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Galileu Edição 300 (Julho 2016)

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Sem chances iguais, não bastam talento e força de vontade. Entenda por que
a cultura da meritocracia contribui para o aumento da desigualdade
p. 36
e não sai de lá poR QUê?
opobretem
seulugar
galileu.globo.com
EDIçÃO
R$ 14,00
ca
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l
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.4
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5%
crise reaproxima
artistas da políticaP. 64
estamos perto de viajar
para as estrelasP. 48
P. 74 "geração bela gil"rejeita industrializados
dossiê
cidades
p. 24selecionamos os melhores jogos de tabuleiro (para adultos)
Em clubes
de elite, babás
e sócias não
podem dividir
o mesmo
espaço
300
JuL. 16
Hámuitagentesem
terondemoraremuitas
casassobrando • p. 27
Imóveis
vazios
Famílias
sem lar
6,9milhões
6milhões
300CAPA.indd 1 17/06/2016 21:19:59
EDIÇÃO DIGITAL
IPAD
Deixe o Edital senai sesi de
Inovação ser o segundo.
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de que muita ideia precisa para ir para frente.
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e segurança do trabalhador. Com isso, os maiores vencedores são o
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parte do futuro da indústria brasileira.
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Realização:
MÃE
P.12
OUROPARAA
TUBERCULOSE
NORIO
A CHINCHILA
QUE ROEU A
MITOCÔNDRIA
NOTÁVEIS P.13
PANORÂMICA P.80
P.7
P.16
P.18
PROTEGE OCEANOS
P.10
P.10
OS GASES
DE JÚPITER
BREVE HISTÓRIA DO
CHORA, ME LIGA
UM ROLÊ PARA MARTE
NAS FÉRIAS?
ESTOUNADENTRODATV
DENTRODACAIXA JOGOSDETABULEIRO
24
P.
P. 27CIDADESDOSSIÊ
CURTO-
-CIRCUITO P.79
P.
26ELE-MEN-
TAR
LEINÃO. . .
ADIETADA EXTINÇÃO
P.15
JULHO2016
ANTIMATÉRIA
DIRETORADEGRUPOCASAECOMIDA,
CASAE JARDIM, CRESCEREGALILEU: Paula Perim
EDITORAEXECUTIVA:Cristine Kist
EDITORADEARTE: Fernanda Didini
EDITORES:Giuliana de Toledo, Nathan Fernandes e Thiago Tanji
REPÓRTERES:André Jorge de Oliveira e IsabelaMoreira
DESIGNERS: Felipe Eugênio (Feu) e João Pedro Brito
ESTAGIÁRIOS: Bruno Vaiano e Lucas Alencar (texto) e Giovana Ansoain (arte)
COLABORADORESDESTAEDIÇÃO:
Amarilis Lage, André Dib, Bruno Romani, Cartola Conteúdo, Elaine Guerini e
Marília Marasciulo (texto); Beatriz Liranço, Made by Shirô, Dulla, Estúdio Barca,
Firmorama,Marcus Penna, Michell Lot, Paula Vidal, Pedro Piccinini, Tomás
Arthuzzi e Vinicius Valente (arte); MoniqueMurad Velloso (revisão).
EMAILDAREDAÇÃO: galileu@edglobo.com.br
ASSISTENTEDEREDAÇÃO:Gabriela Nogueira
DIRETOR-GERAL: Frederic Zoghaib Kachar
DIRETORDEMERCADOLEITOR: Luciano Touguinha de Castro
DIRETORDEMERCADOANUNCIANTE:Virginia Any
OBureauVeritas Certification, combase nos processos e procedimentos descritos no seu
Relatório deVerificação, adotando umnível de confiança razoável, declara que o Inventário
deGases de Efeito Estufa—Ano 2012 da Editora Globo S.A. é preciso, confiável e livre de
erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações deGEE sobre
o período de referência para o escopo definido; foi elaborado emconformidade coma
NBR ISO 14064-1:2007 e as Especificações doProgramaBrasileiro GHGProtocol.
MERCADOANUNCIANTE
UNIDADEDENEGÓCIOS—PEGN,GR,AE, GALILEU
DIRETORDENEGÓCIOSMULTIPLATAFORMA:Renato Augusto Cassis Siniscalco
EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA:Diego Fabiano, João CarlosMeyer,
Priscila Ferreira da Silva e Cristiane Soares Nogueira
UNIDADEDENEGÓCIOS—DIGITAL
DIRETORA: Renata Simões Alves de Oliveira
EXECUTIVASDENEGÓCIOSDIGITAIS:Andressa Aguiar Bonfim, Giovanna Sellan
Perez, Lilian Ramos Jardim e Taly CzeresniaWakrat
CONSULTORADEMARCASEGCN:Olivia Cipolla Bolonha
UNIDADEDENEGÓCIOS—ESCRITÓRIOSREGIONAIS
GERENTEMULTIPLATAFORMA: Sandra Regina deMelo Pepe
EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA: Lilian deMarche Noffs e Guilherme Iegawa Sugio
UNIDADEDENEGÓCIOS—RIODE JANEIRO
GERENTEMULTIPLATAFORMA:Rogério Pereira Ponce de Leon
EXECUTIVOSMULTIPLATAFORMA:AndréaManhãesMuniz, Daniela Nunes
Lopes Chahim, Juliane Ribeiro Silva, Maria CristinaMachado e
Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos
UNIDADEDENEGÓCIOS—BRASÍLIA
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Jorge Bicalho Felix Junior
GERENTEDEEVENTOS:Daniela Valente
OPECOFFLINE: José Soares, Carlos Roberto Alves de Sá, Douglas Vieira da Costa e
José Eduardo Oliveira Ramos
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DIRETORDE INOVAÇÃODIGITAL:AlexandreMaron
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TECNOLOGIA
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GERENTEDETECNOLOGIADIGITAL: Carlos Eduardo Cruz Garcia
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Mendonça, Leandro Paixão, Leonardo Turbiani, Marcelo Amendola, Marcio Costa,
Murilo Amendola, Victor Hugo Oliveira da Silva eWilliamAntunes
OPECONLINE:Danilo Panzarini, Higor Daniel Chabes, Rodrigo Pecoschi,
Rodrigo Santana Oliveira e Thiago Previero
AUTOMAÇÃOEDITORIAL:Ewerton Paes e Ronaldo Silva doNascimento
MERCADOLEITOR
DIRETORDEMARKETING: Cristiano Augusto Soares Santos
GERENTEDECRIAÇÃO:Valter Bicudo Silva Neto
GERENTEDE INTELIGÊNCIADEMERCADO:Wilma ConceiçãoMontilha
COORDENADORDEMARKETING: Eduardo Roccato Almeida
ANALISTADEMARKETING:Aline Nammur Carrijo
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P.20
COMPOSIÇÃO
...E O RATO QUE
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S
P.1
4
DOMINARÁOMUNDOP.14
300COMPOSICAO.indd 3 17/06/2016 21:37:21
“Deveriam produzir
sempre textos
assim. A matéria é
de uma sensibili-
dade incrível e as
fotos deram um
nó na garganta.”
Thyago Nogueira,
Fortaleza, CE
“Texto ótimo, só
senti falta de uma
abordagem mais
crítica em relação à
mídia. A arte foi uma
das mais belas que já
vi em uma revista.”
Antonio Jr.,
Matão, SP
“Já usei apps do
tipo algumas
vezes. Já deu certo
e já deu errado. A
matéria me ajudou
muito a refletir
sobre o assunto.”
Jean França,
Maceió, AL
AVALIAÇÃO
SENSACIONAL
Edição junho/2016
Sudão
do Sul HappnCapa
9,6 8,5 8,3
Errar é humano
O QUE VOCÊ ACHOU
DA SEÇÃO ELEMENTAR
SOBRE CHEETOS?
O QUE VOCÊ ACHOU DA
MATÉRIA DE CAPA?
O QUE VOCÊ ACHOU DA
REPORTAGEM SOBRE
O ARQUIVO PÚBLICO,
DO ANTIMATÉRIA?
O QUE VOCÊ ACHOU DA
MATÉRIA SOBRE VIDA
EXTRATERRESTRE?
O QUE VOCÊ ACHOU DO
PAPO CABEÇA COM A
DIRETORA DO HAPPN?
O QUE VOCÊ ACHOU
DA SEÇÃO DENTRO/
FORA DA CAIXA?
MÉDIAS DASMATÉRIAS
Capa DossiêInternet
Papo Cabeça:
Happn
Nestemês, a segunda temporadadonosso
Conselho sedebruçou sobreaediçãode
junhoeconcedeusuasprimeiras impressões
60%
90%
70%
50%
60%
50%
1. Gostei tanto quanto da
minha coleção de tazos.
1. Essamatéria foi sensacional!
1. Gostei e estou em choque
com os números.
1. Não sei se gostei mais
do texto ou da ilustra.
1. Um amor de conversa.
1. Gostei, minhas
paredes agradecem.
40%
10%
20%
40%
10%
20%
10%
10%
30%
30%
2. Não quero comentar.
2. Não quero comentar.
2. Não gostei, muito burocrática.
2. Não gostei, só especulação.
2. Não deu em nada, assim como
minha experiência no app.
2. Não gostei. Faltou assunto?
3. Não quero comentar.
3. Não quero comentar.
3. Não quero comentar.
3. Não quero comentar.
1 2
1 2
1 2 3
1
1
1
2
2
2 3
3
3 Ao contrário do afirmado no subtítulo
da reportagemCidades de Papel (pág.
7, edição 299), não são cerca de 80%
dos documentos guardados no Arqui-
vo Público do Estado de São Paulo
(Apesp) que poderiam ser eliminados
sem prejuízo histórico ou legal; são
80% dos documentos guardados
pelo estado de São Paulo. O Apesp
é responsável, conforme descrito na
matéria, por armazenar e conservar
mais de 30 quilômetros lineares de
documentação valiosa para a história
brasileira, além de prestar auxílio aos
demais órgãos públicos de São Pau-
lo na eliminação de papéis antigos
que não possuam mais serventia. A
alteração foi resultado de um erro de
edição e pedimos desculpas ao Apesp
e aos leitores pelo equívoco.
