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Sociologia (LA)

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SOCIOLOGIA • volume únicoSOCIOLOGIA • volume único
• 3
Caro estudante,
todos os dias, certamente, você ouve frases como estas: “antigamen-
te era diferente”, “naquele tempo era melhor”, “a gente construía 
os próprios brinquedos”, “os vizinhos conversavam mais”, e tantos 
outros ditos, impossíveis de elencar nesta breve apresentação. De 
fato, vivemos em um mundo diferente, que se modifi ca em uma 
velocidade antes inimaginável. Além das mudanças aceleradas nas 
últimas décadas, as sociedades deparam com desafi os e problemas 
de grandes dimensões, muitos dos quais criados pelos seres huma-
nos em convivência, como veremos ao longo deste livro.
Apesar das mudanças, há coisas que permanecem, e uma delas 
é o próprio fato de as sociedades continuarem existindo, de as pes-
soas criarem laços entre si, tecerem planos e os executarem. Por 
exemplo, é cada vez mais comum as pessoas utilizarem sites de rela-
cionamentos na internet para manter contato com os amigos e a 
família, ou para conhecer outras pessoas. O que faço e como vivo, 
meu comportamento e estilo de vida fazem parte da minha indivi-
dualidade, que foi construída nos processos de interação e sociali-
zação pelos quais passei. Essa convivência na família, na escola, no 
grupo de amigos também tem relação com os processos históricos, 
econômicos, políticos, sociais e culturais mais amplos. Assim, so-
mos produtores da sociedade e também somos produzidos por ela; 
nossas atitudes modelam o mundo social e são por ele modeladas. 
Investigar essas conexões entre o que a sociedade faz de nós e o 
que fazemos de nós mesmos é justamente um dos trabalhos da So-
ciologia, segundo o sociólogo contemporâneo Anthony Giddens.
Estudar a vida social humana é o objeto das Ciências Sociais. 
Entrar em contato com elas, no entanto, pode nos tirar do 
nosso ponto de vista habitual, desacomodando nossas ideias e 
provocando nossa ação. O pensar das Ciências Sociais nos 
convida a ir além das aparências e daquilo que nos é familiar; 
questiona-nos quanto ao que tomamos como natural e inevitável 
na vida em sociedade. Diferentemente do senso comum (um co-
nhecimento prático, do cotidiano), a Antropologia, a Ciência Polí-
tica e a Sociologia nos possibilitam sair do nosso mundo particular 
e apreender as múltiplas dimensões da política, da economia, da 
cultura, da sociedade propriamente dita.
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Nas páginas deste livro você mergulhará na 
sociedade contemporânea, buscando pensar e 
cultivar a “imaginação sociológica”, como diz Wright 
Mills. Será que compreendendo nós mesmos teremos 
condições de compreender os outros? Entre os temas 
deste livro, você verá a ciência, o trabalho, a cultura, a polí-
tica, os movimentos sociais e as instituições, como a família, a 
escola, o Estado, a religião. É claro que você e sua juventude 
também estão contemplados nessa análise, bem como a preocu-
pação premente e atual com as condições do meio ambiente. 
 Todas as questões que esses temas propõem às Ciências Sociais, 
sobretudo ao entreverem situações de desigualdades, conduzem a 
processos de construção da cidadania, vislumbrando nossos direi-
tos e deveres.
Para que você percorra essa trilha com ânimo para explorá-la, 
cada capítulo está entremeado com atividades que levam à reflexão e 
apresenta sugestões de leituras, filmes e sites para suas aventuras inves-
tigativas. Nesse sentido, algumas pistas vêm na forma de proposições 
teóricas e de conceitos inter-relacionados destacados em negrito no 
texto. De posse desse material, o seu trabalho de construção do co-
nhecimento ficará a cargo da sua leitura atenta e das discussões e 
debates com os colegas e o professor. Portanto, prepare-se para uma 
leitura ativa em que você é o protagonista. Suas investidas serão de 
aproximação dos textos, análise das questões levantadas, estímulo ao 
desenvolvimento da crítica social, cruzamento de informações, inda-
gações pertinentes e espaço para as suas dúvidas. Você está em pro-
cesso de descoberta de sua identidade, e acreditamos que este livro 
trará contribuição nesse sentido.
Apaixone-se pelas Ciências Sociais, pois ciência é também pai-
xão na persistência dos métodos, perseguição de objetivos e curio-
sidade sempre alerta. Bom estudo!
Salmo Dansa/Arquivo da editora
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 Sumário
Capítulo 1 – Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente 9
As transformações da sociedade e as Ciências Sociais 10
As primeiras inquietações da Sociologia 12
A Sociologia se preocupa com a desigualdade social 14
As teorias de classe e a estratificação social 17
Desigualdade social e dominação 21
Globalização e novas questões sociais 27
O trabalho como grande questão social da globalização 31
Sociologia, uma ciência que articula conhecimentos 33
Diálogos interdisciplinares 34
Revisar e sistematizar 34
Descubra mais 35
Bibliografia 35
Capítulo 2 – Sociologia: uma ciência da modernidade 37
Nossa vida em sociedade 38
Uma ciência originada da transformação 40
Nasce a Sociologia 42
Senso comum e ciência 46
Métodos para pensar a realidade social 47
O positivismo na proposta de Comte 47
Durkheim e um método próprio para a Sociologia 48
A dialética como método de análise 49
O objeto de estudo da Sociologia 49
Durkheim e a análise dos fatos sociais 50
Weber e a compreensão da ação social 52
Marx analisa a realidade histórica 53
A produção teórica dos clássicos da Sociologia 55
A integração social sob o olhar de Durkheim 55
Teoria da ação social em Weber 55
Marx e a teoria da acumulação 56
Teorias e métodos das Ciências Sociais no século XX 58
Diálogos interdisciplinares 60
Revisar e sistematizar 61
Descubra mais 62
Bibliografia 62
Capítulo 3 – a família no mundo de hoje 65
As muitas configurações da família 66
A família como instituição social 68
A família patriarcal no Brasil e seus desdobramentos 71
A família como espaço de reprodução social 73
As Ciências Sociais observam a família 75
Famílias em transição 76
Movimentos de mulheres e relações familiares 78
O que há de novo nas famílias? 80
As relações familiares transformadas e os jovens 82
Diálogos interdisciplinares 84
Revisar e sistematizar 87
Descubra mais 87
Bibliografia 88
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6 • SUMÁRIO6 • 
Capítulo 4 – trabalho e mudanças sociais 89
O trabalhador e o trabalho 90
O sentido do trabalho 91
Organização do trabalho no século XX 95
Trabalhador: a chave dos sistemas flexíveis de produção? 100
Novo perfil do trabalhador 102
O trabalho é central na vida em sociedade contemporânea? 105
O trabalho em crise 105
Os sindicatos e seus desafios na atualidade 107
O labirinto do mercado de trabalho 110
Desigualdades no mercado de trabalho: questões de gênero e étnico-raciais 112
Diálogos interdisciplinares 115
Revisar e sistematizar 116
Descubra mais 117
Bibliografia 117
Capítulo 5 – a cultura e suas transformações 119
Comunicação e cultura 120
O que é cultura? 122
Cultura e civilização 124
O relativismo cultural 126
Nós e os outros 127
Diversidade cultural na sociedade brasileira 132
As dinâmicas culturais 136
Mudanças culturais na sociedade global 137
Indústria cultural e práticas sociais 140
A cultura que se mundializa 142
Diálogos interdisciplinares 145
Revisar e sistematizar 146
Descubra mais 146
Bibliografia 147
Capítulo 6 – Sociedade e religião 149
A religião como instituição social 150
A religião na visão dos autores clássicos da Sociologia 153
Auguste Comte 153
Émile Durkheim 154
Max Weber 154
Karl Marx 155
A religião
em tempos de globalização 156
Fundamentalismo religioso 159
Desfazendo mitos 160
Conflitos religiosos no mundo 161
A religiosidade no Brasil 164
Diálogos interdisciplinares 167
Revisar e sistematizar 168
Descubra mais 168
Bibliografia 169
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SUMÁRIO • 7
Capítulo 7 – Cidadania, política e Estado 171 
Cidadania é uma conquista 172
As origens dos conceitos de cidadão e cidadania 173
Políticas públicas: dilemas da cidadania 176
Condições da cidadania no Brasil 179
Poder e política: exercício e participação 182
Cidadania: entre o público e o privado 184
Estado e sociedade 186
Estado e governos 190
Duas visões sobre a atuação do Estado capitalista 192
Autoritarismos e totalitarismos: ameaças à cidadania 194
Diálogos interdisciplinares 196
Revisar e sistematizar 196
Descubra mais 197
Bibliografia 197
Capítulo 8 – Movimentos sociais 199
Movimentos sociais na pauta das Ciências Sociais 200
Características dos movimentos sociais 204
A questão da identidade 205
Breve história dos movimentos sociais 207
Os movimentos operários 207
Temas e protagonistas dos movimentos sociais contemporâneos 208
A emergência dos movimentos sociais no Brasil: 
contestação ao Estado autoritário 210
Movimentos sociais latino-americanos e o Estado neoliberal 213
A exclusão social e os movimentos sociais na atualidade 215 
As muitas configurações da exclusão 215
Movimentos sociais na era da globalização 217
Diálogos interdisciplinares 220
Revisar e sistematizar 221
Descubra mais 221
Bibliografia 222
Capítulo 9 – Educação, escola e transformação social 223 
Educação e sociedade 224
A educação na história 226
Sociologia e educação 227
A escola como espaço de socialização 228
Além dos portões da escola 229
Sistemas escolares e reprodução social 230
Educação para o presente 234
Concepções da educação no Brasil 235
Problemas e dificuldades da escola brasileira no século XX 237
Desafios do ensino no Brasil 239
Educação e ensino: um direito 243
Diálogos interdisciplinares 244
Revisar e sistematizar 244
Descubra mais 245
Bibliografia 245
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Capítulo 10 – Juventude: uma invenção da sociedade 247
As juventudes 248
Ritos de passagem para a fase adulta 250
Juventude: um tempo de preparação e responsabilidades 251
Sociologia e juventude por Mannheim 253
O conceito de geração 257
Jovens e identidade nos grupos sociais 258
O jovem na sociedade brasileira 260
O que deseja a juventude brasileira? 263
Juventude contemporânea 264
Desafi os para os jovens de hoje 266
Diálogos interdisciplinares 268
Revisar e sistematizar 269
Descubra mais 269
Bibliografi a 269
Capítulo 11 – o ambiente como questão global 271
A relação ser humano-natureza 272
Sociedade de risco 276
Ecossistemas e globalização 280
Inovação: benefícios ou malefícios? 284
Desenvolvimento capitalista e meio ambiente 287
Sociedade sustentável: equilíbrio entre ser humano e natureza? 290
Diálogos interdisciplinares 293
Revisar e sistematizar 293
Descubra mais 294
Bibliografi a 295
índice remissivo 296
Questões do Enem 301
8 • SUMÁRIO
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Capítulo 1
Viver na sociedade contemporânea:
a Sociologia se faz presente 
ESTUDAREMOS NESTE CAPÍTULO:
 o papel e as estratégias da Sociologia no estudo da sociedade contemporânea. Ciência ocupada com o seu tempo, a 
Sociologia tem como tarefa central mostrar que fenômenos como as desigualdades, a pobreza e a estratifi cação social 
não são “naturais”, e sim sociais. Ao desnaturalizar os fenômenos, as Ciências Sociais – Sociologia, Antropologia e Ciên-
cia Política – procuram explicá-los, desvendando os mecanismos de dominação social. Nas páginas que seguem, você 
é convidado a se colocar também como um sujeito que indaga, refl ete e investiga a sociedade em que vive.
