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Sem chances iguais, não bastam talento e força de vontade. Entenda por que a cultura da meritocracia contribui para o aumento da desigualdade p. 36 e não sai de lá poR QUê? opobretem seulugar galileu.globo.com EDIçÃO R$ 14,00 ca r g a tr ib u tá r ia fe d er a l a pr o x .4 ,6 5% crise reaproxima artistas da políticaP. 64 estamos perto de viajar para as estrelasP. 48 P. 74 "geração bela gil"rejeita industrializados dossiê cidades p. 24selecionamos os melhores jogos de tabuleiro (para adultos) Em clubes de elite, babás e sócias não podem dividir o mesmo espaço 300 JuL. 16 Hámuitagentesem terondemoraremuitas casassobrando • p. 27 Imóveis vazios Famílias sem lar 6,9milhões 6milhões 300CAPA.indd 1 17/06/2016 21:19:59 EDIÇÃO DIGITAL IPAD Deixe o Edital senai sesi de Inovação ser o segundo. O Edital senai sesi de Inovação é o incentivo de que muita ideia precisa para ir para frente. Se você busca desenvolver novos produtos, processos e serviços inovadores no âmbito industrial, agora é sua chance. Inscreva sua ideia no Edital SENAI SESI de Inovação e obtenha apoio para inovação tecnológica, protótipos de inovação ou soluções para saúde e segurança do trabalhador. Com isso, os maiores vencedores são o aumento da competitividade e da produtividade das empresas. Saiba mais em editaldeinovacao.com.br e não perca a oportunidade de fazer parte do futuro da indústria brasileira. /sesinacional /sesi /senainacional /senainacional /senaibr /senai_nacional Realização: MÃE P.12 OUROPARAA TUBERCULOSE NORIO A CHINCHILA QUE ROEU A MITOCÔNDRIA NOTÁVEIS P.13 PANORÂMICA P.80 P.7 P.16 P.18 PROTEGE OCEANOS P.10 P.10 OS GASES DE JÚPITER BREVE HISTÓRIA DO CHORA, ME LIGA UM ROLÊ PARA MARTE NAS FÉRIAS? ESTOUNADENTRODATV DENTRODACAIXA JOGOSDETABULEIRO 24 P. P. 27CIDADESDOSSIÊ CURTO- -CIRCUITO P.79 P. 26ELE-MEN- TAR LEINÃO. . . ADIETADA EXTINÇÃO P.15 JULHO2016 ANTIMATÉRIA DIRETORADEGRUPOCASAECOMIDA, CASAE JARDIM, CRESCEREGALILEU: Paula Perim EDITORAEXECUTIVA:Cristine Kist EDITORADEARTE: Fernanda Didini EDITORES:Giuliana de Toledo, Nathan Fernandes e Thiago Tanji REPÓRTERES:André Jorge de Oliveira e IsabelaMoreira DESIGNERS: Felipe Eugênio (Feu) e João Pedro Brito ESTAGIÁRIOS: Bruno Vaiano e Lucas Alencar (texto) e Giovana Ansoain (arte) COLABORADORESDESTAEDIÇÃO: Amarilis Lage, André Dib, Bruno Romani, Cartola Conteúdo, Elaine Guerini e Marília Marasciulo (texto); Beatriz Liranço, Made by Shirô, Dulla, Estúdio Barca, Firmorama,Marcus Penna, Michell Lot, Paula Vidal, Pedro Piccinini, Tomás Arthuzzi e Vinicius Valente (arte); MoniqueMurad Velloso (revisão). EMAILDAREDAÇÃO: galileu@edglobo.com.br ASSISTENTEDEREDAÇÃO:Gabriela Nogueira DIRETOR-GERAL: Frederic Zoghaib Kachar DIRETORDEMERCADOLEITOR: Luciano Touguinha de Castro DIRETORDEMERCADOANUNCIANTE:Virginia Any OBureauVeritas Certification, combase nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório deVerificação, adotando umnível de confiança razoável, declara que o Inventário deGases de Efeito Estufa—Ano 2012 da Editora Globo S.A. é preciso, confiável e livre de erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações deGEE sobre o período de referência para o escopo definido; foi elaborado emconformidade coma NBR ISO 14064-1:2007 e as Especificações doProgramaBrasileiro GHGProtocol. MERCADOANUNCIANTE UNIDADEDENEGÓCIOS—PEGN,GR,AE, GALILEU DIRETORDENEGÓCIOSMULTIPLATAFORMA:Renato Augusto Cassis Siniscalco EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA:Diego Fabiano, João CarlosMeyer, Priscila Ferreira da Silva e Cristiane Soares Nogueira UNIDADEDENEGÓCIOS—DIGITAL DIRETORA: Renata Simões Alves de Oliveira EXECUTIVASDENEGÓCIOSDIGITAIS:Andressa Aguiar Bonfim, Giovanna Sellan Perez, Lilian Ramos Jardim e Taly CzeresniaWakrat CONSULTORADEMARCASEGCN:Olivia Cipolla Bolonha UNIDADEDENEGÓCIOS—ESCRITÓRIOSREGIONAIS GERENTEMULTIPLATAFORMA: Sandra Regina deMelo Pepe EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA: Lilian deMarche Noffs e Guilherme Iegawa Sugio UNIDADEDENEGÓCIOS—RIODE JANEIRO GERENTEMULTIPLATAFORMA:Rogério Pereira Ponce de Leon EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA:AndréaManhãesMuniz, Daniela Nunes Lopes Chahim, Juliane Ribeiro Silva, Maria CristinaMachado e Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos UNIDADEDENEGÓCIOS—BRASÍLIA GERENTEMULTIPLATAFORMA:Barbara Costa Freitas Silva EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA: Camila Amaral da Silva e Jorge Bicalho Felix Junior GERENTEDEEVENTOS:Daniela Valente OPECOFFLINE: José Soares, Carlos Roberto Alves de Sá, Douglas Vieira da Costa e José Eduardo Oliveira Ramos INOVAÇÃODIGITAL DIRETORDE INOVAÇÃODIGITAL:AlexandreMaron GERENTEDEESTRATÉGIADECONTEÚDODIGITAL:Silvia Balieiro TECNOLOGIA DIRETORDETECNOLOGIADE INFORMAÇÃO:Rodrigo José Gosling GERENTEDETECNOLOGIADIGITAL: Carlos Eduardo Cruz Garcia DESENVOLVEDORES: Everton Ribeiro, Fabio AlessandroMarciano, Jeferson Mendonça, Leandro Paixão, Leonardo Turbiani, Marcelo Amendola, Marcio Costa, Murilo Amendola, Victor Hugo Oliveira da Silva eWilliamAntunes OPECONLINE:Danilo Panzarini, Higor Daniel Chabes, Rodrigo Pecoschi, Rodrigo Santana Oliveira e Thiago Previero AUTOMAÇÃOEDITORIAL:Ewerton Paes e Ronaldo Silva doNascimento MERCADOLEITOR DIRETORDEMARKETING: Cristiano Augusto Soares Santos GERENTEDECRIAÇÃO:Valter Bicudo Silva Neto GERENTEDE INTELIGÊNCIADEMERCADO:Wilma ConceiçãoMontilha COORDENADORDEMARKETING: Eduardo Roccato Almeida ANALISTADEMARKETING:Aline Nammur Carrijo GERENTEDEOPERAÇÕESEPLANEJAMENTODEASSINATURAS: Ednei Zampese GERENTEDEVENDASDEASSINATURAS:ReginaldoMoreira da Silva GALILEU é umapublicação da EDITORAGLOBOS.A.—Av. Nove de Julho, 5.229, 8º andar, CEP01406-200, São Paulo/SP. Tel. (11) 3767-7000. Distribuidor exclusivo para todo oBrasil: Dinap—DistribuidoraNacional de Publicações. Impressão: Plural Indústria Gráfica Ltda. Av.Marcos Penteado deUlhoaRodrigues, 700, Tamboré, Santana deParnaíba/SP, CEP06543-001. ATENDIMENTOAOASSINANTE Disponível de segunda a sexta-feira, das 8às 21 horas; sábados, das 8às 15horas. INTERNET:www.sacglobo.com.br SÃOPAULO: (11) 3362-2000 DEMAIS LOCALIDADES:4003-9393* FAX: (11) 3766-3755 *Custo de ligação local. Serviço nãodisponível em todooBrasil. Para saber dadisponibilidadedo serviço emsua cidade, consulte sua operadora local. PARAANUNCIARLIGUE: SP: (11) 3767-7700/3767-7500 RJ: (21) 3380-5924 E-MAIL:publigalileu@edglobo.com.br PARASECORRESPONDERCOMAREDAÇÃO: endereçar cartas ao Diretor de redação, GALILEU. Caixa postal 66011, CEP 05315-999, São Paulo/SP. FAX: (11) 3767-7707 E-MAIL:galileu@edglobo.com.br As cartas devemser encaminhadas comassinatura, endereço e telefonedo remetente. GALILEU reserva-se odireito de selecioná-las e resumi-las para publicação. EDIÇÕESANTERIORES: o pedido será atendido pormeio do jornaleiro pelo preço da edição atual, desde que haja disponibilidade de estoque. Faça seu pedido na bancamais próxima. P.20 COMPOSIÇÃO ...E O RATO QUE PER SON ALJ ESU S P.1 4 DOMINARÁOMUNDOP.14 300COMPOSICAO.indd 3 17/06/2016 21:37:21 “Deveriam produzir sempre textos assim. A matéria é de uma sensibili- dade incrível e as fotos deram um nó na garganta.” Thyago Nogueira, Fortaleza, CE “Texto ótimo, só senti falta de uma abordagem mais crítica em relação à mídia. A arte foi uma das mais belas que já vi em uma revista.” Antonio Jr., Matão, SP “Já usei apps do tipo algumas vezes. Já deu certo e já deu errado. A matéria me ajudou muito a refletir sobre o assunto.” Jean França, Maceió, AL AVALIAÇÃO SENSACIONAL Edição junho/2016 Sudão do Sul HappnCapa 9,6 8,5 8,3 Errar é humano O QUE VOCÊ ACHOU DA SEÇÃO ELEMENTAR SOBRE CHEETOS? O QUE VOCÊ ACHOU DA MATÉRIA DE CAPA? O QUE VOCÊ ACHOU DA REPORTAGEM SOBRE O ARQUIVO PÚBLICO, DO ANTIMATÉRIA? O QUE VOCÊ ACHOU DA MATÉRIA SOBRE VIDA EXTRATERRESTRE? O QUE VOCÊ ACHOU DO PAPO CABEÇA COM A DIRETORA DO HAPPN? O QUE VOCÊ ACHOU DA SEÇÃO DENTRO/ FORA DA CAIXA? MÉDIAS DASMATÉRIAS Capa DossiêInternet Papo Cabeça: Happn Nestemês, a segunda temporadadonosso Conselho sedebruçou sobreaediçãode junhoeconcedeusuasprimeiras impressões 60% 90% 70% 50% 60% 50% 1. Gostei tanto quanto da minha coleção de tazos. 1. Essamatéria foi sensacional! 1. Gostei e estou em choque com os números. 1. Não sei se gostei mais do texto ou da ilustra. 1. Um amor de conversa. 1. Gostei, minhas paredes agradecem. 40% 10% 20% 40% 10% 20% 10% 10% 30% 30% 2. Não quero comentar. 2. Não quero comentar. 2. Não gostei, muito burocrática. 2. Não gostei, só especulação. 2. Não deu em nada, assim como minha experiência no app. 2. Não gostei. Faltou assunto? 3. Não quero comentar. 3. Não quero comentar. 3. Não quero comentar. 3. Não quero comentar. 1 2 1 2 1 2 3 1 1 1 2 2 2 3 3 3 Ao contrário do afirmado no subtítulo da reportagemCidades de Papel (pág. 7, edição 299), não são cerca de 80% dos documentos guardados no Arqui- vo Público do Estado de São Paulo (Apesp) que poderiam ser eliminados sem prejuízo histórico ou legal; são 80% dos documentos guardados pelo estado de São Paulo. O Apesp é responsável, conforme descrito na matéria, por armazenar e conservar mais de 30 quilômetros lineares de documentação valiosa para a história brasileira, além de prestar auxílio aos demais órgãos públicos de São Pau- lo na eliminação de papéis antigos que não possuam mais serventia. A alteração foi resultado de um erro de edição e pedimos desculpas ao Apesp e aos leitores pelo equívoco. 