8,9
Vida
Extraterrestre
9,5
Sudão
do Sul
06
CON -
SE-
LHO
PORN
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A
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CON -
SE-
LHO PORNAT
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S
300Conselho.indd 6 17/06/2016 15:28:46
DE VOLTA
AO FUTURO
Após fracassarnadécadade 1990, projetosde
realidade virtual são retomadospelas grandes
empresasde tecnologia— PORBRUNOROMANI
07. 20 16 1 FIRMORAMA (FR)2 MICHELLLOTT (ML)
3 PEDROPICCININI (PP)
ILUSTRADORESCONVIDADOS
DESIGNFEU
Fig. 01 -(FR)
Pg.0707.2016
EDIÇÃOTHIAGOTANJI
ANTI-
MATÉ-
RIA
300AMabre.indd 7 17/06/2016 15:45:26
Com uma camisa colorida de gosto duvidoso ajeitada
dentro da calça e sapatos mocassim, o VJ daMTV nor-
te-americana Alan Hunter apresentava a inovação para
os fãs de videogames durante o Consumer Electronics
Show (CES) de 1993. Criado pela empresa japonesa
Sega, o dispositivo de realidade virtual em questão
era equipado com uma tela LCD e fones de ouvido
que permitiam aos jogadores experimentar em três di-
mensões os games do console Mega Drive. O produto,
no entanto, nem chegou a ser comercializado: durante
os testes, constantes queixas de dores de cabeça dos
usuários e dúvidas em relação à aplicabilidade do dis-
positivo enterraram o projeto. Assim como as camisas
com estampas coloridas, a MTV e os games da Sega, a
realidade virtual parecia estar relegada à memória afe-
tiva daqueles que viveram os anos 1990. Até agora.
Já há alguns anos, o desenvolvimento de recursos
capazes de levar o usuário à imersão virtual em um
cenário de 360 graus ressurgiu das cinzas por conta
de aprimoramentos técnicos e voltou a fazer parte
dos projetos das principais empresas de tecnologia.
Nos últimos meses, porém, o assunto foi tema de dez
entre dez conferências no Vale do Silício. Em maio
deste ano, por exemplo, a realidade virtual ganhou
espaço de destaque entre os projetos apresentados
no Google I/O, principal evento da companhia para
divulgação de novas tecnologias. Durante o encontro,
a empresa divulgou o Daydream, plataforma cons-
truída de forma integrada com o sistema operacional
Android que possibilitará aos fabricantes de smart-
phones produzir conteúdos de realidade virtual para
seus produtos. O Google também anunciou parcerias
com as desenvolvedoras de games Electronic Arts e
Ubisoft para a produção de títulos com recursos de
realidade virtual nos dispositivos móveis.
VER PARA CRER
Da medicina à
indústria bélica,
cientistas e
empreendedores
já aplicam a
realidade virtual
em diferentes
tipos de projetos
“Dos laboratórios para a sua
casa, isso é a realidade virtual.”
ESSE E O FUTURO.
TRATAMENTO PSICOLÓGICO
A realidade virtual já é aplicada no
tratamento de distúrbios de ansiedade,
fobias e estresse pós-traumático. A ideia
é colocar o paciente em situações virtuais
de medo ou desconforto para que ele
aprenda a superar esses problemas.
EXPLORAÇÃO ESPACIAL
ANasa e aMicrosoft desenvolveramuma
ferramenta que permite a exploração
de Marte em ambiente virtual.
Com a tecnologia, cientistas fazem
recomendações de percursos para o robô
Curiosity, que está explorando o planeta.
ATIVIDADEMILITAR
O exército da Noruega testa um
dispositivo de realidade virtual para
auxiliar em operações com tanques
de guerra: câmeras acopladas à parte
externa do veículo exibem imagens em
360 graus nos visores dos motoristas
Pg.08 07.2016
300AMabre.indd 8 17/06/2016 15:45:27
Ícones: Estúdio barca
SSE E O FUTURO.
eventos públicos. Com ela, você tem uma experiên-
cia muito mais rica do que se estivesse no local”,
diz com otimismo Rafael Steinhauser, presidente da
Qualcomm na América Latina, responsável pelo de-
senvolvimento de processadores para dispositivos.
Uma das indústrias ameaçadas é o cinema: afi-
nal, sendo possível frequentar cinemas virtuais, por
que alguém iria até o espaço físico? “A tendência é
que o conteúdo de realidade virtual afaste o públi-
co das salas de cinema, a não ser que elas ofereçam
essas mesmas experiências”, destaca Fábio Hofnik,
curador da BRVR, conferência sobre realidade virtual
que acontecerá neste mês de julho na cidade de São
Paulo. “Você terá o próprio cinema em casa.” Serviços
básicos, como educação, também seriam modifica-
dos. “Os estudantes serão colocados em ambientes
simulados e poderão interagir com situações diver-
sas”, diz Renato Citrini, gerente sênior de produto da
divisão de dispositivos móveis da Samsung Brasil.
A convivência com os colegas, importante para o
aprendizado, já está sendo levada em conta pelos
desenvolvedores. “A indústria tem percebido que as
experiências são muito reservadas, e existe a preo-
cupação de trazer elementos sociais para a realidade
virtual”, diz Tiago Moraes, fundador da Ovni Studios,
desenvolvedora de conteúdo em realidade virtual.
Mas um dos mercados mais promissores para os
entusiastas da realidade virtual é justamente o dos
videogames, o mesmo que virou as costas para a
tecnologia no passado. Em março, a Sony divulgou
o lançamento do PlayStation VR, visor com tela de
LCD e sensor de movimentos capaz de exibir ima-
gens com alto detalhamento — especialistas afirmam
que a sensação de náusea é rara mesmo quando são
mostradas cenas em alta velocidade. Com lança-
mento previsto para outubro deste ano, o produto
custará US$ 400 e terá suporte para alguns jogos
do PlayStation 4, como Final Fantasy XIV e Gran
Turismo. Agora, para que a redenção dos anos 90
esteja completa, só falta mesmo a volta da MTV.
Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, é outro
que aposta alto nesse mercado. Em 2014, ele pagou
US$ 2 bilhões pela Oculus, empresa fundada pelo
norte-americano Palmer Luckey responsável pela fa-
bricação do equipamento de realidade virtual Oculus
Rift. No começo do ano, no Mobile World Congress,
uma foto de um sorridente Zuckerberg caminhan-
do entre centenas de pes-
soas que utilizavam um visor
de realidade em três dimen-
sões não deixava dúvidas do
potencial econômico desse
recurso — de acordo com a
consultoria de investimentos
Digi-Capital, os mercados de
realidade
virtual e de realidade
aumentada somarão receitas
de US$ 120 bilhões até 2020.
Esse lucro todo viria da mi-
gração de determinados tipos
de negócio, como shows e jo-
gos de futebol, para o ambien-
te digital. “A realidade virtual
acabará com os estádios e
JOGATINA VIRTUAL, EXPERIÊNCIA REAL
Empresas prometem imersão total de jogadores na nova geração de games
OCULUSRIFT
Pioneiro entre os óculos de realidade virtual da nova geração, o
equipamento conta com um catálogo de games de diferentes es-
tilos, como terror e simuladores de voo. Aqualidade gráfica dos
jogosmelhorou substancialmente nos últimos lançamentos.
PLAYSTATIONVR
Com lançamento previsto para outubro deste ano, o
dispositivo desenvolvido pela Sony permitirá que games
famosos, como Final Fantasy, tenham uma versão capaz
de ambientar os jogadores em um cenário de 360 graus.
CAUSAS SOCIAIS
O projeto iAnimal exibe o sofrimento de
animais emabatedouros. JáoTheMachine
toBeAnother, da universidade espanhola
de Pompeu, ensina sobre igualdade de
gêneros ao propor uma “troca de corpos”
virtual entre homens emulheres.
EDUCAÇÃO
O projeto Lecture VR proporciona o
aprendizado de conteúdos de Biologia,
História e atéMatemática em ambientes
virtuais. É possível visualizar células ou
bater umpapo comAlbert Einstein sobre
o estudo da teoria da relatividade.
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300AMabre.indd 9 17/06/2016 15:45:28
EMBUSCADA
MITOCÔNDRIA
Micróbio que vive na barriga de
chinchilas desafia as leis da Biologia
PORANDRÉJORGEDEOLIVEIRA
NO FINAL DE MAIO, 150 cientis-
tas de diferentes instituições estran-
geiras enviaram uma carta aberta
à Organização Mundial de Saúde
(OMS) requisitando adiamento ou
transferência da Olimpíada por con-
ta do surto de casos do zika vírus —
de acordo com o documento, há risco
de expansão da doença para outros
lugares por conta dos milhares de tu-
ristas que visitarão o Rio de Janeiro
durante o evento esportivo. Em res-
posta, oMinistério da Saúde afirmou
que a Olimpíada será disputada em
uma época de baixa transmissão de
doenças causadas pelo Aedes aegypti.
Entre janeiro de 2015 e fevereiro de
2016, foram registrados 261 casos de
bebês commicrocefalia no estado do
Rio de Janeiro — essa condição neu-
rológica, que impede o crescimento
do cérebro, teria relação com o zika.
Mas essa não deveria ser a única
preocupação com relação a doen-
ças. Segundo dados divulgados pelo
Ministério da Saúde, o Rio de Janeiro
apresenta a maior taxa de mortalida-
de por tuberculose entre as capitais
brasileiras. Em 2014, o índice foi de
6,9 mortes por 100 mil habitantes.
A doença, considerada um problema
de saúde pública do século 19, está
presente principalmente nas áreas
mais pobres: a favela da Rocinha
registra uma taxa de incidência de
372 casos por 100 mil habitantes,
índice 11 vezes maior que a média
brasileira. Disseminada em locais
com baixa infraestrutura sanitária,
a tuberculose afeta em média 70 mil
pessoas por ano no Brasil. De acor-
do com a OMS, o país está entre as
22 nações que concentram 80% dos
casos da doença no mundo.
PORQUEO ZIKANÃO
ÉOÚNICOPROBLEMA
Longe dos holofotes internacionais, doenças como a
tuberculose ainda afetammoradores das áreasmais
pobres do Rio de Janeiro às vésperas dos Jogos Olímpicos
ANOS
É A IDADE DE QUASE 3MIL VESTÍGIOS
arqueológicos encontrados em São Manuel, no
interior de São Paulo. Os itens, utilizados por povos
pré-colombianos, são todos de pedra lascada
CIENTISTASANALISARAM o genoma doMono-
cercomonoides sp,micro-organismoquevive na
flora intestinal das chinchilas, e notaram a au-
sênciadamitocôndria. Se issonãoparecegrande
coisa, é melhor relembrar as aulas de Biologia:
responsáveispela respiraçãoeproduçãodeener-
gia, asmitocôndrias tinhampresença considera-
da obrigatória entre as células complexas, como
aquelas que formamoMonocercomonoides sp.
Os pesquisadores acreditamque, para suprir
a falta damitocôndria, omicro-organismo toma
emprestado de bactérias certos genes que de-
sempenhamamesma função evivemnabarriga
das chinchilas. “É umaprova deque avida émais
flexível do que esperávamos”, afirma a bióloga
evolutiva Anna Karnkowska, da Universidade
da Colúmbia Britânica, que liderou o estudo.
