF zerados. 
Outro problema, segundo a auditoria, são os 1,3 milhão de titulares de benefícios cujos 
sobrenomes estão abreviados, “o que dificulta o cruzamento de informações”. Foram ainda 
detectados no banco de dados da previdência 100 benefícios com valor mensal superior à 
remuneração de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), de R$ 24,5 mil. São ex-pra-
cinhas, aeronautas e outras categorias beneficiárias da legislação especial da Previdência. O 
TCU recomendou ao INSS que respeite o teto salarial, como manda a lei. 
A auditoria chamou a atenção para o aumento no número de requerimentos de auxílio-
doença, que passou de 1,2 milhão em 2001 para 3,2 milhões em 2004. O aumento foi de 
166%. São Paulo foi o Estado onde houve maior quantidade de benefícios, com 41,11% 
do total, seguido do Rio de Janeiro, com 10,06% e Minas Gerais (10,04%). As agências de 
Suzano, com 15.961 pedidos, e Barueri (8.828), ambas em São Paulo, e Palhoça, com 4.969 
pedidos, em Santa Catarina, são recordistas na concessão desse benefício.
08 de dezembro de 2006 – 20:03. Por Rosa Costa e Isabel Sobral
Fonte: http://www.estadao.com.br/ultimas/economia/noticias/2006/dez/08/332.htm
jurispruDência
EMENTA: Crime material contra a ordem tributária (L. 8137/90, art. 1º): lançamento 
do tributo pendente de decisão definitiva do processo administrativo: falta de justa causa 
para a ação penal, suspenso, porém, o curso da prescrição enquanto obstada a sua proposi-
tura pela falta do lançamento definitivo. 
1. Embora não condicionada a denúncia à representação da autoridade fiscal (ADInMC 
1571), falta justa causa para a ação penal pela prática do crime tipificado no art. 1º da L. 
8137/90 – que é material ou de resultado –, enquanto não haja decisão definitiva do proces-
so administrativo de lançamento, quer se considere o lançamento definitivo uma condição 
objetiva de punibilidade ou um elemento normativo de tipo. 
2. Por outro lado, admitida por lei a extinção da punibilidade do crime pela satisfação 
do tributo devido, antes do recebimento da denúncia (L. 9249/95, art. 34), princípios e 
66FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
garantias constitucionais eminentes não permitem que, pela antecipada propositura da ação 
penal, se subtraia do cidadão os meios que a lei mesma lhe propicia para questionar, perante 
o Fisco, a exatidão do lançamento provisório, ao qual se devesse submeter para fugir ao 
estigma e às agruras de toda sorte do processo criminal. 
3. No entanto, enquanto dure, por iniciativa do contribuinte, o processo administrativo 
suspende o curso da prescrição da ação penal por crime contra a ordem tributária que de-
penda do lançamento definitivo.
STF. HC 81.611/DF. Relator Ministro Sepúlveda Pertence. Tribunal Pleno. Julgamen-
to: 10/12/2003. Publicação: DJ 13-05-2005 PP-00006.
EMENTA: Habeas Corpus. Penal. Processual Penal. Crime contra a ordem tributária. 
Representação fiscal. Suspensão do curso da ação penal. Decisão definitiva do procedimen-
to administrativo fiscal. Condição de procedibilidade da ação penal. Lavagem de dinheiro. 
Crime autônomo. 
1. Denúncia carente de justa causa quanto ao crime tributário, pois não precedeu da in-
vestigação fiscal administrativa definitiva a apurar a efetiva sonegação fiscal. Nesses crimes, 
por serem materiais, é necessária a comprovação do efetivo dano ao bem jurídico tutelado. 
A existência do crédito tributário é pressuposto para a caracterização do crime contra a 
ordem tributária, não se podendo admitir denúncia penal enquanto pendente o efeito pre-
clusivo da decisão definitiva em processo administrativo. Precedentes. 
2. O crime de lavagem de dinheiro, por ser autônomo, não depende da instauração 
de processo administrativo-fiscal. Os fatos descritos na denúncia, se comprovados, podem 
tipificar o crime descrito na norma penal vigente, devendo, quanto a este, prosseguir a ação 
penal. Precedentes. 
3. Habeas corpus parcialmente concedido. 
STF. HC 85949/MS. Relatora Ministra Cármen Lúcia. 1a Turma. Julgamento: 
22/08/2006. Publicação: DJ 06-11-2006 PP-00038.
EMENTA: Habeas-Corpus. Penal tributário. Crime contra a ordem tributária. Supres-
são ou redução de tributo devido (lei 8.137/1990, art. 1º, I e II). Denúncia oferecida antes 
da constituição definitiva de crédito tributário. Anulação por vício formal e substituição do 
lançamento durante o curso da ação penal. Ausência de justa causa. Antes da constituição 
definitiva do crédito tributário, não há justa causa para início da ação penal relativa aos 
crimes contra a ordem tributária (art. 1º da Lei 8.137/1990). Precedente do Plenário do 
Supremo Tribunal Federal (HC 81.611, rel. min. Sepúlveda Pertence, DJ 13.05.2005). A 
substituição, por novos lançamentos, dos autos de infração anulados por vício formal não 
convalida a ação penal ajuizada antes do lançamento definitivo, porquanto a constituição 
do crédito tributário projeta um novo quadro fático e jurídico para o oferecimento da de-
núncia. Durante a pendência do julgamento de recurso administrativo no âmbito tributá-
rio, não há o início do curso do prazo prescricional (art. 111, I, do Código Penal). Ordem 
de habeas-corpus concedida, para trancamento da ação penal, sem prejuízo do oferecimento 
de nova denúncia, com base em crédito tributário definitivamente constituído. 
STF. HC 84345/PR. Relator Ministro Joaquim Barbosa. 2a Turma. Julgamento: 
21/02/2006. Publicação: DJ 24-03-2006 PP-00054.
EMENTA: Recurso ordinário em habeas corpus. Apropriação indébita previdenciária. 
Inépcia da denúncia: descrição genérica. Falta de justa causa. Exigência de dolo específico 
(animus rem sibi habendi). Ofensa ao princípio da anterioridade da lei. Alegações improce-
dentes. 
67FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
1. A denúncia que descreve os fatos delituosos e aponta seus autores não é inepta. Na 
espécie, o paciente e sua sócia foram denunciados pelo não-repasse à Previdência Social das 
contribuições previdenciárias descontadas dos empregados, omissão que o paciente confes-
sou ter conhecimento. 
2. Ao contrário do crime de apropriação indébita comum, o delito de apropriação indé-
bita previdenciária não exige, para sua configuração, o animus rem sibi habendi. 
3. Inocorrência de ofensa ao princípio da anterioridade da lei: a jurisprudência desta 
corte firmou-se no sentido de que “[o] artigo 3º da Lei n. 9.983/2000 apenas transmudou 
a base legal da imputação do crime da alínea ‘d’ do artigo 95 da Lei n. 8.212/1991 para o 
artigo 168-A do Código Penal, sem alterar o elemento subjetivo do tipo, que é o dolo gené-
rico’. É dizer: houve continuidade normativo-típica. Recurso ordinário em habeas corpus a 
que se nega provimento. 
STF. RHC 88144/SP. Relator Ministro Eros Grau. 2a Turma. Julgamento: 04/04/2006. 
Publicação: DJ 02-06-2006 PP-00044.
EMENTA: Processual penal. Recurso especial. Apropriação indébita previdenciária. Pres-
cindibilidade do especial fim de agir ou dolo específico (animus rem sibi habendi). Crime 
omissivo próprio. Não constituem causa excludente da culpabilidade meros problemas econô-
micosou financeiros. Impossibilidade de reexame probatório. Recurso especial improvido.
1. O dolo do crime de apropriação indébita previdenciária é a consciência e a vontade de 
não repassar à Previdência, dentro do prazo e na forma da lei, as contribuições recolhidas, 
não se exigindo a demonstração de especial fim de agir ou o dolo específico de fraudar a 
Previdência Social como elemento essencial do tipo penal.
2. Ao contrário do que ocorre na apropriação indébita comum, não se exige o elemento 
volitivo consistente no animus rem sibi habendi para a configuração do tipo inscrito no art. 
168-A do Código Penal. 
3. Trata-se de crime omissivo próprio, em que o tipo objetivo é realizado pela simples 
conduta de deixar de recolher as contribuições previdenciárias aos cofres públicos no prazo 
legal, após a retenção do desconto.
4. Não se exime de responsabilidade o omitente que não faz o recolhimento devido a 
meros problemas econômicos ou financeiros. 
5. A inexigibilidade de conduta diversa constitui causa supralegal de exclusão da culpa-
bilidade e, para que reste configurada, é necessário que o julgador vislumbre a sua plausi-
bilidade, de acordo com os fatos concretos revelados nos autos, cujo reexame seria inviável 
em sede de recurso especial.
6. Recurso improvido.
STJ. REsp 447405/RS. Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima. 5a Turma. Julgamento: 
06/09/2005. Publicação: DJ 10.10.2005 p. 411.
EMENTA: Penal e Processual Penal – Apelação Criminal – Não recolhimento de con-
tribuição previdenciária descontada de empregados – Art. 168-a, § 1º, I, do CP – Autoria 
e materialidade comprovadas – Dificuldades financeiras demonstradas – Inexigibilidade de 
conduta diversa – Recurso ministerial improvido. 
I – O crime previsto no art. 168-A, § 1º, I, do Código Penal é crime omissivo próprio, e 
se perfaz com a adequação da conduta omissiva à descrição típica penal, quando o agente se 
abstém de recolher à Previdência Social os valores anteriormente arrecadados, infringindo o 
dever implícito na norma incriminadora de repassar as contribuições previdenciárias. 
II – A comprovação de dificuldades financeiras, pela apresentação de documentação idô-
nea, demonstra a impossibilidade de a apelada agir conforme o direito, restando excluída sua 
68FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa, impondo-se a absolvição com funda-
mento no art.386, V, do CPP. 
III – Apelo do Ministério Público Federal a que se NEGA PROVIMENTO.
TRF-2a Região. ACR 2004.50.01.005946-6/ES. Relator Juiz Messod Azulay Neto. 
2a Turma Especializada. Julgamento: 07/11/2006. Publicação: DJU 23/11/2006 Página: 
250.
questões
TRF-2. 3o Concurso para Juiz Federal Substituto – 33ª Questão.
O que se entende por causa supralegal de exclusão da ilicitude? Exemplifique.
22º Concurso Público para cargo de Procurador da República (2005)
No delito de apropriação indébita previdenciária: 
a) ( ) O elemento subjetivo do tipo é o dolo genérico, pois a lei nº 9983, de 2000, 
art3º, limitou-se a transmudar a base legal da imputação do ilícito capitulado na lei 
nº 8212, de 1991, art95, “d”, para o Código Penal, art. 168-A;
b) ( ) O sujeito ativo é o responsável pela contabilidade da empresa, ainda que trabalhe 
no seu próprio escritório ou domicílio profissional;
c) ( ) A semelhança da apropriação indébita comum exige, para sua configuração, o 
animus sidi habendi;
d) ( ) Deu-se o surgimento de um modelo legal de crime inteiramente novo, com o 
acréscimo do Código Penal do art. 168 –A, que, assim, afastou uma possível conti-
nuidade típica entre as leis sob nº(s) 8212, de 1991, art 95, “d”, e 9983, de 2000, 
art 3º
20º Concurso Público para provimento de cargos de Procurador da República (2003)
O procedimento administrativo-fiscal pode constituir-se em condição objetiva de pu-
nibilidade ao delito contra ordem tributária. 
11° Concurso de Juiz Federal Substituto da 4º Região (2004)
Assinalar a alternativa correta. 
Mévio é condenado em primeiro grau a 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de reclusão e multa 
pelo crime do art. 168-A do Código Penal e a sentença dispõe que a execução será inicia-
da após o seu trânsito em julgado. Mévio apela e a sentença é confirmada pelo Tribunal 
Regional Federal que determina a sua execução. A pena privativa de liberdade é substi-
tuída por duas penas restritivas de direito. A defesa interpõe recursos especial e extraor-
dinário que são admitidos. O Ministério Público Federal não recorreu da sentença.
a) O juiz das execuções pode iniciar a execução das penas restritivas de direito, porque 
os recursos especial e extraordinário não têm efeito suspensivo e o Tribunal Regional 
Federal não está hierarquicamente submetido à determinação da sentença no sen-
tido de que a execução só se faça com trânsito em julgado, mesmo que não tenha 
havido apelo ministerial.
b) O juiz das execuções pode iniciar a execução das penas restritivas de direito e da 
pena de multa, porque os recursos especial e extraordinário não têm efeito suspen-
sivo e o Tribunal Regional Federal não está hierarquicamente submetido à determi-
nação da sentença no sentido de que a execução só se faça com trânsito em julgado, 
mesmo que não tenha havido apelo ministerial.
69FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
c) O juiz das execuções não pode iniciar a execução das penas antes do trânsito em 
julgado da sentença, em face ao princípio constitucional da inocência.
d) O juiz das execuções pode iniciar apenas a execução da pena de multa, porque, 
não envolvendo a liberdade de locomoção do condenado, não ofende ao princípio 
constitucional da não culpabilidade.
11° Concurso de Juiz Federal Substituto da 4º Região (2004)
Assinalar a alternativa correta.
Conhecido empresário nacional vinha lesando a ordem tributária estadual e federal 
desde o início da década de 1960, quando vigorava a Lei nº 4.729/65, e continuou a 
sua prática criminosa, perpetrada mensalmente, após o advento da Lei nº 8.137/90 (lei 
penal mais grave), tendo sido descoberto em maio de 1992.
a) Aplica-se a lei penal posterior, porque o crime continuado é crime único apenas 
para fins de aplicação da pena, constituindo-se em um concurso material privilegia-
do por razões de política criminal.
b) Não se aplica a lei penal mais grave, porque o crime continuado é crime único, 
aplicando-se o princípio da ultra-atividade da lei penal mais benigna.
c) Aplicam-se cumulativamente a lei penal mais grave para os crimes consumados após 
a sua vigência e a lei penal anterior para os que se consumaram durante a vigência 
desta.
d) Aplica-se a lei penal apenas do crime mais grave, porque se trata de crime único, 
permanente, pela aplicação do princípio da legalidade, solucionando-se o concurso 
aparente de normas pela aplicação do princípio da consunção.
8º Concurso Público para Provimento de Cargos de Juiz Federal Substituto da 5ª Região
Marque “c” (certo) ou “e” (errado) para a assertiva abaixo
Nos crimes contra a ordem tributária, conforme entendimento do STJ, o parcelamento 
de débito tributário antecedente à denúncia extingue a punibilidade, ainda que não haja o 
pagamento integral do débito. ( )
BiBliografia oBrigatória
PRADO, Luiz Regis: Direito Penal Econômico. São Paulo: RT, 2007, pp. 303/340 e 
369/399.
Habeas Corpus nº 81.611, julgado pelo Supremo Tribunal Federal
ativiDaDe complementar
1. Você é procurado(a) na condição de advogado criminalista por um cliente de-
nunciado pela prática do crime previsto no Art. 1º, Parágrafo Único, da lei nº 
8.137/1990. Seu cliente narra que foi intimado por um fiscal da Secretaria Mu-
nicipal de Fazenda, por três vezes, para apresentar os livros orbigatórios referentes 
à movimentação financeira da empresa, necessários para a apuração de eventual 
sonegação de ISS, mas que deixou de faze-lo porque não os encontrava. O fiscal70FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aplicou uma multa administrativa e enviou peças ao Ministério Público para pro-
vidências. Seu cliente narra que, passados dois meses do término do prazo para 
entrega dos livros, novo fiscal compareceu em sua empresa, requerendo os mesmos 
livros, os quais, dessa vez, foram regularmente apresentados, não se apurando a 
existência de qualquer débito fiscal. A partir dos fatos narrados, identifique suas 
conseqüências jurídicas e elabore um petição ao juiz da causa requerendo que a 
denúncia apresentada seja rejeitada, na forma do art. 43, I, do Código de Processo 
Penal. Valor: 1,0 ponto.
71FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 18: contraBanDo e Descaminho.
introDução
O artigo 334, do Código Penal, está assim redigido: “Art. 334 Importar ou exportar 
mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto 
devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria. Pena – reclusão, de um a 
quatro anos.” Basta a leitura singela para ver que há duas condutas completamente diferen-
tes apenadas de forma idêntica, no mesmo dispositivo legal. A primeira é importar/expor-
tar mercadoria proibida; a outra é iludir o pagamento de imposto relativo à importação/
exportação. 
Embora agrupe os comportamentos sob uma mesma rubrica, cominando penas idên-
ticas, o art. 334, CP, tipificou dois crimes distintos: o contrabando (ingresso no país de 
mercadoria proibida) e o descaminho (ingresso no país de mercadoria mediante supressão 
total ou parcial do imposto). Muitos autores são categóricos em afirmar que o descaminho 
é um crime contra a ordem tributária, ao passo que o contrabando não repercute sobre essa 
mesma ordem tributária; há, todavia, quem discorde.
No que tange à conduta proibida caracterizada como descaminho, sua característica 
objetiva é o não pagamento do tributo devido. Não importa o método pelo qual se pratica a 
conduta – ocultando a mercadoria conduzida para que os fiscais não tomem conhecimento 
da importação; modificando a rota de ingresso no país, evitando a barreira alfandegária, 
para impedir que se exija o pagamento do imposto devido; ou mesmo atuando com mais 
inteligência, como a velhinha da motocicleta imortalizada por Luís Fernando Veríssimo. 
Para que se configure o crime, basta a conduta do agente no sentido de iludir o fisco quanto 
ao pagamento de imposto. Por outro lado, se o agente não tem nenhuma intenção de burlar 
a fiscalização nem suprimir o tributo, não há descaminho. A conduta deve ser dolosa.
Além da hipótese principal, o legislador criou condutas equiparadas ao contrabando e 
descaminho (§ 1º, alíneas a, b e c), como a conduta de quem vende, expõe a venda, mantém 
em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de 
atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, quando sabe ser 
produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por 
parte de outrem. 
caso
operação Dilúvio desarticula esquema de fraudes no comércio exterior 
BRASÍLIA/DF – Após cerca de dois anos de investigações, a Polícia Federal com o apoio 
da Receita Federal deflagra nesta quarta-feira, 16, em oito estados do Brasil e nos Estados 
Unidos da América a Operação Dilúvio. A ação conjunta tem o objetivo de desarticular o 
maior esquema já constatado de fraudes no comércio exterior, interposição fraudulenta, 
sonegação, falsidade ideológica e documental, evasão de divisas, cooptação de servidores 
públicos, entre outros ilícitos, cometidos por um grupo empresarial estabelecido em São 
Paulo e com diversas ramificações. Até o fim da tarde, 95 prisões já foram confirmadas.
A operação reúne desde a madrugada cerca de 950 policiais federais e 350 servidores 
da Receita Federal. As equipes executam mandados de busca e apreensão expedidos pela 
72FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Justiça Federal de Paranaguá (PR) e Itajaí (SC) em mais de 200 locais nos estados do PR, 
SC, SP, BA, RJ, PE, CE e ES. As buscas acontecem em residências dos envolvidos, empresas 
do esquema, principais clientes, depósitos de mercadorias, escritórios de advocacia e de 
despachantes e colaboradores. 
A Polícia Federal cumpre também mandados de prisão envolvendo os principais respon-
sáveis pelas fraudes e seus colaboradores diretos e indiretos. Entre os presos estão diretores e 
sócios de grandes distribuidoras de produtos importados que são clientes do esquema frau-
dulento de importação, reais beneficiários da “economia” irregular de tributos, servidores 
públicos federais e estaduais, entre outros.
A pedido da Justiça brasileira e com a colaboração do DHS (Departamento de Segurança 
Interna dos EUA), uma equipe de policiais norte-americanos, acompanhada de policiais 
federais e auditor da Receita Federal brasileiros, também faz buscas em Miami – EUA, sob 
autorização da Justiça americana, em empresas controladas pelo grupo empresarial objeto da 
investigação. Um fato inédito na história que dá a essa operação um caráter transnacional.
como Funciona o esquema
O principal líder do grupo é um empresário paulista que morou no Paraguai e constituiu 
elevado patrimônio. Nos últimos dez anos, o grupo registrou dezenas de empresas importa-
doras, conhecidas como “tradings”, além de diversas “distribuidoras” que intermediavam as 
operações de forma a ocultar e a “blindar” o real importador (cliente do grupo), e realizar 
uma expressiva redução fraudulenta de tributos. Uma das “tradings”, criada no início do 
grupo, foi citada no relatório final da CPI da Pirataria do Congresso Nacional, por envolvi-
mento na rede de abastecimento para o esquema de Law Kim Chong.
O esquema permitiu a importação de aparelhos eletrônicos, equipamentos de informá-
tica e telecomunicações, pneus, equipamentos de ortopedia e luvas cirúrgicas, frutas, em-
balagens plásticas ou PET, tecidos e vestuários, pilhas e baterias, carros e motos, vitaminas 
e complementos alimentares, produtos de perfumaria, entre outros. Os principais clientes 
estão localizados nos estados do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco.
As investigações mostram que as empresas do grupo importaram mais de R$ 1,1 bilhão, 
nos últimos quatro anos. Considerando que os valores declarados provêm de um subfatu-
ramento em média de 50%, pode-se estimar uma sonegação de tributos federais aduaneiros 
em mais de R$ 500 milhões, sem levar em conta os outros tributos como ICMS, IPI, PIS, 
COFINS e Imposto de Renda.
Estudo realizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior 
demonstra que para cada R$ 1 bilhão em exportações há a necessidade da criação de 40.000 
empregos. Inversamente, tendo em conta que a sonegação da organização criminosa foi 
de R$ 500 milhões, indiretamente deixaram de ser criados cerca de 20.000 empregos no 
Brasil.
Na maioria dos casos, as empresas importadoras promovem uma simulação fraudulenta, 
registrando operações como se as importações tivessem sido realizadas por conta própria, ou 
com registro na modalidade “Por Conta e Ordem”. Nesse caso eram indicadas como com-
pradoras empresas de fachada controladas pelo próprio grupo, acobertando o real cliente. 
Os reais importadores muitas vezes tinham conhecimento e até participavam das irre-
gularidades, principalmente declarando preços subfaturados. O esquema permitiu a eles 
expressiva redução de seus custos operacionais. Esta vantagem vinha basicamente do subfa-
turamento dos preços declarados nas importações, pela quebra da cadeia do IPI, pela uti-
lização indevida de incentivos de ICMS incidentes sobre importações implantados princi-
palmente nos estados do Espírito Santo (Vitória), Paraná (Maringá), Santa Catarina (Itajaí) 
73FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
e Bahia (Ilhéus), e pela obstrução à fiscalização, já que os reais beneficiáriospermaneceram 
ocultos.
As investigações apuraram que enquanto as empresas importadoras (tradings) e distri-
buidoras do grupo atuavam diretamente nas operações de comércio exterior e circulação 
no mercado interno, o grupo constituiu diversas empresas para promover uma “blindagem 
patrimonial”. Isto era feito com o uso de empresas “offshore” do Uruguai, Panamá, Ilhas 
Virgens Britânicas ou Estados Unidos (Estado de Delaware).
