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A consttituicao dirigente

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A CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE E A CONSTITUIÇÃO DE 1988 
 
 
Marcelo Barroso Mendes 
Procurador Federal 
Pós-graduado pela UERJ 
Mestrando em Direito UNESA 
 
 
 
SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO; 2 A CONSTITUIÇÃO 
DIRIGENTE; 3 O TEMPO; 4 O CONTEXTO; 4.1 O 
Contexto de Ontem em Portugal; 4.2 O Contexto 
de Hoje em Portugal; 5 O NOVO DIREITO E A 
CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE; 6 O CONTEXTO 
BRASILEIRO; 6. 1 O Contexto de ontem no Brasil; 
6. 2 O Contexto de hoje no Brasil; 7 O TEXTO – 
AS CONSTITUIÇÕES PORTUGUESA E BRASILEIRA; 
8 CONCLUSÃO. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 É notoriamente sabido que a Constituição Portuguesa de 1976 funcionou 
como pedra angular da Constituição Brasileira de 1988. O texto normativo não foi o 
único a beber em fontes constitucionais portuguesas. Como não poderia deixar de 
ser, o nosso constituinte de 1988 também utilizou da fonte doutrinária lusa na 
construção das bases teóricas da Constituição brasileira. Neste contexto, dentre 
muitos doutrinadores, pelo menos dois se destacaram neste papel norteador 
constituinte, Jorge Miranda e Joaquim José Gomes Canotilho. O professor Canotilho 
adquiriu notoriedade por aqui com sua Teoria da Constituição Dirigente, ao qual foi 
amplamente adotada na Carta de 1988, adquirindo assim um ideal transformador 
na dura realidade brasileira. No entanto, depois da virada do século, em Portugal, 
para perplexidade geral dos doutrinadores brasileiros, Canotilho anunciou a “morte 
da constituição dirigente”. 
Diante de tal profecia, no Brasil, era absolutamente necessário explicar uma 
colocação tão categórica, a qual atingiria em certo o ideal constituinte de 1988. Por 
isso, em 21 e 22 de fevereiro de 2002 foi promovido pelo Programa de Pós-
graduação em Direito da UFPR, um encontro entre os juristas brasileiros e o 
professor Canotilho para aclarar tão perplexa constatação, que foi chamado de as 
“Jornadas sobre a Constituição dirigente em Canotilho”. 
Este encontro, realizado através de uma videoconferência de notáveis juristas 
brasileiros com Canotilho, tinha como intuito, de fato, esclarecer o Prefácio da 2ª. 
edição de sua obra Constituição Dirigente e Vinculação ao Legislador, participando 
também do encontro o seu colega lusitano Antonio José Avelães Nunes. Como 
escrito linhas acima, a preocupação dos brasileiros era esclarecer, além da 
perplexidade acerca de outros temas expostos no prefácio, principalmente, o 
trecho, a seguir enunciado: 
Em jeito de conclusão, dir-se-ia que a Constituição dirigente está 
morta se o dirigismo constitucional for entendido como 
normativismo constitucional revolucionário capaz de, só por si, 
operar transformações emancipatórias. (p.XXXIX) 
 A morte e a vida da Constituição Dirigente serão a seguir debatidas, sendo 
necessário realizar diferenciações entre a realidade brasileira e portuguesa. 
2 A CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE 
 Antes de adentrar no tema central deste trabalho, ou seja, dos debates e 
análises acerca da morte da Constituição Dirigente ou não, importante deitar olhos 
sobre o conceito de Constituição dirigente, ainda que de modo breve, tal como 
formulado por José Joaquim Gomes Canotilho na festejada obra e mesmo em 
artigos publicados posteriormente. 
 O próprio autor de maneira muito simples explica que: 
O tema a abordar na presente investigação é, fundamentalmente, o 
problema das relações entre a constituição e a lei. O título – 
Constituição dirigente e vinculação do legislador – aponta já para o 
núcleo essencial do debate a empreender: o que deve (e pode) uma 
constituição ordenar aos órgãos legiferantes e o que deve (como e 
quando deve) fazer o legislador para cumprir, de forma regular, 
adequada e oportuna, as imposições constitucionais.1 
 
Mais adiante o mestre de Coimbra complementa: 
[...] a constituição [...] tem a função de propor um programa 
racional e um plano de realização da sociedade; a lei fundamental 
[...] tem a função de garantir os princípios jurídicos ou regras de 
jogo da sociedade estabelecida. 
 