11 MIL
Pg. 10 07.2016
FIG. 02 -ML
300AMzikaMITOCONDRIAtripadvisor.indd 10 17/06/2016 16:08:12
A
limentos cultivados com sementes
geneticamente modificadas são se-
guros para consumo, mas não se
pode afirmar que esses cultivos
cumpram a promessa de aumentar a produtivi-
dade das lavouras. Essas são as principais con-
clusões de um relatório de mais de 400 pági-
nas apresentado recentemente pela Academia
Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina
dos Estados Unidos. O comitê analisou mais
de mil estudos já feitos em todo o mundo.
“O relatório mostra uma visão favorável aos
transgênicos, o que não é surpreendente, por-
que vários membros têm ligação com empre-
sas como a Monsanto [maior fabricante de se-
mentes geneticamente modificadas do planeta]”,
diz Rubens Nodari, professor da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). Em maio,
a Bayer, gigante alemã da fabricação de produ-
tos químicos, fez oferta de US$ 62 bilhões para
compra da Monsanto. A proposta foi recusada,
mas a companhia se diz aberta a negociações.
O Brasil é o segundo país quemais produz trans-
gênicos, atrás dos Estados Unidos no ranking
mundial. “Entre 2000 e 2013, o Brasil mais que
dobrou a quantidade de consumo de pesticidas
— e a área plantada aumentou só
cerca de 20%”, destaca Nodari, ci-
tando dados do IBGE e do Ibama.
“Há aumento de plantas resistentes
aos produtos, qualquer geneticista
sabe da seleção natural. E as em-
presas ganham mais com o pesti-
cida do que com as sementes.”
MADEIRADELEI?
DEPOIS DE CAMINHAR
por dois quilômetros sob sol
forte, com calor de 40°C,
um elefante no Camboja
teve um ataque cardíaco
e morreu. O caso ganhou
destaque internacional por
conta das circunstâncias
da fatalidade: o animal, de
40 anos, era obrigado a ser-
vir como transporte a turis-
tas que visitam templos re-
ligiosos cambojanos. Casos
como esse não são raridade,
assim como tigres domados
e chicoteados para que se-
jam tiradas fotografias com
pessoas na Tailândia e tu-
barões presos em pequenas
jaulas submersas para apre-
ciação humana no Caribe.
Para combater o prolema, a
organização britânica World
Animal Protection (WAP) re-
quisitou que o TripAdvisor,
maior serviço virtual de via-
gens do mundo, deixasse de
listar atrações que incluíssem
maus-tratos às faunas locais.
Os administradores do servi-
ço recusaram o pedido, afir-
mando que elencavam dife-
rentes atrações em seu site e
não apoiavam atividades des-
se gênero. A justificativa não
foi convincente. A WAP or-
ganizou um abaixo-assinado
digital e conseguiu mais de
250 mil pessoas que apoia-
ram a causa — até agora, o
TripAdvisor não se posicio-
nou sobre a iniciativa.
DICAS
DEMAUS-
TRATOS
Ativistas criticam o
serviço TripAdvisor
por exibir atrações
turísticas que realizam a
exploração de animais
A ETERNA BRIGA DO TRANSGÊNICO
Relatório sobre segurança de sementes geneticamente
modificadasaindageracontradições—PORGIULIANADETOLEDO
FIG. 03 -PP
80%
da extração de madeira no Brasil
é ilegal ou desrespeita regras
ambientais, de acordo com estudo
da Fundação Getúlio Vargas (FGV)
Ícones: Estúdio barca
Pg. 1107.2016
300AMzikaMITOCONDRIAtripadvisor.indd 11 17/06/2016 16:08:17
aLuaencontrao
pLanetaJúpiter
o corpo celeste poderá ser
visto no céu próximo à Lua.
Quando escurecer, olhe na
direção noroeste: a dupla
permanecerá ali até por
volta de 21 horas, quando
vai se pôr no horizonte.
9
Meteoros
eMaQuário
picodechuvademeteoros
causadaporfragmentosdo
cometa96pMachholz—até
20meteoros por hora podem
aparecer nos céus. procure
pela constelação deaquário.
28
AGENDA
- -
3
10
17
24
31
-
6
13
20
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-
2
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23
30
-
Jul. 2016
ssd s t q q
lu-
ne-
ta
Lander
Sonda que faz um pouso suave
e permanece imóvel no planeta
rover
Veículo de exploração que se desloca
pela superfície do corpo celeste
mARS iii (uRSS) m iii
mARS ii (uRSS) m ii
mARSVi (uRSS) mVi
Viking i (EuA) V i
Viking ii (EuA) V ii
1971 1973 1976 1997
InvasãovIkIngemmarte
após primeiro pouso bem-sucedido no Planeta vermelho,
há 40 anos,muitas sondas e veículosmotorizados passearampor lá
2020
ExomARS (EuRopA) Ex
m
dEEpSoJouRnER (EuA)
mARSpAthfindER mpS
Ícones: Estúdio barca
Pg. 12 07.2016
JUNOCAM
Produzir
imagens
coloridas em
alta resolução
fig. 4 -pp
esPectrógrafo
ULtravioLeta (Uvs)
MaPeador infraverMeLho de
aUrorasJUPterianas (JiraM)
instrUMento de ondas
de PLasMa (Waves)
ciência da gravidade (gs)
exPeriMento de distribUições
de aUroras JUPterianas (Jade)
instrUMentodetector de
PartícULas energéticas
de JúPiter (Jedi)
radiôMetro de
Micro-ondas (MWr)
MagnetôMetros (M)
GS eM
Estudar a
estrutura
profunda
do planeta
UVS e JIRAM
Fotografar
a atmosfera
de Júpiter
com câmeras
ultravioleta e
infravermelha
para identificar
a composição
dos gases
JeDI, JADe eWAVeS
Mapear campos
elétricos, ondas de
plasma e partículas
para determinar como
o campomagnético
se relaciona com a
atmosfera do planeta
MWR
Analisar a
atmosfera
para medir a
quantidade de
água e oxigênio
NAMITOLOGIAROMANA,quando
odeusJúpiter fazia coisas erradas,
criavaumacamadadenuvenspara
se esconder.Mas suaesposa, Juno,
tinha o poder de enxergá-lo. Ago-
ra, uma xará robótica da deusa
fará a mesma coisa: lançada pela
Nasa há quase cinco anos, a son-
da carregou instrumentos avan-
çados (veja ao lado) por mais de
2,8 bilhões de quilômetros para
mapear a atmosfera e a estrutura
de Júpiter, investigando como o
campo magnético e a gravidade
do gigante gasoso interferem em
suas propriedades. Um dos mis-
térios jupiterianos é o da Grande
Mancha Vermelha, tempestade
que dura séculos e vem encolhen-
do nas últimas décadas. A sonda
também pretende responder se
Júpiter tem um núcleo sólido.
o poder de juno
sonda da nasa chega a JúPiter Para desvendar osMistérios
escondidos eMbaixo da caMada de nUvens do gigante gasoso
Po
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a deusadanasa
Conheça as funções de cada instrumento
300LUNETA.indd 12 17/06/2016 21:47:12
localizaçãodas sondasnoplaneta vermelho
A PROVÁVEL CANDIDATA do Partido Demo-
crataparaadisputaàPresidênciadosEstados
Unidos afirma que, se chegar ao comando da
CasaBranca, tornarápúblicosdocumentos so-
bre a Área 51. Para ufólogos, a base da Força
Aérea no estado norte-americano de Nevada
esconderia naves e corposdeextraterrestres.
AsimpatiadeHillaryClintonporestudossobre
vida inteligente fora da Terra já lhe rendeu o
apelido de “a candidata ET”. “Hámuitas histó-
rias por aí, não acho que todo mundo esteja
sentadoemsuas cozinhas inventando isso”, já
disse, em entrevista, sobre óvnis. “Quero ver
o que as informações apontam”, declarou ela,
que já faloupublicamentede seu sonhode ser
astronauta quando criança. Aindamais entu-
siasta da causa é John Podesta, coordenador
desuacampanha,notório fãdasérieArquivoX.
Ativista na busca de transparência do gover-
no em relação ao tema, ele classificou de
“fracasso” não alcançar avanços enquanto
trabalhou na gestão de Barack Obama.
para o astrônomo Rafael Souza, uma
reunião de cientistas não é sinônimo de con-
gressos chatos: ele é o criador da Iniciativa
de Astroestatística, projeto que, durante
uma semana, reúne cientistas de diferentes
países para desenvolver trabalhos de astro-
nomia em uma casa compartilhada — desde
estudantes até acadêmicos com vasta expe-
riência participam da atividade. “Quando você
é uma pessoa nova no meio, nem sempre tem
acesso às pesquisas da sua área”, diz o astrôno-
mo, que atualmente reside emBudapeste, capi-
astronomia
globalizada
tal da Hungria, onde atua como pesquisador na
Universidade Eötvös Loránd. “Chamamos
pessoas de diferentes posições acadêmi-
cas para participar. Ficamos na mesma casa
trabalhando, e nos divertimos juntos.”
Em abril, Souza e quatro outros acadêmicos
ganharam destaque daAssociação Internacio-
nal deAstroestatística por desenvolverem uma
pesquisa sobre grupos de estrelas que surgiram
no início da formação da nossa galáxia e que
podem fornecer algumas ex-
plicações sobre a sua origem.
Na área da astroestatística,
os pesquisadores utilizam
inteligência artificial para
lidar com dados de astrono-
mia. “Existem fenômenos que
ocorrem aomesmo tempo no
espaço e, com a estatística,
conseguimos separá-los. Uma
técnica convencional não se-
ria capaz de lidar com isso.”
Brasileiro cria rede para
desenvolvimento de pesquisas
Por isabelamoreira
AprimEirA
cANDiDAtA Et
Hillary Clinton diz que revelará
“arquivos X” desejados por ufólogos
20031999
20082012
2004
2020
luneta live
AS notÍciAS ESPAciAiS dA SEMAnAcoMEntAdAS todASAS
SExtAS-FEirAS, àS 16 horAS, EM noSSAPáginAno FAcEbook
bEAglE ii uk b ii
SpiRit (EuA) Sp
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mARS SciEncElAboRAtoRy
[cuRioSity] (EuA)
c
Pg. 1307.2016
-pp Marte Marte
NoMe
Rafael Souza
país
Brasil
Idade
36 anos
profIssão
Astrônomo
feIto
Desenvolveu
um novo
modelo de
trabalho para
cientistas
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e
is
fig. 5 -ml
300LUNETA.indd 13 17/06/2016 21:47:14
Sabe aquela sen-
sação de querer
comer tudo o
que vê pela frente após
um longo período sem se
alimentar? O responsável
por isso é um hormônio
chamado grelina, liberado
em condições de jejum e
que age no cérebro para
ativar a sensação de fome.
