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DIREITO AMBIENTAL Aluna: Maria Carolina Ribeiro Professor: Diogo Guanabara Aulas 2016.1 1. NECESSIDADE DE PROTEÇÃO DO AMBIENTE: 1.1. Questões ambientais na atualidade: Buraco na Camada de Ozônio: Possui 28,3 quilômetros de extensão e causa o aumento da incidência de raios UV. No Protocolo de Montreal (1989), surge a ideia de substituir o CFC. Descontrole no aquecimento global: Gases de efeito estufa geram aquecimento acima do normal. Gestão de resíduos. Proteção da biodiversidade: O Brasil possui mais de 20% da fauna e flora do planeta. A perda da biodiversidade ocorre através da destruição de habitats, introdução de espécies exóticas, exploração de plantas e animais, monocultura na agricultura e contaminação do solo, água e subsolo. 1.2. Fontes formais internacionais do Direito Ambiental: O Direito Ambiental não surge de uma tomada de consciência autônoma. No Século XX, os países europeus passaram a se preocupar com este tema. O Direito Ambiental brasileiro surge a partir de uma pressão internacional. A partir da década de 60 ocorre uma gradativa evolução no campo das ciências (principalmente as Ciências Naturais), e, junto a isto, há uma conjugação de fatores trágicos (emissão da bomba atômica, Chernobyl, derramamento de óleo pelo Navio Erika). Passou-se a questionar as consequências das ações da indústria capitalista. Alguns movimentos sociais começaram a surgir questionando essa evolução capitalista. A partir desta pressão social alguns Estados percebem a necessidade de dar uma resposta clara a estes questionamentos, e então, ocorrem as reuniões globais para debater este tema. Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente (1972): Inserção dos Estados num debate global sobre Meio Ambiente. A lógica desta conferência foi reunir pela primeira vez num ambiente internacional, vários Estados, que, devido à pressão social, foram impelidos a debater sobre as principais questões ambientais. Surge nesta reunião, a “Declaração do Meio Ambiente”, que é um prolongamento da Declaração Universal dos Direitos do Homem, assim, o meio ambiente passa a ser reconhecido como um direito humano. Ocorre aqui uma influência direta nos movimentos constitucionalistas em todo o mundo, pois, os Estados podem introjetar em suas Constituições questões ambientais, e deste modo, essas questões podem ser tratadas como temas de Direitos Fundamentais. No Brasil, a Constituição de 1988 adotou a proteção ao meio ambiente. Na Declaração do Meio Ambiente, temos os seguintes conteúdos: “o homem é ao mesmo tempo artífice do meio ambiente, e resultado dele”; “é necessário proteger o meio ambiente para a presente geração, e para as futuras” (direito transgeracional); “deve haver equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental” (desenvolvimento sustentável). Ocorreu a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que é uma Agência responsável a promover a conservação e uso eficiente dos recursos naturais. Através dessa Agência, passam a ocorrer seminários sobre formas de vida diferenciadas. Gru Brundtland e outros cientistas passaram a pesquisar melhores formas de desenvolvimento econômico conciliando isto à proteção ambiental – surge o Relatório Brundtland (1987), onde surge o primeiro conceito de Desenvolvimento Sustentável: “(...) desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações vindouras satisfazerem as suas próprias necessidades”. O desenvolvimento econômico aqui, deve tentar conjugar ao máximo os fatores econômico, ambiental e social. Segundo este relatório, quanto mais pobre uma economia, menos preocupada com ambiente ela será – isso dá espaço ao ‘racismo ambiental’: populações ou grupos sociais que passam a ter tratamento diferenciado de acordo com a qualidade do meio ambiente onde vivem. Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992): ECO 92, Rio 92, Cúpula da Terra? Estabelecer aliança mundial mediante a criação de novos níveis de cooperação entre Estado e setores-chaves da Sociedade (ex: ONG’s, universidades, centros de pesquisas, empresas, etc.), ou seja, existem outros atores participando das discussões. O centro dos debates aqui, é desenvolver e melhorar aquilo que o Relatório Brundtland colocou. Busca-se incentivar o desenvolvimento econômico social em harmonia com a preservação do meio ambiente. Aqui, surge um princípio que busca densificar o desenvolvimento sustentável – o Princípio da Responsabilidade Comum, mas diferenciada: Estados são responsáveis pela conservação, proteção e recuperação do ecossistema, na medida em que contribuíram, em graus variados, para a degradação. Surgem então a política de metas. Surgem aqui os documentos amplos e específicos: os documentos específicos cuidavam de pontualidades sobre alguns temas: diversidade biológica, mudanças do clima (convenção quadro – abre espaço para discussão do protocolo de Kyoto e Paris/15) e uso das florestas. Os documentos amplos tratavam do meio ambiente em geral, e os mais importantes foram a Declaração do Rio e a Agenda 21 (referencial para o desenvolvimento de ações ambientais pelos governos dos Estados; documento programático sem mecanismos específicos de sanção (soft law); flexibilidade na implementação das ações do documento). Conferência Mundial Sobre o Desenvolvimento Sustentável (Joanesburgo 2002): Há aqui a reafirmação dos princípios das conferências anteriores. Os documentos criados aqui foram a Declaração de Joanesburgo e o Plano de Implementação (PI). O plano de implementação se deu a partir da identificação de metas: (i) erradicação da pobreza; (ii) alterações no padrão de consumo e produção; (iii) proteção aos recursos naturais. Tem-se aqui, específico tratamento ao Continente Africano e aos Estados-Ilha. Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (2012) – Rio +20: Ocorreu no Rio de Janeiro, entre 20 e 22 de Julho. Aqui, há a reafirmação do Princípio da Responsabilidade Comum, mas Diferenciada, entre os Estados. Discutiu-se aqui a criação de um fundo internacional para o meio ambiente. Os pontos destacados no Documento Final foram: energia, água, saneamento, segurança alimentar, oceanos e mares, redução de riscos de desastres naturais, mudanças climáticas, biodiversidade. Conferência Climática de Paris (2015): Acerca das metas de gás carbônico (protocolo de Kyoto). Tentou-se estabelecer uma nova lógica sobre o mercado de carbono. 2. VISÕES DO DIREITO AMBIENTAL: ANTROPOCENTRISMO X ECOCENTRISMO: Questiona-se a quem o meio ambiente serve. 2.1. Antropocentrismo: Utilitarista: Visão clássica. Homem como eixo principal da tutela jurídica do meio ambiental. Todo o Direito Ambiental é algo que está à disposição do homem, e, por consequência, o homem passa a ver o meio ambiente como algo à disposição das necessidades humanas. “Planeta visto como um celeiro de recursos naturais à disposição das necessidades humanas”. Progressista: Lógica do desenvolvimento sustentável (as ações do homem são também submetidas a um cuidado maior de uma relação homem-economia-ambiente, ou seja, há um respeito à capacidade do ecossistema planetário de atender a tantas e tão crescentes demandas da espécie dominante). Para esta visão, o fato de o homem seja de uma espécie, não o dá direito de desrespeitar as outras espécies. 2.2. Ecocentrismo: Ecologia profunda (deep ecologic): Coloca o ambiente como centro das atenções jurídicas. Protege-se e tutela-se o meio ambiente porque ele é digno de proteção por si só. As preocupações científicas, políticas, econômicas e culturais se voltampara o “oikos”. A Terra considerada casa comum e, mais do que isto, um sistema vivo. Proibição da crueldade e o direto animal: Tanto a visão progressista quanto o ecocentrismo não aceitam crueldade animal. Para o progressista, o animal é um bem jurídico digno de proteção, para o ecocentrismo, o animal é sujeito de direito. O art.225, §1º, VII traz a vedação à crueldade animal (a discussão é se a visão do artigo é antropocêntrica ou ecocêntrica). Farra do Boi: Festa que ocorria anualmente em Santa Catarina, e que tinha como objetivo, mau tratar e matar o boi (RE 153.531). O STF decidiu que esta, é uma prática cruel e deve ser vedada. 3. PROPEDÊUTICA DO DIREITO AMBIENTAL: Ciência jurídica que estuda, analisa e discute as questões e os problemas ambientais e sua relação com o ser humano, tendo por finalidade a proteção do meio ambiente e a melhoria das condições de vida no planeta (Luís Paulo Sirvinskas). O direito ambiental possui relação com outras áreas do direito (civil, penal, tributário, administrativo). Também há relação com outras áreas do conhecimento. Esferas de atuação: Preventiva (administrativa); reparatória (cível) repressiva (penal). Poderes do Estado e tutela ambiental: Poder Executivo: estabelecer medidas de controle das atividades causadoras de significativo impacto ambiental; conceder licenciamento ambiental; Exigir o EIA/RIMA; fiscalizar atividades poluidoras. Poder Legislativo: elaborar normas ambientais, exercer controle sobre os atos administrativos do executivo, aprovar orçamento das agencias ambientais; Poder Judiciário: julgar ações judiciais que versem sobre a temática ambiental; exercer controle de constitucionalidade. 