Os importadores de fachada também não são empresas efetivas. O quadro societário 
destas empresas é constituído por pessoas sem aparente capacidade econômico-financeira 
(“laranjas”), vinculadas ao grupo. Também ficou demonstrado que o grupo tinha estrutura 
para atender a um variado perfil de clientes, desde aqueles de menor expressão econômica a 
grandes distribuidores de marcas conhecidas no mercado. 
A Receita Federal já havia agido contra o esquema ilegal em 2002 na chamada “Ope-
ração São Paulo”, e o grupo também já foi alvo da “Operação Narciso”. A Polícia Federal, 
através da delegacia em Paranaguá (PR), também já havia esbarrado com a organização 
criminosa em 2005, na operação Carga Pesada, com a prisão de auditor fiscal da Receita 
Federal, empresários e despachantes daquele porto. Foi a partir daquela operação que se 
estruturou a operação Dilúvio, deflagrada hoje. 
Desde 2002, a Polícia Federal e a Receita Federal já realizaram 45 operações conjuntas.
balanço
Até o final desta tarde, já foram cumpridos 95 mandados de prisão. Foram 32 presos 
no Paraná (11 em Curitiba e 21 em Maringá e Região), 18 presos no Rio de Janeiro, 32 
presos em São Paulo (24 na capital e 08 no interior), um preso na Bahia (Ilhéus), 09 em 
Santa Catarina (Itajaí), dois no Espírito Santo e um em Pernambuco. No balanço parcial 
das apreensões já foram contabilizados 500 mil dólares e 360 mil reais apreendidos. Três 
buscas ocorreram nos Estados Unidos, sendo duas em empresas e uma em residência. Dois 
empresários que estariam envolvidos com o esquema foram localizados nos EUA, e serão 
encaminhados ao Brasil. (...)
Depois de dois anos de investigações, os policiais e auditores descobriram que os crimi-
nosos criavam empresas de informática de fachada na cidade de Ilhéus, onde eram benefi-
ciadas com isenções fiscais concedidas em virtude do Pólo de Informática existente no mu-
nicípio. A partir daí realizavam importações fraudulentas, deixando de declarar os produtos 
adquiridos. A despeito das empresas importadoras estarem sediadas em Ilhéus, o material 
de informática importado sequer passava pela cidade, indo diretamente e de forma irregular, 
para empresas do sul do país.
Em Ilhéus foram realizadas buscas em três empresas, em duas residências e em um es-
critório de contabilidade. Também foi preso um contador responsável pela movimentação 
das empresas.
Fonte: Departamento de Polícia Federal – 16/08/2006. Divisão de Comunicação Social – 
DCS/DPF. http://www.dpf.gov.br/DCS/noticias/2006/Agosto/16082006_Opdiluvio.htm
2ª turma do stf: ministério público tem que individualizar acusações contra denunciados
Por maioria, os ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) defe-
riram o Habeas Corpus (HC) 85327 para trancar a ação penal contra quatro acusados de 
prática de crime de descaminho e contra a ordem tributária. No julgamento do mérito do 
74FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
habeas, o relator Gilmar Mendes entendeu que o Ministério Público tem que individualizar 
as acusações contra os denunciados.
Em dezembro de 2004, os quatro denunciados tiveram indeferido o pedido de liminar 
nesse mesmo habeas. Eles pleiteavam a suspensão do andamento da ação penal em tramita-
ção contra eles na Justiça até o julgamento do mérito.
Em maio deste ano, quando o julgamento do mérito foi iniciado, o ministro-relator 
apresentou voto pelo deferimento do habeas. Entretanto, na ocasião, o julgamento foi sus-
penso em razão do pedido de vista do ministro Joaquim Barbosa.
Os advogados dos acusados alegavam ter havido, no caso concreto, “temerária apre-
sentação de denúncia sem uma correta definição sobre a autoria do delito, sem descrição 
como os sócios teriam contribuído para os fatos tidos como delituosos, pela inexistência de 
persecutório inquisitorial a apontar a existência de nexo causal entre o fato investigado e a 
conduta dos pacientes, sócios da empresa.”
Os quatro foram denunciados, como sócios da empresa de importações e exportações, 
por terem importado 4.800 dúzias de guarda-chuvas de Hong Kong, suprimindo os tribu-
tos incidentes. Segundo fiscalização realizada pela Receita Federal, em outubro de 1999, 
estavam sendo cobrados pelos produtos US$ 0,05 (cinco centavos de dólar) e, em outro 
despacho realizado no mesmo ano e de mercadoria semelhante, o valor declarado era de 
US$ 0,48 (quarenta e oito centavos de dólar).
Hoje, na retomada da análise do mérito do HC, o ministro-relator afirmou que o Minis-
tério Público tem o dever de imputar, na denúncia a ser oferecida, as acusações contra cada 
um deles individualmente. Todos os ministros seguiram o voto do relator Gilmar Mendes, 
vencido o ministro Joaquim Barbosa.
Fonte: Notícias do STF. Brasília, 19 de agosto de 2006.
jurispruDência
Descaminho
EMENTA: Habeas Corpus. Descaminho (art. 334, caput, segunda figura, do Código 
Penal). Princípio da bagatela ou da insignificância. Aplicação, in casu.
“I – Essa Eg. Corte havia consolidado entendimento no sentido de aplicar o princípio 
da insignificância para possibilitar o trancamento da ação penal no crime de descaminho de 
bens, cujos impostos incidentes e devidos fossem iguais ou inferiores a R$ 1.000,00, valor 
considerado pelos arts. 1.º da Lei n.º 9.469/97 e 20 da MP 1.542-28/97 como de desinte-
resse do erário em execução fiscal. Precedentes.
II – Nada obstante, com a entrada em vigor da Lei 10.522, de 19 de julho de 2002, o 
legislador posicionou-se no sentido de certificar a insignificância de créditos de valor igual 
ou inferior a R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais). Precedentes.
III – In casu, o tributo devido pelo paciente foi avaliado em R$ 1.372,27, montante 
inferior ao determinado pela lei e pela jurisprudência como lesivo aos cofres públicos, fato 
a possibilitar
a incidência do princípio da insignificância. Isso porque, a conduta imputada na peça 
acusatória não chegou a lesar o bem jurídico tutelado, qual seja, a Administração Pública 
em seu interesse fiscal.
IV – Acórdão a quo que deve ser cassado, restabelecendo-se a decisão que não recebeu a 
denúncia, ante a aplicação do princípio da insignificância penal.” Habeas Corpus concedido.
75FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
STJ. HC 34281/RS. Relator Ministro José Arnaldo da Fonseca. 5ª Turma. Julgamento: 
08/06/2004. Publicação: DJ 09.08.2004 p. 281
EMENTA: Processual penal. Habeas Corpus. Descaminho. Princípios da insignificân-
cia e da irrelevância penal do fato. Inaplicabilidade. Valor sonegado superior ao previsto 
no art. 18, § 1º, da lei 10.522, de 19/7/2002. Prática reiterada da mesma conduta típica. 
Constrangimento ilegal inexistente. Ordem denegada.
1. O montante do tributo incidente sobre as mercadorias estrangeiras apreendidas é su-
perior ao valor estabelecido na norma legal que rege a extinção dos créditos tributários (Lei 
10.522/2002, art. 18, § 1º), não havendo falar na aplicação do princípio da insignificância, 
uma vez que existe interesse fiscal, embora postergado, por força do disposto no art. 20 do 
referido diploma legal.
2. Por outro lado, a prática reiterada da mesma conduta delituosa (descaminho) afasta 
a aplicação do princípio da irrelevância penal do fato, impondo o prosseguimento da ação 
criminal, tendo em vista que eventual sanção penal, por menor ou mais branda que seja, 
irá apresentar-se como sendo necessária, considerando o indispensável caráter coercitivo e 
retributivo.
3. Ordemdenegada. 
STJ. HC 38965/RS. Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima. 5ª Turma. Julgamento: 
02/06/2005. Publicação: DJ 22.08.2005 p. 308.
EMENTA: Processual penal. Recurso ordinário em habeas corpus. Descaminho. Tran-
camento de inquérito. Falta de justa causa. Extinção da punibilidade. Pagamento do tribu-
to. Aplicação analógica da lei nº 9.249/95. Impossibilidade.
I – O trancamento de inquérito por ausência de justa causa, conquanto possível, cabe, 
apenas, nas hipóteses em que evidenciado, de plano, a atipicidade do fato ou a inexistência 
de autoria por parte da paciente. (Precedentes).
II – A Lei nº 9.249/95 é taxativa ao estabelecer no caput do art. 34 a extinção da puni-
bilidade do agente que promover o pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive 
acessórios, antes do recebimento da denúncia, apenas em relação aos crimes definidos na 
Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965, não 
podendo, por isso mesmo, ser aplicada ao delito de descaminho previsto no art. 334 do 
Código Penal. Recurso desprovido.
STJ. RHC 16109/SP. Relator Ministro Felix Fischer. 5ª Turma. Julgamento: 02/09/2004. 
Publicação: DJ 18.10.2004 p. 298
contrabando
EMENTA: Direito Penal e Processual Penal. Aquisição de mercadorias de procedência 
estrangeira. Denúncia por crime de contrabando ou descaminho: art. 334, § 1 , “d”, do 
c.penal. Desclassificação e condenação por receptação dolosa: art. 180, “caput”, do c. Penal, 
sem a observância do art. 384 do c.p.penal. Nulidade da sentença e do acórdão. Extinção da 
punibilidade pela prescrição (arts. 109, v, 110, § 1º, do c. Penal). “Habeas Corpus”.
1. A denúncia imputou ao paciente o fato de haver adquirido, do co-réu, certas merca-
dorias, sem documentação legal, subtraídas de um navio, e por isso pediu sua condenação 
por crime de contrabando ou descaminho (art. 334, § 1, “d”, do C.Penal. 
2. Sucede que a sentença não o condenou por esse fato, mas, sim, por receptação dolosa, 
partindo da premissa de que ele sabia que se tratava de mercadorias furtadas de um navio 
76FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
(art. 180, “caput”, do Código Penal) e foi confirmada pelo acórdão impugnado, que repeliu 
a argüição preliminar do apelante, ora paciente, no sentido da nulidade da sentença, por 
haver operado a desclassificação, sem observância do disposto no art. 384 do Código de 
Processo Penal. 
3. Pareceu ao digno Magistrado e ao Tribunal Regional Federal que aplicável seria à es-
pécie a norma do art. 383 do Código de Processo Penal. Ocorre que o paciente não foi con-
denado pelo mesmo fato a ele imputado na inicial (aquisição de mercadorias de procedência 
estrangeira, sem documentação legal – art. 334, § 1º, “d”, do Código Penal), mas, sim, por 
haver adquirido as mercadorias, sabendo que se tratava de produto de crime de furto quali-
ficado, pelos quais outros réus foram condenados (art. 180, “caput”, do Código Penal). 
4. É de se objetar, porém, que não há, na denúncia, qualquer afirmação no sentido de 
que esse denunciado sabia que tais mercadorias haviam sido furtadas do navio, ao contrário 
do que ocorreu na imputação feita ao co-réu, este, sim, denunciado e condenado por crime 
de receptação (art. 180, “caput”, do Código Penal.) 
5. Ora, em situação como essa, deve, mesmo, o Juiz, observar a regra do art. 384. A 
circunstância elementar do crime de receptação, que o Juiz considerou provada, sem que 
houvesse sido afirmada na denúncia, foi o fato de o réu saber que se tratava de mercadorias 
furtadas, sem que este tivesse tido oportunidade de se defender a esse respeito. 
6. Assim, procedendo à desclassificação e, na mesma sentença, proferindo a condenação 
por crime de receptação dolosa (art. 180, “caput”), descumpriu o Magistrado a norma do 
art. 384 do Código de Processo Penal. 
7. E a nulidade, resultante desse cerceamento, foi argüída pelo réu, ora paciente, na pri-
meira oportunidade, ou seja, ao apelar da sentença condenatória. Mas o acórdão houve por 
bem confirmá-la, inclusive no ponto em que operou a desclassificação, sem o cumprimento 
daquela determinação do referido dispositivo. 
8. Sendo nula a desclassificação, como operada, o Magistrado, para renová-la, teria, 
a esta altura, de propiciar ao Ministério Público a oportunidade de propor a suspensão 
do processo, e ao réu a faculdade de aceitá-la, em face do disposto no art. 89 da Lei nº 
9.099/95, que já estava em vigor, quando da prolação da sentença, datada de 13.09.1996 e 
na conformidade do que já decidiu o Plenário desta Corte, no HC nº 75.894. 
9. Mas a anulação da sentença provoca, no caso, efeito maior. É que condenou o pa-
ciente à pena de um ano de reclusão, convertida em prestação de serviços à comunidade. 
Essa pena não poderia ser ampliada, na nova sentença que tivesse de ser proferida, pois, 
segundo pacífica jurisprudência desta Corte, isso implicaria uma “reformatio in peius”, já 
que o recurso fora apenas do réu. Ora, os fatos imputados ao paciente ocorreram conforme 
a denúncia, em fevereiro de 1993, sendo ela recebida a 16 de agosto de 1993. Entre esta 
última data (16.08.1993) e a do presente julgamento, decorreram bem mais que quatro 
anos, que é o prazo prescricional previsto, nesse caso, pelos artigos 110, § 1º, e 109, inc. V, 
do Código Penal. 
10. “H.C.” deferido, para se anular o acórdão e a sentença condenatória, com relação 
ao paciente. Em conseqüência, também com relação a ele, de ofício, fica julgada extinta a 
punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva. 
STF. HC 76688/RS. Relator Ministro Sydney Sanches. 1a Turma. Julgamento: 
07/04/1998. Publicação: DJ 18-09-1998 PP-00004.
EMENTA: recurso extraordinário. Anistia fiscal. Decretos-leis 2446 e 2457. Reflexos 
penais. Ausência de inconstitucionalidade. Decretos-leis 2446 e 2457, que propiciaram 
anistia fiscal legalizante de entrada de mercadoria até então proibida. Matéria tributaria 
com reflexos idôneos no direito penal. Inexistência de invasão, por decreto-lei, do temário 
77FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
penal, àquela vedado. Alegação da inconstitucionalidade inconsistente. Recurso extraordi-
nário não conhecido. 
STF. RE 148687/PR. Relator Ministro Francisco Rezek. Tribunal Pleno. Julgamento: 
20/04/1995. Publicação: DJ 15-09-1995 PP-29518.
EMENTA: Crime de contrabando. – Para que haja crime de contrabando e preciso que 
ocorra importação ou exportação de mercadoria proibida. Essa proibição pode ser absoluta 
ou relativa, sendo que e relativa quando a proibição cessa com a satisfação de determinadas 
condições. – A obrigatoriedade de “autorização para exportação” expedida pelo Ministério 
da Agricultura, sem a qual a CACEX não poderia dar a licença para a exportação de semen-
tes de soja ainda quando o pedido estivesse acompanhado de certificado fitossanitário, ca-
racteriza a proibição relativa que da margem a ocorrência do crime de contrabando quando 
– como sucedeu na espécie – não e ela afastada pela satisfação dessas condições. “Habeas 
corpus” indeferido. 
STF. HC 69754/PR. Relator Ministro Moreira Alves. 1a Turma. Julgamento: 11/12/1992. 
Publicação: DJ 12-03-1993 PP-03562
EMENTA: Direito Penal. Crime de contrabando por assimilação. Cigarros reinserção 
de mercadoria brasileira destinada à exportação no território nacional. Princípio da insig-
nificância. Incidência. Valor inferior a r$ 2.500,00, nos termos da lei n.º 10.522/02. Causa 
Supralegal de excludente de ilicitude. Precedentes do STJ.
1. Se a própria União, na esfera cível, a teor do art. 20 da Lei n.º 10.533/2002, entendeu 
por perdoar as dívidas inferiores a R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), não faz sentido 
apenar o recorrente pelo crime de contrabando por assimilação, pelo fato de ter introduzido 
no país mercadoria nacional sem o recolhimento de tributo inferior ao mencionado valor.
2. Aplicação do princípioda insignificância como causa supralegal de exclusão da tipi-
cidade. Precedentes do STJ.
3. Recurso provido.
STJ. Resp 308307/RS. Relatora Ministra Laurita Vaz. 5a Turma. Julgamento: 18/03/2004. 
Publicação: DJ 12.04.2004 p. 232
questões
TRF-2 – 10º Concurso para Juiz Federal Substituto – 1ª Prova Escrita – 37ª questão 
O réu foi condenado por crime de descaminho a 2 anos e 4 meses de reclusão, com 
trânsito em julgado para a acusação. Na data da sentença, o réu tinha 71 anos. O fato 
é de julho de 1999 e o recebimento da denúncia se deu em agosto de 2003. A defesa 
reclama a extinção da punibilidade. Está certo? Explique detalhadamente.
TRF-2 – 10º Concurso para Juiz Federal Substituto – 1ª Prova Escrita – 39ª questão
Nos crimes de descaminho, quando o juiz criminal pode aplicar o princípio da bagatela?
BiBliografia oBrigatória
PRADO, Luiz Regis: Direito Penal Econômico. São Paulo: RT, 2007, pp. 352/367.
BATISTA, Nilo: O objeto jurídico do crime de contrabando: um equívoco centená-
rio. In Novas tendências do Direito Penal. Rio de Janeiro: Revan, 2004, pp. 37/51.
78FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
BiBliografia complementar
BALTAZAR JUNIOR, José Paulo: Crimes Federais. Porto Alegre: Livraria do Advo-
gado, 2006, pp. 150/170.
COSTA JR., Paulo José e PAGLIARO, Antonio: Dos crimes contra a administração 
pública. São Paulo: Malheiros, 1997, pp. 233/245.
BITENCOURT, Cezar Roberto: Tratado de Direito Penal, vol. 4. São Paulo: Saraiva, 
2004, pp. 484/487.
ativiDaDe complementar
1 – Elaborar uma legal opinion abordando as repercussões criminais da narrativa abaixo. 
Valor: 3,0 pontos.
Você é procurado, na condição de advogado criminalista, pelo Diretor-Presidente da 
“Companhia Brasileira de Energia”, afiliada a uma semelhante alemã denominada “Com-
panhia de Energia”. Os fatos ora imputados a esta “Companhia Brasileira de Energia” serão 
o objeto de sua análise. 
Seu cliente apresenta a você cópia de uma denúncia formulada pelo Ministério Público 
alemão perante a Corte Distrital de Frankfurt contra a “Companhia de Energia” segundo 
a qual seus diretores e funcionários, bem como os diretores e funcionários da “Companhia 
Brasileira de Energia”, teriam, consciente e propositadamente, conspirado para introduzir 
no Brasil, durante os seis primeiros meses de 2008, sementes de girassol, fruto de pesquisas 
da DNA Technology Enterprise (DTE) – empresa alemã que se dedica ao melhoramento 
de sementes de vegetais. A semente de girassol mencionada na denúncia é identificada como 
sendo Gira-25, porque produziria 25 vezes mais óleo do que uma semente regular, aumen-
tando o rendimento na produção de biodiesel ou outros tipos de óleos energéticos.
Suspeita-se que essas sementes poderiam ser resultado de modificação genética, ou con-
ter organismos geneticamente modificados, contrariando a legislação alemã vigente à época, 
que proibia a saída de tal produto do território alemão: “É ilegal exportar qualquer tipo de 
semente ou planta viva da Alemanha, ou de território sobre a jurisdição desta, para qualquer 
outro país, porto ou local estrangeiro, a menos que esta atividade de exportação e/ou trans-
porte seja feita no estrito cumprimento de permissão concedida pelo Secretário de Agricul-
tura. Tal permissão deverá ser concedida pelo Secretário somente se restar comprovado que 
tais sementes ou plantas serão unicamente objeto de estudo experimental.”
Este dispositivo foi ab-rogado do ordenamento jurídico alemão em 01/08/2008, não 
restando, assim, conforme a doutrina penal moderna, e inclusive adotada no Brasil, a exis-
tência de pretensão punitiva pois que extinta a punibilidade do alegado delito, em face 
do disposto nos artigos 2° e 107, III, do Código Penal. Embora tal conduta não constitua 
mais delito no ordenamento alemão, a forma de introdução de tais sementes de girassol 
no território brasileiro, alegada na denúncia estrangeira, poderia configurar, aqui, conduta 
contrária à legislação pátria. 
Tal forma de introdução teria sido, ainda segundo a denúncia supracitada: a) por 
meio de pacotes enviados pelo correio pela DTE e pela “Companhia de Energia”; b) 
por meio de agentes da DTE e da “Companhia de Energia” que traziam-nas consigo 
em viagens ao Brasil; c) por meio de pacotes dados aos funcionários da “Companhia 
Brasileira de Energia” para que os trouxessem. Em todas as três modalidades de suposta 
introdução de sementes em território brasileiro, são especificadas datas, variando de 
01/01/2008 até 01/07/2008. Tal ingresso de sementes no território brasileiro, uma vez 
79FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
comprovado, poderia dar origem a diferentes enfoques deste ato pelo ordenamento 
jurídico nacional.
Suas tarefas são: 1) identificar se a conduta narrada configura algum crime (e qual) tra-
balhando com duas hipóteses distintas: a) serem as sementes fruto de modificação genética, 
ou b) serem resultado de simples melhoramento decorrente de cruzamentos entre espécies; 
2) averiguar a possibilidade de desclassificação de crime de contrabando para infração admi-
nistrativa ordinária; e, 3) averiguar a hipótese de enquadrar-se em crime de pequena monta 
(crime de bagatela).
80FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 19: cartel, Dumping e outros “maus-háBitos” comerciais.
introDução
O regime constitucional de proteção da livre iniciativa, da liberdade de trabalho e dos 
direitos do consumidor é afetado quando determinadas condutas violam o equilíbrio ou as 
condições de igualdade concorrencial entre os competidores do mercado. Em um modelo 
de livre-concorrência, em que as empresas competem entre si, os preços de mercado a partir 
da relação entre oferta e procura.
Quando empresas ou grupos se reúnem com o objetivo de dominar o mercado e supri-
mir a livre concorrência ocorre a formação de um cartel ou truste. O objetivo dessa reunião 
de empresas pode ser criar um oligopólio no mercado, ou mesmo constituir uma única or-
ganização empresarial – informal – de modo a criar um verdadeiro monopólio no mercado. 
As possíveis causas da formação de cartéis é a alteração artificial dos preços ou da oferta de 
determinados produtos e/ou serviços. Também é possível usar o termo truste para definir 
uma grande organização empresarial que possui – e usufrui – de grande poder de pressão 
no mercado.
Indícios da existência de cartel em um mercado são o alinhamento de preços (que ocorre 
quando um grande percentual dos concorrentes oferece o mesmo produto com preços iguais 
ou bastante próximos, praticando as mesmas margens de lucro) e os aumentos simultâneos 
ou a confluência de preços em determinada data, ou seja, quando os concorrentes aumen-
tam os preços simultaneamente ou passam a praticar preços iguais ou muito próximos.
Além dos chamados cartéis ou trustes horizontais – constituídos por empresas do mes-
mo ramo – pode-se falar em trustes verticais – aqueles que visam a controlar todas ou várias 
etapas da produção de determinado gênero industrial, sendo que as empresas podem ser de 
diversos ramos. 
A atuação dos cartéis traz problemas não só para o mercado mas também para o consu-
midor, que pode encontrar produtos com preços de mais caros do que o normal, fruto da 
alteração fraudulenta do equilíbrio entre oferta e procura.