O Professor Canotilho resume o raciocínio asseverendo que a idéia de 
Constituição dirigente ganha relevo prático no modelo da constituição-programa, 
mas é considerada uma “introversão” do pensamento constitucional no modelo de 
constituição-garantia.2 
Muito embora exista toda essa influência das normas programáticas na 
Constituição, de nada adiantaria sua existência se não fosse reconhecido um valor 
jurídico constitucionalmente idêntico àquele dado aos demais preceitos da 
Constituição. Neste sentido, afirma o mestre que a positividade jurídico-
constitucional das assim denominadas normas programáticas significa, 
fundamentalmente, o seguinte: 
1. Vinculação do legislador, de forma permanente, à sua realização 
(imposição); 
2. Vinculação positiva de todos os órgãos concretizadores, devendo estes 
tomá-las em consideração como diretivas materiais permanentes, em 
qualquer dos momentos da atividade concretizadora (legislação, 
execução, jurisdição); 
3. Vinculação, na qualidade de limites materiais negativos, dos poderes 
públicos, justificando a eventual censura, sob a forma de 
inconstitucionalidade, em relação aos atos que as contrariam.3 
 De todo modo, a Constituição dirigente e vinculação ao legislador são 
institutos jurídicos diferentes. Então, em breves palavras, a teoria da Constituição 
dirigente procura associar às normas constitucionais as tarefas do Estado, cujo 
                                                            
1 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador: contributo para a compreensão das 
normas constitucionais programáticas. Reimpressão, Coimbra: Coimbra Editora, 1994, p. 11. 
2 Ibid., p. 14. 
3 CANOTILHO. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1993. p. 184. 
fundamento é a Constituição que pretende decidir vinculativamente sobre as 
tarefas de todos os órgãos e titulares dos poderes públicos4. 
 
Completando o exposto, vale trazer as palavras do próprio autor: 
[...] a teoria da constituição assume-se como teoria da constituição 
dirigente enquanto problematiza a tendência das leis fundamentais 
para: (1) se transformarem em estatutos jurídicos do Estado e da 
sociedade; (2) se assumirem como norma (garantia) e tarefa 
(direcção) do processo político-social.5 
 Estas são, basicamente, e muito resumidamente, algumas 
linhas da idéia original trazida na tese de doutoramento de Canotilho 
produzida na década de oitenta quando Portugal, ainda um país 
pobre, recém saíra de uma revolução, em 1974, a chamada 
Revolução dos Cravos, ou do 25 de abril. 
3 O TEMPO 
 Como diria o poeta, o tempo não pára, e as realidades também não param 
de mudar. 
 Esta transformação das coisas operada na linha do tempo é patente até 
mesmo em curiosa passagem de um trabalho escrito pelo então Professor Eros 
Grau. O atualmente Ministro do Supremo Tribunal Federal, em 2002 escreveu um 
artigo quando foi participante do já citado encontro e que deu origem a um livro 
intitulado Canotilho e a Constituição Dirigente, organizada pelo Professor Jacinto 
Nelson de Miranda Coutinho, e publicada pela Editora Renovar6. Segue a passagem 
do artigo escrito pelo Professor Grau: 
[...] Quem provocou este nosso encontro foi o Advogado Geral da 
União, que saiu por aí afirmando que o Canotilho diz que a 
Constituição dirigente morreu, a sustentar, nas entrelinhas – ele, o 
Advogado Geral- que a Constituição agora carece de força 
normativa[...]. 
 