Depois das refeições, há
uma diminuição na libera-
ção desse hormônio, o que
leva à saciedade. “Outro
fator que contribui é a dis-
tensão gástrica, que acon-
tece quando o alimento se
acomoda no estômago”,
afirma Fernanda Corrêa,
professora de Nutrição
da UniversidadeAnhembi
Morumbi. Portanto, basta
culpar a grelina quando
reclamam que você é um
legítimo saco sem fundo...
R:
POR QUE PERCO A FOME
DEPOIS DE ME ALIMENTAR?
Vinícius Silveira, via Facebook
SEM
DÚVIDA
A
questão não é de
fé, mas de ciência:
a startup califor-
niana Ava Winery
afirma que é possível transfor-
mar água em um vinho requin-
tado em apenas 15 minutos —
e sem utilizar nenhuma uva.
Previsto para o final do ano,
o primeiro produto da empre-
sa será uma réplica do cham-
panhe Dom Pérignon da safra
de 1992, a US$ 50 (cerca de
R$ 170). O original, francês,
não sai por menos de US$ 200
(R$ 680). O próximo rótulo será
um Moscato d’Asti, um vinho
branco italiano. “Analisamos
os perfis moleculares para sa-
ber todos os componentes
presentes, então combina-
mos cada um deles na propor-
ção correta”, diz Alec Lee, um
dos fundadores da startup,
que aguarda autorização legal
para comercializar o produto.
Copiar vinhos famosos também
é a missão da empresa Replica
Wine, que utiliza uvas fermen-
tadas e outros ingredientes para
imitar o gosto e o aroma de
rótulos tradicionais — o preço
dessa versão é até 50% mais
barato em relação ao original.
MILAGRE ENGARRAFADO
Empresa norte-americana promete transformar água
em vinho (dos bons) por meio de reações químicas
feitas em laboratório — PORGIULIANADETOLEDO
AVINGANÇA
DOSRATINHOS
Após sofrerem sucessivas alterações ge-
néticas, animais testados em laborató-
rio apresentammutações não esperadas,
prejudicando pesquisas científicas
POR ISABELAMOREIRA
NÃO HÁ ROEDOR QUE AGUENTE:
depois de viver du-
rante anos como objeto de testes de laboratório, uma
linhagemde ratos conhecida comoB6 se rebelou contra
os cientistas. O instituto norte-americanoRagon, doMIT
e da Universidade de Harvard, anunciou a descoberta
de umamutação não programada nesses ratinhos, que
são desenvolvidos em laboratórios nos EstadosUnidos
e noJapão. De acordo comos pesquisadores, emvez de
apresentarmudanças no cromossomo9de umgene, os
animais sofriam alterações no cromossomo 11.
Ao investigar o acontecimento, os cientistas desco-
briramque a anomalia foi originada na Envigo, empresa
quevendeu cobaias para laboratórios daÁsia (Israel, por
exemplo), daAmérica doNorte e da Europa. Ocorre que,
como os B6 são amplamente utilizados, é provável que
os resultados de pesquisas realizadas nos últimos anos
tenhamsofrido distorções.AEnvigo já foi comunicada e
afirmaque fará o possível para contataros clientes que
usaramos animais. Resta saber se os ratinhos continua-
rão em greve genética contra essas pesquisas.
Pg. 14 07.2016
FIG. 6 -FR
300vinhoPINKcerebroOPSdieta.indd 14 17/06/2016 19:47:30
VIDRO
SEGURO
Em 1903, o químico
francês Edouard
Benedictus trabalha-
va em seu laboratório
quando um frasco de
vidro caiu e se que-
brou. Curiosamente,
o objeto não ficou
estilhaçado em peda-
cinhos — o cientista
notou que o frasco
era revestido de um
composto plástico.
Com a descoberta,
foi possível desenvol-
ver equipamentos de
vidro mais seguros,
como os utilizados
nos para-brisas dos
automóveis.
MARCA-
PASSO
O engenheiro nor-
te-americano Wilson
Greatbatch trabalhava
na construção de um
equipamento eletrôni-
co para gravar sons do
coração quando errou
a montagem do dispo-
sitivo. Ele percebeu,
então, que o aparelho
emitia um pulso
elétrico e poderia
auxiliar no monitora-
mento do coração: em
1958, após dois anos
de testes, ele realizou
uma demonstração do
produto com sucesso.
PICOLÉ
Um garoto desleixado
ou um visionário? Em
1905, o norte-ameri-
cano Frank Epperson,
de 11 anos, misturou
água e suco em pó e
deixou o composto
na varanda de sua
casa, com um palito
dentro. Fez muito
frio na madrugada, e,
no dia seguinte, ele
encontrou um pedaço
de gelo com sabor. A
criança teve o mérito
da patentear essa
invenção e vendê-la
anos depois para uma
empresa de sorvetes.
OPS...
PORQUEOERROÉPAIDOACERTORANGO
NEANDERTAL
Dieta paleolítica contribuiu para o
desaparecimento dos hominídeos
PORANDRÉJORGEDEOLIVEIRA
COMPOSTA DE CARNES, vegetais e frutas, a
dieta paleolítica também estava na moda há
300 mil anos. Mas não era recomendação de
um blogueiro fitness da época: esse tipo de
alimentação era a única alternativa para os
homens neandertais obterem energia — a
espécie, que coexistiu com o Homo sapiens,
vivia da caça e da coleta em regiões frias e de
vegetação escassa na Europa e na Ásia. Para
Miki Ben-Dor, arqueólogo da Universidade de
Tel-Aviv, a dieta ajuda a explicar a extinção
desses hominídeos, há cerca de 29 mil anos:
eventos naturais, como o fim dos mamutes,
provocaram a falta de animais mais parrudos
para a caça, o que obrigou os neandertais a
se alimentarem de animais magricelas, com
menor oferta de nutrientes. “O que os matou
foi a diminuição de grandes animais que os su-
priam com gordura farta durante os invernos
da era do gelo, quando a disponibilidade de
carboidratos era curta”, diz Ben-Dor.
Pg. 1507.2016
168MILHÕES
de crianças no mundo
são submetidas a
trabalho infantil
99MILHÕES
Trabalham no
setor agrícola
Trabalham em
mineração,
indústria e turismo
FIG. 7 -ML
69MILHÕES
300vinhoPINKcerebroOPSdieta.indd 15 17/06/2016 19:47:40
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UCSDECONSERVAÇÃONAAMAZÔNIA
UCSDECONSERVAÇÃONOMAR
Lagoa do Peixe
Restinga de Jurubatiba
Jericoacoara
Cabo Orange
Superagui
Amazônia
Serra do Divisor
Serra do Pardo
Anavilhanas
Pacaás Novos
Acari Jamanxim
Jaú
Juruena
Pico da Neblina
Rio Novo
Viruá
Mapinguari
Nascentes do Lago Jari
Serra da Cutia
Montanhas do Tumucumaque
Lençóis Maranhenses
Fernando de Noronha
Abrolhos
Uatumã
Abufari
Guaporé
Gurupi
Rio Trombetas
Lago Piratuba
Nascentes da Serra do Cachimbo
Tapirapé
Manicoré
Jaru
Comboios
Santa Isabel
Atol das Rochas
Marinha do Arvoredo
Monte Roraima
Ilhas Cagarras
Santa Cruz
Ilha dos Lobos
Guanabara
Alto Maués
Terra do Meio
Caracaraí
Cuniã
Jutaí-Solimões
Maracá
Jari
Rio Acre
Juami-Japurá
Niquiá
Guaraqueçaba
Maracá-Jipioca
Tupiniquins
Taim
Tupinambás
PROTEÇÃO DESIGUAL
ÁREA DA ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA (MAR):4,4 MILHÕES DE KM2
ÁREA DA AMAZÔNIA LEGAL: 5MILHÕES DE KM2
Esse quadradinho
representa a soma da
área de todas as unidades
de proteção integral do
mar brasileiro: somente
0,05% do nosso oceano
conta com algum tipo
de lei de preservação
PA
PA
PE
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MG
SC
RS
MS
GO
GO
PI
TO
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CE
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PB
MT
MT
AM
AM
AP
AP
RR
AC
SE
AL
ESEC: Estação Ecológica
MONA:Monumento Natural
PARNA: Parque Nacional
REBIO: Reserva Biológica
REVIS: Refúgio de Vida Silvestre
AQUI É OPENMAR
AAmazônia e o mar brasileiro apresentam áreas
parecidas, mas suas zonas de preservação são distintas
PORANDRÉ JORGEDEOLIVEIRA
A FLORESTA E OMAR sãomais
parecidos do que aparentam, mas
ninguém parece se importar com
isso, já que aAmazônia possui quase
o dobro de unidades de conservação
(UC) em relação aomar brasileiro.
De acordo comMauroMaida,
oceanologista da Universidade
Federal de Pernambuco, os
processos ecológicos desses
ambientes sãomuito semelhantes.
“Não faz sentido que essas áreas
tenham níveis de conservação
diferentes”, afirma. Conforme
sua pesquisa, 99,95% da faixa
oceânica nacional não conta
com qualquer tipo de proteção,
podendo ser totalmente explorada. 17.583Disque-Denúncia Nacional
FOI O NÚMERO DE DENÚNCIAS DE
VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS
E ADOLESCENTES EM2015
Pg. 16 07.2016
FIG. 9 -PP
FONTE: ICMBio (unidades de proteção integral)
300cartograficoUPPStemer.indd 16 17/06/2016 20:22:53
O
estupro coletivo sofrido
por uma jovem garota
de 16 anos em uma co-
munidade da zona oes-
te do Rio de Janeiro não foi um ato
isolado e tem associação direta com
a construção das relações de gênero
em locais que convivem com a vio-
lência diária do crime organizado e
de policiais. Publicada pelo Instituto
Promundo, uma pesquisa realizada
com base na averiguação de mais de
mil questionários domiciliares anali-
sou como a violência em ambientes
públicos afeta a esfera privada, como
nos casos de abusos e agressões do-
mésticas. “Esse caso [do estupro co-
letivo] levanta o tema das normas so-
ciais relacionadas à masculinidade,
como expectativas sobre o que ho-
mens e mulheres ‘podem’ e ‘devem’
fazer”, afirma Alice Taylor, coorde-
nadora do estudo. “É preciso avaliar
como essas normas permitem a cul-
tura do estupro, e também o fenôme-
no da extrema pressão a usar violên-
cia que pode ser promovida dentro
de um grupo de homens.” De acor-
do com Taylor, os dados da pesqui-
sa indicaram que homens usavam a
violência para recuperar o “respeito”
depois de se sentirem humilhados
ou para provar sua masculinidade
diante da pressão de amigos ou co-
nhecidos. Para a pesquisadora, reali-
zar projetos commeninos e meninas
desde a infância é fundamental para
mudar essa realidade. “É possível
promover com a educação relacio-
namentos mais equitativos, saudá-
veis e menos controladores e violen-
NADA
ATEMER
Projetos estratégicos para
defesa passarão por mudanças
com governo federal interino
POR THIAGO TANJI
EM DISCURSO após assumir o cargo de
ministro provisório das Relações Exterio-
res, José Serra (PSDB) afirmou que prio-
rizaria os acordoseconômicos comoutros
países,
deixandode ladopolíticas com“fins
publicitários” — em referência à atuação
mais ativadadiplomaciabrasileira nosúl-
timos anos, como a requisição para obter
umacadeirafixanoConselhodeSeguran-
ça das Nações Unidas. Se a afirmação de
Serra agradou a setores empresariais, a
iniciativa de colocar a geopolítica em se-
gundoplanodespertouapreocupaçãode
que os projetos de militares sofram com
o corte de investimentos, afetando tam-
bémoMinistério da Defesa. “No segundo
governoLula enoprimeirogovernoDilma
houve uma sinergia entre o Itamaraty, o
Ministério da Defesa e o Ministério da
Ciência e Tecnologia para a revitalização
da indústria de defesa”, diz David Maga-
lhães, professor de Relações Internacio-
nais da Universidade Anhembi Morumbi
e da Faap. “E esse governo interino, que
pode ser o definitivo, não tende a realizar
o mesmo engajamento nesses projetos
estratégicos.” Entre essas iniciativas da
indústria de defesa nacional, o professor
cita a produçãodo aviãomilitarSuperTu-
cano, fabricadopelaEmbraereexportado
para países como Colômbia, Indonésia e
EstadosUnidos comapoiodiplomáticodo
governobrasileiro. Paraoespecialista, no
entanto, convicções ideológicasnãoafeta-
rãoas relaçõesda indústriabélicanacional.