Além da forma mais conhecida de abuso do poder econômico para dominar o mercado 
ou eliminar a concorrência – ajuste ou acordo de empresas – a lei incrimina outras condutas 
capazes de gerar risco para a livre concorrência, como a aquisição ou concentração de ações, 
títulos, cotas, ou direitos; a incorporação ou fusão de empresas; e a cessação parcial ou total 
das atividades da empresa.
O simples alinhamento de preços não caracteriza um cartel, sendo apenas um indicativo. 
Para que se verifique o crime é preciso que as empresas ou grupos tenham formado qualquer 
espécie de acordo,convênio, ajuste ou aliança visando à fixação artificial de preços; ao con-
trole da rede de distribuição ou de fornecedores; ou ao controle do mercado.
Também é possível influir criminosamente no mercado para eliminar a concorrência me-
diante outros comportamentos, igualmente criminosos, tais como realizar dumping (vender 
mercadorias abaixo do preço de custo, com a finalidade de eliminar concorrentes); provocar 
oscilação de preços em detrimento de empresa concorrente ou vendedor de matéria-prima, 
destruir ou inutilizar bens de produção ou de consumo, dentre outros. 
Além das condutas que afetam diretamente as condições para a existência da livre con-
corrência, a lei considera crime contra a ordem econômica práticas voltadas para o merca-
do consumidor que, indiretamente, alteram as possibilidades do surgimento ou divisão de 
mercados entre concorrentes, como é o caso da venda casada (subordinar a venda de bem 
ou a utilização de serviço à aquisição de outro bem, ou ao uso de determinado serviço) e da 
81FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
venda restrita (sujeitar a venda de bem ou a utilização de serviço à aquisição de quantidade 
arbitrariamente determinada).
Por fim, a ordem econômica também é atingida por práticas que atentem contra o con-
trole que o Estado exerce sobre determinada produção ou serviço em circunstâncias especí-
ficas. São as hipóteses em que o controle da economia impõe o tabelamento de preços que 
geram a possibilidade de ocorrência de crimes como a venda por preço superior ao tabelado 
e o reajuste de preços proibido.
órgãos de fiscalização da ordem econômica (caDe, sDe e seae)
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) existe desde 1962, mas sua 
atual feição é resultado da transformação promovida pela Lei nº 8.884, de 11 de junho de 
1994, que tornou o CADE uma autarquia vinculada ao Ministério da Justiça. Seguindo a 
preocupação sobre o correto funcionamento da ordem econômica delineada pela Consti-
tuição de 1988 (art. 173, § 4º “A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à do-
minação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros”), 
foram atribuídas ao CADE as funções de orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos de 
poder econômico. O CADE hoje é a última instância, na esfera administrativa, nas decisões 
envolvendo questões sobre concorrência.
O CADE desempenha três funções diferentes: educativa, preventiva e repressiva. A fun-
ção educativa compreende a difusão da cultura da concorrência e das regras antitruste, 
representada pelo estímulo à produção acadêmica e pesquisas sobre o tema no Brasil. O 
CADE realiza ainda parcerias com universidades, institutos de pesquisa, associações e ór-
gãos do governo.
A função preventiva compreende a análise prévia de situações que traduzam a possibi-
lidade de concentração de mercado, gerando risco para a concorrência. O CADE analisa 
fusões, incorporações e associações de qualquer espécie entre agentes econômicos, verifi-
cando se haverá domínio de mercado. Embora tais fusões, aquisições e demais negócios 
jurídicos não sejam crimes, o CADE poderá impor obrigações de modo a preservar a livre 
concorrência.
Por fim, a função repressiva atua na investigação de fatos que caracterizem condutas an-
ticoncorrenciais (previstas nos artigos 20 e seguintes, da Lei nº 8.884/1994) as quais podem 
caracterizar, ou não, crimes contra a ordem econômica. Exemplos de práticas reprimidas 
pelo CADE que constituem crimes são a formação de cartéis, vendas casadas, prática de pre-
ços predatórios, acordos de exclusividade que prejudiquem a concorrência, dentre outras. 
A existência de estruturas concentradas de mercado (monopólios, oligopólios) não é crime, 
embora crie maior risco de comportamentos atentatórios à livre concorrência.
O CADE é formado por um presidente e seis conselheiros, indicados pelo presidente da 
República, e sujeitos à aprovação pelo Senado Federal, para um mandato de dois anos. A 
garantia do mandato garante maior autonomia para as decisões dos membros do CADE.
Além do CADE, o governo possui outros órgãos de controle e fiscalização das práticas 
concorrenciais e daquelas que afetem a ordem econômica ou a defesa do consumidor, sendo 
importante destacar a Secretaria de Direito Econômico (SDE) e a Secretaria de Acompa-
nhamento Econômico (SEAE), esta vinculada ao Ministério da Fazenda e aquela ao Minis-
tério da Justiça. 
A SDE tem suas atribuições estabelecidas nas Leis nºs 8.078/1990, 8.884/1994, 
9.008/1995 e 9.021/1995. Essas atribuições compreendem: a) formular e promover a polí-
tica de proteção da ordem econômica, adotando medidas para assegurar a livre concorrên-
82FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
cia, a livre iniciativa e a livre distribuição de bens e serviços; b) prevenir, apurar e reprimir as 
infrações contra a ordem econômica, examinando atos com potencial de prejudicar a livre 
concorrência ou resultar na dominação de mercados; c) acompanhar, permanentemente, 
as atividades e práticas comerciais de pessoas físicas ou jurídicas que detiverem posição 
dominante no mercado relevante de bens e serviços, para prevenir infrações da ordem eco-
nômica.
A SEAE foi criada por meio da Medida Provisória n.º 813/95, como resultado do des-
membramento da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, e é o princi-
pal órgão do Poder Executivo encarregado de acompanhar os preços da economia, subsidiar 
decisões em matéria de reajustes e revisões de tarifas públicas, bem como apreciar atos de 
concentração entre empresas e reprimir condutas anticoncorrenciais. 
caso
ricardo teixeira é interrogado por crime contra a ordem econômica 
O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, e o pro-
prietário da empresa de turismo Planeta Brasil, também conhecida como Iron Tour, Wagner 
José Abrahão, foram interrogados ontem (dia 9 de agosto) pela juíza Maria Sandra Rocha 
Kayat Direito, titular da 14ª Vara Criminal do Rio. Ambos respondem por crimes contra 
a ordem econômica e as relações de consumo. A próxima audiência, de prova de acusação, 
em que serão ouvidas testemunhas arroladas pelo Ministério Público, acontecerá no dia 04 
de outubro, às 13h30. 
Segundo o MP, Ricardo Teixeira priorizou a Planeta Brasil, uma vez que a empresa de 
turismo foi a única a obter da CBF a autorização para a venda de ingressos referentes à Copa 
do Mundo na Alemanha. A Planeta Brasil teria estipulado que a venda de ingressos só se 
daria em conjunto com a venda de passagens aéreas para o país do Mundial. Além disso, a 
denúncia ainda afirma que Abrahão aumentou o preço deste pacote turístico sem justificar 
o motivo, valendo-se da posição dominante no mercado, viabilizado pelo monopólio da 
comercialização.
Durante o interrogatório, ambos negaram a acusação. Ricardo Teixeira afirmou que mais 
de 800 agências de turismo no Brasil inteiro estavam cadastradas junto à Planeta Brasil 
para vender as entradas. “Foi bastante complexa a venda dos ingressos na Alemanha, pois 
o governo daquele país estava preocupado com a segurança e exigiu identificação de cada 
torcedor que ingressasse no estádio para assistir aos jogos”, afirmou Teixeira.
Já Wagner Abrahão disse que cabe à Associação Brasileira de Agência de Viagens 
(ABAV) e à Brasília Tour Corporation e Association (BRAZTOA) a fiscalização de todas 
as operadoras e agências de turismo do Brasil. “A equipe da Planeta Brasil que estava na 
Alemanha era composta por 380 pessoas preparadas para dar todo o suporte aos clientes. 
Nós oferecemos cinco pacotes diferentes para a Copa, e os preços variavam de 3 mil a 11 
mil euros. A CBF não recebeu nenhum valor referente à venda de ingressos”, declarou 
Abrahão. 
Ele completou ainda que o torcedor tinha três formas de conseguir o ingresso: por meio 
de um sorteio realizado pelo site oficial da FederaçãoInternacional de Futebol (FIFA), 
de convites de patrocinadores ou pela compra junto às Federações Nacionais, no caso do 
Brasil, a CBF. “E, hoje em dia, os clientes torcedores estão recebendo os valores pagos pelo 
ingresso dos jogos de que o Brasil deixou de participar”, ressaltou Abrahão.
83FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Os réus estão incursos nas penas do artigo 4º incisos II, alíneas “a” e “c” (formar acordo, 
convênio, ajuste ou aliança entre ofertantes, visando à fixação artificial de preços ou quan-
tidades vendidas ou produzidas; e ao controle, em detrimento da concorrência, de rede 
de distribuição ou de fornecedores); inciso VII (elevar sem justa causa o preço de bem ou 
serviço, valendo-se de posição dominante no mercado); e artigo 5º inciso II (subordinar a 
venda de bem ou a utilização de serviço à aquisição de outro bem, ou ao uso de determinado 
serviço), todos c/c artigo 12 (com grave dano à coletividade) da Lei nº 8.137/90, que define 
crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo. (dados do 
processo não informados na fonte)
Fonte: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Publicado em 10 de Agosto de 2006 às 15h17 
http://www.mundolegal.com.br/?FuseAction=Noticia_Detalhar&did=21016
jurispruDência
EMENTA: Processual penal. Recurso ordinário em habeas corpus. Crime contra as re-
lações de consumo. “venda casada”. Prevaricação. Denúncia. Inépcia.
I – A figura típica descrita no art. 5º, II, da Lei 8.137/90 é crime de mera conduta, que 
não depende da concretização da venda ou da prestação do serviço para a sua consumação, 
bastando, para tanto, que o agente subordine ou sujeite a venda ou prestação de serviço a 
uma condição.
II – Não é inepta a denúncia que descreve conduta que, em tese, se subsume ao tipo pe-
nal, sem qualquer prejuízo prima facie para o exercício do direito de defesa pelo acusado.
III – Recurso desprovido.
STJ – RHC 12378/SP. Relator Ministro Felix Fischer. 5ª Turma. Julgamento 28/05/2002. 
Publicação DJ 24.06.2002 p. 317.
EMENTA: Criminal. HC. Formação de cartel. Elevação arbitrária de preços. Anulação 
da ação penal. Inépcia da denúncia. Inexistência de individualização das condutas. Necessi-
dade de descrição mínima da relação do paciente com o fato delituoso. Ofensa ao princípio 
da ampla defesa. Ordem concedida.
I – Hipótese na qual o paciente, processado pela suposta prática de crimes de formação 
de cartel e elevação arbitrária de preços, alega inépcia da denúncia, por não ter sido indivi-
dualizada sua conduta, requerendo o trancamento do feito. 
II – A jurisprudência desta Corte – no sentido de que, nos crimes societários, em que a 
autoria nem sempre se mostra claramente comprovada, a fumaça do bom direito deve ser 
abrandada, não se exigindo a descrição pormenorizada da conduta de cada agente –, não 
denota que o órgão acusatório possa deixar de estabelecer qualquer vínculo entre o denun-
ciado e a empreitada criminosa a ele imputada. 
III – Entendimento que deve ser estendido ao presente caso, no qual a denúncia não 
descreveu qualquer fato apto a demonstrar a ligação do acusado com os fatos.
IV – O simples fato de o réu ser proprietário de posto de gasolina não autoriza a ins-
tauração de processo criminal por crimes supostamente praticados no âmbito da sociedade, 
se não restar comprovado, ainda que com elementos a serem aprofundados no decorrer da 
ação penal, a mínima relação de causa e efeito entre as imputações e a condição de dirigente 
da empresa, sob pena de se reconhecer a responsabilidade penal objetiva. 
V – A inexistência absoluta de elementos hábeis a descrever a relação entre os fatos de-
lituosos e a autoria ofende o princípio constitucional da ampla defesa, tornando inepta a 
denúncia. Precedentes.
84FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
VI – Deve ser declarada a nulidade da denúncia oferecida contra o paciente, por ser 
inepta, determinando-se a anulação da ação penal. 
VII – Ordem concedida, nos termos do voto do Relator.
STJ. RHC 19734/RO. Relator Ministro Gilson Dipp. 5ª Turma. Unânime. Julgamento 
26/09/2006. Publicado 23/10/2006.
EMENTA: Crimes contra a ordem econômica. Ofensa ao princípio da livre concorrên-
cia (Lei 8.137/90, art. 4º, inciso I, a e f, III e VII). Empresas transportadoras de veículos 
novos. Denúncia que se reporta a procedimentos outros (representação criminal, ação penal 
e ação civil pública) em tramitação em primeiro grau de jurisdição e aponta fatos ocorridos 
anteriormente à posse do denunciado na presidência de uma das empresas. Inexistência da 
individualização de conduta criminosa após a posse. Denúncia rejeitada.
STF. Inq 1929/RS. Relatora: Ministra Ellen Gracie. Tribunal Pleno. Maioria. Julgamen-Relatora: Ministra Ellen Gracie. Tribunal Pleno. Maioria. Julgamen-Tribunal Pleno. Maioria. Julgamen-
to: 01/06/2005. Publicação: 26/08/2005.
EMENTA: Recurso especial em agravo de instrumento. Tutela antecipada. Transpor-
tadoras de veículos. “Cegonheiros”. Indícios de abuso de poder econômico e formação de 
cartéis. (...)
3. Aferição pelas instâncias inferiores de prática econômica abusiva violando a livre con-
corrência, posto estratégia tendente a limitar a participação nesse segmento aos integrantes 
da associação, influindo sobremodo no preço do frete.
4. Comprovação dos fatos, quantum satis na instância inferior que gerou a concessão de 
tutela antecipatória in itinere com a fixação de cotas para os trabalhadores autônomos.
5. Deveras, a atuação paralela das entidades administrativas do setor (CADE e SDE), 
não inibe a intervenção do Judiciário in casu, por força do princípio da inafastabilidade, 
segundo o qual nenhuma ameaça ou lesão a direito deve escapar à apreciação do Poder 
Judiciário, posto inexistente em nosso sistema o contencioso administrativo e, a fortiori, 
desnecessária a exaustão da via extrajudicial para invocação da prestação jurisdicional.
6. Decisão atacada que, analisando as condições de mercado, fixou percentuais de par-
ticipação de trabalhadores autônomos com fulcro no pilar da livre iniciativa, um dos fun-
damentos da República, posto valorizar o trabalho humano, conspirando em prol de uma 
sociedade digna, justa e solidária, como promete o novel Estado Principiológico Brasileiro, 
delineado no ideário da nação, que é a nossa Constituição Federal. Aliás, o art. 170 da CF 
dispõe: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre inicia-
tiva, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, 
observados os seguintes princípios:” Para esse fim, presta-se a intervenção estatal no do-
mínio econômico, que, dentre outras medidas, consubstancia-se na repressão ao abuso do 
poder econômico consistente em medidas estatais que positivam impedimentos à formação 
ilegal de cartéis ou a práticas comerciais abusivas. (...)
14. O Ministério Público in casu atua na defesa da ordem econômica, visando a evitar os 
abusos, dentre os quais a cartelização do transporte de automóveis de ilegalidade manifesta. (...)
16. Inexiste violação ao princípio do ne bis in idem, tendo em vista a possibilidade 
de instauração concomitante de ação civil pública e de processo administrativo, in casu, 
perante a SDE - Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Ministério da Justiça, para 
investigação e punição de um mesmo fato, porquanto as esferas de responsabilização civil, 
penal e administrativa são independentes . (...)
20. Recurso especial desprovido.
STJ - RESP 677585/RS. Relator Ministro Luiz Fux. 1ª Turma. Unânime. Julgamento: 
06/12/2005. Publicação: 13/02/2006 P:679
85FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
BiBliografia oBrigatória
PRADO, Luiz Regis: Direito Penal Econômico. São Paulo: RT, 2007, pp. 37/71.
BiBliografia complementar
MAIA, Rodolfo Tigre: Tutela penal da ordem econômica: o crime de formaçãode 
cartel. São Paulo: Malheiros, 2008.
STOCO, Rui: Abuso do poder econômico e sua repressão (mecanismos penais e ad-
ministrativos). In Revista Brasileira de Ciências Criminais, nº 11. São Paulo: RT, 
1995, pp. 208/230.
BRASIL. O Novo Projeto de Lei de Reforma do Sistema Brasileiro de Defesa da Con-
corrência (texto elaborado em conjunto pelas Secretarias de Acompanhamento Eco-
nômico do Ministério da Fazenda, de Direito Econômico do Ministério da Justiça 
e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, por ocasião do encaminha-
mento ao Congresso Nacional do Projeto de Lei que estrutura o Sistema Brasileiro 
de Defesa da Concorrência, no dia 1 de setembro de 2005).
ativiDaDe complementar
Fazer uma tabela comparativa das leis nº 1.521/51; 8.137/90; 8.864/94, no que tange 
aos crimes contra a ordem econômica, apontando semelhanças, diferenças e “evoluções” 
dos tipos penais. O aluno deverá relacionar as modalidades criminosas contra a ordem 
econômica existentes nas Lei nº 1.521/51 e 8.137/1990 e compará-las com as infrações 
administrativas relacionadas com o mesmo bem jurídico (livre iniciativa e livre concorrên-
cia), previstas na Lei nº 8.884/1994. Ao final, o aluno deverá indicar: a) quais infrações 
administrativas não possuem correspondência com infrações penais; b) quais infrações ad-
ministrativas possuem correspondência com infrações penais; c) quais infrações penais não 
possuem correspondência com infrações administrativas.
A partir dessa comparação, o aluno refletirá sobre temas como a expansão do direito 
penal como forma de proteger mercados econômicos, a penalização de condutas sem resul-
tado danoso comprovado, a superposição de medidas de controle (penal e administrativo) 
aplicáveis ao mesmo fato, entre outros fatos relacionados às leituras introdutórias do curso. 
Valor: 2,0 pontos.
86FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 20: o preço Do esQuecimento – a extinção Da puniBiliDaDe 
nos Delitos contra a orDem triButária e econômica.
introDução
A reparação do dano como meio de extinção da punibilidade não é novidade no direito 
penal. É possível relacionar a retratação do agente nos crimes contra a honra (salvo a injúria) 
e no crime de falso testemunho (art. 143, do Código Penal) e o ressarcimento do dano no 
peculato culposo (art. 312, § 3°, do Código Penal). Até a edição da Lei n° 11.106/2005, 
também era causa da extinção da punibilidade o casamento do autor com a vítima dos cri-
mes de estupro, atentado violento ao pudor, posse sexual mediante fraude, sedução e rapto 
entre outros, ou apenas da vítima, se o crime não fora praticado com violência ou ameaça. 
No que tange aos crimes contra a ordem tributária e previdenciários houve algumas 
mudanças legislativas relacionadas à extinção da punibilidade pelo pagamento integral do 
débito. Ao examinar o histórico dessas mudanças legislativas, a impressão que se tem é que 
o direito penal tributário não passaria de “forma reforçada de execução fiscal”. 
A primeira lei que tipificou a sonegação fiscal, Lei nº 4.729/1965, já trazia a previsão 
de extinção da punibilidade pelo pagamento, estabelecendo como prazo limite para o pa-
gamento o início da ação fiscal (“Art 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes previstos 
nesta Lei quando o agente promover o recolhimento do tributo devido, antes de ter início, 
na esfera administrativa, a ação fiscal própria”). Posteriormente, a Lei nº 5.498, de 09 de 
setembro de 1968, ampliou esse limite estabelecendo que “Art 1º Extingue-se a punibili-
dade dos crimes previstos na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965, para os contribuintes 
do imposto de renda que, dentro de 30 (trinta) dias da publicação desta Lei, satisfizerem o 
pagamento de seus débitos na totalidade, ou efetuarem o pagamento de 1ª (primeira) quota 
do parcelamento que lhes tenha sido concedido. § 1º Fica igualmente extinta a punibilida-
de dos contribuintes, mencionados neste artigo, que tenham pago seus débitos ou que os 
estejam pagando na forma da legislação vigente”.
Hipótese semelhante ocorreu com o crime de apropriação indébita da Lei n° 4.357/1964, 
em que o mesmo artigo que criava o crime previa que “art. 11, § 1º O fato deixa de ser 
punível, se o contribuinte ou fonte retentora, recolher os débitos previstos neste artigo antes 
da decisão administrativa de primeira instância no respectivo processo fiscal”.
Quando editada a Lei n° 8.137/1990 – que substituiu a Lei n° 4.729/1965 no que tan-
ge aos crimes de sonegação fiscal – foi mantida a mesma causa extintiva de punibilidade: 
“Art. 14. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos nos arts. 1° a 3° quando o agente 
promover o pagamento de tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do 
recebimento da denúncia”.
Já no caso do crime de apropriação indébita, em que também houve a modificação legis-
lativa (substituição da Lei nº 4.357/1964 pela Lei n° 8.212/1991 como norma incrimina-
dora), não houve menção expressa à extinção da punibilidade pelo pagamento. Como não 
regulou inteiramente a mesma matéria, nem trouxe revogação expressa da lei anterior, seria 
possível sustentar que permanecia em vigor o § 1°, do art. 11, da lei 4.357/1964. Todavia, 
essa discussão não teve tempo de ocorrer, pois a edição da Lei n° 8.383/1991 encerrou uma 
prática que já existia há quase 30 anos, ao revogar os artigos 14, da Lei nº 8.137/1990 e o § 
1° do art. 11 da Lei n° 4.357/1964.
No entanto, pouco mais de três anos depois, a Lei nº 9.249/1995 repristinou a ex-
tinção da punibilidade pelo pagamento, conferindo-lhe maior amplitude ainda do que 
87FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
tinha originalmente, permitindo o pagamento até o recebimento da denúncia: “Art. 34. 
Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 
1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente promover o pagamento 
do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da denún-
cia”. Logo depois, a Lei n° 9.340/1996 reforçou tal entendimento, ao dispor que “Art. 83, 
Parágrafo único. As disposições contidas no caput do art. 34 da Lei nº 9.249, de 26 de 
dezembro de 1995, aplicam-se aos processos administrativos e aos inquéritos e processos 
em curso, desde que não recebida a denúncia pelo juiz”.
Esse regramento permaneceu inalterado até a edição da Lei n° 9.983/2000, que acres-
centou ao Código Penal os tipos penais específicos de apropriação indébita previdenciária 
(art. 168-A), sonegação de contribuição previdenciária (art. 337-A), entre outros, prevendo 
que a extinção da punibilidade pelo pagamento do tributo ocorreria se este fosse feito antes 
do início da ação fiscal. Embora haja decisões que reconheceram a inconstitucionalidade 
dessa restrição – por ferir o princípio da isonomia – vinha prevalecendo a corrente que aca-
tou a diferenciação entre sonegação de contribuição previdenciária (cujo pagamento deveria 
ocorrer mais cedo) e qualquer outro tributo (cujo pagamento poderia ocorrer até o recebi-
mento da denúncia). Entretanto, nesse mesmo ano, fora editada, cerca de três meses antes, 
a Lei n° 9.964/2000, trazendo em seu bojo a seguinte previsão:
“Art. 15. É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos 
arts. 1° e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e no art. 95 da Lei no 8.212, de 24 
de julho de 1991, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos 
aludidos crimes estiver incluída no Refis, desde que a inclusão no referido Programa tenha 
ocorrido antes do recebimento da denúncia criminal.