4. CLASSIFICAÇÃO DO JURÍDICO-CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE: A classificação leva em conta aspectos que compõem o ambiente (CF/88). 4.1. Meio ambiente natural (físico): Constituído pela atmosfera, biosfera, água, solo, subsolo (inclusive recursos minerais), fauna, flora. Conserva o fenômeno da homeostase (equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e meio em que vivem). É tratado no art. 225 da Constituição. O foco do direito ambiental é investigar como o Direito no Brasil tutela o meio ambiente natural. 4.2. Meio ambiente artificial: Está diretamente relacionado com o conceito de Cidade (todos os espaços habitáveis). Compreendido pelo espaço urbano construído, consistente no conjunto de edificações (espaço urbano fechado) e pelos equipamentos públicos (espaço urbano aberto). Encontra tratamento constitucional no art.5º, XXIII, art.21, XX, art.181 (estatuto das cidades – plano diretor) e art.225. Desapropriação compulsória: se dá a partir de uma previsão no plano diretor, pois, cabe ao plano diretor conceituar a função social da propriedade. Logo, se determinada propriedade não cumpre a função social da propriedade, ocorre a desapropriação compulsória. Serve para coibir o abuso do direito. A função social da propriedade é relativa a cada município (dentro do direito ambiental). Para que a desapropriação seja materializada, são necessárias algumas gradações (ex: IPTU progressivo). 4.3. Meio ambiente cultural: Integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico (patrimônio cultural). Traduz a história de um povo, a sua formação, cultura e, portanto, os próprios elementos identificadores de sua cidadania. É tratado no art.216 da Constituição. Tombamento: o objeto deve representar algum tipo de cultura. 4.4. Meio ambiente do trabalho: Local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais relacionadas à saúde (sejam remuneradas ou não). O equilíbrio está baseado na salubridade do meio ambiente e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores. Tratamento constitucional: art.7º, XXI, atr.200, VIII. Cabe ao SUS também, observar a saúde dos trabalhadores. 5. PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL: Princípios são mandamentos de otimização, logo, eles serão aplicados em maior ou menor grau quando em conflito com outros princípios. Muitos dos princípios do Direito Ambiental têm relação com os princípios constitucionais. 5.1. Desenvolvimento econômico sustentável: Não seria princípio, mas ideia básica que perfaz todo o direito ambiental. O próprio desenvolvimento sustentável já pressupõe um conflito. O desenvolvimento sustentável é a força motriz, a ideia básica do direito ambiental. O desenvolvimento sustentável é consequência da Conferência Mundial do Meio Ambiente (Estocolmo/92). O desenvolvimento ambiental traz a lógica transgeracional (permitir que as pessoas do presente e do futuro gozem de um ambiente sadio e equilibrado). Na Constituição Federal, pode-se perceber o desenvolvimento sustentável no art.225, caput e no art.170, VI (traz os princípios gerais da atividade econômica no Brasil). Segundo Terence Dorneles, este ‘princípio’ “busca atender aos anseios do presente, tentando não comprometer a capacidade e o meio ambiente das gerações futuras”. 5.2. Princípio da capacidade de suporte ou do limite: Art.225, §1º, V da CF/88. Dever de administração pública estabelecer padrões de qualidade ambiental. Padrões estabelecidos (Standards Ambientais) devem levar em conta o limite de matéria ou energia estranha que o ambiente pode suportar sem alterar suas características básicas e essenciais. Aqui, analisa-se a qualidade, e o Estado é quem define isto (ex: água imprópria para beber, água imprópria para banho, etc.). Cumpre ao Estado, como mantenedor da res publica, definir os padrões de qualidade ambiental que têm de ser obedecidos pelos cidadãos. 5.3. Princípio do equilíbrio: Estuda o custo benefício da ação humana sobre o ambiente. Visa sopesar as consequências previsíveis da atuação sobre o ambiente, de forma que essa atuação possa ser útil à comunidade e não importe gravames excessivos aos ecossistemas e vida humana. “Tem como característica básica a ponderação de valores quando da prática de algum evento que possa repercutir na esfera ambiental” (Terence Dorneles Trennepohl). 5.4. Princípio do poluidor-pagador (PPP): Não é um princípio que possibilita que a pessoas poluam e depois paguem. A ideia básica é a internalização das “externalidades negativas” (plano preventivo), produzidas pelos agentes econômicos de modo a que os custos ambientais sejam proporcionalmente, arcados por quem polui (plano repressivo). Quando uma empresa calcula o preço de um produto, ela não repassa o preço do que foi poluído, pois, não há cobrança. A externalidade negativa é tudo quilo que é criado pelo agente econômico, mas que não é sua intenção criar, seria uma sobra (no meio ambiente, não se insere o real valor gasto com a exploração dos recursos naturais – isso torna o produto mais barato e facilita o consumo). A pratica mais comum de internalização dos custos é a partir dos tributos, quanto mais poluidor for aquele produto, maior será o tributo aplicável a ele – já que o empresário não coloca espontaneamente, o custo ambiental no produto, o Estado coloca. Com os tributos ambientais, visa-se utilizar o dinheiro em pesquisas para diminuir os impactos ambientais (exemplo: CIDE – Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), mas, na prática, serve como arrecadação para o Estado. Em suma, “é uma tentativa de impor ao poluidor o pagamento ou a majoração dos valores de suas atividades em razão de um maior impacto ambiental” (Terence Dorneles Trennepohl). Plano preventivo: Busca evitar que o dano ambiental ocorra, logo, ocorre a desestimulação àquela atividade ou setor econômico potencialmente poluidores. Plano repressivo: Fundamenta a responsabilidade ambiental e a aplicação de sanções nos casos de reparação aos danos ambientais. A responsabilidadecivil ambiental engloba a responsabilidade objetiva (não exige o elemento volitivo – o dano ambiental deve ser comprovado e, deve haver nexo entre o autor e o dano, não imporá se houve dolo ou culpa), a prioridade na reparação específica (preocupa-se com a reocupação in natura do meio ambiente) e a solidariedade para suportar os danos ao ambiente. 5.5. Princípio do usuário-pagador: Utente é toda pessoa que faz uso dos serviços públicos Usuários de recursos naturais devem pagar por sua utilização. Baseia-se na compensação financeira à coletividade pela utilização de recursos naturais. Na medida em que o utente necessita de serviços que se utilizem de recursos naturais, deve-se pagar um valor. Mão se paga pelo eventual dano ambiental (art.4º, VII – PNMA). 5.6. Princípio da precaução: Alemanha, 1970 (Vorsorgeprinzip). Resposta a uma política poluidora atmosférica (preocupação com saúde pública, poluição do ar, destruição das florestas e chuvas ácidas). Muitas vezes a ação humana no meio ambiente, gera uma imprevisibilidade daquilo que irá ocorrer posteriormente, e, por isso, busca-se restringir ou limitar determinadas atividades que representem potenciais efeitos maléficos sobre uma coletividade. Possui previsão legal na Declaração Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas (RIO/92) – Princípio 15. A lógica por traz deste princípio é o indubio pro ambiente. Os pressupostos são os seguintes: falta de evidencia cientifica (incerteza) a respeito da existência do dano temido (ex: art.1º, caput – Lei de Biossegurança – Lei 11.1.05/05); possibilidade de que condutas humanas causem danos coletivos vinculados a situações catastróficas que podem afetar o conjunto de seres vivos. 5.7. Princípio da prevenção: Diretriz para a restrição de uma atividade diante da evidência de perigo ou dano possível, quando já houver um risco diagnosticado. O irmão do princípio da precaução é o princípio da prevenção. Enquanto o princípio da precaução tem atuação em um ambiente de incerteza científica do dano, o princípio da prevenção vai trabalhar em um ambiente onde o dano ambiental é certo. Esse princípio foi previsto na Conferência de Estocolmo e na Rio 92. O princípio da prevenção é aquele em que se constata, previamente, a dificuldade ou impossibilidade da reparação ambiental, ou seja, consumado o dano ambiental, sua reparação é sempre incerta ou excessivamente onerosa. Desta forma, o princípio da prevenção consiste em evitar que medidas de proteção sejam em razão da incerteza que circunda os eventuais danos ambientais. Princípio da precaução x prevenção: a) Quanto aos riscos ambientais envolvidos: No princípio da precaução, os riscos ambientais são incertos. No princípio da prevenção, os riscos ambientais são certos, ou seja, do ponto de vista científico já existe um mapeamento dos riscos ambientais, diante de uma atuação direta no ambiente. b) Quanto à liberdade de atuação da Administração Pública: A Administração Pública vai possuir maior discricionariedade ao trabalhar com altos riscos ambientais – quando o dano ambiental é incerto ou não conhecido, se tem uma flexibilidade menor do que quando o dano ambiental é certo ou conhecido. No dano certo, pode-se prever mecanismos de compensação, já quando o dano é incerto, muitas vezes não se sabe o que fazer e ou como compensar. 