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10 • CAPÍTULO 1
As transformações da sociedade e as Ciências Sociais 
De algum modo todos participamos das coisas que acontecem no mun-
do, seja por que as estudamos, seja por estarmos atentos ao que acontece 
à nossa volta: um show da banda preferida, a última eleição municipal, um 
desastre aéreo, a safra de milho ou de café que está escoando pelas estra-
das e portos brasileiros, a reforma da escola, a recente crise econômica na 
Europa, entre tantos outros acontecimentos.
No caminho para a escola, mesmo sem querer, você vai se inteirando do 
que ocorre com notícias que martelam seus ouvidos na emissora de rádio 
sintonizada, que circulam nas conversas nas ruas e pontos de ônibus, que 
aparecem nas capas de revistas e jornais nas bancas. É um verdadeiro bom-
bardeio com informações que nos dizem e não nos dizem respeito. 
A TV, o rádio, a internet nos colocam a par dos acontecimentos e produ-
zem, eles próprios, outros acontecimentos. Tudo ganha dimensões gigantescas, 
interligadas, parecendo fugir ao nosso controle. Mas como se chegou a esse 
ponto? É preciso ter em mente que vivemos em sociedade. Isso signifi ca que 
participamos de um complexo conjunto de grupos sociais que mantêm laços 
entre si pela língua, pela cultura e pelas relações pessoais, produtivas e de traba-
lho entre os indivíduos. Assim, indivíduo e sociedade infl uenciam um ao outro 
o tempo todo. O sociólogo francês Edgar Morin (1921-) mobiliza nossa com-
preensão sobre a relação indivíduo/sociedade que vai se apresentar nos capítu-
los deste livro, e que diz respeito à nossa própria forma de organização social.
O ser humano define-se, antes de tudo, como trindade indivíduo/socieda-
de/espécie: o indivíduo é um termo dessa trindade. Cada um desses termos 
contém os outros. Não só os indivíduos estão na espécie, mas também a espécie 
está nos indivíduos; não só os indivíduos estão na sociedade, mas a sociedade 
também está nos indivíduos, incutindo-lhes, desde o nascimento deles, a sua 
cultura. [...] a cultura e a sociedade permitem a realização dos indivíduos; as in-
terações entre os indivíduos permitem a perpetuação da cultura e a auto-orga-
nização da sociedade.
MORIN, Edgar. O método 5: a humanidade da humanidade. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 2005. p. 51-52.
O último século apresentou profundas e intensas transformações no mo-
do de viver em sociedade. Fronteiras e alianças entre países se alteram, as 
grandes potências econômicas tentam manter sua posição dominante, mui-
tos povos e nações clamam por paz e justiça, avanços tecnológicos surpreen-
dem, a quantidade e a variedade de informações aumentam, artistas buscam 
ser ouvidos, vistos ou lidos. As estruturas familiares se diversi1 cam, institui-
ções tradicionais da política ora ganham, ora perdem credibilidade, a eco-
nomia se torna mundialmente interligada. Regimes políticos entram em 
colapso; mobilizações sociais convergem e divergem sobre problemas e solu-
ções para os problemas de seu tempo.
Se pararmos para analisar tantas e tão aceleradas mudanças, poderemos 
perceber o que é “ser contemporâneo”. Ser contemporâneo é “estar no mun-
do”, no presente, participar do aqui e agora e, de certo modo, captar o espí-
rito do nosso tempo. Contemporâneo chega a ser sinônimo de novo na socieda-
de de hoje. 
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Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 11
Algumas mudanças nem as vemos, tão acostumados estamos ao seu rit-
mo e amplitude: chips minúsculos controlam grandes máquinas e sistemas, a 
caneta
que usamos na escola muitas vezes nem é produzida em nosso país, 
enquanto computadores são fabricados de todas as formas e tamanhos, e 
telefones celulares nos localizam em qualquer lugar e nos permitem locali-
zar quem quisermos. Ligados em rede, vemos a necessidade de nos adaptar 
a valores e situações em rápida mutação. 
Para aqueles que têm acesso à comunicação, o mundo torna-se “pe-
queno”, mais próximo, mas não necessariamente mais igual. As relações so-
ciais continuam assimétricas, entre pessoas e nações. Embora a realidade em 
nosso entorno se mostre com novas roupagens, o modo como a sociedade se 
organiza perdura em suas características gerais.
O sociólogo brasileiro Octavio Ianni (1926-2004) a1 rma que a socie-
dade atual, moderna, burguesa, informatizada, baseia-se em alguns princípios 
que se reiteram ao longo da história, reproduzindo a estrutura social. Ou seja, 
nem a ciência, nem a técnica ou a informática alteraram a natureza essencial 
das relações sociais, processos e estruturas de apropriação ou distribuição das 
riquezas e da dominação da sociedade capitalista.
As Ciências Sociais apresentam-se para analisar e tentar explicar o que 
está acontecendo no âmbito político, econômico, cultural e social da reali-
dade complexa que existe sob a aparência das mudanças sociais. As Ciên-
cias Sociais indagam constantemente sobre o que se altera e o que perma-
nece, o que rompe com estruturas antigas e o que se constitui como novo 
na sociedade.
Cenas da vida contemporânea: jovens 
fazem grafitagem no viaduto Santa Tereza, 
em Belo Horizonte, em 2012; o então 
presidente da África do Sul, Frederik de 
Klerke, passa o cargo ao seu sucessor, 
Nelson Mandela, em 1994 – eleito após um 
período de mais de quatro décadas em que 
negros foram privados de seus direitos 
políticos; imigrantes durante manifestação 
em Milão, Itália, em junho de 2012. 
As Ciências Sociais se dedicam a estudar 
a cultura, o poder e as relações sociais.
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12 • CAPÍTULO 1
A divisão entre as disciplinas das Ciências Sociais – uma visão crítica
Atenta aos problemas próprios de cada época, a 
Sociologia acompanha os questionamentos que a so-
ciedade se coloca e os enfrenta por meio da constru-
ção de teorias sociais. Este é o modo como a Sociolo-
gia trabalha. Uma teoria social consiste em um 
conjunto de conceitos inter-relacionados de forma 
coerente para explicar fenômenos sociais. Neste livro, 
descobriremos inúmeras questões sociológicas sobre 
as relações sociais e suas desigualdades, diferentes 
costumes e o modo de homens e mulheres se organi-
zarem para viver em sociedade. 
Além da Sociologia, integram as Ciências Sociais, 
basicamente, a Antropologia e a Ciência Política. A An-
tropologia estuda o ser humano em suas dimensões de 
origem, desenvolvimento, formas de organização cultu-
ral, entre outros aspectos, e seus principais ramos de co-
nhecimento são a antropologia física e a antropologia 
cultural. A Ciência Política volta o seu olhar para os fenô-
menos relacionados ao poder, principalmente à institui-
ção do Estado e suas formas de organização e os proces-
sos de tomada de decisões políticas. Trataremos desses 
outros dois ramos das Ciências Sociais ao abordarmos 
os temas relacionados aos seus objetos de pesquisa.