§ 1o A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão puni-
tiva.
(...)
§ 3o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica 
relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e 
contribuiçõessociais, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcela-
mento antes do recebimento da denúncia criminal.”
Trata-se, como se vê, de previsão mais ampla do que todas as anteriores que versaram 
sobre a matéria, na medida em que determina a suspensão da pretensão punitiva enquanto 
durar o parcelamento do débito, com a ressalva de que não flui o prazo prescricional enquan-
to durar a suspensão. Embora não estivesse mais em vigor o art. 95, da Lei n° 8.212/1991, 
não coube dúvida de que os artigos 168-A e 337-A do Código Penal eram seus sucessores e 
a eles se estenderiam a possibilidade de extinção da punibilidade pelo pagamento. 
A Lei n° 9.964/2000 previa o parcelamento e pagamento – com a conseqüente extinção 
da punibilidade – para débitos com vencimentos até 30 de abril de 2000. Ainda no ano de 
2000, foi editada a Lei n° 10.002 prorrogando o prazo até 15 de dezembro desse ano.
A última lei que tratou da matéria foi a Lei nº 10.684/2003, que renovou a possibilida-
de de parcelamento de débitos, mencionando a extinção da punibilidade pelo pagamento 
integral das contribuições previdenciárias, com a seguinte redação: 
Art. 9º É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1° 
e 2º da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 
2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica 
relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento.
88FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
§ 1º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão puni-
tiva.
§ 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica 
relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e 
contribuições sociais, inclusive acessórios.
A grande diferença é a ausência de um limite temporal para que se opere a extinção da 
punibilidade pelo pagamento. Em outras palavras, não há mais a exigência que a quitação 
do débito ocorra antes do início/término da ação fiscal ou antes do recebimento da denún-
cia. Além disso, a Lei n° 10.684/2003 reunificou o tratamento legislativo dos crimes previ-
denciários (artigos 168-A e 337-A do Código Penal) e dos crimes contra a ordem tributária 
(artigos 1º e 2º da Lei nº 8.137/90). De acordo com a nova lei, o pagamento que extingue 
a punibilidade pode dar-se a qualquer tempo, até após oferecimento da denúncia.
acordo de leniência
O acordo ou ajuste de leniência equivale a uma espécie de delação premiada, porém no 
âmbito administrativo, com efeitos penais. Deverá ser firmado entre a SDE e a pessoa física 
ou jurídica objeto de investigações sobre infrações contra a ordem econômica. O acordo 
tem o objetivo de permitir às autoridades a identificação dos demais co-autores da infração 
ou a obtenção de informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou sob 
investigação. Por conseguinte, se da colaboração não resultar nenhum desses objetivos, não 
há que se falar em extinção da ação punitiva estatal nem redução de pena. Em outras pala-
vras, a colaboração deverá ser efetiva, pois do contrário o agente não será beneficiado.
No âmbito administrativo, a celebração do acordo de leniência não tem com efeitos 
imediatos, exigindo o julgamento do processo administrativo pelo CADE, no curso do qual 
deve ser reconhecido o cumprimento do acordo. Se a proposta de acordo tiver sido apresen-
tada à SDE sem que essa tivesse conhecimento prévio da infração noticiada, será decretada 
a extinção da ação punitiva da administração pública em favor do infrator. Nas demais 
hipóteses, o julgador poderá aplicar a pena reduzida de um a dois terços, considerando na 
fixação da pena a efetividade da colaboração.
No âmbito penal, a celebração do acordo de leniência tem com efeitos imediatos a sus-
pensão do prazo prescricional do delito em análise e a impossibilidade de oferecimento da 
denúncia. Uma vez cumprido o acordo, extingue-se a punibilidade dos crimes referidos. Ao 
contrário do que a lei prevê nos casos de infração administrativa, os efeitos penais do acordo 
de leniência não se sujeitam à manifestação do CADE, bastando que se considere cumprido 
o acordo, tornando a extinção da pretensão punitiva um efeito automático do cumprimento 
do acordo. 
Embora a criação de mais uma causa impeditiva ou suspensiva da prescrição da pre-
tensão punitiva (além daquelas existentes no art. 116, do Código Penal) seja fato que traz 
prejuízo para o indivíduo, a possibilidade de sua extinção é inegavelmente uma vantagem. 
Por conseguinte, ainda que a lei 8.884/94 disponha que somente será admitido acordo de 
leniência no âmbito dos crimes contra a ordem econômica previstos nos arts. 4.º, 5.º e 6.º 
da Lei nº 8.137/1990, é possível sua aplicação analógica. Com efeito, tratando-se de previ-
são normativa que traz benefícios ao indivíduo, nada impediria que, em matéria penal, fosse 
realizada uma analogia in bonam partem ou adotada uma interpretação extensiva de modo 
a abarcar também os crimes contra a ordem econômica previstos na Lei nº 8.176/1991.
89FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
jurispruDência
EMENTA: AÇÃO PENAL. Crime tributário. Não recolhimento de contribuições pre-
videnciárias descontadas aos empregados. Condenação por infração ao art. 168-A, cc. art. 
71, do CP. Débito incluído no Programa de Recuperação Fiscal - REFIS. Parcelamento 
deferido, na esfera administrativa pela autoridade competente. Fato incontrastável no ju-
ízo criminal. Adesão ao Programa após o recebimento da denúncia. Trânsito em julgado 
ulterior da sentença condenatória. Irrelevância. Aplicação retroativa do art. 9º da lei nº 
10.684/03. Norma geral e mais benéfica ao réu. Aplicação do art. 2º, § único, do CP, e art. 
5º, XL, da CF. Suspensão da pretensão punitiva e da prescrição. HC deferido para esse fim. 
Precedentes. No caso de crime tributário, basta, para suspensão da pretensão punitiva e da 
prescrição, tenha o réu obtido, da autoridade competente, parcelamento administrativo do 
débito fiscal, ainda que após o recebimento da denúncia, mas antes do trânsito em julgado 
da sentença condenatória. 
STF. HC 85048/RS. Relator Ministro Cezar Peluso. 1a Turma. Julgamento: 30/05/2006. 
Publicação: DJ 01-09-2006.
EMENTA: Habeas corpus substitutivo de recurso ordinário. Apropriação indébita de 
contribuições previdenciárias descontadas dos empregados. Parcelamento e quitação após o 
recebimento da denúncia. Extinção da punibilidade, por força da retroação de lei benéfica. 
As regras referentes ao parcelamento são dirigidas à autoridade tributária. Se esta defere a 
faculdade de parcelar e quitar as contribuições descontadas dos empregados, e não repas-
sadas ao INSS, e o paciente cumpre a respectiva obrigação, deve ser beneficiado pelo que 
dispõe o artigo 9º, § 2º, da citada Lei n. 10.684/03. Este preceito, que não faz distinção 
entre as contribuições previdenciárias descontadas dos empregados e as patronais, limita-se 
a autorizar a extinção da punibilidade referente aos crimes ali relacionados. Nada importa se 
o parcelamento foi deferido antes ou depois da vigência das leis que o proíbe: se de qualquer 
forma ocorreu, deve incidir o mencionado artigo 9º. O paciente obteve o parcelamento e 
cumpriu a obrigação. Podia fazê-lo, à época, antes do recebimento da denúncia, mas assim 
não procedeu. A lei nova permite que o faça depois, sendo portanto, lex mitior, cuja retro-
ação deve operar-se por força do artigo 5º, XL da Constituição do Brasil. Ordem deferida. 
Extensão a paciente que se encontra em situação idêntica. 
STF. HC 85452/SP. Relator Ministro Eros Grau. 1a Turma. Julgamento: 17/05/2005. 
Publicação: DJ 03-06-2005 PP-00045.
EMENTA: “Habeas corpus” - A jurisprudência desta Corte (assim, a título exemplifica-
tivo, no RHC53.713 e no HC 68.132) é no sentido de que, em se tratando de apropriação 
indébita, não é necessária a prévia prestação de contas, a não ser em casos excepcionais, o 
que não ocorre na hipótese. - Também é pacífico que, depois de consumado esse crime, o 
pagamento não é causa de extinção da punibilidade por falta de previsão legal. - O “habeas 
corpus”, por seu rito sumário, não é o meio processual idôneo para o exame aprofundado 
da prova indispensável para a aferição da existência, ou não, de dolo. “Habeas corpus” in-
deferido. 
STF. HC 74965/RS. Relator Ministro Moreira Alves. 1a Turma. Julgamento: 
18/03/1997. Publicação: DJ 01-08-1997 PP-33466.
90FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 21: gasolina BatizaDa, álcool molhaDo e outros 
comBustíveis alternativos.
introDução
Constitui crime contra a ordem econômica a adulteração de combustíveis, consistente 
na aquisição, revenda e distribuição de qualquer líquido carburante (derivados do petróleo, 
álcool hidratado, entre outros) além de gás natural e suas frações recuperáveis. Embora a 
adulteração de combustíveis tenha como efeitos mais visíveis e direitos a lesão patrimonial 
ao particular (produzindo danos nos motores dos veículos) e a lesão à ordem tributária 
(mediante redução de tributos), considera-se afetada a ordem econômica porque a gestão 
dos recursos energéticos é uma atividade estratégica para o desenvolvimento econômico do 
país. 
Com efeito, a Constituição de 1988, em seu artigo 177, previu, entre outras coisas, o 
monopólio da União para a “I – pesquisa e lavra das jazidas de petróleo e gás natural e ou-
tros hidrocarbonetos fluidos; II – a refinação de petróleo nacional ou estrangeiro”, o qual 
restou flexibilizado em 1995, quando a Emenda Constitucional nº 9 permitiu a contrata-
ção de empresas para a realização dessas atividades. Assim, além da Petrobrás, sociedade de 
economia mista, sob o controle da União, outras empresas (públicas ou privadas) poderão 
explorar esse segmento econômico.
Para promover a regulação, contratação e fiscalização das atividades econômicas inte-
grantes da indústria do petróleo, foi criada a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural 
e Biocombustíveis (ANP), autarquia vinculada ao Ministério de Minas e Energia. A ANP 
desenvolve sua atividade a partir das diretrizes fixadas pelo Conselho Nacional de Política 
Energética (CNPE), destacando-se nesse ponto o controle do Sistema Nacional de Estoques 
de Combustíveis e a fiscalização da qualidade do combustível, envolvendo todas as etapas do 
abastecimento (produção, importação, refino, beneficiamento, tratamento, processamento, 
transporte, armazenagem, distribuição, revenda e comercialização direta ao consumidor fi-
nal), compreendendo, portanto, além do petróleo e seus derivados, o gás natural e o álcool 
etílico combustível. 
Existem dois tipos de álcool etílico combustível: o álcool etílico anidro combustível 
(AEAC), que é misturado à gasolina em proporções variáveis e o álcool etílico hidratado 
combustível (AEHC), que é colocado diretamente nos tanques dos veículos. Uma das frau-
des mais comuns no mercado é justamente a aquisição de álcool anidro (cuja tributação é 
inferior) e sua adulteração (mediante acréscimo de água, o chamado “álcool molhado”) para 
simular o álcool hidratado (resultando na supressão do imposto devido e na diminuição da 
qualidade do produto, já que o combustível adulterado não tem as mesmas propriedades 
daquele produzido corretamente). Além de alíquotas diferenciadas de ICMS, um outro fa-
tor contribui para a dificuldade de fiscalização. Enquanto o ICMS incidente sobre o AEHC 
é pago pelo produtor (usinas de álcool), o pagamento do ICMS pela comercialização do 
AEAC ocorre na venda das distribuidoras aos postos de gasolina. 
No caso da gasolina, o objeto direto das fraudes também está relacionado à carga tri-
butária. Como a gasolina é misturada ao álcool anidro e este tem uma carga menor de 
tributos (não há incidência de CIDE e, em alguns Estados, a alíquota do ICMS é menor), 
a principal modalidade de fraude constitui o acréscimo de álcool anidro além do percentual 
permitido. Há, também, adição de outras substâncias à gasolina, como solventes, sempre 
com o objetivo de diminuir o recolhimento de impostos.
91FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
análise dos tipos penais dos art. 1º, i e ii, e 2º, da lei nº 8.176/1991.
Os crimes contra a ordem econômica relacionados ao abastecimento de combustíveis, 
exploração dos recursos energéticos e outras matérias-primas pertencentes à União são nor-
mas penais em branco. Seja porque incriminam condutas sem delimitar-lhes expressamente 
a ação proibida – usando as expressões “em desacordo com a lei”, “sem autorização legal”, 
“em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo” – seja porque contém 
elementos normativos cujo sentido precisa ser definido a partir de outras fontes jurídicas. 
Nesse último caso, é necessário que haja uma definição legal – ou definição científica ou 
técnica unívoca – acerca do que é “gás natural e suas frações recuperáveis” ou ainda “demais 
combustíveis líquidos carburantes”. Tais definições serão encontradas, em sua maioria, na 
legislação federal (Leis nº 9.478/1997 e nº 9.847/1999) que tratam das atividades de explo-
ração dos recursos energéticos no país. 
Cabe repetir, aqui, a crítica acerca do uso indiscriminado do direito penal para alcançar 
e punir condutas que constituam apenas ilícitos administrativos. Ao lançar mão de tipos 
penais genéricos e extremamente amplos, o legislador criminaliza comportamentos que não 
atingem verdadeiramente o bem jurídico que se quer proteger, aumentando a insegurança 
jurídica. 
caso
adulteração do combustível na mira da anp 
A adulteração do álcool combustível já fez com que pelo menos 1,5% dos veículos com 
motores bicombustíveis, os chamados flexfuel, no País, voltassem para a concessionária com 
problemas no motor, informou o Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sin-
dicom). Apesar de a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) 
não confirmar, o diretor do Sindicom, Dietmar Shupp, afirma que o chamado “álcool molha-
do” causou problemas para aproximadamente 7 mil proprietários de veículos bicombustível.
O montante mobilizou toda a cadeia produtiva do álcool, de usineiros a representantes 
da indústria automobilística, passando pela Petrobras, Transpetro, distribuidoras de com-
bustíveis, Ministério de Minas e Energia e principalmente a Agência Nacional do Petróleo 
(ANP), que pretende aprovar a adição de um corante no álcool anidro até o final do ano 
para coibir a fraude.
“Não acredito que possamos acabar com o problema, mas pelo menos reduzir a adulte-
ração em pelo menos 70%”, afirmou a superintendente de qualidade do produto da ANP, 
Maria Antonieta Andrade Souza, que está realizando uma série de reuniões com o setor, 
visando resolver os empecilhos técnicos para a coloração do álcool.
A medida visa diferenciar o álcool anidro, que é misturado à gasolina, do hidratado, que 
vai direto para o tanque de combustível do veículo, acabando com a operação chamada “ál-
cool molhado”. A fraude ocorre porque o anidro tem tributação menor do que o hidratado. 
Assim, o adulterador compra álcool anidro direto da usina, adiciona água e vende como se 
fosse o hidratado.
O Sindicom estima que até 1 bilhão de litros de álcool , ou cerca de 20% do consumo 
anual deste combustível no Brasil, seja adulterado. Com a coloração, o consumidor poderá 
verificar no filtro existente sobre a bomba de combustível nos postos revendedores se o ál-
cool hidratado está incolor como é previsto.
92FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
De acordo com o projeto, o corante mais provável adicionado ao anidro seria de cor ala-
ranjada ou vermelha, para não influenciar na cor da gasolina à qual o álcoolserá misturado. 
“A medida só trará benefícios. Os veículos terão menos problemas, os estados arrecadarão 
mais impostos, as distribuidoras acabarão com a sonegação e os donos de postos não pode-
rão mais ser alertados”, disse o diretor do Sindicom.
Apesar de ser vista como positiva pelos usineiros, a proposta ainda não é unanimidade 
no setor. Para Antonio de Pádua Rodrigues, diretor da União da Agroindústria Canavieira 
de São Paulo (Unica), o principal problema do mercado do álcool no Brasil é a diferença de 
tributação entre o anidro e o hidratado.
“O corante não vai resolver a questão que é tributária”, resumiu Rodrigues. Outro ponto 
de discórdia da proposta é a determinação de que o corante seja adicionado ao anidro nas 
destilarias, ou seja, antes da distribuição onde ocorre a fraude. “Só que a adição do corante 
teria de ser feita nos caminhões que carregam o álcool, já que o produto poderia conta-
minar, nos tanques das destilarias, outros tipos de álcool, como os destinados à indústria 
química”, afirmou o diretor da Unica.
Outro problema ainda não solucionado para que a medida seja implantada é referente à 
logística. Segundo o especialista da Transpetro, Ricardo Motta, haverá uma dificuldade de 
transportar o álcool anidro colorido da mesma maneira que hoje, porque atualmente são 
utilizados os mesmos dutos para o álcool hidratado.
“Quer dizer que se ficar um resquício de álcool colorido no álcool hidratado, ele será 
considerado adulterado?”, questionou. Entre as alternativas para solucionar este problema, 
segundo ele, estariam a construção de um duto paralelo para o transporte específico do 
álcool colorido ou mesmo seu transporte por caminhão.
Fonte: Tribuna da Imprensa. 15 de Agosto de 2005.
http://www.financeone.com.br/noticia.php?lang=br&nid=14607
jurispruDência
EMENTA: Habeas Corpus. 2. Quadrilha. Adulteração de combustível. 3. Alegação de 
ausência de fundamentação do decreto da prisão preventiva. 4. Ordem devidamente fun-
damentada na garantia da ordem pública e econômica, vez que diante da continuidade das 
práticas do paciente, que faz parte de quadrilha organizada de adulteração de combustíveis, 
ocasionaria danos ao mercado, aos consumidores e ao meio ambiente 5. Precedentes. 6. 
Ordem denegada
STF. HC 86645/SP. Relator Ministro Gilmar Mendes. 2ª Turma. Unânime. Julgamento 
28.03.2006. Publicação DJ 28/04/2006 PP-00046.
EMENTA: Penal e Processual Penal. Recurso ordinário de habeas corpus. Crime contra 
a ordem econômica. Norma penal em branco. Complementação. Ausência de justa causa. 
Reexame de prova.
I – A impossibilidade de se realizar, em sede de habeas corpus, minucioso cotejo do ma-
terial probatório impede que se aprecie a alegação de falta de justa causa para a ação penal, 
tendo em vista que demandaria, no caso, a análise da existência de fraude sobre os frascos 
de aditivo de combustível objeto de exame no laudo pericial.
II – O art. 1º, I, da Lei 8.176/91, ao proibir o comércio de combustíveis “em desacordo 
com as normas estabelecidas na forma da lei”, é norma penal em branco em sentido estrito, 
porque não exige a complementação mediante lei formal, podendo sê-lo por normas admi-
nistrativas infralegais, estas sim, estabelecidas “na forma da lei”.
93FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
III – Recurso desprovido.
STJ. RHC 9834/SP. Relator Ministro Felix Fischer. 5ª Turma. Julgamento 03/04/2001. 
Publicação DJ 04/06/2001 p. 187
EMENTA: Penal. Recurso criminal em sentido estrito. Crime contra a ordem econô-
mica. Lei 8176/91. Adulteração de combustíveis. Ausência de lesão a interesses da união. 
Competência da justiça estadual. Recurso improvido.
1. Não obstante as atribuições legais da Agência Nacional do Petróleo no âmbito ad-
ministrativo visando ao controle da distribuição de combustíveis em todo o país, é de se 
observar que a jurisprudência se consolidou no sentido de que os crimes contra a ordem 
econômica não são da competência da Justiça Federal, mormente quando, contrariamente 
ao disposto no art. 109, inciso VI, da Constituição Federal, a Lei nº 8.176/91 nada mencio-
na em relação ao juízo competente. Precedentes do STJ e do TRF da 1ª Região.
2. O fato de haver um delito cuja responsabilidade pela prevenção é da autarquia não a 
torna vítima (sujeito passivo da conduta típica) da sua prática. Assim sendo, não há ofensa 
a bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas. Não há, portanto, 
falar-se em competência da justiça federal.
3. Recurso improvido.
TFR-4. RSE 2002.7001.029771-5-PR. Relator Desembargador Fábio Rosa. 7ª Turma. 
Unânime. Julgamento 08/04/2003. Publicação: 07/05/2003 pp. 808.
BiBliografia oBrigatória
PRADO, Luiz Regis: Direito Penal Econômico. São Paulo: RT, 2007, pp. 72/83.
BiBliografia complementar
SARAIVA, Wellington Cabral: Competência federal nos crimes de adulteração de 
combustível. In Revista Eletrônica PRPE, Fevereiro de 2004. Disponível em www.
prpe.mpf.gov.br/internet/content/download/1796/7715/file/CompetênciaFederal-
CombustíveisEst.pdf
94FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
ii.4 – Bloco 04 – Disposições processuais. 
introDução
Embora diversos temas processuais penais tenham sido estudados juntamente com te-
mas penais ao longo do curso, como ocorreu com a prisão preventiva associada à magnitude 
da lesão nos crimes contra o sistema financeiro e o bloqueio de ativos no crime de lavagem 
de capitais, os temas tratados nesse bloco não guardam relação apenas com um determinado 
tópico de direito penal econômico, senão permeiam todo o direito penal.
Assim sendo, optou-se por estudar tais institutos separadamente, permitindo uma refle-
xão sobre sua própria natureza jurídica, razão de ser no ordenamento jurídico e eficácia para 
garantir os fins a que se propõe o sistema punitivo.
Se esse bloco estivesse dividido em duas partes, a primeira seria destinada ao estudo das 
medidas de caráter investigatório, como a delação premiada, o regime da interceptação das 
comunicações e os balizamentos da investigação realizada por Comissão Parlamentar de 
Inquérito, ao passo que o segundo bloco reuniria a ação constitucional de habeas corpus, a 
teoria geral das nulidades e a teoria geral dos recursos. 
95FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 22 – laDrão Que trai laDrão, receBe o perDão; isso é Delação.
introDução
A delação premiada não é um acordo informal entre os órgãos de persecução ou acusa-
ção criminal e os indiciados ou réus, mas um procedimento previsto em lei com exigências 
que deverão ser observadas para que a delação tenha validade. Ela está prevista na Lei n° 
9.807/1999 e, embora já tivesse sido tratada em outras leis anteriores não tinha a abran-
gência que possui hoje. A delação não significa, portanto, liberdade de negociação entre os 
envolvidos, ficando restrita à possibilidade de redução de pena (de um a dois terços) ou de 
perdão judicial, conforme as condições do agente e da colaboração.
A delação premiada surgiu no ordenamento jurídico brasileiro voltada para beneficiar 
criminosos que tivessem praticados crimes específicos, sendo normatizada, pela primeira 
vez, pela Lei n° 8.072/1990 (crimes hediondos) e reproduzida, posteriormente, nas Leis n° 
8.137/1990 (define crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo), 
9.269/1996 (modifica a pena do crime de extorsão mediante seqüestro) e n° 9.034/1995 
(combate ao crime organizado). Em 1999, a lei que criou o serviço de proteção às teste-
munhas (Lei n° 9.807/1999) deu tratamento geral para a delação premiada, tornando-a 
aplicável em qualquer espécie de delito.