8,9 Vida Extraterrestre 9,5 Sudão do Sul 06 CON - SE- LHO PORN A T H A N F E R N A N D E S CON - SE- LHO PORNAT H A N F E R N A N D E S 300Conselho.indd 6 17/06/2016 15:28:46 DE VOLTA AO FUTURO Após fracassarnadécadade 1990, projetosde realidade virtual são retomadospelas grandes empresasde tecnologia— PORBRUNOROMANI 07. 20 16 1 FIRMORAMA (FR)2 MICHELLLOTT (ML) 3 PEDROPICCININI (PP) ILUSTRADORESCONVIDADOS DESIGNFEU Fig. 01 -(FR) Pg.0707.2016 EDIÇÃOTHIAGOTANJI ANTI- MATÉ- RIA 300AMabre.indd 7 17/06/2016 15:45:26 Com uma camisa colorida de gosto duvidoso ajeitada dentro da calça e sapatos mocassim, o VJ daMTV nor- te-americana Alan Hunter apresentava a inovação para os fãs de videogames durante o Consumer Electronics Show (CES) de 1993. Criado pela empresa japonesa Sega, o dispositivo de realidade virtual em questão era equipado com uma tela LCD e fones de ouvido que permitiam aos jogadores experimentar em três di- mensões os games do console Mega Drive. O produto, no entanto, nem chegou a ser comercializado: durante os testes, constantes queixas de dores de cabeça dos usuários e dúvidas em relação à aplicabilidade do dis- positivo enterraram o projeto. Assim como as camisas com estampas coloridas, a MTV e os games da Sega, a realidade virtual parecia estar relegada à memória afe- tiva daqueles que viveram os anos 1990. Até agora. Já há alguns anos, o desenvolvimento de recursos capazes de levar o usuário à imersão virtual em um cenário de 360 graus ressurgiu das cinzas por conta de aprimoramentos técnicos e voltou a fazer parte dos projetos das principais empresas de tecnologia. Nos últimos meses, porém, o assunto foi tema de dez entre dez conferências no Vale do Silício. Em maio deste ano, por exemplo, a realidade virtual ganhou espaço de destaque entre os projetos apresentados no Google I/O, principal evento da companhia para divulgação de novas tecnologias. Durante o encontro, a empresa divulgou o Daydream, plataforma cons- truída de forma integrada com o sistema operacional Android que possibilitará aos fabricantes de smart- phones produzir conteúdos de realidade virtual para seus produtos. O Google também anunciou parcerias com as desenvolvedoras de games Electronic Arts e Ubisoft para a produção de títulos com recursos de realidade virtual nos dispositivos móveis. VER PARA CRER Da medicina à indústria bélica, cientistas e empreendedores já aplicam a realidade virtual em diferentes tipos de projetos “Dos laboratórios para a sua casa, isso é a realidade virtual.” ESSE E O FUTURO. TRATAMENTO PSICOLÓGICO A realidade virtual já é aplicada no tratamento de distúrbios de ansiedade, fobias e estresse pós-traumático. A ideia é colocar o paciente em situações virtuais de medo ou desconforto para que ele aprenda a superar esses problemas. EXPLORAÇÃO ESPACIAL ANasa e aMicrosoft desenvolveramuma ferramenta que permite a exploração de Marte em ambiente virtual. Com a tecnologia, cientistas fazem recomendações de percursos para o robô Curiosity, que está explorando o planeta. ATIVIDADEMILITAR O exército da Noruega testa um dispositivo de realidade virtual para auxiliar em operações com tanques de guerra: câmeras acopladas à parte externa do veículo exibem imagens em 360 graus nos visores dos motoristas Pg.08 07.2016 300AMabre.indd 8 17/06/2016 15:45:27 Ícones: Estúdio barca SSE E O FUTURO. eventos públicos. Com ela, você tem uma experiên- cia muito mais rica do que se estivesse no local”, diz com otimismo Rafael Steinhauser, presidente da Qualcomm na América Latina, responsável pelo de- senvolvimento de processadores para dispositivos. Uma das indústrias ameaçadas é o cinema: afi- nal, sendo possível frequentar cinemas virtuais, por que alguém iria até o espaço físico? “A tendência é que o conteúdo de realidade virtual afaste o públi- co das salas de cinema, a não ser que elas ofereçam essas mesmas experiências”, destaca Fábio Hofnik, curador da BRVR, conferência sobre realidade virtual que acontecerá neste mês de julho na cidade de São Paulo. “Você terá o próprio cinema em casa.” Serviços básicos, como educação, também seriam modifica- dos. “Os estudantes serão colocados em ambientes simulados e poderão interagir com situações diver- sas”, diz Renato Citrini, gerente sênior de produto da divisão de dispositivos móveis da Samsung Brasil. A convivência com os colegas, importante para o aprendizado, já está sendo levada em conta pelos desenvolvedores. “A indústria tem percebido que as experiências são muito reservadas, e existe a preo- cupação de trazer elementos sociais para a realidade virtual”, diz Tiago Moraes, fundador da Ovni Studios, desenvolvedora de conteúdo em realidade virtual. Mas um dos mercados mais promissores para os entusiastas da realidade virtual é justamente o dos videogames, o mesmo que virou as costas para a tecnologia no passado. Em março, a Sony divulgou o lançamento do PlayStation VR, visor com tela de LCD e sensor de movimentos capaz de exibir ima- gens com alto detalhamento — especialistas afirmam que a sensação de náusea é rara mesmo quando são mostradas cenas em alta velocidade. Com lança- mento previsto para outubro deste ano, o produto custará US$ 400 e terá suporte para alguns jogos do PlayStation 4, como Final Fantasy XIV e Gran Turismo. Agora, para que a redenção dos anos 90 esteja completa, só falta mesmo a volta da MTV. Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, é outro que aposta alto nesse mercado. Em 2014, ele pagou US$ 2 bilhões pela Oculus, empresa fundada pelo norte-americano Palmer Luckey responsável pela fa- bricação do equipamento de realidade virtual Oculus Rift. No começo do ano, no Mobile World Congress, uma foto de um sorridente Zuckerberg caminhan- do entre centenas de pes- soas que utilizavam um visor de realidade em três dimen- sões não deixava dúvidas do potencial econômico desse recurso — de acordo com a consultoria de investimentos Digi-Capital, os mercados de realidade virtual e de realidade aumentada somarão receitas de US$ 120 bilhões até 2020. Esse lucro todo viria da mi- gração de determinados tipos de negócio, como shows e jo- gos de futebol, para o ambien- te digital. “A realidade virtual acabará com os estádios e JOGATINA VIRTUAL, EXPERIÊNCIA REAL Empresas prometem imersão total de jogadores na nova geração de games OCULUSRIFT Pioneiro entre os óculos de realidade virtual da nova geração, o equipamento conta com um catálogo de games de diferentes es- tilos, como terror e simuladores de voo. Aqualidade gráfica dos jogosmelhorou substancialmente nos últimos lançamentos. PLAYSTATIONVR Com lançamento previsto para outubro deste ano, o dispositivo desenvolvido pela Sony permitirá que games famosos, como Final Fantasy, tenham uma versão capaz de ambientar os jogadores em um cenário de 360 graus. CAUSAS SOCIAIS O projeto iAnimal exibe o sofrimento de animais emabatedouros. JáoTheMachine toBeAnother, da universidade espanhola de Pompeu, ensina sobre igualdade de gêneros ao propor uma “troca de corpos” virtual entre homens emulheres. EDUCAÇÃO O projeto Lecture VR proporciona o aprendizado de conteúdos de Biologia, História e atéMatemática em ambientes virtuais. É possível visualizar células ou bater umpapo comAlbert Einstein sobre o estudo da teoria da relatividade. Pg.0907.2016 300AMabre.indd 9 17/06/2016 15:45:28 EMBUSCADA MITOCÔNDRIA Micróbio que vive na barriga de chinchilas desafia as leis da Biologia PORANDRÉJORGEDEOLIVEIRA NO FINAL DE MAIO, 150 cientis- tas de diferentes instituições estran- geiras enviaram uma carta aberta à Organização Mundial de Saúde (OMS) requisitando adiamento ou transferência da Olimpíada por con- ta do surto de casos do zika vírus — de acordo com o documento, há risco de expansão da doença para outros lugares por conta dos milhares de tu- ristas que visitarão o Rio de Janeiro durante o evento esportivo. Em res- posta, oMinistério da Saúde afirmou que a Olimpíada será disputada em uma época de baixa transmissão de doenças causadas pelo Aedes aegypti. Entre janeiro de 2015 e fevereiro de 2016, foram registrados 261 casos de bebês commicrocefalia no estado do Rio de Janeiro — essa condição neu- rológica, que impede o crescimento do cérebro, teria relação com o zika. Mas essa não deveria ser a única preocupação com relação a doen- ças. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o Rio de Janeiro apresenta a maior taxa de mortalida- de por tuberculose entre as capitais brasileiras. Em 2014, o índice foi de 6,9 mortes por 100 mil habitantes. A doença, considerada um problema de saúde pública do século 19, está presente principalmente nas áreas mais pobres: a favela da Rocinha registra uma taxa de incidência de 372 casos por 100 mil habitantes, índice 11 vezes maior que a média brasileira. Disseminada em locais com baixa infraestrutura sanitária, a tuberculose afeta em média 70 mil pessoas por ano no Brasil. De acor- do com a OMS, o país está entre as 22 nações que concentram 80% dos casos da doença no mundo. PORQUEO ZIKANÃO ÉOÚNICOPROBLEMA Longe dos holofotes internacionais, doenças como a tuberculose ainda afetammoradores das áreasmais pobres do Rio de Janeiro às vésperas dos Jogos Olímpicos ANOS É A IDADE DE QUASE 3MIL VESTÍGIOS arqueológicos encontrados em São Manuel, no interior de São Paulo. Os itens, utilizados por povos pré-colombianos, são todos de pedra lascada CIENTISTASANALISARAM o genoma doMono- cercomonoides sp,micro-organismoquevive na flora intestinal das chinchilas, e notaram a au- sênciadamitocôndria. Se issonãoparecegrande coisa, é melhor relembrar as aulas de Biologia: responsáveispela respiraçãoeproduçãodeener- gia, asmitocôndrias tinhampresença considera- da obrigatória entre as células complexas, como aquelas que formamoMonocercomonoides sp. Os pesquisadores acreditamque, para suprir a falta damitocôndria, omicro-organismo toma emprestado de bactérias certos genes que de- sempenhamamesma função evivemnabarriga das chinchilas. “É umaprova deque avida émais flexível do que esperávamos”, afirma a bióloga evolutiva Anna Karnkowska, da Universidade da Colúmbia Britânica, que liderou o estudo. 