 O Advogado Geral da União, então citado, era Gilmar Ferreira Mendes, 
hoje Presidente do Supremo Tribunal Federal. Ainda na época, o Professor da USP, 
Eros Grau continuou afirmando, em tom de crítica, o que segue: 
[...] E agora parece que esse moço irá para o Supremo. Quanto a 
este ponto, paradoxalmente, estou e não estou preocupado. O 
AdvogadoGeral aparentemente nutre a aspiração ao cargo de 
Ministro do STF como uma idéia fixa. A mim parece indispensável a 
distinção entre Estado e Governo. O Estado é permanente, os 
Governos são passageiros. Temo que o atual Advogado Geral da 
União seja um dedicado servidor não do Estado, mas dos Governos. 
Quem o viu defendendo o Collor até os estertores do seu 
Governo[...] 
 
                                                            
4 Idem. Rever ou romper com a constituição dirigente? Defesa de um constitucionalismo moralmente reflexivo. São Paulo, Revista 
dos Tribunais, Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política, ano 4, n. 15, abril/junho 1996. 
5 Idem. Constituição Dirigente, p. 169-170. 
6 COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda (org.). Canotilho e a constituição dirigente. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p 
99-100. 
O texto foi escrito em início de 2002, hoje em 2008, Eros Roberto Grau e 
Gilmar Ferreira Mendes são Ministros do Supremo Tribunal Federal. 
 O tempo não pára. O contexto e o Direito também não. Canotilho tem 
consciência do tempo, do contexto e do Direito, e parece não querer como o 
filósofo Tales de Mileto andar inadvertido a mirar estrelas, e ao descuidar da 
realidade que o cerca, ao não olhar para o chão, cair em um buraco. Por este 
motivo escreveu o Prefácio ao clássico Constituição Dirigente e Vinculação ao 
Legislador. 
 
4 O CONTEXTO 
 Antes de ser estudado, o Direito, como um conjunto de normas jurídicas 
mais ou menos ordenadas, merece ser entendido como um produto da história. 
Desde o começo o Direito é fruto das eleições que a história de uma determinada 
sociedade escolheu, ele vive na realidade assumindo determinados significados, 
porque os que o usam, desde os simples cidadãos até os juristas, o interpretam 
dentro de uma determinada cultura7, com uma base histórica ampla e profunda8. 
Daí importância de se estudar as raízes histórico-culturais dos momentos do 
Direito. O que não poderia ser diferente com a Teoria da Constituição Dirigente de 
Canotilho. 
 
4.1 O CONTEXTO DE ONTEM EM PORTUGAL 
 O contexto histórico não pára de mudar. O Professor Canotilho sabe disso, 
sabe que é preciso apanhar o bonde da história para não correr o risco de ficar 
preso ao passado e avesso ao futuro. Apesar disto, para melhor compreender a 
Constituição Dirigente, rapidamente, é preciso ter consciência da realidade 
histórico-cultural de Portugal no momento quando foi pensada e escrita a tese de 
doutorado do ilustre professor. 
 Por altura das matrizes do livro, na década de setenta e oitenta, Portugal era 
um país eminentemente pobre e agrícola, com grande êxodo demográfico. Quando 
da revolução de 25 de abril de 1974, Portugal tinha acumulado cerca de 50 anos de 
atraso durante o período salazarista (Antonio de Oliveira Salazar foi o fundador e 
principal mentor do Estado Novo (ditadura portuguesa) que foi de 1933 até 1974) 
por falta de investimento em infra-estruturas e indústrias para o país, que dispunha 
de grandes reservas de ouro provenientes em parte da exploração das ex-colônias. 
As atividades tradicionais que predominavam eram a produção agrícola e vinícola, a 
extração de cortiça, de pedra e pesca. 
 A Revolução ocorrida em 25 de abril de 1974, que ficou conhecida como a 
Revolução dos Cravos, transformou o rumo da história portuguesa. O movimento 
tomou este nome por ser um golpe de estado não violento no qual o povo e as 
Forças Armadas tomaram as ruas pacificamente com cravos, flores, às mãos e 
cravos às armas. No dia seguinte a 25 de abril, formou-se a Junta de Salvação 
Nacional, constituída por militares, e que procedeu a um governo de transição. O 
lema do Movimento das Forças Armadas foi resumido no programa dos três D: 
Democratizar, Descolonizar, Desenvolver. 
                                                            