Porém, há quem defenda que as Ciências Sociais 
poderiam compreender outros campos do conheci-
mento. No estudo “Análise dos sistemas mundiais”, o 
sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein 
(1930-) afi rma que as Ciências Sociais constituem 
agrupamentos coerentes de objetos de estudo dis-
tintos uns dos outros e são constituídas por várias 
“disciplinas” além das mencionadas – por exemplo, a 
Economia. Esse sociólogo recorda o debate que exis-
te sobre se a Geografi a e a História também integra-
riam as Ciências Sociais. 
Wallerstein critica a divisão em disciplinas porque 
elas afi rmam a visão de que o Estado, o mercado, a 
política e a economia se constituem em campos autô-
nomos que podem ser analisados separadamente – 
quando, para ele, os fenômenos de que tratam as dis-
ciplinas das Ciências Sociais são interligados. E você, o 
que acha? Como podemos superar essas divisões dis-
ciplinares ao estudarmos os fenômenos sociais?
Ao longo deste livro, há propostas de atividades 
que integram diferentes áreas das humanidades, e tam-
bém de ciências exatas e biológicas. A partir desses pro-
jetos, você pode discutir de que forma a integração de 
diferentes disciplinas infl uencia a vida social.
Militar russo manuseia equipamento bélico de controle de drones 
(veículos aéreos não tripulados) em Khmelyovka, Kirov, Rússia. 
Foto de 2011. Apesar do progresso técnico-científi co visto no 
último século, os processos, estruturas e relações sociais 
passaram por poucas mudanças.
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As primeiras inquietações da Sociologia
A Sociologia nasceu, no século XIX, em um contexto de signi1 cativas 
mudanças sociais, políticas e econômicas, como veremos mais detalhada-
mente no capítulo 2. Nessa época, na Europa ocidental, muitas pessoas dei-
xavam o meio rural rumo às cidades, que viram uma expansão desenfreada 
em termos de população e de pobreza. Com isso, novas questões sociais 
surgiram, resultando em revoltas e mobilizações do povo por moradia, saú-
de, respeito humano, trabalho digno.
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Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 13
Até então, predominava a visão de que as desigualdades sociais e econô-
micas eram fenômenos naturais. Essa concepção, chamada naturalista, não 
acredita que seja necessário realizar pesquisas para entender a posição dos 
indivíduos na sociedade. Pensava-se que o lugar de cada um já estava deter-
minado para sempre pelas normas, regras, tradições e valores sociais domi-
nantes, como os valores religiosos, por exemplo. Pensava-se, ainda, que essas 
normas poderiam ser justi1 cadas por fatores biológicos e divinos.
A fundação de uma Ciência da sociedade rompeu com essa visão, mos-
trando como as mudanças nas formas de conviver e de trabalhar repercu-
tiram e repercutem nas condições de vida da população. Explicar por que 
a sociedade é desigual e como ela se altera ao longo do tempo era, e ainda 
é, uma questão crucial para a Sociologia. Nessa re2 exão sobre a realidade 
das relações sociais, as diferentes áreas das Ciências Sociais puderam iden-
ti1 car como se produziam e se produzem desigualdades em diferentes mo-
mentos da história da nossa sociedade. 
A partir do século XVIII, quando se consolidou o sistema econômico 
em que vivemos atualmente – o capitalismo –, as formas como os indivíduos 
se apropriam dos recursos da natureza e dos bens produzidos passaram a 
ser cada vez mais importantes para o pensamento social. Os estudiosos da 
vida social perguntavam-se: por que tantos seres humanos estão relativa-
mente à margem do consumo dos bens e do usufruto de direitos? 
Quando os indivíduos de uma sociedade acentuam as diferenças entre 
si, os segmentos marginalizados e as minorias são postos em situação de 
desvantagem. As diferenças de gênero (entre homens e mulheres), de ori-
gem étnica ou regional, dentre 
outras,
transformam-se em desi-
gualdades e são justi1 cadas, disfar-
çadas ou mesmo negadas por 
aqueles que exercem a domina-
ção, em contextos especí1 cos, a 
1 m de garantir a manutenção da 
ordem social vigente. No entanto, 
essas desigualdades provocam 
tensões e movimentos.
Os fundadores da Sociologia, 
que serão estudados no capítulo 2 
deste livro, buscaram explicar dife-
rentes mudanças sociais ao lidarem 
com problemas como migrações 
em massa, crises sociais cíclicas, 
multidões de desamparados sem trabalho, alta mortalidade da população e 
marginalização social de alguns grupos. É importante notar que há uma rela-
ção muito forte das primeiras teorias sociais com o contexto social europeu 
da época, já que estes autores foram formados em universidades daquele 
continente.
Como uma ciência histórica, a Sociologia está ligada às condições de cada 
época e contexto. Ela se propõe a perceber o novo sem perder a capacidade 
de compreender como velhas questões sociais se reproduzem nesse novo.
Aquarela de Jean-Baptiste 
Debret (1768-1848) publicada 
no livro Viagem pitoresca e 
histórica ao Brasil. As 
desigualdades de gênero e 
etnia nas relações sociais são, 
em geral, justifi cadas 
ideologicamente para 
garantir a manutenção da 
ordem social vigente.
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14 • CAPÍTULO 1
PAUSA PARA REFLETIR
Leia o relato de uma revista inglesa sobre as ruas de um bairro industrial em Edimbur-
go, na Escócia, em meados do século XIX. Depois da leitura, responda às perguntas.
Das condições de moradia dos trabalhadores
Estas ruas são em geral tão estreitas que se pode saltar de uma janela para a 
da casa da frente, e os edifícios apresentam, por outro lado, tal acumulação de 
andares que a luz mal pode penetrar no pátio ou na ruela que os separa. Nesta 
parte da cidade não há nem esgotos nem banheiros públicos ou sanitários nas 
casas, e é por isso que as imundícies, detritos ou excre-
mentos de, pelo menos, 50 mil pessoas são lançados to-
das as noites nas valetas, de tal modo que, apesar da lim-
peza das ruas, há uma massa de excrementos secos com 
emanações nauseabundas, que não só ferem a vista e o 
olfato, como, por outro lado, representam um perigo ex-
tremo para a saúde dos habitantes [...]. As habitações da 
classe pobre são em geral muito sujas e aparentemente 
nunca são limpas, seja de que maneira for; compõe-se, a 
maior parte das casas, de uma única sala – onde, apesar 
da ventilação ser das piores, faz sempre frio por causa das 
janelas partidas ou mal-adaptadas – que muitas vezes é 
úmida e fi ca no subsolo, sempre mal mobiliada e invaria-
velmente inabitável, a ponto de um monte de palha ser-
vir frequentemente de cama para uma família inteira, ca-
ma onde se deitam, numa confusão revoltante, homens e 
mulheres, velhos e crianças. Só se encontra água nas 
bombas públicas e a difi culdade para ir buscar favorece 
naturalmente toda a imundície possível.
Artigo da revista inglesa THE ARTIZAN, de outubro de 1843. In: ENGELS, Friedrich. 
A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Global, 1986. p. 47.
1. Destaque as questões sociais apresentadas no texto.
2. Com quais delas você imagina que a Sociologia se 
ocupou no período? Por que o contexto europeu te-
ria sido a principal preocupação dos primeiros soció-
logos? 
A Sociologia se preocupa com a desigualdade social
O fenômeno da desigualdade social é um tema presente na Sociologia clás-
sica e na contemporânea. Por que esse assunto continua sendo estudado pelos 
cientistas sociais? A resposta está em nosso cotidiano. Basta dirigirmos um 
olhar mais atento às pessoas que nos cercam, observando como elas vivem e 
como se comportam socialmente. Como são diferentes os indivíduos e grupos 
sociais em seus hábitos, interesses, costumes, gostos, manifestações culturais!
O aumento desenfreado da urbanização a partir da Revolução 
Industrial fez com que grande parte da população tivesse péssimas 
condições de vida nas grandes cidades europeias. Esta gravura do 
século XIX, intitulada Wentworth Street, Whitechapel, de autoria de 
Gustave Doré e Blanchard Jerrold, retrata pessoas no bairro 
operário de Whitechapel, em Londres, na Inglaterra.
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Há diversidade e desigualdade nos tipos de moradia em diferentes bairros 
e nos meios de transporte que a população utiliza rotineiramente. Também 
são diversas as instalações físicas das escolas e as condições de ensino das pe-
quenas e desiguais grandes cidades. Da mesma forma, os trabalhos que reali-
zam, sua remuneração e acesso ao consumo são diferentes e produzem ou 
reforçam a desigualdade. Em todas as instâncias estão presentes gradações e 
contrastes: nos shoppings e sua localização, nos restaurantes, lanchonetes e 
bares com serviços e preços variados, conforme o público a que se destinam. 
PAUSA PARA REFLETIR
Pense sobre o signi1 cado desta 
charge de Laerte. De que ma-
neira ela pode ser relacionada 
com a desigualdade presente 
em nossa sociedade? 