5.8. Princípio da Participação ou Princípio Democrático: Este princípio possui dois sentidos: direito de participação do processo de tomada de decisões políticas ambientais; e dever de participação do processo de tomada de decisões políticas ambientais. A participação é um direito da coletividade e um dever da mesma. Com esse princípio, assegura-se a participação do cidadão na proteção do meio ambiente. Todo e qualquer serviço apresenta melhorias quando é efetivamente cobrado pelos consumidores. 5.9. Princípio da Integração ou Princípio da Ubiquidade ou Princípio da Transversalidade: Mostra uma necessária integração das exigências ambientais na definição e aplicação das políticas públicas. Não há como se pensar em meio ambiente de modo restrito/compartimentalizado. A variável ambiental deve percorrer toda a estrutura da política pública – são necessárias políticas públicas transversais. A Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) é uma espécie de instrumento que força que o poder público considere a integração ambiental sempre que for fazer uma política pública – A AAE não é prevista no Brasil de modo expresso, mas, muitas vezes as grandes obras e projetos exigem que a Avaliação Ambiental Estratégica seja feita. A Avaliação Ambiental Estratégica (análise do conjunto do programa de políticas públicas) não deve ser confundida com a Avaliação de Impacto Ambiental (avaliação do impacto da obra). A AAE deve ser feita de acordo com as diretrizes que são determinadas por quem financia o programa da política pública a ser feita 5.10. Princípio da Proibição do Retrocesso Ambiental: Uma vez conquistadas garantias de proteção ambiental, não há possibilidade de retroatividade. Obsta medidas legislativas e executivas que possam servir para que haja retrocesso ambiental. Busca-se preservar o bloco normativo (constitucional ou infraconstitucional) há consolidado no ordenamento jurídico, impedindo ou assegurando o controle dos atos que venham provocar a sua supressão ou restrição dos níveis de efetividade vigentes dos direitos fundamentais. Muitas vezes a tutela ambiental é variável de acordo com o tempo (mudanças sociais e econômicas por exemplo), ou seja, esse princípio deve ser avaliado tendo em vista as circunstâncias de fato (principalmente considerando a medida de efetividade). 6. ORDEM CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE: 6.1. Tratamento nas Constituições anteriores: Não havia sistematização do direito constitucional ambiental – o meio ambiente era tratado de forma indireta. O tratamento era vincular a autorização da União de legislar sobre proteção à saúde, monumentos históricos, artísticos e naturais. O enfoque da questão ambiental era associado ao estabelecimento da infraestrutura econômica – a União criava as condições mínimas para que houvesse um desenvolvimento econômico (ex: Código de Mineração no Brasil – a lógica não é criar uma preservação, mas sim condições mínimas para que as empresas explorem o minério). A regulamentação legislativa era voltada à atividade produtiva, independentemente de conservação dos recursos ambientais. O art.225 só entrou na Constituição de 1988 por conta da Conferencia de Estocolmo de 1972 (entendia-se direito ambiental como direito humano após isto). 6.2. Tratamento na Constituição de 1998: Art.170: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios. IV - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação. - No art. 170, tem-se a defesa do ambiente como princípio da ordem econômica, e, esta relação é inédita no Brasil. Passa-se a ter uma utilização raciona dos recursos naturais. Art.225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Há aqui, materialmente, a percepção de que o direito ao meio ambiente ecologicamente sadio é, de fato, um direito fundamental. - “Todos têm direito”: Deve-se observar que existem duas correntes indicando quem são osdestinatários da norma: a primeira corrente diz que somente brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil se enquadram na norma (mais aceita no Brasil). Para a segunda corrente, são considerados destinatários da norma, toda e qualquer pessoa humana – aqui, não há exigência da condição de cidadania para que se usufrua deste direito fundamental. Se a segunda posição é admitida, abre-se a possibilidade de que pessoas de um estado estrangeiro, tutele o ambiente de um outro Estado (ingerência ou intervenção ambiental). Questiona-se se o conceito abrange todo e qualquer ser vivo - na visão antropocêntrica, somente o ser humano está protegido aqui (visão majoritária). Já na visão ecocêntrica, todos os seres vivos são protegidos pelo art.225. - “Bem de uso comum do povo”: Tem-se a criação de um novo gênero de bem. O bem de uso comum do povo não reflete apenas um bem pertencente ao Estado. Isto faz com que haja a necessidade de reinterpretar o art.20 da Constituição. Segundo este artigo, são considerados bem da União alguns recursos naturais. A doutrina ambientalista diz que, os recursos listados neste artigo devem ser geridos pelo poder público, ou seja, não há aqui, a União como proprietária do meio ambiente, mas como mera gestora. Segundo o STF, a propriedade privada não dá o direito de que o proprietário se utilize indiscriminadamente dos recursos naturais. - Ao se dizer que o bem de uso comum é “essencial à qualidade de vida”: Tem-se a fundamentalidade do meio ambiente. Aqui, enquadra-se o meio ambiente como um direito fundamental de terceira dimensão (direitos transindividuais de caráter difuso). Quando os interesses difusos são ofendidos, o Ministério Público poderá intervir. O direito ao meio ambiente não está previsto expressamente no art.5º da Constituição, porém, através da leitura o seu parágrafo segundo, há a inclusão do meio ambiente no rol de direitos fundamentais. O meio ambiente como um direito fundamental, é essencial à sadia qualidade de vida. Questiona-se se há um conteúdo mínimo essencial aqui – exemplo: acesso à água. - “Impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo”: A própria Constituição traz quem são os sujeitos que possuem o dever de tutelar o meio ambiente. Para facilitar a preservação, existem instrumentos processuais que podem ser utilizados – pode-se em nome próprio tutelar em nome de outrem, pois o direito não é somente dos outros (exemplo: ação popular). Deve-se lembrar que todo direito fundamental gera um dever fundamental. - Em “presentes e futuras gerações” tem-se uma proteção intergeracional ou transgeracional, ou seja, há a preocupação com o futuro. A indisponibilidade de direitos no Direito Ambiental: Segundo o art.225 da Constituição, a indisponibilidade é a exceção à regra da disponibilidade de bens ambientais – via de regra o direito ambiental é um direito disponível, há a possibilidade de realização de acordos (art.225, §5º; art.225, §1º, III – a terra devoluta não pode ser vendida quando for destinada a proteção ambiental). O fato de um bem ser indisponível não impede que o dano sobre ele seja disponível (é como se bem fosse o principal e o dano o acessório – neste caso, o acessório não acompanha o principal). 6.3. Macrobem e microbem: Conceito de meio ambiente (Ávila Coimbra): “Meio ambiente é o conjunto de elementos abióticos (físicos e químicos) e bióticos (flora e fauna), organizados em diferentes ecossistemas naturais e sociais em que se insere o home, individual ou socialmente, num processo de interação que atenda ao desenvolvimento das atividades humanas, à preservação dos recursos naturais e das características essenciais do entorno, dentro das leis da natureza e de padrões de qualidade definidos”. Macrobem ambiental: Conjunto de interações e elementos do conceito de ambiente. Tudo que influencia diretamente a harmonia do meio ambiente. Quando ocorre um dano ao macrobem ambiente, surge uma desarmonia que muitas vezes atinge a todo um ecossistema – este dano seria aquele que escaparia da possibilidade de negociações com o poder público, ou seja, não haveria como transacionar. Microbem ambiental: Todo e qualquer elemento integrante do meio ambiente. Soma dos elementos do micro bem forma o macrobem (exemplo: atmosfera, água, solo, subsolo, vegetação, espécie de ambiental). O dano provocado a um elemento do ambiente, é dano ao microbem, e é absolutamente indisponível. A disponibilidade do microbem ambiental: Questões ambientais são essencialmente negociáveis. Realização de arbitragem e transações ambientais. 7. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS: Toda repartição de competência segue a lógica do princípio da predominância de interesse: a União trabalha com interesse geral, os estados-membros com interesse regional, os municípios trabalham com interesses locais e o Distrito Federal com interesses locais e regionais. Existem duas classificações de competências: Primeira classificação: As competências legislativas conferem aos entes públicos a possibilidade de criar leis. As competências materiais conferem a possibilidade de os entes federativos realizarem as chamadas políticas públicas. A materialização de algumas políticas ambientais no Brasil, são feitas através do poder de polícia ambiental. Os atos administrativos influenciados pelo poder de polícia, refletem a possibilidade do Estado regulamentar, ou mesmo restringir direitos individuais. Segunda classificação: a) Exclusivas: Não admitem delegação. b) Privativas: Admitem delegação (via lei complementar). c) Comum, cumulativa ou paralela: Possuem natureza administrativa, pertencem ao mesmo tempo à União, aos Estados-membros, Municípios e Distrito Federal. d) Concorrentes: Possuem natureza legislativa e pertencem ao mesmo tempo à União e ao Distrito Federal. e) Suplementar: Exercida pelos Estados-membro e Municípios para complementar ou suprir a falta de normas gerais. Enquanto não sobrevier a norma geral da União, os Estados-membro podem legislar de modo supletivo. Ocorrendo criação superveniente, por parte da União, de norma geral, aquelas normas criadas pelos Estados-membro que forem contra a norma geral, ficarão suspensas. Complementar: A União estabelece uma norma geral e os Estados-membros vão densificar as normas gerais. Cabe ao Estado-membro fazer o uso da sua competência complementar, sem entrar em confronto com normas gerais. Supletiva. 7.1. Competências Constitucionais Ambientais: Desafios à proteção ambiental em um Estado Federalista: - Disputa de poder entre órgãos ambientais – Muitas vezes, a repartição de competências que é colocada pela Constituição acaba gerando conflito entre os entes. Dentro de um mesmo órgão ambiental podem ocorrer disputas (exemplo: Até 2012, haviam dois órgãos que não se entendiam muito bem: INGÁ x IMA. Muitas vezes, conseguia-se autorização de criação hidroelétrica do INGÁ, mas não do IMA. Estes órgãos se juntaram e ocorreu a criação do INEMA). - Invasão de competências por leis infraconstitucionais – As leis infraconstitucionais criaram competência específica, porém, muitas vezes essas competências só podem possuir previsão com a Constituição Federal. Cabe à Constituição repartir as competências entre os entes federativos. - Exercício do poder de polícia ambiental (fiscalização ou licenciamento). - Conflitos de competências na federação brasileira: entre níveis diferentes das esferas político- administrativas, e/ou dentro de um mesmo nível de esfera pública. Importância de definição de competências em matéria ambiental: Dificuldades impostas pela Constituição de 1988 à melhor definição de competências: Tem-se uma federação desequilibrada, e, em princípio, a maioria das competências é outorgada à União,isto reflete na matéria ambiental pois, principalmente no que se refere ao ambiente natural. Um segundo problema é a atécnia ao se utilizar do termo “meio ambiente” - utiliza-se o termo como algo genérico, em alguns momentos se referindo a macrobem e em outros a microbem. Conflito de competência na Federação Brasileira: Pode ocorrer em níveis diferentes das esferas político-administrativas (entre entes federativos) ou dentro de um mesmo nível de esfera político-administrativa. Querem fazer um novo canal de escoamento de água, gerando impacto nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Neste caso, como o impacto ambiental será sentido em mais de um estado, ambos os cenários devem ser levados em conta. O que há de mais comum nestas situações é uma briga entre estado e união, ou município e estado. É muito comum que em âmbito federal os órgãos ambientais possuam ideias divergentes sobre determinado tema, como licenciamento de uma hidrelétrica perto de reserva indígena por exemplo – tanto FUNAI quanto IBAMA vão querer versar sobre o assunto, e, é muito comum que o parecer da FUNAI seja contra o licenciamento e o IBAMA a favor. Critério utilizado pelo STF na resolução sobre conflito de competências: Segundo o STF, “competências privativas se sobrepõem às competências concorrentes” – como consequência disto, tem-se um regime de proteção ambiental muito centralizado. 7.2. Competências: Competência privativa: Art.22, IV, XII, XIV e XVI. Cabe a União, privativamente, legislar sobre águas, jazidas, energia (eólica, via ondas, etc.), população indígena, minas e outros recursos naturais e atividades nucleares (elementos constitutivos do meio ambiente). Competência comum dos estados, municípios, distrito federal e união: Art.23, III, IV, VI, VII, XI e parágrafo único. Proteger o meio ambiente, combater a poluição em qualquer de suas formas, preservar florestas, fauna, flora, registrar, acompanhar e fiscalizar a concessão de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais e seus territórios. As competências do art.23 serão instrumentalizadas através de leis complementares. Competência concorrente da União: Art.24, VI, VII e VIII: Florestas, caça, pesca, fauna, conservação e defesa dos recursos naturais, proteção do meio ambiente, controle de poluição, proteção do patrimônio (histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico). Competência estadual e municipal: Competência comum (art.23, III, IV, VII, XI e parágrafo único). No que se refere a competência concorrente, deve-se lembrar que estado e munício somente podem criar norma geral se houver omissão da União. Caso sobrevenha norma geral posterior, a norma supletiva fica suspensa naquilo que for contrário. A competência concorrente dos municípios está presente de modo implícito (art.30, II, c/c art.24). Os municípios irão ajudar e legislar sobre essas temáticas quando houver interesse local. Compete ao município legislar sobre o seu patrimônio histórico. - Salvador criou uma lei específica de proteção, permitindo o tombamento de alguns imóveis locais. Também foi criada a legislação sobre turismo, e lei municipal que regula recursos naturais da fauna e da flora. Salvador possui lei específica sobre controle de poluição. Essas matérias não podem se chocar com as normas gerais criadas pela União, além disso, não pode ir contra normas gerais criadas pelos estados. 8. POLÍTICA E SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE: 8.1. Política Ambiental no Brasil: A política ambiental revela movimentos articulados do poder público com vistas a estabelecer os mecanismos capazes de promover a utilização de recursos ambientais da forma mais eficiente e sustentável possível. Aqui, há um grande diálogo entre direito ambiental e direito administrativo. Política Ambiental Federal: Lei 6.938/81. Esta lei é anterior à Constituição, porém, posterior à Conferência de Estocolmo. Política Ambiental Estado: Lei 10.431/06. 8.2. Realização da política ambiental pelo legislativo: 8.3. Realização da política ambiental pelo executivo: Definição dos usos possíveis dos recursos ambientais: Cabe ao poder executivo vislumbrar como os recursos ambientais serão utilizados. Definição da forma pela qual os recursos ambientais são utilizados: Não adianta que o Poder Executivo autorize a utilização de recursos sem indicar qual será a forma de utilização (exemplo: utilizar gruta para fins turísticos – a partir de determinação de licença ambiental, o poder executivo irá determinar a forma como o recurso será utilizado). Estabelecer políticas setoriais: (energias, recursos hídricos, resíduos, etc.). É dado ao poder executivo, o dever de cuidar dos microbens através dos planos setoriais. Neste momento, haverá um cuidado especial, levando em conta as peculiaridades dos elementos da natureza que estão sendo analisados. Em cada setor, há um conjunto de regras específicas, por isso deve-se ter um olhar mais direcionado. 8.4. Realização da política ambiental pelo judiciário: Deve efetuar a revisão de atos administrativos que tenham repercussão sobre o meio ambiente. Cabe ao juiz julgar se a política escolhida pelo gestor está de acordo com os princípios do direito, principalmente o princípio da legalidade. Cabe a juiz controlar a constitucionalidade das lei e atos normativos ambientais (federais, estaduais e municipais). O controle pode ser feito por via incidental (caso concreto) ou em abstrato. Alguns remédios constitucionais podem ser usados para provocar o judiciário (ação popular – lei. 4.7171/65, ação civil pública – lei 7.347/85 e lei de improbidade administrativa – lei 8.429/92). 