11 MIL Pg. 10 07.2016 FIG. 02 -ML 300AMzikaMITOCONDRIAtripadvisor.indd 10 17/06/2016 16:08:12 A limentos cultivados com sementes geneticamente modificadas são se- guros para consumo, mas não se pode afirmar que esses cultivos cumpram a promessa de aumentar a produtivi- dade das lavouras. Essas são as principais con- clusões de um relatório de mais de 400 pági- nas apresentado recentemente pela Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos. O comitê analisou mais de mil estudos já feitos em todo o mundo. “O relatório mostra uma visão favorável aos transgênicos, o que não é surpreendente, por- que vários membros têm ligação com empre- sas como a Monsanto [maior fabricante de se- mentes geneticamente modificadas do planeta]”, diz Rubens Nodari, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em maio, a Bayer, gigante alemã da fabricação de produ- tos químicos, fez oferta de US$ 62 bilhões para compra da Monsanto. A proposta foi recusada, mas a companhia se diz aberta a negociações. O Brasil é o segundo país quemais produz trans- gênicos, atrás dos Estados Unidos no ranking mundial. “Entre 2000 e 2013, o Brasil mais que dobrou a quantidade de consumo de pesticidas — e a área plantada aumentou só cerca de 20%”, destaca Nodari, ci- tando dados do IBGE e do Ibama. “Há aumento de plantas resistentes aos produtos, qualquer geneticista sabe da seleção natural. E as em- presas ganham mais com o pesti- cida do que com as sementes.” MADEIRADELEI? DEPOIS DE CAMINHAR por dois quilômetros sob sol forte, com calor de 40°C, um elefante no Camboja teve um ataque cardíaco e morreu. O caso ganhou destaque internacional por conta das circunstâncias da fatalidade: o animal, de 40 anos, era obrigado a ser- vir como transporte a turis- tas que visitam templos re- ligiosos cambojanos. Casos como esse não são raridade, assim como tigres domados e chicoteados para que se- jam tiradas fotografias com pessoas na Tailândia e tu- barões presos em pequenas jaulas submersas para apre- ciação humana no Caribe. Para combater o prolema, a organização britânica World Animal Protection (WAP) re- quisitou que o TripAdvisor, maior serviço virtual de via- gens do mundo, deixasse de listar atrações que incluíssem maus-tratos às faunas locais. Os administradores do servi- ço recusaram o pedido, afir- mando que elencavam dife- rentes atrações em seu site e não apoiavam atividades des- se gênero. A justificativa não foi convincente. A WAP or- ganizou um abaixo-assinado digital e conseguiu mais de 250 mil pessoas que apoia- ram a causa — até agora, o TripAdvisor não se posicio- nou sobre a iniciativa. DICAS DEMAUS- TRATOS Ativistas criticam o serviço TripAdvisor por exibir atrações turísticas que realizam a exploração de animais A ETERNA BRIGA DO TRANSGÊNICO Relatório sobre segurança de sementes geneticamente modificadasaindageracontradições—PORGIULIANADETOLEDO FIG. 03 -PP 80% da extração de madeira no Brasil é ilegal ou desrespeita regras ambientais, de acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ícones: Estúdio barca Pg. 1107.2016 300AMzikaMITOCONDRIAtripadvisor.indd 11 17/06/2016 16:08:17 aLuaencontrao pLanetaJúpiter o corpo celeste poderá ser visto no céu próximo à Lua. Quando escurecer, olhe na direção noroeste: a dupla permanecerá ali até por volta de 21 horas, quando vai se pôr no horizonte. 9 Meteoros eMaQuário picodechuvademeteoros causadaporfragmentosdo cometa96pMachholz—até 20meteoros por hora podem aparecer nos céus. procure pela constelação deaquário. 28 AGENDA - - 3 10 17 24 31 - 6 13 20 27 - 4 11 18 25 - - 7 14 21 28 - - 5 12 19 26 - 1 8 15 22 29 - 2 9 16 23 30 - Jul. 2016 ssd s t q q lu- ne- ta Lander Sonda que faz um pouso suave e permanece imóvel no planeta rover Veículo de exploração que se desloca pela superfície do corpo celeste mARS iii (uRSS) m iii mARS ii (uRSS) m ii mARSVi (uRSS) mVi Viking i (EuA) V i Viking ii (EuA) V ii 1971 1973 1976 1997 InvasãovIkIngemmarte após primeiro pouso bem-sucedido no Planeta vermelho, há 40 anos,muitas sondas e veículosmotorizados passearampor lá 2020 ExomARS (EuRopA) Ex m dEEpSoJouRnER (EuA) mARSpAthfindER mpS Ícones: Estúdio barca Pg. 12 07.2016 JUNOCAM Produzir imagens coloridas em alta resolução fig. 4 -pp esPectrógrafo ULtravioLeta (Uvs) MaPeador infraverMeLho de aUrorasJUPterianas (JiraM) instrUMento de ondas de PLasMa (Waves) ciência da gravidade (gs) exPeriMento de distribUições de aUroras JUPterianas (Jade) instrUMentodetector de PartícULas energéticas de JúPiter (Jedi) radiôMetro de Micro-ondas (MWr) MagnetôMetros (M) GS eM Estudar a estrutura profunda do planeta UVS e JIRAM Fotografar a atmosfera de Júpiter com câmeras ultravioleta e infravermelha para identificar a composição dos gases JeDI, JADe eWAVeS Mapear campos elétricos, ondas de plasma e partículas para determinar como o campomagnético se relaciona com a atmosfera do planeta MWR Analisar a atmosfera para medir a quantidade de água e oxigênio NAMITOLOGIAROMANA,quando odeusJúpiter fazia coisas erradas, criavaumacamadadenuvenspara se esconder.Mas suaesposa, Juno, tinha o poder de enxergá-lo. Ago- ra, uma xará robótica da deusa fará a mesma coisa: lançada pela Nasa há quase cinco anos, a son- da carregou instrumentos avan- çados (veja ao lado) por mais de 2,8 bilhões de quilômetros para mapear a atmosfera e a estrutura de Júpiter, investigando como o campo magnético e a gravidade do gigante gasoso interferem em suas propriedades. Um dos mis- térios jupiterianos é o da Grande Mancha Vermelha, tempestade que dura séculos e vem encolhen- do nas últimas décadas. A sonda também pretende responder se Júpiter tem um núcleo sólido. o poder de juno sonda da nasa chega a JúPiter Para desvendar osMistérios escondidos eMbaixo da caMada de nUvens do gigante gasoso Po r a n d r é j o r g e d e o l iv e ir a a deusadanasa Conheça as funções de cada instrumento 300LUNETA.indd 12 17/06/2016 21:47:12 localizaçãodas sondasnoplaneta vermelho A PROVÁVEL CANDIDATA do Partido Demo- crataparaadisputaàPresidênciadosEstados Unidos afirma que, se chegar ao comando da CasaBranca, tornarápúblicosdocumentos so- bre a Área 51. Para ufólogos, a base da Força Aérea no estado norte-americano de Nevada esconderia naves e corposdeextraterrestres. AsimpatiadeHillaryClintonporestudossobre vida inteligente fora da Terra já lhe rendeu o apelido de “a candidata ET”. “Hámuitas histó- rias por aí, não acho que todo mundo esteja sentadoemsuas cozinhas inventando isso”, já disse, em entrevista, sobre óvnis. “Quero ver o que as informações apontam”, declarou ela, que já faloupublicamentede seu sonhode ser astronauta quando criança. Aindamais entu- siasta da causa é John Podesta, coordenador desuacampanha,notório fãdasérieArquivoX. Ativista na busca de transparência do gover- no em relação ao tema, ele classificou de “fracasso” não alcançar avanços enquanto trabalhou na gestão de Barack Obama. para o astrônomo Rafael Souza, uma reunião de cientistas não é sinônimo de con- gressos chatos: ele é o criador da Iniciativa de Astroestatística, projeto que, durante uma semana, reúne cientistas de diferentes países para desenvolver trabalhos de astro- nomia em uma casa compartilhada — desde estudantes até acadêmicos com vasta expe- riência participam da atividade. “Quando você é uma pessoa nova no meio, nem sempre tem acesso às pesquisas da sua área”, diz o astrôno- mo, que atualmente reside emBudapeste, capi- astronomia globalizada tal da Hungria, onde atua como pesquisador na Universidade Eötvös Loránd. “Chamamos pessoas de diferentes posições acadêmi- cas para participar. Ficamos na mesma casa trabalhando, e nos divertimos juntos.” Em abril, Souza e quatro outros acadêmicos ganharam destaque daAssociação Internacio- nal deAstroestatística por desenvolverem uma pesquisa sobre grupos de estrelas que surgiram no início da formação da nossa galáxia e que podem fornecer algumas ex- plicações sobre a sua origem. Na área da astroestatística, os pesquisadores utilizam inteligência artificial para lidar com dados de astrono- mia. “Existem fenômenos que ocorrem aomesmo tempo no espaço e, com a estatística, conseguimos separá-los. Uma técnica convencional não se- ria capaz de lidar com isso.” Brasileiro cria rede para desenvolvimento de pesquisas Por isabelamoreira AprimEirA cANDiDAtA Et Hillary Clinton diz que revelará “arquivos X” desejados por ufólogos 20031999 20082012 2004 2020 luneta live AS notÍciAS ESPAciAiS dA SEMAnAcoMEntAdAS todASAS SExtAS-FEirAS, àS 16 horAS, EM noSSAPáginAno FAcEbook bEAglE ii uk b ii SpiRit (EuA) Sp oppoRtunity (EuA) o phoEnixmARS (EuA) pm x mARS 2020 m mARSpolAR dEEp SpAcE ii (EuA) mpo dS mp mp o pm V i mVi m iii Sp mpo b ii dS V ii c m ii mARS SciEncElAboRAtoRy [cuRioSity] (EuA) c Pg. 1307.2016 -pp Marte Marte NoMe Rafael Souza país Brasil Idade 36 anos profIssão Astrônomo feIto Desenvolveu um novo modelo de trabalho para cientistas n o t á v e is fig. 5 -ml 300LUNETA.indd 13 17/06/2016 21:47:14 Sabe aquela sen- sação de querer comer tudo o que vê pela frente após um