As Ciências Sociais mostram haver diferenças sociais que variam confor-
me características que o senso comum considera apenas biológicas, como 
a idade, o sexo, a conformação física e a origem étnica das populações e 
indivíduos. Porém, também a religião, a cultura e a pro1 ssão estabelecem 
distinções entre indivíduos e grupos e interferem em suas relações, como 
aponta o sociólogo alemão Georg Simmel (1858-1917). Todas elas são, po-
rém, diferenças sociais e podem despertar o sentimento de pertencer a um 
grupo, a uma sociedade ou a uma cultura, originando a construção de uma 
identidade. 
As desigualdades sociais, por sua vez, consistem em diferenças de acesso 
de indivíduos e grupos sociais aos bens materiais, a direitos e a recompensas 
que a vida em sociedade propicia, como o direito a serviços de saúde e a 
compensações salariais por trabalho executado. Ou seja, as desigualdades 
sociais estabelecem uma hierarquia, determinam quem tem maior ou me-
nor acesso a bens, serviços, direitos. Muitas vezes, se valem das característi-
cas físicas e étnicas, justi1 cando-as pela Biologia e omitindo seu caráter so-
cial, para rea1 rmar diferenças, como quando provocam discriminação social 
e preconceitos contra mulheres ou negros. Portanto, as desigualdades estão 
além da questão da posse de bens e da dimensão meramente econômica e 
jurídica, uma vez que envolvem outras esferas da vida social.
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16 • CAPÍTULO 1
Presente na história da humanidade, a desigualdade tem entre os seus 
problemas a pobreza, que corresponde a um estado de carência material e 
social. O conceito de pobreza não é universal, ou seja, não é o mesmo em to-
das as partes do mundo. Trata-se de uma condição histórica pela qual segmen-
tos da população mundial sofrem com a escassez de recursos ou com sua má 
distribuição. A noção de pobreza é, portanto, relativa ao grau de desigualdade 
socioeconômica em uma região ou em um país. Podemos dizer que a pobreza 
é característica da estrutura social e tem relação com o modo como cada gru-
po se organiza para produzir, distribuir e garantir o sustento de seus mem-
bros. A estrutura social também
é pesquisada pela Sociologia.
O adjetivo social despe o termo “estrutura” de sua conotação espacial, exata-
mente como sucede com termos tais como “distância” ou “mobilidade”. A “distância 
social” não denota distância espacial, enquanto a “mobilidade social” não se refere à 
mobilidade no espaço. [...] O conceito de estrutura social é mais amplo que o de 
estrutura de classes, porquanto os grupos encarados como elementos na estrutura 
social não precisam ser classes sociais, podendo ser, por exemplo, categorias de 
idade (como crianças, jovens, adultos, anciãos). [...] poderiam também ser grupos 
étnicos [...]. Concebo a estrutura social, portanto, como um sistema de relações hu-
manas, distâncias e hierarquias, tanto numa forma organizada quanto numa forma 
desorganizada.
OSSOWSKI, Stanislaw. Estrutura de classes na consciência social. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. p. 21-22.
A1 rmar que a desigualdade faz parte da estrutura das sociedades não 
signi1 ca a1 rmar que ela é natural. Pelo contrário, a desigualdade é produzi-
da e reproduzida pelos seres humanos em suas ações e na forma como criam 
diferentes níveis de acesso e valor a modos de vida, serviços sociais, aos recur-
sos para lazer, etc. Um exemplo é a sociedade contemporânea em que vive-
mos, cuja estrutura é predominantemente capitalista: nela, o que é pro duzido 
pelos que se organizam para obter a sobrevivência acaba sendo apropriado 
de forma desigual entre aqueles que decidem e organizam a produção e os 
que trabalham. Muitas desigualdades sociais nascem dessa divisão social do 
trabalho e da riqueza produzida, como investigaremos ao longo deste livro. 
Conforme a humanidade desenvolve 
suas tecnologias e formas de organização, 
emergem novas dimensões da desigualdade. 
Entre elas, podemos citar aquela que passa 
pelo conhecimento e pelo acesso à informa-
ção – desde a capacidade de ler e escrever na 
língua dominante em uma sociedade até o 
domínio das leis e dos meios tecnológicos 
propiciados pela Informática. 
Alunos acessam a internet em uma escola pública de 
Arcoverde, Pernambuco. Foto de 2012. A falta de acesso 
ao conhecimento e aos meios tecnológicos é uma das 
novas dimensões da desigualdade social no mundo 
globalizado. Nesse sentido, ações como a distribuição de 
computadores nas escolas públicas e a existência de 
telecentros comunitários dão suporte à inclusão digital.
Bernardo Soares/JC Imagem
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Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 17
 � As teorias de classe e a estratificação social
Talvez você já tenha ouvido falar em mobilidade social, que é a possibili-
dade de indivíduos e grupos mudarem de posição na sociedade. De modo 
geral, quando alguém ascende socialmente, passa a dispor de melhores con-
dições de vida. Mas quais condições favorecem a ascensão social ou, ao con-
trário, levam alguém ou um grupo a ter uma posição menos privilegiada na 
sociedade? 
Sociedades capitalistas, como a brasileira, fundamentam-se nas diferen-
ças entre as classes sociais. Em linhas gerais, as classes sociais são grandes 
grupos que se diferenciam pelo poder econômico e político que possuem e 
pelo lugar que ocupam na produção e no consumo. A mobilidade de indiví-
duos, grupos e classes sociais pode se dar, por exemplo, devido à sua escola-
rização, participação política ou pro1 ssão. Porém, há outros fatores deter-
minantes das desigualdades sociais, como as relações étnico-raciais e as de 
gênero. Quando essas condições se somam, no dia a dia, podem potenciali-
zar a desigualdade, criando e recriando formas de exclusão social, como 
será estudado mais adiante neste capítulo e também no capítulo 8. Assim, na 
sociedade brasileira, uma mulher negra e pobre está muito mais sujeita à 
exclusão social do que um homem branco e rico, devido às relações étnico-
-raciais e de gênero historicamente desiguais no país.
As desigualdades sociais variam em diferentes épocas e sociedades, havendo 
também organizações sociais em que esse conceito não se aplica. 
O estudo da História nos mostra que as relações desiguais vêm de longa 
data nas civilizações ocidentais. As sociedades grega e romana eram marca-
das pelas desigualdades entre cidadãos e escravos, por exemplo. Na Idade 
Média, em que boa parte da população europeia vivia em sociedades de or-
ganização estamental, prevalecia a distinção entre senhores e servos. Os es-
tamentos eram segmentos da estrutura social que se baseavam no ordena-
mento dos poderes senhoriais; ou seja, quem ordena (manda) é o “senhor” 
das terras e os que obedecem são seus “súditos”, seus dependentes pessoais 
(os parentes e favoritos, os funcionários domésticos e aqueles ligados ao se-
nhor por vínculos de 1 delidade, os servos e vassalos). Diz-se que essas rela-
ções de obediência servil são relações de vassalagem.
Na sociedade capitalista, por sua vez, o principal de1 nidor da posição 
do indivíduo na estrutura social é a propriedade dos meios de produção – 
ou seja, se ele possui ou não a terra, a fábrica, o banco, os equipamentos, os 
instrumentos de trabalho, etc. Essa é a interpretação do 1 lósofo alemão 
Karl Marx (1818-1883), no século XIX, assentada na noção de classes so-
ciais como grandes interesses sociais agrupados e contrários um ao outro. 
Assim, a sociedade se encontra, basicamente, dividida em duas classes so-
ciais fundamentais: a daqueles que são os proprietários dos meios materiais 
(os burgueses, donos do capital) e a dos que possuem apenas sua força de 
trabalho (os trabalhadores).
Na sociedade capitalista, a maioria dos indivíduos vende sua força de 
trabalho, sujeitando-se ao capital – seja ele produtivo (ligado às indústrias 
de transformação e extração, à agricultura ou à pecuária), 1 nanceiro 
 � exclusão social: situação em que 
indivíduos ou grupos são impedidos, 
total ou parcialmente, de usufruir ple-
namente da vida em sociedade. A ex-
clusão manifesta-se em aspectos re-
lacionados à cidadania, à cultura, às 
relações familiares e sociais e ao aces-
so a benefícios econômicos e sociais.
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18 • CAPÍTULO 1
(bancos, seguradoras, etc.) ou em serviços (comunicação, comércio, trans-
portes, entre outros). O capital é, assim, mais que dinheiro ou bens acu-
mulados, mais que as ferramentas e equipamentos de trabalho. Para Marx, 
o capital resulta das relações sociais desiguais no processo de divisão da 
riqueza produzida. Sua característica mais importante é que ele sempre 
pode ser convertido em mais capital.
Outros cientistas sociais não se restringem aos aspectos econômicos para 
apreender como se compõe a estrutura social. É o caso do sociólogo alemão 
Max Weber (1864-1920). Weber a1 rma que a posição social do indivíduo se 
deve a três fatores, que podem estar sobrepostos ou se apresentar de modo 
variado: o status, decorrente da honra e do prestígio (ou seja, do valor sim-
bólico que a sociedade dá a um grupo ou indivíduo); a riqueza (a renda 
econômica e as posses); e o poder em relação ao restante da sociedade. Nem 
sempre os indivíduos ou grupos detêm esses três aspectos simultaneamente. 
Para Weber, as classes são posições no mercado, pois, segundo ele, “o fator 
que cria ‘classe’ é um interesse econômico claro”. Nesse aspecto, uma “situ-
ação de classe” é gerada quando um grupo de pessoas possui condições co-
muns com relação à possibilidade (ou não) de dispor de bens materiais 
(como certos tipos de casa ou aparelhos eletrônicos) e simbólicos (como o 
acesso a certos conhecimentos valorizados socialmente).