7 HÄBERLE, Peter. Hermenêutica constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da constituição: contribuição para a 
interpretação pluralista e “procedimental” da constituição, Tradução Gilmar Ferreira Mendes, Reimpressão, Porto Alegre: Sérgio 
Antonio Fabris Editor, 2002. 
8 FIORAVANTI, Maurizio. Los derechos fundamentales: apuntes de historia de las consticuciones. 5. ed. Madrid: Editorial 
Trotta, 2007. p.21. 
 Os dirigentes do movimento de 25 de abril (os "Capitães de Abril"), 
assumiram como prioridades: o fim da polícia política, o restabelecimento da 
liberdade de expressão e pensamento, o reconhecimento dos partidos políticos 
existentes ou a criar, e iniciaram a negociação com os movimentos de 
independência das colônias. 
 Passado justamente um ano sobre a revolução, no dia 25 de Abril de 1975 
realizaram-se as primeiras eleições democráticas, cujo objetivo era formar uma 
Assembléia Constituinte que elaborasse uma constituição para o país. Essa 
Constituição seria promulgada no dia 2 de Abril de 1976 e é a Constituição que rege 
Portugal até hoje, apesar de ter sido revista em várias ocasiões.9 
 
4.2 O CONTEXTO DE HOJE EM PORTUGAL 
 De lá para cá muita coisa mudou em Portugal. Segundo o Banco Mundial, a 
economia portuguesa é a 34ª maior do mundo10. Ao longo dos últimos 40 anos, 
Portugal foi o país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento 
Economico, depois da Irlanda, com maior taxa de crescimento do PIB11. 
 Tendo aderido à União Europeia em 1986, o país iniciou um período de fortes 
reformas e de elevados investimentos em infra-estruturas que se refletiram numa 
rápida aceleração do crescimento económico. A adesão foi de fato um passo 
decisivo no desenvolvimento do país, graças nomeadamente aos apoios 
comunitários. Entre 1970 e 2003 o PIB 'per capita' medido em PPP (Paridade do 
Poder de Compra) cresceu de pouco mais de 50% para cerca de 70% do mesmo 
indicador para a média da União Europeia (fonte: OCDE)12. 
 A realidade social, econômica e política de Portugal hoje tem muito pouco 
em comum com àquela de há quase trinta anos atrás. Hoje em dia, as atividades 
tradicionais foram modernizadas e continuam desempenhando um papel 
importante, com 13% do emprego. Com uma taxa de desemprego das mais baixas 
da União Européia (4,1% em 2001) e sendo um dos primeiros países a ter 
cumprido os requisitos para integrar a zona do euro, Portugal tem sido considerado 
por alguns como um “pequeno dragão” da Europa13. 
 Contextualizados historica e culturalmente, importa agora adentrar na 
questão da morte e vida da Constituição dirigente, a verificar se o sentido original 
da obra Constituição Dirigente de Canotilho ainda se aplica no contexto hodierno da 
sociedade portuguesa. De pronto se visualiza que há uma nova fonte normativa na 
realidade lusitana advinda de um outro plano, os Tratados da União Européia. 
Fazendo-se adiantar, na opinião de Canotilho todo o Título XI do Tratado da União 
Européia (Tratado de Amsterdã) referente à política social, à educação, à formação 
profissional e à juventude tem normas rasgadamente dirigentes. 
 
5 O NOVO DIREITO E A CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE 
Da mencionada Jornada acerca de mudança de entendimento do Professor 
Canotilho foi produzida uma obra na qual o mestre de Coimbra pôde expor melhor 
                                                            