longo período sem se alimentar? O responsável por isso é um hormônio chamado grelina, liberado em condições de jejum e que age no cérebro para ativar a sensação de fome. Depois das refeições, há uma diminuição na libera- ção desse hormônio, o que leva à saciedade. “Outro fator que contribui é a dis- tensão gástrica, que acon- tece quando o alimento se acomoda no estômago”, afirma Fernanda Corrêa, professora de Nutrição da UniversidadeAnhembi Morumbi. Portanto, basta culpar a grelina quando reclamam que você é um legítimo saco sem fundo... R: POR QUE PERCO A FOME DEPOIS DE ME ALIMENTAR? Vinícius Silveira, via Facebook SEM DÚVIDA A questão não é de fé, mas de ciência: a startup califor- niana Ava Winery afirma que é possível transfor- mar água em um vinho requin- tado em apenas 15 minutos — e sem utilizar nenhuma uva. Previsto para o final do ano, o primeiro produto da empre- sa será uma réplica do cham- panhe Dom Pérignon da safra de 1992, a US$ 50 (cerca de R$ 170). O original, francês, não sai por menos de US$ 200 (R$ 680). O próximo rótulo será um Moscato d’Asti, um vinho branco italiano. “Analisamos os perfis moleculares para sa- ber todos os componentes presentes, então combina- mos cada um deles na propor- ção correta”, diz Alec Lee, um dos fundadores da startup, que aguarda autorização legal para comercializar o produto. Copiar vinhos famosos também é a missão da empresa Replica Wine, que utiliza uvas fermen- tadas e outros ingredientes para imitar o gosto e o aroma de rótulos tradicionais — o preço dessa versão é até 50% mais barato em relação ao original. MILAGRE ENGARRAFADO Empresa norte-americana promete transformar água em vinho (dos bons) por meio de reações químicas feitas em laboratório — PORGIULIANADETOLEDO AVINGANÇA DOSRATINHOS Após sofrerem sucessivas alterações ge- néticas, animais testados em laborató- rio apresentammutações não esperadas, prejudicando pesquisas científicas POR ISABELAMOREIRA NÃO HÁ ROEDOR QUE AGUENTE: depois de viver du- rante anos como objeto de testes de laboratório, uma linhagemde ratos conhecida comoB6 se rebelou contra os cientistas. O instituto norte-americanoRagon, doMIT e da Universidade de Harvard, anunciou a descoberta de umamutação não programada nesses ratinhos, que são desenvolvidos em laboratórios nos EstadosUnidos e noJapão. De acordo comos pesquisadores, emvez de apresentarmudanças no cromossomo9de umgene, os animais sofriam alterações no cromossomo 11. Ao investigar o acontecimento, os cientistas desco- briramque a anomalia foi originada na Envigo, empresa quevendeu cobaias para laboratórios daÁsia (Israel, por exemplo), daAmérica doNorte e da Europa. Ocorre que, como os B6 são amplamente utilizados, é provável que os resultados de pesquisas realizadas nos últimos anos tenhamsofrido distorções.AEnvigo já foi comunicada e afirmaque fará o possível para contataros clientes que usaramos animais. Resta saber se os ratinhos continua- rão em greve genética contra essas pesquisas. Pg. 14 07.2016 FIG. 6 -FR 300vinhoPINKcerebroOPSdieta.indd 14 17/06/2016 19:47:30 VIDRO SEGURO Em 1903, o químico francês Edouard Benedictus trabalha- va em seu laboratório quando um frasco de vidro caiu e se que- brou. Curiosamente, o objeto não ficou estilhaçado em peda- cinhos — o cientista notou que o frasco era revestido de um composto plástico. Com a descoberta, foi possível desenvol- ver equipamentos de vidro mais seguros, como os utilizados nos para-brisas dos automóveis. MARCA- PASSO O engenheiro nor- te-americano Wilson Greatbatch trabalhava na construção de um equipamento eletrôni- co para gravar sons do coração quando errou a montagem do dispo- sitivo. Ele percebeu, então, que o aparelho emitia um pulso elétrico e poderia auxiliar no monitora- mento do coração: em 1958, após dois anos de testes, ele realizou uma demonstração do produto com sucesso. PICOLÉ Um garoto desleixado ou um visionário? Em 1905, o norte-ameri- cano Frank Epperson, de 11 anos, misturou água e suco em pó e deixou o composto na varanda de sua casa, com um palito dentro. Fez muito frio na madrugada, e, no dia seguinte, ele encontrou um pedaço de gelo com sabor. A criança teve o mérito da patentear essa invenção e vendê-la anos depois para uma empresa de sorvetes. OPS... PORQUEOERROÉPAIDOACERTORANGO NEANDERTAL Dieta paleolítica contribuiu para o desaparecimento dos hominídeos PORANDRÉJORGEDEOLIVEIRA COMPOSTA DE CARNES, vegetais e frutas, a dieta paleolítica também estava na moda há 300 mil anos. Mas não era recomendação de um blogueiro fitness da época: esse tipo de alimentação era a única alternativa para os homens neandertais obterem energia — a espécie, que coexistiu com o Homo sapiens, vivia da caça e da coleta em regiões frias e de vegetação escassa na Europa e na Ásia. Para Miki Ben-Dor, arqueólogo da Universidade de Tel-Aviv, a dieta ajuda a explicar a extinção desses hominídeos, há cerca de 29 mil anos: eventos naturais, como o fim dos mamutes, provocaram a falta de animais mais parrudos para a caça, o que obrigou os neandertais a se alimentarem de animais magricelas, com menor oferta de nutrientes. “O que os matou foi a diminuição de grandes animais que os su- priam com gordura farta durante os invernos da era do gelo, quando a disponibilidade de carboidratos era curta”, diz Ben-Dor. Pg. 1507.2016 168MILHÕES de crianças no mundo são submetidas a trabalho infantil 99MILHÕES Trabalham no setor agrícola Trabalham em mineração, indústria e turismo FIG. 7 -ML 69MILHÕES 300vinhoPINKcerebroOPSdieta.indd 15 17/06/2016 19:47:40 C A R T O - G R Á F IC O UCSDECONSERVAÇÃONAAMAZÔNIA UCSDECONSERVAÇÃONOMAR Lagoa do Peixe Restinga de Jurubatiba Jericoacoara Cabo Orange Superagui Amazônia Serra do Divisor Serra do Pardo Anavilhanas Pacaás Novos Acari Jamanxim Jaú Juruena Pico da Neblina Rio Novo Viruá Mapinguari Nascentes do Lago Jari Serra da Cutia Montanhas do Tumucumaque Lençóis Maranhenses Fernando de Noronha Abrolhos Uatumã Abufari Guaporé Gurupi Rio Trombetas Lago Piratuba Nascentes da Serra do Cachimbo Tapirapé Manicoré Jaru Comboios Santa Isabel Atol das Rochas Marinha do Arvoredo Monte Roraima Ilhas Cagarras Santa Cruz Ilha dos Lobos Guanabara Alto Maués Terra do Meio Caracaraí Cuniã Jutaí-Solimões Maracá Jari Rio Acre Juami-Japurá Niquiá Guaraqueçaba Maracá-Jipioca Tupiniquins Taim Tupinambás PROTEÇÃO DESIGUAL ÁREA DA ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA (MAR):4,4 MILHÕES DE KM2 ÁREA DA AMAZÔNIA LEGAL: 5MILHÕES DE KM2 Esse quadradinho representa a soma da área de todas as unidades de proteção integral do mar brasileiro: somente 0,05% do nosso oceano conta com algum tipo de lei de preservação PA PA PE BA MG SC RS MS GO GO PI TO TO MA MA CE RN PB MT MT AM AM AP AP RR AC SE AL ESEC: Estação Ecológica MONA:Monumento Natural PARNA: Parque Nacional REBIO: Reserva Biológica REVIS: Refúgio de Vida Silvestre AQUI É OPENMAR AAmazônia e o mar brasileiro apresentam áreas parecidas, mas suas zonas de preservação são distintas PORANDRÉ JORGEDEOLIVEIRA A FLORESTA E OMAR sãomais parecidos do que aparentam, mas ninguém parece se importar com isso, já que aAmazônia possui quase o dobro de unidades de conservação (UC) em relação aomar brasileiro. De acordo comMauroMaida, oceanologista da Universidade Federal de Pernambuco, os processos ecológicos desses ambientes sãomuito semelhantes. “Não faz sentido que essas áreas tenham níveis de conservação diferentes”, afirma. Conforme sua pesquisa, 99,95% da faixa oceânica nacional não conta com qualquer tipo de proteção, podendo ser totalmente explorada. 17.583Disque-Denúncia Nacional FOI O NÚMERO DE DENÚNCIAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM2015 Pg. 16 07.2016 FIG. 9 -PP FONTE: ICMBio (unidades de proteção integral) 300cartograficoUPPStemer.indd 16 17/06/2016 20:22:53 O estupro coletivo sofrido por uma jovem garota de 16 anos em uma co- munidade da zona oes- te do Rio de Janeiro não foi um ato isolado e tem associação direta com a construção das relações de gênero em locais que convivem com a vio- lência diária do crime organizado e de policiais. Publicada pelo Instituto Promundo, uma pesquisa realizada com base na averiguação de mais de mil questionários domiciliares anali- sou como a violência em ambientes públicos afeta a esfera privada, como nos casos de abusos e agressões do- mésticas. “Esse caso [do estupro co- letivo] levanta o tema das normas so- ciais relacionadas à masculinidade, como expectativas sobre o que ho- mens e mulheres ‘podem’ e ‘devem’ fazer”, afirma Alice Taylor, coorde- nadora do estudo. “É preciso avaliar como essas normas permitem a cul- tura do estupro, e também o fenôme- no da extrema pressão a usar violên- cia que pode ser promovida dentro de um grupo de homens.” De acor- do com Taylor, os dados da pesqui- sa indicaram que homens usavam a violência para recuperar o “respeito” depois de se sentirem humilhados ou para provar sua masculinidade diante da pressão de amigos ou co- nhecidos. Para a pesquisadora, reali- zar projetos commeninos e meninas desde a infância é fundamental para mudar essa realidade. “É possível promover com a educação relacio- namentos mais equitativos, saudá- veis e menos controladores e violen- NADA ATEMER Projetos estratégicos para defesa passarão por mudanças com governo federal interino POR THIAGO TANJI EM DISCURSO após assumir o cargo de ministro provisório das Relações Exterio- res, José Serra (PSDB) afirmou que prio- rizaria os acordoseconômicos comoutros países, deixandode ladopolíticas com“fins