8.5. Atribuição do Ministério Público: Possui um importante papel na fiscalização do cumprimento da política ambiental. O MP realiza a integral fiscalização dos atos e procedimentos dos poderes públicos para, em caso de violação da legalidade, acioná-los judicialmente. O Ministério Público irá fiscalizar o Poder Executivo. PNMA (Lei 6.938/85): Possibilita a responsabilização daqueles que causam danos ao meio ambiente. A responsabilização é cobrada pelo Ministério Público. A ação civil pública, que tutela qualquer tipo de interesse difuso, serve como instrumento para a responsabilização ambiental. Atuação do Ministério Público Extrajudicial: Pós constituição 1988 – possibilita que o Ministério Público determine algumas políticas. Aqui, pode-se realizar transações ambientais e os Termos de Ajustamento de Conduta (associação com a disponibilidade ou não do meio ambiente). Ao conferir maior liberdade ao MP, tem-se a possibilidade de realização de acordos de maneira mais célere. Existe uma crítica sobre a atuação extrajudicial do Ministério Público: via acordos extrajudiciais, pode acabar realizando política ambiental de modo deslegitimado. Além disso, muitas vezes as ações realizadas pelo Ministério Público não são endossadas pela sociedade. 8.6. Ativismo Judicial na temática ambiental: Muitas vezes, há inércia do Poder Executivo na implementação da Política Ambiental, e com isso, há uma atuação quase que protagonista do Poder Judiciário. Caso do Algodoal/PA: A Ilha de Algodoal é área de proteção ambiental. O Ministério Público buscou que se instalasse alguma política ambiental de saneamento básico. Foi pedido ao judiciário que determinasse ao Poder Executivo a criação de esgotos, porém, além disso, foi determinado que ocorresse a coleta seletiva. (TRF 1ª Região – AG nº 19.291/PA). A questão aqui, é se o juiz poderia determinar que a coleta de resíduos fosse seletiva. 8.7. Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA: Lei Federal 6.938/81. Objetivos: Art.2º. “Preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar ao País condições de desenvolvimentosocioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana”. Princípios da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA): O que a lei chama de princípio é a tentativa de materializar as premissas ambientais encontradas no caput. São formas de execução dos objetivos do caput. I – Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurando e protegido, tendo em vista o uso coletivo. II – Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar – a racionalização do uso se liga ao princípio do limite, ou da capacidade de suporte. III – Planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais IV – Proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas. V – Controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras. VI – Incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais. Se tem uma relação direita com os princípios da precaução e da prevenção, pois, busca-se uma ação humana antes do eventual dano ambiental. VII – Acompanhamento do estado da qualidade ambiental. VIII – Recuperação de áreas degradadas. IX – Proteção de áreas ameaçadas de degradação. X – Educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá- la para participação ativa na defesa do meio ambiente. Instrumentos de realização os objetivos da lei: Art. 9º c/c art. 225, §1º, CF. Os instrumentos previstos na lei devem passar por algum tipo de análise de recepção ou não pela Constituição, já que, é anterior à esta. A tutela ambiental no Brasil é materializada a partir de instrumentos constitucionalmente previstos e de instrumentos infraconstitucionais. Instrumentos trazidos pela Lei 6.938/81 (art.9º): São armas que irão auxiliar a tutela ambiental. I – Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental. – se comunica com o princípio da capacidade de suporte. É a tentativa do Estado guiar a atuação da sociedade e o usufruto do meio ambiente. Tanto as empresas privadas autorizadas pelo Estado quanto órgãos públicos, poderão indicar qualidade dos recursos ambientais. Como programas públicos, tem-se três exemplos: PROCONVE, PRONAR e PROAGUA – estabelecem os limites de suportabilidade que os recursos naturais possuem, estabelecem níveis máximos de utilização dos recursos. Se alguém utiliza os recursos acima do limite, pode haver a incidência do princípio do poluidor pagador. PROCONV E Programa de controle de poluição do ar em veículos automotores (Res. 86/86). PRONAR Programa de qualidade do ar (Res. 03/90). PROAGUA Padrão de qualidade das águas (Res. 357/2005). II – Zoneamento ambiental – aqui, tem-se diretrizes específicas para as Unidades territoriais (divisão em zonas – exemplo: comercial, residencial, turística, industrial, etc.). O fato de haver divisões em zonas em um estado, não inviabiliza que uma zona receba tratamento diferenciado (exemplo: construir uma mineradora em uma zona de proteção ambiental, em princípio não é proibido). O órgão ambiental deverá ser muito mais fiscalizador quando há uma atividade que não se encontra em sua zona de origem. O Decreto 4.297/02 indica alguns tipos de atividade: zonas de uso estritamente industrial, zonas de uso predominantemente industrial, zonas de uso diversificado, zona de reserva ambiental. Atualmente, prevalecem as zonas mistas, e isto favorece a mobilidade urbana, pois o fluxo de transito diminui. III – Avaliação de impactos ambientais. IV – O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras – Este instrumento é previsto na PNMA e no art.225, §1º, IV, CF. A Constituição fala em estudo prévio de impacto ambiental (EIA). O Estudo é apenas um documento técnico gerado a partir de um procedimento administrativo chamado avaliação de impacto ambiental. A avaliação de impactos ambientais é o que dará suporte ao licenciamento ambiental (os princípios do processo administrativo deverão ser aplicados aqui). Devem respeitar o princípio da democraticidade, ou seja, permitir que os seus atos sejam absolutamente públicos e todos tenham a possibilidade de conhece-lo. Aqui, faz-se necessário o respeito o princípio da publicidade. O licenciamento ambiental encontra-se previsto no art.10 da PMNA, art.17 a 32 do Decreto 99.274/90. Resolução CONAMA 237 e lei complementar 140/11. V – Incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção da tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental. VI – A criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas. VII – O sistema nacional de informações sobre o meio ambiente. VIII – O Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental. IX – As penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. X – A instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. XI – A garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi- las, quando inexistentes. XII – O Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais. XIII – Instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros. Instrumentos trazidos pela Constituição (art.225, §1º): Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeirasão patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. 8.8. Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA: Lei 6.939/81 (PMNA). Se há um direito fundamental ambiental previsto na Constituição, cabe ao poder público efetivá-lo. A efetivação ocorre mais fácil quando o Estado é organizado. O SISNAMA sofre influência do “National Enviromental Policy Act” norte americano. Conjunto de órgãos/instituições, vinculadas ao Poder Executivo que são encarregados da proteção ao Meio Ambiente. SISNAMA Órgão supervisor Conselho de Governo Órgão central Ministério do Meio Ambiente – MMA Órgão consultivo e deliberativo CONAMA Órgão executor IBAMA e ICMBio (âmbito federal). INEMA (âmbito estadual), SUCON (âmbito municipal) – responsável em Salvador pelo direito urbanístico e ambiental. Órgãos setoriais Órgão Federais Órgãos seccionais Órgãos Estaduais Órgãos locais Órgãos Municipais Conselho de Governo – órgão superior: Assessoria do Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o Meio Ambiente. Esse conselho atuaria sobretudo em questões macroambientais. Os conselheiros seriam os ministros os órgãos da presidência e a AGU. Ministério do Meio Ambiente – órgão central: Foi criado em 1992 (Lei 8490/92). O Ministério planeja, coordena, supervisiona e controla a PNMA. É composto por 7 Conselhos: Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), Conselho Nacional da Amazônia Legal (CONAMAZ), Conselho Nacional de Florestas (CONAFLOR), Conselho Nacional de Gestão de Patrimônio Genético, Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), Conselho Deliberativo do Fundo Nacional do Meio Ambiente, Comissão de Gestão de Florestas Públicas. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) – Órgão Consultivo e Deliberativo: Possui como objetivo e função assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes e políticas governamentais para o Meio Ambiente. Também irá deliberar, no âmbito da sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o Meio Ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida. A função deliberativa do CONAMA acaba por criar normas jurídicas – estabelecer padrões de qualidade, criar normas que procedimentalizam as regras do licenciamento ambiental, estabelecer limites de suportabilidade em casos de contaminação. As decisões deliberativas do CONAMA estão previstas em resoluções (atos administrativos de caráter geral e abstrato). As suas principais competências estão previstas na PNMA: estabelecer normas e critérios para o licenciamento; determinar e apreciar o EIA/RIMA; julgar recursos administrativos e multas do IBAMA (seria um órgão de segundo grau); editar normas (resoluções) e padrões de qualidade ambiental, estabelece diretamente o limite (princípio da capacidade de suporte ou princípio do limite). A previsão legal se encontra nos arts. 6º, II e art. 8º da PNMA, resoluções 01 e 237. Muitas vezes, ao fazer resoluções, o CONAMA acaba criando direitos e obrigações, e isso torna algumas resoluções bastantes questionáveis no âmbito da constitucionalidade. a) Composição (art.4º do Decreto nº 99.274/90 – regulamenta a PNMA): Plenário, Comitê Especial Recursal (julga recursos contra atos do IBAMA); Comitê de Integração de Políticas Ambientais (“secretaria das Câmaras”); Câmaras Técnicas; Grupos de Trabalho (realizam estudos e pesquisas); Grupos de Assessores. b) Competência Recursal do Conama: Revogação do inciso III do caput do art.8º da PNMA pela lei 11.941/09. O inciso III indicava a competência recursal do CONAMA, porém, a lei 11.941 não é uma lei que versa sobre matéria ambiental. Além disso, a lei 11.941/09 ainda prevê a existência da câmara recursal, porém, não se sabe se há a possibilidade de revisão – a depender do IBAMA, pode- se enviar o recurso ao CONAMA. IBAMA – órgão executor: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis. O IBAMA tecnicamente é uma autarquia federal, criada pela lei 7.735/89. Compete ao IBAMA exercer o poder de polícia ambiental (regulação da vida social e limitação de interesses pessoais em favor do interesse público) – o IBAMA possui ação fiscalizadora; executar ações da PNMA, referentes às atribuições federais relativas: licenciamento ambiental, controle da qualidade ambiental, autorização de uso dos recursos naturais, fiscalização, monitoramento e controle ambiental a partir de diretrizes do MMA; executar ações supletivas de competência da União. Instituto Chico Mendes – órgãos executor: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Autarquia criada a partir da lei 11.516/07. É o órgão fiscalizador das unidades de conservação federais. 8.8.1. Cooperação Administrativa entre órgãos dos SISNAMA: LC 140/11, art.4º; e art.23, parágrafo único, CF. Instrumentos de cooperação: Consórcios públicos; convênios, acordos de cooperação técnica (podem ser firmados por prazo indeterminado). Criação de comissão tripartite nacional, comissão tripartite estadual e comissão bipartite do Distrito Federal; fundos ambientais públicos ou privados; delegação de atribuição de um ente federativo para o outro; delegação de execução de aos administrativas de um ente para o outro. Delegações e atribuições: Art.4º e 5º da LC 140/11. Órgão ambiental capacitado a executar as ações administrativas a serem delegadas (órgão capacitado: aquele que possui seus técnicos próprios ou em consórcio, devidamente compatível com a demanda das ações administrativas a serem delegadas); conselho ao meio ambiente. 8.9. Sistema Estadual de Proteção Ambiental (Bahia): Órgão Central: Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA). Órgão Deliberativo e Consultivo: Conselho Estadual do Meio Ambiente (CEPRAM) – Lei Estadual nº 10.431/06. Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CONERH) – Lei Estadual nº 11.612/09. Órgão Executor: Artigo CRA. Extinção do IMA (Meio Ambiente) e INGÁ (Gestão de Águas) – Lei Estadual nº12.212/11. Criação do INEMA (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos) – Lei Estadual nº12.212/11. O INEMA foi criado a partir da junção do IMA e do INGÁ. Esse órgão tem uma função parecida com o do IBAMA, vai caber a ele, por exemplo, expedir as licenças materiais oriundas do estado da Bahia. 9. LICENCIAMENTO AMBIENTAL E ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL: 9.1. Licenciamento Ambiental (Lei Complementar 140/11) – Difere de Licença administrativa, pois esta é uma espécie de ato administrativo de caráter vinculado – o administrador público irá somente fazer uma subsunção da aplicação da norma. O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores, ou, capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. A licença administrativa é um ato vinculado e o licenciamento ambiental é um ato discricionário. É a própria lei que confere ao órgão administrativo ambiental as opções dentre as quais ele pode escolher. Caso o empreendimento não cause degradação ambiental, não será preciso essa licença. Resumindo, não é todo e qualquer empreendimento que vai precisar disso. Cabe ao CEPRAM estabelecer o que seria essa degradação. Ao final desse procedimento, o que se ganhará vai ser uma licença ambiental.9.2. Licença Ambiental (Res. CONAMA 237/97) – Ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental. Existem três hipóteses de licença ambiental: Licença prévia: autorização que o local escolhido para empreender seja apropriado para aquela atividade. Licença de instalação: permissão de começar a construir. Licença de operação: autorização de funcionamento – significa que a atividade pode ser realizada de forma tranquila. O empreendimento no Brasil só será possível se você houver a licença de operação (é a última da escala). Dependendo das leis estaduais, não será necessário que os empreendimentos passem por essas três fases, existindo uma licença simples (mais célere). 9.3. Licenciamento Ambiental e Estudo de Impacto Ambiental: O licenciamento é procedimento administrativo onde se busca a licença ambiental, que é um ato administrativo que eventualmente autoriza o empreendimento. Natureza jurídica do licenciamento ambiental: O procedimento administrativo possui um caráter preventivo, fundado nos princípios da precaução e da prevenção. O Estado irá analisar se a atividade gera risco ao meio ambiente. Previne-se a ocorrência de danos ambientais, limitando a atividade de empreendimento. Multipolaridade da licença ambiental: A possível intervenção empreendedora se dá sobre interesses difusos, pertencente à coletividade, por isso, trabalha-se com a lógica da multipolaridade, assegurando a participação de outras pessoas, para que estas possam opinar sobre o licenciamento. Deve-se dar a chance daqueles que possuem interesse sobre o meio ambiente que será afetado (além do requerente e do órgão licenciador). Manifesta-se aqui o princípio da participação ou democrático. A licença ambiental é ato discricionário ou vinculado? Depende. De maneira geral, a doutrina estipula que a licença ambiental, via de regra, é ato discricionário, mas, em algumas situações, a concessão da licença encontra-se vinculada a uma situação anterior. Estudos técnicos podem servir para vincular as decisões do órgão licenciador. De posse do EIA, consegue-se a primeira licença (licença prévia); posteriormente, consegue-se a licença de instalação, e, após construído o empreendimento, pede-se a licença de operação. Quando da concessão de licença anterior, pode-se dizer que houve coisa julgada administrativa, pois, não é justo que o empreendedor fique em situação de insegurança jurídica. O EIA funcionaria como um balizador. Licença ambiental e conclusão do EIA: A depender da conclusão do EIA, tem-se graus maiores ou menores de vinculação do órgão ambiental. Sendo o EIA totalmente favorável, ocorre o condicionamento da outorga da licença ambiental (licença vinculada), e, surge o direito subjetivo de o empreendedor desenvolver sua atividade econômica. Se o EIA for desfavorável, totalmente ou em parte, cabe à administração, discricionariamente, avaliar a concessão ou não da licença ambiental. A concessão da licença deve ser fundamentada, atacando cada um dos pontos que se mostram como nocivos ao meio ambiente. O Estudo Técnico deverá dizer como ocorrerá a mitigação dos prejuízos, caso haja a concessão da licença nos casos em que existem pontos desfavoráveis. É necessário que exista fundamentação e motivação na decisão onde ocorre a negativa da licença. É possível que a licença ambiental esteja sujeita à autorização legislativa? (ADI 3253, MC, Rel. Gilmar Mendes). É indevida a interferência do poder legislativo na atuação do poder executivo. Compete à União legislar sobre as normas gerias em matéria de licenciamento ambiental (art.24, VI, CF). A autorização legislativa é inconstitucional (LC 140/11, PNMA e Resolução 237, CONAMA). Estados e municípios podem definir a exigência ou não de licença ambiental. Artigo 10, Resolução 237/97, CONAMA: Para que ocorra o licenciamento, é necessário que se ultrapasse determinadas fases. Essas fases devem ser repetidas em todas as três etapas licenciatórias. - Definição dos documentos, projetos e estudos necessários. - Requerimento da licença ambiental – certidão da prefeitura municipal e autorização para a supressão de vegetação, ou AOP. Aqui, acaba sendo necessário que a haja a licença urbanística e ambiental. - Análise dos