Teremos oportunidade de estudar mais os autores clássicos da Sociolo-
gia no capítulo 2; por enquanto, vamos nos
deter no pensamento social de 
Marx e de Weber sobre o fenômeno das classes sociais, contrastando-os.
Marx tratou as classes como um fenômeno econômico e o con2 ito entre 
elas (luta de classes) como uma série de choques de interesses materiais 
entre proprietários e não proprietários dos meios de produção. Para ele, o 
agrupamento que tem a mesma relação com os meios de produção muitas 
vezes só pode ser, corretamente, chamado classe quando os interesses com-
partilhados geram consciência e ação. Com essa ênfase, Marx acentua um 
caráter diretamente político para a classe, a qual se torna um agente social 
importante quando assume um foco para a ação coletiva.
Weber percebeu que as divisões de interesse econômico que criam clas-
ses nem sempre correspondem a sentimentos de identidade e posições com-
partilhadas na estrutura social. Assim, a diferenciação pelo status ocorre em 
uma dimensão subjetiva, separada da classe, e varia de forma independente; 
é um fenômeno da estratifi cação social.
Tanto o tema das classes sociais quanto o da estrati1 cação social são mui-
to discutidos na literatura sociológica, por comportarem diferentes concep-
ções de divisão da sociedade na civilização ocidental. As diferentes socieda-
des ocidentais e algumas não ocidentais foram apresentadas divididas em 
estratos e/ou camadas, ou seja, indivíduos e grupos estão dispostos de modo 
hierárquico na estrutura social. 
A posição de um indivíduo num sistema de estrati1 cação é uma ques-
tão controversa. Inúmeras classi1 cações da realidade social geralmente 
utilizadas na mídia, como as que expressam as “classes sociais” A, B, C, D, 
usam critérios simpli1 cados para separar populações em grupos que 
nem sempre dizem respeito à experiência real que cada um tem na socie-
dade, nem à sensação de identidade e pertencimento de classe. Os crité-
rios mais complexos mesclam informações como rendimento, ocupação, 
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Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 19
escolaridade, moradia, hábitos de consumo, entre outros, para aproxi-
mar-se da realidade empírica. 
Uma das diferenças notáveis na concepção de classe social entre autores 
clássicos é que, para Weber, de algum modo, o fenômeno de estrati1 cação 
social traduz a presença de classes sociais em diferentes tipos de sociedade, 
ou a sociedade antiga (escravos e senhores), ou a medieval (servos e senho-
res), ou a moderna (trabalhadores e capitalistas), dizendo de modo simpli-
1 cado. Marx, por sua vez, vê o surgimento das classes sociais como um fenô-
meno histórico próprio da sociedade capitalista moderna, que comporta 
uma estrutura de classes: as relações fundamentais entre os burgueses (capi-
talistas) e o proletariado (trabalhadores). Assim, a estrati1 cação social seria 
um artifício para explicar a sociedade dividida, e não se confunde com o 
fenômeno das classes sociais.
Consumidores aguardam abertura de loja de móveis e eletrodomésticos em Salvador, Bahia. Foto de 2011. 
O fi m da hiperinfl ação e o aumento real da renda familiar observados nas duas últimas décadas fi zeram 
crescer o poder de compra da população brasileira.
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O quadro na página seguinte sintetiza os critérios adotados por Marx e 
por Weber ao analisar as classes sociais, além de trazer a contribuição de dois 
sociólogos contemporâneos, o estadunidense Erik Olin Wright (1947-) e o 
francês Pierre Bourdieu (1930-2002), que acrescentam novos fatores ao es-
tudo das classes sociais. Dentre esses fatores, podemos destacar as diferenças 
de poder que Olin Wright assinala dentro da classe trabalhadora, de acordo 
com o cargo ocupado, e a visão de Bourdieu, sobre o papel do conhecimen-
to e da cultura na sociedade moderna.
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20 • CAPÍTULO 1
As classes sociais – síntese de algumas teorias 
Karl Marx
(1818-1883)
• Classes sociais são agrupamentos de indivíduos que estão em uma posição comum nas relações 
de produção; uns são proprietários dos meios materiais de produção, outros detêm apenas sua 
força de trabalho. 
• São duas as principais classes sociais modernas: os capitalistas (donos dos meios materiais de 
produção) e o proletariado (aqueles que vendem sua força de trabalho aos capitalistas).
• As classes sociais são antagônicas e complementares: uma não existe sem a outra. Elas se 
relacionam; há uma estrutura de classes.
Max Weber
(1864-1920)
• A sociedade é dividida em estratos ou camadas.
• O lugar ocupado pelos indivíduos na sociedade tem a ver com sua posição econômica, mas não 
é o controle dos meios de produção que defi ne as classes. 
• As divisões de classes se originam em diferenças sociais baseadas no poder, na riqueza e no status.
• Status é uma dimensão subjetiva e separada da classe. Traduz um conjunto de aspectos 
positivamente avaliados em uma sociedade: a riqueza (ou propriedade), o poder (ou 
influência) e o prestígio (ou valor sociocultural) atribuídos a quem ocupa determinada 
posição social.
Erik Olin Wright 
(1947-)
• Abordagem que combina aspectos das propostas de Marx e de Weber.
• A classe capitalista controla os investimentos (o capital) e os meios físicos de produção, além de 
ter poder sobre a mão de obra.
• Os trabalhadores não detêm controle sobre os meios de produção (terra, subsolo, insumos, 
água, equipamentos, instalações, etc.).
• Os responsáveis pelo trabalho administrativo (os chamados trabalhadores de colarinho branco) 
são os gerentes do trabalho e têm uma posição contraditória: ora defendem os interesses dos 
patrões, ora os dos empregados.
Pierre Bourdieu
(1930-2002)
• Os grupos de classe são identifi cados pelos níveis de acesso a bens materiais e simbólicos (ou 
seja, não materiais, como os bens culturais). A ênfase da teoria da distinção de classe está no 
consumo típico de uma sociedade de massa.
• A distinção social é a diferenciação que existe entre indivíduos e grupos, e não se baseia apenas 
em fatores econômicos ou ocupacionais. 
• Os grupos de classe agregam ao capital econômico (material) um legado relativo ao 
conhecimento e à cultura (iniciação à Ciência, à Arte, à Literatura). Buscam prestígio e 
ascensão social, desenvolvem gostos culturais e atividades de lazer, defi nindo padrões de 
consumo e um estilo de vida próprio.
No Brasil, neste início do século XXI, tem chamado a atenção dos cien-
tistas sociais a emergência do que se denominou uma “nova classe social”. 
Ou seja, um segmento da população obteve uma mobilidade social ascen-
dente pela facilidade de acesso a bens de consumo e a novos hábitos sociais, 
marcando posição por seu poder aquisitivo. A indagação que se coloca é: 
será essa realmente uma “nova” classe social ou apenas um estrato social que 
se destaca no consumo de bens e serviços, sem que haja alteração na estru-
tura de classes e nas desigualdades da sociedade brasileira?
A Sociologia busca compreender a estrutura social mais ampla, mas também 
as relações entre as classes sociais, próprias da sociedade capitalista.
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Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 21
Desigualdade social e dominação
Por ser considerada injusta e desumanizadora, a desigualdade tem sido 
criticada e combatida em diversas instâncias da sociedade. Ela se apresenta 
nas situações do cotidiano, como nas relações de classe, em que a classe tra-
balhadora se encontra subordinada ao capital, e também nas relações de 
gênero, como a histórica opressão
masculina, em tempos e sociedades diver-
sas. Há desigualdade também nas relações entre as diferentes etnias, princi-
palmente na exploração dos europeus do século XIX sobre os latino-ameri-
canos, asiáticos e africanos; ou, ainda, na dominação dos Estados Unidos 
sobre os países da América Latina no século XX.
As múltiplas expressões da desigualdade revelam o fenômeno da domi-
nação social. Em sua origem sociológica, esse fenômeno foi tratado por Max 
Weber como a probabilidade de encontrar submissão a uma determinada 
ordem por diversos motivos: conveniência ou mera inclinação pessoal ou 
costume. Mas, nas relações sociais, em geral, a dominação apoia-se em bases 
jurídicas que lhe dão “legitimidade”. Nesse aspecto, a constituição do Esta-
do como organizador do poder político institucionalizado contribui para 
um complexo ordenamento de deveres e direitos na sociedade.
Charge do cartunista Laerte, 
publicada no jornal Folha de 
S.Paulo, em 2010, sobre 
relações de gênero.
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A desigualdade social está 
presente em todo o mundo. No 
Brasil, por exemplo, enquanto 
alguns cidadãos têm acesso a 
moradias seguras e a condições 
dignas de sobrevivência, outros 
se veem forçados a morar em 
regiões sujeitas a enchentes, 
correndo o risco de terem suas 
casas inundadas e seus pertences 
destruídos. Na foto de 2008, 
vista de casas construídas ao 
lado do córrego Tabatinguera, 
em São Paulo. 
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22 • CAPÍTULO 1
Em sua teoria da dominação, Weber reconhece três tipos puros de domi-
nação social: a legal (presente na obediência às leis e às ações da burocracia, 
ou seja, da administração pública), a tradicional (presente na relação entre 
senhor e súditos) e a carismática (proveniente da devoção afetiva a um lí-
der/herói, em função de virtudes pessoais).
