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Oficina de projetos interdisciplinar Profª. Drª. Ana Maria Ribeiro de Jesus 1 AULA 3 Revisitando a interdisciplinaridade – Parte III É importante que você entenda que interdisciplinaridade não se confunde com multidisciplinaridade ou pluridisciplinaridade, ou mesmo com “trabalho em grupo”. A interdisciplinaridade se preocupa com a realidade do homem enquanto pertencente a uma sociedade interdependente; a multidisciplinaridade e a pluridisciplinaridade preocupam-se apenas com o agrupamento de disciplinas. A multidisciplinaridade não visa um projeto específico e se refere, geralmente, a uma justaposição de disciplinas que não estabelecem relação aparente. Assim, ela se realiza no âmbito de um trabalho conjunto entre as disciplinas que, por sua vez, servem-se de uma metodologia própria para abordar um tema sob seu ponto de vista particular. Por isso, não visa à formação sob uma perspectiva da totalidade, como pretende a interdisciplinaridade. Mendes e Santos (2002) definem a multidisciplinaridade como um “conjunto de disciplinas a serem trabalhadas simultaneamente, sem fazer aparecer as relações que possam existir entre elas, destinando-se a um sistema de um só nível e de objetivos únicos, sem nenhuma cooperação”. Para os autores, ela corresponde à estrutura tradicional de currículo nas escolas, que é dividido em várias disciplinas. A pluridisciplinaridade examina os fatos pela perspectiva de diversas disciplinas, mas, diferentemente da multidisciplinaridade, essas disciplinas estão geralmente no mesmo nível hierárquico e contam com um objeto de estudo correlato. Apesar de haver um “agrupamento” de disciplinas e uma busca das relações que elas estabelecem, não há integração entre elas, já que cada uma contribui, isoladamente, com métodos de avaliação próprios da sua área de conhecimento. De modo semelhante, a interdisciplinaridade não pode ser reduzida a uma reunião de professores ou a um simples trabalho em grupo. Cabe ao educador incentivar os alunos a desempenharem sua função de construtores do conhecimento, em um saber contextualizado, amplamente ligado à pratica cotidiana e à realidade social; e essa tarefa vai muito além de um trabalho em grupo, ultrapassa o monólogo e o discurso individual de cada disciplina. Assim, o enriquecimento dos protagonistas desse processo é mútuo a partir da cooperação e da intercomunicação, mantendo-se, ao mesmo tempo, a identidade das diferentes disciplinas. Oficina de projetos interdisciplinar Profª. Drª. Ana Maria Ribeiro de Jesus 2 Com isso, a escola se torna um “lugar onde se produza coletiva e criticamente o conhecimento, desacomodando, para isso, pessoas, exigindo dos professores estudo teórico-prático maciço dessa temática e o investimento profundo do desenvolvimento profissional dos educadores para atuar com competência e discernimento perante as incertezas e incongruências do próprio sistema educacional brasileiro” (AZEVEDO; ANDRADE, 2007). Como você deve ter notado até aqui, a proposta interdisciplinar não é de uma transmissão unilateral que vai do professor ao aluno, mas tem este último como fundamental para uma produção real do conhecimento. Vamos enfocar um pouco mais, então, na atuação do aluno nesse processo. Ao desempenhar um papel totalmente ativo, o aluno é um sujeito da aprendizagem e, por isso, sai de uma “zona de conforto” inerte e passa a tomar decisões, ser comprometido e participativo e, dessa forma, não se dissocia de sua vivência, de seu contexto sócio-histórico e de sua bagagem cultural. Como as várias disciplinas são trazidas à realidade, é essa co-participação do aluno que permite que ele aprenda a refletir e a encontrar soluções para problemas reais e não apenas teóricos. Nesse contexto, o processo da aprendizagem torna-se um caminho para o desenvolvimento da capacidade de reflexão crítica, da compreensão política, da esfera profissional e, consequentemente, da sociedade cultural complexa em que o aluno está inserido. Os diálogos estabelecidos em sala de aula ultrapassam esse espaço e permitem a cooperação do aluno a partir da aceitação e reconhecimento dos seus valores culturais: sua linguagem, suas percepções, sua subjetividade. Com isso, o professor não “transmite”, mas incentiva o aluno ao estudo, com o objetivo de ajudá- lo a construir e organizar o conhecimento em constante transformação, diretamente ligado à realidade social contemporânea. Como os saberes são construídos constantemente, é de fundamental importância a formação contínua do professor, enfatizando uma consciência crítica, bem como seu interesse e engajamento no processo interdisciplinar.
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