Algumas observações sobre a Lei. 9.807/1999 são pertinentes: 1) o perdão só poderá 
ser concedido a réus primários e, no caso de seqüestro, se a vítima for localizada com sua 
integridade física preservada, ao passo que a redução pode beneficiar qualquer colaboradore, no caso de seqüestro, basta que se encontre a vítima com vida; 2) a redução de pena ou 
perdão só são aplicados ao final do processo, caso o colaborador seja condenado e caso a 
participação do delator tenha contribuído, efetivamente, na identificação dos demais co-au-
tores ou partícipes da ação criminosa e na recuperação total ou parcial do produto do crime; 
3) embora a lei não proíba a criação de novos benefícios (analogia in bonam partem), em 
virtude da indisponibilidade da ação penal o MP não poderá deixar de denunciar o colabo-
rador, nem de imputar-lhe uma conduta menos grave; 4) a prisão cautelar (temporária ou 
preventiva) do colaborador não tem nenhuma relação com a delação premiada, não sendo 
lícita a associação entre sua decretação/revogação em função da colaboração, ou não, do 
indiciado/acusado na investigação. 
Fica claro, portanto, que não há garantia para quem colabora de que receberá a redução 
ou o perdão, pois suas informações poderão (ainda que verdadeiras) não serem provadas. A 
validade da delação está condicionada à eficácia da colaboração. 
Quando a polícia ou o Ministério Público propõem a delação premiada devem esclarecer 
que as informações têm que ser comprovadas e resultarem em medidas eficientes (localiza-
ção do produto do crime ou identificação de autores) e que o juiz poderá entender que a 
colaboração não foi eficaz e, assim, deixar de conceder o benefício. Afinal, o juiz não está 
vinculado a nenhuma opinião, tendo total independência nas suas decisões (o juiz pode ab-
solver o acusado mesmo se o Ministério Público pedir a condenação, ou condená-lo, ainda 
que o Ministério Público peça sua absolvição). Ademais, mesmo se houver um acordo es-
crito e assinado com membros do Ministério Público, somente haverá a vantagem se o juiz 
considerar que aquela colaboração foi determinante para que ocorresse uma das hipóteses 
numeradas acima.
Por outro lado, o juiz deverá conceder a redução ou o perdão se perceber que a colabo-
ração voluntária do réu foi determinante, por exemplo, para recuperar o produto do crime, 
96FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
mesmo que não haja qualquer tipo de acordo escrito nem qualquer provocação nesse senti-
do seja do acusado, seja da acusação.
A confusão que cerca o instituto da delação premiada é fruto, talvez, da diferença entre 
o sistema processual penal estadunidense (propagandeado em filmes e seriados) e brasileiro 
no que tange à delação premiada. Entre nós vigora o princípio da indisponibilidade da ação 
penal: não importa qual a extensão da colaboração do réu, o Ministério Público não poderá, 
por causa dela, deixar de acusá-lo, processá-lo nem de pedir sua condenação (poderá apenas 
manifestar-se favoravelmente à redução da pena ou concessão do perdão). Já nos EUA, em 
determinados estados, um criminoso que colabore poderá ser acusado de um crime menos 
grave ou negociar para ter seus crimes extintos. A única exceção ao princípio da indispo-
nibilidade da ação penal, no Brasil, está nas infrações de menor potencial ofensivo (delitos 
com pena máxima de até dois anos). 
Outro esclarecimento importante diz respeito ao uso indevido da delação. Não se pode 
pressionar o investigado a delatar seus comparsas oferecendo “vantagens” não previstas na 
lei, como a revogação de uma prisão, por exemplo. A prisão de um suspeito não pode ser 
decretada nem revogada com base na sua colaboração, ou não, durante as investigações. 
Usar a liberdade de alguém como “moeda de troca” por uma delação é crime. 
Para evitar esse tipo de abuso ou chantagem, seria necessário estabelecer regras como, por 
exemplo, a assistência de advogado durante a apresentação da proposta de delação. Afinal, a 
delação importa em confissão e faz com que a pessoa abra mão do direito constitucional ao 
silêncio (que é uma forma de autodefesa).
Por fim, é preciso falar do paradoxo ético. Embora o estímulo à delação permita, quan-
do eficaz, desbaratar organizações criminosas, o preço que se paga é premiar justamente 
aqueles que também compactuaram e se beneficiaram do crime. É evidente a improprieda-
de de se beneficiar alguém por ter delatado a outrem (o delator vira herói), nada exigindo 
no que tange ao seu arrependimento. O móvel do réu colaborador pode ser exclusivamente 
a possibilidade de ter uma pena menor do que a de seus comparsas. Ademais, ao estimular 
que o investigado/acusado delate seus comparsas, pretende-se que ele abra mão do seu 
direito de ficar em silêncio e não produzir prova contra si mesmo, invertendo a lógica do 
sistema acusatório e estabelecendo prioridades tipicamente inquisitórias (por exemplo, a 
confissão como prova-rainha, a busca a qualquer preço da “verdade real” e não de uma 
verdade processual).
caso
vício de caráter – Delação premiada beneficia quem delinqüiu duas vezes 
Quando leio a notícia de que um cidadão foi preso por decreto de prisão temporária, 
conduzido algemado ao cárcere e exposto ao público com uniforme cor de cenoura de pre-
sidiário, me sinto estrangeiro neste país, no qual as garantias pessoais são atrofiadas sob o 
pretexto de que o crime está hipertrofiado.
O povo é iludido pela falsa imagem de que os vexames impostos ao cidadão de culpa ain-
da não formada, amparado ainda, porque ainda não julgado, pela presunção de inocência, 
valem como pena imposta por antecipação.
Mas a história não termina aí. O preso é submetido a interrogatório pelo representante 
do Ministério Público, instituição da maior importância na distribuição da justiça, mas à 
qual falecem poderes para praticar atos próprios de delegado de polícia ou de juiz togado. 
97FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Claro que, deles, pode o promotor participar, no equilíbrio de forças com o direito de defe-
sa, este representado pelo advogado.
Ao preso algemado, alquebrado, exibido e fotografado, filmado com estardalhaço e apre-
sentado na televisão, é oferecido, por seu acusador, o prêmio de ter mitigada a pena se 
concordar em delatar.
O preso fala, o promotor se ausenta da sala e dá entrevista em primeira mão, autêntico 
furo. A OAB, por seu presidente, ofereceu representação contra o abuso praticado pelo 
agente público, cônscio da sua impunidade, ao Conselho Nacional do Ministério Público. 
A prepotência, a arrogância de alguns promotores choca quando se põe em contradição com 
o trabalho exemplar desenvolvido pela instituição não só na área penal mas em tantos ramos 
do direito, na proteção das minorias raciais, do meio ambiente, da cultura, do consumidor 
etc.
O Ministério Público, que se engrandece em tantas tarefas que desempenha, precisa 
zelar para que alguns de seus membros não ponham os pés pelas mãos. Se o fizerem, que 
respondam pelos excessos cometidos.
Neste Brasil de tanto sofrimento, de tanta vergonha, de tanto desaponto, as pessoas 
tendem a ver a delação premiada como solução para punir os que transgridem as regras 
impostas para garantia da ordem social.
Esse instituto jurídico importado dos Estados Unidos, que se impregnou na nossa legis-
lação também pela influência do direito italiano e pela ideologia punitiva das mãos limpas, 
constitui uma violência porque premia quem por duas vezes delinqüiu: como partícipe do 
fato objeto da delação e como autor da delação, que constitui conduta gravíssima, denotan-
do vício de caráter, uma deformidade que jamais poderia ser objeto de barganha.
A delação premiada deve, isto sim, ser considerada uma extorsão premiada, porque põe 
em jogo o criminoso delatado, que pode comprar o silêncio, desde que seu comparsa não 
o delate.
E a gravidade cresce quando assistimos ao espetáculo das audiências públicas pela TV, 
na Justiça em tempo real, com viciados em CPIs grudados na tela torcendo por seus ídolos 
e contra os seus monstros, com muitas pessoas tornadas heroínas porque resolveram bar-
ganhar com o Estado e entregar às feras osdelatados. A cena dramática vivida em Ribeirão 
Preto faz lembrar a delação premiada nas masmorras e delegacias: “Abre o bico e acaba o 
pau, vira ganso que eu te solto”.
Admito que há casos excepcionais em que se deve admitir a delação e justificável motivo 
para abrandamento da pena ou mesmo para o perdão judicial. Trata-se da delação que se 
deve chamar perdoada, porque as circunstâncias especialíssimas do caso justificam o bene-
fício do perdão total ou parcial: exemplo de delação perdoada é a concedida ao partícipe de 
uma ação criminosa que resultou em seqüestro de uma pessoa diante da real possibilidade 
de salvar uma vida, de restituir a liberdade a alguém no cativeiro.
Justa, assim, a previsão expressa no parágrafo quarto do artigo 159, que define o crime 
de extorsão mediante seqüestro, pela redação que lhe foi dada pela lei 9.269/96. O adjetivo 
perdoada, a qualificar a delação, tem um sentido ético: não se pode premiar quem delata, 
porque é conduta que denota caráter deformado e deformador, conduta reprimida até mes-
mo pela “lei do cão” vigente nas cadeias. A não ser que a relevância da delação tenha um 
grande alcance em benefício de outrem, de um bem jurídico de altíssima relevância, aí sim 
a delação merece perdão, nunca um prêmio.
O que dizer, então, de um prêmio dado a quem não tem o poder de se insurgir e dizer 
“não quero falar, não quero delatar”, que valor terá na hierarquia da ética e do direito?
Não conheço o advogado que foi preso, silencio até sobre seu nome tão divulgado pela 
mídia. Não o sei culpado nem inocente —isso é irrelevante — nem me estimula a escrever 
98FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
este artigo o fato de ser ele advogado. Mas sou cidadão, exercito o direito de me insurgir 
por vocação e profissão e vou além, vejo que devo exercitar o dever de não calar contra tais 
violências.
Por José Carlos Dias. Artigo originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo. 
Revista Consultor Jurídico, 2 de setembro de 2005. http://conjur.estadao.com.br/static/
text/37588,1
acusado não pode acessar acordo de delação premiada, mesmo sob alegação de formar 
sua defesa.
O acordo de delação premiada é instrumento sigiloso que não pode ser acessado pelo 
acusado no processo, mesmo sob o argumento de fundamentar a defesa. “É durante a ins-
trução criminal, na fase judicial, que os elementos de prova são submetidos ao contraditó-
rio e à ampla defesa”, explicou a relatora, ministra Laurita Vaz. Ela foi acompanhada, por 
unanimidade, pela Quinta Turma na decisão que negou a Roberto Bertholdo o acesso ao 
acordo. 
Segundo o processo, o acordo de delação premiada foi firmado entre o Ministério Públi-
co Federal e Tony Garcia, co-autor do crime de interceptação telefônica praticado contra o 
juiz federal Sérgio Moro. O depoimento embasou a investigação criminal que resultou em 
duas denúncias contra o acusado e uma condenação na área penal.
O pedido da defesa já havia sido negado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região 
que manteve a sentença de primeiro grau. O acórdão destacou que o segredo de justiça é 
fundamental para resguardar os delatores e garantir o sigilo das investigações. 
A defesa do acusado justificou seu pedido alegando que o sigilo do acordo viola as garan-
tias do contraditório, da ampla defesa e do duplo grau de jurisdição, previstas na Constitui-
ção Federal. “O que se busca não é bisbilhotar, mas uma maneira de fiscalizar a legalidade 
do ato firmado”, sustentou a defesa na tribuna do STJ. 
Ao analisar a questão, a ministra Laurita Vaz destacou que, para o exercício da ampla 
defesa, basta ao acusado ter conhecimento do acordo e do compromisso do colaborador 
em dizer a verdade. “O material coligido no procedimento inquisitório constitui-se em 
peça meramente informativa, razão pela qual eventuais irregularidades nessa fase não têm 
o condão de macular a futura ação penal”, explica. No debate, o ministro Gilson Dipp 
advertiu que o acordo de delação premiada é para crimes graves e não pode ser banalizado. 
Ele destacou que o procedimento, previsto em diversas leis, jamais foi questionado quanto 
à sua constitucionalidade. 
Histórico 
O caso chegou ao STJ em habeas-corpus com pedido de acesso ao acordo de delação 
premiada firmado entre o juiz federal e Tony Garcia. Os advogados alegaram que a garantia 
constitucional da ampla defesa estaria sendo violada. Então, pediram acesso ao conteúdo do 
acordo que classificaram como “imprescindível para o exercício da ampla defesa de Roberto 
Bertholdo”. 
O acusado foi denunciado pelo Ministério Público Federal pela prática de crime de inter-
ceptação telefônica (Lei nº 9.296/96), por 41 vezes. Em outra denúncia o MP lhe atribuiu 
o crime de tráfico de influência, por duas vezes (Código Penal, artigo 332, parágrafo 1º). 
Parte do conjunto de provas utilizadas pelo MP foi coletada pelo juiz federal Sérgio Moro, 
que autorizou diversas medidas de investigação da vida pessoal e nas empresas do acusado. 
Tais medidas (interceptações telefônicas, quebra do sigilo bancário, escutas ambientais em 
99FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
áudio e vídeo) permitiram a coleta das provas que indicam a prática pelo acusado dos crimes 
de interceptação clandestina, tráfico de influência e lavagem de dinheiro. Ele foi condenado 
em uma das ações penais. 
A prisão preventiva de Roberto Bertholdo foi decretada “para garantia da ordem pú-
blica”, em outubro de 2005. Seu pedido de liberdade foi negado pelo Tribunal Regional 
Federal – 4ª Região. Os magistrados discordaram do argumento da defesa de que o juiz 
federal estaria impedido de autorizar a investigação por ser suposta vítima do crime de 
interceptação telefônica.
Fonte: STJ. 15/12/2006 – 14h59. Por:Ana Gleice Queiroz
http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.tex-
to=83419
jurispruDência
EMENTA: Criminal. HC. Extorsão mediante seqüestro. Dosimetria. Delação. Circuns-
tâncias apontadas pelo impetrante que não atenuam a pena. Fixada no mínimo legal. Insufi-
ciência de provas para a condenação. Impropriedade. Regime prisional inicialmente fechado 
estabelecido pela sentença condenatória. Recurso exclusivo do réu. Alteração para regime 
integralmente fechado pelo tribunal a quo. Reformatio in pejus. Impossibilidade. Delação 
premiada. Informações eficazes. Incidência obrigatória. Ordem parcialmente concedida.
Os argumentos referentes à pretendida redução da pena imposta ao paciente, pelo fato 
de que a vítima não seria menor de 18 anos na data do crime, tampouco teria permanecido 
mais de 24 horas no cativeiro, são insubsistentes, pois, além de tais aspectos não caracteriza-
rem circunstâncias atenuantes, ao paciente foi estabelecida a reprimenda no mínimo legal. 
A apontada insuficiência de provas para a condenação do paciente não pode ser analisada na 
via eleita, tendo em vista a necessidade de revolvimento do conjunto fático-probatório. 
Hipótese em que a sentença monocrática estabeleceu o regime inicial fechado para o 
cumprimento da pena imposta ao paciente, pela prática do crime de extorsão mediante se-
qüestro. Não obstante a imposição legal de que as condenações por delito hediondo devem 
ser cumpridas em regime integral fechado, é defeso, ao Tribunal de 2º grau de jurisdição, 
na hipótese de recurso exclusivamente da defesa, agravar a situação processual do réu. A 
alteração para o regime integralmente fechado enseja a inconcebível reformatio in pejus. 
Precedente.
A “delação premiada” prevista no art. 159, § 4º, do Código Penal é de incidência obriga-
tória quando os autos demonstram que as informações prestadas pelo agente foram eficazes, 
possibilitando ou facilitando a libertação da vítima. É viável o exame da dosimetria da pena 
por meio de habeas corpus, devido a eventual desacerto na consideração de circunstância 
ou errônea aplicação do método trifásico, se daíresultar flagrante ilegalidade e prejuízo ao 
réu – hipótese dos autos.
Deve ser reformado o acórdão impugnado, para restabelecer a sentença monocrática, 
que fixou o regime inicial fechado para o cumprimento da pena imposta ao paciente, bem 
como na parte relativa à dosimetria da reprimenda e, neste ponto, também merece reforma 
a decisão monocrática condenatória, a fim de que outra dosagem seja proferida, observan-
do-se a incidência da delação premiada em relação ao paciente.
Ordem parcialmente concedida, nos termos do voto do Relator.
STJ – HC 35198/SP. Relator Ministro Gilson Dipp. 5ª Turma. Julgamento: 28/09/2004. 
DJ 03.11.2004 p. 215
100FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
questões
19º Concurso para provimento de cargos de Procurador da República (2002)
Discorra sobre delação premiada. 
BiBliografia oBrigatória
AMARAL, Thiago Bottino do: Prêmio para quem? In Boletim do Núcleo de Direitos 
Humanos da PUC-Rio, nº 1, Janeiro/Dezembro 2005. Disponível em: http://www.
puc-rio.br/sobrepuc/depto/direito/pdf/boletim_online.pdf
BiBliografia complementar
JESUS, Damásio E. de. Estágio atual da “delação premiada” no Direito Penal brasi-
leiro. Jus Navigandi, 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.
asp?id=7551>
BOLDT, Raphael. Delação premiada: o dilema ético. In Jus Navigandi, Teresina, ano 
9, n. 783, 25 ago. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.
asp?id=7196>.
MARCÃO, Renato: Delação premiada. In Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 843, 24 
out. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7463>.
101FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 23 – tem Boi na linha ou o regime constitucional Da 
inviolaBiliDaDe Das comunicações.
introDução
A intimidade do indivíduo é uma das manifestações da dignidade humana e a Consti-
tuição confere especial proteção ao sigilo das comunicações: “Art. 5º, inc. XII: é inviolável 
o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações 
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei 
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal”. A proteção 
conferida pelo art. 5º, inc. XII, da Constituição dá à interceptação das comunicações o sta-
tus de medida claramente excepcional. A lei que tratou da matéria foi a Lei nº 9.296/1996, 
prevendo a interceptação das comunicações telefônicas de qualquer natureza, isto é, a pos-
sibilidade de captar, registrar e transcrever qualquer transmissão, recepção e decodificação 
de sons, sinais, caracteres, imagens ou símbolos, veiculados por meio de estações móveis 
(celulares) ou fixas. A lei abrangeu, ainda, o fluxo de comunicações em sistemas de infor-
mática e telemática.
A excepcionalidade da medida fica ainda mais evidenciada quando se verifica que a lei 
expressamente proíbe a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer 
das seguintes hipóteses: a) não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em 
infração penal; b) a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; c) o fato investiga-
do constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção (art. 2º, Lei n º 
9.296/1996). Para que seja autorizada a invasão do Estado na seara de intimidade alheia, é 
preciso a indicação precisa da situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e 
qualificação dos investigados, bem como a demonstração de que a sua realização é necessária 
à apuração de infração penal, com indicação dos meios a serem empregados. 
Além do teor das comunicações telefônicas, também os registros das ligações poderão 
ser objeto de quebra de sigilo, atendendo às mesmas exigências impostas às comunicações, 
embora não sejam mencionados na Lei nº 9.296/1996 – e houve discussão acerca da cons-
titucionalidade de sua divulgação, tendo prevalecido o entendimento que a autorização 
constitucional compreende o vocábulo “de dados e das comunicações telefônicas”. 
conceitos de interceptação, escuta e gravação telefônicas e ambientais.
A doutrina faz distinção entre as diferentes formas de captação das conversas entre pes-
soas. Por interceptação, deve-se entender a situação em que duas pessoas conversam e essa 
comunicação é captada por um terceiro, sem o conhecimento dos comunicadores. Essa é 
a modalidade mais comum de captação, pois normalmente há autorização judicial de in-
terceptação e nenhum dos comunicadores sabe que está sendo interceptado pela polícia. A 
escuta telefônica, por sua vez, difere da interceptação porque um dos comunicadores tem 
conhecimento da captação, ocorrência comum na hipótese de um seqüestro em que a famí-
lia consente que a polícia realize a escuta. Por fim, a gravação telefônica é aquela captação 
realizada por um dos comunicadores, sem a presença de um terceiro estranho à conversa. 
Tanto a interceptação como a escuta são abrangidas pela Lei nº 9.296/1996 (a primeira é 
chamada interceptação stricto sensu e a segunda interceptação lato sensu), sendo portanto 
permitidas nas hipóteses legais, ao passo que a gravação telefônica não está compreendida 
na autorização legislativa. 
102FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Segue daí que a interceptação ilegal, como também a escuta ilegal, são consideradas 
condutas criminosas na forma do art. 10, da Lei nº 9.296/1996 (“Constitui crime realizar 
interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar se-
gredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. Pena: 
reclusão, de dois a quatro anos, e multa”), mas não a gravação telefônica. Esta só adquire 
relevo penal quando divulgada indevidamente, caracterizando o crime do art. 151, §1º, inc. 
II, do Código Penal (“Art. 151 – Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência 
fechada, dirigida a outrem. Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º – Na 
mesma pena incorre: I – omissis; II – quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou 
utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conver-
sação telefônica entre outras pessoas”). As captações dos fluxos de telemática e informática 
compreendem toda a troca de dados entre pessoas por meio de computadores ou cabos 
telefônicos, inclusive e-mails, conversas em MSN e histórico de visita a sítios da internet. 
O prazo para qualquer tipo de interceptação autorizadas com base na Lei nº 9.296/1996 
é de quinze dias, prorrogável por igual período. Houve grande discussão acerca da possibi-
lidade de que essa prorrogação ocorresse mais de uma vez. Muitos autores pretendiam que 
fosse aplicado o mesmo regime da prisão temporária, em que só se admite uma única pror-
rogação. Entretanto, os tribunais fizeram prevalecer o entendimento de que são possíveis 
tantas prorrogações quantas forem necessárias, embora cada uma delas não possa ultrapassar 
o período de quinze dias e cada prorrogação deva ser novamente fundamentada, a partir do 
que foi coligido anteriormente.
As captações ambientais, nas modalidades interceptação, escuta e gravação, não estão 
compreendidas dentro do âmbito de proteção art. 5º, inc. XII, da Constituição e, por 
conseguinte, não foram regulamentadas pela Lei nº 9.296/1996. No entanto, o fato de 
não serem expressamente proibidas, também não significa que são permitidas, pois estão 
compreendidas dentro do conceito amplo de privacidade, também protegida constitucio-
nalmente (art. 5º, inc. X, da Constituição – “são invioláveis a intimidade, a vida privada, 
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou 
moral decorrente de sua violação”).
Com vistas a permitir a utilização das captações ambientais, editou-se a Lei nº 
10.217/2001 (que alterou alguns dispositivos da lei nº 9.034/1995, que dispõe sobre a 
utilização de meios operacionaispara a prevenção e repressão de ações praticadas por orga-
nizações criminosas), a qual inseriu, dentre procedimentos de investigação e formação de 
provas que versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando ou 
organizações ou associações criminosas de qualquer tipo, a captação e a interceptação am-
biental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos, e o seu registro e análise, mediante 
circunstanciada autorização judicial. 
caso
grampo público. imprensa deve responder por divulgação de interceptações
Este artigo tem o propósito de trazer a discussão um ponto importante e pouco comen-
tado pelos doutrinadores: é crime divulgar o conteúdo de escutas telefônicas feitas clandesti-
namente? A Lei nº 9.296/96, que regulamenta o artigo 5º da Constituição Federal, protege 
o sigilo dos dados obtidos através das interceptações telefônicas judicialmente autorizadas. 