A dominação é fenômeno de comando de um grupo sobre outro e su-
põe que os dois lados estejam condicionados a essa situação, pondera o so-
ciólogo brasileiro Pedro Demo (1941-). Nessa lógica, há os dominantes e os 
dominados, o que não signi1 ca que estes não se rebelem. Leia e re2 ita sobre 
o fenômeno, sempre presente e atual na sociedade.
A dominação, como desigualdade, é fenômeno dialético, porque estabelece 
uma “identidade de contrários”. Quer dizer, os dois lados se repelem, porque são 
desiguais, mas se atraem, porque um não existe sem o outro. Há nele uma dose de 
tensão que o torna histórico [...]. Cabem nele também os fenômenos de infl uência 
consensual como podem ser encontrados num grupo de amigos, numa comunida-
de religiosa, numa família. Aí também existe o fenômeno da liderança, da obediên-
cia, do seguimento de normas. Pelo fato de a autoridade ser aceita ou eleita pela 
maioria e até mesmo por aclamação geral, isto não retira o âmago da questão: há 
desigualdade.
DEMO, Pedro. Sociologia: uma introdução crítica. São Paulo: Atlas, 1983. p. 27-28.
DEBATE
Reunidos em grupos, debatam sobre os contrastes sociais vividos pela população 
brasileira, com base na letra da música e na leitura deste capítulo. 
Todo dia o sol da manhã
vem e lhes desafi a,
traz do sonho pro mundo
quem já não o queria:
palafi tas, trapiches, farrapos,
fi lhos da mesma agonia.
E a cidade que tem braços abertos
num cartão-postal,
com os punhos fechados na vida real
lhes nega oportunidades,
mostra a face dura do mal.
OS PARALAMAS do Sucesso. Alagados. Os Paralamas do Sucesso, 1986. EMI.
No dia a dia podemos perceber o quanto a sociedade brasileira reproduz 
formas de discriminação a indivíduos de grupos sociais distintos. Assim co-
mo as mulheres, os afrodescendentes são historicamente discriminados no 
mercado de trabalho e em outras instituições. Os meios de comunicação e o 
sistema educacional muitas vezes reforçam essas formas de discriminação 
social, reproduzindo a desigualdade. Nos anúncios publicitários, por exem-
plo, pardos e negros aparecem em pequeno número, embora constituam 
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Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 23
cerca de metade da população brasileira. 
É principalmente no ambiente escolar 
que os jovens constroem e rea1 rmam 
sua identidade, como estudaremos no 
capítulo 9. Os estudos sociológicos sinali-
zam que devem ser oferecidas oportuni-
dades aos jovens para que possam se ex-
pressar e discutir sobre as diferenças 
sociais, conforme veremos no capítulo 
10 deste livro.
No entanto, o que se observa na prá-
tica é que as coisas nem sempre ocorrem 
como o esperado. Muitas vezes o acesso 
ao ensino garante participação diferen-
ciada para os grupos sociais, reproduzin-
do tendências elitistas. As classes domi-
nantes, intelectual, política e economicamente, procuram garantir aos 
membros de suas famílias a ocupação de posições privilegiadas. Para isso, 
investem para que seus 1 lhos estudem em instituições onde convivem ape-
nas com outros jovens da mesma classe, o que contribui para a reprodução 
da riqueza e dos privilégios sociais.
Para além da desigualdade de classes, a nossa sociedade é desigual na forma 
como se estabelecem as relações étnico-raciais, as relações de gênero e uma 
série de outras relações simbólicas.
PAUSA PARA REFLETIR
Observe esta charge do cartunista Angeli.
• Em grupos, descrevam a charge e discutam o 
seu signi1 cado sociológico, respondendo no 
caderno às seguintes questões: 
a) Qual é a posição do autor da charge em 
relação ao preconceito?
b) Como a charge se relaciona com o conceito 
sociológico de dominação? Que mecanismo 
descrito no capítulo melhor se relaciona à 
ideia trazida pelo cartunista?
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Manoel, do Atlético-PR, durante 
jogo pelo Campeonato 
Brasileiro de 2010. Em 2012, 
o atleta venceu processo por 
injúria qualifi cada contra um 
jogador que lhe dirigiu ofensas 
racistas durante uma partida 
em 2010.
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24 • CAPÍTULO 1
A distribuição das riquezas produzidas
A análise dos fenômenos das classes sociais e da 
dominação social coloca-nos diante da presença de 
ricos e pobres em nossa sociedade. O 
Brasil é um dos países com maior con-
centração de renda no mundo, pois há 
uma substancial diferença de valores 
entre os rendimentos e as posses dos 
mais ricos e os dos mais pobres. É per-
versa e injusta a nossa distribuição de 
renda e de oportunidades sociais. Co-
mo se pode observar no mapa, a renda 
per capita entre os estados brasileiros 
também é muito desigual.
O problema da distribuição das ri-
quezas é histórico-estrutural no Brasil 
e decorre de fatores como a herança 
do sistema escravista e a falta de re-
formas sociais, econômicas e políticas. 
A exclusão histórica afeta parcelas sig-
nifi cativas da população empobreci-
da, compostas de famílias numerosas 
que vivem o drama da fome e do anal-
fabetismo. Desde a década de 1990, 
milhões de desempregados escolari-
zados e qualifi cados são atingidos 
também por novas formas de exclusão social, como 
estudaremos mais adiante.
km 0 460
OCEANO
ATLÂNTICO
Equador
Trópico de Capricórnio 
50° O
0°
RORAIMA
AMAPÁ
AMAZONAS PARÁ
ACRE
RONDÔNIA
MATO GROSSO
MATO
GROSSO
DO SUL
GOIÁS
DF
TOCANTINS
PIAUÍ
MARANHÃO CEARÁ
PARAÍBA
RIO
GRANDE
DO NORTE
PERNAMBUCO
ALAGOAS
SERGIPE
BAHIA
MINAS
GERAIS
ESPÍRITO
SANTO
RIO DE JANEIRO
SÃO PAULO
PARANÁ
SANTA
CATARINA
RIO GRANDE
DO SUL
Brasil: renda per capita (2010)
Segundo o pensamento sociológico tradicional, elite refere-se a uma fração 
da classe dominante que detém o poder, impõe seus padrões culturais, econô-
micos e/ou políticos à população e dela se mantém distante. Ao empregar o 
termo pela primeira vez, em 1902, no livro Os sistemas socialistas, o sociólogo 
italiano Vilfredo Pareto (1848-1923) insti-
tuiu a conhecida teoria das elites. Ele dis-
tingue a elite ampla – o conjunto de indi-
víduos que chegou a um escalão elevado 
da hierarquia pro1 ssional – de uma elite 
governante – um grupo mais restrito de 
indivíduos da elite ampla que exerce fun-
ções de direção política.
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Vista aérea da avenida Lúcio Costa e entorno no bairro da 
Barra da Tijuca (RJ). Foto de 2012. Distante da zona 
central da cidade e próxima à praia, a região viu surgirem, 
nas últimas décadas, empreendimentos residenciais que 
oferecem diversos serviços aos moradores sem que eles 
tenham de sair do condomínio. Para Vilfredo Pareto, 
a elite impõe seus padrões ao restante da população 
e dela se mantém distante.
Total
588 a 684
685 a 826
Valor do rendimento
médio mensal (R$)
827 a 1045
1046 a 1285
1286 a 2177
Por sexo
Homens
Mulheres
Por cor ou raça
Branca
Preta ou parda
2857
1534
468
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Fonte: IBGE. Indicadores de desenvolvimento sustentável 
2010. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/geociencias/
recursosnaturais/ids/ids2010.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2013. 
Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01.indd 24 5/28/13 8:39 AM
Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 25
Permanece na cultura brasileira e em outros países a ideia de que a busca 
e a obtenção de oportunidades dependem exclusivamente do querer e da 
vontade de cada um. Assim, a responsabilidade de conseguir instrução, for-
mação pro1 ssional e emprego é transferida aos indivíduos. Mas será que boa 
formação pro1 ssional e alto grau de instrução garantem empregos e salários 
condizentes? A resposta nem sempre tem sido positiva. Hoje, mais do que em 
outros períodos, a ênfase dada à educação como meio de ascensão na socie-
dade parece insu1 ciente para garantir oportunidades para todos.
Os autores do texto a seguir chamam a atenção para a sutileza do fenô-
meno da dominação social. Leia-o com atenção.
Histórica e concretamente, deparamo-nos, no Brasil, com uma sólida relação 
entre domínios econômico, político e ideológico, por parte de minorias poderosas 
que desenvolvem contínuo trabalho de legitimação e reforço da posição que ocu-
pam, valendo-se das instituições da sociedade civil, do aparelhamento do estado e 
de peculiares estratégias econômicas, arregimentando a sociedade em torno de 
um conjunto de ideias e valores que sustentam, simbolicamente, uma forma de 
produzir, organizar e distribuir os bens sociais de maneira extremamente desigual.
CATTANI, Antonio; KIELING, Francisco. A escolarização das classes abastadas. Sociologias, Porto Alegre, ano 9, n. 18, jun.-dez./2007, p. 170-187. 
Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222007000200009>. Acesso em: 10 jan. 2013.