“Esse éumsetordependentedosEstados
UnidosedaEuropa, eoministropretende
estreitar as relações nessas regiões.”
SUJEITO HOMEM?
Pesquisa realizada emcomunidades do Rio de
Janeiro estuda as relações de gênero e violência
Dados oficiais indicam, no entanto, que esse tipo
de delito se manteve estável nos últimos anos: em
2014, houve 47.646 registros de estupros no país.
“MUITA GENTE CAI
EM DEPRESSÃO
PORQUE PERDEU
O EMPREGO E
COMEÇA A BEBER.
E AÍ TERMINA PER-
DENDO A CABEÇA E
PRATICANDO ESSE
TIPO DE DELITO.”
Mágino Alves Barbosa Filho, secretário de
Segurança Pública de São Paulo, relacionando
crimes de estupro com a crise econômica
POR T.T.
Pg. 1707.2016
FIG. 8 -ML
300cartograficoUPPStemer.indd 17 17/06/2016 20:22:56
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o otelefonesemfiocontaahistória
Dos tambores à transmissão por satélite, as transformações da comunicação a distância
Subir ao posto mais alto do pódio e observar a
bandeira de seu país tremular durante a execução
do Hino Nacional é o sonho triunfal dos atletas
que disputarão a Olimpíada do Rio de Janeiro,
evento que terá início no dia 5 de agosto. Para um
grupo de dez esportistas, no entanto, a bandeira
que representarão ocupará umpapel secundário:
no início de junho, o Comitê Olímpico Internacio-
nal (COI) anunciou o primeiro time formado por
refugiados da Etiópia, da República Democrática
do Congo, da Síria e do Sudão do Sul.
No Brasil desde 2013, após pedirem refúgio du-
rante a disputa doMundial de Judô, os congoleses
Yolande Mabika e Popole Misenga foram selecio-
nados para representar o time do COI. Vivendo no
Rio, osatletas foramencaminhadosparao Instituto
Reação, que promove inclusão social por meio do
judô, evoltaramaostreinamentos. Emcomunicado,
Mabika, de 28 anos, mostrou-se emocionada pela
oportunidade de disputar a Olimpíada e afirmou
que está fazendo aulas de português para estar
mais próxima da pátria em que escolheu viver.
quandooesporte émaiorque apátria
Esportistas de quatro países da África e do Oriente Médio formarão
time de refugiados que vai disputar a Olimpíada no Rio de Janeiro 10 atletas
África · tambores falantes
Ocupando o território onde hoje é a Nigéria,
o povo Iorubá desenvolveu a técnicamais an-
tiga de ligação de longa distância: por terem
uma língua em que a melodia dá significados
diferentes a palavras iguais, o registromelódi-
co de uma frase em tambores transmitia uma
mensagem em forma de música.
eUa, 1837 · telégrafo elétrico
O norte-americano Samuel Morse criou um
novo método de comunicação: aperte um
botão para ter um ponto; aperte e segu-
re para obter um traço. As combinações de
pontos e traços, que correspondem a letras,
eramtransmitidas porumfio elétrico pormeio
de um equipamento chamado telégrafo.
frança, 1793 · telégrafo Ótico
Vários “bonecos” demadeira gigantes, posicio-
nados um atrás do outro, eram responsáveis
portransmitirmensagensentreas cidades—as
diferentes posições dos braços das estruturas
correspondiam a códigos distintos. A França
chegou a instalar essa rede,mas as chances de
erro eramaltas demais para a ideia funcionar.
RePResentaRãO O
time OlímPicO De
RefugiaDOs
5 DO suDãO DO sul
2 Da síRia
1 Da etióPia
2 Da RePública
DemOcRática DO cOngO
Pg. 18 07.2016
300MAQUINAdotempoDAOolimpiadas.indd 18 17/06/2016 21:51:37
APóS uM tEMPORAl atingir a cidade de São
Paulo no final de maio, bairros nas zonas oes-
te, leste e sul ficaram sem energia por mais de
24 horas. um transtorno que seria evitado caso
os quase 41 mil quilômetros de cabos suspen-
sos de energia elétrica estivessem aterrados.
“As metrópoles brasileiras são cidades antigas,
commais de cemanos, e a ideia do aterramento
no país é um processo relativamente recente”,
afirma Rômulo Ribeiro, professor da Faculdade
de Arquitetura e urbanismo da universidade
de Brasília (unB). O investimento dos governos
municipais e das concessionárias para realizara
operação ainda éumentrave—estudos indicam
que, em média, aterrar um quilômetro de fios
custa aomenos R$ 2milhões. Em São Paulo, há
umameta para aterrar 250 quilômetros de fia-
ção por ano, ou seja, restam 164 anos para a re-
tirada de todos os postes da cidade. Isso, é claro,
se o plano for rigorosamente executado...
Quando inovações tecnológicas são
aplicadas no setor produtivo da eco-
nomia, postos de trabalho consi-
derados de “atividade braçal” são
substituídos pela automação robó-
tica. Mas e se, em vez da demissão
de operários, as máquinas ocupas-
sem os cargos dos executivos que co-
mandam as empresas? Para o brasi-
leiro Alex Van de Sande, designer da
Fundação Ethereum, a ideia não é
uma mera idealização de ficção cien-
tífica. Inspirado nos protocolos de
programação da moeda virtual bit-
coin, o Ethereum reúne programado-
res de diferentes países que criaram
uma rede descentralizada capaz de
desenvolver contratos para projetos
reais. “Com o Ethereum é possível
criar moedas virtuais e movê-las de
acordo com regras específicas”, diz
Van de Sande. “É possível criar uma
empresa e aplicar essa lógica para que
o dinheiro seja completamente dis-
tribuído em um software autonômo.”
Segundo o brasileiro, iniciativas como
essa revolucionariam até a adminis-
tração do Estado. “Se uma prefeitura
colocasse a sua receita em um banco
de dados público, haveria uma trans-
parência inédita”, afirma. “Imagine um
governo que possibilitasse aos cida-
dãos votar em como o dinheiro seria
investido, sem desvios pelo caminho.”
A revolução dasmáquinas, entretanto,
ainda não faz parte desses planos.
Grandes cidades brasileiras sofrem
para realizar o aterramento da fiação
eUa, 1876 · telefone
O primeiro telefone foi patenteado por Alexander
Graham Bell em 1876, mas o alemão Johann Phi-
lipp Reis e o italiano Antonio Meucci criaram dis-
positivos parecidos entre 1854 e 1860. A primeira
gambiarra foi registrada nadécada de 1920, quando
norte-americanos uniamas cercas dearame farpado
das fazendas para utilizá-las como fios.
eUa, 1962 · telefone via satélite
Oprimeiro satélite de telecomunicações da história,
otelstar I, foi lançado pelos EuAno auge daGuerra
Fria. Ele foi capaz de completar uma ligação para o
vice-presidente lyndon Johnson, apesar da capaci-
dade limitada de transmissão. Esse foi o início dos
telefones via satélite, até hoje a única opção para
lugares pouco acessíveis, como o topo do Everest.
fUtUro · holograma
lembra daquelamensagem holográfica carregada
porR2-D2 para Obi-Wan Kenobi em StarWars? Ela
não está tão distante assim da realidade. Pesquisa-
dores daMicrosoft criaram uma tecnologia batiza-
da de “holoportation”: com óculos especiais, uma
versão virtual do interlocutor é exibida em uma
espécie de ligação de Skype em três dimensões.
oceoque é
algoritmo
Plataforma desenvolve linhas de
código para criar serviços que não
necessitam de interferência humana
Ícones: Estúdio Barca
fios,
paraque
osquero?
Pg. 1907.2016
Fig. 10 -FR
300MAQUINAdotempoDAOolimpiadas.indd 19 17/06/2016 21:51:37
nalmente umpouso tripulado, poderia fazer isso em20
anos, mas os chineses estão focados em colocar uma
pessoa na Lua primeiro. Só a SpaceX e aNasa têm a de-
terminação de fazer isso acontecer e osmeios para tan-
to: Elon Musk disse várias vezes que pretende mandar
humanos para Marte até 2030, no máximo. Já a Nasa
não planeja fazer isso antes do fim da década de 2030.
MAS NÃO DEVERÍAMOS COLONIZAR A LUA ANTES?
Buzz Aldrin, a segunda pessoa a caminhar pela Lua, me
disse recentementequeela éumterrenobaldio, quenão
há nada de que precisamos ou que possamos fazer lá e
que essa viagem é um absoluto desperdício de tempo e
de recursos. Ele emuitos outros especialistas emMarte
afirmamqueéparaoPlanetaVermelhoqueprecisamos ir.
E O QUE VEMDEPOIS DEMARTE?
Marte é só o começo. Quando o nosso Sol se expandir,
destruirá toda a vida emMarte também. Por isso, esse
é apenas umponto de partida para outros planetas fora
do SistemaSolar. Para sobreviver e evoluir ao longo de
muitas eras, os humanos terãode se tornaraquilo que já
foram um dia — nômades que se movem para além do
horizonte até o lugar selvagemseguinte. Teremos de ter
emmente os próximos planetas para habitar.
EVOCÊEMBARCARIANESSAVIAGEMMALUCA?