documentos, projetos e estudos. - Solicitação de esclarecimentos e complementações (sobre os documentos, projetos e estudos). - Audiência pública – pode ser requisitada pelo órgão ambiental, pelo Ministério Público ou por cinquenta cidadãos brasileiros). - Solicitação de esclarecimentos e complementações (sobre as audiências públicas). - Emissão de parecer técnico conclusivo (PTC), e, quando couber, parecer jurídico (avalia a legalidade do procedimento). - Deferimento ou indeferimento (autoridade competente). Etapas do licenciamento: - Licença prévia: art.8, I. Resolução CONAMA. O órgão ambiental irá atestar a viabilidade do empreendimento. Aprova-se a localização e a concepção do projeto. Atesta-se a viabilidade ambiental, estabelece-se requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de implementação da licença. A validade é de até 05 anos, mas poderá ser inferior, a depender do caso concreto. As condicionantes são condições necessárias para o empreendimento do projeto – na próxima etapa, o empreendedor deve provar que cumpriu com todas as condicionantes impostas a ele previamente. - Licença de instalação: art.8, II. Resolução CONAMA. Autoriza a instalação do empreendimento ou atividade. Deve estar de acordo com as especificações constantes nos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes. A validade é de até 06 anos. - Licença de operação ou funcionamento: art.8, III. Resolução CONAMA. Autoriza a operação da atividade ou empreendimento após a verificação do efetivo cumprimento do que consta nas licenças anteriores. Impõe medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação. A validade é entre 4 e 10 anos, após isto, busca-se a revalidação. Durante a operação é necessário que haja o cumprimento das condicionantes sempre. Quando há o descumprimento, revoga-se a licença concedida – é possível que não haja a renovação ou que ocorra a cassação, e, caso o estabelecimento seja aberto indevidamente, existe infração e crime ambiental. 9.4. Competência para o licenciamento ambiental: Requisitos para os entes licenciarem: Possuir Conselhos de Meio Ambiente, através de lei, de caráter deliberativo e participativo. Possuir quadros de profissionais legalmente habilitados. Os empreendimentos e atividades serão licenciados ou autorizados por um único ente federativo. Aplicam-se aqui, a lei 6.938/97 (PNMA), a Resolução 237/97 do CONAMA e, a LC 140/11 – Aqui, se o município tem competência para licenciar, ele será o responsável para o licenciamento, caso ele não possua a competência, os atos neste sentido serão nulos e, neste caso, caberá ao estado- membro licenciar. - Critérios da PNMA (Lei 6.938/97): À época de criação dessa norma, não havia competência comum em matéria de meio ambiente, logo, por ser um órgão da União, competia ao IBAMA as principais tarefas licenciatórias. A PNNA conferiu competência residual licenciatória aos estados- membros, para tudo aquilo que não fosse especificamente competência do IBAMA. Se a competência residualdos estados-membros não for exercida, por conta de inércia ou de não cumprimento dos requisitos necessários, caberia ao IBAMA, novamente, realizar o licenciamento, de modo supletivo. Com o tempo, houve uma redução das competências licenciatória do IBAMA, e, consequentemente, um aumento das competências licenciatórias dos estados. O art.10, §4º da PNMA traz o seguinte: o licenciamento de obras com significativo impacto ambiental em âmbito regional ou nacional seria de competência do IBAMA. O que seria um significativo impacto ambiental? Este critério vigorou até 1997, mas, por causar grande insegurança, foi deixado de lado com a criação da resolução 237 do CONAMA. - Critérios da Resolução do CONAMA 237/97 (anterior à LC 140/11): Trouxe critérios mais aprofundados para a repartição de competência licenciatória. Foi o principal diploma legal ambiental até 2011 – possui caráter geral e abstrato. i. Alcance dos impactos ambientais diretos do empreendimento (Art.4º, III) – caberá a cada órgão definir se há ou não impacto ambiental direto. ii. Dominialidade do bem (Art.4º, I) – competirá ao órgão ambiental do ente federativo proprietário do bem, realizar o licenciamento – esse critério prevalece sobre os demais. iii. Ente instituidor da Unidade de Conservação – unidade de conservação é um espaço ambiental territorialmente protegido, que pode ser criado pela União, estados ou municípios. Esse critério continua válido, exceto para as APAs. iv. Critério geográfico (Art.4º, II) – um empreendimento que cause efeitos, ou que esteja localizado em mais de um território deverá ser licenciado pelo ente superior aos dois territórios. É um critério um pouco falho, pois não resolve outras situações. v. Atividades que lidem com material radioativo (Art.4º, IV) – competência exclusiva da União. vi. Critério da Segurança Nacional (Art.4º V) – competência exclusiva da União. Esses critérios sofreram uma redução da eficácia a partir da Lei Complementar 140/11. - Critérios da Lei Complementar 140/11: Questionou-se a inconstitucionalidade da Resolução CONAMA, pois, a repartição de competência foi criada por ato administrativo de caráter geral e abstrato, e não por lei complementar. O STF nunca foi provocado a avaliar a constitucionalidade do ato, pois, não havia outro ato que disciplinasse as competências ambientais. A lei complementar 140/11 acabou por ratificar/introjetar os critérios previstos pela Resolução 237/97 do CONAMA. A LC 140/11 trouxe duas grandes diferenças em relação ao tratamento dado pelo CONAMA. Os outros critérios previstos pelo CONAMA ainda são válidos. i. Ente instituidor da Unidade de Conservação, exceto no caso das APA – A APA é um exemplo de proteção territorial ao ambiente, que admite e estimula a convivência entre o homem e o ambiente. Órgão ambiental competente para licenciar, uma atividade não será sempre do órgão ambiental instituidor. Aqui, leva-se em conta o alcance do impacto ambiental, ou seja, estando dentro de uma APA, pouco importa quem a criou – para que se saiba o órgão competente para licenciá-la, importa saber qual o alcance do impacto do empreendimento. Se o impacto ambiental for local, a competência licenciatória será do órgão municipal. Se o impacto for regional, a competência seria do órgão estadual, e, se o impacto for nacional, a competência é da União. A lei 140/11 estipulou órgãos capazes de conceituar e disciplinar o que são impactos locais, regionais e nacionais. ii. Definição de competência licenciatória por meio do âmbito do alcance do impacto ambiental: Neste caso, compete ao órgão federal e estadual definir qual seria o impacto ambiental direto e o impacto ambiental loca. Este rol é definido pelos conselhos de meio ambiente. Competências da União – art. 7º, XIV, LC 140/11. Competências dos municípios – art. 9º + CEPRAMs. Competências dos estados-membro – art. 8º: competência residual (maior patê das atividades licenciatórias no Brasil). 10.ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL: 10.1. Estudo de impacto ambiental – EIA: Sua essência é preventiva. O EIA pode compor o licenciamento ambiental e é previsto na PNMA, como um instrumento da Política Ambiental (PNMA, art.9º, III). O EIA não é o único, mas o principal estudo ambiental brasileiro. Não é todo empreendimento que exige o EIA, mas somente aqueles que possuam significativo impacto ao meio ambiente. Este é um estudo que não possui caráter jurídico, mas sim um caráter eminentemente técnico, e, para que o EIA possa ser entendido pela população, a lei obriga que o mesmo seja simplificado através do relatório de impacto ao meio ambiente (RIMA). O RIMA é o resumo do EIA em linguagem mais palpável, facilitando a participação popular e respeitando o princípio da participação e da democracia. Conteúdo mínimo do EIA: O Decreto 88351/83, posteriormente modificado pelo Decreto 99274/90, estabelece competência do CONAMA para fixar o conteúdo mínimo do EIA. Tecnicamente falando, a resolução 01/86 do CONAMA indica diretrizes, apontando o que qualquer EIA deve possuir para que seja considerado realmente um Estudo de Impacto Ambiental. Comumente, o EIA diagnosticará a situação ambiental que existe antes da implantação do projeto (para que seja possível realizar comparações entre o ambiente antes da obra e o ambiente após a obra, caso o projeto seja aceito). Após esta fase, haverá uma elaboração de estudo onde há previsão de eventuais impactos ambientais ao meio ambiente, diagnosticando possíveis danos potenciais. Além disso, indicam-se medidas que possam mitigar estes impactos previstos. Por fim, elabora-se programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos ambientais. A Resolução 01/86 do CONAMA estabeleceu rol exemplificativo de atividades que em que será exigido o EIA, pois, entende-se, através de presunção relativa, que aquelas atividades possuem impactos ambientais. 