publicitários” — em referência à atuação mais ativadadiplomaciabrasileira nosúl- timos anos, como a requisição para obter umacadeirafixanoConselhodeSeguran- ça das Nações Unidas. Se a afirmação de Serra agradou a setores empresariais, a iniciativa de colocar a geopolítica em se- gundoplanodespertouapreocupaçãode que os projetos de militares sofram com o corte de investimentos, afetando tam- bémoMinistério da Defesa. “No segundo governoLula enoprimeirogovernoDilma houve uma sinergia entre o Itamaraty, o Ministério da Defesa e o Ministério da Ciência e Tecnologia para a revitalização da indústria de defesa”, diz David Maga- lhães, professor de Relações Internacio- nais da Universidade Anhembi Morumbi e da Faap. “E esse governo interino, que pode ser o definitivo, não tende a realizar o mesmo engajamento nesses projetos estratégicos.” Entre essas iniciativas da indústria de defesa nacional, o professor cita a produçãodo aviãomilitarSuperTu- cano, fabricadopelaEmbraereexportado para países como Colômbia, Indonésia e EstadosUnidos comapoiodiplomáticodo governobrasileiro. Paraoespecialista, no entanto, convicções ideológicasnãoafeta- rãoas relaçõesda indústriabélicanacional. “Esse éumsetordependentedosEstados UnidosedaEuropa, eoministropretende estreitar as relações nessas regiões.” SUJEITO HOMEM? Pesquisa realizada emcomunidades do Rio de Janeiro estuda as relações de gênero e violência Dados oficiais indicam, no entanto, que esse tipo de delito se manteve estável nos últimos anos: em 2014, houve 47.646 registros de estupros no país. “MUITA GENTE CAI EM DEPRESSÃO PORQUE PERDEU O EMPREGO E COMEÇA A BEBER. E AÍ TERMINA PER- DENDO A CABEÇA E PRATICANDO ESSE TIPO DE DELITO.” Mágino Alves Barbosa Filho, secretário de Segurança Pública de São Paulo, relacionando crimes de estupro com a crise econômica POR T.T. Pg. 1707.2016 FIG. 8 -ML 300cartograficoUPPStemer.indd 17 17/06/2016 20:22:56 m Á Q U IN A D O T E m P O PO R b r u n o v a ia n o otelefonesemfiocontaahistória Dos tambores à transmissão por satélite, as transformações da comunicação a distância Subir ao posto mais alto do pódio e observar a bandeira de seu país tremular durante a execução do Hino Nacional é o sonho triunfal dos atletas que disputarão a Olimpíada do Rio de Janeiro, evento que terá início no dia 5 de agosto. Para um grupo de dez esportistas, no entanto, a bandeira que representarão ocupará umpapel secundário: no início de junho, o Comitê Olímpico Internacio- nal (COI) anunciou o primeiro time formado por refugiados da Etiópia, da República Democrática do Congo, da Síria e do Sudão do Sul. No Brasil desde 2013, após pedirem refúgio du- rante a disputa doMundial de Judô, os congoleses Yolande Mabika e Popole Misenga foram selecio- nados para representar o time do COI. Vivendo no Rio, osatletas foramencaminhadosparao Instituto Reação, que promove inclusão social por meio do judô, evoltaramaostreinamentos. Emcomunicado, Mabika, de 28 anos, mostrou-se emocionada pela oportunidade de disputar a Olimpíada e afirmou que está fazendo aulas de português para estar mais próxima da pátria em que escolheu viver. quandooesporte émaiorque apátria Esportistas de quatro países da África e do Oriente Médio formarão time de refugiados que vai disputar a Olimpíada no Rio de Janeiro 10 atletas África · tambores falantes Ocupando o território onde hoje é a Nigéria, o povo Iorubá desenvolveu a técnicamais an- tiga de ligação de longa distância: por terem uma língua em que a melodia dá significados diferentes a palavras iguais, o registromelódi- co de uma frase em tambores transmitia uma mensagem em forma de música. eUa, 1837 · telégrafo elétrico O norte-americano Samuel Morse criou um novo método de comunicação: aperte um botão para ter um ponto; aperte e segu- re para obter um traço. As combinações de pontos e traços, que correspondem a letras, eramtransmitidas porumfio elétrico pormeio de um equipamento chamado telégrafo. frança, 1793 · telégrafo Ótico Vários “bonecos” demadeira gigantes, posicio- nados um atrás do outro, eram responsáveis portransmitirmensagensentreas cidades—as diferentes posições dos braços das estruturas correspondiam a códigos distintos. A França chegou a instalar essa rede,mas as chances de erro eramaltas demais para a ideia funcionar. RePResentaRãO O time OlímPicO De RefugiaDOs 5 DO suDãO DO sul 2 Da síRia 1 Da etióPia 2 Da RePública DemOcRática DO cOngO Pg. 18 07.2016 300MAQUINAdotempoDAOolimpiadas.indd 18 17/06/2016 21:51:37 APóS uM tEMPORAl atingir a cidade de São Paulo no final de maio, bairros nas zonas oes- te, leste e sul ficaram sem energia por mais de 24 horas. um transtorno que seria evitado caso os quase 41 mil quilômetros de cabos suspen- sos de energia elétrica estivessem aterrados. “As metrópoles brasileiras são cidades antigas, commais de cemanos, e a ideia do aterramento no país é um processo relativamente recente”, afirma Rômulo Ribeiro, professor da Faculdade de Arquitetura e urbanismo da universidade de Brasília (unB). O investimento dos governos municipais e das concessionárias para realizara operação ainda éumentrave—estudos indicam que, em média, aterrar um quilômetro de fios custa aomenos R$ 2milhões. Em São Paulo, há umameta para aterrar 250 quilômetros de fia- ção por ano, ou seja, restam 164 anos para a re- tirada de todos os postes da cidade. Isso, é claro, se o plano for rigorosamente executado... Quando inovações tecnológicas são aplicadas no setor produtivo da eco- nomia, postos de trabalho consi- derados de “atividade braçal” são substituídos pela automação robó- tica. Mas e se, em vez da demissão de operários, as máquinas ocupas- sem os cargos dos executivos que co- mandam as empresas? Para o brasi- leiro Alex Van de Sande, designer da Fundação Ethereum, a ideia não é uma mera idealização de ficção cien- tífica. Inspirado nos protocolos de programação da moeda virtual bit- coin, o Ethereum reúne programado- res de diferentes países que criaram uma rede descentralizada capaz de desenvolver contratos para projetos reais. “Com o Ethereum é possível criar moedas virtuais e movê-las de acordo com regras específicas”, diz Van de Sande. “É possível criar uma empresa e aplicar essa lógica para que o dinheiro seja completamente dis- tribuído em um software autonômo.” Segundo o brasileiro, iniciativas como essa revolucionariam até a adminis- tração do Estado. “Se uma prefeitura colocasse a sua receita em um banco de dados público, haveria uma trans- parência inédita”, afirma. “Imagine um governo que possibilitasse aos cida- dãos votar em como o dinheiro seria investido, sem desvios pelo caminho.” A revolução dasmáquinas, entretanto, ainda não faz parte desses planos. Grandes cidades brasileiras sofrem para realizar o aterramento da fiação eUa, 1876 · telefone O primeiro telefone foi patenteado por Alexander Graham Bell em 1876, mas o alemão Johann Phi- lipp Reis e o italiano Antonio Meucci criaram dis- positivos parecidos entre 1854 e 1860. A primeira gambiarra foi registrada nadécada de 1920, quando norte-americanos uniamas cercas dearame farpado das fazendas para utilizá-las como fios. eUa, 1962 · telefone via satélite Oprimeiro satélite de telecomunicações da história, otelstar I, foi lançado pelos EuAno auge daGuerra Fria. Ele foi capaz de completar uma ligação para o vice-presidente lyndon Johnson, apesar da capaci- dade limitada de transmissão. Esse foi o início dos telefones via satélite, até hoje a única opção para lugares pouco acessíveis, como o topo do Everest. fUtUro · holograma lembra daquelamensagem holográfica carregada porR2-D2 para Obi-Wan Kenobi em StarWars? Ela não está tão distante assim da realidade. Pesquisa- dores daMicrosoft criaram uma tecnologia batiza- da de “holoportation”: com óculos especiais, uma versão virtual do interlocutor é exibida em uma espécie de ligação de Skype em três dimensões. oceoque é algoritmo Plataforma desenvolve linhas de código para criar serviços que não necessitam de interferência humana Ícones: Estúdio Barca fios, paraque osquero? Pg. 1907.2016 Fig. 10 -FR 300MAQUINAdotempoDAOolimpiadas.indd 19 17/06/2016 21:51:37 nalmente umpouso tripulado, poderia fazer isso em20 anos, mas os chineses estão focados em colocar uma pessoa na Lua primeiro. Só a SpaceX e aNasa têm a de- terminação de fazer isso acontecer e osmeios para tan- to: Elon Musk disse várias vezes que pretende mandar humanos para Marte até 2030, no máximo. Já a Nasa não planeja fazer isso antes do fim da década de 2030. MAS NÃO DEVERÍAMOS COLONIZAR A LUA ANTES? Buzz Aldrin, a segunda pessoa a caminhar pela Lua, me disse recentementequeela éumterrenobaldio, quenão há nada de que precisamos ou que possamos fazer lá e que essa viagem é um absoluto desperdício de tempo e de recursos. Ele emuitos outros especialistas emMarte afirmamqueéparaoPlanetaVermelhoqueprecisamos ir. E O QUE VEMDEPOIS DEMARTE? Marte é só o começo. Quando o nosso Sol se expandir, destruirá toda a vida emMarte também. Por isso, esse é apenas umponto de partida para outros planetas fora do SistemaSolar. Para sobreviver e evoluir ao longo de muitas eras, os humanos terãode se tornaraquilo que já foram um dia — nômades que se movem para além do horizonte até o lugar selvagemseguinte. Teremos de ter emmente os próximos planetas para habitar. EVOCÊEMBARCARIANESSAVIAGEMMALUCA? Nãoachomaluca.Pensoquesejaamaiordasaventurase aoportunidadedeumavida.Talvezosnorte-americanos tenhamumgeneparaopioneirismoqueevoluiu emnos- so DNA, e eu o herdei. Não só iria como iria comprazer,mes- mo