Nãoachomaluca.Pensoquesejaamaiordasaventurase
aoportunidadedeumavida.Talvezosnorte-americanos
tenhamumgeneparaopioneirismoqueevoluiu emnos-
so DNA, e eu o herdei. Não só
iria como iria comprazer,mes-
mo não sendo jovem. Nunca é
tarde para ir para o espaço.
DA TERRA
PARA MARTE
Lançado no Brasil, livro narra como
colonizaremos o Planeta Vermelho
PORANDRÉJORGEDEOLIVEIRA
CADÊDORY?
Pixar investe em tecnologia na
sequência de Procurando Nemo
POR ELAINE GUERINI
APÓS ROUBAR A CENA em Pro-
curando Nemo, de 2003, a pei-
xinha que sofre de perda de me-
mória recente ganhará um filme
solo para resgatar sua origem.
E com tecnologia renovada. Em
Procurando Dory, a Pixar utili-
zará o RenderMan RIS, software
de renderização de animações
de alta resolução, para alcançar
mais realismo nas cenas embaixo
d’água. Embora o objetivo principal
do longa não seja impressionar o
espectador com os efeitos de luz,
AndrewStanton, diretor da anima-
ção, acredita que a criação de um
ambiente aquático natural deixará
a plateia aindamais envolvida com
a história. “Como programa fazen-
do todos os cálculos, sobra muito
mais tempo para as decisões cria-
tivas”, afirma. “É tambémumalívio
saberque podemos fazer a história
tomar qualquer rumo, soltando a
nossa imaginação, com a certeza
de que a tecnologia concretizará
nossa ideia, tornando-a realidade.”
DUAS DÉCADAS serão o prazo máximo para que o
mundo contemple o pouso de uma missão tripulada
em Marte. Passear pelo planeta, no entanto, não é o
bastante: o bilionário sul-africano ElonMusk, fundador
da companhia de foguetes SpaceX, planeja estabelecer
colônias commilhares de pessoas noPlanetaVermelho.
Asobrevivência não será fácil, já que os pioneiros preci-
sarão de uma fonte segura de água, oxigênio e energia,
sem falar da necessidade de construção de abrigos con-
tra amortal radiação cósmica e solar. Éessahistóriaque
o jornalistanorte-americanoStephenPetranekcontaem
detalhes no livro De Mudança para Marte —A Corrida
paraExploraroPlanetaVermelho,publicadoemmaiono
Brasil. EmentrevistaàGALILEU,oautorcompartilhasuas
perspectivas sobre o futuro da humanidade no espaço.
QUEMNOS LEVARÁ PRIMEIRO PARAMARTE?
Os russos são capazes de fazer um humano pousar
emMarte, mas eles forammalsucedidos em aterrissar
uma simples sonda por lá, por isso não parecemmuito
empolgados. Se a China escolhesse apoiar incondicio-
DEMUDANÇA
PARAMARTE
Stephen Petranek
Editora Alaúde
136 páginas
FIG. 11 -FR
7MILHÕES
de pessoas começarama jogarOverwatch,
game de tiro online da Blizzard
EM 12 DIAS, MAIS DE
Ilustração: Estúdio Barca
Pg.20 07.2016
300MARTEcinemaDORYguerraDosmundos.indd 20 17/06/2016 19:53:16
Em 2016, todos os olhos estarão voltados para os Jogos Olímpicos, no Rio de 
Janeiro. Serão mais de 10 mil atletas, de 206 países, acolhidos pela alma carioca 
para projetar os valores do movimento Olímpico: respeito, amizade, excelência.
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20
16
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68ªReuniãoAnualdaSBPC
De 3 a 9de julho,
naUniversidade Federal do Sul da
Bahia (UFSB), emPorto Seguro (BA).
VenhaconheceroespaçodoMCTIC
10/06/16 16:23
99%É ESTRATÉGIA
Passatempo tradicional em países europeus, jogos
de tabuleiro chegamao Brasil em diferentes versões
á parou para pensar
no que um alemão
faz em seu tempo li-
vre? A maior convenção de jo-
gos de tabuleiro domundo, que
acontece na cidade de Essen,
oeste da Alemanha, é uma boa
dica. Lá, dados e cards são
coisas de adulto, e os desen-
volvedores de jogos têm uma
profissão consolidada: como
escritores, levam seus trabalhos
a editoras, onde as ideias são
refinadas antes de serem lan-
çadas. O público brasileiro, ape-
sar de pequeno, está crescendo:
“Só neste ano, as editoras bra-
sileiras já anunciaram entre 40
e 50 novos jogos”, conta Jaime
Daniel, gerente da FunBox,
a primeira ludolocadora do
país. Nesse espaço, há cente-
nas de títulos disponíveis para
os clientes, que podem alugar
ou comprar jogos. A pedido da
GALILEU, a equipe da loja au-
xiliou na seleção dos jogos que
merecem ser conferidos.
J
UMA IMAGEM VALE
MAIS QUE MIL PALAVRAS
O Dixit não possui tabuleiro ou dados;
é jogado apenas com figuras abstratas.
1º Em cada rodada, um jogador—cha-
mado narrador— escolhe uma carta e
descreve a ilustração comuma frase.
Os demais escolhemqual de suas car-
tasmais se aproxima dessa descrição.
2ºAcarta descrita pelo narrador
e os palpites dos jogadores são
embaralhados e colocados namesa.
Agora, todos devemadivinhar qual
das cartas foi descrita originalmente.
3º Se todos acertarema carta
correta, o narradorperde pontos.
Se ninguémacertar, ele perde
também.Adescrição precisa ser am-
bígua namedida certa para que
apenas umadversário acerte.
FLASH POINT
FUNBOX R$ 175
1 TINCO
DEVIR R$ 35
4
SUPERNOVA
LUDOFY R$ 120
QUISSAMA
LUDENS SPIRIT R$ 130
DIXIT
GALÁPAGOS R$ 130
2 5
6CATAN
GROW R$ 125
Futurista
No jogo, terráqueos emarcianos
disputam o PlanetaVermelho
àmedida que o sol se expande
e engole o Sistema Solar.
Colonização
Colonos recém-chegados à Ilha
de Catan disputam recursos
naturais e constroem civilizações
cada vezmais desenvolvidas.
Cooperação
No Flash Point não há competição.
Seis jogadores colaboram para
tentar apagar um incêndio e retirar
os ocupantes da casa comvida.
3
4
1
24
TEXTOBRUNOVAIANO
DENTRO
DA CAIXA
300consumoJOGOS.indd 24 17/06/2016 20:43:54
E AQUELE 1% É IMAGINAÇÃO
NosRPGs, o que vale é interpretar os personagens e construir
uma realidade que vai alémdas peças do tabuleiro
m 1974, dois fãs nor-
te-americanos do
jogo de tabuleiroWar
e do livro O Senhor dos Anéis
criaram
um jogo de mesa inu-
sitado: baseado em um livro de
regras, um narrador conduzia
uma jornada com personagens
de personalidades e sentimen-
tos distintos. Era oDungeons &
Dragons, RPG (sigla em inglês
para jogo de representação) que
ainda conta com uma legião de
aficionados: dois em cada três
norte-americanos que curtem
RPG jogam esse título.
“Esses são jogos sociais, pos-
suem poucos elementos físicos.
Geralmente há apenas fichas
para os personagens”, diz Jaime
Daniel, da FunBox. Tabuleiro é
item raro: a partida se desenro-
la com a imaginação dos joga-
dores, não tem final previsível
nem hora para acabar. É a força,
a inteligência e o carisma de
cada personagem que decidi-
rão os resultados das ações.
E
COISA DE GENTE GRANDE
Voltado a um público mais velho, alguns
RPGs têm venda proibida a menores
FOREVER ALONE
O livro-jogo é uma espécie de RPG solo: uma obra de
ficção emque o jogadordecide o destino dos persona-
gens conforme lê, alcançando diversos finais possíveis.
EDUCATIVO
OMinistério da Educação recomenda oRPG como
atividade emaulas de língua portuguesa no En-
sino Fundamental, já que ensina noções bási-
cas de narrativa e estímulo à cooperação.
COISA DE CRIANÇA?
OsRPGs, apesar de não seremobras audiovisuais,
possuem classificação indicativa fornecida peloMinis-
tério da Justiça.Muitos são proibidos paramenores.
Histórico
O jogo conta a história de
Quissama, escravo brasileiro
que foge para encontrar sua
mãe e é auxiliado por um
agente da ScotlandYard.
Caótico
OTinco não possui tabuleiro.
A cada rodada, jogadores
trocam cartas entre si aos
berros. Vence quem acumular
cinco iguais primeiro.
Se vira
ODixit é um exercício de
imaginação e destreza
verbal. Ganha quem injetar a
dose certa de ambiguidade
na descrição de suas cartas.
5
6
3
2
25
FORA
DA CAIXA
FOTOTOMÁSARTHUZZI
300consumoJOGOS.indd 25 17/06/2016 20:43:59
*Com reportagem de Cartola Agência de Conteúdo | Foto: Tomás Arthuzzi/Editora Globo
Fontes:Dr. Valentino Magno – Doutor emMedicina (UFRGS); Felipe Cidade Torres – Doutor em Ciências Farmacêuticas (UFRGS)
OMOVIMENTO É SEXY
Horademolharobiscoito?Mesmasubstânciaéencontrada
nabolachaenolubrificante—PORGABRIELACAVALHEIRO*
a Grécia Antiga, o azeite de
oliva já era utilizado para faci-
litar a penetração. Algum tem-
po depois, no século 16, os japoneses
passaram a usar óleos feitos com vege-
tais como o inhame. E, hoje, cabe ao gel
lubrificante íntimo produzido em labo-
ratório a função de tornar as relações
sexuais menos doloridas.
O lubrificante vendido na farmácia foi
criado, na verdade, apenas para tornar
os exames ginecológicos menos desa-
gradáveis para as pacientes. Mas, como
ele conseguia imitar perfeitamente a
lubrificação natural do corpo humano,
logo ganhou novas funções entre qua-
tro paredes. O gel é recomendado para
pessoas que têm dificuldade de lubri-
ficação íntima ou que querem sim-
plesmente tornar a experiência se-
xual mais prazerosa. Durante o sexo,
a parte aquosa do produto tende a
ser absorvida pela pele e, caso não
se consiga a lubrificação, pode
ser necessário aplicá-lo mais
de uma vez. Por ser incolor,
sem cheiro e não ser a base
de óleo, o lubrificante ínti-
mo não mancha lençóis
e (muito importante)
não diminui a efi-
cácia do látex das
camisinhas.
N
Na Grécia Antiga,
até azeite de
oliva foi usado
para facilitar a
penetração
PROPILENOGLICOL
É o principal
responsável pela
lubrificação e
também pode ser
encontrado em
biscoitos, cremes
hidratantes e ali-
mentos coloridos
artificialmente.