10.2. Relatório de Impacto Ambiental – RIMA: A partir do EIA, surge o RIMA, que tem como finalidade tornar compreensível para o público em geral o conteúdo do EIA. O EIA é um estudo científico ambiental e o RIMA é uma espécie de resumo, que fica à disposição do público, e materializa o princípio da informação ambiental, deixando mais acessível a decodificação das informações trazidas no EIA. O conteúdo do RIMA deve ser claro e acessível, relando aquilo que encontra-se no EIA de modo compreensível e menos técnico. Disciplina Constitucional do EIA: Art.225, §1º, IV da Constituição Federal. A exigência de realização do EIA é absoluta para aqueles empreendimentos que possuem significativo impacto ambiental. O empreendedor deverá provar que o seu empreendimento não irá causar grande impacto, pois, há presunção relativa de que toda atividade ou empreendimento é significativamente degradante. Se o empreendedor conseguir demonstrar previamente ao órgão ambiental que o seu projeto não possui significante impacto, haverá apenas o RAIA (Relatório de Ausência de Impacto Ambiental) – o Relatório deverá estar presente para que não se exija o EIA. A depender da existência ou não de uma RAIA que retire a aferição dos impactos ambientais daquele empreendimento, tem-se a possibilidade de condenação ou não do Estado por possíveis impactos. O empreendedor tem responsabilidade por eventuais danos que venham a ser causados. Se não houve EIA, e o órgão público de convence da ausência de impactos, caso haja falha na fiscalização, o poder público será responsabilizado – responsabiliza-se de modo subsidiário ou solidário, se houver nexo causal. Caso o poder público entenda que determinado empreendimento causará impacto ambiental, e exige o EIA, caso haja dano, não há responsabilizaçãodo poder público. Se o EIA for totalmente favorável, fundamentando a licença ambiental, caso sobrevenha dano, inexistirá responsabilidade estatal. Se o EIA for parcialmente favorável, estabelecendo mitigações e regras, e o empreendedor forja um EIA, por descuido ou má-fé, indicando que mesmo é totalmente favorável, tem-se que haveria viabilidade da instalação do empreendimento de qualquer forma. Se órgão licenciador, de posse desta informação, conceder a licença ambiental, e houver dano, a empresa contratada pelo empreendedor irá responder junto com este, de forma subsidiária ou solidária. Equipe multidisciplinar: Trata-se de uma equipe técnica multidisciplinar (biólogos, geólogos, psicólogos, sociólogos, etc.), que irão avaliar o impacto ambiental e social de um empreendimento a partir do ponto de vista da sua área de conhecimento. A resolução CONAMA 237/97, em seu art.11, prega a não imposição de equipe técnica independente do proponente do projeto. Na prática, isto deveria ser repensado, pois se o próprio empreendedor paga por um estudo técnico, dificilmente ele será desfavorável. A equipe multidisciplinar deverá, em tese, de modo imparcial – caso seja comprovada a má-fé na conclusão do estudo, pode-se responsabilizar a equipe pelo dano ambiental ocorrido em decorrência daquele empreendimento. 10.3. EIA e audiências públicas: As audiências públicas podem ou não ocorrer dentro do processo de licenciamento ambiental. Aqui, o público terá acesso ao RIMA e, em cima disto, discute-se os impactos positivos e negativos que o empreendimento causará. A audiência pública é importante por abrir canal direto de comunicação entre o poder público, o empreendedor e a população. Tecnicamente falando, tem-se aqui o momento em que o poder público irá recolher críticas e sugestões com relação a instalação do empreendimento. Nem sempre a audiência pública é necessária, entretanto, há necessidade da sua ocorrência quando: o órgão competente para a concessão da licença julgue necessário; 50 ou mais cidadãos requeiram ao órgão ambiental a sua realização; Ministério Público solicita a sua realização. A resolução do CONAMA não coloca da Defensoria Pública como legitimada para propor audiência pública, mas, os julgados no STJ indicam a possibilidade. Se são cumpridos os requisitos necessários para a requisição de audiência, e órgão ambiental não convoca audiência, o processo torna-se nulo, e, consequentemente, a licença ambiental também será nula. Caso o órgão ambiental entenda a necessidade de audiência, a mesma poderá ser realizada em dois momentos: antes do início da execução da do EIA ou depois da entrega do EIA. Quando houver iniciativa do Ministério Público ou dos cidadãos, a audiência deve ocorrer no prazo mínimo de 45 dias contados da data do recebimento do RIMA. Se a audiência for marcada antes deste prazo, eventual licença concedida será nula. 11.SISTEMA NACIONAL DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO: Unidades de conservação são espaços ambientalmente protegidos, são porções territoriais nas quais o meio ambiente deverá ser protegido. A unidade de conservação é um exemplo de espaço ambientalmente protegido que foi criado pelo Estado. Esta criação é prevista pelo Direito Administrativo Ambiental. A lógica aqui, e conservar o ambiente e limitar, de algum modo, a atuação humana naquele espaço. Realiza-se limitação administrativa e determinado espaço. 11.1. Espécies: Art.225, §1º, III. a) Áreas de proteção permanente: Criada por lei, a partir de critérios objetivos. b) Áreas de reserva legal: Criadas por lei, a partir de critérios objetivos. c) Unidades de conservação: Lei 9.985/2000. Revelam maior atuação do poder público. 11.2. Lei 9.985/2000: Art.2º, I: Unidade de conservação “é o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluído as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”. Do ponto de vista legal, as unidades de conservação são divididas em unidades de proteção integral e unidades de uso sustentável. a) Unidade de proteção integral: Art.2º, VI – Proteção ambiental intensa, manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferências humanas e uso indireto dos atributos naturais (não envolve coleta nem dano dos recursos naturais). Via de regra, tem-se que essas áreas são de domínio público – quando existem áreas particulares, há necessidade de desapropriação. Existem espécies de unidades de proteção integral: Estação ecológica – art.9º: Aqui, busca-se a preservação ambiental e a realização de pesquisas científicas, e são de posse e domínio público. Eventualmente, caso haja área privada, caberá a desapropriação do local. Há aqui a proibição de visita pública, exceto as com fins educacionais (plano de manejo). A pesquisa científica dependerá de autorização do órgão administrativo responsável pela unidade de conservação. Atualmente existe 31 estações ecológicas federais, entretanto, podem ser criadas no âmbito da união, dos estados, dos municípios e do distrito federal. O ente que cria a estação ecológica será responsável por gerir esta unidade. Reserva biológica – art.10: Preservação integral da (biota) e demais atributos naturais existentes, sem interferência humana direta ou modificações ambientais. São de posse e domínio público. Existem 29 reservas biológicas federais. Parque nacional – art.11: Preservação dos ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica. Permite-se aqui o desenvolvimento de atividades de educação e turismo ecológico. Permite-se a visitação pública de acordo com o plano de manejo. São de posse e domínio público. A pesquisa científica depende de autorização do órgão administrativo responsável pela unidade de conservação. Existem 67 parques nacionais federais. Monumento natural – art.12: Busca preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. Permite-se a visita pública de acordo com o plano de manejo da unidade (cabe turismo ecológico). Pode ser construído em áreas particulares. Não há a possibilidade de desapropriação por incompatibilidade com o direito de propriedade. Atualmente existem 3 monumentos naturais federais. Refúgio de vida silvestre – art. 13: Busca assegurar condições para existência ou reprodução de espécies e comunidade da flora local e da fauna residente e migratória. Permite-se visita pública de acordo com o plano de manejo. Pode ser construído em áreas particulares. Não há a possibilidade de desapropriação por incompatibilidade com o direito de propriedade. Atualmente existem 7 refúgios de vida silvestre federais. b) Unidade de uso sustentável: Art.2º, XI – A proteção ambiental é de menor intensidade. Há a tentativa de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais ambientais. A exploração de recursos se dá a partir de regime de manejo (criado por plano de manejo, ou seja, cada unidade de conservação no Brasil deve necessariamente ter um plano de manejo, que visa disciplinar a utilização dos recursos naturais naquela unidade de uso sustentável). Na prática, não há criação de um plano de manejo nas áreas de unidade de usos sustentável, o que viabiliza que as pessoas utilizem como quiserem. Existem algumas espécies de unidade de uso sustentável: Área de proteção ambiental – art.15: Trata-se de área extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas. Busca-se disciplinar o processo de ocupação e assegurar
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