não sendo jovem. Nunca é tarde para ir para o espaço. DA TERRA PARA MARTE Lançado no Brasil, livro narra como colonizaremos o Planeta Vermelho PORANDRÉJORGEDEOLIVEIRA CADÊDORY? Pixar investe em tecnologia na sequência de Procurando Nemo POR ELAINE GUERINI APÓS ROUBAR A CENA em Pro- curando Nemo, de 2003, a pei- xinha que sofre de perda de me- mória recente ganhará um filme solo para resgatar sua origem. E com tecnologia renovada. Em Procurando Dory, a Pixar utili- zará o RenderMan RIS, software de renderização de animações de alta resolução, para alcançar mais realismo nas cenas embaixo d’água. Embora o objetivo principal do longa não seja impressionar o espectador com os efeitos de luz, AndrewStanton, diretor da anima- ção, acredita que a criação de um ambiente aquático natural deixará a plateia aindamais envolvida com a história. “Como programa fazen- do todos os cálculos, sobra muito mais tempo para as decisões cria- tivas”, afirma. “É tambémumalívio saberque podemos fazer a história tomar qualquer rumo, soltando a nossa imaginação, com a certeza de que a tecnologia concretizará nossa ideia, tornando-a realidade.” DUAS DÉCADAS serão o prazo máximo para que o mundo contemple o pouso de uma missão tripulada em Marte. Passear pelo planeta, no entanto, não é o bastante: o bilionário sul-africano ElonMusk, fundador da companhia de foguetes SpaceX, planeja estabelecer colônias commilhares de pessoas noPlanetaVermelho. Asobrevivência não será fácil, já que os pioneiros preci- sarão de uma fonte segura de água, oxigênio e energia, sem falar da necessidade de construção de abrigos con- tra amortal radiação cósmica e solar. Éessahistóriaque o jornalistanorte-americanoStephenPetranekcontaem detalhes no livro De Mudança para Marte —A Corrida paraExploraroPlanetaVermelho,publicadoemmaiono Brasil. EmentrevistaàGALILEU,oautorcompartilhasuas perspectivas sobre o futuro da humanidade no espaço. QUEMNOS LEVARÁ PRIMEIRO PARAMARTE? Os russos são capazes de fazer um humano pousar emMarte, mas eles forammalsucedidos em aterrissar uma simples sonda por lá, por isso não parecemmuito empolgados. Se a China escolhesse apoiar incondicio- DEMUDANÇA PARAMARTE Stephen Petranek Editora Alaúde 136 páginas FIG. 11 -FR 7MILHÕES de pessoas começarama jogarOverwatch, game de tiro online da Blizzard EM 12 DIAS, MAIS DE Ilustração: Estúdio Barca Pg.20 07.2016 300MARTEcinemaDORYguerraDosmundos.indd 20 17/06/2016 19:53:16 Em 2016, todos os olhos estarão voltados para os Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro. Serão mais de 10 mil atletas, de 206 países, acolhidos pela alma carioca para projetar os valores do movimento Olímpico: respeito, amizade, excelência. Faça parte deste momento ao lado da seleção de jornalistas da Editora Globo. Corra, mergulhe e salte ao nosso lado, com cobertura completa e conteúdos inovadores que vão mostrar tudo o que acontece na frente e atrás das câmeras. Entre no maior evento esportivo do mundo com a delegação da Editora Globo TM Rio 20 16 |T od os os dir eit os re se rv ad os . Mais informações: www.mcti.gov.br facebook.com/MCTIC twitter.com/mctic Comsustentabilidade, TECNOLOGIA Eintegração social podemos transformar o amanhã. MCTI SBPC Revista Galileu AnúncioPáginaDupla 404x266mm indd 1 68ªReuniãoAnualdaSBPC De 3 a 9de julho, naUniversidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), emPorto Seguro (BA). VenhaconheceroespaçodoMCTIC 10/06/16 16:23 99%É ESTRATÉGIA Passatempo tradicional em países europeus, jogos de tabuleiro chegamao Brasil em diferentes versões á parou para pensar no que um alemão faz em seu tempo li- vre? A maior convenção de jo- gos de tabuleiro domundo, que acontece na cidade de Essen, oeste da Alemanha, é uma boa dica. Lá, dados e cards são coisas de adulto, e os desen- volvedores de jogos têm uma profissão consolidada: como escritores, levam seus trabalhos a editoras, onde as ideias são refinadas antes de serem lan- çadas. O público brasileiro, ape- sar de pequeno, está crescendo: “Só neste ano, as editoras bra- sileiras já anunciaram entre 40 e 50 novos jogos”, conta Jaime Daniel, gerente da FunBox, a primeira ludolocadora do país. Nesse espaço, há cente- nas de títulos disponíveis para os clientes, que podem alugar ou comprar jogos. A pedido da GALILEU, a equipe da loja au- xiliou na seleção dos jogos que merecem ser conferidos. J UMA IMAGEM VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS O Dixit não possui tabuleiro ou dados; é jogado apenas com figuras abstratas. 1º Em cada rodada, um jogador—cha- mado narrador— escolhe uma carta e descreve a ilustração comuma frase. Os demais escolhemqual de suas car- tasmais se aproxima dessa descrição. 2ºAcarta descrita pelo narrador e os palpites dos jogadores são embaralhados e colocados namesa. Agora, todos devemadivinhar qual das cartas foi descrita originalmente. 3º Se todos acertarema carta correta, o narradorperde pontos. Se ninguémacertar, ele perde também.Adescrição precisa ser am- bígua namedida certa para que apenas umadversário acerte. FLASH POINT FUNBOX R$ 175 1 TINCO DEVIR R$ 35 4 SUPERNOVA LUDOFY R$ 120 QUISSAMA LUDENS SPIRIT R$ 130 DIXIT GALÁPAGOS R$ 130 2 5 6CATAN GROW R$ 125 Futurista No jogo, terráqueos emarcianos disputam o PlanetaVermelho àmedida que o sol se expande e engole o Sistema Solar. Colonização Colonos recém-chegados à Ilha de Catan disputam recursos naturais e constroem civilizações cada vezmais desenvolvidas. Cooperação No Flash Point não há competição. Seis jogadores colaboram para tentar apagar um incêndio e retirar os ocupantes da casa comvida. 3 4 1 24 TEXTOBRUNOVAIANO DENTRO DA CAIXA 300consumoJOGOS.indd 24 17/06/2016 20:43:54 E AQUELE 1% É IMAGINAÇÃO NosRPGs, o que vale é interpretar os personagens e construir uma realidade que vai alémdas peças do tabuleiro m 1974, dois fãs nor- te-americanos do jogo de tabuleiroWar e do livro O Senhor dos Anéis criaram um jogo de mesa inu- sitado: baseado em um livro de regras, um narrador conduzia uma jornada com personagens de personalidades e sentimen- tos distintos. Era oDungeons & Dragons, RPG (sigla em inglês para jogo de representação) que ainda conta com uma legião de aficionados: dois em cada três norte-americanos que curtem RPG jogam esse título. “Esses são jogos sociais, pos- suem poucos elementos físicos. Geralmente há apenas fichas para os personagens”, diz Jaime Daniel, da FunBox. Tabuleiro é item raro: a partida se desenro- la com a imaginação dos joga- dores, não tem final previsível nem hora para acabar. É a força, a inteligência e o carisma de cada personagem que decidi- rão os resultados das ações. E COISA DE GENTE GRANDE Voltado a um público mais velho, alguns RPGs têm venda proibida a menores FOREVER ALONE O livro-jogo é uma espécie de RPG solo: uma obra de ficção emque o jogadordecide o destino dos persona- gens conforme lê, alcançando diversos finais possíveis. EDUCATIVO OMinistério da Educação recomenda oRPG como atividade emaulas de língua portuguesa no En- sino Fundamental, já que ensina noções bási- cas de narrativa e estímulo à cooperação. COISA DE CRIANÇA? OsRPGs, apesar de não seremobras audiovisuais, possuem classificação indicativa fornecida peloMinis- tério da Justiça.Muitos são proibidos paramenores. Histórico O jogo conta a história de Quissama, escravo brasileiro que foge para encontrar sua mãe e é auxiliado por um agente da ScotlandYard. Caótico OTinco não possui tabuleiro. A cada rodada, jogadores trocam cartas entre si aos berros. Vence quem acumular cinco iguais primeiro. Se vira ODixit é um exercício de imaginação e destreza verbal. Ganha quem injetar a dose certa de ambiguidade na descrição de suas cartas. 5 6 3 2 25 FORA DA CAIXA FOTOTOMÁSARTHUZZI 300consumoJOGOS.indd 25 17/06/2016 20:43:59 *Com reportagem de Cartola Agência de Conteúdo | Foto: Tomás Arthuzzi/Editora Globo Fontes:Dr. Valentino Magno – Doutor emMedicina (UFRGS); Felipe Cidade Torres – Doutor em Ciências Farmacêuticas (UFRGS) OMOVIMENTO É SEXY Horademolharobiscoito?Mesmasubstânciaéencontrada nabolachaenolubrificante—PORGABRIELACAVALHEIRO* a Grécia Antiga, o azeite de oliva já era utilizado para faci- litar a penetração. Algum tem- po depois, no século 16, os japoneses passaram a usar óleos feitos com vege- tais como o inhame. E, hoje, cabe ao gel lubrificante íntimo produzido em labo- ratório a função de tornar as relações sexuais menos doloridas. O lubrificante vendido na farmácia foi criado, na verdade, apenas para tornar os exames ginecológicos menos desa- gradáveis para as pacientes. Mas, como ele conseguia imitar perfeitamente a lubrificação natural do corpo humano, logo ganhou novas funções entre qua- tro paredes. O gel é recomendado para pessoas que têm dificuldade de lubri- ficação íntima ou que querem sim- plesmente tornar a experiência se- xual mais prazerosa. Durante o sexo, a parte aquosa do produto tende a ser absorvida pela pele e, caso não se consiga a lubrificação, pode ser necessário aplicá-lo mais de uma vez. Por ser incolor, sem cheiro e não ser a base de óleo, o lubrificante ínti- mo não mancha lençóis e (muito importante) não diminui a efi- cácia do látex das camisinhas. N Na Grécia Antiga, até azeite de oliva foi usado para facilitar a penetração PROPILENOGLICOL É o principal responsável pela lubrificação e também pode ser encontrado em biscoitos, cremes hidratantes e ali- mentos coloridos artificialmente. C 6 H 1 O 8 ÁGUA Base do lubrificante KY, tem a função de diluir e unir todas as substâncias que formamo gel íntimo. H 