C
6
H
1
O
8
ÁGUA
Base do lubrificante
KY, tem a função de
diluir e unir todas
as substâncias que
formamo gel íntimo.
H
1
O
8
GLICERINA
Presente
em diversos
cosméticos, é
responsável por
garantir que o
gel não resseque.
C
6
H
1
O
8
HIDROXIETIL-
CELULOSE
O produto é um
derivado da
celulose que foi
modificado em
laboratório. É o
que dá consis-
tência ao gel e
o torna similar
à lubrificação
natural humana.
C
6
H
1
O
8
FOSFATO
MONOBÁSICO
DE SÓDIO E
FOSFATODIBÁ-
SICO DE SÓDIO
RegulamopHda
fórmula paraque
fiquede acordo
comodo corpo
humano. Sem
eles, o lubrifican-
te queimaria as
partes íntimas.
O
8
P
15
H
1
Na
11
METILPARABENO
E PROPILPA-
RABENO
Agem como
conservantes,
impedindo a pre-
sença de fungos
e bactérias no
produto. São bas-
tante usados em
remédios, cosmé-
ticos e alimentos.
H
1
C
6
O
8
ÁCIDO LÁCTICO
Asubstância é a
responsável pela
sensação de calor
apresentada por
algumasmarcas.
Ela esquenta
porque provoca o
aumento do fluxo
sanguíneo nos
órgãos sexuais.
C
6
H
1
O
8
ELEMENTAR
26
H
OC
300ElementarLubrificantes.indd 26 17/06/2016 16:34:10
Construídascombaseeminteressespolíticoseeconômicos,asmetrópoles
brasileirasnãoforammoldadasdeacordocomasnecessidadesdapopulação
cheiro de pipoca doce no ar.
O Museu da Imagem e do Som
(MIS), em São Paulo, comemora
o sucesso de uma mostra sobre a
série infantilCastelo Rá-Tim-Bum.
Localizado no bairro residencial
Jardim Europa, a instituição rece-
beu ônibus lotados de crianças de
escolas públicas e particulares para
visitar a atração, inaugurada no se-
gundo semestre de 2014. Os mo-
radores, porém, não gostaram nem
um pouco da iniciativa. “O museu
está destruindo parte do bairro”,
disse ao jornalOEstado de S. Paulo
Maria Aparecida Brecheret, organi-
zadora de um abaixo-assinado con-
tra oMIS. “A rua já foi considerada
a mais bonita do bairro, estamos
desesperados.” Na região, uma das
mais valorizadas da cidade, o preço
dometro quadrado é estimado por
imobiliárias em R$ 17 mil.
A polêmica é local, mas simbó-
lica: a disposição física da capital
favorece determinados grupos so-
ciais e acentua as desigualdades —
do momento em que a prefeitura
reforma o asfalto das ruas de um
bairro nobre e negligencia a cole-
ta de lixo nas periferias até a se-
leção de regiões para que grandes
grupos econômicos realizem seus
investimentos. “A capacidade de
fazer e refazer nossas cidades e a
nósmesmos é, aomesmo tempo, o
mais precioso e negligenciado dos
direitos humanos”, afirma David
Harvey, geógrafo britânico, no livro
Cidades Rebeldes. O trânsito inter-
minável, a sensação de inseguran-
ça e a falta de opções populares de
lazer e cultura são sinais de que as
metrópoles não foram construídas
para a maioria da população. Mas
isso não significa que desenvolver
um projeto de cidade mais partici-
pativo seja uma tarefa impossível.
CIDADE?
QUEMÉ ADE
27
dossiê urbanismo
textobrunovaiano
ilustraçÃovini valente
Design joÃopeDrobrito
eDiçÃo thiago tanji
300DossieCidadesVB.indd 27 17/06/2016 20:31:16
N
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1950 2010
BRASíLIA
1960 2010
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1991
20
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0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
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0,9
são pau lo •
fo
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al
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e
brasília • df
CADÊMINHA FRAÇÃO?
O
ANOé 1879. frederico
Glette, imigrante ale-
mão, é proprietário do
Grande Hotel, o mais
luxuoso do Brasil. Seu
parceiro de negócios, Vítor
Nothmann, é um rico sócio
da cervejaria Stadt-Bern. Na
época, o ciclo do café e o fim
da escravidão aceleraram o
processo de imigração de
milhares de europeus, que
lotavam cortiços com péssi-
mas condições sanitárias lo-
calizados nas áreas centrais
da cidade de São Paulo. A
população da capital atingiu
240 mil pessoas em 1900,
e a elite paulistana saiu em
busca de ruasmais arejadas.
Nothmann e Glette não
perderam tempo dian-
te dessa nova realidade.
Compraram uma cháca-
ra a oeste do centro, traça-
ram terrenos com espaço
para mansões e jardins e
venderam os lotes para os
barões que não queriam
morar tão perto
dos traba-
lhadores. Chamaram o bair-
ro de Campos Elíseos. Que
aposta: em São Paulo Antigo,
obra de Antônio Egídio
Martins publicada em 1911,
os resultados rentáveis da
dupla alemã são exibidos.
“foram despendidos com a
abertura dessas ruas e ala-
medas cerca de 100 contos,
e apurados na venda dos lo-
tes de terrenos perto de 800
contos.” Um lucro de 800%.
Mais de um século depois,
pouco mudou. “Os proprie-
tários de terra ganhammui-
to dinheiro disputando en-
tre si os melhores pontos
de crescimento da cidade”,
diz JoãoMeyer, professor da
faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP. Hámui-
tos exemplos de Glettes e
Nothmanns Brasil afora, que
veem crescer suas fortunas
com amanipulação da legis-
lação urbana para que bair-
ros avancem em suas terras.
Quando há obstáculos para a
expansão urbana, a tendên-
cia é concentrar mais gente
no mesmo espaço: então, o
poder sai das mãos dos do-
nos de terras e passa para in-
corporadoras e construtoras.
é o caso de Balneário
Camboriú, em Santa
Catarina, cuja faixa litorâ-
nea de 5 quilômetros atrai
arranha-céus residenciais
de mais de 40 andares.
As sombras dos prédios
criam corredores frios nas
ruas e, por ironia, escondem
o sol dos banhistas que visi-
tam a praia, localizada pró-
xima a uma área de preser-
vação ambiental. “A cidade
precisa de incorporadores,
mas é necessário orientar
sua força”, diz Meyer. “Há
metrópoles que atingiram
um grau de complexidade
social tão alto que existem
questionamentos sobre essa
atividade imobiliária.”
… a ciDaDe só cresce
ACIDADE
sóCrEsCE
Asmetrópoles brAsileirAs se expAndem
de ACordo Comos rumos ditAdos por
proprietários de terrA e inCorporAdorAs
nAs CinComAiores CidAdes brAsileirAs,
A quAlidAde de vidA Aumentou nos últimos
25 Anos, mAs A desiguAldAde persiste
Fontes: Atlas do Desenvolvimento Urbano no Brasil – PNUD, 2013;
Censos Demográficos – IBGE
CAlor HumAno
Para trás, nem para pegar
impulso. Nos anos 50,
São Paulo era conhecida
como a cidade que mais
crescia no mundo. Veja a
evolução da população
das maiores capitais.
idHm
índiCe de gini
(Índice de Desenvolvimento
HumanoMunicipal)
Avalia a qualidade de vida de uma
cidade com base em indicadores
como saúde, educação e renda.
Quanto mais próximo de 1, melhor a
situação social do local analisado.
É um indicador de
desigualdade. Quanto
mais próximo de
0, mais igualitária
é a cidade. Valores
próximos de 1
revelam péssima
distribuição de renda.
28
300DossieCidadesVB.indd 28 17/06/2016 20:31:16
SãO PAULO
1950 2010
riO De jAneirO
1950 2010
SALvADOr
1950 2010
são paulo • sp
474.344 293.621
brasília • df
126.169 62.977
salvador • ba
106.415 77.945
rio de janeiro • rj
220.774 193.682
fortaleza • ce
95.166 53.327
2000
200
0
2000
20 00
1991
1991
2010
2010
20
10
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
o pau lo • sp
salvador
• ba
rio
de j
ane
iro
• rj
… e o De baixo Desce
As periferiAs CresCemmAis por fAltA
de dinHeiro do que por fAltA de espAço
P
éSSiMA distribuição
de renda e rápido cres-
cimento são uma com-
binação que, aliada a
interesses imobiliários,
dá o retrato das metrópoles
brasileiras. Quando há terra
disponível por preço razoá-
vel em regiões distantes do
núcleo urbano, ela é ocupa-
da pela parcela da popula-
ção que não pode pagar um
imóvel em uma área central.
A distância do emprego e dos
serviços aumenta, e o poder
público não é capaz de ex-
pandir linhas de ônibus, rede
elétrica, de água e esgoto na
velocidade e qualidade neces-
sárias. O resultado são con-
dições precárias de habitação
e cidades que crescem pelas
bordas, sem aproveitar os
espaços intermediários. Para
vanessa nadalin, do instituto
de Pesquisa econômica
Aplicada (ipea), Brasília é um
bom exemplo dessa situação.
“As cidades que mais cres-
cem estão no entorno, prin-
cipalmente em Goiás, onde
o preço dos imóveis é de um
décimo do valor encontrado
no Distrito Federal”, afirma.
“Mas elas estão a mais de 60
quilômetros da capital.”
CADA VEZ MAIS LONGE
sAudosA mAloCA
legendA
Como ler o gráfiCo
*O déficit habitacional representa o número de habitações que seria necessário para
abrigar famílias sem-teto e pessoas que vivem em residências com situação precária
10 mil domicílios
Déficit habitacional*
Domicílios vagos
Número de domicílios vagos é alto, mas não supera déficit habitacional
R$ 100 R$ 5.000
R$ 200 R$ 4.000
R$ 1.000 R$ 3.000
R$ 2.000
IDHMÍndice de Gini
Renda
per capita
dos 20%
mais ricos
Renda
per capita
dos 20%
mais pobres
Fontes: Déficit Habitacional Municipal no Brasil – Fundação João Pinheiro, 2010;
Censo Demográfico – IBGE, 201029
300DossieCidadesVB.indd 29 17/06/2016 20:31:17
o plAno diretor orientA
A AtuAção de Agentes
públiCos e privAdos nA
Construção dA CidAde
ComA CriAção
de umplAno
diretor, As
CidAdes são
mApeAdAs em
regiões Com
prioridAdes
e objetivos
diferentes
Bairros residenciais nobres
costumam ser avessos à
presença de comércio e à
circulação a pé. Durante
o zoneamento, há uma
disputa entre quem não
quer alterar essa situação
e os defensores da
diversificação dos espaços.
Em Salvador, Fortaleza e
São Paulo é chamada "área
de urbanização consolida-
da". Corresponde a bairros
com prédios comerciais e
residenciais, lojas, serviços
públicos e infraestrutura de
transportes. Em geral, con-
centram emprego e são alvo
de deslocamentos diários.