9 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org>. Acesso em: 03 jun. 2008. 
10 Disponível em: <http://siteresources.worldbank.org/DATASTATISTICS/Resources/GNI.pdf> Acesso em: 03 jun. 2008. 
11 Disponível em: <http:///www.oecd.org>. Acesso em 03 jun. 2008. 
12 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org>. Acesso em 03 jun. 2008. 
13 TENGARRINHA, José. (org.). História de Portugal. 2. ed. São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 2001. 
suas idéias acerca do prefácio da Constituição Dirigente. Seguem então as 
considerações do Professor Canotilho14 nela expostas: 
Em síntese, a minha resposta é esta: possoestar aberto a outros 
modos de concretização e de legalização do dirigismo constitucional, 
mas não estou aberto, de forma alguma, à liquidação destas 
dimensões existenciais que estão subjacentes à directividade 
constitucional. Concordo que devemos ver o que, histórica e 
culturalmente, originou este carácter dirigente. Penso que o desafio 
da Constituição dirigente não é o de torná-la rígida, devendo 
admitir-se que ela pode ser modulada de outra maneira, de acordo 
com as evoluções e as inovações. Mas os princípios básicos que 
estou a comentar não se discutem, porque eles são inerentes à 
nossa própria mundividência subjectiva ( a idéia de realização 
histórica da pessoa humana). 
 De pronto já é possível notar que aquela idéia que foi espalhada aos quatro 
ventos da morte e enterro a sete palmos de terra da Constituição dirigente, 
segundo o próprio criador da teoria, de fato não ocorreu. Ao contrário, a teoria 
continua a existir enquanto for útil, enquanto for historicamente necessária15, e ela 
ainda deve se fazer presente, com alguns temperamentos evolutivos. 
 Em decorrência deste racionalismo mutante do Professor Canotilho e ainda 
não bem compreendido, chegou-se a cogitar de um “Canotilho II”, segundo a 
citação de Salo de Carvalho, do Programa de Pós-Graduação em Direito da 
Unisinos16: 
[...] Lenio Streck, com sua irreverência peculiar, forjou o termo 
Canotilho II, como forma de contrapor os posicionamentos do 
mestre de Coimbra: o original, do Prefácio à edição do Constituição 
Dirigente e Vinculação do Legislador, e o presente no nosso objeto 
de debate (Prefácio à 2ª edição). [...] 
 Após a teleconferência com Canotilho ficou bem visível que não há um 
“Canotilho II”, não há um alfa ou ômega (existência de um ou o outro), mas um 
Canotilho diferente da realidade de vinte anos atrás. Não houve uma ruptura com o 
passado, apenas uma necessária atualização aos novos tempos. Não existe, pois, 
um “Canotilho II”, existe um Canotilho senhor de seu tempo (dentro de sua própria 
“mundividência subjectiva”). 
 O posicionamento acima é corroborado pelos demais participantes do 
encontro, como é o caso do Professor da UFPR, Luiz Edson Fachin17: 
De certa maneira, ao escrever o novo prefácio à obra em discussão, 
percebeu-se, com clareza, que o Professor Canotilho não estava 
exatamente desdizendo o que disse, mas estava, de algum modo, 
colocando em questão as suas próprias idéias para avançar, e não 
necessariamente, abandoná-las. 
 Antonio José Avelãs Nunes, também português, Professor da Universidade de 
Coimbra, resume a conclusão dos trabalhos: 
Havia aqui alguma preocupação resultante do receio de perder um 
aliado tão forte e tão prestigiado como tu nesta luta que os nossos 
Colegas vêm travando em terras brasileiras. Fui dizendo que não 
me parecia que este aliado estivesse perdido e penso que, como eu, 
eles também estão muito satisfeitos por terem concluído que, 
naquilo que é essencial, continuas junto deles. 
                                                            
14 CANOTILHO. Canotilho e a Constituição, p. 41. 
15 Ibid., p. 39. 
16 Ibid., p. 70. 
17 Ibid., p. 59. 
 Outro que segue a linha dos juristas já citados é o Professor Fernando Facury 
Scaff, da UFPA, segundo ele: 
Na realidade nós estamos vivenciando uma situação de contrafração 
de idéias. O que dizem que o Canotilho disse – a história do 
Canotilho 1, do Canotilho 2, do 3 -, não existe. Entendo que ele 
apenas retirou da sua dimensão de Constituição Dirigente o aspecto 
revolucionário. Acho que este é o grande ponto. 
 Vencido pelos esclarecimentos do Professor Canotilho, Lenio Streck18conclui: 
Tenho que, ao final, confessar – e por isto corro o risco de ser 
chamado de jurássico – que continuo acreditando no papel dirigente 
da Constituição, naquele sentido como disse o Fachin, o sentido 
original.”, e nas palavras do mestre coimbrano19: “Então eu digo 
que a constituição dirigente não morreu. 
 A Constituição dirigente não morreu em Portugal porque mesmo os Tratados 
da União Européia têm caráter dirigente, bem como também não morreu no Brasil, 
pois aqui como alhures a teoria ainda se faz necessária (ponto que será analisado 
logo após o estudo do contexto histórico brasileiro que norteou a Constituição de 
1988). 
 