1 O 8 GLICERINA Presente em diversos cosméticos, é responsável por garantir que o gel não resseque. C 6 H 1 O 8 HIDROXIETIL- CELULOSE O produto é um derivado da celulose que foi modificado em laboratório. É o que dá consis- tência ao gel e o torna similar à lubrificação natural humana. C 6 H 1 O 8 FOSFATO MONOBÁSICO DE SÓDIO E FOSFATODIBÁ- SICO DE SÓDIO RegulamopHda fórmula paraque fiquede acordo comodo corpo humano. Sem eles, o lubrifican- te queimaria as partes íntimas. O 8 P 15 H 1 Na 11 METILPARABENO E PROPILPA- RABENO Agem como conservantes, impedindo a pre- sença de fungos e bactérias no produto. São bas- tante usados em remédios, cosmé- ticos e alimentos. H 1 C 6 O 8 ÁCIDO LÁCTICO Asubstância é a responsável pela sensação de calor apresentada por algumasmarcas. Ela esquenta porque provoca o aumento do fluxo sanguíneo nos órgãos sexuais. C 6 H 1 O 8 ELEMENTAR 26 H OC 300ElementarLubrificantes.indd 26 17/06/2016 16:34:10 Construídascombaseeminteressespolíticoseeconômicos,asmetrópoles brasileirasnãoforammoldadasdeacordocomasnecessidadesdapopulação cheiro de pipoca doce no ar. O Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, comemora o sucesso de uma mostra sobre a série infantilCastelo Rá-Tim-Bum. Localizado no bairro residencial Jardim Europa, a instituição rece- beu ônibus lotados de crianças de escolas públicas e particulares para visitar a atração, inaugurada no se- gundo semestre de 2014. Os mo- radores, porém, não gostaram nem um pouco da iniciativa. “O museu está destruindo parte do bairro”, disse ao jornalOEstado de S. Paulo Maria Aparecida Brecheret, organi- zadora de um abaixo-assinado con- tra oMIS. “A rua já foi considerada a mais bonita do bairro, estamos desesperados.” Na região, uma das mais valorizadas da cidade, o preço dometro quadrado é estimado por imobiliárias em R$ 17 mil. A polêmica é local, mas simbó- lica: a disposição física da capital favorece determinados grupos so- ciais e acentua as desigualdades — do momento em que a prefeitura reforma o asfalto das ruas de um bairro nobre e negligencia a cole- ta de lixo nas periferias até a se- leção de regiões para que grandes grupos econômicos realizem seus investimentos. “A capacidade de fazer e refazer nossas cidades e a nósmesmos é, aomesmo tempo, o mais precioso e negligenciado dos direitos humanos”, afirma David Harvey, geógrafo britânico, no livro Cidades Rebeldes. O trânsito inter- minável, a sensação de inseguran- ça e a falta de opções populares de lazer e cultura são sinais de que as metrópoles não foram construídas para a maioria da população. Mas isso não significa que desenvolver um projeto de cidade mais partici- pativo seja uma tarefa impossível. CIDADE? QUEMÉ ADE 27 dossiê urbanismo textobrunovaiano ilustraçÃovini valente Design joÃopeDrobrito eDiçÃo thiago tanji 300DossieCidadesVB.indd 27 17/06/2016 20:31:16 N o de ha bi ta nt es (e m m ilh õe s) fORtALEzA 1950 2010 BRASíLIA 1960 2010 2 4 6 8 10 2000 2000 20 00 1991 19 91 20 00 2010 1991 20 10 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 são pau lo • fo rt al ez a • c e brasília • df CADÊMINHA FRAÇÃO? O ANOé 1879. frederico Glette, imigrante ale- mão, é proprietário do Grande Hotel, o mais luxuoso do Brasil. Seu parceiro de negócios, Vítor Nothmann, é um rico sócio da cervejaria Stadt-Bern. Na época, o ciclo do café e o fim da escravidão aceleraram o processo de imigração de milhares de europeus, que lotavam cortiços com péssi- mas condições sanitárias lo- calizados nas áreas centrais da cidade de São Paulo. A população da capital atingiu 240 mil pessoas em 1900, e a elite paulistana saiu em busca de ruasmais arejadas. Nothmann e Glette não perderam tempo dian- te dessa nova realidade. Compraram uma cháca- ra a oeste do centro, traça- ram terrenos com espaço para mansões e jardins e venderam os lotes para os barões que não queriam morar tão perto dos traba- lhadores. Chamaram o bair- ro de Campos Elíseos. Que aposta: em São Paulo Antigo, obra de Antônio Egídio Martins publicada em 1911, os resultados rentáveis da dupla alemã são exibidos. “foram despendidos com a abertura dessas ruas e ala- medas cerca de 100 contos, e apurados na venda dos lo- tes de terrenos perto de 800 contos.” Um lucro de 800%. Mais de um século depois, pouco mudou. “Os proprie- tários de terra ganhammui- to dinheiro disputando en- tre si os melhores pontos de crescimento da cidade”, diz JoãoMeyer, professor da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Hámui- tos exemplos de Glettes e Nothmanns Brasil afora, que veem crescer suas fortunas com amanipulação da legis- lação urbana para que bair- ros avancem em suas terras. Quando há obstáculos para a expansão urbana, a tendên- cia é concentrar mais gente no mesmo espaço: então, o poder sai das mãos dos do- nos de terras e passa para in- corporadoras e construtoras. é o caso de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, cuja faixa litorâ- nea de 5 quilômetros atrai arranha-céus residenciais de mais de 40 andares. As sombras dos prédios criam corredores frios nas ruas e, por ironia, escondem o sol dos banhistas que visi- tam a praia, localizada pró- xima a uma área de preser- vação ambiental. “A cidade precisa de incorporadores, mas é necessário orientar sua força”, diz Meyer. “Há metrópoles que atingiram um grau de complexidade social tão alto que existem questionamentos sobre essa atividade imobiliária.” … a ciDaDe só cresce ACIDADE sóCrEsCE Asmetrópoles brAsileirAs se expAndem de ACordo Comos rumos ditAdos por proprietários de terrA e inCorporAdorAs nAs CinComAiores CidAdes brAsileirAs, A quAlidAde de vidA Aumentou nos últimos 25 Anos, mAs A desiguAldAde persiste Fontes: Atlas do Desenvolvimento Urbano no Brasil – PNUD, 2013; Censos Demográficos – IBGE CAlor HumAno Para trás, nem para pegar impulso. Nos anos 50, São Paulo era conhecida como a cidade que mais crescia no mundo. Veja a evolução da população das maiores capitais. idHm índiCe de gini (Índice de Desenvolvimento HumanoMunicipal) Avalia a qualidade de vida de uma cidade com base em indicadores como saúde, educação e renda. Quanto mais próximo de 1, melhor a situação social do local analisado. É um indicador de desigualdade. Quanto mais próximo de 0, mais igualitária é a cidade. Valores próximos de 1 revelam péssima distribuição de renda. 28 300DossieCidadesVB.indd 28 17/06/2016 20:31:16 SãO PAULO 1950 2010 riO De jAneirO 1950 2010 SALvADOr 1950 2010 são paulo • sp 474.344 293.621 brasília • df 126.169 62.977 salvador • ba 106.415 77.945 rio de janeiro • rj 220.774 193.682 fortaleza • ce 95.166 53.327 2000 200 0 2000 20 00 1991 1991 2010 2010 20 10 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 o pau lo • sp salvador • ba rio de j ane iro • rj … e o De baixo Desce As periferiAs CresCemmAis por fAltA de dinHeiro do que por fAltA de espAço P éSSiMA distribuição de renda e rápido cres- cimento são uma com- binação que, aliada a interesses imobiliários, dá o retrato das metrópoles brasileiras. Quando há terra disponível por preço razoá- vel em regiões distantes do núcleo urbano, ela é ocupa- da pela parcela da popula- ção que não pode pagar um imóvel em uma área central. A distância do emprego e dos serviços aumenta, e o poder público não é capaz de ex- pandir linhas de ônibus, rede elétrica, de água e esgoto na velocidade e qualidade neces- sárias. O resultado são con- dições precárias de habitação e cidades que crescem pelas bordas, sem aproveitar os espaços intermediários. Para vanessa nadalin, do instituto de Pesquisa econômica Aplicada (ipea), Brasília é um bom exemplo dessa situação. “As cidades que mais cres- cem estão no entorno, prin- cipalmente em Goiás, onde o preço dos imóveis é de um décimo do valor encontrado no Distrito Federal”, afirma. “Mas elas estão a mais de 60 quilômetros da capital.” CADA VEZ MAIS LONGE sAudosA mAloCA legendA Como ler o gráfiCo *O déficit habitacional representa o número de habitações que seria necessário para abrigar famílias sem-teto e pessoas que vivem em residências com situação precária 10 mil domicílios Déficit habitacional* Domicílios vagos Número de domicílios vagos é alto, mas não supera déficit habitacional R$ 100 R$ 5.000 R$ 200 R$ 4.000 R$ 1.000 R$ 3.000 R$ 2.000 IDHMÍndice de Gini Renda per capita dos 20% mais ricos Renda per capita dos 20% mais pobres Fontes: Déficit Habitacional Municipal no Brasil – Fundação João Pinheiro, 2010; Censo Demográfico – IBGE, 201029 300DossieCidadesVB.indd 29 17/06/2016 20:31:17 o plAno diretor orientA A AtuAção de Agentes públiCos e privAdos nA Construção dA CidAde ComA CriAção de umplAno diretor, As CidAdes são mApeAdAs em regiões Com prioridAdes e objetivos diferentes Bairros residenciais nobres costumam ser avessos à presença de comércio e à circulação a pé. Durante o zoneamento, há uma disputa entre quem não quer alterar essa situação e os defensores da diversificação dos espaços. Em Salvador, Fortaleza e São Paulo é chamada "área de urbanização consolida- da". Corresponde a bairros com prédios comerciais e residenciais, lojas, serviços públicos e infraestrutura de transportes. Em geral, con- centram emprego e são alvo de deslocamentos diários. Áreas industriais e portuárias anti- gas, próximas a rodovias e ferrovias. Nessas regiões, o objetivo é renovar a atividade econômica, aproveitan- do a infraestrutura viária já existente, e aumentar a densidade habitacional. CADAuMNOseuquADRADO ostentAção1 1 áreA nobre2 2 6 gAlpões3 E M 2011, após quase dez anos de discussões sobre o Plano