Áreas industriais e portuárias anti-
gas, próximas a rodovias e ferrovias.
Nessas regiões, o objetivo é renovar
a atividade econômica, aproveitan-
do a infraestrutura viária já existente,
e aumentar a densidade habitacional.
CADAuMNOseuquADRADO
ostentAção1 1
áreA nobre2
2
6
gAlpões3
E
M 2011, após quase dez anos
de discussões sobre o Plano
Diretor (PDDU) de salvador,
um susto. Uma versão do pro-
jeto de lei aprovada pelo pre-
feito João Henrique (PP) entregava
a cidade ao mercado imobiliário,
autorizando um aumento de até
50% na altura dos prédios cons-
truídos na orla e extinguindo áreas
de proteção ambiental. A pressão
popular levou o tribunal de Justiça
a emitir uma liminar de suspen-
são dos artigos inconstitucionais.
Essa não era a primeira vez que
a aprovação da lei enfrentava di-
ficuldades. “o Plano Diretor de
2004 foi aprovado pela Câmara
mesmo com questionamentos
formais do Ministério Público da
Bahia. Mas o PDDU de 2008, re-
sultado da revisão, apresentava
mais problemas que o anterior",
diz thais Rebouças, pesquisadora
da Universidade federal da Bahia.
Apesar de parecer um mistério
para a maior parte da população,
o papel do Plano Diretor é guiar
o crescimento de uma cidade com
base em critérios técnicos e prio-
ridades socioeconômicas, como
garantir o uso adequado do solo
e evitar a retenção especulativa
de imóveis. Desde a promulgação
da Constituição de 1988, é obri-
gatório que cidades com mais de
20 mil habitantes elaborem um
Plano Diretor, definido como um
instrumento básico de desenvolvi-
mento de acordo com o Estatuto
da Cidade, lei federal de 2001 que
regulamenta a política urbana.
UM OLhO NO GAtO,
O OUtrO NO pEIxE
3
30
300DossieCidadesVB.indd 30 17/06/2016 20:31:26
leis de zoneAmento e
uso do solo AjudAm
o plAno diretor A
ColoCAr ordemnA CAsA
O
Plano Diretor não tra-
balha sozinho. Há leis de
caráter mais técnico que o
acompanham, como a lei
de zoneamento, responsá-
vel pela definição do que pode ou
não ser construído em cada lugar.
entre os indicadores da lei estão
o coeficiente de aproveitamento
do terreno, que limita a área útil
de um prédio, e a taxa de ocupa-
ção, que garante uma distância
razoável entre a fachada do edifí-
cio e a rua. esse tipo de limitação
evita, por exemplo, a superlotação
do sistema viário
de uma região.
Definir isso, porém, não de-
pende só de boas intenções.
“Uma decisão da Câmara de
Vereadores pode duplicar o coe-
ficiente de aproveitamento de
um terreno, dobrando, portanto,
o total permitido de área cons-
truída”, explica renato Saboya,
professor de arquitetura da
Universidade federal de Santa
Catarina (UfSC). “isso pode re-
presentar um aumento de vários
milhões no lucro da incorporado-
ra que construirá um prédio ali.”
Sem audiências públicas, a bus-
ca pelo lucro pode dar o tom em
relação à qualidade de vida dos
moradores da região. e não para
por aí: além de guiar o setor pri-
vado e ouvir a população, o poder
público também precisa ser proa-
tivo. “é importante que o plano,
como um todo, oriente as ações
da prefeitura”, afirma Saboya.
a nós, resta ficar de olho.
Subúrbios residenciais com pequenos
prédios e comércio concentrado nas
avenidas principais. Não apresentam
problemas graves de infraestrutu-
ra, mas precisam de investimentos.
Localizadas às margens
de represas e reservas
ambientais, nos limites
das metrópoles, essas
áreas precisam equilibrar
a resolução de problemas
socioeconômicos e a
preservação ambiental.
Na cidade de Fortaleza,
por exemplo, são
caracterizadas como "zonas
de ocupação moderada".
Áreas destinadas à pre-
servação ambiental estão
no Plano Diretor da maior
parte das cidades. Nessas
regiões estão localizados
parques, reservas naturais
e mananciais com ecossiste-
mas inalterados.
Favelas são áreas de
alta vulnerabilidade,
consideradas, em muitas
cidades, Zonas Especiais
de Interesse Social
(Zeis). Devem receber
investimento prioritário
em infraestrutura.
residenCiAl4
4
quAse lá6
Ar puro77
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5
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zonA!
Fontes: Lei no 16050/14 - PDE de São Paulo; Lei no 7400/2008 - PDDU de Salvador; Lei no 062/2009 - PDP de Fortaleza
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queMÉque
MANDAAquI?
DepOsIte suAsugestÃO
ConselHos
de polítiCAs
públiCAs
fisCAlizAm
A AtuAção
do estAdo
S
e você Deseja ter voz em
relação a decisões que afe-
tarão a saúde, a educação
ou até o meio ambiente de
sua cidade, o que não faltam
são oportunidades de participar
dessas discussões de maneira di-
reta. o Brasil possuía, em 2009,
43.156 conselhos de gestão de po-
líticas públicas, mais de oito por
município, em média. é um nú-
mero que cresce desde o início do
processo de redemocratização, em
1986. nem tudo são flores, porém.
a maior parte dos conselhos
ainda não é de instituição obriga-
tória. e muitas das votações, na
prática, não atraem a população
nem geram resultados notáveis.
“é algo formal, acadêmico. faltam
estratégias para alcançar mais pes-
soas, já que não é todomundo que
está acostumado ao formato”, afir-
ma a urbanista Laura sobral. ela
é presidente da organização sem
fins lucrativos a cidade Precisa
de você, que pesquisa e desen-
volve ações em espaços públi-
cos. sobral também participa da
comissão de Proteção à Paisagem
Urbana (cPPU) de são Paulo, ór-
gão autorizado a tomar decisões
independentemente de instâncias
superiores — algo raro, segundo a
urbanista, que apoia a atuação em
frentes múltiplas. “fazem falta ins-
tâncias colaborativas e conselhos
deliberativos”, diz. “é necessária
a atuação do pessoal que gosta de
ir a esses conselhos, mas também
daqueles que ocupam as escolas.”
ana carolina nunes, articulado-
ra do sampapé, movimento que
estimula caminhadas pela cidade,
concorda. “cada um cria a pró-
pria maneira de fazer a cidade”,
afirma. “Há militantes que atuam
em conselhos participativos, mas
há quem não consiga encaixar sua
pauta e sua forma de trabalhar.”
ConselHospArtiCipAtivosdividemespAçoComnovos
projetosde intervençãoeoCupAçãodoespAçourbAno
MãonAMAssA
UM conseLHo De gestão De PoLíticas PúBLicas
é um colegiado criado por iniciativa do estado que inclui membros
da sociedade civil e do poder público. em geral, qualquer cidadão
que possua um título de eleitor pode ser conselheiro — a função
não é remunerada. a ideia é permitir que a população fiscalize a
aplicação de recursos públicos de uma determinada área, sugerindo
alterações e melhorias. esses conselhos costumam ser temáticos:
de mobilidade, saúde, educação, meio ambiente e direitos huma-
nos. Muitos deles são paritários e bipartites — quando há igual
representação de membros do estado e da sociedade. em outros
casos, são tripartites ou múltiplos, em que existem diferentes gru-
pos representados durante os momentos de discussão.
Antes de ir para
a Câmara de
Vereadores ,
o plano deve
passar por
revisão popular
Conselheiros
Temáticos
Regionais
Esse modelo
é o adotado em
Porto Alegre
desde 1989
Consultivo
mnlm
Movimentos
estaduais e
municipais
elAborAção
Apresentação
da proposta
Revisão
participativa
Aprovação
na Câmara
Fontes: Instituições Participativas e Desenho Institucional, Leonardo Avritzer, 2008; Mapeamento de
Institucionalização dos Conselhos Gestores de Políticas Públicas nos Municípios Brasileiros, Danitza Buvinich, 2013
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oorçAmentopArtiCipAtivo
permitequeopovo
deCidApArAondevAio
dinHeirodA prefeiturA
INVEStIMENtO
DEMOCrátICO
Um conselho
vinculado é o que
está diretamente
associado a
um programa
governamental
Em Porto Alegre,
gestores locais
são responsáveis
pelos Centros
Administrativos
Regionais (CAR)
Há ONGs mais
hierárquicas
e outras de
organização
horizontal
soCiedAde
governo
Fórum de delegados
bipArtite tripArtite
trAdiCionAis
AlternAtivAs
Vinculado Não vinculado
Paritário
Deliberativo Fiscalizado Normativo
R
econHeciDo pelo Banco
Mundial como referência
internacional em participa-
ção popular, o orçamento
Participativo (oP) de Porto
Alegre é, desde 1989, um exemplo
de Brasil que dá certo. A prática
iniciada na capital gaúcha já foi
adotada em mais de 200 municí-
pios brasileiros e inspirou políti-
cas de transparência administra-
tiva em cidades comoMontevidéu
e Barcelona. em um ciclo anual de
reuniões e votações (veja gráfico
ao lado), a população elege dele-
gados e conselheiros, que atuam
por região ou por tema e definem
o destino das verbas públicas.
A prática, agora, pode se benefi-
ciar de ferramentas digitais.
é o caso da cidade de Santos, no
litoral paulista, que retomou seu
oP em 2013 e adotou o aplicativo
colab.re para conduzir o processo
online a partir deste ano. “Há um
tempo de assimilação necessário.
é uma prática inovadora — esse é
um ano de experiência”, diz o pre-
feito de Santos, Paulo Alexandre
Barbosa (PSDB). A parcela des-
tinada ao oP ainda é pequena:
R$ 10 milhões, ou 0,4% do or-
çamento da cidade. Por meio do
aplicativo, é possível escolher uma
série predeterminada de obras em
que os recursos serão aplicados.
o prefeito promete, depois da
experiência, ampliar a parcela do
orçamento destinada ao oP. Até
agora, só 6 mil cidadãos participa-
ram do processo, o equivalente a
1,4% da população santista.
mo
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en
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orçamento
participativo associações De
moraDores
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ra
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os
conselhos De
políticas públicas
auDiências De
plano Diretor
múltiplo
Coordenadores
temáticos
Secretaria Municipal
de Planejamento
Estratégico e Orçamento
Gestores locais
Secretaria Municipal
de Governança Local
Prefeitura
estado
Não paritário
Obrigatório Não obrigatório
ComoAsoCiedAdeCivilserelACionA
ComoestAdopArAplAnejArACidAde
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300DossieCidadesVB.indd 33 17/06/2016 20:31:38
Porcentagem de municípios
brasileiros com políticas
de acessibilidade
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25%
75%
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