Por sua vez, o artigo 10 da lei tipifica a conduta de quem quebra o segredo de justiça como 
crime sujeito a pena de dois a quatro anos de reclusão, além de multa.
103FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Diversas decisões judiciais que consideraram possível a realização de interceptações te-
lefônicas buscaram como fundamentação, entre outros, o fato do sigilo dos dados obtidos 
com a medida ficar resguardado, não acarretando qualquer lesão a direito individual cons-
titucionalmente garantido do interceptado.
Entretanto é comum que nos deparemos, nos mais diversos veículos de comunicação, 
com transcrições de interceptações telefônicas sigilosas e reproduções da própria escuta. 
Não é usual, contudo, a instauração de processos criminais com base na Lei das Intercep-
tações Telefônicas.
Há dois motivos para essa dicotomia: o fato de ser muito difícil a descoberta do servi-
dor público que violou o sigilo legal e o entendimento de que o jornalista não é co-autor 
ou partícipe do delito. Esse entendimento encontra lastro principalmente em dois prin-
cípios constitucionais: o que assegura a liberdade de expressão e o que protege o sigilo da 
fonte.
No entanto, como todas as garantias fundamentais, o direito a liberdade de expressão 
e o sigilo da fonte não são direitos absolutos. Sempre que os direitos fundamentais forem 
utilizados como escudo protetor de possíveis práticas ilícitas, é possível justificar a prevalên-
cia de outros princípios constitucionais implícitos ou explícitos sobre tais direitos, sem que 
haja qualquer mácula à ordem jurídica, principalmente constitucional. A pacificação social 
nunca será alcançada se for permitido a indivíduos promoverem ações ilícitas protegidos por 
direitos fundamentais que visam exatamente combater tais práticas.
Na verdade, o real conteúdo dos direitos subjetivos elencados na Constituição Federal, 
seja em seu artigo 5º, seja em outros dispositivos esparsos, só pode ser considerado em face 
do conteúdo que lhe é conferido, de forma expressa ou explícita, pelo próprio Texto Cons-
titucional em interpretação sistemática de suas normas.
Não abarca o conteúdo da liberdade de expressão, garantia constitucional das mais rele-
vantes, divulgar conteúdo de informações declaradas sigilosas por autoridade judicial e pro-
tegidas pelo ordenamento jurídico assim como não a abarca qualquer forma de uso abusivo 
da expressão (mesmo falsamente intitulada de liberdade de expressão) em desconformidade 
com outros direitos constitucionais ou garantidos em lei. Nesta hipótese estamos diante de 
uso abusivo deste direito.
Igualmente, o direito ao sigilo da fonte não pode ser invocado nesta hipótese. O direito 
constitucional de sigilo da fonte visa assegurar maior facilidade de obtenção de informações 
pela imprensa. Visa assegurar que a imprensa não tenha ou não possa revelar a fonte da in-
formação, para que o informante não seja exposto a retaliações ou perseguições em face do 
fato informado. Contudo, este direito ou garantia só é valido ou aplicável em hipóteses de 
revelações que não decorram de ilícitos penais, como é óbvio.
A proteção é tão intensa aos dados ou documentos declarados legalmente ou judicial-
mente sigilosos, que a divulgação dessas informações constitui crime. Ora, a sanção penal 
é a forma mais contundente de proteção a bens jurídicos, reservada apenas para hipóteses 
excepcionais de controle social, nas quais a conduta do agente é de extrema gravidade, 
sendo insuficientes todas as outras proteções oferecidas pelo sistema jurídico. É necessária a 
conformação dos direitos à livre expressão e ao sigilo da fonte com a proteção à intimidade 
das pessoas cujas transmissões telefônicas tenham sido interceptadas.
Não é direito constitucional do jornalista deixar de informar o meio de obtenção do 
dado ou documento sigiloso por estar, na realidade pelo menos acobertando uma ação 
criminosa. Nesse contexto, é possível a realização de busca e apreensão em arquivos do jor-
nalista que divulgou a interceptação sigilosa a fim de identificar sua origem.
Tal medida só é viável em função da ilicitude da conduta, que possibilita a mitigação 
do direito ao sigilo da fonte, o qual, como já ressaltado, não pode ser invocado para o fim 
104FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
de obstruir a revelação de agente criminoso, sob pena de subverter todo o sistema consti-
tucional.
O jornalista, ao propalar indevidamente conteúdo de interceptação telefônica, estando 
ciente do sigilo, incorre no tipo penal do já referido art. 10 da lei 9.296/96, pois participa 
da “quebra de segredo de justiça”.
O raciocínio é válido ainda que não se identifique o agente que levou ao conhecimento 
do jornalista a informação sigilosa, na medida em que não se trata de elemento indispensá-
vel para a configuração do delito. Não obsta o reconhecimento da co-autoria a identificação 
de todos os agentes que tenham, porventura, cometido o delito.
Não se trata de participação, mas efetiva co-autoria, pois o jornalista realiza o verbo do 
tipo penal em questão. Quem divulga pela imprensa o conteúdo de interceptação telefôni-
ca, ciente do sigilo, subsume-se a descrição contida no tipo penal em questão, de forma até 
mais gravosa ante ao alcance da informação propalada.
Não se diga que o jornalista ou qualquer outra pessoa responsável pela propalação do 
dado ou documento sigiloso não possa ser sujeito ativo do crime em foco por ser crime 
funcional e, assim, só passível de ser praticado por servidor público.
Independentemente da discussão de ser o crime em foco funcional ou não, é certo que 
os crimes funcionais só podem ser praticados por funcionários públicos, mas também é 
certo que os particulares podem ser co-autores ou partícipes dos crimes funcionais quando 
a prática do delito for em conjunto com funcionário público.
No caso, é inequívoco que o particular (jornalista ou não) teve que se utilizar da aju-
da ou da prévia ação de algum servidor público (da Polícia, do Ministério Público ou do 
Judiciário) para obter o dado ou documento cujo sigilo legal ou judicial foi desrespeitado. 
Inequívoca, assim, sua co-autoria ou participação na prática do crime em foco.
Conclui-se, portanto, que os direitos constitucionais à liberdade de expressão e à manu-
tenção do sigilo da fonte, como de resto os demais, não são absolutos, pois encontram sua 
conformação pela aplicação de regras principiológicas que visam atingir a harmonia entre 
todos os princípios previstos na Constituição Federal.
O sigilo da fonte, nessa medida, não prevalece, sendo possível a adoção de diligências 
investigativas com o fim de identificar o responsável pela divulgação inicial do conteúdo da 
interceptação. Impossível, da mesma forma, a invocação do direito à liberdade de expressão 
para possibilitar a exclusão de responsabilidade penal do jornalista em relação ao delito.
Sobre os autores: Alexandre Cassettari e Luiz Renato Pacheco Chaves de Oliveira: são 
juízes federais emSão Paulo. 
Por Alexandre Cassettari e Luiz Renato Pacheco Chaves de Oliveira
Fonte: Revista Consultor Jurídico, 25 de abril de 2005 
http://conjur.estadao.com.br/static/text/34331,1
investigação criminal. pgr contesta lei que regulamenta interceptação telefônica
O procurador-geral da República, Claudio Fonteles, quer derrubar o artigo 3º da Lei 
Federal 9.296/96, que regulamenta a interceptação das comunicações telefônicas para in-
vestigação criminal ou instrução processual penal. Ele entrou com Ação Direta de Inconsti-
tucionalidade no Supremo Tribunal Federal.
Fonteles pede que seja excluída a possibilidade de o juiz, na fase de investigação crimi-
nal, determinar de ofício a interceptação de comunicações telefônicas sem que seja feito o 
requerimento da autoridade policial ou de integrante do Ministério Público. Segundo ele, 
o juiz só poderia decretar a interceptação de ofício no curso do processo. O ministro Cezar 
Peluso é o relator do caso. As informações são do site do STF.
105FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Para o procurador-geral, a iniciativa do juiz durante o inquérito policial ofende o devido 
processo legal, pois compromete a imparcialidade. Além disso, segundo ele, usurpa a atri-
buição investigatória do Ministério Público e das Polícias Civis e Federal.
“Com efeito, a prevalecer o entendimento contrário, restariam maculadas as normas 
constitucionais concernentes ao devido processo legal e ao sistema acusatório”, afirmou 
Fonteles. Ele quer que o Supremo declare a inconstitucionalidade parcial do artigo 3º da 
Lei Federal 9.296/96. (ADI 3.450)
Fonte: Revista Consultor Jurídico, 1 de abril de 2005.
http://conjur.estadao.com.br/static/text/33898,1
jurispruDência
EMENTA: I. Habeas corpus: cabimento: prova ilícita. 1. Admissibilidade, em tese, do 
habeas corpus para impugnar a inserção de provas ilícitas em procedimento penal e postular 
o seu desentranhamento: sempre que, da imputação, possa advir condenação a pena priva-
tiva de liberdade: precedentes do Supremo Tribunal. 
II. Provas ilícitas: sua inadmissibilidade no processo (CF, art. 5º, LVI): considerações 
gerais. 2. Da explícita proscrição da prova ilícita, sem distinções quanto ao crime objeto do 
processo (CF, art. 5º, LVI), resulta a prevalência da garantia nela estabelecida sobre o inte-
resse na busca, a qualquer custo, da verdade real no processo: conseqüente impertinência 
de apelar-se ao princípio da proporcionalidade – à luz de teorias estrangeiras inadequadas 
à ordem constitucional brasileira – para sobrepor, à vedação constitucional da admissão da 
prova ilícita, considerações sobre a gravidade da infração penal objeto da investigação ou 
da imputação. 
III. Gravação clandestina de “conversa informal” do indiciado com policiais. 3. Ilicitude 
decorrente – quando não da evidência de estar o suspeito, na ocasião, ilegalmente preso 
ou da falta de prova idônea do seu assentimento à gravação ambiental – de constituir, dita 
“conversa informal”, modalidade de “interrogatório” sub-reptício, o qual – além de realizar-
se sem as formalidades legais do interrogatório no inquérito policial (C.Pr.Pen., art. 6º, V) 
–, se faz sem que o indiciado seja advertido do seu direito ao silêncio. 4. O privilégio contra 
a auto-incriminação – nemo tenetur se detegere –, erigido em garantia fundamental pela 
Constituição – além da inconstitucionalidade superveniente da parte final do art. 186 C.Pr.
Pen. – importou compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o in-
terrogado do seu direito ao silêncio: a falta da advertência – e da sua documentação formal 
– faz ilícita a prova que, contra si mesmo, forneça o indiciado ou acusado no interrogatório 
formal e, com mais razão, em “conversa informal” gravada, clandestinamente ou não. 
IV. Escuta gravada da comunicação telefônica com terceiro, que conteria evidência de 
quadrilha que integrariam: ilicitude, nas circunstâncias, com relação a ambos os interlo-
cutores. 5. A hipótese não configura a gravação da conversa telefônica própria por um dos 
interlocutores – cujo uso como prova o STF, em dadas circunstâncias, tem julgado lícito 
– mas, sim, escuta e gravação por terceiro de comunicação telefônica alheia, ainda que com 
a ciência ou mesmo a cooperação de um dos interlocutores: essa última, dada a intervenção 
de terceiro, se compreende no âmbito da garantia constitucional do sigilo das comunicações 
telefônicas e o seu registro só se admitirá como prova, se realizada mediante prévia e regular 
autorização judicial. 6. A prova obtida mediante a escuta gravada por terceiro de conversa 
telefônica alheia é patentemente ilícita em relação ao interlocutor insciente da intromissão 
indevida, não importando o conteúdo do diálogo assim captado. 7. A ilicitude da escuta 
e gravação não autorizadas de conversa alheia não aproveita, em princípio, ao interlocutor 
106FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
que, ciente, haja aquiescido na operação; aproveita-lhe, no entanto, se, ilegalmente preso 
na ocasião, o seu aparente assentimento na empreitada policial, ainda que existente, não 
seria válido. 8. A extensão ao interlocutor ciente da exclusão processual do registro da escuta 
telefônica clandestina – ainda quando livre o seu assentimento nela – em princípio, parece 
inevitável, se a participação de ambos os interlocutores no fato probando for incindível 
ou mesmo necessária à composição do tipo criminal cogitado, qual, na espécie, o de qua-
drilha. 
V. Prova ilícita e contaminação de provas derivadas (fruits of the poisonous tree). 9. A 
imprecisão do pedido genérico de exclusão de provas derivadas daquelas cuja ilicitude se 
declara e o estágio do procedimento (ainda em curso o inquérito policial) levam, no ponto, 
ao indeferimento do pedido. 
STF. HC 80949/RJ. Relator Ministro Sepúlveda Pertence. 1a Turma. Julgamento: 
30/10/2001. Publicação: DJ de 14/12/2001.
EMENTA: Habeas corpus. Interceptação telefônica. Prazo de validade. Alegação de 
existência de outro meio de investigação. Falta de transcrição de conversas interceptadas 
nos relatórios apresentados ao juiz. Ausência de ciência do ministério público acerca dos 
pedidos de prorrogação. Apuração de crime punido com pena de detenção. 
1. É possível a prorrogação do prazo de autorização para a interceptação telefônica, 
mesmo que sucessivas, especialmente quando o fato é complexo a exigir investigação dife-
renciada e contínua. Não configuração de desrespeito ao art. 5º, caput, da L. 9.296/96. 2. 
A interceptação telefônica foi decretada após longa e minuciosa apuração dos fatos por CPI 
estadual, na qual houve coleta de documentos, oitiva de testemunhas e audiências, além 
do procedimento investigatório normal da polícia. Ademais, a interceptação telefônica é 
perfeitamente viável sempre que somente por meio dela se puder investigar determinados 
fatos ou circunstâncias que envolverem os denunciados. 3. Para fundamentar o pedido de 
interceptação, a lei apenas exige relatório circunstanciado da polícia com a explicação das 
conversas e da necessidade da continuação das investigações. Não é exigida a transcrição 
total dessas conversas o que, em alguns casos, poderia prejudicar a celeridade da investigação 
e a obtenção das provas necessárias (art. 6º, § 2º, da L. 9.296/96). 4. Na linha do art. 6º, 
caput, da L. 9.296/96, a obrigação de cientificar o Ministério Público das diligências efetu-
adas é prioritariamente da polícia. O argumento da falta de ciência do MP é superado pelo 
fato de que a denúncia não sugere surpresa, novidade ou desconhecimento do procurador, 
mas sim envolvimento próximo com as investigações e conhecimento pleno das providên-
cias tomadas. 5. Uma vez realizada a interceptação telefônica de forma fundamentada, legal 
e legítima, as informações e provas coletas dessa diligência podem subsidiar denúncia com 
base em crimes puníveis com penade detenção, desde que conexos aos primeiros tipos 
penais que justificaram a interceptação. Do contrário, a interpretação do art. 2º, III, da L. 
9.296/96 levaria ao absurdo de concluir pela impossibilidade de interceptação para inves-
tigar crimes apenados com reclusão quando forem estes conexos com crimes punidos com 
detenção. Habeas corpus indeferido.
STF. HC 83515/RS. Relator Ministro Nelson Jobim. Tribunal Pleno. Julgamento: 
16/09/2004. Publicação: DJ 04-03-2005.
EMENTA: Habeas corpus. Falsidade ideológica. Interceptação ambiental por um dos 
interlocutores. Ilicitude da prova. Inocorrência. Reportagem levada ao ar por emissora de 
televisão. Notitia criminis. Dever-poder de investigar. 
1. Paciente denunciado por falsidade ideológica, consubstanciada em exigir quantia em 
dinheiro para inserir falsa informação de excesso de contingente em certificado de dispensa 
107FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
de incorporação. Gravação clandestina realizada pelo alistando, a pedido de emissora de 
televisão, que levou as imagens ao ar em todo o território nacional por meio de conhecido 
programa jornalístico. O conteúdo da reportagem representou notitia criminis, compelin-
do as autoridades ao exercício do dever-poder de investigar, sob pena de prevaricação. 2. 
A ordem cronológica dos fatos evidencia que as provas, consistentes nos depoimentos das 
testemunhas e no interrogatório do paciente, foram produzidas em decorrência da notitia 
criminis e antes da juntada da fita nos autos do processo de sindicância que embasou o In-
quérito Policial Militar. 3. A questão posta não é de inviolabilidade das comunicações e sim 
da proteção da privacidade e da própria honra, que não constitui direito absoluto, devendo 
ceder em prol do interesse público. (Precedentes). Ordem denegada. 
STF. HC 87341/PR. Relator Ministro Eros Grau. 1a Turma. Julgamento: 07/02/2006. 
Publicação: DJ 03-03-2006 PP-00073.
questões
23º Concurso Público para cargo de Procurador da República
O sigilo das comunicações telefônicas:
I – É inviolável, salvo, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma em que a lei esta-
belecer para fins de investigação criminal ou instrução processual;
II – É absolutamente inviolável;
III – Pode ser quebrado mediante autorização judicial ou de comissão parlamentar de 
inquérito, dispensada a fundamentação em casos de urgência;
V – Pode ser quebrado por determinação do Ministério Público.
Analisando-se asserções acima, pode-se afirmar que
a) ( ) Apenas a número IV está correta;
b) ( ) Estão corretas somente as de números I, III e IV;
c) ( ) Somente a de número II está correta; 
d) ( ) Está correta apenas a de número I.
9º Concurso para Juiz Federal Substituto da 4ª Região (2000) 
Assinalar a alternativa correta:
a) A interceptação das comunicações telefônicas não ofende o direito à privacidade, 
desde que realizada em procedimentos criminais ou fiscais.
b) A inviolabilidade das comunicações telefônicas pode ser quebrada por ordem judicial, 
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer, exclusivamente para fins de investigação cri-
minal ou instrução processual penal.
c) O sigilo bancário só pode ser quebrado por autorização judicial expressa para fins de 
investigação criminal ou instrução processual penal.
d) Salvo com expressa autorização judicial, as Comissões Parlamentares de Inquérito não 
podem decretar a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico.
BiBliografia oBrigatória
Habeas Corpus nº 80.949/RJ, julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
108FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
BiBliografia complementar
GOMES, Luiz Flávio e CERVINI, Raul: Interceptação telefônica. São Paulo: RT, 
1997, pp. 225/247.
CAPEZ, Fernando: Curso de Direito penal. Vol. 4, Legislação Penal Especial. São 
Paulo: Saraiva, 2006, pp. 495/537.
109FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 24 – os novos comitês De salvação púBlica.
introDução
As Comissões Parlamentares de Inquérito são comissões criadas no âmbito do Poder 
Legislativo (seja no Senado Federal, na Câmara dos Deputados, ou mista) com finalidade 
de investigar fatos determinados. Por constituírem fato absolutamente estranho à atividade 
parlamentar, possuem papel subsidiário, porém de extrema relevância. Historicamente, a 
existência de comissões de inquérito no âmbito do Poder Legislativo foi prevista nas Cons-
tituições de 1934 (“Art 36 – A Câmara dos Deputados criará Comissões de Inquérito sobre 
fatos determinados, sempre que o requerer a terça parte, pelo menos, dos seus membros”), 
1946 (“Art 53 – A Câmara dos Deputados e o Senado Federal criarão Comissões de Inqué-
rito sobre fato determinado, sempre que o requerer um terço dos seus membros”), 1967 
(“Art 39 – A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, em conjunto ou separadamente, 
criarão Comissões de Inquérito sobre fato determinado e por prazo certo, mediante reque-
rimento de um terço de seus membros”) e 1988. Nesta, com a seguinte previsão legal:
“Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, 
constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de 
que resultar sua criação. (...)
§ 3º – As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação pró-
prios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, 
serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separada-
mente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato deter-
minado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério 
Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores”.
Embora não faça especial menção a sua existência, a Constituição não vedou a criação 
de Comissões Parlamentares de Inquérito no âmbito das Assembléias Legislativas e das Câ-
maras dos Vereadores. Afinal, são comissões temporárias criadas pelo Poder Legislativo nas 
suas manifestações Federal, Estadual e Municipal.
Ao atribuir tais poderes aos parlamentares, buscou-se dotar o Poder Legislativo de meios 
concretos para realizar um inquérito ou investigação sobre fatos ligados à fiscalização e 
controle de ilegalidades ou abusos na administração pública e que tenham especial relevân-
cia à boa atividade do Parlamento. Assim, qualquer fato relevante à coletividade, seja em 
matéria política, administrativa, econômica ou social, pode ser objeto de uma CPI. Assim 
ocorre porque o resultado das Comissões Parlamentares de Inquérito é, primordialmente, 
o aperfeiçoamento da legislação. Como a própria Constituição aponta, as conclusões das 
Comissões Parlamentares de Inquérito só serão encaminhadas ao Ministério Público se for 
o caso; portanto, a descoberta de ilícitos penais é fato secundário. 
Considerando que as Comissões Parlamentares de Inquérito visam à melhoria da le-
gislação, só será admitida sua instalação se a matéria for pertinente à Casa Legislativa que 
pretende criá-la. Dessa forma, não pode uma Assembléia Legislativa Estadual criar CPI que 
verse sobre matéria federal. O Regimento Interno do Senado Federal tem regra específica 
sobre a questão, dispondo que não será admitida Comissão Parlamentar de Inquérito sobre 
matérias pertinentes à Câmara dos Deputados, às atribuições do Poder Judiciário e aos Es-
tados (artigo 146, RISF).
110FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
A investigação realizada pelas Comissões Parlamentares de Inquérito constitui atividade 
extraordinária do Parlamento, razão pela qual possui prazo pré-determinado para seu encerra-
mento, diferentemente do que ocorre com as investigações policiais. Além da fixação do prazo 
de duração, há dois requisitos para que seja instalada uma Comissão Parlamentar de Inquéri-
to: o requisito formal é a aprovação de seu requerimento por um terço dos membrosda casa 
legislativa; já o requisito material é que seja pré-determinado o objeto da investigação.
Ao assumirem os poderes próprios das autoridades judiciais, os parlamentares também 
devem buscar cumprir com os respectivos deveres. Afinal, embora não tenham nenhum 
poder decisório de impor penas ou medidas no que tange às investigações que realizam 
– ao contrário do Poder Judiciário –, é razoável exigir-se dos parlamentares que assumam as 
características típicas dos magistrados: sobriedade, imparcialidade, respeito às prerrogativas 
profissionais dos advogados e preservação das garantias individuais dos investigados. Não 
obstante, o que se vê atualmente é justo o oposto. A conseqüência, como não poderia deixar 
de ser, é a perda de tecnicidade e seriedade dos trabalhos das Comissões Parlamentares de 
Inquérito, transformadas em verdadeiros palanques eleitorais. No afã de ouvir sua voz ser 
transmitidos para grande audiência nacional, alguns parlamentares fazem intervenções e 
discursos que nada acrescentam às investigações.
poderes da cpi
Ao mencionar que as Comissões Parlamentares de Inquérito “terão poderes de investiga-
ção próprios das autoridades judiciais”, o constituinte não especificou quais os poderes atri-
buídos ao Poder Judiciário transferidos temporariamente aos membros do Parlamento cons-
tituídos em CPI. Com a explosão de CPIs nos anos 90 e na primeira década desse século, 
logo surgiram dúvidas sobre a possibilidade de decretação de prisões, buscas domiciliares, 
interceptações telefônicas, sobre a exigência de que os intimados por uma CPI prestassem 
compromisso de dizer a verdade – ainda que fossem objeto do inquérito – e sobre a atuação 
dos advogados durante os trabalhos da CPI. 