6 O CONTEXTO BRASILEIRO 
 Ainda no intuito de melhor compreender a assunção pela Constituição 
brasileira dos ensinamentos do mestre de Coimbra, cabe fazer uma análise do 
momento histórico-cultural brasileiro. 
 
6. 1 O CONTEXTO DE ONTEM NO BRASIL 
 Quando da elaboração da Constituição Cidadã (chamada assim por Ulysses 
Guimarães presidente da Assembléia Nacional Constituinte, o “Senhor Diretas”), o 
Brasil tal como Portugal saía de uma longa fase ditatorial, os conhecidos “anos de 
chumbo”. O Brasil tal como Portugal era um país pobre e eminentemente agrícola, 
com uma incipiente industrialização. Desde 1964 estava o Brasil sob o regime da 
ditadura militar, e desde 1967 particularmente subjugado às alterações decorrentes 
dos Atos Institucionais, em especial o mais feroz deles, o AI 5, que fechou o 
Congresso Nacional, recrudesceu a censura, proibiu as reuniões de cunho político, 
entre outras supressões de direitos civis e políticos20. 
 Depois de mais de dez anos, impedida de realizar passeatas ou participar de 
comícios, boa parte da população urbana do Brasil saiu às ruas para promover, em 
abril de 1984 e em abril do ano seguinte, enormes manifestações populares que 
trouxeram a história de volta às praças e avenidas do país, eram as “Diretas Já”. 
Uma campanha que agitou o país naquele outono-verão da década de oitenta e que 
pretendia a realização de eleições diretas para presidente. Muito embora houvesse 
o clamor popular, o Congresso por 22 votos não aprovou a emenda que estabelecia 
a volta das eleições para presidente. A redemocratização coube ao Presidente José 
Sarney, vice do eleito pelo Colégio Eleitoral Tancredo Neves que falecera antes de 
tomar posse vítima de um tumor no intestino. 
 Sarney acelerou a redemocratização do país, o sistema de exceção fez 
crescer, durante o processo de abertura política, o anseio por dotar o Brasil de uma 
                                                            
18 CANOTILHO. Canotilho e a Constituição, p. 85. 
19 Ibid., p. 31. 
20 Disponível e: <http://pt.wikipedia.org. Acesso em: 03 jun. 2008. 
nova Constituição, defensora dos valores democráticos, e em 5 de outubro de 1988 
foi promulgada a nova Constituição.21 
 
6. 2 O CONTEXTO DE HOJE NO BRASIL 
 Na atualidade, o Brasil se consolidou como um Estado Democrático de 
Direito. Por outro lado, a desigualdade social ainda continua a ser uma dura 
realidade, mas o país tem avançado em várias áreas. Se por um lado os números 
são frios, por outro, demonstram que realmente ocorreram melhoras no aspecto 
social. Dessa forma, tanto o BNDES22 quanto os indicadores das Nações Unidas 
acerca da população brasileira23 de 1950 até 2005 demonstram melhoras 
significativas no índice de desenvolvimento social. Entretanto, apesar dos 
perceptíveis avanços, o Brasil continua tendo uma grande parte da população com 
ainda elevados índices de pobreza. 
Ficou fácil perceber que o passado que antes unia a realidade brasileira e 
portuguesa não corresponde mais ao presente. Se antes existiam identidades na 
realidade dos dois países que saíam de lutas contra ditaduras, e tinham uma 
economia fraca, com baixo índice de desenvolvimento humano, estas simplesmente 
desapareceram no tempo, contexto e texto. 
 No contexto histórico cultural e sócio econômico, como visto, Portugal e 
Brasil são países, hoje, totalmente distintos. No texto constitucional, as diferenças 
também são marcantes. 
 