Diretor (PDDU) de salvador, um susto. Uma versão do pro- jeto de lei aprovada pelo pre- feito João Henrique (PP) entregava a cidade ao mercado imobiliário, autorizando um aumento de até 50% na altura dos prédios cons- truídos na orla e extinguindo áreas de proteção ambiental. A pressão popular levou o tribunal de Justiça a emitir uma liminar de suspen- são dos artigos inconstitucionais. Essa não era a primeira vez que a aprovação da lei enfrentava di- ficuldades. “o Plano Diretor de 2004 foi aprovado pela Câmara mesmo com questionamentos formais do Ministério Público da Bahia. Mas o PDDU de 2008, re- sultado da revisão, apresentava mais problemas que o anterior", diz thais Rebouças, pesquisadora da Universidade federal da Bahia. Apesar de parecer um mistério para a maior parte da população, o papel do Plano Diretor é guiar o crescimento de uma cidade com base em critérios técnicos e prio- ridades socioeconômicas, como garantir o uso adequado do solo e evitar a retenção especulativa de imóveis. Desde a promulgação da Constituição de 1988, é obri- gatório que cidades com mais de 20 mil habitantes elaborem um Plano Diretor, definido como um instrumento básico de desenvolvi- mento de acordo com o Estatuto da Cidade, lei federal de 2001 que regulamenta a política urbana. UM OLhO NO GAtO, O OUtrO NO pEIxE 3 30 300DossieCidadesVB.indd 30 17/06/2016 20:31:26 leis de zoneAmento e uso do solo AjudAm o plAno diretor A ColoCAr ordemnA CAsA O Plano Diretor não tra- balha sozinho. Há leis de caráter mais técnico que o acompanham, como a lei de zoneamento, responsá- vel pela definição do que pode ou não ser construído em cada lugar. entre os indicadores da lei estão o coeficiente de aproveitamento do terreno, que limita a área útil de um prédio, e a taxa de ocupa- ção, que garante uma distância razoável entre a fachada do edifí- cio e a rua. esse tipo de limitação evita, por exemplo, a superlotação do sistema viário de uma região. Definir isso, porém, não de- pende só de boas intenções. “Uma decisão da Câmara de Vereadores pode duplicar o coe- ficiente de aproveitamento de um terreno, dobrando, portanto, o total permitido de área cons- truída”, explica renato Saboya, professor de arquitetura da Universidade federal de Santa Catarina (UfSC). “isso pode re- presentar um aumento de vários milhões no lucro da incorporado- ra que construirá um prédio ali.” Sem audiências públicas, a bus- ca pelo lucro pode dar o tom em relação à qualidade de vida dos moradores da região. e não para por aí: além de guiar o setor pri- vado e ouvir a população, o poder público também precisa ser proa- tivo. “é importante que o plano, como um todo, oriente as ações da prefeitura”, afirma Saboya. a nós, resta ficar de olho. Subúrbios residenciais com pequenos prédios e comércio concentrado nas avenidas principais. Não apresentam problemas graves de infraestrutu- ra, mas precisam de investimentos. Localizadas às margens de represas e reservas ambientais, nos limites das metrópoles, essas áreas precisam equilibrar a resolução de problemas socioeconômicos e a preservação ambiental. Na cidade de Fortaleza, por exemplo, são caracterizadas como "zonas de ocupação moderada". Áreas destinadas à pre- servação ambiental estão no Plano Diretor da maior parte das cidades. Nessas regiões estão localizados parques, reservas naturais e mananciais com ecossiste- mas inalterados. Favelas são áreas de alta vulnerabilidade, consideradas, em muitas cidades, Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis). Devem receber investimento prioritário em infraestrutura. residenCiAl4 4 quAse lá6 Ar puro77 preCário5 5 éUMA zonA! Fontes: Lei no 16050/14 - PDE de São Paulo; Lei no 7400/2008 - PDDU de Salvador; Lei no 062/2009 - PDP de Fortaleza 31 300DossieCidadesVB.indd 31 17/06/2016 20:31:37 queMÉque MANDAAquI? DepOsIte suAsugestÃO ConselHos de polítiCAs públiCAs fisCAlizAm A AtuAção do estAdo S e você Deseja ter voz em relação a decisões que afe- tarão a saúde, a educação ou até o meio ambiente de sua cidade, o que não faltam são oportunidades de participar dessas discussões de maneira di- reta. o Brasil possuía, em 2009, 43.156 conselhos de gestão de po- líticas públicas, mais de oito por município, em média. é um nú- mero que cresce desde o início do processo de redemocratização, em 1986. nem tudo são flores, porém. a maior parte dos conselhos ainda não é de instituição obriga- tória. e muitas das votações, na prática, não atraem a população nem geram resultados notáveis. “é algo formal, acadêmico. faltam estratégias para alcançar mais pes- soas, já que não é todomundo que está acostumado ao formato”, afir- ma a urbanista Laura sobral. ela é presidente da organização sem fins lucrativos a cidade Precisa de você, que pesquisa e desen- volve ações em espaços públi- cos. sobral também participa da comissão de Proteção à Paisagem Urbana (cPPU) de são Paulo, ór- gão autorizado a tomar decisões independentemente de instâncias superiores — algo raro, segundo a urbanista, que apoia a atuação em frentes múltiplas. “fazem falta ins- tâncias colaborativas e conselhos deliberativos”, diz. “é necessária a atuação do pessoal que gosta de ir a esses conselhos, mas também daqueles que ocupam as escolas.” ana carolina nunes, articulado- ra do sampapé, movimento que estimula caminhadas pela cidade, concorda. “cada um cria a pró- pria maneira de fazer a cidade”, afirma. “Há militantes que atuam em conselhos participativos, mas há quem não consiga encaixar sua pauta e sua forma de trabalhar.” ConselHospArtiCipAtivosdividemespAçoComnovos projetosde intervençãoeoCupAçãodoespAçourbAno MãonAMAssA UM conseLHo De gestão De PoLíticas PúBLicas é um colegiado criado por iniciativa do estado que inclui membros da sociedade civil e do poder público. em geral, qualquer cidadão que possua um título de eleitor pode ser conselheiro — a função não é remunerada. a ideia é permitir que a população fiscalize a aplicação de recursos públicos de uma determinada área, sugerindo alterações e melhorias. esses conselhos costumam ser temáticos: de mobilidade, saúde, educação, meio ambiente e direitos huma- nos. Muitos deles são paritários e bipartites — quando há igual representação de membros do estado e da sociedade. em outros casos, são tripartites ou múltiplos, em que existem diferentes gru- pos representados durante os momentos de discussão. Antes de ir para a Câmara de Vereadores , o plano deve passar por revisão popular Conselheiros Temáticos Regionais Esse modelo é o adotado em Porto Alegre desde 1989 Consultivo mnlm Movimentos estaduais e municipais elAborAção Apresentação da proposta Revisão participativa Aprovação na Câmara Fontes: Instituições Participativas e Desenho Institucional, Leonardo Avritzer, 2008; Mapeamento de Institucionalização dos Conselhos Gestores de Políticas Públicas nos Municípios Brasileiros, Danitza Buvinich, 2013 32 300DossieCidadesVB.indd 32 17/06/2016 20:31:38 oorçAmentopArtiCipAtivo permitequeopovo deCidApArAondevAio dinHeirodA prefeiturA INVEStIMENtO DEMOCrátICO Um conselho vinculado é o que está diretamente associado a um programa governamental Em Porto Alegre, gestores locais são responsáveis pelos Centros Administrativos Regionais (CAR) Há ONGs mais hierárquicas e outras de organização horizontal soCiedAde governo Fórum de delegados bipArtite tripArtite trAdiCionAis AlternAtivAs Vinculado Não vinculado Paritário Deliberativo Fiscalizado Normativo R econHeciDo pelo Banco Mundial como referência internacional em participa- ção popular, o orçamento Participativo (oP) de Porto Alegre é, desde 1989, um exemplo de Brasil que dá certo. A prática iniciada na capital gaúcha já foi adotada em mais de 200 municí- pios brasileiros e inspirou políti- cas de transparência administra- tiva em cidades comoMontevidéu e Barcelona. em um ciclo anual de reuniões e votações (veja gráfico ao lado), a população elege dele- gados e conselheiros, que atuam por região ou por tema e definem o destino das verbas públicas. A prática, agora, pode se benefi- ciar de ferramentas digitais. é o caso da cidade de Santos, no litoral paulista, que retomou seu oP em 2013 e adotou o aplicativo colab.re para conduzir o processo online a partir deste ano. “Há um tempo de assimilação necessário. é uma prática inovadora — esse é um ano de experiência”, diz o pre- feito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). A parcela des- tinada ao oP ainda é pequena: R$ 10 milhões, ou 0,4% do or- çamento da cidade. Por meio do aplicativo, é possível escolher uma série predeterminada de obras em que os recursos serão aplicados. o prefeito promete, depois da experiência, ampliar a parcela do orçamento destinada ao oP. Até agora, só 6 mil cidadãos participa- ram do processo, o equivalente a 1,4% da população santista. mo vim en to s D e lu ta po rm or aD ia orçamento participativo associações De moraDores or ga ni za çõ es se m fin s l uc ra tiv os conselhos De políticas públicas auDiências De plano Diretor múltiplo Coordenadores temáticos Secretaria Municipal de Planejamento Estratégico e Orçamento Gestores locais Secretaria Municipal de Governança Local Prefeitura estado Não paritário Obrigatório Não obrigatório ComoAsoCiedAdeCivilserelACionA ComoestAdopArAplAnejArACidAde 33 300DossieCidadesVB.indd 33 17/06/2016 20:31:38 Porcentagem de municípios brasileiros com políticas de acessibilidade 50% 25% 75% At é 5 m il 5 -1 0 m il 10 -2 0 m il 20 -5 0 m il 50 -1 00 m il N o de ha
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