Para dirimir essas e outras questões, o Supremo Tribunal Federal foi continuamente pro-
vocado para se manifestar sobre a conceituação, fundamentação e amplitude dos poderes 
das CPIs. A bibliografia complementar adiante relacionada fornece um excelente mapa das 
decisões atuais do STF sobre o tema; por outro lado, há propostas legislativas que podem 
modificar esse panorama. 
caso
cpis podem ser autorizadas a pedir prisão preventiva 
As comissões parlamentares de inquérito (CPIs) poderão pedir à Justiça a prisão preven-
tiva de investigados, segundo prevê o Projeto de Lei 7182/06, do deputado Moreira Franco 
(PMDB-RJ), que altera o Código de Processo Penal (Decreto-Lei 3689/41). Atualmente, a 
prisão preventiva só pode ser requerida ao juiz pelo Ministério Público, pela polícia ou pelo 
autor de queixa-crime. O projeto também estabelece que a duração da prisão preventiva será 
de, no máximo, 30 dias na fase de inquérito. Se a fase for de instrução criminal, esse perí-
odo aumenta para 120 dias. Esses prazos podem ser prorrogados pelo mesmo tempo (30 e 
120 dias) em caso de extrema necessidade comprovada. Vencido esse tempo e não havendo 
prorrogação de pedido, o preso deve ser solto imediatamente.
111FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
Segundo o texto, o juiz deverá ouvir o Ministério Público antes de responder aos pedidos 
de prisão preventiva. O juiz terá o prazo de 24 horas para decretar a essa prisão, contado 
a partir do recebimento do pedido. Para garantir o cumprimento desse prazo, o projeto 
exige que o Poder Judiciário e o Ministério Público mantenham plantão permanente para 
avaliar os requerimentos. Caso a prisão preventiva seja decretada, o mandado judicial deve 
ser enviado em duas vias. Uma delas é a do indiciado, que servirá como nota de culpa. O 
indiciado só poderá ser preso depois da expedição do mandado. No momento da prisão, ele 
deve ser informado pela autoridade policial dos seus direitos previstos na Constituição. Os 
presos preventivos não poderão ser colocados junto dos demais presos.
legítima deFesa
A prisão preventiva, de acordo com a proposta, não pode ser decretada caso o acusado 
tenha agido em legítima defesa ou em estado de necessidade. A proibição também vale para 
situações de cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito.
Em comparação com o texto da lei atual, o projeto troca as palavras “indiciado” por 
“investigado” e “vadio” por “sem residência fixa”. Assim, o investigado por crime doloso 
punido com detenção poderá ser preso preventivamente se não tiver residência fixa.
O projeto também altera a Lei 4898/65, trocando a expressão “prisão temporária” por 
“prisão preventiva”, e revoga a Lei 7960/89, que trata da prisão temporária. Moreira Franco 
argumenta que a prisão temporária é inconstitucional, pois viola o princípio da presunção 
de inocência. Ele destaca que, no caso da prisão preventiva, o projeto estabelece várias regras 
para evitar constrangimento ilegal e violação do princípio constitucional.
O projeto será analisado pelas comissões de Segurança Pública e Combate ao Crime 
Organizado; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. A proposta está sujeita à votação 
em Plenário.
Fonte: Jornal da Câmara dos Deputados. Brasília, terça-feira, 7/11/2006 – Ano 8 Nº 
1729.
http://www.camara.gov.br/internet/jornalcamara/materia.asp?codMat=30891&codjor
=1003
jurispruDência
EMENTA: Comissão Parlamentar de Inquérito – Quebra de sigilo bancário, fiscal e 
telefônico – Ausência de indicação de fatos concretos – Fundamentação genérica – Inad-
missibilidade – Controle jurisdicional – Possibilidade – Conseqüente invalidação do ato de 
“disclosure” – Inocorrência, em tal hipótese, de transgressão ao postulado da separação de 
poderes – Mandado de segurança deferido. 
A quebra de sigilo – que se apóia em fundamentos genéricos e que não indica fatos con-
cretos e precisos referentes à pessoa sob investigação – constitui ato eivado de nulidade. A 
quebra do sigilo inerente aos registros bancários, fiscais e telefônicos, por traduzir medida 
de caráter excepcional, revela-se incompatível com o ordenamento constitucional, quando 
fundada em deliberações emanadas de CPI cujo suporte decisório apóia-se em formulações 
genéricas, destituídas da necessária e específica indicação de causa provável, que se qualifica 
como pressuposto legitimador da ruptura, por parte do Estado, da esfera de intimidade a 
todos garantida pela Constituição da República. Precedentes. Doutrina. O CONTROLE 
JURISDICIONAL DE ABUSOS PRATICADOS POR COMISSÃO PARLAMENTAR 
DE INQUÉRITO NÃO OFENDE O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. 
112FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
– O Supremo Tribunal Federal, quando intervém para assegurar as franquias constitucio-
nais e para garantir a integridade e a supremacia da Constituição, neutralizando, desse 
modo, abusos cometidos por Comissão Parlamentar de Inquérito, desempenha, de maneira 
plenamente legítima, as atribuições que lhe conferiu a própria Carta da República. O regu-
lar exercício da função jurisdicional, nesse contexto, porque vocacionado a fazer prevalecer a 
autoridade da Constituição, não transgride o princípio da separação de poderes. Doutrina. 
Precedentes.
STF – MS 25668/DF Relator Ministro Celso de Mello. Tribunal Pleno. Julgamento: 
23/03/2006
EMENTA: Comissão Parlamentar de Inquérito – Quebra de sigilo adequadamente fun-
damentada – Validade – Existência simultânea de procedimento penal em curso perante o 
poder judiciário local – Circunstância que não impede a instauração, sobre fatos conexos 
ao evento delituoso, da pertinente investigação parlamentar – Mandado de segurança in-
deferido.
A quebra fundamentada do sigilo inclui-se na esfera de competência investigatória das 
comissões parlamentares de inquérito. A quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de 
qualquer pessoa sujeita a investigação legislativa pode ser legitimamente decretada pela Co-
missão Parlamentar de Inquérito, desde que esse órgão estatal o faça mediante deliberação 
adequadamente fundamentada e na qual indique a necessidade objetiva da adoção des-
sa medida extraordinária. Precedente:MS 23.452-RJ, Rel. Min. Celso de Mello (Pleno). 
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE JURISDIÇÃO E QUEBRA DE 
SIGILO POR DETERMINAÇÃO DA CPI. O princípio constitucional da reserva de ju-
risdição – que incide sobre as hipóteses de busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), de intercepta-
ção telefônica (CF, art. 5º, XII) e de decretação da prisão, ressalvada a situação de flagrância 
penal (CF, art. 5º, LXI) – não se estende ao tema da quebra de sigilo, pois, em tal matéria, e 
por efeito de expressa autorização dada pela própria Constituição da República (CF, art. 58, 
§ 3º), assiste competência à Comissão Parlamentar de Inquérito, para decretar, sempre em 
ato necessariamente motivado, a excepcional ruptura dessa esfera de privacidade das pesso-
as. AUTONOMIA DA INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR. O inquérito parlamentar, 
realizado por qualquer CPI, qualifica-se como procedimento jurídico-constitucional reves-
tido de autonomia e dotado de finalidade própria, circunstância esta que permite à Comis-
são legislativa – sempre respeitados os limites inerentes à competência material do Poder 
Legislativo e observados os fatos determinados que ditaram a sua constituição – promover 
a pertinente investigação, ainda que os atos investigatórios possam incidir, eventualmente, 
sobre aspectos referentes a acontecimentos sujeito s a inquéritos policiais ou a processos 
judiciais que guardem conexão com o evento principal objeto da apuração congressual. 
Doutrina. 
STF – MS 23639/DF Relator Ministro Celso de Mello. Tribunal Pleno. Julgamento: 
16/11/2000. Publicação: DJ 16-02-2001 PP-0009
EMENTA: – Mandado de segurança. Ato do Presidente da Comissão Parlamentar de 
Inquérito do Senado Federal e do Presidente do Banco Central do Brasil. 2. Desbloqueio 
de proventos do impetrante depositados em sua conta corrente no Banco do Brasil S.A 3. 
Liminar deferida para suspender, até o final julgamento do mandado de segurança, a indis-
ponibilidade dos valores relativos aos proventos de aposentadoria. 4. Relevantes os funda-
mentos do pedido e periculum in mora. Caráter alimentar dos proventos de aposentadoria. 
5. Parecer da Procuradoria-Geral da República pelo deferimento do writ. 6. Afastada preli-
minar de incompetência do S.T.F. 7. Entendimento do STF segundo o qual as CPI’S não 
113FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
podem decretar bloqueios de bens, prisões preventivas e buscas e apreensões de documentos 
de pessoas físicas ou jurídicas, sem ordem judicial. Precedentes. 8. Mandado de segurança 
deferido, de acordo com a jurisprudência do STF, para anular o ato da CPI, que decretou 
a indisponibilidade dos bens do impetrante, explicitando-se, porém, que os bens do reque-
rente continuarão sujeitos à indisponibilidade antes decretada pelo Juiz Federal da 12ª Vara 
da Seção Judiciária de São Paulo, em ação civil pública, sobre a matéria.
STF – MS 23455/DF. Relator Ministro Néri da Silveira. Tribunal Pleno. Julgamento: 
24/11/1999. Publicação: DJ 07-12-2000 PP-00007.
EMENTA: Habeas Corpus. Formação de quadrilha visando à prática de crimes contra 
o INSS. Denúncia baseada, entre outros elementos, em provas coletadas por meio de bus-
ca e apreensão domiciliar ordenada por Comissão Parlamentar de Inquérito, em decisão 
não fundamentada, o que tem sido repelido por esta Corte (Mandados de Segurança nºs 
23.452, 23.454, 23.619 e 23.661, entre outros). Denúncia que aponta a materialidade do 
delito, bem como indícios de autoria fortemente demonstrados por outros documentos, 
testemunhos e elementos carreados pelo Ministério Público. Inépcia da peça acusatória não 
configurada. Ordem concedida em parte, para o efeito de excluir os papéis que foram objeto 
da busca e apreensão irregular. 
HC 80420/RJ. Relator Originário Ministro Sepúlveda Pertence. Relatora para o acór-
dão Ministra Ellen Gracie. Primeira Turma. Julgamento: 28/06/2001. Publicação: DJ 01-
02-2002 PP-00084. 
BiBliografia oBrigatória
DOTTI, René Ariel: Os novos comitês de salvação pública. In BARANDIER, Anto-
nio Carlos (Org.): CPI. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, pp. 95/132.
BiBliografia complementar
Projeto de Lei nº 7.182/2006, que dá nova redação ao Decreto-lei nº 3.689, de 3 de 
outubro de 1941, Código de Processo Penal.
O Supremo Tribunal Federal e as Comissões Parlamentares de Inquérito. – Brasília: 
Supremo Tribunal Federal, 2006.
114FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 25 – haBeas corpus.
introDução
Habeas corpus é o procedimento jurídico por meio do qual se obtém a tutela, de maneira 
imediata, do direito de liberdade de locomoção do indivíduo. Por liberdade de locomoção 
entende-se o direito de ir, vir e ficar, ou seja, não sofrer restrições, salvo nos casos previstos 
em lei (CF, art. 5°, LXI a LVIII). A liberdade física é o principal objeto de tutela do habeas 
corpus. Esta liberdade pode estar ameaçada por diversos motivos, que vão desde a prisão pro-
priamente dita (flagrante ilegal, preventiva sem fundamento, decorrente de pronúncia ou da 
capitulação, progressão de regime, etc.), passando pela existência de um processo criminal 
(inépcia da denúncia, prova ilícita, cerceamento de defesa, extinção da punibilidade, etc.) 
e podendo até mesmo ser configurado na existência de um inquérito criminal. A origem 
histórica do Habeas corpus é motivo de divergência entre os autores, uns apontando o direito 
romano e outro o direito anglo-saxão (inglês). 
evolução do habeas corpus no Brasil império
A primeira Constituição Brasileira de 1824, de caráter liberal e influenciada pelos ideais 
iluministas já estatuía a liberdade como garantia fundamental do indivíduo: “Ninguém po-
derá ser preso sem culpa formada, exceto nos casos declarados em lei; e nestes, dentro de 4 
horas contadas da entrada na prisão, sendo em cidades, vilas ou outras povoações próximas 
aos lugares da residência do juiz, e nos lugares remotos dentro de um prazo razoável, que a 
lei marcará atenta à extensão do território, o juiz por uma nota por ele assinada fará constar 
ao réu o motivo de sua prisão, os nomes de seu acusador e os das testemunhas, havendo-as”. 
(art. 179, § 8o, da Carta de 1824)
Contudo, o instituto jurídico para a proteção e o pronto restabelecimento desta garantia 
constitucional não tinha nenhum amparo legal. Qual o procedimento jurídico que se deve-
ria adotar em caso de prisão ilegal? Nosso primeiro Código Penal, de 1831, chegou mesmo 
a prever como crime a omissão dolosa de restabelecer a liberdade, mesmo sem existir lei que 
criasse no Brasil a ação de habeas corpus: “Recusarem os juízes, a quem for permitido passar 
ordens de ‘habeas corpus’, concedê-las quando lhes forem regularmente requeridas, nos 
casos em que podem ser legalmente passadas” 
Somente com o advento do Código Judiciário Penal, em 1832, o Direito Brasileiro 
contemplou, finalmente, o instituto do habeas corpus, prevendo um procedimento diferen-
ciado. Assim estatuía o art. 340: “Todo cidadão que entender que ele ou outrem sofre prisão 
ou constrangimento ilegal em sua liberdade, tem direito de pedir ordem de habeas corpus 
em seu favor” O habeas corpus já surgiu com as principais características que tem até hoje: 
a possibilidade de pedido em nome alheio e o rito especial, marcado pela celeridade e pela 
simplicidade. O Código de 1832 ainda previa a concessão da ordem ex officio, o cabimento 
contra ato de particular e punições para quaisquer que se negassem ou dificultassem o cum-
primento imediato da ordem.
o habeas corpus na história republicana brasileira
A Constituição Republicana, de 1891, de forte influência liberal, não só manteve a 
garantia constitucional da liberdade individual, como também transformou em direito 
115FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
constitucional a própria ação de habeas corpus, constando assim daquele texto constitucio-
nal (art. 72, § 22): “Dar-se-á habeas corpus sempre que o indivíduosofrer ou se achar em 
iminente perigo de sofrer violência ou coação, por ilegalidade ou abuso de poder.”
Veja-se que o texto constitucional não menciona a liberdade de locomoção. Partindo 
dessa omissão, Rui Barbosa defendeu vivamente a legitimidade da ação de habeas corpus 
para sanar violência ou coação, qualquer que fosse sua natureza, isto é, não somente as 
restrições à liberdade de locomoção. Apesar de conhecer a origem do instituto (historica-
mente associado aos casos de coação à liberdade de locomoção), Rui Barbosa propugnava 
uma interpretação liberal do texto da Carta Política republicana, que não fazia a menção 
a nenhuma outra ação capaz de fazer cessar constrangimentos ilegais que não estivessem 
relacionados à liberdade de expressão. A Suprema Corte do país agasalhou a tese de que o 
habeas corpus era instrumento válido para proteger qualquer direito para o qual não hou-
vesse específica proteção, desde que a situação jurídica do paciente fosse certa, líquida e 
incontestável, posto que nenhuma ameaça ou lesão a direito poderia deixar de ser apreciada 
pelo Judiciário.
Autores relatam que a doutrina brasileira do habeas corpus passou a ser aplicada nos 
mais variados casos, como para viabilizar o exercício de funções públicas eletivas, exercício 
de profissão, em casos de intervenção federal nos Estados e para alunos serem considerados 
aprovados. O habeas corpus foi usado até mesmo para declarar a inconstitucionalidade de 
Lei promulgada pelo Estado de Pernambuco e, ainda, para garantir a publicação de artigos 
da tribuna do Congresso durante o estado de sítio.
Pedro Lessa, Ministro da Corte Suprema, foi quem se transformou no porta-voz da 
corrente doutrinária oposta à de Rui Barbosa. Segundo Pedro Lessa, o habeas corpus deve-
ria ser concedido para tutelar a liberdade de locomoção do indivíduo, ou ainda os direitos 
cujo exercício dependessem desta. Essa tese, porém, só restou vitoriosa quando o presi-
dente Arthur Bernardes obteve no Congresso a aprovação de uma emenda constitucional, 
em 1926, que alterou o disposto no § 22, do art. 72, da Constituição, que ficou assim 
redigido: “Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar em iminente pe-
rigo de sofrer violência por meio de prisão ou constrangimento ilegal em sua liberdade de 
locomoção”.
Com a promulgação da Constituição de 1934, o retrocesso jurídico acarretado com a 
adequação do habeas corpus aos seus limites tradicionais foi sanado com a criação do man-
dado de segurança. A partir daí não houve modificações significativas no instituto, bastando 
consignar sua manutenção no texto da Constituição outorgada de 1937, porém com uma 
restrição até então inédita: “Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar 
na iminência de sofrer violência ou coação ilegal, na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos 
de punição disciplinar” (art. 122, § 16). Posteriormente, a edição do Código de Processo 
Penal, em 1941, trouxe nova regulamentação jurídica ao processo de habeas corpus, tam-
bém sem grandes inovações. A Constituição de 1946, que restabeleceu a democracia após 
o regime ditatorial do Estado Novo manteve o habeas corpus como garantia fundamental, 
reproduzindo a mesma ressalva da Carta de 1937.
o habeas corpus durante a ditadura militar
A Constituição, “promulgada” por um Congresso Nacional mutilado por inúmeras cas-
sações, em 1967, manteve a garantia do habeas corpus. Porém, não obstante a Constituição 
estabelecer garantias aos cidadãos contra prisões arbitrárias e obrigar ao respeito pela integri-
dade física e moral do detento, o período que se seguiu ao golpe caracterizou-se por prisões 
e perseguições de caráter político, quase sempre ao desamparo da legislação. Nesse período, 
116FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
sobressaiu o combate diuturno dos advogados e dos juízes, mesmo os de tribunais militares, 
que zelavam pelo respeito à lei e à Constituição.
Inicialmente, além de afastar as prisões arbitrárias e os constrangimentos ilegais, o writ 
também foi meio de assegurar o direito do advogado de entrevistar-se com seu cliente em 
local reservado e de quebrar a incomunicabilidade que previa a Lei de Segurança Nacional. 
Porém, o famigerado Ato Institucional nº 5 suprimiu essa garantia fundamental: “Art. 10 
– Fica suspensa a garantia do habeas corpus, nos casos de crimes políticos, contra a segu-
rança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular. Art. 11 – Excluem-se de 
qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato Institucional 
e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos.” A preocupação do regime 
ditatorial em proibir o habeas corpus revela, de forma insofismável, a grandeza do instituto. 
Trata-se do melhor exemplo da sua importância na defesa da legalidade e do combate ao 
abuso de poder e à arbitrariedade.
Alguns destes episódios da história recente de nosso país foram gravados em palavras, 
para que nunca mais nos esqueçamos deles, num depoimento pessoal de um destes lutado-
res. O livro “Relatos – um advogado na ditadura” (Rio de Janeiro: Ed. J. di Giorgio, 1988) 
do eminente criminalista carioca, Antonio Carlos Barandier, prefaciado pelo ministro Evan-
dro Lins e Silva, traz os melhores exemplos do habeas corpus como instrumento eficaz para 
a proteção da liberdade individual. Num período vergonhoso da história nacional (como 
revela o alerta de Evaristo de Morais Filhos, reproduzido por Barandier, “triste o Estado em 
que os advogados devam ser heróis para executar seu labor”), o habeas corpus se tornaria um 
símbolo da resistência, e um instrumento de luta para os profissionais que dignificam até 
hoje a profissão de advogados. 
Embora proibido para crimes políticos, o habeas corpus ainda tinha uma função a de-
sempenhar nessa época ominosa. Os cidadãos eram seqüestrados nas ruas e levados para 
quartéis ou delegacias e seu paradeiro tornava-se desconhecido por todos. As ações dos 
agentes da repressão pública, muitas vezes realizadas clandestinamente, tornaram-se um 
fator multiplicador de “desaparecidos”. Procurados pela família, amigos ou mesmo pelos 
advogados, não se lograva identificar seus detentores. Barandier escreve:
“O talento dos advogados orienta-se para o abrandamento das incomunicabilidades pro-
longadas, em conseqüência do desprezo devotado à própria Lei de Segurança pelos seus 
executores e prepostos e dos diversos e tendenciosos expedientes. Um deles: a pessoa é 
mantida clandestinamente encarcerada até que alguém a reclame. Só quando é localizada, 
noticia-se ao Judiciário e inicia-se a contagem do prazo de incomunicabilidade, ocasião em 
que a malsinada legislação determina o imediato aviso ao juiz competente. Às vezes, meses 
são consumidos sem que os parentes e amigos localizem o detido ou desaparecido, e os ad-
vogados são procurados somente após exaustivas peregrinações aos hospitais, às delegacias e 
ao Instituto Médico Legal”.
Porém, residia na impetração de habeas corpus uma esperança. O writ era impetrado, 
omitindo-se a provável causa política da prisão e afirmando-se desconhecer onde fora preso o 
paciente. O juiz mandava então expedir ofício a todas as carceragens a fim de que prestassem 
informações sobre o caso. Ao lado das diversas negativas dos carcereiros, vinha a resposta de 
que o preso estava na localidade “X” e que o crime era político, portanto fora do alcance do 
habeas corpus. Esta resposta era recebida com alegria, como era também indiferente o inde-
ferimento da ordem requerida. Afinal, o verdadeiro objetivo era localizar o preso, para poder 
quebrar sua incomunicabilidade, e começar a árdua tarefa de colocá-lo em liberdade. 
Curioso que a Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969, que alterou 
quase toda a Carta de 1967, e por isso é chamada de Constituição de 1969, tenha repro-
duzido, no que tange ao habeas corpus, o textoda anterior, sem as vedações estipuladas pelo 
117FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
AI-5. Nesse ponto, a Constituição não era para ser obedecida; mais alto falava o Ato Ins-
titucional. A ditadura foi arrefecendo, seguindo-se a abertura política. Todavia, é somente 
com a redemocratização que se pode voltar a falar em direitos individuais. Somente com a 
promulgação da Constituição de 1988 é que o habeas corpus voltaria a possuir a amplitude 
que sempre caracterizou esse writ.
natureza jurídica
Em que pese o estar disciplinado no livro de recursos do Código de Processo Penal, o 
habeas corpus é considerado uma ação autônoma. Os recursos pressupõem um processo 
anterior e uma decisão a ser impugnada neste mesmo processo. Já o habeas corpus pode ser 
impetrado mesmo sem que exista um processo (v.g., constrangimento imposto por autori-
dade administrativa, por delegado de polícia em inquérito policial etc.). Outra diferença é 
que o habeas corpus pode atacar inclusive decisões transitadas em julgado, além de não estar 
sujeito a prazos, algo que os recursos não se prestam a fazer.