O estudo da Sociologia nos revela os mecanismos de poder e as tentativas, 
por parte das classes dominantes, de nos fazer acreditar que esses fenômenos 
são algo “natural”. Por essa razão, o sociólogo francês Pierre Bourdieu diz 
que o conhecimento exerce um efeito libertador: por meio dele a sociedade 
re2 ete e volta o olhar sobre si; seus agentes sociais descobrem o que são e o 
que fazem.
DEBATE
• Considerando o que foi exposto neste capítulo, em especial no item “Desigualda-
de social e dominação”, você vai realizar uma atividade de júri simulado com seus 
colegas. Os temas debatidos serão:
– Por que os jovens brasileiros têm di1 culdade para encontrar espaço no mer-
cado de trabalho?
– Será o trabalhador o único responsável por seu aprimoramento pro1 s-
sional?
a) Antes de tudo, será necessário: formar uma equipe para apresentar argumen-
tos e evidências que contribuam para a defesa de um ponto de vista; escolher 
um juiz para coordenar os trabalhos; formar um grupo, o corpo de jurados, 
devendo votar as diferentes opiniões mediante justi1 cação do voto.
b) Para se preparar para o debate, realize, com a orientação do professor, pesqui-
sa e leituras prévias sobre: 
– o papel do Estado na promoção de educação formal e pro1 ssionalizante aos 
jovens brasileiros.
– o discurso da quali1 cação, que responsabiliza o trabalhador pelo próprio 
desemprego e por não investir na própria formação e quali1 cação.
c) Sistematize as informações de sua pesquisa para utilizá-las no debate.
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LopesMelo
Realce
26 • CAPÍTULO 1
Pensamento sociológico sobre o Brasil
No Brasil, a Sociologia fi rmou-se como Ciência em 
resposta às indagações da sociedade, descortinando a 
diversidade cultural, as desigualdades sociais, as dife-
renças regionais. Perspectivas analíticas diversas com-
preendem e explicam os grupos e as classes sociais em 
sua situação histórica, como fez o sociólogo brasileiro 
Florestan Fernandes (1920-1995), para quem o conheci-
mento sociológico crítico é capaz de alertar a consciên-
cia social sobre o curso dos acontecimentos históricos.
A estrutura social, a formação econômica e políti-
ca, as relações de trabalho, o processo de industrializa-
ção do país, a dinâmica rural-urbana e outras questões 
relacionadas à diversidade de um país de proporções 
continentais: estas foram algumas das temáticas abor-
dadas pelos intelectuais do século XX que se debruça-
ram sobre a nossa realidade.
Alguns autores brasileiros do início do século pas-
sado mesclaram estudos de história, política e socieda-
de para o reconhecimento de uma identidade cultural 
da nação, na tentativa de apreender um sentimento de 
“brasilidade”. Entre eles, destacam-se Silvio Romero 
(1851-1914), com Ensaios de Sociologia e literatura 
(1901), Euclides da Cunha (1866-1909), autor de Os ser-
tões (1902), e Oliveira Vianna (1883-1951), que escre-
veu Populações meridionais 
do Brasil (1920).
Também autores estran-
geiros pesquisaram a socie-
dade no Brasil e aqui fi zeram 
escola, como o sociólogo 
francês Roger Bastide (1898-
-1974), um dos cientistas so-
ciais que integraram a mis-
são europeia trazida à Uni-
versidade de São Paulo (USP), 
em 1938. Lecionou Sociolo-
gia, especializou-se no estu-
do de religiões afro-brasilei-
ras e foi parceiro de Florestan 
Fernandes na obra Brancos e 
negros em São Paulo (1958). 
O francês Jacques Lambert, 
autor de Os dois Brasis (1959), 
e o norte-americano Donald 
Pierson (1900-1995), que es-
creveu Teoria e pesquisa em 
Sociologia (1965), Negros no 
Brasil (1942) e Cruz das almas (1951), também trouxe-
ram sua contribuição. Cientista social importante, o 
antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009) 
viveu no Brasil e produziu trabalhos sobre os indíge-
nas, entre eles, Tristes trópicos (1955).
Após a década de 1930, a temática sociocultural 
esteve presente em interpretações com diferenças teó-
rico-metodológicas e ideológicas. Obras consagradas, 
como Evolução política do Brasil (1933) e Formação do 
Brasil contemporâneo (1942), de Caio Prado Júnior 
(1907-1990), Casa-grande
& senzala (1933), de Gilberto 
Freyre (1900-1987), e Raízes do Brasil (1936), de Sérgio 
Buarque de Holanda (1902-1982), marcaram a institu-
cionalização da Sociologia no país e levaram gerações 
a conhecer as origens europeia, africana e indígena do 
povo brasileiro.
As preocupações culturais dessas análises socioló-
gicas deram lugar, ao longo do século XX, às questões 
políticas, como a formação da nação e das instituições 
e a atuação do Estado brasileiro. Muitos estudos sobre 
o desenvolvimento econômico e social, realizados em 
meados desse século, analisaram a questão agrária e a 
modernização da sociedade, a formação da classe ope-
rária e do empresariado industrial, o nacionalismo eco-
nômico, o sindicalismo e os 
governos ditos “populistas”, 
entre outros temas. Dessa ge-
ração destacam-se: Florestan 
Fernandes, Hélio Jaguaribe 
(1923-), Celso Furtado (1920-
-2004), Octavio Ianni e Juarez 
Brandão Lopes (1925-2011).
Outro tema que marcou 
os estudos sociológicos bra-
sileiros foi a história social do 
trabalho no país, do escravo 
ao trabalhador livre, do ho-
mem do campo ao da cidade, 
além de análises da composi-
ção étnica da classe traba-
lhadora. Diversas pesquisas 
foram publicadas, como As me-
tamorfoses do escravo (1962), 
de Octavio Ianni, A integração 
do negro na sociedade de clas-
ses (1965), de Florestan Fer-
nandes, História econômica 
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Retirantes, óleo sobre tela de Candido Portinari, de 1944, 
revela o olhar do artista sobre as questões sociais do país.
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Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 27
do Brasil (1953), de Caio Prado Júnior, Sociedade in-
dustrial no Brasil (1964), de Juarez Brandão Lopes, e 
A imigração e a crise do Brasil agrário (1973), de José 
de Souza Martins (1938-).
Na transição do século XX para o XXI, alguns 
dos temas tratados pelos sociólogos brasileiros fo-
ram a transição da sociedade agroexportadora pa-
ra a urbano-industrial, o preconceito racial no país 
e a relação entre a realidade local e a global.
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PESQUISA
Em grupos, sua turma vai realizar uma pesquisa bibliográ1 ca sobre um ou mais so-
ciólogos brasileiros.
1. O professor realizará uma enquete em sua turma com o tema: “Qual é a principal 
preocupação da comunidade, bairro ou cidade onde você vive?”.
2. Uma vez tabulado o resultado, os grupos pesquisarão como a Sociologia brasilei-
ra estuda a questão mais indicada pela enquete.
a) Descubram qual(is) sociólogo(s) apresentado(s) no boxe “Pensamento socio-
lógico sobre o Brasil” tratou(aram) dessa questão. Então, com a orientação do 
professor, pesquisem textos (do próprio autor e/ou de comentaristas) que 
expliquem como esse problema é abordado pelo(s) autor(es) selecionado(s).
b) Elaborem um relatório que sintetize as principais contribuições do(s) autor(es) 
pesquisado(s) com relação a esse tema. Apresentem, também, uma biogra1 a 
resumida dele(s), destacando sua trajetória, suas principais obras publicadas e 
outros temas estudados por ele(s).
Globalização e novas questões sociais
As novas questões sociais colocadas pelo acelerado processo de mudan-
ças nas últimas décadas dizem respeito aos fenômenos ligados à globalização 
econômica, à exclusão social, ao crescimento do desemprego e aos avanços 
da Ciência e das tecnologias de informação. Outras questões também ga-
nham espaço nas discussões sociológicas, como o esgotamento dos recursos 
naturais do nosso planeta, os desa1 os para chegar ao respeito à diversidade 
e à coexistência pací1 ca e integração entre as diferentes etnias, e o aprofun-
damento das desigualdades no interior das nações e entre os países.
Casa-grande do Engenho Noruega, antigo 
Engenho dos Bois, em Pernambuco. 
Ilustração aquarelada de Cícero Dias para 
a primeira edição do livro Casa-grande & 
senzala, de Gilberto Freyre, 1933.
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28 • CAPÍTULO 1
Ainda que apareçam novas questões sociais, como a da globalização, 
muitos problemas que a sociedade de hoje enfrenta provêm de fenômenos 
anteriores, entre eles a desigualdade social e as alterações no mundo do 
trabalho. Leia com atenção este texto sobre o contraste da realidade social 
que o cientista político argentino Atílio Boron (1943-) nos apresenta.
Ainda vivemos num mundo onde metade da humanidade deve sobreviver com 
pouco mais de um dólar por dia, ou em que o trabalho infantil sob regime de servi-
dão supera com folga o número total de escravos existentes durante o apogeu da 
escravidão entre os séculos XVII e XVIII; onde pouco mais da metade da população 
mundial carece de acesso a água potável; ou onde o ambiente e a natureza são 
agredidos de modo selvagem.
BORON, Atílio. Filosofi a política marxista. São Paulo: Cortez; Buenos Aires: Clacso, 2003. p. 43-44. 