7 O TEXTO – AS CONSTITUIÇÕES PORTUGUESA E BRASILEIRA 
 O texto revolucionário socialista da ConstituiçãoPortuguesa de 1976, com as 
várias reformas constitucionais e mudanças sociais, morreu; o projeto de 
modernidade cresceu e vive muito bem obrigado.24 Na dita pós-modernidade, a 
Constituição nacional lusa faz parte de uma rede que, com outras Constituições 
nacionais dos países comunitários, forma a “Constituição Européia”25. Entretanto, 
no Brasil, de acordo com o Professor Canotilho a situação é diferente: 
Bem, é óbvio que as constituições européias estão a resolver 
problemas sociais, econômicos e culturais de uma forma diferente 
daquela que temos hoje no nosso contexto. Quer queiramos quer 
não, os senhores têm milhões de fundos comunitários que foram 
auxiliar as vossas políticas sociais, mas o Brasil não tem milhões de 
fundos comunitários. No vosso país, os fundos comunitários foram 
sedimentando alguma coesão social, mas o Brasil não tem coesão 
econômica e social com fundos comunitários ou com outros fundos. 
No vosso país, foi-se radicando a idéia de acompanhamento da 
qualificação profissional e da promoção do emprego à medida que 
se fazem mudanças estruturais no tecido enonómico e no tecido 
industrial, mas o Brasil não tem, afinal de contas, essas 
possibilidades e não tem havido essas medidas de 
                                                            
21 BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. 2. ed. Revista, São Paulo: Ática, 2003. 
22 FERREIRA, Francisco Marcelo da Rocha; Gisele Costa Norris; Lavinia Barros de Castro. A renda foi um fator de 
desenvolvimento em 2006. Rio de Janeiro, Revista Visão do Desenvolvimento BNDES, n. 42 6 dez 2007. Disponível em 
<http://www.bndes.gov.br/conhecimento/visao/visao_42.pdf>. Acessi em 05 jun. 2008. 
23 Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations Secretariat, World Population 
Prospects: The 2006 Revision and World Urbanization Prospects: The 2005 Revision. Disponível em: <http://esa.un.org/unpp>. 
Acesso em: 06 jun. 2008. 
24 CANOTILHO. Canotilho e a Constituição p. 14. 
25 Ibid., p.23. 
acompanhamento de uma política de formação profissional e de 
uma política de emprego. 
 
 Quanto à manutenção dos ideais programáticos da Constituição dirigente, o 
mestre de Coimbra verificou que “o que consideramos programático está agora nos 
Tratados da União Européia. Vários aspectos da Constituição portuguesa aparecem 
hoje ‘copiados’ nas políticas da União Européia.”26 
 Analisando o caso brasileiro, em outro trecho, complementa, asseverando a 
importância do papel do Estado como realizador dos programas da Constituição 
dirigente: 
no Brasil a centralidade é ainda do estado de direito democrático e 
social, que a centralidade ainda é do texto constitucional, que é 
carta de identidade do próprio país, que são estes direitos, apesar 
de pouco realizados, que servem como uma espécie de palavra de 
ordem para a própria luta política.27 
 
8 CONCLUSÃO 
 Apesar da análise do contexto histórico que demonstra as iniciais 
semelhanças, e hodiernas diferenças entre Brasil e Portugal, o que se pode 
perceber é que as boas idéias possuem a natural tendência de se eternizar e se 
auto-adaptar, mesmo nas complexas sociedades pós-modernas com todas as 
transformações e particularidades. A Constituição dirigente é uma idéia que 
merece permanecer enquanto for útil ao ideal de uma determinada sociedade. 
Fazendo uma esdrúxula comparação, seria muito interessante se fosse 
possível fazer uma videoconferência com Montesquieu para saber se, na atual 
conjuntura, sua teoria da separação de poderes teria morrido. Talvez sua postura 
fosse à mesma do Professor Canotilho, ou seja, enquanto necessários ao seu 
momento histórico-cultural, os paradigmas continuarão existindo. Quando não 
puderem mais responder às novas perguntas, estarão em crise. 
 
                                                            
26 CANOTILHO. Canotilho e a Constituição p. 37. 
27 Ibid., p. 35.

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