A doutrina entende que o habeas corpus é uma ação de conhecimento porquanto compre-
ende a cognição completa sobre a legalidade, ou não, da restrição ao direito de locomoção, 
que pode objetivar provimentos declaratórios (como é o caso na extinção da punibilidade), 
constitutivos (quando se tratar de pedido de anulação de sentença transitada), condena-
tórios (quando se condena a autoridade coatora nas custas do processo), além do inegável 
caráter mandamental (pois a concessão da ordem impõe seu imediato cumprimento, sem 
que a execução do julgado seja postergada).
condições da ação
Como toda ação, o habeas corpus deve preencher os requisitos para seu conhecimento 
pelo Poder Judiciário, quais sejam: legitimidade ad causam, possibilidade jurídica do pedido 
e interesse de agir.
A legitimidade ativa pode ser definida, grosso modo, como sendo a titularidade do di-
reito que será reclamado em juízo. Reza o art. 6º do Código de Processo Civil: “Ninguém 
poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei”. Contu-
do, como dito anteriormente, o habeas corpus é uma ação que tem caráter popular, fugindo à 
regra da legitimação ativa. Qualquer do povo poderá pleitear em juízo a proteção ao direito 
à liberdade de outra pessoa. 
Essa legitimação é extremamente ampla, não se exigindo sequer a condição de cidadão 
ou de eleitor (como nas ações populares). Não é necessário sequer que o impetrante seja 
plenamente capaz, sendo permitido a impetração por menores de 21 anos (relativamente 
incapazes) e até pelos interditados. Tampouco se exige a condição de pessoa física, havendo 
casos em que a pessoa jurídica (por seu representante legal), pleiteia em nome próprio o 
direito à liberdade de um seu diretor ou funcionário.
Outra importante característica da ação de habeas corpus é a possibilidade de que a 
pretensão seja deduzida em juízo diretamente, sem a necessidade de que o impetrante 
seja bacharel em direito. Em outras palavras, dispensa-se a exigência da capacidade postu-
latória, permitindo o acesso direito à prestação jurisdicional. Todavia, tamanha abertura 
poderia gerar abusos no uso da ação constitucional. O alerta de Ada Pellegrini Grinover 
(In GRINOVER, Ada Pellegrini, GOMES FILHO, Antonio Magalhães e FERNANDES, 
Antonio Scarance: Recursos no Processo Penal. 3a ed. São Paulo: RT, 2001, p. 354/355) é, 
nesse ponto, extremamente relevante: “Não são raros os casos em que pessoas inescrupu-
losas ou afoitas, usando da faculdade concedida pela lei, pedem o habeas corpus em favor 
118FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
de personalidades do mundo político ou social envolvidas em processos criminais, com o 
único objetivo de conseguir notoriedade. Nessas situações, um eventual julgamento pre-
cipitado pode comprometer a linha de defesa que venha sendo desenvolvida pelo próprio 
acusado e seus defensores constituídos, resultando em prejuízo manifesto para o paciente. 
Assim, embora não se possa negar a legitimidade do eventual impetrante, estará ausente o 
interesse de agir, co o utilidade, não podendo ser conhecido o pedido”. 
O Ministério Público também possui legitimidade para a impetração de habeas corpus, 
eis que zela pela justa aplicação da lei. Todavia, as mesmas restrições que se apontou acima 
também se aplicam ao Ministério Público, que carece de interesse na impetração caso o 
titular do direito à liberdade venha a se manifestar contrariamente à ação do Parquet.
A segunda condição da ação, denominada interesse de agir, significa que o habeas corpus 
deve ser a medida necessária para se obter o provimento desejado. Assim, deve estar em 
jogo a liberdade de locomoção individual, ainda que de forma remota, que torne necessária 
a utilização do writ. O critério, todavia, não pode se revestir de extremado rigor. Mesmo 
quando o habeas corpus não se revelar com instrumento adequado para fazer sanar alguma 
ilegalidade, mas ela puder ser aferida, cumprirá ao juiz conceder a ordem de ofício. 
O formalismo e o tecnicismo, embora representem garantia para o indivíduo, devem 
sujeitar-se aos reclamos da razoabilidade e da Justiça não podendo se tornarem óbices para a 
efetivação dos direitos dos indivíduos, sob pena de se tornarem regras contraditórias. Nesse 
diapasão, a jurisprudência majoritária conhece dos pedidos de habeas corpus mesmo quan-
do esteja pendente apelação ou outro recurso interposto de decisão judicial.
Outra hipótese que ressalta a magnitude do remédio heróico é sua utilização após o 
transito em julgado da sentença condenatória. Verificada uma nulidade absoluta no proces-
so, mesmo com condenação passada em julgado, admite-se a impetração de habeas corpus 
ao invés da pertinente ação de revisão criminal, como se manifestou o Supremo Tribunal 
Federal (RTJ 106/94). 
A maior questão que se coloca atualmente no estudo do habeas corpus reside justamente 
na interpretação restritiva ou extensiva do conceito de interesse de agir. Com a edição da Lei 
no 9.268/1996, que vedou a conversão da pena de multa em pena privativa de liberdade, 
parte da jurisprudência tem caminhado para a uma interpretação restritiva do habeas corpus, 
afirmando inexistir interesse por não haver ameaça à liberdade de locomoção. Em 2003, o 
Supremo Tribunal Federal editou o verbete nº 693, de sua Súmula, nesse sentido: “Não cabe 
habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso 
por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada”.
Os argumentos que se contrapõem a essa impossibilidade são os seguintes: em primeiro 
lugar, a recusa em conhecer habeas corpus para crimes cuja única pena fosse a de multa, 
representaria tratamento mais gravoso para infrações menos gravosas. Significa dizer que 
as garantias constitucionais obtidas pelo secular instituto não se aplicam ao criminoso de 
pequena monta, mas só àqueles cujo crime preveja pena restritiva de liberdade; em segundo 
lugar, a pena de multa permanece como efeito de uma condenação penal, com toda a reper-
cussão moral, social, subjetiva que qualquer outra pena. Logo, em nome dos ideais demo-
cráticos que regem a nossa sociedade e conformam o Direito, vícios e abusos num processo 
penal deverão ser rechaçados sempre que possível, inclusive (e sobretudo, como sempre) por 
meio da ação de habeas corpus; finalmente, em terceiro lugar, não se pode olvidar que tam-
bém são iguais efeitos jurídicos decorrentes de uma condenação à pena de multa, gerando 
a perda da primariedade e maus antecedentes, sendo certo que ambos representam fator de 
agravamento na hipótese de reincidência.
A última condição da ação é a possibilidade jurídica do pedido, que se entende como 
sendo as hipóteses em que a liberdade de locomoção é possível de ser assegurada pelo Esta-119FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
do. Casos em que o pedido é impossível, ou não possui proteção estatal, deverão obstar o 
julgamento do pedido pela falta deste requisito. Nesse diapasão, vale analisar a possibilidade 
de se pedir habeas corpus nos casos de punição disciplinar militar embora o art. 142, § 2º da 
Constituição traga expressa vedação: “Art. 142, § 2º – não caberá habeas corpus em relação 
à punições disciplinares militares”. Inicialmente, o writ não é meio apto a discutir o mérito 
da prisão, eis que tais punições disciplinares são legítimas e decorrem da estrutura militar 
brasileira. Todavia, o constituinte não pretendeu afastar do exame pelo Poder Judiciário os 
critérios objetivos que são essenciais a tal punição e, portanto, a legalidade do ato não está 
fora do alcance da análise do Poder Judiciário, sendo o habeas corpus meio hábil para im-
pugnar eventual erro na aplicação da punição. A legalidade do ato envolve questões como 
a como a hierarquia, o poder disciplinar, o ato ligado à função e a pena susceptível de ser 
aplicada disciplinarmente. Outrossim, a possibilidade jurídica do pedido também significa 
a exigência de que o direito constitucional à liberdade deverá estar sendo ameaçado por 
medida ilegal ou abusiva, ou seja, deverá existir uma ilegalidade, sem a qual o habeas corpus 
será carente de fundamentação jurídica. 
procedimento
A inicial do habeas corpus precisa conter minimamente os elementos essenciais para que 
se possa avaliar a existência de constrangimento ilegal, tais como o nome de quem sofre e o 
de quem causa a coação e qual a atitude que configura essa coação. Em qualquer caso, se al-
gum juiz constatar, em qualquer circunstância a existência de coação ilegal, poderá conceder 
uma ordem de habeas corpus independentemente de provocação. Embora não haja previsão 
específica em lei, é muito comum que se faça um pedido de concessão de medida liminar na 
ação de habeas corpus. Nesse caso, antecipa-se a tutela jurisdicional nos casos em que estejam 
presentes os requisitos cautelares (fumus boni juris e periculum in mora).
A ação de habeas corpus possui o seguinte rito específico, disciplinado no Código de Pro-
cesso Penal: a) recebida a inicial, o juiz poderá determinar que o preso lhe seja apresentado; 
b) após, requisitará informações àquele apontado como coator (é possível dispensar tais 
informações, a critério do julgador); c) com as informações ou sem elas, os autos seguirão 
ao Ministério Público para que se manifeste (essa manifestação pode ser oral, no momento 
do julgamento); d) o habeas corpus será julgado na primeira sessão de julgamento. Uma ca-
racterística interessante é que nos casos em que houver empate na votação (quando se tratar 
de órgãos colegiados) prevalecerá a decisão mais favorável ao paciente.
Além dessas regras básicas, os regimentos internos dos tribunais podem criar normas 
aplicáveis aos seus processos. Um exemplo é o Regimento Interno do Tribunal Regional 
Federal da 2a Região, que estabeleceu a obrigatoriedade de intimação do advogado para a 
sessão de julgamento, caso tenha feito esse pedido na inicial.
recursos 
O habeas corpus julgado em primeira instância está sujeito a recurso necessário para o 
tribunal (art. 574, I, CPP), caso concedido, e a recurso em sentido estrito (art. 581, CPP), 
caso concedido ou negado. Além dos recursos mencionados no CPP, a Constituição também 
prevê a possibilidade de impetração de habeas corpus diretamente nos tribunais em razão de 
coação ilegal praticada por determinadas pessoas ou órgãos, bem como outros recursos de 
habeas corpus. Tais disposições estão nos artigos 102, 105, 108 e 114, da Constituição.
120FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
jurispruDência
EMENTA: 1. COMPETÊNCIA CRIMINAL. Habeas corpus. Impetração contra deci-
são de ministro relator do Superior Tribunal de Justiça. Indeferimento de liminar em habeas 
corpus. Rejeição de proposta de cancelamento da súmula 691 do Supremo. Conhecimento 
admitido no caso, com atenuação do alcance do enunciado da súmula. O enunciado da 
súmula 691 do Supremo não o impede de, tal seja a hipótese, conhecer de habeas corpus 
contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido ao Superior Tribunal de Justiça, 
indefere liminar. 2. AÇÃO PENAL. Tributo. Crime contra a ordem tributária, ou crime 
tributário. Procedimento administrativo não encerrado. Pendência de recurso administra-
tivo. Lançamento não definitivo. Delito ainda não tipificado. Jurisprudência assentada do 
Supremo. Constrangimento ilegal caracterizado. Extinção do processo. HC concedido de 
ofício para esse fim. Pedido prejudicado. Crime contra a ordem tributária não se tipifica 
antes do lançamento definitivo de tributo devido. 
STF. HC 85185/SP. Relator Ministro Cezar Peluso. Tribunal Pleno. Julgamento: 
10/08/2005. Publicação: DJ 01-09-2006 PP-00018.
EMENTA: 1. Prova: alegação de ilicitude da obtida mediante apreensão de documen-
tos por agentes fiscais, em escritórios de empresa – compreendidos no alcance da garantia 
constitucional da inviolabilidade do domicílio – e de contaminação daquelas derivadas: 
tese substancialmente correta, mas, dependente de demonstração concreta de que os fiscais 
não estavam autorizados a entrar ou permanecer no escritório da empresa, o que demanda 
reexame de fatos e provas, vedado recurso no extraordinário (Súmula 279). Precedente 
(HC 79.512, Pertence, DJ 16.5.2003). 2. Contraditório e devido processo legal: perícia 
extrajudicial, realizada na fase do inquérito policial: é da jurisprudência da Corte que “a 
perícia não é um simples indício e sim prova técnica e, por isso, pode ser considerada pelo 
julgador na sentença, sem que caracterize cerceamento de defesa, pois o acusado, ciente da 
sua juntada ao inquérito policial que instruiu a ação penal, poderia pugnar por elidi-la” 
(v.g. HC 73.647, 2ª T., Maurício Corrêa, DJ 6.9.96). 3. Individualização da pena: alegação 
de que houve desproporcionalidade entre o número de delitos e o aumento imposto pela 
continuidade delitiva: pretendida ofensa à Constituição que, se houvesse, seria reflexa ou 
indireta, pressupondo o reexame de legislação infraconstitucional e da prova, inviável no 
RE. 4. Recurso extraordinário, requisitos específicos e habeas-corpus de ofício. Em recur-
so extraordinário criminal, perde relevo a inadmissibilidade do RE da defesa, por falta de 
prequestionamento e outros vícios formais, se, não obstante – evidenciando-se a lesão ou 
a ameaça à liberdade de locomoção – seja possível a concessão de habeas-corpus de ofício 
(v.g. RE 273.363, 1ª T., Sepúlveda Pertence, DJ 20.10.2000). 5. Crime material contra a 
ordem tributária (L. 8.137/90, art. 1º):lançamento do tributo pendente de decisão defini-
tiva do processo administrativo: falta de justa causa para a ação penal, suspenso, porém, o 
curso da prescrição enquanto obstada a sua propositura pela falta do lançamento definitivo: 
precedente (HC 81.611, Pleno, 10.12.2003, Pertence, Inf.STF 333). Decisão: A Turma co-
nheceu, em parte, do recurso extraordinário, mas lhe negou provimento. Concedeu, porém, 
de ofício, a ordem de habeas corpus para declarar a nulidade do processo, desde a denúncia, 
inclusive, sem curso, no entanto, a prescrição penal, nos termos do voto do Relator. 
STF. RE 230020/SP. Relator Ministro Sepúlveda Pertence. 1a Turma. Julgamento: 
06/04/2004. Publicação: DJ 25-06-2004 PP-00029.
EMENTA: I. Habeas-corpus: competência: pressupostos. 1. O conhecimento do ha-
beas-corpus nos diversos graus de jurisdição independe de prequestionamento na decisão 
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impugnada: basta que a coação seja imputável ao órgão de gradação jurisdicional inferior, o 
que tanto ocorre quando esse haja examinado e repelido a ilegalidade aventada, quanto se 
omite de decidir sobre a alegação da impetrante ou sobre matéria sobre a qual,no âmbito 
de conhecimento da causa a ele devolvida, se devesse pronunciar de ofício. 2. Cuidando-se 
de recurso em sentido estrito – embora a devolução se restrinja à questão objeto da decisão 
recorrida –, o mesmo critério é de aplicar-se às questões preliminares do seu conhecimento 
– assim, as relativas à sua tempestividade e ao trânsito em julgado da decisão recorrida; não, 
porém, a outras questões de fundo, alheias ao objeto do recurso (inépcia da denúncia e in-
constitucionalidade da norma penal em que capitulada a imputação): concessão, no ponto, 
do habeas-corpus, para que as decida o Superior Tribunal de Justiça. 
II. Julgamento nos Tribunais: adiado o julgamento do processo em pauta, a requerimen-
to da defesa, não se exige nova inclusão em pauta. 
III. Sentença: motivação. 3. Não é nula a motivação da decisão que declarou inexistente 
o preceito legal de anistia invocado em favor do acusado – o parágrafo único do art. 11 da 
L. 9.639/98 –, não repisou a descrição da base empírica da conclusão – a falta de votação e 
aprovação pelo Congresso Nacional do dispositivo indevidamente inserido na primeira pu-
blicação da lei –, é fato incontroverso e, de resto, minudentemente descrito no precedente 
do STF, que a decisão questionada invoca. 
IV. Habeas-corpus: impetração simultânea e de fundamentação idêntica à do recur-
so extraordinário, contra a mesma decisão: prejuízo daquela se anteriormente decidido o 
último. 4. A coisa julgada estabelecida no processo condenatório não é empecilho, por si 
só, à concessão de habeas-corpus por órgão jurisdicional de gradação superior, de modo a 
desconstituir a decisão coberta pela preclusão máxima; não assim, porém, se se cuida de 
decisão transitada em julgado do Supremo Tribunal, que, ao proferi-la, assumiu a respon-
sabilidade da coação, pois consolidada na jurisprudência da Casa em que a admissibilidade 
do habeas-corpus contra suas próprias decisões adstringe-se àquelas proferidas em processos 
de sua competência originária (v.g., HC QO 76.628, Moreira, Pl., 12.3.98, DJ 12.6.98, 
RTJ 168/234; HC 76.653, Pl., Pertence, 18.3.98, DJ 12.6.98). 5. É princípio sedimentado 
no direito brasileiro de que a recorribilidade da decisão ou a efetiva pendência de recurso 
contra eles não inibe a admissibilidade paralela do habeas-corpus; claro, no entanto, que a 
permissão desse uso simultâneo de dois remédios processuais – o recurso e o habeas-corpus 
– contra uma só decisão judicial não é irrestrita, que a permissão da duplicidade de vias 
de impugnação do mesmo julgado tem por fim viabilizar a cessação da eventual coação 
ilegal à liberdade tão rapidamente quanto possível, não, porém, a de outorgar direito a dois 
julgamentos sucessivos sobre uma única questão; por isso, se são idênticas as pretensões 
veiculadas, as respectivas causas de pedir e a extensão admissível do exame delas em ambas 
as vias percorridas simultaneamente – o julgamento anterior do recurso ou mesmo o seu 
início inviabilizam a interposição ou prejudicam o curso do habeas-corpus perante o mes-
mo Tribunal ou em juízo ou tribunal de gradação inferior. 
V. Anistia do crime de apropriação indébita de contribuições previdenciárias descontadas 
dos empregados, quando praticada por empregador privado: L. 6.939/98, art. 11, parág. 
único: reafirmação da jurisprudência do STF que lhe declarou a inconstitucionalidade. 6. O 
vício que tolhe a eficácia do dispositivo invocado não é de inexistência, mas, sim, de incons-
titucionalidade formal, declarada com efeitos ex tunc pelo Supremo Tribunal (HC 77.734). 
7. A inconstitucionalidade formal, assim declarada, faz de todo ociosa a discussão acerca da 
republicação da lei para dela suprimir o parágrafo inserido sem a aprovação do Congresso: 
com ou sem a republicação, a não incidência da regra decorre é do reconhecimento de sua 
inconstitucionalidade, com eficácia ex tunc. 8. Salta aos olhos a diversidade objetiva entre 
a situação – embora relativa à prática do mesmo tipo penal – dos que o praticaram na con-
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dição de agentes políticos – presumidamente para dar ao montante das contribuições não 
recolhidas outra destinação pública –, e a dos empresários privados: não fere a isonomia, 
pois, que só aos primeiros a lei haja concedido a anistia. Votação: por maioria, vencido o 
Ministro Sepúlveda Pertence que negou provimento, a Turma proveu parcialmente o pedi-
do para determinar ao STJ o exame das questões preliminares não apreciadas.
STF. RHC 82045/SP. Relator Ministro Sepúlveda Pertence. 1a Turma. Julgamento: 
25/06/2002. Publicação: DJ 25-10-2002 PP-00049.
EMENTA: Sonegação de papel ou objeto de valor probatório (CP, art. 356). Ausência 
de elementar do tipo. Regular exercício da advocacia. Autorização judicial para levanta-
mento dos referidos documentos derivada de concessão de mandado de segurança. 1. Se o 
procurador das empresas obteve os documentos irregularmente apreendidos de suas clientes 
mediante cumprimento de ordem deferida nos autos de mandado de segurança impetrado 
para tal finalidade, não pode, o fato de os haver restituído a suas constituintes ser classi-
ficado como configurador da hipótese prevista no art. 356, do CP. Porque irregulares, os 
documentos não revestem o valor probatório que constitui elemento do tipo do referido 
artigo. 2. Inquérito trancado por ausência de justa causa. 3. HC deferido. 
STF. HC 83722/SP. Relatora Ministra Ellen Gracie. 2a Turma. Julgamento: 20/04/2004. 
Publicação: DJ 04-06-2004 PP-00059.
EMENTA: Habeas Corpus. Formação de quadrilha visando à prática de crimes contra 
o INSS. Denúncia baseada, entre outros elementos, em provas coletadas por meio de bus-
ca e apreensão domiciliar ordenada por Comissão Parlamentar de Inquérito, em decisão 
não fundamentada, o que tem sido repelido por esta Corte (Mandados de Segurança nºs 
23.452, 23.454, 23.619 e 23.661, entre outros). Denúncia que aponta a materialidade do 
delito, bem como indícios de autoria fortemente demonstrados por outros documentos, 
testemunhos e elementos carreados pelo Ministério Público. Inépcia da peça acusatória não 
configurada. Ordem concedida em parte, para o efeito de excluir os papéis que foram objeto 
da busca e apreensão irregular. 
STF. HC 80420/RJ. Relator Originário Ministro Sepúlveda Pertence. Relatora para o 
acórdão Ministra Ellen Gracie. 1a Turma. Julgamento: 28/06/2001. Publicação: DJ 01-
02-2002 PP-00084.
questões
8º Concurso Público para Provimento de Cargos de Juiz Federal Substituto da 5ª Região
Marque “c” (certo) ou “e” (errado) para a assertiva abaixo
Compete ao STF conhecer habeas corpus impetrado contra decisão do relator que, em 
habeas corpus requerido a tribunal superior, indefira a liminar. ( )
Conforme a jurisprudência dos tribunais superiores, não cabe habeas corpus contra de-
cisão deferitória de quebra de sigilos bancário e fiscal, em sede de investigação criminal. ( )
BiBliografia oBrigatória
AMARAL, Thiago Bottino do: Considerações sobre a origem e evolução da ação de 
Habeas Corpus. In Revista Brasileira de Ciências Criminais, n° 35. São Paulo: RT, 
2001, pp. 101/131.
123FGV DIREITO RIO
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BiBliografia complementar
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa: Processo Penal, Vol. 4. 26a ed. São Paulo: 
Saraiva, 2004, pp. 543/600.
RANGEL, Paulo: Direito Processual Penal. 11a ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, 
pp. 771/800.
GUIMARÃES, Isaac Sabbá: Habeas corpus – críticas e perspectivas. Curitiba: Juruá, 
2000.
PONTES DE MIRANDA, José Francisco: História e prática do habeas corpus (Di-
reito constitucional e processual comparado). 3a ed. Rio de Janeiro: José Konfino, 
1955.
124FGV DIREITO RIO
DIREITO pEnal EcOnômIcO
aula 26 – teoria geral Das nuliDaDes.
introDução
A necessária observância das formalidades processuais, da forma fixada em lei para re-
alização dos

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