A globalização é um fenômeno político-social com dimensões culturais, 
acentuado a partir das últimas décadas do século XX. Caracteriza-se pela 
internacionalização das economias, possibilitada pelas novas tecnologias de 
informação, como a rede mundial de computadores. Nesse processo em es-
cala mundial, as relações sociais se intensi1 cam; localidades distantes se li-
gam e acontecimentos locais interferem e sofrem interferência de fatores de 
outras partes do mundo.
Teorias recentes sobre a desigualdade social e econômica atribuem a 
responsabilidade por mudanças nas condições de vida e na posição social 
dos indivíduos e grupos sociais às modi1 cações que a globalização causou.
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos (1940-) destaca serem 
muitas as formas da globalização. Reconhece duas principais: a) o localismo 
globalizado, em que um fenômeno local é disseminado com sucesso, como a 
alimentação fast-food estadunidense, que foi levada ao resto do mundo; b) o 
globalismo localizado, que é um re2 exo, nas condições de vida locais, de prá-
ticas transnacionais (ou seja, de práticas que ultrapassam o espaço de um 
Contraste entre a riqueza e a 
pobreza em Mahalaxmi, bairro de 
Mumbai, Índia. Foto de 2011. As 
aceleradas mudanças vistas nas 
últimas décadas ainda não se 
refl etiram em soluções 
abrangentes para os problemas 
de infraestrutura, desemprego, 
baixa remuneração e falta de 
serviços sociais de qualidade que 
afetam bilhões de pessoas.
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Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 29
único país: por exemplo, a instalação de grandes empresas numa região, o 
que, às vezes, modi1 ca ou até destrói a economia local).
Nessa linha de raciocínio, Santos identi1 cou uma divisão internacional 
dos países em relação à globalização. Os países desenvolvidos, aqueles que 
historicamente têm garantida sua posição na economia mundial, especiali-
zam-se nos localismos globalizados, isto é, eles disseminam valores, compor-
tamentos e hábitos culturais, bem como empresas e domínios econômicos. 
Já os países em desenvolvimento estão sob os efeitos da globalização e so-
frem com as imposições de fora para dentro. São países que recebem in2 u-
ências externas e também exercem, em maior ou menor grau, alguma in2 u-
ência para além de seus territórios. O Brasil é um desses países onde 
coexistem localismos globalizados e globalismos localizados. Nesse caso, é 
um país emergente que está se inserindo de forma mais efetiva na economia 
globalizada nas últimas décadas, e cria localismos globalizados em países de 
maior fragilidade política, social e econômica como alguns países vizinhos 
latino-americanos.
A globalização se mostra um campo de con2 itos entre os grupos sociais, 
os Estados e aqueles que se encontram em posição subalterna. Mas os proces-
sos de globalização não acontecem sem resistências, ao contrário, Estados-
-Nações, regiões, classes ou grupos sociais lutam contra as trocas desiguais 
entre os países, a exclusão social, a dependência e a desintegração.
O mundo globalizado desa1 a os cientistas sociais a apreenderem a diver-
sidade de acontecimentos, em diferentes níveis. Vivemos um turbilhão de 
situações e informações e somos instados a ter consciência dos fatos, ao mes-
mo tempo que eles acontecem. As Ciências Sociais procuram explicar e ca-
racterizar o processo e as mudanças sociais decorrentes da globalização, co-
mo leremos na próxima página.
A Sociologia está ligada ao tempo presente e às questões sociais 
emergentes, mas atenta à estrutura social que permanece, sendo uma 
ciência que dialoga com a História.
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Manifestantes ocupam a Plaza del 
Sol, na região central de Madri, 
capital da Espanha, em 19 de maio 
de 2011, em protesto contra as 
desigualdades e o desemprego 
resultantes da globalização 
econômica. O movimento dos 
“indignados” é um dos vários 
surgidos no mundo após a crise 
fi nanceira de 2008, que atingiu 
seriamente a economia espanhola, 
entre outras.
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30 • CAPÍTULO 1
Matizes da globalização
Charge do cartunista neozelandês Evans que expõe um lado das diferenças na 
sociedade contemporânea.
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Embora a globalização possa ser associada a com-
portamentos sociais que se expandem e tendem a se 
padronizar, estes movimentos não se dão de forma li-
near e unilateral. As sociedades têm visto um reforço 
nas diferenças, umas em relação às outras e mesmo 
internas. Esses processos interculturais favorecem a 
refl exão sobre a própria cultura e o questionamento 
de processos econômicos e sociais no âmbito do pró-
prio país. Permitem também o aprendizado de colo-
car-se no lugar do outro, do diferente, e respeitar ou-
tros grupos e culturas.
Nas sociedades contemporâneas, várias possibili-
dades de organização familiar, de trabalho, de partido 
político, de relações de gênero, de religiões, de agrupa-
mentos étnico-culturais, de cidades, de empresas, entre 
outros, coexistem sem que uma só predomine. As ações 
sociais são vividas de forma múltipla e simultânea.
Em oposição ao projeto de globalização econô-
mica liderado pelos países ricos, surgem movimen-
tos contra-hegemônicos, entre eles o Fórum Social 
Mundial, que envolve movimentos sociais em favor 
de diversas causas (ambientalistas, feministas, traba-
lhistas internacionais, defensores dos direitos huma-
nos, entre outros) na construção de formas de resis-
tência, como veremos no capítulo 8 deste livro.
As Ciências Sociais investigam esse conjunto de 
processos e instituições em escala global e dão-nos a 
conhecer os matizes dessa dimensão ampliada da 
sociedade, como o faz o antropólogo cultural india-
no Arjun Appadurai (1949-). As múltiplas globaliza-
ções são um fenômeno de grandes proporções; a 
economia corporativa global é a forma econômica 
dominante e mais estudada de globalização, mas é 
apenas uma delas.
O que estamos tentando nomear com a palavra glo-
balização? [...] ela abrange dois conjuntos distintos de 
dinâmicas. O primeiro envolve a formação de processos 
e instituições explicitamente globais, como a Organiza-
ção Mundial do Comércio (OMC), mercados fi nanceiros 
globais, o novo cosmopolitismo e os Tribunais Penais In-
ternacionais de Guerra. As práticas e formas de organi-
zação pelas quais operam essas dinâmicas constituem o 
que geralmente se concebe como global. Embora ocor-
ram parcialmente na escala nacional, são, em larga me-
dida, formações globais novas e evidentemente globais.
O segundo conjunto de dinâmicas envolve [...] re-
des e entidades transfronteiriças que conectam diver-
sos processos e atores locais ou “nacionais”, ou a recor-
rência de questões ou dinâmicas específi cas em um 
número cada vez maior de países ou localidades. Entre 
essas entidades e processos, estão, por exemplo, redes 
transfronteiriças de ativistas envolvidos em disputas 
específi cas e localizadas com uma agenda global explí-
cita ou implícita, como ocorre com muitas organiza-
ções de direitos humanos e ambientais; determinados 
aspectos do trabalho nos Estados Unidos – por exem-
plo, a implementação de certas políticas monetárias e 
fi scais em um número crescente de países, muitas vezes 
com grande pressão do Fundo Monetário Internacional 
(FMI) e dos Estados Unidos. [...] 
SASSEN, Saskia. Sociologia da globalização. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 11-12.
NADA COBERTO, 
A NÃO SER OS 
OLHOS. QUE 
CULTURA MAIS 
CRUEL E 
MACHISTA!
TUDO COBERTO,
A NÃO SER OS 
OLHOS. QUE 
CULTURA MAIS 
CRUEL E 
MACHISTA!
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Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 31
ENCONTRO COM OS CIENTISTAS SOCIAIS
O texto a seguir aborda um dos muitos desa1 os para a Sociologia hoje. Após a leitu-
ra, re2 ita e responda às questões.
A globalização do mundo recria o objeto da Sociologia [...]. Como a globaliza-
ção abala os quadros sociais e mentais de referência, os horizontes que se abrem 
com esse vasto, complexo e surpreendente processo permitem repensar critica-
mente os conhecimentos já acumulados sobre a sociedade nacional e o indivíduo 
[...]. A Sociologia pode ser vista como uma forma de autoconsciência da realidade 
social. Essa realidade pode ser local, nacional, regional ou mundial, micro ou ma-
cro, mas cabe sempre a possibilidade de que ela possa pensar-se criticamente, 
com base nos recursos metodológicos e epistemológicos que constituem a Socio-
logia como uma disciplina científi ca. Isto signifi ca que a Sociologia tem contribuí-
do para pensar e constituir a sociedade nacional em várias modalidades, com-
preendendo a sociedade civil e o Estado, os grupos sociais e as classes sociais, os 
movimentos sociais e as correntes de opinião pública, as formas de integração e 
os modos de antagonismos, as tensões e as lutas, as reformas e as revoluções, as 
tiranias e as democracias.
IANNI, Octavio. A Sociologia numa época de globalismo. In: FERREIRA, Leila (Org.). A Sociologia no horizonte do século XXI. 
São Paulo: Boitempo, 2002. p. 24-25.
1. Você concorda com o autor quando ele a1 rma que “a globalização do mundo 
recria o objeto da Sociologia”? Justi1 que sua posição.
2. Você conhece alguma experiência de produção ou trabalho local que tenha refe-
rência em nível global? Relate-a em um texto sucinto.

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